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APOSTILACURSO DE ESPECIALIZAO EM ERGONOMIA
(Ps-Graduao Lato Sensu - 540 hs)
FUNDAO COPPETECGRUPO DE ERGONOMIA E NOVAS TECNOLOGIAS
PROGRAMA DE ENGENHARIA DE PRODUO - COPPE/UFRJPROGRAMA DE
ENGENHARIA MECNICA - COPPE
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA INDUSTRIAL - EE/UFRJPROGRAMA DE
PS-GRADUAO EM ARQUITETURA - FAU/UFRJ
ASSOCIAO BRASILEIRA DE ERGONOMIA - ABERGOPETRLEO BRASILEIRO S/A
- PETROBRAS
APOIOS
CONVERSA-AO:Uma Ferramenta para o Diagnstico Ergonmico
Prof. Mario Cesar Vidal D.Ing.
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Prof. Mario C. Vidal
CONVERSA-AOUma ferramenta para o Diagnstico Ergonmico1
1 - A prtica da
Conversa-ao__________________________________________________ 3
1.1 - Os embarreiramentos na
Conversa-ao_____________________________________________ 3
1.2 - Interao e ideologia
defensiva____________________________________________________ 5
1.3 - Aprendizes de
feiticeiro__________________________________________________________
7
1.4 - Uma tipologia das formas de
conversa-ao_________________________________________ 7
2 - Porque a idia de Ao Discursiva ou
Conversa-ao_____________________________ 7
3 - Pressupostos da idia de
Conversa-ao_______________________________________ 10
3.1 . Distino entre observao pura e as interaes na pesquisa de
campo____________________ 10
3.2 - Um problema de fundo : A interao e as distancias
sociais____________________________ 12
3.3 - Um problema de gnese : as representaes e a concepo da
tecnologia e os enunciadosdiscursivos
disponveis_____________________________________________________________
13
4 - Construo de uma metodologia de
Conversa-ao______________________________ 14
4.1 - Definindo as
bases____________________________________________________________
14
4. 2 - Desideratos e preceitos da
Conversa-ao__________________________________________ 15
4.3 - Preparando a Conversa-ao : o roteiro de
conversa___________________________________ 16
4.4 - A tica subjacente
Conversa-ao_______________________________________________ 17
4.4 - Entre a tica e a Epistemologia : escolhendo interlocutores
e o modo de falar com cada um____ 18
4.5 - A passagem ao material
emprico_________________________________________________ 19
5 -
Concluso_______________________________________________________________
20
BIBLIOGRAFIA
____________________________________________________________ 21
1 Artigo desenvolvido a partir de um artigo publicado
originalmente em Feitosa e Duarte (1998), Linguagem eTrabalho, Ed
Lucerna, Rio de Janeiro., com correes e acrscimos fundamentais. As
muitas expressescoloquiais estaro grafadas com aspas, conquanto
termos conceituais ou metodolgicos com itlico. As
categoriasoriginais deste texto acrescero o negrito ao itlico.
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1 - A prtica da Conversa-ao
Em 1989 inicivamos o primeiro projeto integrado2 do Programa de
Engenharia deProduo da COPPE acerca do uso e difuso de componentes
industrializados como alternativastecnolgicas para a construo.
Formavam a equipe, alm de coordenador, doutor emErgonomia, dois
arquitetos, dois engenheiros de produo e um engenheiro de segurana.
Doisnordestinos, dois mineiros e dois cariocas.
Dois problemas se colocavam logo de incio: a diversidade de
formao dos integrantesdo grupo e a novidade do tema para todos ns.
A escassa literatura sobre o setor e sobre o temaacentuou a
caracterstica de investigao situada, tpica da Ergonomia
contempornea.Organizamos, inicialmente um survey num universo de 52
empresas, escritrios e canteiros noRio de Janeiro e em So Paulo,
onde poderamos observar a manifestao tecnolgica que nosdizia
respeito. Por telefone3, selecionamos nossos cases mediante uma
triagem, com base emcritrios simples, porm preciosos para atingir
nossos objetivos: a receptividade em relao aoprojeto, aliada a
sinais de colaborao. Detivemo-nos, assim, em 38 situaes de trabalho
ou,mais precisamente, em 38 trabalhadores de escritrios e canteiros
de obra, abertos a nos receberpara conversar sobre as dificuldades
da difuso da tecnologia em apreo
Tudo nos parecia simples, fcil e empolgante. Afinal, estvamos
embalados com areceptividade em relao ao projeto, tanto junto
agencia financiadora - foram veementes oselogios do consultor -,
quanto por parte das empresas: no mais das vezes os contatos
telefnicosse transformavam em conversas de velhos amigos. Na
equipe, sobretudo entre os mais jovens, asensao era de empolgao e
otimismo. Era como se deparssemos com um pequeno pote desal, beira
de vasta salina. A empolgao aumentou quando, abrindo o pequeno
pote,vislumbramos todo um universo inexplorado!
No tardou o primeiro choque: nossos amigos-de-telefone, e
sobretudo seus superiores,pareciam extremamente incomodados com os
rumos de nosso trabalho. Todos na equipe ficamosestupefatos! Como
podamos cogitar que um trabalho to importante, to bem recebido
erealizado de forma to leve, pudesse vir a incomodar algum? Por que
cargas dgua iramos serembarreirados neste trabalho ?
1.1 - Os embarreiramentos na Conversa-aoBuscar ver e ouvir os
trabalhadores em suas situaes de trabalho provoca desconfianas,
sobretudo ao se tratar de inovao tecnolgica. Num canteiro, a
visita foi marcada durante umafolga do pessoal. Na verdade, aquela
conversa foi impedida. Em outro caso, com um fabricantede
componentes, a meno da inteno de estudar a produo in situ fez com
que a conversapassasse a ser escamoteada.
Impasses como esses devem ser devidamente negociados. Em tais
ocasies, o gruporealizou, junto aos interlocutores, o que viemos a
chamar de esclarecimento progressivo.
2 A modalidade Auxilio integrado pesquisa hoje uma das
principais rubricas de fomento no sistema de C&T doBrasil. Esse
projeto foi o primeiro nesta modalidade do Programa de Engenharia
de Produo da COPPE.
3 Apenas para registro histrico, naquele momento as conexes via
fax limitavam a um servio no generalizadonos correios e a
interligaes de computadores saudosa BITNET.
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Tratava-se de fornecer elementos a respeito do grupo - no mbito
pessoal, social e profissional -para criar um ambiente afetivo e
cognitivo compartilhado. Para tanto, buscvamos tornar asinteraes
mais simtricas no campo relacional, a fim de que as explicaes a
respeito dosobjetivos que pretendamos atingir no se transformassem
em fator de bloqueio. Ajudou-nosigualmente a atitude do grupo,
especialmente no forma de considerar nossos interlocutores.
Aexplicitao do valor que atribumos aos saberes informais - operrios
e gerenciais - ajudava aamenizar a assimetria caracterstica da
situao de entrevista e a diluir a distncia que nossasociedade
cultiva entre o trabalhador intelectual e o no intelectual. Assim,
conseguamos dissipardesconfianas, mediante esta escuta respeitosa.
Finalmente devo assinalar que foi decisiva aatitude franca,
objetiva e sincera de todos. Em momento nenhum buscamos tergiversar
ou fingir oque no ramos ou que no pretendamos. Jogo aberto para dar
certo, era o lema da equipe e issofrutificou. Sorrisos aliviados e
piadas tolas eram indicadores seguros de que as interaes
fluamsoltas, num clima amigvel, condio sine-qua-non para a
emergncia de fatos, sentimentos epercepes relevantes para a
compreenso das atividades de trabalho, atravs da interao.
Noslugares onde o contato no avanou, uma impresso positiva ficou
plantada, como os anos que sesucederam vieram a corroborar.
Esses estratagemas no so mecanicamente aplicveis nestes casos.
