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Neste número
Um bom exemplopor GONÇALO CALADO . . . . . . . . . . . . . .
2
NOTÍCIAS DO IPM . . . . . . . . . . . . . . . . . .
3Doutoramento em ambiente empresarial
por RITA COELHO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4IPM e
Universidade Lusófona
em expedição no Banco Gorringepor JOSÉ PEDRO BORGES
& MÓNICA ALBUQUERQUE . . . . . . . . . 5Notas sobre a
espécie Ponentina
subvirescens (BELLAMY, 1839)(Helicidæ: Higromiinæ)por JOSÉ
MANUEL MENDES SIMÕES . . . . . 7
Primeiro curso «Introducciónà la Paleontología de los
Moluscos»,Venezuela, Cubagua 2006
por CARLOS MARQUES DA SILVA& BERNARD LANDAU . . . . . . . .
. . . . . 10
Congresso Internacional«Atlantic Islands Neogene»
por SÉRGIO ÁVILA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13III
Workshop
«Paleontology in Atlantic Islands»por SÉRGIO ÁVILA . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . 14
3º Workshop Internacionalde Malacologia e Biologia Marinha
por ANTÓNIO M. DE FRIAS MARTINS . . . . 152º Workshop
Internacional
de Opistobrânquiospor Manuel ANTÓNIO E. MALAQUIAS . . . 16
A MALACOLOGIA NAS ARTES
Santiago, peregrinos e vieiraspor CARLOS MARQUES DA SILVA . . .
. . . . 17
NOTÍCIAS DO RECTÂNGULO 6por ANTÓNIO MONTEIRO . . . . . . . . . .
. . . 18
INFORMAÇÕES GERAIS— Publicações recentes . . . . . . . . . . 20—
Reuniões, Cursos e Exposições . 20
PORTUGALAn.o 8 * NOVEMBRO 2006 * semestral
Noticiário MalacológicoINSTITUTO PORTUGUÊS DE MALACOLOGIA
Membro filiado da UNITAS MALACOLOGICA
Editorial
IPM tem novas ins ta la çõ e s den t r o doZOOMARINE, uma nova
área bastante maisespaçosa com uma sala ampla onde se instalou
a biblioteca, toda ela já catalogada e devidamenteorganizada, um
laboratório e um espaço de trabalhocom várias secretárias. É nossa
ambição que amelhoria das instalações constitua um pólo de
atracçãopara que mais sócios e estudantes continuem a utilizaro IPM
no desenvolvimento dos seus trabalhos. Nestaperspectiva é com
grande satisfação que o IPM recebeo seu primeiro estudante de
doutoramento (RITACOELHO) que nos próximos quatro anos fará uso
dasinstalações para realizar as suas experiênciase
investigação.
O ano de que se aproxima é ano de congressos:Para além no
Mundial, em Antuérpia, no mês deJulho; teremos, mais lá para o
final do ano, oNacional. Ambos, serão oportunidades de
excelênciapara promover a Malacologia que por cá se faz,revermos
colegas e fazermos, seguramente, novoscontactos para futuras e
pródigas parcerias. Ficadesde já aqui o repto para irmos pensando
nesteseventos e preparando as nossas apresentações.
A todos votos de Boas Festas e de umExcelente 2008.
O EDITOR
O
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2 PORTUGALA - n.o 8 - Novembro 2006
DEPOIS destes anos todos a arrumar a casa e a estrutura,teremos
de ser mais engenhosos em conseguirdesculpas para não fazer coisas.
Dinheiro à parte oua falta dele, no que à malacologia portuguesa
diz
respeito, julgo não ser a falta de ideias o principal
problema.
Antes sim, a mobilização individual com muito pouca tradição
no nosso país. Ainda assim, os investigadores do
IPM têm contribuído para grandes avanços no
conhecimento da malacologia a nível internacional,
como é visível pelas suas publicações. Destaco em
tradução livre o que Ángel Valdés, investigador
do Museu de Los Angeles diz no prefácio do
catálogo de opistobrânquios ibéricos, acabado
de publicar: …actualmente, existem mais
investigadores de opistobrânquios activos em
Espanha e Portugal do que no resto dos outros
países todos em conjunto… Isto significa a criação de
escola,
de transmissão de conhecimento de uma maneira estruturante.
Só assim é possível que uma estrutura guardiã de algum
conhecimento científico não tenha fim. Que venham mais bons
exemplos.
Um bomexemplo
por GONÇALO CALADOPresidente da Direcção
PORTUGALA n.o 8 * NOVEMBRO 2006 * semestral ISSN 1645-9822 *
Depósito Legal 210446/04Noticiário Malacológico do INSTITUTO
PORTUGUÊS DE MALACOLOGIADirector: GONÇALO CALADO * Secretário:
JOAQUIM REIS * Editor: MANUEL ANTÓNIO E. MALAQUIAS
Colaboram neste número: ANTÓNIO M. DE FRIAS MARTINS
([email protected]) * ANTÓNIO MONTEIRO ([email protected])
* BERNARD LANDAU ([email protected]) * CARLOS MARQUES DA
SILVA([email protected]) * GONÇALO CALADO
([email protected]) * JOSÉ MANUEL MENDESSIMÕES
([email protected]) * MANUEL ANTÓNIO E. MALAQUIAS
([email protected]) *JOSÉ PEDRO BORGES ([email protected]) *
MÓNICA ALBUQUERQUE ([email protected])* RITA COELHO
([email protected] * SÉRGIO ÁVILA ([email protected]) *
gráfico: M. M. MALAQUIAS
INSTITUTO PORTUGUÊS DE MALACOLOGIAZoomarine - E. N. 125 km 65 -
Guia - 8200-864 ALBUFEIRA - PORTUGALTel: 967 950 055 * Fax: 289 560
308 * E-mail: [email protected]
O IPM é apoiado pelo Fundo de Apoio à Comunidade Científica, da
Fundação para a Ciência e Tecnologia
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PORTUGALA - n.o 8 - Novembro 2006 3
Notícias IPMcasa nova!
No passado dia 20 de Julho,o ZOOMARINE inaugurou as
novasinstalações técnicas de apoio aoBem-Estar Animal. É
nestasnovas instalações que o IPM temagora a sua sede no primeiro
pisocomposta por um laboratório,uma sala de biblioteca e uma áreade
escritório, devidamente equi-padas com ar condicionado.Temos nestas
novas infra--estruturas a companhia doDepartamento Veterinário,
dossectores dos Mamíferos Mari-nhos, Curadoria e Serviço deSanidade
do ZOOMARINE.
