24 PRIMEIRO CADERNO Expresso, 15 de fevereiro de 2014 TRÊS PERGUNTAS A Pedro Reis Presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) Que ações estão pensadas na sequência do protocolo, assina- do entre a AICEP e as universida- des, para a promoção do ensino superior no estrangeiro? Já estamos em plena operacio- nalização do protocolo. Há duas universidades portuguesas que vão participar na missão empresa- rial promovida pelo Presidente da República no Canadá. Estamos a divulgar uma oportunidade de ne- gócio na Coreia do Sul, que visa a instalação de universidades es- trangeiras em condições bastante interessantes e com apoio finan- ceiro por parte do Governo sul-co- reano. O campus pretende atrair estudantes internacionais que de- pois queiram terminar os estudos no país de origem das universida- des que lá se instalarem. E esta- mos a identificar mercados para a realização de roadshows noutros países, com o intuito de promover a internacionalização das universi- dades. Que vantagens apresenta Por- tugal neste sector, perante ou- tros países europeus? O forte investimento em investi- gação e no ensino superior regista- do nos últimos anos permitiu um posicionamento estratégico de Portugal neste domínio, que deve ser destacado. A elevada qualida- de da nossa investigação, que tem merecido prémios internacionais diversos, a elevada qualificação dos nossos recursos humanos, al- tamente procurados por países eu- ropeus, a facilidade do domínio de línguas estrangeiras, assim co- mo o nosso clima e hospitalidade, são objetivamente vantagens com- petitivas do ensino superior portu- guês perante a concorrência mais aguerrida. Qual a importância que o ensi- no superior pode ter no conjun- to das indústrias exportadoras? Apesar de o número de estu- dantes internacionais ser ainda algo insípido comparativamente aos nossos parceiros europeus (cerca de 8,5%), há que salientar que a exportação do ensino supe- rior envolve distintas dimensões que originam um efeito multipli- cador: as propinas dos alunos in- ternacionais, que face à recente aprovação pelo Governo do Esta- tuto do Estudante Internacional vão contribuir para uma maior potenciação de fluxos para o nos- so país; os gastos que tais estu- dantes fazem durante a sua esta- da; as formações oferecidas pe- las universidades em mercados externos; a realização em Portu- gal de conferências científicas. Todas estas iniciativas dão um contributo inestimável para a melhoria da imagem de Portugal no exterior. ERASMUS JESSE PORZGEN 25 anos, Copenhaga (Dinamarca), Mestrado em Engenharia Civil Ouvi falar do Instituto Superior Técnico através de um colega que esteve cá também em Erasmus. Depois fiz uma pequena pesquisa. A reputação da escola foi importante, mas mais decisivo foi perceber que Lisboa era uma cidade muito entusiasmante e bonita. Aprender português é um dos meus objetivos e já comecei a ouvir um curso áudio de línguas que comprei. Pode ajudar numa eventual carreira em Moçambique ou no Brasil. BIRGER VAKSDAL 28 anos, Estocolmo (Suécia), Mestrado em Engenharia Física Quando comecei a ver onde ia fazer Erasmus, olhei para vários cursos. Achei que o do Técnico era interessante para mim e também porque era falado em inglês. Isso não acontecia noutros países, como na Alemanha. No último mês estive a tirar um curso de Português em Coimbra. Um aspeto positivo do país é ser mais quente. Mas depois faz mais frio dentro de casa. Às vezes está a mesma temperatura que lá fora. É estranho. Texto Isabel Leiria Fotos Tiago Miranda Quando, há dois anos, o Institu- to Superior Técnico (IST) deci- diu criar o mestrado em Enge- nharia de Petróleos, não foi ape- nas para o mercado nacional que olhou. Aproveitando os con- tactos que tinha com o lado de lá do Atlântico e voltando-se pa- ra outras regiões menos ‘explo- radas’, lançou o curso em parce- ria com universidades brasilei- ras e com o Petroleum Institute de Abu Dhabi, capital dos Emi- rados Árabes Unidos. A ideia é que os alunos do curso se movi- mentem entre diferentes pon- tos do mundo, com a escola de Lisboa a receber e a enviar estu- dantes, e antecipar assim um processo de internacionaliza- ção que, muito provavelmente, irá marcar as suas carreiras. Em três anos, o número de alunos internacionais em insti- tuições de ensino portuguesas cresceu 60%: segundo o Minis- tério da Educação (ME), eram 19.425 em 2009/10 e passaram a 31.183 no último ano letivo, transformando as escolas nu- ma aldeia global onde coabitam jovens de 174 países. Ao todo, representavam 8,5% do total de matriculados. “Quando definimos um pro- grama de estudos temos de pen- sar que sentido faz no panora- ma internacional”, confirma Jo- sé Santos-Victor, vice-presiden- te do IST para as Relações Inter- nacionais. Com mil