Em outras ocasies, anegociao com a hierarquia para o acesso aos
trabalhadores mostrava-se difcil: nem o charmeprofessoral do
coordenador - j ento com considervel domnio da linguagem do setor -
nem aponderada argumentao do engenheiro de segurana faziam passar,
com aceitao, nossospropsitos. Recorramos, ento, ao sofisticado
linguajar da engenharia de produocontempornea, apesar de antevermos
alguns problemas da decorrentes. Constatamos que autilizao de
termos hoje comuns como produtividade e qualidade abria uma brecha
paraconseguirmos, pelo menos, visitas acompanhadas. Estas, para
nosso intento, eram poucoprodutivas e careciam de qualidade: por
todo canto, pesava a presena constrangedora de umsuperior
hierrquico, que tomava a frente tanto do pesquisador quanto do
entrevistado nacolocao de perguntas aos trabalhadores. E era ele
quem facultava as falas. O ganho era quenessas situaes
identificvamos interlocutores importantes, mapeando a empresa para
uma futuraconversao. Para fazer frente a esse obstculo de campo,
com o qual tantas vezes nosdeparamos, adotamos a estratgia da
disperso momentnea: sempre que possvel, o grupo seespalhava para
estabelecer outros contextos de conversao. Buscvamos outros
interlocutores,mas tentvamos voltar queles cuja conversa vigiada no
tivesse sido convincente ou queles que,por algum meio, nos haviam
sinalizado o constrangimento em relao ao que se viam obrigados
adizer sob o taco do chefe. Afinal, para isso existe - e poderosa -
a linguagem no verbal. Claroque este recurso delicado, perigoso e
discutvel, tanto que hoje o empregamos de formaabsolutamente
contingencial (mas seriamos hipcritas dizer que no o empregamos
jamais...).
Paulatinamente fomos vendo a necessidade de escalar determinadas
pessoas do grupo paraconversar com determinados trabalhadores e
gerentes. A relao de interlocuo assumia umvalor metodolgico,
baseado na identidade, fosse ela de origem geogrfica ou contextual.
Paraaquele mestre-de-obra, nordestino, h tantos anos longe de sua
terra, mobilizvamos nossosparaibanos; para um engenheiro altivo, a
vez era dos nossos estagirios de engenharia deproduo, com seu
vocabulrio sofisticado; os projetistas eram atacados pelos
arquitetos,munidos de papel manteiga e lapiseira Caran dAche e
assim por diante.
Houve passagens, tambm, em que a pesquisa de campo se deu sob o
signo dadesarmonia, prprio da controvrsia. Tais circunstncias
ocorreram com maior freqncia durantevisitas acompanhadas, que j
descrevemos mais acima. Nesses casos o maior registro no era o
da
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fala e de seu contedo, mas um contexto que engendrava no-ditos e
indizveis da parte dosnossos interlocutores interfaceados por um
acompanhante que finalizava por exercer um papelcensor. Afinal, nem
tudo so flores no caminho do conhecimento, encontramos tambm
muitaspedras nessa caminhada, e saber andar por entre elas pode vir
a sinal de competncia, como bemcolocou D. Cru (1991).
1.2 - Interao e ideologia defensivaA experincia no trato
interativo um fator importante, mas que no se cria do nada..
Por
inexperincia, algumas vezes o que falvamos soava mal, muito mal.
Criava-se uma situaoconstrangedora, como a de um convite equivocado
ou de piada que no faz sequer sorrir. O fato que havamos tocado em
algum ponto que fazia com as pessoas se recolhessem, desfazendo
umclima de conversa duramente atingido. E, pior, podendo nos
encaminhar para uma rupturairrecupervel. Escorregadas imperdoveis,
at porque, no mais das vezes, previsveis. A teoriaem Ergonomia4 j
nos informara acerca do conceito de ideologia defensiva, ramos,
ento,protagonistas de um fato de que somente conhecamos a modelagem
terica. E a prtica que nosmostrava quo agudo era seu efeito.
As defesas existem como reao organo-psquica aos perigos reais ou
simbolizados numdado contexto. As defesas se erigem em condutas
defensivas, das quais podemos indicar algunsmecanismos (sistemas
organizados de condutas). Isto no significa uma reao
necessariamentepatolgica, uma vez que a distino entre normal e
patolgico refere-se a um grau de intensidadee de nvel de
comprometimento de estruturas conexas (Kusnetzoff, 1982 , p. 206).
Ocorreentretanto que a mobilizao de um mecanismo de defesa requer
ou consome energia5, e o essecusto energtico se manifesta na pessoa
pelo desprazer, desagrado, retrao, e por isso que,numa interao, se
torna contraproducente.
4 Impe-se uma retificao importante, nesta parte mais coloquial
do artigo. Na verdade falar de uma teoria daErgonomia, ou mesmo de
teorias ergonmicas , no mnimo, delicado, Existem modelos operantes
de situaes,que objetivam referenciar os principais elementos de uma
situao e suas articulaes bsicas e fundamentais,mas isso no passa de
uma esquematizao, existem evidenciao de fatos cognitivos,
lingsticos fisiolgicos emesmo psquicos a partir de uma Analise
Ergonmica do Trabalho (AET). Tudo isso configura uma prtica
maistendendo ars ou prxis do que teoria, como defende o eminente
professor A. Wisner. Na verdade, a questoepistemolgica em ergonomia
extremamente complexa e se podemos encaixar Ergonomia em alguma
vertentefilosfica do conhecimento, a meu ver seria na corrente da
filosofia do sentido das coisas e particularmente nateoria da ao,
na acepo lingstica bem formalizada por P. Bange (1992). A proposta
recente da recuperaodo sentido histrico social da formao de
conceitos, com o resgate dos marxistas Wallon e Vitgosky
comocontribuidores psicologia do desenvolvimento, permitiu a
formulao recente de uma Teoria da Atividade, quepode servir como
quadro conceitual para a Ergonomia, mas que esbarra no aspecto
puramente descritivo, ao fixarsua finalidade como o estabelecimento
de contradies. As contribuies recentes da teoria da
complexidade(Pavard e Karsenty, 1997, Pavard e Marmaras, 2000)
produzem um novo alento ao buscar explicar a formaoprofunda das
estruturas da atividade ao invs de somente descrev-las. Quanto a
nos estamos buscando acompreenso da atividade de trabalho como uma
homeodinamica contextualizada pelo ambiente de
trabalho,justificando a Ergonomia como a engenharia de artefatos,
mentefatos e sociofatos que facilitem o estabelecimentodestas
homeostases e removam seus estressores identificados, uma medicina
preventiva de sua ecloso bem comouma Psicologia aplicada ao
processos de formao, localizao e socializao da pessoa viva e
produtiva.
5 O termo tcnico empregado em psicanlise o de contracatxia, ou
contra-investimento necessrio como suporte conduta defensiva. A
contracatxia situada no inconsciente e denota a angstia decorrente
da antecipao deum sinal de perigo real ou simblico no contexto.
Nesse sentido a conduta defensiva tem um papel nahomeostase.
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As manifestaes da ideologia defensiva que enfrentamos se
distribuam entre tipos dedefesas caracterizaram por alteraes no
rumo da conversa de diversos tipos: negaes, desvios,omisses e
transferncias do poder-falar.
As negaes de fatores de periculosidade mais ou menos visveis
denotam um temoragudo escamoteado. Numa conversa-ao sobre o risco
de morte num canteiro de pr-fabricaopesada, ao perguntarmos mais
detalhes sobre a morte de um colega, a reao do interlocutor,
foiformular uma srie de negativas sobre a periculosidade daquela
situao de trabalho e, ao mesmotempo, ressaltar diversos aspectos
positivos daquela ocupao, naquele local. A narrativa passava,ento,
a apresentar uma srie de omisses defensivas.
Ainda na evoluo dessa conversa, o mestre de obras se declarou
incompetente pararesponder certas questes ali colocadas,
transferindo o poder-falar para o engenheiroresponsvel. O nvel de
interao j atingido nos permitia, no entanto identificar esta
declaraode incompetncia como um mecanismo de defesa (invalidao).
Nesses momentos, o pesquisadordeve intervir, de forma a no destruir
o nvel de relao j alcanado. Para tanto fizemos umdesvio de conversa
rumo a aspectos positivos do trabalho, para retornarmos a uma
interaoleve entre o entrevistado e o grupo, uma positivao da
conversa (CRU, (1991), recurso muitoempregado em Psicologia
Dinmica.
A posio metodolgica adotada foi a de no intervir diretamente
sobre o fluir daconversao a menos da constatao do risco de ruptura
trazido tona pelas manifestaes daideologia defensiva, acima
categorizadas. Isto porm nos chamou a ateno para a necessidade
deprepararmo-nos para a conversa. Descobrimos, talvez no da maneira
mais agradvel, aimportncia do preparo para as interaes de pesquisa,
do valor do Silncio e da importncia daescuta.
Assimilado ?
Figura 1 - Esquema do contexo de pesquisa segundo Hengerberg
(1976) , modificado.
Ir vivendoContar com
Saber existente
ObservarConversar
Constituiodo Problema
Anlise do Problema
Mensurar
Conjecturas
Explicar Prever
Teste de modelos eenunciados
Corroborao
Novo Saber
Refutao
Modelagem
Evidncia
Insuficiente?