Este edifício apresenta ainda uma sala de reuniões e uma sala
destinada à formaçãointerna dos colaboradores, equipada com ar
condicionado e equipamento multimédia,para o melhor aproveitamento
dos formandos.
Convidamos, todos os sócios, a virem visitar a nova casa do
IPM!
Vista parcial da biblioteca do IPM
Vem aí oCONGRESSOPORTUGUÊS
DE MALACOLOGIA2007
Outubro/Novembro 2007
Organização: INSTITUTO PORTUGUÊS DE MALACOLOGIA
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APÓS a espera quase desesperante pelo resultadodo concurso a uma
bolsa de doutoramentoem ambiente empresarial da Agência deInovação,
as notícias foram muito boas!
Ultrapassada a imensa maratona burocrática inerentea todo o
processo, podemos iniciar os trabalhosno passado mês de
Outubro.
Este projecto tem como tema «Avaliação do poten-cial de cultivo
de Moluscos Gastrópodes com interesse
para a indústria aquariófila» e surge com o objectivo dedar
resposta à solicitação crescente que a indústria daaquariofilia faz
de espécies de gastrópodes menoscomuns, como sejam os nudibrânquios
pelo seu imensovalor ornamental e espécies detritívoras ou
comedorasde algas, que possam integrar as bio-equipas de limpezados
aquários de água doce e salgada.
São três as espécies alvo propostas, para os estudosa
desenvolver neste projecto:
— Aeolidiella alderi COCKS, 1852 — molusco opisto-brânquio
(nudibrânquio). Alimenta-se de ané-
monas de vários géneros, o que potenciao seu uso como
controlador de pragas,como sejam crescimentos descontrolados
deAiptasias sp.;
— Hypselodoris villafranca RISSO, 1818 — umdos mais bonitos
nudibrânquios da famíliaChromodorididae do grupo cromáticoazul.
Alimenta-se de esponjas do género
Dysidea e apre-senta desen-v o l v i m e n t odirecto. Seráa
«jóia dac o r o a » d eq u a l q u e raquário ondeseja exibido;
— Pomacea bridgesiiR E E V E ,1 8 5 6 —m o l u s c op r o s o -b
r â n q u i oconhec idoc o m o« c a r a c o lm a ç ã » .Estes
cara-m u j o s d eágua doce
são muito comuns em diversas áreas tropicais esubtropicais e
alimentam-se de detritos vegetais.
Vão ser descritos estudos específicos de ciclos devida, de
desenvolvimento larvar e experiências deoptimização de cultivo que
permitirão aumentarde forma significativa o conhecimento
actualmenteexistente sobre as espécies de gastrópodes
selec-cionadas.
Os trabalhos serão desenvolvidos nas instalações doInstituto
Português de Malacologia, no Zoomarine, e naUniversidade do
Algarve.
4 PORTUGALA - n.o 8 - Novembro 2006
Doutoramento em ambiente empresarial
por RITA COELHOInstituto Português de Malacologia
Pomaceabridgesi
em aquáriono IPM
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ALusoExpedição 2006 foi um sucesso! Namanhã de 2 de Junho,
cinquenta e duas pessoasembarcaram a bordo do Creoula. Professorese
alunos da Universidade Lusófona, investi-
gadores, mergulhadores, jornalistas e operadores decâmara, para
registar todo o acontecimento, e claro estáuma delegação do
Instituto Português de Malacologia.Depois de todos devidamente
instalados a bordozarpamos em direcção ao Banco Gorringe, destino
danossa expedição científica. Objectivo, estudar a faunadaquele
local pouco visitado até à data.
Com o marmagníf ico e umpouco de vento afavor estávamos
apreparar o primeiromergulho no picoGettysburg comum dia de
avançosobre o calendárioprevisto. A cerca dequarenta metros
deprofundidade esper-ava-nos uma pais-agem magnífica depicos
cobertos porgrandes quan-tidades de algas,intercalados porprofundas
ravinas.Sobre as algas depa-ramo-nos com umagrande quantidadede
exemplares do género Calliostoma cuja identificaçãonão nos foi
possível determinar. Apesar de não sera primeira vez que esta
espécie era observada,pois já tinha sido recolhida em expedições
anteriores,é possível que estudos futuros revelem tratar-sede uma
espécie nova. Também nos chamaramatenção alguns exemplares de
Haliotis com dimensõesgigantes, atingindo algumas conchas doze
centímetros.Estudos genéticos poderão determinar se esta popu-lação
está re lac ionada com as populações deH. tuberculata do continente
europeu ou aparentada
com as populações de H. tuberculata coccinea das ilhasda
Macaronésia. No curto tempo disponível para per-manecer no fundo a
estas profundidades, foiainda possível recolher algas, efectuar
raspagem e esco-vagem de pedras e ainda recolher detrito arenoso.
Noregresso à superfície fomos acompanhados por car-dumes de
centenas de lírios que curiosamente nosacompanharam durante todos
os mergulhos que efectu-amos.
Durante os quatro dias que permanecemos na áreaem estudo,
realizamos dois ou três mergulhos diários,
visitando tambémo pico Ormonde.
As amostras re-colhidas em cadamergulho foramcr i t e r io s
amenteseparadas no con-vés do navio, pre-servadas em álcoole
cuidadosamenteetiquetadas parafuturo estudo emlaboratór io.
Osexemplares quenos pareciam maisinteressantes eramseparados e
leva-dos para o labo-ratório de cam-panha, instalado nabiblioteca
do navio,para serem obser-
vados na lupa binocular e fotografados os animaisainda em
vida.
Entre as amostras observadas ainda a bordo, encon-tramos
exemplares de uma espécie do género Jujubinus ede outra do género
Setia que não nos foi possível iden-tificar e que poderão ser
também espécies ainda nãodescritas. Também nos chamou a atenção uma
espécieda família Triphoridæ, Similiphora triclotæ, descrita
porPhilippe Bouchet a partir de exemplares recolhidos emSagres e
Ceuta na costa atlântica de Marrocos, referindoser uma espécie
rara. Nas amostras por nós recolhidas
PORTUGALA - n.o 8 - Novembro 2006 5
IPM e Universidade Lusófonaem expedição malacológica
no Banco Gorringepor JOSÉ PEDRO BORGES & MÓNICA
ALBUQUERQUE
Instituto Português de Malacologia
Jujubinus sp.
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6 PORTUGALA - n.o 8 - Novembro 2006
esta espécie é a mais abundante entre a famíliaTriphoridæ. Será
o Banco Gorringe o centro de disper-são da S. triclotæ?
