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UNIVERSIDADE DE BRASLIA
INSTITUTO DE LETRAS - IL
DEPARTAMENTO DE LNGUAS ESTRANGEIRAS E TRADUO - LET
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM LINGUSTICA APLICADA - PPGLA
TINTIM POR TINTIM: UM MATERIAL DIDTICO DE PORTUGUS PARA
FALANTES DE ESPANHOL COM FOCO NAS EXPRESSES IDIOMTICAS
CRISTHIANE MIRANDA VAZ
DISSERTAO DE MESTRADO EM LINGUSTICA APLICADA
BRASLIA, DF
AGOSTO/2013
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UNIVERSIDADE DE BRASLIA
INSTITUTO DE LETRAS - IL
DEPARTAMENTO DE LNGUAS ESTRANGEIRAS E TRADUO - LET
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM LINGUSTICA APLICADA - PPGLA
TINTIM POR TINTIM: UM MATERIAL DIDTICO DE PORTUGUS
PARA FALANTES DE ESPANHOL COM FOCO NAS EXPRESSES
IDIOMTICAS
CRISTHIANE MIRANDA VAZ
ORIENTADORA: MARIA LUISA ORTIZ ALVAREZ
DISSERTAO DE MESTRADO EM LINGUSTICA APLICADA
BRASLIA, DF
AGOSTO/2013
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REFERNCIA BIBLIOGRFICA E CATALOGAO
TINTIM POR TINTIM: UM MATERIAL DIDTICO DE PORTUGUS PARA
FALANTES DE ESPANHOL COM FOCO NAS EXPRESSES IDIOMTICAS
VAZ, Cristhiane Miranda. Braslia: Departamento de Lnguas
Estrangeiras e
Traduo, Universidade de Braslia, 2013, n f 130. Dissertao de
Mestrado.
Documento formal que autoriza a reproduo desta dissertao
de Mestrado para emprstimo ou comercializao,
exclusivamente para fins acadmicos, foi passado pela autora
Universidade de Braslia e acha-se arquivado na Secretaria
do Programa. A autora reserva para si os outros direitos
autorais de publicao. Nenhuma parte desta dissertao de
mestrado pode ser reproduzida sem a autorizao por escrito
da autora. Citaes so estimuladas, desde que citada a fonte.
FICHA CATALOGRFICA
VAZ, Cristhiane Miranda.
Tintim por tintim: um material didtico de portugus para falantes
de
espanhol com foco nas expresses idiomticas/ Cristhiane Miranda
Vaz -
Braslia, 2013.
Departamento de Lnguas Estrangeiras e Traduo, Universidade
de
Braslia, 2013, n f. Dissertao de mestrado.
Orientadora: Maria Luisa Ortiz Alvarez.
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UNIVERSIDADE DE BRASLIA
INSTITUTO DE LETRAS - IL
DEPARTAMENTO DE LNGUAS ESTRANGEIRAS E TRADUO - LET
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM LINGUSTICA APLICADA - PPGLA
TINTIM POR TINTIM: UM MATERIAL DIDTICO DE PORTUGUS PARA
FALANTES DE ESPANHOL COM FOCO NAS EXPRESSES IDIOMTICAS
CRISTHIANE MIRANDA VAZ
Dissertao de Mestrado submetida ao programa de ps-
graduao em Lingustica Aplicada, como parte dos requisitos
necessrios obteno do grau de mestra em Lingustica
Aplicada.
APROVADA POR
___________________________________________________________________
Prof Dr. Maria Luisa Ortiz Alvarez, UnB
(Orientadora)
___________________________________________________________________
Prof Dr. Enrique Huelva Unternbumen, UnB
(Examinador Interno)
___________________________________________________________________
Prof Dr. Suzete Silva, UEL
(Examinadora Externa)
___________________________________________________________________
Prof Dr. Maria da Glria Magalhes dos Reis, UnB
(Suplente)
BRASLIA- DF, 9 de AGOSTO de 2013.
-
DEDICATRIA
Dedico este trabalho s duas mulheres da minha vida, que me
ensinaram sobre apoio, amor e famlia: Ana Lcia e Daniela.
Aos meus avs, Dona Teresinha e Seu Z (Picol para os
muito ntimos), por me fazerem pensar pela primeira vez: por
que falamos assim? e por me dizerem sempre que acreditar e
perseguir meus sonhos valia a pena (in memoriam).
-
AGRADECIMENTOS
Agradeo, primeiramente, a minha orientadora, professora Maria
Luisa Ortiz,
por cumprir mais do que estabelece seu papel; por ser amiga,
humana e me, por
ouvir e por ajudar nos momentos difceis. Mulheres como a senhora
so poucas no
mundo;
Aos funcionrios do PPGLA por estarem sempre disponveis para
solucionar
minhas dvidas e, em especial, amiga Jaqueline Barros, por me
acalmar e juntar
foras quando a mente fraquejava;
Aos professores do PPGLA, que contriburam de maneira efetiva
para meu
crescimento acadmico durante a realizao das disciplinas;
Aos meus pais, Ana Lucia e Ado, por todo o carinho e compreenso,
por
sempre me incentivarem a escolher e ser melhor;
Ao meu irmo, Alberto, por compartilhar toda a infantilidade e
sabedoria que
cabem em vinte anos;
A minha companheira, melhor amiga, outra metade, Daniela, por
ler, criticar,
se distanciar, juntar os pedaos, sem nunca deixar de me apoiar.
Obrigada pelas
broncas, sei que fazem parte do processo;
Aos amigos antigos e novos, Deivison, Ana e Tnia, por
participarem
ativamente desta pesquisa. Muitos foram os cafs, os dias na
biblioteca e as
discusses tericas que ajudaram a fortalecer este estudo;
s amigas Yara e Elen, por entenderem minha ausncia e nunca
perguntarem se eu j estava concluindo a minha pesquisa. Obrigada
pelo apoio e
pela tranquilidade que me passaram. Obrigada tambm por irem onde
eu estava,
quando eu no podia ir;
A minha famlia por ainda me chamar para as reunies, almoos e
festinhas,
mesmo sabendo que eu provavelmente no iria;
Aos participantes da pesquisa por colaborarem de maneira to
intensa.
Obrigada por acreditarem nas minhas dvidas;
A todos que colaboraram de maneira direta ou indireta para a
realizao
desta tarefa.
-
RESUMO
No cenrio ps-moderno em que vivemos, percebemos mudanas
geopolticas e
culturais importantes (RAJAGOPALAN, 2003). Assim, ficam
evidentes as demandas
e necessidades comunicativas dos novos aprendizes de lngua
estrangeira. Byram
(2002, p. 7) afirma que os aprendizes de uma lngua estrangeira
precisam se
expressar de maneira social e culturalmente adequada, a fim de
que se evitem
constrangimentos e rudos na comunicao. Desta forma, destacamos
que aprender
e tambm ensinar lnguas para a interculturalidade significa
negociar espaos,
sentidos e identidades. Esta pesquisa qualitativa pretende
colaborar com os estudos
de ensino e aprendizagem de portugus para falantes de espanhol e
tem como
objetivo futuro subsidiar a produo de um material didtico, com
base na
Abordagem Intercultural e voltado para as dificuldades
apresentadas pelos nativos
de espanhol aprendendo portugus em contexto de imerso ou no. A
escolha do
tipo de pesquisa justificada por trabalhar com dados que
obtivemos a partir das
reflexes feitas pela professora-pesquisadora, pelos professores
participantes e
pelos aprendizes. A coleta de dados foi feita durante a realizao
do curso Tintim
por tintim: um curso de portugus para falantes de espanhol, em
novembro de
2012. O objeto de estudo dessa pesquisa est delimitado em
questes relatadas
pelos prprios aprendizes de portugus que descrevem situaes
de
constrangimento e mal-entendidos, que podem comprometer uma
comunicao
efetiva. A presente pesquisa situa-se no campo da Lingustica
Aplicada e dos
estudos fraseolgicos, partindo da averiguao de como a
aprendizagem das
expresses idiomticas da lngua portuguesa pode afetar a comunicao
entre
interlocutores brasileiros e falantes de espanhol. Aps a anlise
dos dados,
conclumos que as pesquisas em produo de material didtico
especfico para
falantes de espanhol devem ser encorajadas, pois h uma
deficincia grande nesta
rea. A hiptese que formulamos inicialmente, sobre o ensino de
expresses
idiomticas para nveis avanados, foi descartada, uma vez que
percebemos que
mesmo os aprendizes menos proficientes, alcanaram o objetivo
proposto pelo
material. Percebemos tambm que as tarefas de produo escrita so
um
importante fator para o desenvolvimento da lngua-cultura alvo e
devem constar no
material didtico utilizado. Por fim, avaliamos que a diversidade
de atividades e de
materiais-insumo selecionadas no material Tintim por tintim,
configurou-se como um
aspecto positivo.
PALAVRAS-CHAVE: Expresses idiomticas; material didtico; ensino
de
portugus para falantes de espanhol; Abordagem Intercultural.