Fatos
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1.3 - Aprendizes de feiticeiroMuito bem, porm por se tratar de
um projeto de pesquisa cientfica, ou pretendendo
chegar a isso, nos deparamos com a primeira dificuldade de
carter epistemolgico. Buscandoalguma forma de referncia, fomos a
uma publicao de 1976, onde pudssemos fazer a dificilpassagem do
olhar ao ver e deste ao escrever. Lembrando-me das lies do prof.
Srgio Almeidae seu curso sobre Mario Bunge, tomamos ao p da letra a
regra bsica: a modelagem comea poruma esquematizao, lio facilmente
assimilvel por engenheiros e arquitetos. O esquema bsicoadotado,
para tanto compe a figura 1.
1.4 - Uma tipologia das formas de conversa-aoO passo seguinte da
esquematizao sugerido por Bunge, o formao de uma tipologia
(para classes excludentes de fatos) e de taxonomias (para
atributos independentes do objeto). Oquadro abaixo resume as
tipologias de situaes de conversa que realizaram-se no curso
dasituao mencionada. Os tipos de interao foram categorizados em
Contextuais, Relacionais eDepurativos.
Chamamos de conversas contextualizadas quelas cujos traos mais
marcantes se situamno conjuntos de fenmenos que operam no plano
externo aos contedos da interao -permitindopor a uma anlise inicial
das estruturas tcnicas, econmicas e sociais sob as quais a
intervenoergonmica se processa.
Contextuais Relacionais Depurativas Escorregadas Escuta
respeitosa Roda-de-conversa Convergencia gradual Negativas Analise
coletiva Conversa vigiada Omisses Verbalizao a quente Disperso de
assunto Invalidao Relatrio consensualizado Mudana de rumo Positivao
Rede de orientao
Quadro 1. Uma tipologia das formas de conversa-ao para anlise
global em ergonomia situada.
As categorias relacionais reagrupam as situaes nas quais os
traos dizem respeito evocao dos contedos do trabalho real, e aqui
vale assinalar que este contraste sempre aparecena fala dos
trabalhadores, indicando nveis e zonas de percepo do fenmeno do
distanciamentoentre prescrio e realidade.
As categorias depurativas renem as conversas que permitem passar
da interao aosesquemas fatuais ou objetos-modelo. Aqui se incluem
tanto as restituies evocadas em Gurin etal. (1991) mas tambm as
formas de conversa internas equipe, como reflexo da
complexidadeobjetiva da situao em estudo. Vale assinalar que estas
formas de conversa, tratam deverbalizaes sobre as condies de
exerccio da atividade de trabalho e suas consequncias. Elapode ser
feita da forma aqui apresentada, visando anlise global, cuja
pergunta-chave : o quese passa neste lugar ?
2 - Porque a idia de Ao Discursiva ou Conversa-ao
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Existiro formas de associar conversas de forma talvez mais
sistemtica, visando umaefetiva coleta de dados, e no apenas de
informaes que nos cabero estruturar, como foi nossaexperincia.
Neste caso til a utilizao constante de balizamentos temporais e
espaciais, nosentido de obter uma primeira sistematicidade (as
continuidades e descontinuidades doas assuntosconversados no tempo
e no espao), A prpria identificao e utilizao destes balizamentos ,
naverdade, uma primeira forma de organizar os dados para a
sistematizao da compreenso daatividade de trabalho: Onde e quando
as pessoas fazem o que? Eis a a pergunta bsica para umaanlise do
trabalho, do estudo minuciosa dos comportamentos observveis ao
longo dasatividades, sejam eles de ao, de monitorao ou de
comunicao.
Neste artigo, quero defender a tese que as conversas ou mais
rigorosamente falando, asinteraes pertinentes numa Anlise Ergonmica
do Trabalho em situao (AET), no se do poracaso e fortuitamente e,
se assim fosse, a AET perderia vrios de seus espaos de
importncia.No entanto, tal como em profisses como arquitetura,
medicina clnica, administrao, o elementointeracional dado como
existente, sabido e bem desempenhado pelo praticante. Na
verdadeconduzir uma conversa e ser conduzido pelo interlocutor o
obvio em anlise do trabalho. Seriacogitvel uma formalizao que possa
fazer avanar os mtodos de anlise do trabalho levandoem conta tais
intervenincias e, em caso afirmativo, como sistematiz-la? Proponho
umacontribuio a esta difcil resposta luz da experincia limitada do
GENTE/COPPE, pormestabelecidas em realidades empricas diferenciadas
tais como a Construo (Gualberto, 1990;Ferraz, 1991, Nunes, 1993,
Figueiredo, 1995), Bancos ( Feitosa e al., 1993), Pesca ( Vidal et
col.,1992), Processamento de dados (Boueri, 1992, Romeiro, 1992, De
Medeiros, 1995) e Refinarias(Duarte, 1994).
Chamo, pois a ateno para dois fatos. O primeiro que a
sistematizao das interaes emAnlise Ergonmica do Trabalho permitem
captar uma importante variabilidade contextual, avariabilidade da
organizao do trabalho. Queremos, com isso, sublinhar que a
organizao dotrabalho no um dado estvel na determinao da atividade
de trabalho, dado este que bastaria,por meio de um mtodo
criteriosamente empregado, identific-lo e construir um modelo
operante.O segundo que a observao pura no suficiente para a
construo de modelos operantes dassituaes de trabalho, j que os
mtodos observacionais do tipo naturalista no do conta
dacomplexidade contextual do plano da atividade de trabalho; Neste
sentido, sustento,subsidiariamente, que a objetividade prtica das
situaes no definida externamente aocontexto e seus participantes de
forma exclusiva e determinada (viso positivista) mas concludacom a
tomada em considerao, na anlise, interao de pessoas em situao
(visointerpretativista).
Faremos, nesta passagem, a hiptese que a organizao do trabalho
toma formas e feiescontingenciadas durante os distintos momentos da
interveno ergonmica, aspectos estes quedeve-se detectar, ajustar-se
a eles e lev-los em conta em cada uma das fases da A.E.T., seja
naanlise da demanda - ponto de partida - na anlise global6 - quando
um prdiagnstico seestabelece - nas observaes sistemticas - quando
aspectos caractersticos so exaustiva eprofundamente analisados - e
nas restituies e nas validaes - quando a interao a prpriaessncia da
metodologia. Portanto importante frisar que estas reflexes se
delimitam maisprecisamente nas etapas de anlise da demanda e da
anlise global. Embora possa ser estendido
6 Prefiro usar este termo para denotar o que GURIN et al (op.
cit.) chamam de explorao do funcionamento da
empresa, sendo que a razo desta opo terminolgica um dos aspectos
centrais deste artigo. A importncia,para mim est no fato de que
dotar a A.E.T. de uma anlise global desfaz uma noo de especialidade
ou delimitao na demarche ergonomica.
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s demais fases da interveno, nestas duas etapas ocorrem fatos a
nvel de contexto de interaodos quais comentarei trs deles, a saber:
os prejulgamentos topolgicos, a objetividade suspeitae a ideologia
defensiva do responsvel setorial. Os fatos assim nomeados so
reveladores daorganizao do trabalho e sua variabilidade.
Os prejulgamentos topolgicos denotam o fato de que as pessoas
intervenientes partem,elas, de uma srie de prjulgamentos
estabelecidos por seu prprio campo de competncias7. Isto uma certa
constante na atuao de consultores e especialistas, de tenderem para
os mtodos esolues que j dominam, conhecem e antevem. Esta postura,
por assim dizer algortmica ecorporativa, corresponde formao
escolar, tcnica e cultural e se inscreve numa bandasemiconsciente,
para a qual se deve estar atento, muito atento, em termos de
interveno emErgonomia. Cabe uma ressalva, que a indigncia das
esquematizaes existentes8 sobre aspessoas em atividade e suas
decorrncias em termos de projeto de situaes de trabalho. A
partirdesta indigncia, as necessidades dela decorrentes comportam
vrias formas e tipos deinterveno ergonmica, favorecendo a prtica de
preconceitos, algoritmos metodolgicos e atfrmulas generalizantes.
No entanto, este no o encaminhamento que tomam as
intervenesergonmicas, mais significativas, exemplares e gnese de
importantes desenvolvimentos dadisciplina. Citemos, por exemplo uma
interveno numa agncia de notcias (Durafforg et al,1980) a qual, a
partir de uma demanda de relayout9, acabou esbarrando numa questo
defronteira de conhecimentos em Lingustica Aplicada ( a forma como
os jornalistas decompunhame recompunham as matrias noticiosas, fato
que as teorias existentes de estrutura da linguagemno davam conta
poca da pesquisa).