Como balanço provisório, baseado nas espécies quefoi possível
identificar a bordo, constatamos que foram
recolhidas vinte e duas dasquarenta e quatro espécies demoluscos
referenciadas anteri-ormente para o BancoGorringe e vinte e quatro
queconstituem novas ocorrênciaspara a área em estudo. Aotodo foram
identificadasquarenta e seis espécies demoluscos no material pornós
recolhido, o que aumentapara sessenta e oito o númerototal de
espécies conhecidasaté ao momento no BancoGorringe.
Prossegue ag ora nolaboratório da UniversidadeLusófona o
trabalho detriagem das amostras paraelaboração de uma listacompleta
das espécies demoluscos recolhidas durantea LusoExpedição 2006.A
comparação destes
dados com os dados faunísticos do continenteeuropeu e das ilhas
da Macaronésia poderádar indicações sobre a importância
destesbancos submarinos no processo de dispersãodas espécies.
Os participantes, da esquerda para a direita: atrás, Ana Neves,
Bruno Jesus.No meio: Gonçalo Calado, António Vitorino, Inês
Tojeira, José Pedro Borges, Alberto Fernandes
e Mónica Albuquerque. Em baixo: Ricardo Neves.
INSTITUTO PORTUGUÊS DE MALACOLOGIAZoomarine - E. N. 125 km 65 -
Guia - 8200-864 ALBUFEIRA - PORTUGALTel: 967 950 055 * Fax: 289 560
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estudante).
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ZOOMARINE E.N. 125, Km 65 - Guia — 8200-864 ALBUFEIRA —
PORTUGAL
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Abstract
It is described a population representativeof the form once
designated as Helix platylasiaBOURGUIGNAT in CASTRO, 1887, abundant
at Serra deMontejunto. Diferences and similarities with theform
here considered as the tipical Ponentina sub-virescens (BELLAMY,
1839) found in Portugal areanalysed.
Aespécie Ponentina subvirescens (BELLAMY, 1839)apresenta-se na
natureza sob formas e dimen-sões bastante variáveis, conduzindo
aoestabelecimento de mais de duas dezenas de
designações sinónimas:
Helix revelata FÉRUSSAC, 1821Helix subviridis BELLAMY, 1841Helix
occidentalis RÉCLUZ, 1845 Helix ponentina MORELET, 1845 Helix
lisbonensis PFEIFFER, 1846Helix montivaga WESTERLUND, 1876
Helix conimbricensis CASTRO, 1877 Helix martigenopsis SERVAIN,
1880Helix salmurensis SERVAIN, 1880 Helix salmurina SERVAIN, 1881
Helix ptilota BOURGUIGNAT, 1882Helix venetorum BOURGUIGNAT in
LOCARD, 1882 Helix villula BOURGUIGNAT in LOCARD, 1882 Helix
saxivaga MALTZAN, 1885Helix cinetarum MALTZAN, 1885Helix aporina
CASTRO, 1887 Helix rosai CASTRO, 1887Helix nevesiana CASTRO,
1887Helix platylasia BOURGUIGNAT in CASTRO, 1887Helix ponsombyi
WESTERLUND, 1888Helix aghardi PALLARY, 1898Helix labiosa LOCARD,
1899Helix utriculina LOCARD, 1899 Helix atachypora BOURGUIGNAT in
LOCARD, 1899
Dos sinónimos apresentados queremos salientar aforma que
originou a designação Helix platylasia
PORTUGALA - n.o 8 - Novembro 2006 7
Notas sobre a espéciePonentina subvirescens (BELLAMY,1839)
(Helicidæ: Hygromiinæ)por JOSÉ MANUEL MENDES SIMÕES
Fig. 1 — Fotografia de exemplar do lote n.º 278 da colecção de
José da Silva e Castro,gentilmente cedida pelo Museu de Zoologia da
Faculdade de Ciências do Porto
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8 PORTUGALA - n.o 8 - Novembro 2006
BOURGUIGNAT in CASTRO, 1887. Trata-se dumaforma extrema da
espécie – pelo menos assimtem sido considerada – da qual
podemosencontrar populações, entre outros locais, naSerra de
Montejunto. Na colecção de José da Silvae Castro estão dois lotes
com exemplares assim identifi-cados.
A descrição original de Helix platylasia foi feitapor
BOURGUIGNAT sobre exemplares do Norte deÁfrica, e publicada em 1887
em trabalho de Joséda Silva e Castro onde se refere, entre
outrosaspectos, que a concha é de espira comprimida,quase plana,
descendo a última volta em direcção à abertura, primeiro de forma
gradual e depois deforma mais pronunciada. A abertura é
oblíqua,pouco ampla, bem redonda, com os bordosmarginais bastante
próximos. A concha é cobertapor pequenos pêlos esbranquiçados quase
sempre deita-dos sobre a concha. Também LOCARD (1899)refere a
espécie para Portugal salientando o trabalhode CASTRO.
A referência n.º 278 da colecção de José da Silvae Castro que
reproduzimos na Fig. 1 mostra-nos um
exemplar com a concha ainda não totalmente formada,mas que
consideramos idêntica aos exemplares quetemos encontrado na Serra
de Montejunto (Fig. 2).Por outro lado, o outro exemplar da colecção
com a des-ignação de H. platylasia parece-nos diferente
(referêncian.º 356), sendo provavelmente um juvenil típico
dePonentina subvirescens (BELLAMY, 1839), ainda que com aespira
pouco elevada.
Os exemplares adultos e de concha completamenteformada da Serra
de Montejunto apresentam umaconcha de espira plana, de voltas com
ombros bemredondos, quer superiormente quer
inferiormente,originando uma sutura bem marcada. A última
voltadesce, primeiro lentamente e na fase final maisabruptamente,
em direcção à abertura que é redondae ampla, sendo o peristoma
cortante, frágil einterrompido, reflectido mais na face inferior
(talcomo acontece nos exemplares típicos de Ponentinasubvirescens
(BELLAMY, 1839), deixando ver perfeitamenteum umbigo fundo que
representa cerca de 1/6 dodiâmetro da concha. Não observámos
espessamentosignificativo do lábio em nenhum dos exemplares
obser-vados, independentemente da época do ano em que se
Fig. 2— Fotografiade exemplar típicoda populaçãoque se
encontrana Serrade Montejunto
-
fizeram as observações, ao contrário do que acontececom os
exemplares típicos de Ponentina subvirescens(BELLAMY, 1839) onde e
existência de uma varizbranca é regra. Todos os exemplares vivos
apre-sentam pêlos longos, bem espaçados, com tendênciaa encurvar na
extremidade; tais pêlos estão dispostosem filas oblíquas, bem
espaçadas, quase perpen-diculares às estrias de crescimento; em
ambas as popu-lações há a tendência para os pêlos desapare-cerem
nos exemplares adultos e completamente forma-dos. Os exemplares
adultos que observámostêm dimensões que se situam entre os 6 e os 8
mmde diâmetro. Contrariamente ao que se observanos exemplares
típicos de Ponentina subvirescens(BELLAMY, 1839), nunca conseguimos
observar a bandaligeiramente mais clara que percorre a periferia da
última volta, resultante de duas zonas paralelasmais escuras que
limitam entre si uma zona maisclara. A observação dos bordos
marginaispermite-nos constatar que na populaçãoda Serra de
Montejunto eles se apresentam,de uma maneira geral, mais próximos
do que naforma típica.