-
RESUMEN
En el escenario posmoderno en que vivimos, percibimos cambios
geopolticos y
culturales importantes (RAJAGOPALAN, 2003). As, se vuelven
evidentes las
demandas y necesidades comunicativas de los nuevos aprendices de
lengua
extranjera. Byram (2002, p. 7) afirma que los aprendices de una
lengua extranjera
necesitan expresarse de manera social y culturalmente adecuada,
de manera que se
eviten ruidos en la comunicacin. De esta forma, destacamos que
aprender y
tambin ensear lenguas para la interculturalidad significa
negociar espacios,
sentidos e identidades. Esta investigacin cualitativa pretende
colaborar con los
estudios de enseanza y aprendizaje de portugus para hablantes de
espaol y
tiene como objetivo futuro servir de base para la produccin de
un material didctico,
con base en el Abordaje Intercultural y vuelto a las
dificultades presentadas por los
nativos de espaol aprendiendo portugus en contexto de inmersin o
no. La
eleccin del tipo de investigacin se justifica por trabajar con
datos que obtuvimos a
partir de las reflexiones hechas por la profesora-investigadora
y por los aprendices.
La colecta de datos fue hecha durante la realizacin del curso
Tintim por tintim: um
curso de portugus para falantes de espanhol, en noviembre de
2012. El objeto de
estudio de esta pesquisa se delimita en las cuestiones relatadas
por los aprendices
de portugus que describen situaciones de malentendidos, que
pueden
comprometer una comunicacin efectiva. La presente investigacin
est situada en
el campo de la Lingstica Aplicada y de los estudios
fraseolgicos, partiendo de la
averiguacin de como el aprendizaje de las expresiones idiomticas
de la lengua
portuguesa puede afectar la comunicacin entre interlocutores
brasileos y
hablantes de espaol. Despus de realizar el anlisis de los datos,
hemos concludo
que las investigaciones en produccin de material didctico
especfico para
hablantes de espaol deben ser estimuladas, pues hay una gran
deficiencia en esta
rea. La hiptesis que hemos formulado inicialmente, sobre la
enseanza de las
expresiones idiomticas para niveles avanzados, fue descartada,
una vez que
hemos percibido que incluso los aprendices menos proficientes,
lograron el objetivo
propuesto por el material. Hemos percibido tambin que las tareas
de produccin
escrita son un importante aspecto para el desarrollo de la
lengua-cultura meta y
deben constar en el material didctico utilizado. Por fin, hemos
evaluado que la
diversidad de actividades y de materiales-insumo, se han
configurado como un
aspecto positivo.
PALABRAS-CLAVE: Expresiones idiomticas; material didctico;
enseanza
de portugus para hablantes de espaol; Abordaje
Intercultural.
-
ABSTRACT
In the post-modern world we live, we noticed important
geopolitical and cultural changes (Rajagopalan, 2003). Thus the
demands and communicative needs of new learners of a foreign
language are evident. Byram (2002, p. 7) states that learners of a
foreign language need to express themselves in a socially and
culturally appropriate way in order to avoid constraints and noise
in communication. Therefore we emphasize that learning and also
teaching languages in an intercultural manner is negotiating
spaces, meanings and identities. This qualitative research intends
to collaborate with the studies of teaching and learning Portuguese
for Spanish speakers. It aims to support the future production of
educational material based on Intercultural Approach, addressing
the difficulties presented by native Spanish speaking learners of
Portuguese in a context of immersion or not. The choice of this
type of research is justified by the data we obtained from the
reflections made by the teacher-researcher, the participating
teachers and the learners. Data collection was made during the
Portuguese as a second language course Tintin por tintin:
Portuguese lessons for Spanish speakers ", in November 2012. The
object of study of this research is bounded on issues reported by
the learners of Portuguese that describe situations of
embarrassment and misunderstandings that can compromise effective
communication. This research is in the field of Applied Linguistics
and phraseological studies, based on the investigation of how
learning Portuguese idioms can affect communication between
Brazilian native speakers and Spanish speaking learners of
Portuguese. After analyzing the data, we concluded that research on
the production of educational materials specifically for Spanish
speakers should be encouraged, as there is a great deficiency in
this area. The hypothesis formulated initially, on teaching idioms
to advanced levels, was ruled out, since we realized that even less
proficient learners achieved the objective proposed by the
material. We also realized that the writing tasks are an important
factor for the development of the target language-culture and
should appear on the teaching material to be used. At last, we
concluded that the diversity of activities and input materials
selected in the material Tintin por tintin resulted in a positive
aspect. KEYWORDS: Idioms; educational material; teaching Portuguese
to Spanish
speakers; Intercultural Approach.
-
LISTA DE ILUSTRAES
FIGURA 1 .........................
........................................................................................................................................
38
FIGURA 2
..................................................................................................................................................................
44
FIGURA 3
..................................................................................................................................................................
46
FIGURA 4
..................................................................................................................................................................
48
FIGURA 5
..................................................................................................................................................................
56
FIGURA 6
..................................................................................................................................................................
57
FIGURA 7
..................................................................................................................................................................
58
FIGURA 8
..................................................................................................................................................................
59
FIGURA 9
..................................................................................................................................................................
59
FIGURA 10
................................................................................................................................................................
61
FIGURA 11
................................................................................................................................................................
62
FIGURA 12
................................................................................................................................................................
64
FIGURA 13
................................................................................................................................................................
67
FIGURA 14
................................................................................................................................................................
68
FIGURA 15
................................................................................................................................................................
71
FIGURA 16
................................................................................................................................................................
71
FIGURA 17
................................................................................................................................................................
72
FIGURA 18
................................................................................................................................................................
73
FIGURA 19
................................................................................................................................................................
73
FIGURA 20
................................................................................................................................................................
74
-
LISTA DE TABELAS
TABELA 1
..................................................................................................................................................................
31
TABELA 2
..................................................................................................................................................................
32
TABELA 3
..................................................................................................................................................................
47
TABELA 4
..................................................................................................................................................................
48
TABELA 5
..................................................................................................................................................................
51
TABELA 6
..................................................................................................................................................................
63
TABELA 7
..................................................................................................................................................................
65
TABELA 8
..................................................................................................................................................................
76
TABELA 9
..................................................................................................................................................................
79
TABELA 10
................................................................................................................................................................
81
TABELA 11
................................................................................................................................................................
82
TABELA 12
................................................................................................................................................................
85
TABELA 13
................................................................................................................................................................
86
TABELA 14
................................................................................................................................................................
88
-
LISTA DE ABREVIAES
AV NOVO AVENIDA BRASIL 3
EI EXPRESSO IDIOMTICA
LE LNGUA ESTRANGEIRA
MD MATERIAL DIDTICO
PLE PORTUGUS PARA FALANTES DE ESPANHOL
UF UNIDADE FRASEOLGICA
VB PORTUGUS VIA BRASIL
-
SUMRIO
CAPTULO 1 ACERTANDO OS PONTEIROS
........................................................ 15
1.1 Introduo
......................................................................................................
15
1.2 Objetivos e Perguntas de pesquisa
..............................................................
18
1.3 Procedimentos metodolgicos
.....................................................................
19
1.4 Estrutura da dissertao
...............................................................................
20
CAPTULO 2 COLOCANDO AS CARTAS NA MESA
............................................ 22
2.1 Introduo
......................................................................................................
22
2.2 O caso do portugus e do espanhol: irmos de sangue ou amigos
da
ona?
....................................................................................................................
22
2.3 A Teoria fraseolgica
.....................................................................................
24 2.3.1 As unidades fraseolgicas: caractersticas especficas e
relao dos seus
componentes
...............................................................................................................................
27
2.4. As expresses idiomticas. Questes de uso e
contexto......................... 28 2.4.1. A fraseodidtica
................................................................................................................
29 2.4.1.2. O ensino das expresses idiomticas em portugus lngua
estrangeira: uma
abordagem intercultural
.............................................................................................................
32
2.5. Produo de materiais didticos
.................................................................
36
3.1 Introduo
......................................................................................................
40
3.2 Contexto da pesquisa
....................................................................................
40
3.3 A pesquisa
......................................................................................................
41
3.4 O curso tintim por tintim
...............................................................................
43
3.5 Os materiais base: Portugus Via Brasil: um curso avanado
para
estrangeiros e Novo Avenida Brasil 3
................................................................ 45
3.5.1 Portugus Via Brasil: um curso avanado para estrangeiros
....................................... 46 3.5.2 Novo Avenida
Brasil 3: curso bsico de portugus para estrangeiros
....................... 48
3.7 Instrumentos de coleta de dados
.................................................................
52
3.8 Os participantes da pesquisa
.......................................................................
53
3.9 A triangulao dos dados
.............................................................................
54
4.1 Introduo
......................................................................................................
55
4.2 Anlise dos materiais base
...........................................................................
55 4.2.1 As expresses idiomticas no livro Portugus Via Brasil
............................................. 55 4.2.2 As expresses
idiomticas no livro Novo Avenida Brasil 3
.......................................... 59
4.3 Elaborao do material didtico Tintim por tintim
...................................... 62 4.3.1 Aspectos culturais:
culturas brasileiras ou outras culturas
......................................... 63
-
4.3.2 Escolha dos materiais-insumo
.........................................................................................
68 4.3.3 Aspectos lingusticos do portugus
................................................................................
69 4.3.4 Ensino de expresses idiomticas
..................................................................................