Uma excessiva objetividade suspeita porque a formulao de
problemas do trabalhopelos demandantes jamais to objetiva e clara
como gostaramos, at porque isto seria negar anecessidade do
diagnstico e suas diversas anamenses; ou ento cabe,
pertinentemente,questionar por que razes se chamado para intervir
sobre um problema to definido, j que aErgonomia vai bem mais alm de
um conjunto de limitadas prescries tcnicas de cartergenrico. Pelo
contrrio, essa definio to clara e orientada que requer um
tratamentolingustico, discursivo, contextualizando as certezas
veiculadas observao da situao e dascontingncias onde aparecem. O
forte e caracterstico da Ergonomia, na acepo que adotamos,da
ergonomia situada (Vidal, 1993) est no fato de construir,
conjuntamente uma formulao deproblemas, sua origem na variabilidade
( de componentes situacionais, contextuais, de pessoas eda
organizao) e sua negociao quanto s necessidades e desideratos,
donde a estranheza quetraz uma definio fechada, pronta e acabada de
problemas a considerar.
Finalmente, e isso essencial, a fala comporta subjetividades de
fundo psquicoNotadamente em situaes onde problemas se manifestam e,
existem responsveis pelo bomfuncionamento. Neste aspecto vale
frisar que a evidenciao de problemas e suas causas deflagraatitudes
de defesa da parte dos responsveis e, algumas vezes no prprio
conjunto detrabalhadores, numa manifestao intrigante de
sprit-de-corps. Este ltimo ponto bastante
7 Topos = campo8Esta esquematizao indigente deriva de um
problema mais complexo, que o das representaes inadequadascomo
veremos mais adiante
9Relayout um termo tcnico em engenharia de produo que significa
um remanejamento do espao para que otrabalho seja melhor executado
e que os resultados da ativade fluam de uma forma mais eficiente.
Rearranjo uma traduo bastante prxima deste sentido, embora no
veicule o significado pleno que no se limita aquestes de organizao
espacial, mas tambm a critrios economicos e organizacionais.
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sensvel, pois sua percepo inadequada basicamente predisponente a
um processo abortivo emintervenes ergonmicas e que cristaliza as
duas primeiras dificuldades, tanto reforando aspreconcepes
topolgicas como resistindo a examinar definies que podem at ser um
bomincio, mas que deixam a desejar enquanto problemtica10.
Levando em conta que a metodologia ergonmica se caracteriza por
um processo deesclarecimento progressivo da realidade do trabalho,
do ponto de vista da atividade e, em acordocom Daniellou (1992),
que sustenta a necessidade a necessidade de construo de
representaescompartilhadas, ou de Sperber e Wilson (1987) que
propem a existncia de ambiente cognitivoscompartilhados, no nos
podemos subtrair reflexo quanto ao fato que a grande maioria
dasintervenes ergonmicas se passa no interior de conflitos
organizacionais e interpessoais gerandoum contexto de cooperao com
fatores fortemente limitantes. Considerando, juntamente comSchuman
(1987) que as interaes locais so contingentes s circunstancias
particulares dosatores (no sentido de sujeitos da ao comunicativa),
uma cooperao stricto sensu devecomportar uma sensibilidade s
circunstncias e aos recursos locais que permitam
contornardificuldades que aparecem no curso da compreenso mtua
visada pela comunicao (Pavarde Decortis, 1994).
Esta perspectiva etnometodolgica, que aparece como a abordagem
terica maisadequada no que tange forma de cooperao, onde uma
identidade de objetivos se estabelece, luz que nos traz a leitura
de seus principais autores (Mead, 1934, Schuman, 1987 e
Hutchins,1990), se torna inadequada para o tipo de interao a que
nos reportamos - a conversa orientadae complementar observao
posterior declarao de uma demanda. A hiptese emergente ade que a
interveno pode no corresponder aos desejos tcitos de alguns dos
interlocutores. Abase de uma cooperao, absolutamente necessria,
deve ser construda conscientemente,metodicamente e intencionalmente
ao longo desta forma de interao, e isto como condio
deprosseguimento e da possibilidade de vir a trazer resultados em
termos da compreensoalmejada da atividade de trabalho e seus
determinantes (sociais, tcnicos, organizacionais eeconmicos).
nesse sentido que sentimos que a A.E.T. deva dispor de um mtodo
de conversaoestruturado, orientado e potente11 e para tanto
procuramos expor e formalizar nossa experinciapara contribuir,
mesmo que timidamente, a este importante e necessrio
desenvolvimento.
3 - Pressupostos da idia de Conversa-ao
3.1 . Distino entre observao pura e as interaes na pesquisa de
campo
Inicialmente devemos tomar posio epistemolgica acerca das duas
grandes categorias demtodos em Anlise Ergonmica do Trabalho, que so
a observao e a conversao.
10Vemos aqui a necessidade do carter global que deva ter a
explorao do funcionamento da empresa, no sentidode que o diagnstico
aponte no apenas os pontos a intervir, mas tambm a problemtica
cientifica e tecnolgicasubjacente ao estudo, estando nisso de
acordo com Theureau (1993) que preconiza um programa
tecnologicoassociado a uma interveno mais consistente e com
Daniellou (1992, cap.7) onde a passagem teoria cientfica to prpria
Ergonomia como sua manifestao no plano da tecnologia.
11Antes que eu tome outra bronca do Miguel de Simoni, quero
sublinhar que a noo de potncia est maisrelacionada ao radical grego
potens, que significar poder, do que alguma conotao superlativa que
transmitissea idia de uma melhoria comparativa ou qualquer outra
pretenso que no a da pertinncia.
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A observao do trabalho real em situao se constituiu e se
constitue no grandediferencial da corrente ergonmica contempornea e
ela sugere que o pesquisador, ao observar oreal deve cuidar da
questo dos limites do recorte admissvel em ergonomia situada
(Wisner,1967, 1994). A questo inicialmente colocada pela
metodologia em Ergonomia - a da superaodas prticas exclusivamente
experimentais num paradigma de aplicao - para observaes inloco -
introduziu a questo da variabilidade das pessoas e das tarefas que
executam. Asobservaes in loco trouxeram para a simplicidade inicial
da ergonomia - uma tarefa bemdelimitada e os estudos limitados
resoluo tima da interface entre a pessoa e o equipamento -uma
novidade epistemolgica: os problemas das anlises hic et nunc e as
dificuldades de suageneralizao num quadro mais abrangente.
A observao como tal e na perspectiva de uma ergonomia situada,
um mtodonecessrio, porm que se torna insuficiente, esta
insuficincia consistindo no vis que o fato dotrabalhador poder vir
a ser tomado como objeto e no como sujeito cooperante da
interveno.Ainda nesta direo, mesmo cuidadosamente preparada, a
observao pura ainda pouco sensvelaos fenmenos engendrados pela
variabilidade organizacional, j que o trabalhador, face a
estesdesenvolve estratgias de regulao e de antecipao capazes de
mascarar as manifestaesobservveis e de atender ao que dele espera a
organizao, embora nem sempre isto possa serconsiderado publicvel ou
mesmo comentvel. Tais estratgias frequentemente cruzam asfronteiras
do socialmente admissvel e, por serem comportamentos operatrios no
conseguemser escamoteados ou dissimulados. E com a observao
situada, a dificuldade da generalizaodo enunciado observacional de
natureza hic et nunc, e com a existncia de um jogo social que
aErgonomia passa dos comportamentos de ao e de observao - o
essencial das atividadesobservveis na perspectiva clssica e dos
primrdios da anlise do trabalho em Ergonomia - paraa incorporao do
estudo de comportamentos de comunicao (Wisner, 1993) e
maisrecentemente de cooperao (Pavard e Descortis, 1994)12. Ora isto
representa uma passagemimportante do trabalho individual para o
plano coletivo das atividades e os ritos especficos que aatividade
de trabalho, numa tal perspectiva passa a incorporar.
J a conversao, enquanto objeto de estudo, se coloca desde logo
na perspectiva do serhumano como sujeito de interaes sociais que se
acrescentam aos planos biolgicos, cognitivos epsquicos das
atividades de trabalho (Lacoste, 1992, Daniellou, 1992), tornando a
observao umrecurso suplementar s suas prprias tcnicas de elucidao
da influncia do contexto sobre oagir, aqui refletidos no aspecto da
expresso verbal. por este caminho que julgamos que oproblema
metodolgico que sustenta o interesse por conceitos e mtodos
advindos dasociolingustica interacional para a Anlise Ergonmica do
Trabalho e por a mesma para a Arteda Ergonomia ( Wisner, 1994).