Apesar de ser inquestionável a alta variabilidade daespécie
Ponentina subvirescens (BELLAMY, 1839), cujaforma aqui considerada
típica representamos na Fig. 3,é sempre com alguma relutância que
identificamos osexemplares, tão abundantemente encontrados na
Serrade Montejunto, como sendo desta espécie. Tal
deve-senaturalmente às dúvidas que ainda subsistem e
hão-desubsistir enquanto não se fizerem estudos mais detalha-dos,
nomeadamente análises ao nível molecular, quevenham a mostrar que
os exemplares há mais de umséculo designados de Helix platylasia
BOURGUIGNAT inCASTRO, 1887 são sinónimos de Ponentina
subvirescens(BELLAMY, 1839).
Bibliografia
LOCARD, A., 1899 - Conchyliologie Portugaise – les coquilles
terrestresdes eaux douces et saumâtres. Extrait des Archives du
Muséumd’Histoire Naturelle de Lyon, t.VII.
CASTRO, J. da Silva e, 1877 - Contributions à la faune
malacologique duPortugal (suite). II - Helices du groupe de la
revelata. III - Planorbesdu groupe du Dufouri. IV - Helices du
groupe de la pygmaea. Jornalde Sciencias Mathematicas, Physicas e
Naturaes, Vol. XI (44): 232-249.
PORTUGALA - n.o 8 - Novembro 2006 9
Fig. 3— Fotografiade exemplar típico
da populaçãoque se encontra
na Serrade Montejunto
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10 PORTUGALA - n.o 8 - Novembro 2006
AS CARAÍBAS
Águas tropicais, quentes, límpidas, de uma soberbacor turquesa.
Praias desertas de areia branca imaculada,coralígena, franjadas por
coqueiros frondejantes.Fundos coralinos impolutos povoados por
miríades demoluscos exibindo magníficas conchas multicolores.Gente
calorosa, franca e hospitaleira. Sim, claro, e rumtambém! Muito
rum!
Mais coisa, menos coisa, este é o quadro queidealizamos quando
imaginamos as Caraíbas. Pois bem,se a tudo isto adicionarmos alguns
milhares de cactos(sim de cactos!) e fósseis de gastrópodes
pliocénicosquanto baste, então teremos o cenário montado parao
primeiro curso de «Introducción à la Paleontologíade los Moluscos»,
realizado nas Ilhas Margarita eCubagua, Venezuela, de 20 a 25 de
Fevereiro docorrente ano de 2006.
O CURSO
Sob a égide da venezuelana Fundación La Salle deCiencias
Naturales e com a organização da Estación de
Investigaciones Marinas de Margarita (EDIMAR) e doDepartamento e
Centro de Geologia da Faculdade deCiências da Universidade de
Lisboa, o curso realizou-seem duas fases – introdução teórica e
trabalho de campo– na Ilha Margarita e na estação de apoio a
actividadesde campo de EDIMAR em Cubagua (estado NuevaEsparta,
Venezuela). O curso, dirigido a biólogos,contou com a participação
entusiástica e estimulantede uma vintena de estudantes de graduação
e de
pós-graduação (Fig. 1), oriundos, em boa, parte daUniversidade
de Margarita (UNIMAR).
A introdução teórica ao tema decorreu no dia 20de Fevereiro, nas
excelentes instalações do Planetáriodo Campus Margarita de EDIMAR,
em Punta dePiedras, Ilha Margarita. Esta parte do curso contoucom
as intervenções de Carlos Marques da Silva, doCentro e Departamento
de Geologia da FCUL(temas leccionados: Fósiles y Paleontologia;
Tafonomíay Fosilización; Paleobiología; Paleomalacología),Bernard
Landau, colaborador do Centro de Geologiada UL (temas: Moluscos del
Neogéneo de Ibéria;Moluscos del Plioceno de Cubagua) e ainda
devários investigadores de EDIMAR: J. C. Capelode EDIMAR
(Introducción al Curso); J. Buitrago
Primeiro curso «Introducciónà la Paleontolgia de los
Moluscos»
Venezuela, Cubagua 2006por CARLOS MARQUES DA SILVA1 &
BERNARD LANDAU2
1 Departamento e Centro de Geologia. Universidade de Lisboa. 2
International Health Centres e Centro de Geologia da Universidade
de Lisboa.
Fig. 1 — O animado grupo de campono cenário tipo «Far West»do
Cañon de las Calderas,Ilha Cubagua, Caraíbas
-
(Historia de la Oceanografia); W. Olaya (Estratigrafiade la isla
de Cubagua).
O trabalho de campo – recolha, preparação e iden-tificação de
fósseis de gastrópodes pliocénicos –decorreu, sob a orientação de
Carlos Marques da Silvae de Bernard Landau, na Ilha de Cubagua,
cerca de13 km a SO de Margarita. Em Cubagua, uma pequenailha
praticamente deserta, apenas com alguns abrigosde pescadores e
pouco mais, sem água potável ou luzeléctrica de base, os
participantes ficaram alojados nasfrugais, mas acolhedoras,
instalações da FundaciónLa Salle, comummente conhecidas como
«RancheríaHno. Gines II», destinadas a dar apoio à realização
depráticas didácticas e tecnológicas.
A ilha é magnífica e o seu registo fossilíferoplio-holocénico
extraordinário, rico e bem preservado.Em Cubagua afloram rochas da
Formação Cubagua(de idade mio-pliocénica) e da Formação
Tortuga(holocénica) (Padrón et al., 1993). Os afloramentos
daFormação Cubagua cobrem a maior parte da ilha.A formação é,
basicamente, composta por doismembros: Cerro Verde (Membro
Inferior) e CerroNegro (Membro Superior) (Bermúdez & Bolli,
1969).Em Cubagua apenas está representado o membroCerro Negro. O
afloramento mais espectacular da ilhaestá localizado no belo Cañon
de las Calderas. É nestelocal que se localiza a secção tipo da
FormaçãoCubagua. No cañon a secção aflorante da formaçãoatinge os
82 metros de espessura. É no sector Oestedo cañon, na base da
sequência, cerca de 4 a 6 m acimado nível do mar, que se localizam
os afloramentos
mais fossilíferos e foi aí, em sedimentos de idadepliocénica
(segundo Padrón et al., 1993), que ostrabalhos de recolha de
fósseis de gastrópodes secentraram.