70
4.4 A viso dos aprendizes-participantes: anlise das fichas de
inscrio e
dos questionrios
................................................................................................
75
4.5 A viso dos professores-colaboradores: anlise dos
questionrios e dos
dirios de itinerncia
...........................................................................................
84
4.6 A viso da professora-pesquisadora: anlise dos dirios de
itinerncia . 89
4.7 Triangulao dos dados
................................................................................
92
Voltando s perguntas de pesquisa
...................................................................
95
Contribuies para o cenrio da fraseologia e da produo de
materiais para
falantes de espanhol
............................................................................................
99
Propostas de novos estudos
..............................................................................
99
Limitaes da pesquisa
.....................................................................................
100
REFERNCIAS
........................................................................................................
102
APNDICE B FICHA DE INSCRIO
..................................................................
133
APNDICE C QUESTIONRIO AOS APRENDIZES-PARTICIPANTES .........
134
APNDICE D QUESTIONRIO AOS PROFESSORES-COLABORADORES ......
136
-
15
CAPTULO 1 ACERTANDO OS PONTEIROS
1.1 Introduo
O mundo contemporneo vive um momento de liquidez1 de
fronteiras
geogrficas, culturais e lingusticas, onde a divulgao das
informaes acontece
quase que instantaneamente. A globalizao e a internet so dois
importantes
protagonistas nas mudanas geopolticas que vm acontecendo nos
ltimos anos.
Rajagopalan (2003, p. 59) afirma que nunca na histria da
humanidade a identidade
lingustica das pessoas esteve to sujeita como nos dias de hoje s
influncias
estrangeiras e que quem transita entre diversos idiomas est
redefinindo sua
prpria identidade (op. cit., p. 69). Considerando este cenrio
ps-moderno,
evidenciam-se as novas demandas e necessidades comunicativas dos
aprendizes
de lngua estrangeira, uma vez que nesses espaos pluriculturais
que acontecem
as suas interaes sociais. Byram et al (2002, p. 7) reflete sobre
tais processos
comunicativos e afirma que os aprendizes de uma lngua
estrangeira devem ser
capazes de se expressar de maneira social e culturalmente
adequada, promovendo
o respeito mtuo e a construo conjunta de significados para um
dilogo entre
culturas distintas, a fim de que se evitem constrangimentos e
rudos na
comunicao. Assim, aprender e tambm ensinar lnguas em um
contexto
intercultural significa negociar espaos, sentidos e identidades.
desejar que a
prpria existncia, bem como a do Outro funcione como instncia em
interao
movida pela busca mtua de compreenso.
A lngua portuguesa e cultura brasileira vm ganhando visibilidade
e destaque
e, nos ltimos anos, acordos feitos pelo governo brasileiro com
pases vizinhos,
membros ou no do bloco de livre comrcio Mercado Comum do Sul
Mercosul
nas reas educacionais e econmicas, tm atrado estrangeiros
falantes de
1 Zigmunt Bauman, socilogo e filsofo polons, reflete sobre a
modernidade, criando dois conceitos
que se opem: a modernidade slida, em que os perigos para a
existncia humana so reais e
palpveis e a modernidade lquida na qual vivemos, em que no
possvel caracterizar a origem dos
medos e riscos que assolam a populao.
-
16
espanhol, principalmente oriundos de pases que fazem fronteira
com o Brasil. Alm
das oportunidades citadas, a aparente facilidade de adaptao
lngua e cultura
brasileira so outros fatores que explicam a crescente migrao
dessas pessoas.
Outro tema importante para a realizao deste estudo a importncia
que as
vises propostas pelos estudos culturais no ensino de lnguas
apresentam para o
cenrio do ensino e aprendizagem de lnguas estrangeiras e como
tais insumos
poderiam apresentar-se em um material didtico voltado ao pblico
falante de
espanhol e que tenha como cerne a aprendizagem das expresses
idiomticas.
Esta pesquisa busca contribuir para os estudos de ensino e
aprendizagem de
portugus para falantes de espanhol, alm de ter o intuito futuro
de servir como base
para a produo de um material didtico voltado exclusivamente para
as dificuldades
apresentadas pelos nativos de espanhol aprendendo portugus em
contexto de
imerso ou no. Material como este ainda no existe no mercado
editorial e
consideramos que ser de grande importncia e valia na ajuda da
divulgao do
PLE como lngua oficial de um grande bloco econmico, como o
Mercosul.
Os significados que as palavras tm em uma determinada lngua,
so
culturalmente construdos e no so determinados por aspectos
intrnsecos lngua.
Desta maneira, a forma de falar, as expresses que se usa em
determinada lngua
tambm so culturalmente construdas. Os fraseologismos so uma das
mais
importantes expresses da cultura na lngua e podem prejudicar ou
impedir
completamente que a comunicao entre dois falantes acontea, caso
um no
esteja ciente do significado desses fraseologismos.
O estudo da fraseologia, aqui entendida como o conjunto de
combinaes de
elementos lingusticos de uma determinada lngua relacionados
semntica e
sintaticamente e cujo significado dado pelo conjunto de seus
elementos (ORTIZ
ALVAREZ, 2009, p. 4), e sua incluso no ensino de portugus para
falantes de
espanhol faz com que o aprendiz desenvolva sua competncia
intercultural,
sensibilize-se cultura do Outro e conhea as convenes de uso da
lngua de seu
interlocutor (ORTIZ ALVAREZ, 2002, p. 168). Para a autora,
inserir contedo cultural
no ensino de lngua estrangeira, retira a lngua do vazio e d-lhe
nova vida, alm de
-
17
promover a tolerncia e o respeito pela identidade e pelos
valores de um
determinado povo.
Portanto, ao estudar as expresses idiomticas que so
caractersticas da
lngua portuguesa, os aprendizes tm a chance no somente de
interagir de maneira
eficaz com os indivduos que fazem parte da comunidade falante de
portugus na
qual se encontram inseridos e onde realizam suas atividades
rotineiras, como
tambm de decodificar os aspectos mais sutis, relacionados ao
contexto de uso de
tais expresses. Assim, a identificao com a cultura do Outro, a
relativizao e a
comparao com a sua prpria so valorizadas, fazendo com que o
aprendiz se
sinta parte integrante daquela sociedade, minimizando tambm os
aspectos
negativos relacionados ao processo de adaptao a um novo pas, bem
como a sua
lngua, costumes e sociedade e ajudando a desmitificar
esteretipos e superar
preconceitos.
Porm, no mercado editorial de livros didticos voltados para o
ensino de
portugus como lngua estrangeira e/ou segunda lngua, PLE, no
encontramos
materiais que supram essa necessidade dos aprendizes. Poucos so
os livros
didticos de portugus para estrangeiros que trazem em suas
propostas o uso ou o
ensino de expresses idiomticas e, quando as introduzem, elas
aparecem como
amostras de expresses em exerccios descontextualizados, muitas
vezes arcaicas,
fora de uso ou como meras curiosidades da lngua. Outra questo
observada que
geralmente no h uma explicao, seja ela prvia ou posterior ao
exerccio ou
atividade em que se prope o uso da expresso idiomtica, que leve
o aprendiz ao
entendimento de seu significado e de sua relevncia para o uso na
lngua-alvo. Alm
da defasagem de livros didticos que tragam as expresses
idiomticas como tema,
tambm se observa a escassez de materiais voltados
especificamente ao pblico
falante de espanhol. Concordamos com Diniz et al (2009, p. 276)
quando afirma que:
Se h um certo descompasso entre a extensa literatura que
reconhece a
especificidade do ensino de portugus para falantes de espanhol e
o
desenvolvimento de metodologias diferenciadas para esse pblico,
h um
verdadeiro abismo entre essa literatura e a produo de LDs
apropriados.
-
18
Tais materiais tornam-se cada vez mais necessrios, no s na
Amrica do
Sul onde a demanda do portugus foi impulsionada pelo Mercosul ,
mas
tambm nos EUA onde a procura pelo portugus pelos falantes de
espanhol vem crescendo substancialmente, a ponto de se
caracterizar
como rea de pesquisa especfica, denominada Portugus como
terceira
lngua.
No captulo IV, que trata da anlise de MD, esses quesitos so
discutidos com mais
detalhes.
A iniciativa em realizar tal pesquisa originou-se das minhas
reflexes em sala
de aula de PLE. Percebi que nos MDs no eram trabalhadas as EIs
de maneira
satisfatria, pois as atividades neles propostas no eram
relevantes. O objeto de
estudo dessa pesquisa est balizado em questes relatadas pelos
prprios
aprendizes de portugus que reclamam e questionam que, em um
determinado
momento, j no sabem quais palavras fazem parte do lxico do
espanhol e quais
fazem parte do vocabulrio do portugus. Esse sentimento, no
poucas vezes de
frustrao e a sensao de que no esto avanando na lngua-alvo
como
esperavam e/ou achavam inicialmente. Outro fator determinante
para esta pesquisa
o fato de que, por interferncia negativa de palavras e expresses
existentes em
portugus e espanhol com significados diferentes, muitos
aprendizes relatam
situaes de constrangimento e mal-entendidos muitas vezes
vivenciadas e que
podem comprometer uma comunicao efetiva.