Conversar, comunicar, cooperar, abrem uma outra perspectivapara a
Anlise Ergonmica do Trabalho e acerca desses desenvolvimentos que
prosseguiremosneste artigo.
Ao retomar a definio original da Ergonomia, feita por
Jastrzebowski13(1857), vemos queas interaes entre pessoas no
trabalho permitem compreender a atividade de trabalho em seu
12 Ver texto nesta coletnea.13 A definio de Jastrzebowsky para a
disciplina cientifica que propunha tratava da maneira de utilizar
quatrodistintas caractersticas da natureza anmica, quais sejam a
motricidade (fsica), sensorial (esttica), mental(intelectual) e
espiritual (moral). A Cincia do trabalho, portanto significava a
cincia do esforo, jogo,pensamento e devoo. Karwowski W.(1991),
Ergonomics, Vol 34, #6, 671-686
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carter ldico, atravs de jogos de comportamento (Airenti G. Bara
B.G. e Colombetti M. 1993)ou, numa acepo mais primitiva, de ritos
de interaes (Goffman, 1974). O modelo terico deAirenti e al. aponta
para esquemas estereotipados de ao compartilhados pelos
agentes,particularmente para a noo de script formulada por Schank e
Abelson (1997, apud Pavard eDescortis, 1994), que tem o mesmo
sentido da noo de frame esquematizada por Minsky (1975)e discutida
por Van Dijk (1981). Frames ou scripts apresentam, na comunicao
entrecomunidades discursivas, o valor operacional de identificao do
que seria tpico ou caractersticoem uma dada cultura ou mesmo para
uma classe definida de representaes. Isto permite que ainterao seja
orientada mais para sua dimenso perlocutria, onde a produo de um
efeito aproduzir sobre o interlocutor ocupa um lugar central. Este
aspecto ldico-perlocutrio foiamplamente praticado durante a
Conversa-ao, o que a caracteriza como uma pragmtica e umaforma de
superao de suas contrantes intrnsecas. Afinal, como explicita
Gofmann :
Toda pessoa vive num mundo social que a leva a interargir com
outros (...)Nestes contatostende a exteriorizar uma linha de
conduta (...) E como os demais participantes supem nestapessoa uma
posio mais ou menos intencional(...) se ela quiser se adaptar s
reaes [ deseus interlocutores] deve considerar a a impresso que os
outros fizeram a seu respeito.
(Goffman,1974, p. 9).
Ora isto refora mais ainda a necessidade de formalizarmos o
campo interacional emanlise do trabalho, tanto em termos de objeto
- no qual as interaes ocorrem e constituem otrabalho - como em
termos de metodologia - qual a tipologia de interaes especfica de
umaAET e em que condies cada elemento tipolgico seja pertinente -
que o que passaremos atratar.
3.2 - Um problema de fundo : A interao e as distancias sociaisO
emprego de mtodos de anlise do trabalho baseados em prticas
discursivas - ou mais
genericamente derivados de conceitos das cincias da linguagem -
faz imediatamente emergir umadificuldade, qual seja a distancia
social entre trabalhadores, gerentes e pesquisadores, conforme
oaponta de Simoni (1994)14. Isto que foi conceituado por Sapir
(1968, p. 42) como sendo umafuno secundria, a conversa subjacente
interao aparente, aparece na prtica da Ergonomiacomo uma questo de
base, sobretudo quando da fase inicial de negociaes e anlise
dademanda.
Tais distncias so criaes sociais, no sentido de que elas se
inscrevem na perspectiva dosrituais (no sentido de relaes
interpessoais estereotipadas) e cerimoniais assinalados porGoffman
(op. cit.), sobretudo cristalizando a diferenciao das comunidades
discursivas emsituao, a comunidade gerencial detendo a
normatividade da linguagem que veicula e veiculadapelo trabalho
prescrito e a comunidade de operadores que fundamentaria outras
linguagens deofcio, alm das corruptelas da linguagem formal (que
seria, neste caso, uma norma culta do falarnuma organizao?).
Seja como for, nas situaes de interao ocorrer a influncia
incontornvel deste fatosocial, criado e atuante, trazendo para a
anlise de contedo a noo etnometodolgica docontexto, onde as
comunidades se expressam em termos locais e situados
possveis:representantes da gerncia e pesquisadores em negociao ,
pesquisadores e trabalhadores em
14 Ver texto nesta coletnea
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interao de pesquisa direta, interferncia de um representante de
outra comunidade numainterao em curso, ou com os trs tipos de
atores presentes numa reunio.
O trao significativo a percepo do trabalhador como objeto de
estudo - suascaractersticas, seus comportamentos e suas
comunicaes/cooperaes - o trabalhador comosujeito ativo - seus
interesses e seus resguardos, suas revelaes e seus segredos, isso
dentro deuma perspectiva que definiremos como o duplo aspecto da
negociao e da associao .Negociao da interveno - que apenas se
inicia nos primeiros contatos, mas que prossegue fortee
explicitamente durante a Anlise da demanda e continuar de forma
velada e presente ao longodo restante da interveno, devendo ser
renovada, reforada em determinadas passagens cruciais -e Associao
entre objetivos - dos pesquisadores e dos agentes sociais entre si
validando objetose formando critrios de avaliao da interveno
ergonmica15.
Devido a esta construo complexa de objetos, objetivos e
critrios, as interaes napratica ergonmica acabam por cotejar um
importante implcito, uma subjacncia determinante datecnologia e sua
organizao vinculada, as representaes do sistema de produo.
3.3 - Um problema de gnese : as representaes e a concepo da
tecnologia e os enunciadosdiscursivos disponveis
O objetivo bsico da Ergonomia o de transformar o trabalho. E
isto seria possvelintroduzindo-se conhecimentos sobre o ser humano
na concepo ou redesenho de situaes detrabalho. O grande problema
est , segundo Daniellou (op. cit) a passagem da existncia
deconhecimentos sobre o ser humano em situao para sua aplicao nos
projetos de sistemastecnolgicos - os artefatos, mentefatos e
sociofatos que os constituem - no imediata, estedistanciamento j
tendo sido apontado anteriormente por Tort (1974) a propsito da
sociedadefrancesa naquele momento.
A questo que colocamos que existe uma particularidade neste
processo que a prpriapercepo dos conhecimentos necessrios, que
tributria da maneira como o sistematecnolgico existe antes de
existir, ou seja, a nvel das representaes existentes.
Representaes,aqui so tomadas no sentido proposto por Eysenck e
Keane (1990, p. 241-250) de uma ativaode relaes neurais
historicamente constitudas, e a partir do qual o agente retm
comopertinentes certos elementos da situao que problematiza,
constitui e resolve como problema.Daniellou (1992) retoma a idia de
Scribner (1986) que a representao requer que a ela estejaassociada
uma estrutura de explorao orientada que torne pertinente a ativao
de umdeterminado circuito neural e que esta estrutura se fundamenta
na histria pessoal e social doagente. A essa importante colocao,
acrescento a natureza coletiva que caracteriza tal estrutura,sendo
tambm resultante das interaes entre agentes em cooperao positiva ou
negativa, poucoimporta, mas um conjunto de aes que implica o
contexto de sua produo, dando contornose limites ao biolgico e
social ali envolvidos por uma reafirmao da importncia do contextode
sua produo e atuao.
15Nesse ponto tocamos num aspecto delicadssimo da ergonomia que
o chamado duplo registro de interveniente,terapeuta de representaes
sobre o trabalho e de cientista formalizando e propondo modelos
falsificveis numacerta opo paradigmtica. No primeiro caso os
critrios so de natureza social e de pertinencia a um
universosocialmente estabelecido, estrutura frente qual o
ergonomista estaria apenas em seu limiar. No segundo caso, asregras
da cientificidade estabelcidas desde muito sofrem a complexidade
adicional da naturza absolumentetransdisciplinar dos objetos e
modelos tericos construidos a partir da A.E.T. Essa discusso
epistemolgica, porsinal, o debate da atualidade na ergonomia
mundial.
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Nesta formulao temos o cruzamento de dois processos
historicamente constitudos, daproduo do discurso do(s)
trabalhador(es) acerca de seu trabalho e do contexto onde
asinteraes tm lugar, incluindo-se como componente contextual as
representaes dosconcebedores da tecnologia.