Os dias em Cubagua começavam cedo. A alvoradaocorria por volta
das 6h00 da manhã, invariavelmentecapitaneada pelo chefe da
logística na ilha, o nossoincansável colega e co-orientador do
curso JuanCarlos Capelo, biólogo marinho de EDIMAR. Apóso
pequeno-almoço, embarcávamos rumo ao Cañon delas Calderas, a cerca
de 30 minutos de bote da«ranchería» (Fig. 2). Por terra seria uma
caminhada decerca de 1h30, pelo meio dos cactos já
anteriormentemencionados… O trabalho de campo era duro–
temperaturas elevadas, terreno inóspito, muitoscactos, água potável
racionada – mas os fósseis erammagníficos e o entusiasmo mais que
muito. O regressoà «ranchería» ocorria cerca das 16h00. Ainda
haviatempo, antes do jantar, para organizar, limpar e iden-tificar
as recolhas do dia (Fig. 3). A jornada terminavacedo, pelos padrões
citadinos. Cerca das 22h00 játodos estavam dormindo nos seus
sacos-cama ounas suas redes, nas «hamacas», retemperando forçaspara
o trabalho do dia seguinte.
OS RESULTADOSE OS PLANOS PARA O FUTURO
Como resultado do trabalho de campo foramrecolhidas centenas de
exemplares de fósseis de gas-
PORTUGALA - n.o 6 - Novembro 2006 11
Fig. 2 — Embarque no bote,ao trabalho de campo
no Cañon de las Calderas.Ao fundo,
as instalações da «ranchería»
-
12 PORTUGALA - n.o 8 - Novembro 2006
trópodes pliocénicos, representando cerca de 115táxones de
categoria específica. De salientar a ocor-rência de exemplares de
duas novas espécies– Cancellaria (C.) capeloi nov. sp. e
Cancellaria (Massyla)cubaguensis nov. sp. – já em publicação
(LANDAUet al., in press). Os respectivos exemplares-tipo
encon-tram-se depositados nas colecções do MuseoOceanológico Hno.
Benigno Roman de EDIMAR,em Margarita.
Este curso integrou-se num plano mais amplo deestudo da
taxonomia e da biogeografia dos moluscosgastrópodes pliocénicos da
região caraíbense encetadopor investigadores e colaboradores do
Centro e doDepartamento de Geologia da FCUL, em colabo-ração com
colegas de EDIMAR. O estudo preliminardo material recolhido durante
o período de campodo curso, em conjugação com dados
recolhidosanteriormente, permitiu já definir algumas ideiassobre a
biogeografia e os padrões de extinçãodos moluscos gastrópodes
plio-holocénicos dasCaraíbas, ideias essas entretanto apresentadas
emcomunicação ao Ist Atlantic Islands NeogeneInternational
Congress, realizado nos Açores (LANDAUet al., 2006).
O sucesso deste Primeiro Curso de Introduçãoà Paleontologia dos
Moluscos deu-nos ânimo,aos colegas de EDIMAR e a nós, do Centro
eDepartamento de Geologia da FCUL, para avançarpara o planeamento
do Segundo Curso, previsto– se tudo correr como esperado – para
Fevereirode 2008.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Estación de InvestigacionesMarinas de
Margarita, EDIMAR, e à Fundación La Sallede Ciencias Naturales,
Venezuela, pelo seu inestimável eentusiástico apoio a este
projecto.
INFORMAÇÃO ADICIONAL
Página web do
Curso:http://correio.fc.ul.pt/~cmsilva/Cubagu06.htm
Mais fotos do
Curso:http://correio.fc.ul.pt/~cmsilva/Venezuel/Venezuel.htm
Bibliografia
BERMUDEZ, P. J. & BOLLI, H. M., 1969. Consideraciones sobre
los sed-imentos del Mioceno Medio al Reciente de las Costas Central
yOriental de Venezuela : Los foraminíferos planctónicos. Boletín
deGeología del MMH, 10(20): 137-223.
LANDAU, B. M.; PETIT, R. E.; & SILVA, C. M. DA, in press.
The PlioceneCancellariidae (Mollusca: Gastropoda) of the Cubagua
Formation(Cerro Negro Member) from Cubagua Island, with a new
speciesfrom the Miocene Cantaure Formation, Venezuela. The
Veliger.USA.
LANDAU, B. M; CAPELO, J. C.; & SILVA, C.M. DA, 2006.
Patterns ofextinction and local disappearance of tropical marine
gastropods;contrasting examples form across the North Atlantic.
First AtlanticIslands Neogene International Congress. Ponta
Delgada, Açores, 12-14 deJunho. Abstracts volume, p. 18.
Padrón, V.; Martinell, J.; & Domenech, R. 1993. The marine
Neogeneof Eastern Venezuela. A preliminary report. Ciências da
Terra(UNL), 12: 151-159.
Fig. 3 —Trabalho de gabinete,ao fim do dia, de preparaçãoe
identificação do materialrecolhido, na sala de
refeições/tra-balho/dormitórioda «ranchería»
-
DECORREU em Ponta Delgada, nas instalaçõesda Universidade dos
Açores, entre os dias 12e 14 de Junho de 2006, um congresso
inter-nacional intitulado «Atlantic Islands
Neogene». Este Congresso teve como principais objec-tivos a
revisão do conhecimento científico acumuladonesta área, em
particular desde 1990, e a definição dasestratégias da investigação
futura a realizar nesta área,nos Açores e na Madeira.
Organizado pelo Prof. Dr. Frias Martins(Universidade dos
Açores), Dr. Sérgio Ávila
(IMAR e Departamento de Biologia da Universidadedos Açores) e
Dra. Patrícia Madeira (Departamento deBiologia da Universidade dos
Açores), durante os trêsdias do Congresso foram apresentadas vinte
e cincocomunicações orais. Os trinta participantes neste even-to
representaram quinze Universidades/centros deinvestigação de nove
países (Portugal, Espanha, França,Itália, Áustria, Alemanha,
Inglaterra, Canadá e USA).
Os temas principais do Congresso foram:
1) Paleobiogeografia: As ilhas Atlânticas comocasos de
estudo;
2) Variações do nível do mar e a sua influênciana fauna e flora
das ilhas Atlânticas;
3) Influência das glaciações na fauna e flora insu-lares;
4) Paleoceanografia;
5) Processos e padrões de dispersão, colonizaçãoe especiação nas
ilhas oceânicas;
6) O subestádio isotópico 5e nos arquipélagosdos Açores, Madeira
e Canárias.