1.2 Objetivos e Perguntas de pesquisa
A presente pesquisa situa-se no campo da Lingustica Aplicada e
dos estudos
fraseolgicos, pois parte da investigao de como expresses do
acervo lexical da
lngua portuguesa ao serem usadas por hispano-falantes em situaes
reais de uso
da referida lngua pode afetar a compreenso de seus
interlocutores brasileiros com
os quais interagem. Para tanto, estabelecemos os seguintes
objetivos:
-
19
1. Verificar em materiais didticos de PLE, selecionados para
esta
pesquisa, como so abordadas as expresses idiomticas;
2. Elaborar e aplicar, em forma de curso, um material didtico
com foco
nas expresses idiomticas dentro de uma abordagem
intercultural;
3. Analisar as impresses e a avaliao dos participantes da
pesquisa
com relao ao curso oferecido e ao material elaborado.
Com o intuito de alcanar os objetivos propostos, orientaremos a
nossa
pesquisa atravs das seguintes perguntas de pesquisa:
i. Como so tratadas as expresses idiomticas nos materiais
didticos
de PLE selecionados para anlise?
ii. Como trabalhar as expresses idiomticas num material didtico
de
PLE produzido para esse fim dentro de uma abordagem
intercultural?
iii. Quais as contribuies do material didtico elaborado para
o
ensino/aprendizagem de PLE?
1.3 Procedimentos metodolgicos
Esta investigao configura-se como pesquisa qualitativa. Tal
escolha se
justifica pelo fato de trabalhar com dados obtidos a partir da
observao da interao
entre os participantes da pesquisa e de relatos produzidos por
eles acerca de suas
necessidades, desejos e expectativas com relao aprendizagem do
portugus.
importante ressaltar que os resultados obtidos neste estudo
apenas se aplicam ao
contexto em que foi realizado, no tendo, portanto, o propsito de
fazer
generalizaes.
A coleta dos dados foi feita durante a realizao do curso Tintim
por tintim:
um curso de portugus para falantes de espanhol, em novembro de
2012. O curso
contou com a participao de vinte e quatro
aprendizes-participantes falantes de
espanhol, de nacionalidades e idades variadas, que se
inscreveram aps receberem
informaes sobre a natureza do curso e da pesquisa. Uma das
tcnicas usadas
-
20
para a divulgao do curso foi o envio de um panfleto informativo
a diversas listas e
grupos via correio eletrnico. O curso aconteceu no Ncleo de
Ensino e Pesquisa
em Portugus para Estrangeiros (NEPPE) e teve duas turmas
simultaneamente com
dois professores regentes e uma professora observadora.
O material utilizado no curso foi elaborado a partir de
observaes, anlises e
investigaes sobre o tema e caracteriza-se como um dos pilares
metodolgicos
desta pesquisa. Foram levados em considerao no momento da
concepo do
material temas que pudessem ser de relevncia e interesse para os
aprendizes
colaboradores e que, portanto, auxiliassem na aprendizagem das
expresses
idiomticas do portugus. Por caracterizar-se como uma interveno
no ambiente de
ensino proposta a partir da observao de um problema, esta
investigao encontra
seu embasamento metodolgico na pesquisa-ao.
O captulo III descreve os procedimentos metodolgicos, elucidando
o tipo de
pesquisa, sua justificativa, contexto, participantes,
instrumentos de coleta de dados e
ferramentas para realizao deste estudo.
1.4 Estrutura da dissertao
Esta pesquisa est dividida em quatro captulos. O primeiro o
captulo
introdutrio, chamado Acertando os ponteiros, que descreve as
motivaes que
levaram realizao desta investigao, os objetivos do estudo e
oferece um
panorama sobre os procedimentos metodolgicos utilizados para que
a pesquisa
fosse possvel; o captulo de fundamentao terica, chamado de
Colocando as
cartas na mesa, que trata das teorias consideradas relevantes e
que nortearam este
trabalho; o captulo de metodologia da pesquisa, chamado
Arregaando as mangas,
que descreve os procedimentos metodolgicos utilizados e a
motivao para a
escolha do tipo de pesquisa, justifica os instrumentos
utilizados e apresenta os
participantes da pesquisa e o material didtico desenvolvido para
a realizao do
curso, fruto da pesquisa-ao. No captulo quarto, Colocando as mos
na massa,
feita a anlise dos dados levantados, a anlise dos materiais base
escolhidos e a
-
21
triangulao dos dados. A eleio do formato grfico para apresentao
da anlise
ampara-se no interesse em refletir nesta seo o processo de
produo do material
didtico, um dos objetos centrais desta pesquisa. Finalmente, no
captulo reservado
s consideraes finais, chamado Abrindo novos caminhos, so
discutidos os
possveis desdobramentos desta investigao.
-
22
CAPTULO 2 COLOCANDO AS CARTAS NA MESA
2.1 Introduo
O presente captulo traz as bases tericas que se mostraram
relevantes para
a realizao do trabalho. Nele mostramos ao leitor o fluxo da
construo da
pesquisa, com diferentes vises de autores que se consagraram na
rea. Os tpicos
abordados so baseados nos pressupostos tericos da matriz
fraseolgica em
lnguas-culturas prximas.
2.2 O caso do portugus e do espanhol: irmos de sangue ou amigos
da ona?
O portugus e o espanhol so idiomas oriundos da mesma grande
famlia do
Latim (ALMEIDA FILHO, 2001). Por conviverem por muitos sculos em
situao
fronteiria na pennsula Ibrica, os dois idiomas desenvolveram
semelhanas e
caractersticas muito particulares, somente possveis em situaes
geogrficas como
aquelas. Com a expanso martima de Portugal e Espanha e os
acontecimentos
histricos que se seguiram, as mesmas condies de convivncia lado
a lado foram
reproduzidas no territrio sul-americano. Dessa forma, o portugus
e o espanhol
continuam sendo no mundo moderno lnguas que compartilham formas,
estruturas e
vocabulrio bastante semelhantes.
Almeida Filho (2001) afirma que para os aprendizes de portugus
falantes de
espanhol existe um apagamento da categoria de iniciante
verdadeiro, uma vez que a
proximidade entre os dois idiomas possibilita o que ele chama de
quase falar. Esse
fato leva os aprendizes a acreditarem que no precisam estudar
portugus, pois o
aprendem naturalmente. Sendo assim, o fenmeno relatado pelo
autor provoca, no
raramente, constrangimentos e incompreenses por parte de seus
interlocutores,
alm de facilitar a fossilizao de uma interlngua imatura, pautada
em estruturas
gramaticais e lexicais equivocadas.
-
23
O autor2 ressalta ainda que no campo lexical, alm da grande
quantidade de
falsos cognatos que apresentam as duas lnguas, o lxico informal,
usado no dia-a-
dia das interaes sociais do aprendiz ainda mais distante do que
o lxico formal.
O autor justifica essa afirmao pelo princpio lingustico de que
quanto mais se usa
uma forma da lngua, mais irregular ela se torna. Neste mbito,
algumas palavras,
expresses idiomticas, frases feitas, provrbios e refres podem
manter
significados convergentes ou no.
Ferreira (2002, p. 150) afirma que no caso de as expresses serem
idnticas
nos dois idiomas, o aprendiz necessita apenas conscientizar-se
de sua existncia
para us-las. Porm, relata tambm que o uso inadequado dessas
expresses pode
causar mal-entendidos e rudos na comunicao. A pesquisadora
explicita que os
pesquisadores da rea h muito tempo voltaram seu olhar para a
necessidade de
contrastar os dois idiomas a fim de se encontrar semelhanas e
diferenas.
Entretanto, o momento agora de aprofundar-se no tema, usando os
dados obtidos
para a elaborao de materiais didticos especficos para este
pblico, evitando
assim, o que a autora chama de armadilhas lexicais e problemas
graves de
transferncia negativa.
Muitas transferncias negativas de lxico em diferentes funes da
lngua j
foram levantadas, como o uso de preposies inadequadas regncia
verbal,
vocabulrio com significados diferentes nos dois idiomas, a troca
de vogais, de
consoantes e de sufixos, a mudana de gnero que podem impedir a
compreenso
(Carmolinga, in FERREIRA, 2002). Este estudo pretende ir mais
fundo na questo
lexical, pois no tem como objetivo analisar e contrastar
aspectos formais da lngua.
Ao contrrio, busca compreender como o estudo das expresses
idiomticas,
combinaes fraseolgicas que expressam traos culturais e
constituem uma fonte
inesgotvel de sabedoria popular de cada nao, pode minimizar as
dificuldades na
compreenso e aquisio da lngua portuguesa por aprendizes falantes
de espanhol
e, consequentemente, diminuir a incidncia de frustrao e
desconforto na utilizao
dessa lngua para comunicao. A incidncia do uso de fraseologismos
alta no
2 ALMEIDA FILHO, 2001.
-
24
cotidiano de qualquer povo e atribui uma relao de valor do homem
com o mundo
atravs da lngua. No prximo tpico discorreremos sobre a teoria
fraseolgica.