Quanto ao primeiro aspecto vale transcrever o que colocado por
Daniellou (1992, p.23):
A representao que um sujeito se constri de uma dada situao se
ancora numa biografia que ,entre outras coisas, uma histria social.
durante esta histria que a pessoa adquiriu as palavras eenunciados
para descrever as passagens constantes de seu trabalho e poder
interagir com os demaisquanto a elas.(...)possibilidade de
simbolizar uma situao e poder report-la em termos discursivoscom
outros (...).
Fazemos a hiptese de a existncia de enunciados disponveis para
simbolizarrepresentaes acerca do trabalho desempenha um importante
papel para a construo derepresentaes para o trabalhador(...).
Para o que nos interessa, a evidenciao destes enunciados
disponveis parece ser um dosobjetos de uma pesquisa discursiva no
falar do trabalhador acerca de seu trabalho. No entanto aarticulao
com o segundo aspecto, um contexto historicamente constitudo, faz
com quesuspeitemos que estes enunciados disponveis tenham sido, de
alguma forma atingidos porrepresentaes de carter dominante, como o
trabalho manual de linhas de montagem, otrabalho repetitivo de um
pedreiro, a desqualificao do peo etc. Alm disso, o terrvelefeito da
confrontao entre comunidades discursivas em diferentes plos de
poder muitoprovavelmente iniba o grau de disponibilidade de certos
enunciados e, por a, fazendo com querepresentaes equivocadas
prevaleam sobre aquelas que seriam mais pertinentes para aprojetao
da tecnologia. Pudemos, como veremos mais adiante, demonstrar que
existemdiferenciaes discursivas significativas com as variaes
contextuais presena/ausncia da chefiaou a identificao regional
motivante. Assim pertinente a hiptese de interferncia direta
narepresentao e simbolizao da situao pelo agente, com implicaes no
aprendizado e na suaeficcia enquanto operador. E isto pode ser
acessado e evidenciado mediante uma formasociolingustica
interacionista, que que chamaremos, doravante, de Conversa-ao,
paradiferenciar tal forma do ato comunicativo da fala, a
interao.
4 - Construo de uma metodologia de Conversa-ao
4.1 - Definindo as bases
Por Conversa-ao pretendi nomear o mtodo que foi desenvolvido
para dar conta doproblema metodolgico de que os vrios membros uma
mesma equipe de pesquisa em situaorealize interaes bastantes
distintas, que devam convergir para um relatrio comum, um
escritonico que sintetize diferentes experincias e transmita
distintas vivncias. O interesse de dispor deuma formalizao desta
aparente balbrdia de pesquisa est em que uma tal configurao
permiteum acesso particularmente nico a interpretaes e representaes
existentes sobre o trabalho,com a vantagem subsidiria de poder ser
registrada, de forma sistemtica, a variao contextual,que, como j
assinalamos, essencial para a compreenso de comportamentos
situados. Porexemplo, ora a presena de um superior inibia, ora a
identidade regional encetava rumos daconversa e assim por diante.
Como preservar estes momentos e transformar essa vivncia emmaterial
emprico? Eis a problemtica que originou este mtodo de
Conversa-ao.
A questo da pesquisa coletiva em equipe integrada Vidal
(1991,1995, 1997, 1998),aborda o seguinte quadro interacional :
interaes mltiplas, sincrnicas, tematicamente distintas;
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com parceiros que tm diferenas sociais, tcnicas e geogrficas;
num ambiente instvel emutvel segundo contingncias e variaes de
difcil percepo.
Tratava-se de interaes mltiplas, h que cada um dos quatro
integrantes se dirigia a uminterlocutor ou, na pior das hipteses,
cada dois interagiam com um dos trabalhadores. Istoocorria num
mesmo espao de tempo e para uma mesma situao. Eram, pois
depoimentos sobreo mesmo fragmento do universo aos quais poderamos
fazer uma previso de uma fortesimilaridade de contedos, j que o
assunto da pesquisa era bastante bem delimitado. No entantoo
resultado de interaes sincrnicas, revelou-se absolutamente dspar,
parecendo que haveriaexistido troca de registro de visitas
distintas. Um exame mais detalhado mostrou que, na verdade,ocorria
uma atratividade para o assunto que mais interessava ao
pesquisador-mestrando, e estatematizao da interao ocorria de forma
absolutamente recorrente.
As interlocues se davam com parceiros onde a cooperao inicial
era artificialmentesuposta, nada havendo que pudesse assentar uma
maior inferncia. Na verdade, o incio deinterao era marcado por um
jogo comportamental de estudo mtuo. Na mesa a questo dasdistncias
sociais, j comentadas, e das diferenas tcnicas - com conflitos
discursivos freqentesentre pesquisadores e trabalhadores - e
geogrficas, onde modos de falar e ouvir se distinguem deforma
notvel. Tratando adequadamente cada um dos elementos de aproximao e
dedistanciamento - social, tcnico e geogrfico - mediante um rigor
do registro de quem conversa, eonde, e com quem, e sobre que, foi
possvel explicitar as diferenas entre registro, assim como ariqueza
do material emprico obtido.
Ainda falando desta riqueza, nos chamou a ateno o aspecto catico
das interaes, ondeos resultados tm uma dependncia sensvel s condies
iniciais de interlocuo, a introduo depequenos deslizes conduz,
termo ao bloqueio da interao, pela prpria dinmica e dadelicadeza de
alguns assuntos que se evocam. Este aspecto da mutabilidade e da
instabilidade docontexto de conversas no pode ser percebido seno a
posteriori das interferncias e analisando-se a concorrncia de
contingncias que provocou a desestabilizao momentnea.
4. 2 - Desideratos e preceitos da Conversa-aoPor se tratar de
propor um mtodo devo colocar as expectativas de que me cercava
para
formular uma proposta. Trs elementos me chamaram mais ateno no
quadro de uma pesquisade campo ou de uma interveno, quais sejam
:
a falta inconsciente de vontade de aprender algo novo - que
significa, na praticacientfica a atitude soberba onde a pessoa se
julga detentora de um saber ao qual bastariaenriquec-lo de
exemplificaes extradas de uma interveno superficial. Isto
relativamente comum quanto mais premente se torna a necessidade de
resultados que,assim produzidos quase sempre beiram a
mediocridade;
a necessidade de combinar o conhecimento existente com o que se
apreende na
interveno - o antdoto da soberba deve ser diretamente coerente
com sua intensidade,no caso em que se consiga trabalhar com a dose
de humildade adequada. O risco est nainvalidao e na baixa valorao
que se d a resultados brutos mas de grande fertilidade.Latour e
Woolgan (1986) mesmo admitindo a inobservncia parcial de
registrosgravados sustentam a pertinncia da coleta de interaes
verbais para compreenso deaspectos culturais da vida num
laboratrio. No caso que vivenciamos, assinalar apotncia dos dados
empricos colhidos era uma tarefa tpica de coordenao da equipe.
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Para tanto estabelecemos o cuidado relativo forma de anotao e
registro, vinculando-aa uma garantia de qualidade do relatrio
futuro;
a importncia de identificar e nomear preconceitos - reconhecer
uma realidade
preestabelecida tarefa simples e gratificante, admitir estar
fazendo-o exatamente ooposto. Na essncia do mtodo, introduzimos a
tcnica de duplo registro. A tcnicasimples, uma recomendao de uso do
caderno de notas onde numa folha se descreviasem adjetivao ou
valorao deixando a outra folha contgua para uma apreciao livre.A
manipulao deste material foi dividida em dois momentos, o primeiro
da fraoinadjetivada e a segunda introduzindo os qualificativos da
segunda folha, referenciando-se o autor e o contexto de
adjetivao.
4.3 - Preparando a Conversa-ao : o roteiro de conversaA
pergunta-chave para esta construo metodolgica foi: Como interagir,
se permitindo
descobrir ao mesmo tempo que confirmar hipteses e/ou suspeitas j
existentes (combinao doprimeiro e segundo desiderato)? Assim
optou-se que o pesquisador se "deixasse levar" at certoponto, no
sentido de descobrir e de permitir que algo novo aparea ao longo da
interao.Entretanto, sempre existe o objetivo da interveno, algumas
colocaes primrias etc. Nasituao qual me referencio, tratava-se de
uma investigao a partir de uma demanda genrica,numa problemtica de
difcil associao imediata com as questes motivantes para
osinterlocutores, donde a maior relevncia que tomava a negociao da
interao, para o quecriamos a metfora do bote, como encetar a
conversa precavendo-se do efeito borboleta16. Obote ou a aproximao
inicial deveria ser extremamente cuidadoso, tal como no jogo de
xadrezonde um erro de abertura leva a uma derrota inevitvel. No
jogo comportamental da Conversa-ao, ocorria, entretanto, o risco de
que a busca de uma empatia descuidada levasse perda dorumo da
interao para assuntos palatveis porm pouco producentes.