As comunicações apresentadas neste Congressoserão revistas por
pares e publicadas num suple-mento especial da revista Açoreana
(Editores A. M.de Frias Martins & S. P. Ávila). Mais
informaçõespodem ser encontradas no seguinte
endereço:http://www.uac.pt/~cicia
De referir que a maioria dos participantes nesteCongresso se
deslocaram posteriormente a SantaMaria, onde participaram no
Workshop «Paleontologyin Atlantic Islands», organizado por membros
doMPB-Marine Palaeobiogeography Working Group ofthe University of
the Azores.
PORTUGALA - n.o 8 - Novembro 2006 13
Congresso Internacional«Atlantic Islands Neogene»
por SÉRGIO ÁVILADepartamento de Biologia, Universidade dos
Açores.
Participantes ao Congresso
-
NA sequência dos Workshops, anteriormente,organizados pelo Dr.
Sérgio Ávila e outroselementos do Departamento de Biologia
daUniversidade dos Açores, decorreu na Ilha
de Santa Maria (Açores), entre 15 e 25 de Junho de2006, o III
Workshop Internacional, «Palaeontologyin Atlantic Islands». A lista
de participantes (vinte ecinco pessoas) compreendeu vários
especialistas emdiversas áreas da paleontologia, provenientes de
setepaíses, bem como umgrupo de seis estu-dantes da Universidadedos
Açores. A expe-dição foi ainda acom-panhada pela Dra.Anunciação
Ventura,directora do Centro deConservação e Protec-ção do
Ambiente(CCPA, Universidadedos Açores). A conviteda organização
doWorkshop, as técnicasda Ecoteca de SantaMaria, Dra. Rita Gagoe
Dra. Mafalda Monizpuderam, sempre quepossível, acompanharas visitas
às jazidasfósseis de Santa Maria,onde tiveram a opor-tunidade de
observarem campo o trabalhodos especialistas.
Para registar os achados científicos, Pedro Monteiro,um
fotojornalista já veterano neste tipo de expedições,acompanhou
diariamente os trabalhos de campo. Feztambém parte deste Workshop
uma equipa profissionalde vídeo-reportagem da empresa Em Foco
ProduçãoAudiovisual, Lda. que pela primeira vez documentou,em
formato profissional, os trabalhos de campo paraposterior edição e
produção de dois programas televi-sivos de divulgação científica
(meia hora) sobre os fós-seis de Santa Maria.
Dado que muitas das jazidas estudadas se encontramem locais só
acessíveis por mar, incluiu-se uma equipade skippers da empresa
Nerus, que esteve tambémpresente na primeira edição deste Workshop,
em 2002.Contou-se ainda com a colaboração de skippers e barcosdo
Clube Naval de Santa Maria.
A RTP-Açores acompanhou a expedição durantedois dias, tendo
produzido uma reportagem que passouno Jornal da Noite do dia 25 de
Junho de 2006.
Esta expedição aSanta Maria, teve umafor te
componentedidáctico-pedagógica,com a participaçãoactiva no trabalho
deinvestigação, de alunosda Universidade dosAçores.
Como já é hábito,em Santa Mar i a ,durante o
Workshoprealizaram-se no ClubeNaval de Vila do Portouma série de
comuni-cações científicas, quedecorreram entre 16 e23 de Junho,
inclusive,e que tiveram largaparticipação por parteda população
local.Os palestrantes foram:o Dr. Mário Cachão(Universidade de
Lis-boa), 17 de Junho;
a Dra. Anunciação Ventura (Universidade dos Açores),20 de Junho;
o Dr. Andreas Kroh (Museu de HistóriaNatural de Vienna, Áustria),
22 de Junho; e oDr. Sérgio Ávila (IMAR/Universidade dos Açores),24
de Junho).
Mais informações sobre este Workshop (incluindo odiário da
expedição) podem ser consultadas na páginado MPB-Marine
Palaeobiogeography Working Groupof the University of the Azores” no
seguinte endereço:http://www.uac.pt/~fosseis
14 PORTUGALA - n.o 8 - Novembro 2006
III Workshop«Palaeontology in Atlantic Islands»
por SÉRGIO ÁVILADepartamento de Biologia, Universidade dos
Açores.
-
REALIZOU-SE em Vila Franca do Campo, de 17 a 28de Julho, o 3º
Workshop Internacional deMalacologia e Biologia Marinha. Tratou-se
deuma iniciativa liderada pela Sociedade Afonso
Chaves, numa co-organização do Departamento deBiologia da
Universidade dos Açores, da CâmaraMunicipal de Vila Franca do Campo
e do Clube Navalde Vila Franca do Campo.
O evento contou com vinte e dois participantes,metade dos quais
da Universidade dos Açores; osrestantes provieram de Portugal
Continental (Instituto
Português de Malacologia), da Inglaterra (MuseuBritânico de
Londres), da Holanda (Universidade deAmsterdam), da Dinamarca
(Museu de Copenhagen),dos Estados Unidos (Smithsonian) e do
Sri-Lanka(IUCN).
O plano de trabalho do Workshop incluiu extensasdragagens a
várias profundidades, de modo a permitiruma análise da
biodiversidade dos fundos até cerca dostrezentos metros. Integrou,
ainda, as propostas deinvestigação de antemão apresentadas pelos
parti-cipantes e não directamente associadas com as draga-gens,
nomeadamente mergulho com escafandro
autónomo para recolha de opistobrânquios e de espon-jas, e ainda
outros estudos costeiros.
Parte do material recolhido foi fotografado de acor-do com as
exigências dos projectos dos vários parti-cipantes. O material
dragado, em grande parte por triar,está depositado no Departamento
de Biologia daUniversidade dos Açores e conta presentemente como
concurso de estudantes para a indispensável triagem.
Como nas reuniões anteriores, serão publicadasactas que
congregarão os trabalhos individuais dos par-ticipantes; prevê-se,
ainda, a edição de um livro sobre a
biodiversidade dos fundos marinhos de Vila Franca doCampo, com
ênfase nos moluscos.
O 3º Workshop Internacional de Malacologia e deBiologia Marinha,
foi patrocinado pela DirecçãoRegional da Ciência e Tecnologia do
Governo Regionaldos Açores, Fundação Luso-Americana para
oDesenvolvimento, Câmara Municipal de Vila Francado Campo e
Fundação para a Ciência e Tecnologia;contou ainda com a
disponibilização de instalações,equipamentos e materiais do Clube
Naval de VilaFranca do Campo e do Departamento de Biologiada
Universidade dos Açores.