2.3 A Teoria fraseolgica
Na Europa oriental, o estudo da fraseologia remonta ao sculo
XVIII, com a
publicao da Gramtica da Lngua Russa, por Mixail Vasil'evic
Lomonosov. Nesta
gramtica, considerada a primeira em lngua russa, o autor
destacava a existncia
de combinaes de palavras e expresses. Um sculo depois da
publicao de
Lomonosov, foi a vez de V. I. Dal' dar ateno s unidades
fraseolgicas em seu
Dicionrio da grande lngua russa viva, publicado entre 1863 e
1866 em quatro
volumes e em um trabalho chamado Provrbios do povo russo,
criando o primeiro
ttulo sobre o tema. No sculo seguinte, o interesse pelas
unidades fraseolgicas
continua e o surgimento das escolas lingusticas de Kazan e de
Moscou
contriburam para o desenvolvimento dos estudos da fraseologia na
Rssia.
(SUREZ CUADROS, 2006, pp. 1000 -1001).
Porm, foi no sculo XX que a fraseologia se firmou como uma rea
cientfica,
principalmente com as pesquisas feitas por Viktor Vladimirovich
Vinogradov sobre a
tipologia, a estrutura, a base semntica e a relao entre as
palavras dentro das
unidades fraseolgicas, classificadas pelo autor russo moderno.
Ainda segundo a
autora, Vinogradov categoriza as expresses idiomticas como
aquelas unidades da
lngua com sentido em si prprias, sendo, portanto, semanticamente
indivisveis e as
combinaes, como carentes de significado integral e decomponveis3
(MENNDEZ,
2010).
Pesquisas feitas na Espanha e em Cuba tambm foram decisivas para
a
difuso da fraseologia como cincia. Zoila Carneado Mor (1982,
1985) e Antonia
Maria Trist Prez (1987, 1998), pesquisadoras cubanas, trouxeram
importantes
contribuies para os estudos fraseolgicos na dcada de 1980, ainda
bastante
3 Traduo nossa.
-
25
influenciadas pela escola lingustica sovitica. Em sua publicao
Fraseologa y
contexto, Trist (1988) define fraseologia como "o conjunto de
modos de expresso
peculiares a uma lngua, grupo, poca, atividade ou indivduo"4 e
considera que no
caso das expresses idiomticas, o sentido geral da frase, pode no
se assemelhar
ao sentido original das palavras isoladas, adquirindo, portanto,
sentido prprio e
vinculado ao contexto em que se aplicam.
Gloria Corpas Pastor publicou, em 1996, seu Manual de
Fraseologa
Espaola, em que trata de descrever, sistematizar e classificar
os fenmenos
fraseolgicos em trs esferas distintas: as colocaes, as locues e
os enunciados
fraseolgicos, sendo nestes ltimos onde estariam alocadas as
expresses
idiomticas. A autora, com o objetivo de levar a conhecer as
pesquisas feitas na
rea da fraseologia, publica em 2002, juntamente com Kroly
Morvay, o artigo
intitulado Los estudios de fraseologa y fraseografa en la
Pennsula Ibrica. Esta
publicao traz um panorama da histria da fraseologia como cincia,
ligada rea
da lingustica e comenta as principais obras publicadas e eventos
organizados na
rea, focando a sua ateno ao final da dcada de 1990 e os
primeiros anos da
dcada de 2000 para os trabalhos de investigao realizados em
ambientes
diferenciados onde se fala e aprende a lngua-alvo.
No Brasil, os primeiros estudos que versam sobre a fraseologia
datam do
incio do sculo XX, com a obra Frases feitas: estudo conjectual
de locues,
ditados e provrbios, do autor Joo Ribeiro, alm de diversos
dicionrios de
expresses populares e de provrbios. Em meados da dcada de 1990 e
incio dos
anos 2000, aumenta o interesse pela rea da fraseologia e h um
incremento
importante nas pesquisas, porm os estudos fraseolgicos no Brasil
ainda no so
comparveis aos estudos desenvolvidos em alguns pases europeus,
por exemplo
(ORTIZ ALVAREZ, 2012, p. 355 e 359).
Nogueira (2008), em sua dissertao de mestrado intitulada A
presena das
expresses idiomticas na sala de aula de espanhol - lngua
estrangeira para
brasileiros fez um levantamento das principais pesquisas
desenvolvidas na rea de
4 Traduo nossa.
-
26
fraseologia entre os anos 1980 e na atualidade. Em 2011, Braslia
foi sede do II
Congresso Internacional de Fraseologia e Paremiologia e do I
Congresso Brasileiro
de Fraseologia. Pesquisadores das reas de fraseologia e
paremiologia de vrias
partes do mundo participaram do evento e, a partir das palestras
e comunicaes
apresentadas, foi publicada a obra Tendncias atuais na pesquisa
descritiva e
aplicada em fraseologia e paremiologia em dois volumes.
Monteiro-Plantin (2011, p. 250) afirma que o termo fraseologia
vem sendo
usado tanto para descrever os fenmenos fraseolgicos como para
nomear a
disciplina de estudo em si. Nesta pesquisa, concordamos com o
conceito de
fraseologia defendido por Ortiz Alvarez e Huelva Unternbumen
(2011, p. 9) como
sendo
a cincia que estuda a combinao de elementos lingusticos de
uma
determinada lngua, relacionados semntica e sintaticamente,
cujo
significado dado pelo conjunto de seus elementos e no pertencem
a uma
categoria gramatical especfica.
Ruiz Gurillo (2000) esclarece que a fraseologia uma cincia que
se
caracteriza por ser interdisciplinar, dialogando com diversas
reas do saber, como a
Histria, a Sociologia, a Antropologia, a Lingustica e a
Lingustica Aplicada, sendo
essa ltima nosso ponto de interesse, pois os estudos
fraseolgicos na rea de
traduo, com as pesquisas sobre a tradutibilidade das unidades
fraseolgicas, de
lexicografia, com trabalhos de compilao das unidades
fraseolgicas (doravante
UFs) nos dicionrios e a rea de ensino/aprendizagem de lnguas (em
que se insere
o nosso estudo) colocando essas unidades dentro da sala de aula
de LE, tem trazido
um aporte importante para a discusso e difuso desse campo.
Aps a explanao sobre o incio dos estudos fraseolgicos e o lugar
em que
a discusso atual se encontra, discutiremos as unidades
fraseolgicas que
compem o acervo lexical e cultural de uma lngua, as suas
caractersticas e a
relao entre seus componentes.
-
27
2.3.1 As unidades fraseolgicas: caractersticas especficas e
relao
dos seus componentes
Como foi demonstrado anteriormente, nos ltimos anos tem crescido
o
nmero de pesquisas fraseolgicas, porm, o que se percebe ainda,
uma falta de
consenso entre os pesquisadores sobre a taxionomia da rea, no
havendo,
portanto, concordncia no que tange classificao e catalogao das
unidades
fraseolgicas. Algumas caractersticas, no entanto, so mais
recorrentes, como a
questo da dificuldade em traduzi-las sem perder a essncia da
mensagem que
transmitem; a relao semntica interna que mantm seus componentes,
a
pluriverbalidade e a estabilidade ou fixao de seus
componentes.
Nesta pesquisa, optamos pela descrio feita por Corpas Pastor
(1996) que
prope uma classificao das UFs em espanhol e considera os
critrios utilizados
por outros autores para classific-las como insuficientes para
subsidiar uma
taxonomia das UFs. A autora prope a combinao do critrio de
enunciado com o
da fixao, subdividindo as UFs em trs macro-esferas: na Esfera I,
encontram-se as
colocaes, na Esfera II, as locues e, na Esfera III, os
enunciados fraseolgicos.
As colocaes so sintagmas completamente livres que apresentam um
certo
grau de rigidez quanto sua combinao. As locues no constituem
enunciado
completo e atuam como elementos oracionais. Os enunciados
fraseolgicos
caracterizam-se como atos da fala, apresentando uma fixao
interna e externa.
Pelo exposto, entendemos que Corpas Pastor (1996) denomina
as
expresses idiomticas de locues e as diferencia dos enunciados
fraseolgicos
por se referirem a situaes precisas em contraposio ao alto grau
de
generalidade, por permitirem certas transformaes e inseres,
diferente dos
enunciados fraseolgicos que no permitem mudanas para alm das
de
concordncia e por pertencerem ao universo da lngua, enquanto os
enunciados
fraseolgicos pertencem ao universo cultural da comunidade
falante.
-
28
2.4. As expresses idiomticas. Questes de uso e contexto
A expresso idiomtica uma unidade fraseolgica com
caractersticas
prprias que a diferenciam de outras unidades. Seu ensino
desperta, na maioria das
vezes, interesse e curiosidade nos aprendizes, pois, carregam em
si aspectos
culturais caractersticos de uma comunidade de falantes. O
registro coloquial,
cenrio onde figuram as expresses idiomticas, da lngua deve ser
ensinado aos
aprendizes de lngua estrangeira, bem como as suas funes e seu
sentido.
Assim, o aspecto mais importante da expresso idiomtica o
significado que
ela adquire no contexto em que os falantes a usam. Ortiz Alvarez
(2009) explica a
esse respeito:
O seu significado no pode ser calculado pela soma dos
significados das
palavras que a compem, pois, ao absorverem um sentido metafrico,
as
palavras que integram a expresso perdem sua independncia lexical
como
palavras e ganham um novo sentido a partir de uma subordinao
ao
conjunto frasal, inclusive podendo adquirir um significado que
no se ajusta
realidade referencial.