Assim compusemos um roteiro de conversa com nossas dvidas e
principais questes.Este roteiro deve conter poucos itens e um
instrumento utilizado no sentido de entabular uma"conversa com
finalidade", que deve permitir ampliar e aprofundar a comunicao.
Alm dequestes o roteiro antecipa um mapa de conversas, ou seja,
tentando antecipar caractersticas dosfuturos interlocutores. Neste
sentido, deve-se conversar as mesma coisas com pessoas emdiferentes
posies hierrquicas. As falas oriundas de atores diferenciados so
frequentementecomplementares. Do ponto de vista de manuseio, o
roteiro deve ser memorizado e a pragmticade conversao o oportunismo
cuidadoso, ou seja, estimular um assunto, quando ele surge,sem
forar seu surgimento, nem tampouco insistir caso se perceba alguma
hesitao da parte dointerlocutor. Da mesma forma, deve-se adotar uma
atitude tolerante na interao acerca deassuntos aparentemente
desinteressantes, j que o fluxo da conversao , por
definio,desconhecido. Chamamos a esta configurao de duas por cinco,
simbolizando, metaforicamente,que se deva estar preparado para em
duas horas de conversa obter-se cinco minutos deinformao relevante.
A preparao para um tal desempenhar o que chamamos o exerccio
dacalma, a que retornaremos num outro artigo.
16 O efeito borboleta uma noo da teoria do caos que foi descrita
por Cleick (1987) como sendo o fato de que acombinao teoricamente
possvel de inmeros fatores metereolgicos pode fazer a ligao entre
um bater de asasde uma borboleta em Honk Kong e um tufo na
Califrnia. Significa dizer que no interior de um sistemamnimos
elementos de entrada podem gerar repercusses macroscpicas. Ora,
considerando a interao como umsistema progressivo de
entendimentos/desentendimentos o efeito borboleta uma realidade
tangvel.
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4.4 - A tica subjacente Conversa-aoFalar em oportunismo, mesmo
cuidadoso, dado sua acepo popularmente pejorativa,
naturalmente evoca, para a Conversa-ao, uma questo tica profunda
que os cuidados denegociao e associao mencionados apenas tocam
levemente. O ato de fala no uma atividadehumana abstrata, mas uma
ao humana situada, contextualizada e dinmica. A Conversa-aoanalisa
o contexto de conversa do ponto de vista da alteridade, ou seja o
fato de que o sujeitofalante e criador pressupe outros sujeitos,
formando uma conscincia aberta para outras. Seformos mais ao fundo
espiritual desta questo, como o fizeram mais recentemente Souza e
Simoni(1994), a comunicao entre pessoas, para alm dos ritos de
interao social Goffman, essencialmente uma conexo amorosa, de se
fazer sensibilizar com a escuta do outro, umaatitude compassiva, de
se colocar no universo emocional do falante e uma proposta pessoal
deautoconhecimento acerca dos efeitos do que se escuta sobre si e
uma con-fiana no fluxo daconversa.
A estas questes ticas, ainda no plano espiritual, deve-se se
acrescentar a questo daidentidade na iterao, que evocamos
brevemente mais acima. Para registrar a realidade precisoestar
aberto para tudo que possa ocorrer sua volta. A prpria descrio do
que se observa pessoal e depende da atitude do observador, pois
este trs em sua memria suas prpriasexperincias e conhecimentos
anteriores que se mesclam com os fatos na hora da narrativa.Afinal,
como j vimos mais acima a construo de uma representao marcadamente
biogrficacomo o sublinhou Daniellou (1992).
A observao de situaes reais (pessoas, lugares, coisas,
circunstncias) envolve algoextremamente confuso, tal como um
labirinto, e nesse labirinto, a realidade subjetiva o quevoc
percebe, v, acredita que seja. Neste sentido, comentar-se- mais as
atitudes e no asopinies dos entrevistados, pois h supostamente
influncia de outras reas de relacionamentos,podendo variar em
coerncia e harmonia ou em total desarmonia mascarando a
realidade
Em sua tese de mestrado, Nunes (1993) ressalta dois eventos
ocorridos quando da visitaem um canteiro de obra e a passagem de
uma negociao em uma empresa do setor pararealizao da sua pesquisa
de campo.
No primeiro acontecia o fato da dupla identidade
cultural/regional. Nossa entrevista neste casoera com o mestre de
obras e os pedreiros, e a nosso favor contava a origem de alguns
dosintegrantes do GPIC17, pois a autora e um dos integrantes tinham
em comum com ostrabalhadores o fato de serem tambm Nordestinos.
Isto facilitava o fluir do dilogo, pois nesseespao mora a saudade,
pessoas queridas, enfim recordaes de experincias passadas,
queacabam por quebrar as barreiras iniciais do contato verbal.
O segundo, foi a receptividade junto coordenadora de recursos
humanos de uma empresa queadotou como inovao a gesto participativa.
Aqui a identidade se estabeleceu nvel deinteresses particulares
sobre as questes referentes subjetividade operria. Na ocasio
aproposta de pesquisa foi aceita com muita cordialidade. Mais
adiante essa identidade tomououtra forma: o fato da identificao de
duas mulheres inseridas num mundo de trabalhofundamentalmente
masculino. Isto nos tornou muito prximas quanto s inquietaes,
dificuldades,defesas e enfrentamentos necessrios s atividades
profissionais.
17 O GPIC (Grupo de Pesquisa em Industrializao da Construo da
COPPE/UFRJ) foi uma integrao dedoutorandos, mestrandos e estudantes
de iniciao cientfica em torno de uma pesquisa integrada sob
minhacoordenao.
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Nestes dois casos a identidade embora fundamentada em distintos
fenmenos de gnero (identidade regional no primeiro e identidade
feminina no segundo) permitiu um acesso ainformaes que seriam
praticamente inacessveis em situaes comuns de conversao. Nessesdois
casos a identidade assim estabelecida ensejou a conversao em torno
das trajetriasprofissionais, e isto de forma espontnea e com uma
particular riqueza de detalhes e passagens,pois como sugere o
prprio termo con-versa-ao, o processo relativo ao de
versar-juntos,que difere da controvrsia, versar-contra. Na
Conversa-ao a realidade se revela pelaharmonizao de propsitos e de
opinies e no pelo choque destes elementos.
Adotou-se, em consequncia destas consideraes, uma derivao do
princpio do olhardirigido, para dirigir a interao entre
trabalhadores e observadores, qual seja a escutarespeitosa. Esta
postura bsica consiste em no dirigir a conversa mas procurar um
escutar totalcom seletividade para a pesquisa posteriori. Embora
obtenha resultados de boa qualidade, comrelao aos mtodos
convencionais, este mtodo mais demandante de tempo. Na fase de
anliseglobal do trabalho, ele se revela eficaz, por trazer tona
elementos inesperados, alm dapossibilidade de contextualizao do
momento de fala. Na anlise da demanda ela se revela deuma extrema
potncia j que, ao tocar na essncia da comunicao humana e de suas
implicaesticas viabiliza descortinar as profundezas e os elementos
subjacentes interveno
4.4 - Entre a tica e a Epistemologia : escolhendo interlocutores
e o modo de falar com cada umO problema da escolha ou imposio de
interlocutor apareceu logo no incio do trabalho
de pesquisa e foi, poca, resolvido de forma cmico-intuitiva. Na
verdade esta escolha ouimposio a prpria medida do grau de liberdade
existente na interveno. Em muitas passagensa possibilidade de
conversar extremamente colocada em dificuldade ou usada como
recurso deboicote interveno. Ferreira (1995)18 chega ao extremo de
desenvolver formas de Conversa-ao tendo como ponto de partida a
impossibilidade de conversas em situao,a que chamou deanalise
coletiva do trabalho (ACT).