estudantes de 70 nacionalidades, o Técni- co é, aliás, umas das escolas com mais estrangeiros. Só esta semana chegaram mais umas dezenas para frequentar o 2º se- mestre, no âmbito do Erasmus, o mais famoso programa euro- peu de mobilidade. A escola sa- be que uma boa ou má expe- riência destes jovens será decisi- va no que contarem aos cole- gas, quando regressarem aos seus países, e não poupa no aco- lhimento. Há funcionários para ajudar a escolher cadeiras e en- contrar alojamento. E muitos estudantes do IST que se volun- tariam como “mentores” e que ajudam a integrar os colegas. O IST não é o único a apostar na conquista de estudantes es- trangeiros e em parcerias além- -fronteiras para ganhar dimen- são, qualidade e capacidade de afirmação num sector cada vez mais global. “O nosso termo de comparação já não é a faculda- de A ou B de cá, mas o conjunto das melhores universidades, pe- lo menos na Europa”, defende José Santos-Victor. É com essas que compete, mas é também a elas que se alia para chegar a novos públicos. Atra- vés do cluster que reúne 12 das melhores escolas de engenharia na Europa, e no qual está inte- grado, o IST conseguiu recente- mente fazer parte de uma alian- ça com outras escolas de topo chinesas. São os novos merca- dos, que se juntam ao Erasmus ou aos programas de coopera- ção com os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa. A Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) é outra das mais procu- radas (800 alunos internacio- nais em 2012). “Já tivemos aqui jovens das ilhas Fiji, do Para- guai, da Austrália. E há agora muitos do Médio Oriente. Na ci- dade há mesmo uma associa- ção de estudantes iranianos”, descreve Carlos Oliveira, dire- tor do Serviço de Imagem e Co- municação da FEUP. Os números atestam a diversi- dade: em três anos, os iranianos a estudar em Portugal passa- ram de 79 para 281; os chineses de 150 para 400; e, entre os eu- ropeus, não são as contas nacio- nais que afastam os alemães, que triplicaram para 900. Pro- gramas como o Erasmus Mun- dus (que financia a mobilidade de alunos de mestrado e douto- ramento de outras regiões para a Europa) contribuíram para es- ta evolução, explica o responsá- vel da FEUP. “Há uns anos, era sobretudo o Reino Unido que atraía esses alunos. Mas com o aumento das propinas e uma maior diversificação, sistemas de ensino de qualidade e baixo custo, como o português, ganha- ram visibilidade.” O Brasil foi outro dos países a alimentar a tendência. Graças ao programa brasileiro de fi- nanciamento Ciência sem Fron- teiras, o número de estudantes a vir para Portugal duplicou de 4462 para 8917. A Universida- de de Coimbra, por exemplo, tornou-se a instituição com mais brasileiros fora do Brasil. Estudar à beira-mar O importante, dizem os respon- sáveis, é oferecer um ensino e investigação de qualidade e ser reconhecido por isso. O passa- -palavra entre alunos e as reco- mendações de docentes são fun- damentais. No caso da Nova School of Business and Econo- mics (NSBE), que é, em termos relativos, a que tem maior pro- porção de estrangeiros ( um ter- ço dos alunos), a conquista de lugares nos rankings interna- cionais e as acreditações que só são atribuídas às melhores esco- las de negócios do mundo aju- daram à projeção de uma facul- dade que se lançou cedo na in- ternacionalização. Há mais de dez anos começou a recrutar professores no mercado inter- nacional e a oferecer cursos in- teiros em inglês, medida que acabou por vir a ser tomada em muitas faculdades. O próximo passo será a aber- tura de um campus “à califor- niana”, em Carcavelos, perto do mar. A ideia, explicam os responsáveis da NSBE, é conju- gar “qualidade académica e de vida”. “Acreditamos que o ensi- no superior português pode tor- nar-se uma grande indústria ex- portadora e queremos conti- nuar a liderar esse processo.” A estratégia é assumida em to- do o país. Em Bragança, o insti- tuto politécnico recebe cente- nas de alunos de 34 países, mui- to graças a uma política ativa de angariação. “Fomos pionei- ros em implementar um progra- ma de mobilidade em que ofere- cemos alimentação e alojamen- to a alunos estrangeiros. Em troca, as instituições recebem os nossos alunos nas mesmas condições”, conta o presidente do politécnico, Sobrinho Teixei- ra, realçando as vantagens das cidades mais pequenas: “A mul- ticulturalidade faz-se sentir mais aqui.” ileiria@expresso.impresa.pt ENSINO SUPERIOR Portugal acolhe estudantes de 174 países Número de estrangeiros aumentou 60% em três anos . Para algumas escolas, o campeonato por mais alunos já se joga em todo o mundo © Todos os direitos reservados. A cópia ou distribuição não autorizada é proibida. Ficheiro gerado para o utilizador 1878696 - [email protected] - 93.108.193.90 (15-02-14 09:29)