Em concordncia com o exposto pela autora, as expresses
idiomticas so,
portanto, estruturas que adquirem um sentido nico em um contexto
de uso
especfico e que o seu significado global no depende dos
significados dos
elementos que as constituem. Seu significado metafrico, na
maioria das vezes
opaco, e seu carter indecomponvel do s expresses idiomticas a
funo na
lngua de se falar algo que precisa ser dito de uma maneira
sutil, irnica, velada ou,
at mesmo, entusiasta e emotiva.
Ferraro (2000) refora que as UFs to difundidas em todas as
lnguas
facilitam por similaridade a aprendizagem de uma segunda lngua
ampliando as
possibilidades expressivas e a capacidade comunicativa dos
estudantes. Nota-se,
portanto, a relevncia do estudo das expresses idiomticas no
processo de
ensino/aprendizagem de lnguas, j que o aprendiz talvez no tenha
elementos
-
29
lingusticos e culturais suficientes para decodificar o sentido
de tais unidades
fraseolgicas e analisar o contexto de uso das mesmas. A seguir
abordaremos as
questes que envolvem o ensino das expresses idiomticas e os
aspectos
considerados relevantes.
2.4.1. A fraseodidtica
Diferente da falta de um acordo entre os pesquisadores com
relao
classificao das unidades fraseolgicas, h um consenso no que diz
respeito
complexidade do processo que envolve o ensino/aprendizagem das
unidades
fraseolgicas e, especificamente no caso deste estudo, das
expresses idiomticas.
certo que h alguns fatores que impedem a aquisio imediata dessas
unidades
por parte dos alunos, como so os aspectos formais, semnticos (a
idiomaticidade)
e contedos pragmticos, dentre outros. Portanto, cabe ao
professor selecionar as
UFs a serem trabalhadas pelos alunos, de acordo com o nvel em
que se encontram.
Baptista (2012, p. 39) salienta que as UFs so caracterizadas
pela ampla
variedade de funes que desempenham e que seu significado opaco,
metafrico ou
figurado muitas vezes dificulta a decodificao dos significados
pelos aprendizes de
uma LE.
Ortiz Alvarez, Rabasa Fernndez e Tchobnova (2011, p. 306)
explicam que
as expresses idiomticas so plurivocabulares ou polilexicais
adquirindo dessa
forma um significado que aceito e partilhado por uma comunidade
de falantes.
Obviamente, se o aprendiz no faz parte dessa comunidade, resulta
difcil a
compreenso desse sistema lingustico.
Assim, entendemos que as expresses idiomticas devem ser
ensinadas na
lngua materna e na lngua estrangeira, por dois motivos
essenciais; o primeiro que
o aprendiz usa em suas interaes em lngua materna as expresses
tpicas do seu
idioma, que so carregadas de valor cultural, e sentir
necessidade de fazer o
mesmo na lngua que est aprendendo; e o segundo que entendendo
como
funcionam as regras e os sentidos implcitos da lngua, o aprendiz
identifica-se com
o grupo no qual est inserido e comea a sentir-se parte
integrante dele.
-
30
Portanto, defendemos que o ensino das expresses idiomticas
deva
acontecer desde o incio do processo de ensino/aprendizagem,
adequando as
expresses ao nvel de proficincia que o aprendiz possui. Dessa
forma, ele no se
sentir acuado ao se deparar com o uso dessas unidades em seu
cotidiano.
Destaca-se assim a relevncia da fraseodidtica, que, segundo o
nosso
entendimento, a disciplina que estuda, discute e reflete sobre a
importncia do
ensino dos fraseologismos nas salas de aula de lngua
estrangeira.
Em novembro de 2011, no II Congresso Internacional de
Fraseologia e
Paremiologia e o I Congresso Brasileiro de Fraseologia foram
discutidos aspectos do
tratamento das expresses idiomticas nos materiais didticos e nos
contextos
formais de aquisio de LE.
Na conferncia intitulada Didctica de la fraseologa y de la
paremiologa,
pronunciada pela professora Inmaculada Penads Martnez, foi
possvel notar a
preocupao dispendida ao ensino das unidades fraseolgicas. A
pesquisadora
taxativa ao afirmar que o ensino/aprendizagem das expresses
idiomticas deve
fazer parte da sala de aula por cinco motivos:
1. O ensino das unidades fraseolgicas e das parmias contemplado
no
Marco Comum Europeu de Referncia5;
2. A incluso de tpicos sobre as unidades fraseolgicas nos exames
do
DELE6 e nos exames de proficincia em lngua estrangeira
3. A presena de unidades fraseolgicas e parmias nas produes
orais e
escritas dos falantes nativos demanda a compreenso das mesmas
pelo
aprendiz;
5 O Marco Comum Europeu de Referncia fornece um padro de aferio
da compreenso oral e
escrita para todas as lnguas, sendo utilizado como norteador
para estabelecer nveis de proficincia
em uma lngua estrangeira.
6 O Diploma de Espaol como Lengua Extranjera tem como objetivo
aferir o nvel proficincia de candidatos estrangeiros na lngua
espanhola.
-
31
4. As unidades fraseolgicas e parmias constituem um reflexo da
cultura
especfica de uma sociedade, portanto essencial o seu
conhecimento e
estudo;
5. O aprendiz de uma LE constantemente tenta aprimorar a sua
competncia
comunicativa na lngua-alvo aumentar a sua bagagem cultural
nessa
lngua e, nesse sentido, inevitvel que sinta necessidade de
conhec-las
e utiliz-las na lngua que est aprendendo. (PENADS MARTNEZ,
2012,
p. 97)
Ainda segundo Penads Martnez, h uma srie de elementos que devem
ser
considerados para orientar a didtica dos refres e das locues. A
autora sugere
ainda que os professores que trabalhem com o ensino dessas
unidades
fraseolgicas, as apresentem seguindo uma srie de pautas (2012,
p. 102):
Devem estar contextualizados dentro de um pequeno fragmento e
sua forma e
significado devem estar explcitos,
Convm oferecer um pequeno conjunto e no apenas um refro ou uma
locuo, ou
seja, em uma sesso conveniente trabalhar com vrios
elementos;
melhor que as unidades fraseolgicas em sentido amplo, mostradas
ao aluno para
uma determinada atividade, pertenam mesma classe, pois tero
um
comportamento homogneo que facilitar a compreenso;
Na medida do possvel, sua origem deveria ser explicada isso pode
ajudar a ter uma
noo do significado e seu registro de uso: contexto formal,
informal, vulgar, restrito
ou se tem um uso neutro,
Seria bom estabelecer a correspondncia e o contraste dos refres
e das locues da
L2 com os da lngua materna do aluno, se existem equivalncias
entre as lnguas;
Ao apresentar estas duas classes de unidades fraseolgicas seria
mais vivel agrup-
las, ou seja, seria mais adequado reunir aquelas que apresentam
uma palavra ou
elemento comum.
Tabela 1
-
32
Ortiz Alvarez tambm faz uma pequena lista de objetivos
especficos em
exerccios com expresses idiomticas (1998, p. 109):
Permitir que os alunos interpretem objetivamente a informao
contida na
expresso.
Explicitar a importncia da escolha de certas expresses na
determinao do valor
argumentativo de um texto.
Levar os alunos aquisio de outros meios lingusticos para
expressar essas
relaes de maneira mais precisa e diferenciada.
Permitir que os alunos sejam capazes de interpretar
sistematicamente as intenes
de comunicao de seus interlocutores, principalmente quando esto
explcitas no
texto.
Tabela 2
As autoras supramencionadas discorrem sobre os instrumentos
didticos
disponveis e as possibilidades de utilizao destes para o ensino
adequado das
unidades fraseolgicas, de modo a obter o melhor rendimento
possvel do aprendiz
de uma lngua estrangeira. Em consonncia com as autoras,
defendemos que a
Fraseodidtica deve ser aplicada ao ensino das expresses
idiomticas e dos
elementos culturais que as compem, de modo a orientar os
processor de produo,
adequao e utilizao de um material didtico que tenha como base a
abordagem
intercultural.
2.4.1.2. O ensino das expresses idiomticas em portugus lngua
estrangeira:
uma abordagem intercultural
A abordagem intercultural exige muito mais do que a vontade de
ensinar e
aprender sobre a nova cultura e o respeito pelas diferentes
perspectivas e formas de
-
33
decodificar o mundo. Requer vontade de mudar, a fim de entender
a perspectiva do
outro, reconhecer e desconstruir preconceitos, estar aberto para
aprender no
somente sobre, mas com a cultura do outro. Portanto, fundamental
que os
materiais didticos e os professores viabilizem a aprendizagem
intercultural.
Possuir competncia comunicativa intercultural significa ter, alm
de um certo
domnio da estrutura formal do sistema lingustico, a capacidade
de reconhecer
aquilo que faz sentido para o grupo com o qual interage ao fazer
uso da lngua.