Numa acepo puramente tcnica, a escolha de interlocutores deve
advir dos primeirospassos de anlise global, quando um mapa do fluxo
de material ou de informaes localizeinterlocutores privilegiados,
geralmente localizados em postos chave. Abraho (1986) estuda oposto
de mestre-destilador em destilarias autnomas de lcool como forma de
confrontarrealidades antropotecnolgicas distintas; num outro estudo
(Vidal, 1985) centrei o estudo dotrabalho em construo sobre o
coletivo de pedreiros no sentido de que era nesta grupo deoficiais
que se realiza a mxima centralidade do processo construtivo;
Feitosa (1995, em preparo)se centra na funcionria do protocolo para
analisar a trajetria e evoluo dos escritosadministrativos. Nesta
perspectiva os exemplos so numerosos.
Numa outra ordem de idias est a questo da simetria colocada por
Bloor (apud Latour eWoolgar, 1986), que estabelece que toda
explicao epistemolgica deve explicar o sucesso e oinsucesso na
investigao. Este pensamento, raiz da obra de Lvi-Strauss (1962)
tenta nosresguardar de discriminar os vencidos dando a impresso de
valoriz-los. E isto se torna to fortequanto nos aproximamos do
detalhe, do coletivo, da situao. Quem seriam os deserdados
dahistria da evoluo tecnolgica e o que teriam que dizer ? Numa
situao quem detm a deciso
18Ver artigo neste livro.
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e quem dela esta alijado? Quais as formas de imposio e de
resistncias que encontramos numarealidade da produo?
Certamente um to complexo conjunto de questes sociolgicas
inabordvel como talpela Ergonomia, que no dispe de elementos de
interveno neste plano. Porm como sublinhouo prof. A. Wisner (1974),
o trabalho do ergonomista se d no limiar de estruturas que ele
deveridentificar mas que no dever procurar agir sobre, embora a
tentao e uma certa lgica parecepara ali nos impulsionar. Na
perspectiva etnometodolgica que nos colocamos, trata-se de fugir
metalinguagem que uma perspectiva sociolgica nos faria adentrar
para, simplificadamente, elegero agente e sua prtica como o nico
sociolgico competente disponvel para a Conversa-ao. Aquesto que,
esta sim, podemos responder a seguintes que agentes e que praticas
poderemosversar juntos ?
Neste caso a escolha recai por pessoas que, de diferentes pontos
de vista e de lugareshierrquicos diferenciados podem evocar a
atividade j devidamente observada e face qualpodero ser
autoconfrontados numa anlise sistemtica. Uma tcnica simples da
derivada coletar propsitos verbais (descries da atividade por
agentes que dela participem) de porexemplo um chefe e dois
subordinados. Seus discursos, at onde pudemos constatar
apresentamum carter de complementaridade que permite praticar a
desconfiana necessria sem perda dovalor intrnseco de uma escuta
respeitosa.
A ltima reflexo neste item a reflexividade, que pode ser
bastante deturpada pelapratica da identidade na pesquisa. Se a
Conversa-ao pode ser sistematizada por uma variante docurso da ao
de trabalho estabelecida por Theureau (1992) e adaptada para os
mtodosinteracionais atravs da proposta de entrevista guiada por
fatos como o faz Langa (1995)19 o queindicamos a entrevista guiada
por fatos de identidade, nisto residindo uma terceira fonte
deescolha de interlocuo. A questo revela a empatia criada pelo fato
de identidade comofacilitador, mas coloca do ponto de vista
epistemolgico a questo do distanciamento entresujeito e objeto e
entre sujeitos. Simoni e Souza (1994) defendem um ponto de vista
que conduz aesta no separao o que tenderia a rejeitar toda a
perspectiva cientfica para a construo doconhecimento, alternando-a
por uma cognoscncia de carter intuitiva. Uma vez que partimos
debases absolutamente intuitivas para funcionarmos como coletivo em
pesquisa interacional, adificuldade de rejeitar um ponto de vista
desta natureza. A soluo, sempre provisria, para umtal dilema nos
dada por Latour e Woolgar (op. cit), que no vem problema ou
contradioentre se considerar dialeticamente igual e distinto,
prximo e distante, at porque os fatores quelevam identificao e ao
distanciamento se reportam os primeiros natureza e os segundos
cultura, e vice versa, o que significa a percepo de atributos de
cada interlocutor numa interao.
4.5 - A passagem ao material empricoTerminando nosso passeio
sobre as questes tericas que emergem de uma prtica de
Conversa-ao, nos perguntamos, agora, como teorizar, ou
minimamente modelar o resultadoobtido desta forma particular de
interao, a Conversa-ao: Duas questes nos apareceram, aprimeira do
funcionamento do mtodo e a segunda quanto sua generalizao.
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Na passagem do material emprico evidenciao e teste de hipteses,
a questo primeiraque nos apareceu foi : como ordenar e sistematizar
esta diversidade tendo em vista asnecessidades da anlise do
trabalho ?
Os elementos obtidos por cada um eram compartilhados com o grupo
logo em seguida visita, formando um segundo momento de conversa, um
metadebate sobre a pesquisa. Em outrostermos, este segundo momento
de conversa propiciava o afinamento do quadro contextual
dapesquisa, que vem a ser o objetivo tcito da anlise global em
Ergonomia. Assim, cada pessoa dogrupo produzia, logo aps a visita,
um relatrio instantneo e individual de observaorestringindo-se ao
aspecto descritivo (documentao visual e pictrica do processo de
trabalho),mas tambm da coleta de propsitos verbais hierarquizados,
ou seja, fazendo tosistematicamente como seja possvel numa primeira
abordagem a posio hierrquica dointerlocutor20. Preparados os
relatrios individuais nos reunamos para compartilhar asdescries e
avaliarmos as questes de anlise, quanto sua pertinncia ou limitao
e, asquestes referentes s entrevistas. Isto permitia uma nova
interao entre a equipe e um relatriofinal - escrito nico
convergente do trabalho em equipe - era ento elaborado numa
formamonogrfica.
A pergunta seguinte, respectiva a uma generalizao do mtodo foi :
quais os cuidados priori para evitar sobretarefas, retrabalhos e
outros problemas deste tipo no uso do mtodo ?
Os relatrios definitivos de cada visita, assim confeccionados,
acabaram se tornando umaprtica corrente, tendo o tempo entre a
visita e sua confeco se tornado curto e operacional, nomais de uma
semana entre um e outro evento. Para isso concorria o
aprofundamento conceitual ea maior clareza nas questes bsicas da
pesquisa. Entretanto esta mesma rapidez discutvelnuma interveno
especfica, sobretudo na anlise da demanda onde cada passo deve
sermeticulosamente construdo. Permanece aqui o debate entre o
emprego preferencial dos mtodosquick and dirty a que faz aluso
Wisner (1994) e o tratamento aprofundado de uma realidade que o
apangio da AET, sua utilidade e seu charme.
5 - Concluso
Deve ficar claro que os mtodos da Ergonomia vo bem alm da forma
de verbalizaoaqui discutida. Um mtodo bastante poderoso, que
abordaremos ulteriormente, o daverbalizao associadas ao
desenvolvimento da atividade, seja em tempo real, seja atravs
derecursos mediticos de reconstituio (vdeo, fotos, gravaes,
etc.).
Para terminar gostaramos de ressaltar a essncia do mtodo de
conversao destinado analises globais: a escuta respeitosa entre as
pessoas. A interao entre pessoas conversandoacerca do trabalho de
uns - os trabalhadores - durante o trabalho de outros - os
pesquisadores -requer uma postura tico-valorativa que nos proteja
da frieza em que a necessidade daobjetividade cientfica pode nos
conduzir.
20 O carater apenas indicativo desta sistematicidade se prende
ao carater sociolgico da estrutura de poder numaempresa. Numa fase
de anlise da demanda e muitas vezes durante uma boa parte da anlise
global no evidentea percepo da organizao informal onde os laos de
poder, alianas e temores apaream de forma inequvoca.Entretanto, a
posio hierarquica traz uma vertente lingustica bastante mais
captvel j que atravs dalinguagem que o enquadramento da pessoa na
organizao prescrita aparece de forma evidente e evidenciavel.
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Isto representa em termos prticos, a incorporao do sentimento e
da intuio nosprocedimentos metodolgicos de pesquisa em Ergonomia
que, acreditamos no estarem emdesacordo com uma pratica
estritamente cientfica, mas que a ala categoria e classe
dasatividades humanas feitas por pessoas coma finalidade bsica da
cincia que , segundo amagistral frase de Berthold Brecht (s.r), a
de aliviar a canseira da existncia humana. Afinal,compreender e
transformar o trabalho no se d num nico sentido pesquisador-situao,
masholsticamente entre pessoas e contextos, j que o trabalho no tem
apenas um sentido utilitrio,nas tambm um instrumento de
auto-desenvolvimento e de construo de sentido de vida.
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