PORTUGALA - n.o 8 - Novembro 2006 15
3º Workshop Internacionalde Malacologia e Biologia Marinha
por ANTÓNIO M. DE FRIAS MARTINSOrganizador, Presidente da
Sociedade Afonso de Chaves
Bela nebulla (MONTAGU)
-
16 PORTUGALA - n.o 8 - Novembro 2006
2º Workshop Internacionalde Opistobrânquios
por MANUEL ANTÓNIO E. MALAQUIASMuseu de História Natural,
Londres
DECORREU no passado mês de Setembro nacidade de Bona, Alemanha o
segundoworkshop internacional de moluscos opisto-brânquios. O
evento foi organizado por
Heike Wägele, Annette Klussmann-Kolb e MichaelSchrödl e teve
lugar no Koenig Museum de História
Naural e Atropologia. Contou com quarenta e nove par-ticipantes,
tendo sido apresentados um total de quarentae oito trabalhos, vinte
e quatro comunicações e outrostantos posters.
De salientar a significativa participação de inves-tigadores
jovens que mostram a que este ramo da
Malacologia está bem e recomenda-se, mas igualmente de
nomessonantes na área. Para além dos jámencionados organizadores é
desalientar a presença de Bill Rudman,Conxita Ávila, Juan Lucas
Cervera,Kathe Jensen, e de uma convidadade honra Luise Schmekel que
em-bora há já algum tempo arredadadas lides científicas foi figura
proe-minente entre os anos sessenta eoitenta, principalmente, pelos
seustrabalhos sobre nudibrânquios esacoglossos. Merece,
igualmente,destaque a presença de investi-gadores dos quatro cantos
doglobo: América do Sul (Brasil),Estados Unidos, Europa, Austráliae
Ásia (Indonésia).
O encontro contou, fisicamente,com a presença de dois
investi-gadores portugueses AlexandreLobo da Cunha e Manuel
Malaquiastendo ambos proferido uma comu-nicação oral e com
apresentação dedois posters nos quais RicardoNeves e Gonçalo Calado
eramco-autores.
Os temas abordados foramvários passando pela
sistemática,filogenia, biogeografia, evolução,produtos naturais,
neurofisiologiae histoquímica e evidenciama excelência dos moluscos
e no-meadamente dos opistobrânquioscomo modelos de estudo dosmais
diversos fenómenos danatureza.
Lucas Cervera,Conxita Ávilae Angela Dinapoli
Luise Schmekele Heike Wägele
Fontje Kaligise Bill Rudman
Heike Wägelee Michael Schrödl
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PORTUGALA - n.o 8 - Novembro 2006 17
A Malacologia nas ArtesSantiago, peregrinos e vieiras
por CARLOS MARQUES DA SILVA
DESDE os tempos imemoriais que a concha davieira está associada
a Santiago (Iacobus, nasua forma latina) e aos peregrinos doCaminho
de Santiago.
Segundo a lenda, aquando da dispersão dos após-tolos pelo mundo,
Santiago foi pregar em regiõeslongínquas, passando algum tempo no
noroeste daPenínsula Ibérica. No regresso à Palestina, no ano
44,foi preso e martirizado. Dois dos seus discípulos fur-taram o
seu corpo e embarcaram-no de regresso àGaliza, onde o sepultaram,
secretamente, numbosque.
A descoberta do sepulcro do santo terá ocorridono século IX.
Reza a lenda que um ermitão presen-ciou durante noites seguidas uma
«chuva de estrelas»sobre um monte do bosque. Avisado do fenómeno,
obispo da região demandou o local e encontrou umsarcófago de
mármore com os ossos do santo e dosseus discípulos cobertos por um
manto de conchasde vieira alusivas à sua longa viagem
marítima.Deste «campo de estrelas» (campus stellæ) terá resulta-do
o nome Compostela. Desde então a romagema Santiago de Compostela
popularizou-se. Contudo,o caminho sagrado de peregrinação
Este-Oestepelo Norte de Espanha, até Finisterra, seguindoo caminho
do Sol – que diariamente renascia – e opercurso traçado pela Via
Láctea, já era trilhado hámuito, pelo menos desde tempos romanos ou
celtas.
São símbolos originais da peregrinação a Santiagode Compostela a
chuva de estrelas, juntamente com avieira, a cabaça e o bordão,
atributos do peregrino.Com o tempo, a vieira – a concha de
Santiago, daíPecten jacobeus (LINNAEUS, 1758) – acabou por setornar
no símbolo maior da romaria, sendo a suaimagem estilizada que, ao
longo do percurso, indicao caminho aos peregrinos.
Ainda hoje, cada romeiro a Santiago deCompostela leva consigo,
durante todo o percurso,uma vieira adquirida no início da jornada.
Por issomesmo, estes peregrinos são muitas vezes apeli-dados de
«concheiros». Mas porquê a vieira?As lendas são inúmeras, algumas
delas já acima
foram referidas, mas talvez o seu uso se tenhageneralizado
devido ao facto de os primeirosperegrinos serem gente humilde,
monges quehaviam feito voto de pobreza e que, por issomesmo, não
transportavam consigo nenhum bemmaterial. As conchas eram,
simultaneamente,alimento e utensílio – usavam-nas como «concha»para
beber e como prato para comer – e eles trans-portavam-nas como
símbolo da sua modéstia.
Contudo, talvez a vieira – do latim veneria,concha de Vénus –
seja um símbolo mais antigoque o próprio Caminho de Santiago.
Alguns autores
defendem que representa o Sol e os seus raiosluminosos e que a
sua associação ao Caminhoremonta ao tempo em que este simbolizava
otrajecto do Sol de Nascente para Poente, até ao fimdo mundo, até
Finisterra.
Para saber mais:Santiago
Maior:http://pt.wikipedia.org/wiki/Santiago_MaiorCaminhos
portugueses de
peregrinação:http://ceg.fcsh.unl.pt/site/santiago2.aspCaminho de
Santiago:http://es.wikipedia.org/wiki/Camino_de_Santiago
Marca assinalando o caminho de Santiago, em Atapuerca.Em fundo
de página (e na pág. 1):
Imagem de Santiago «Mata-Mouros», na Catedral de Burgos
-
18 PORTUGALA - n.o 8 - Novembro 2006
Nas linhas desta mo-desta coluna que consagramos àsnotícias
nacionais de algum inte-resse para o mundo da Malacologia– na qual,
por gosto, vocação efeitio, damos especial relevo às ini-ciativas
que se prendem com ocoleccionismo de conchas – tivemosjá
oportunidade de nos referirmosà actividade comercial de venda
deconchas para coleccionadores, emPortugal.