Deve despertar a curiosidade dos aprendizes a respeito de outras
culturas, auxili-
los a reconhecer que as variveis socioculturais afetam o estilo
de vida das pessoas
e que a comunicao eficiente depende da maneira como,
culturalmente
condicionadas, as pessoas pensam e agem. Ainda, deve levar o
aprendiz a avaliar
as generalizaes que faz sobre as diferentes culturas a partir
das evidncias de
que dispe. (FONTES, 2002, p. 179)
Os materiais didticos representam, se no a principal, uma das
mais
importantes fontes de contedo relevante para a promoo da
aprendizagem, mas
podem, por outro lado, servir como bloqueio para o
desenvolvimento da interao e,
consequentemente, da aprendizagem. Contudo, a maior parte dos
materiais
disponveis no d conta da diversidade exigida para um
ensino/aprendizagem de
LE que incentive relaes interculturais e tenha base
comunicativa. Os materiais
tambm devem organizar as suas atividades e tarefas dentro de
ambientes propcios
para a prtica comunicativa da lngua-cultura e deslocar o foco na
estrutura da
lngua para o uso comunicativo da lngua-cultura.
Nesse sentido, Mendes (2004) assevera que
Professores e aprendizes, desse modo, devem aprender a
compartilhar na sala de aula, alm do conhecimento relativo lngua
que est sendo ensinada e aprendida, toda uma rede de conhecimentos
e informaes que fazem parte dos seus mundos culturais especficos,
fazendo de cada sujeito em interao uma fonte complexa e
diversificada de conhecimento potencial (MENDES,
2004, p. 16-17).
E mais adiante argumenta, Ser e agir de modo intercultural
inclui a atitude de contribuir para que esse mundo que
enxergamos,
-
34
com todas as suas diferenas, transforme-se, torne-se tambm
nosso, faa-nos os mesmos, diferentes (MENDES, 2004, p. 58).
O encontro entre lnguas-culturas diferentes ou entre indivduos
diferentes,
nos leva a refletir sobre a nossa prpria lngua, sobre a nossa
prpria realidade.
A interao de padres culturais variados, crenas e valores que
cada interlocutor traz ao processo de comunicao intercultural deve
ser reconhecido em todo ato comunicativo; quanto maior a variao
destes padres, mais forte torna-se a fora divisiva de tais
variantes e maiores so as chances de falhas na comunicao (Damen
1987, p. 24).7
Na contemporaneidade, conceitos como lnguas estrangeiras,
fronteiras entre
pases e comunidades de falantes, apresentam um aspecto muito
mais fluido do que
h alguns anos. Com o advento da internet, o acesso s informaes,
s lnguas e
culturas que no a nossa, tornou-se rpido e tangvel.
Koch defende que a conversao , antes de tudo, um ato social e
no
simplesmente um ato de dizer e querer dizer, pois os indivduos
envolvidos
interagem e se representam por meio dos enunciados produzidos. A
autora explica
que os interlocutores de uma conversao inter-agem (2010, p. 75)
de acordo com
um conjunto de regras implcitas e que fazem parte de uma
determinada
comunidade de falantes, ou seja, o desconhecimento dessas regras
por parte de um
dos falantes pode causar rudos na comunicao dos pares. Para
exemplificar este
fato, recorre a um ato que considera tpico dos brasileiros,
ressaltando que quando
um interlocutor nos solicita ou demanda algo, como ir ao cinema,
por exemplo,
prefervel socialmente que, ao declinar o convite, justifique-se
a negao, de
maneira que no soe pouco gentil (p. 126).
Em convergncia com os aspectos considerados relevantes por Koch
(2010) para a
comunicao eficiente, Mendes enaltece a capacidade de
comunicar-se
adequadamente em diferentes contextos de uso da linguagem,
inclusive dominando
os diferentes tipos de interdies e sanes que podem gerar
curtos-circuitos na
comunicao (2010, p. 73) de um aprendiz de lngua estrangeira.
Desta forma, as
autoras demonstram o que Byram et al (2002) tambm corroboram que
conhecer
7 Traduo nossa.
-
35
simplesmente os aspectos formais e estruturais de uma lngua no
suficiente para
desenvolver de maneira adequada a competncia comunicativa nos
aprendizes. O
conhecimento dos valores culturais expressos pela prpria lngua
uma importante
contribuio na aprendizagem e pode evitar a ocorrncia de situaes
embaraosas
e mal-entendidos.
Entender a cultura do Outro, sem julg-la ou interpret-la com
preconceitos
um dos objetivos para o novo aprendiz de lngua estrangeira,
proposto por Byram et
al. Na introduo do trabalho intitulado Developing the
intercultural dimension in
language teaching, os pesquisadores afirmam que os aprendizes no
necessitam
apenas de conhecimento na gramtica de uma lngua, mas tambm, a
habilidade de
usar a lngua de maneira social e culturalmente apropriada8
(BYRAM et al, 2002, p.
4). Assim, os autores apresentam em um manual, organizado em
forma de
perguntas e respostas, como os professores de uma lngua
estrangeira podem
ajudar seus aprendizes a desenvolverem a competncia
intercultural. Aspectos
como interao e identidades sociais assumidas por um falante
nativo e um falante
no nativo, o material didtico adotado pelo professor e a forma
de trabalh-lo em
sala de aula, a motivao de aprendizes e professores para a lngua
estrangeira
estudada, so discutidos com a finalidade desenvolver nos
aprendizes a
competncia intercultural tanto quanto a competncia lingustica;
prepar-los para
interagir com pessoas de outras culturas; capacit-los a entender
e aceitar pessoas
de outras culturas como indivduos que tm suas prprias
perspectivas, valores e
comportamentos; e ajud-los a ver que tal interao uma
experincia
enriquecedora. (BYRAM et al, p.10)9
Mendes e Castro (2008, p. 69) questionam se existe realmente
uma
compreenso profcua sem que se levem em conta aspectos que vo alm
da lngua
como estrutura fixa, que dada pronta pelo professor ou pelo
material didtico. Em
seguida, esclarece que para que o processo de
ensino/aprendizagem possa permitir
aos seus participantes vivenciarem experincias autnticas na e
com a lngua,
importante o contexto no qual a interao ocorre. Assim, incluir
no ensino de lnguas
o ensino das expresses idiomticas significa propiciar ao
aprendiz a chance de
8 Traduo nossa.
9 Traduo nossa.
-
36
interagir de maneira mais igualitria com os indivduos membros da
sociedade na
qual vive, pois, ele ser capaz de repensar sua maneira de ver,
dizer e interpretar a
lngua do outro, contrapondo-a com a sua prpria e, em alguma
medida, identificar-
se com a nova lngua e cultura.
O contexto onde as interaes aprendiz-aprendiz, aprendiz-livro
didtico e
aprendiz-falante nativo ocorrem tambm de grande importncia para
a validao
dos dados deste estudo, uma vez que, a proposta aqui analisar a
compreenso, o
uso e o ensino das expresses idiomticas nos contextos
supracitados. Dessa
maneira, as interaes dentro de sala de aula formaro o contexto a
ser analisado
para que se obtenham as respostas s perguntas norteadoras
formuladas, pois,
segundo Marcuschi (2007, p. 76) o contexto inalienvel em
qualquer atividade
interativa para a produo de sentido.
2.5. Produo de materiais didticos
O mercado editorial de materiais didticos (MDs) de PLE no
Brasil, sofre com
a pouca variedade de materiais, especialmente, se pensarmos em
necessidades
especficas. Diniz et al (2009) apontam algumas lacunas que
existem no mercado
editorial de LD, como materiais especficos para falantes de
espanhol, para
aprendizes em situao de imerso e para universitrios que esto
desenvolvendo
seus estudos de graduao e ps-graduao no Brasil. essa lista
podemos
acrescentar livros especficos para determinadas faixas etrias
(crianas,
adolescentes, terceira idade) e que trabalhem com as novas
tecnologias (cursos a
distncia, plataformas on line), por exemplo. Embora tenha havido
um crescimento
nas pesquisas e na produo de materiais de PLE nos ltimos dez
anos, os
professores ainda tm dificuldade em encontrar livros adequados
realidade de
suas salas de aula. No entanto, importante reconhecer o papel do
MD em sala de
aula e ressaltar que ele , muitas vezes, o principal ou o nico
guia para o
professor, indicando quais temas, contedos lexicais ou
gramaticais e quais
competncias desenvolver. As autoras tambm discutem a relevncia
do MD para
-
37
os dilogos interculturais dentro da sala de aula de LE e chamam
ateno para a
capacidade que ele tem de reforar ou desconstruir esteretipos e
favorecer uma
maior ou menor identificao com outras culturas (DINIZ et al,
2009, p. 290).
Outra reflexo que sugerimos com relao aos MDs a estruturao,
organizao e separao dos contedos em caixinhas, como se toda
a
aprendizagem pudesse ser ordenada e classificada da forma em que
est
explicitada no sumrio, nivelando os aprendizes de maneira
homognea e
desconsiderando, assim, suas necessidades especficas. Essa
distribuio, muitas
vezes, poda a criatividade do professor e sua capacidade de
inovar e de trazer para
o ambiente da sala de aula temas relevantes para cada grupo.