É, portanto, com muito gostoque hoje aqui deixamos a notíciada
inauguração – que já anterior-mente prevíramos – da galeriaDeep’n
Reef, em Sobral de MonteAgraço.
Na verdade, no passado dia 20de Maio, um sábado, à parte
datarde, reuniram-se nas reformuladase amplas instalações de um
antigo
restaurante local diversos colec-cionadores (por ordem
alfabéticae para além do signatário destaslinhas: Ana e Luís Leal,
António
Fernandes de Sousa, Carlos Durãesde Carvalho, Carlos Pires,
FernandoCecílio, Fernando Pena de Sousa,Fernando Pires, Fernando
Serafim,João Amaral de Lemos, JoséAntónio Anacleto, Leonel
Pinto,Luís Távora, Miguel PedroRodrigues, Rui Mendes, Rui Valla
eVasco Franco), para acompanharemo faustoso evento, ainda
abri-lhantado pela presença do presi-dente da Câmara de Sobral
deMonte Agraço, sr. António Bugalho,bem como do vereador com
oPelouro da Juventude, sra. LuísaSoares, ambos claramente
satisfeitoscom a criação de um ponto de inter-esse local para um
grupo alargado ediversificado de potenciais visi-tantes.
A Deep’n Reef, recordemo-lo, épropriedade dos nossos amigosPaulo
Granja e Manuel Amorim,sempre bem e solicitamente acolita-
Notícias do rectângulo 66por ANTÓNIO MONTEIRO
Imagem do interior da galeria
Da esquerda para a direita. Manuel Amorim, José Luís Távora,
Paulo Granja,Fernando Serafim, João Amaral de Lemos e António
Monteiro
-
PORTUGALA - n.o 8 - Novembro 2006 19
dos por familiares do primeiro.O nome estrangeiro da firma
justifi-ca-se pela era de globalização queatravessamos, tendo em
conta que,nos nossos dias, qualquer firma dogénero tem de
socorrer-se de umacarteira de clientes internacional,privilegiando
os contactos por viada Internet.
O ambiente era de festa, mani-festando todos os presentes o
gostopor essa excelente oportunidadede reunião, de encontro, de
trocade impressões sobre exemplares,livros e tantos outros aspectos
rela-cionados com a colecção. Coma sua afabilidade habitual, o
Paulo eos seus familiares (já que o ManuelAmorim tinha chegado na
ma-drugada do próprio dia de Moçam-bique...) haviam preparado
tudopara que os convidados passassemuma tarde agradável, não
des-curando sequer um lauto lanche aque teríamos feito as devidas
hon-ras, não fosse a circunstânciade, uma hora antes, termos
deixadoainda à mesa toda a família, numfinal de um não menos
lautoalmoço!
As instalações da firma prestam--se à realização de múltiplas
acti-vidades, esperando-se que, no
futuro, passem a constituir pontode reunião dos
coleccionadores.Para o efeito, o Paulo apontoujá o último sábado de
cada mêscomo dia de reunião, em que seprocurará preparar um ou
outroponto de interesse para todos.Está prevista a possibilidade
derealização de palestras, mostras deexemplares, jogos, etc., tudo
demolde a estimular o interesse doscoleccionadores e a apoiar o
desen-volvimento das suas colecções.A primeira dessas reuniões
perió-dicas teve lugar no dia 24 de Junho,embora o período estival
sugerissee mesmo impusesse a sua suspensãoprovisória. Em Outubro,
recome-çaram, esperando-se em cada umadelas a presença do maior
númeropossível de coleccionadores.
Não podemos, evidentemente,deixar de endereçar à Deep’n Reef,bem
como aos seus proprietáriose familiares, os mais sentidosparabéns
pela iniciativa, formu-lando sinceros votos de futurosêxitos e
muitas alegrias, na certezade que esses êxitos e essasalegrias
serão também os dequantos, em Portugal, se interes-sam por este
fascinante tema decolecção e cultura.
Num anterior nú-mero das «Notícias do Rectângulo»demos conta de
que nos haviamchegado indicações de que aanunciada aquisição da
colecçãode conchas da sra. D. MariaCândida Macedo por parte doMuseu
Bocage, com vista à suaapresentação em sala expres-samente
destinada a esse efeitohavia, afinal, ficado sem efeito.
Cumpre-nos agora confirmaressa má notícia.
Aparentemente,divergências de diversas índolesterão impedido a
concretização doaliciante projecto, que dotaria apopulação de
Lisboa da umaexposição permanente de conchas,de grandes dimensões e
impor-tância, como veículo único e privi-legiado de difusão do
interesse peloestudo dos Moluscos, no panoramamais vasto da
Zoologia. Assimsendo, as únicas exposições per-manentes de
exemplares mala-cológicos são as que se encontramno Aquário Vasco
da Gama, noDafundo, e no Museu do Mar – ReiD. Carlos, em Cascais,
qualquerdelas, de resto, bem merecedora deuma visita.
Desconhecemos, neste mo-mento, se o Museu de HistóriaNatural tem
quaisquer outrosplanos para o preenchimentodo espaço previsto,
dentro domesmo sector, como seriadesejável.
Segundo conseguimos apurar,a sra. D. Maria Cândida
Macedodesenvolve esforços, ao que parecerelativamente bem
encaminhados,para encontrar onde albergar o seuinteressante
espólio, socorrendo-sede instâncias diversas, ao
nívelautárquico.
Um aspecto do convívio entre os presentes
-
20 PORTUGALA - n.o 8 - Novembro 2006
ARTIGOS
CABRAL, J. P. 2006. A comunidadefrancisca da ilha da Ínsua
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285-294.
Reuniões,Cursos
e Exposições
17-18 Março 2007:XIX Feira Internacional de
Conchas de ParisBourse de Commerce, 2 rue des
Viarmes, 75004 Paris, França.Contacto:
[email protected].
31 Março 2007:Invasive MolluscsUniversity of Cambridge,
UK.Organizado pela Malacological
Society of London.Mais informações: d.aldridge@
zoo.cam.ac.uk (David Aldridge).
15-20 Julho 2007:Word Congress of MalacologyAntuérpia,
BélgicaPara mais informações contactar:
Thierry Backeljau ([email protected]).
6-9 Agosto 2007:International Congress on
Invertebrate Reproduction andDevelopment
Cidade do Panamá, Panamá.Organizado pela Smithsonian
Trop ica l Resea rch Ins t i tu te(Dr Rachel Collin).
Informaçõesadicionais em: http//sun.science.wayne.
edu/~jram/isir.htm .
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