Sobre o
engessamento que o MD pode causar, Mendes (2004, p. 184)
reflete:
Ao usarmos a expresso "camisa de fora", estamos com isso
querendo
eleger uma metfora que, de forma abrangente, consiga revelar
uma
situao corriqueira em sala de aula de LE/L2. De uma maneira
geral
alunos e professores vem-se "atados" s instrues e contedos
impostos
pelo LD (livro didtico), o qual assume o papel central no
processo de
ensino/aprendizagem.
A metfora usada pela autora completa a ilustrao da imagem
das
caixinhas, proposta no pargrafo anterior; professores e
aprendizes amarrados,
encaixotados em nveis e contedos que no podem ser alterados ou
revisitados,
reformulados. Muitos professores, por sentirem a necessidade de
adaptar um ou
outro contedo aos seus grupos, comeam a produzir seus prprios
MDs.
Gottheim observa que os professores se relacionam de maneiras
diversas
com o MD e lista caractersticas de profissionais segundo suas
prticas: aquele que
segue o livro risca, no fazendo nenhuma adaptao ou complementao,
aquele
que reflete sobre os objetivos gerais do curso e sobre as
necessidades especficas
dos aprendizes produzindo materiais que possam suprir essas
demandas. A autora
ainda explicita que para que a produo seja mais profcua e
relevante, os
-
38
professores, aps perceberem uma lacuna nos materiais existentes
e/ou ter ideias
de como realizar um ensino/aprendizagem diferente (2007, p. 60)
deveriam buscar
fontes alm do material que usam em suas aulas e produzir,
analisar, avaliar e
discutir os resultados em conjunto, formando uma equipe crtica
capaz de rever esse
processo de forma cclica.
Leffa (2008, p. 16) prope uma srie de etapas para a criao e
elaborao
de materiais didticos para o ensino de LE. Entendemos que essas
etapas ocorrem
de forma cclica e infinita, pois cada uma sempre se reflete na
adequao da
prxima.
Figura 1 Leffa (2008)
-
39
Como j explicitamos no captulo introdutrio, a gnese do MD Tintim
por
tintim, se justifica pela lacuna existente nos materiais de PLE
com relao ao ensino
das Eis. A elaborao do referido material didtico foi baseada nas
etapas propostas
por Leffa (2008). Inicialmente, foi feito um levantamento dos MD
j existentes,
analisando como e em quais desses materiais eram includas e
sistematizadas as
expresses idiomticas e, a partir da, iniciamos o processo de
criao,
desenvolvimento e implementao do material. importante que o MD
seja
sistematicamente avaliado pelo professor que o aplica e pelos
aprendizes, para que
possam ser realizadas as reformulaes e atualizaes
necessrias.
-
40
CAPTULO 3 ARREGAANDO AS MANGAS
3.1 Introduo
Este captulo apresenta a metodologia de pesquisa usada, bem
como,
os instrumentos de coleta de dados. O nosso estudo se encaixa na
pesquisa
qualitativa, uma vez que pretendemos coletar, analisar as
interaes dos
participantes em suas prticas sociais utilizando expresses
idiomticas, dados
esses que ocorrem naturalmente, tentando estabelecer a relevncia
de algum
fenmeno (Silverman, 2009), no nosso caso, especificamente, a
compreenso e o
uso das expresses idiomticas pelos aprendizes de portugus
falantes de
espanhol. Diferente da pesquisa quantitativa, que prope por meio
da anlise de
dados estatsticos universalizar resultados, a pesquisa
qualitativa reivindica a
capacidade de revelar as prticas locais por meio das quais
determinados produtos
finais (histrias, arquivos, descries) so montados. Portanto,
importante ressaltar
que este estudo no tem a pretenso de extrapolar seus resultados
para outras
realidades que no as que foram delimitadas e explicitadas
aqui.
3.2 Contexto da pesquisa
Diversas universidades no centro-oeste brasileiro participam de
programas de
convnios com universidades sul-americanas e europeias e, por
isso, recebem com
regular frequncia estudantes de graduao, ps-graduao e tambm
professores
falantes de espanhol. Outro fator importante para o cenrio da
pesquisa o fato de
Braslia ser a capital do pas e abrigar as sedes diplomticas, com
os seus
respectivos representantes de Estado, de todos os pases de lngua
espanhola.
Portanto, a constante circulao de falantes de espanhol pela
cidade e, por
conseguinte, o crescente interesse dos pesquisadores da LA em
entender como
acontecem as interaes sociais destes estrangeiros em lngua
portuguesa outro
fator relevante.
-
41
3.3 A pesquisa
Este estudo configura-se pela sua natureza qualitativa de
cunho
interpretativista e de perspectiva mica que, conforme Roazzi
Os pesquisadores quando estudam um grupo cultural especfico
descrevem itens de comportamento que ocorrem neste grupo
utilizando
conceitos prprios desta cultura; em outras palavras, esta
abordagem
procura considerar todo o complexo de caractersticas
particulares
interligadas com todo o meio cultural. (1987, p. 37)
Bogdan apud Trivios (1987, p. 127-31) indica algumas
caractersticas a serem
tomadas como bsicas, para uma pesquisa qualitativa e
consideradas como reais,
para o presente estudo, a saber:
A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como fonte direta
dos dados e
o pesquisador como instrumento-chave;
A pesquisa qualitativa descritiva;
Os pesquisadores qualitativos esto preocupados com o processo e
no
simplesmente com os resultados e o produto;
O significado a preocupao essencial da abordagem
qualitativa.
O pesquisador precisa selecionar dentro dos materiais coletados,
os
assuntos de maior importncia, no deve limitar-se apenas a
descrever o que
observa, mas sim descrever tambm suas opinies, especulaes e
sentimentos.
Para elaborao de uma anlise necessrio que se construa um
conjunto
de categorias descritivas visando a diviso do material em grupos
em que os
elementos se assemelhem, mas sem perder a relao entre todos
os
componentes do material.
Os dados analisados foram obtidos a partir da realizao do curso
Tintim por
tintim: um curso de portugus para falantes de espanhol,
realizado no perodo
compreendido entre os dias cinco e dezesseis de novembro de
2012, com carga
horria de vinte horas. O material usado no curso foi produzido
por mim e tambm
-
42
atuei como professora regente de uma das turmas. Desta forma, a
nossa pesquisa
caracteriza-se por ser de interveno no ambiente de sala de aula,
realizada a partir
da observao de um problema detectado anteriormente. Com o
objetivo de
aprimorar a prtica docente e, consequentemente, a aprendizagem
de unidades
fraseolgicas to especficas como so as expresses idiomticas, este
estudo
encontra sua base metodolgica na pesquisa ao, definida por
Barbier (1985, p.
156) como uma atividade de compreenso e de explicao da prxis dos
grupos
sociais por eles mesmos, com ou sem especialistas em cincias
humanas e sociais
prticas, com o fito de melhorar essa prxis.
Para tal objetivo, o visionamento dos resultados da pesquisa com
os
colaboradores essencial, pois dar a chance pesquisadora de rever
seu mtodo
e suas interpretaes e mostrar aos colaboradores os benefcios
produzidos pelos
dados por eles fornecidos, melhorando e conscientizando-os da
lngua que usam.
Na triangulao dos dados, sero levadas em conta as interpretaes
da
pesquisadora e dos colaboradores da pesquisa em contraposio com
os tericos
que fundamentam este estudo. Isso confere pesquisa validade e
confiabilidade
dentro do contexto e do universo recortado para o estudo.
Silverman (2009) afirma
que o pesquisador no deve tentar encontrar uma verdade absoluta,
como se esta
fosse um tesouro esperando a ser descoberto. Pelo contrrio,
ressalta que na
pesquisa qualitativa o pesquisador deve tentar descobrir se seus
estudos so dignos
de crdito, utilizando a triangulao dos dados para tal feito.
Os participantes da pesquisa escolhidos so aprendizes de
portugus,
falantes nativos de espanhol, que tenham estudado ou estejam
estudando a lngua
portuguesa formalmente em cursos de extenso, dentro ou fora da
universidade,
com professores particulares ou de forma autnoma (autodidata) e
que declararam
possuir um nvel de proficincia intermedirio/avanado da lngua
portuguesa. Outro
fator importante para a pesquisa que os colaboradores
estivessem, no momento
do curso, em situao de imerso. No foi feito nenhum tipo de teste
para verificar o
real nvel dos participantes e foram aceitos todos os
interessados em participar do
curso desde que preenchessem os requisitos delimitados para a
pesquisa: ser
falante nativo de espanhol, ter estudado portugus em situao de
imerso, ter nvel
-
43
de portugus, no mnimo, intermedirio e ser maior de catorze anos.
Tambm foi
solicitado aos participantes total disponibilidade no horrio
estipulado para o curso.
3.4 O curso tintim por tintim
O curso Tintim por tintim teve como principal objetivo promover
a
aprendizagem das expresses idiomticas caractersticas do portugus
do Brasil em
um ambiente comunicativo, dentro de uma abordagem intercultural.
O curso
aconteceu no Ncleo de Ensino e Pesquisa de Portugus para
Estrangeiros10
(NEPPE) antigo Programa de Ensino e Pesquisa de Portugus para
Falantes de
Outras Lnguas (PEPPFOL), na Universidade de Braslia, nos dias 5,
6, 7, 8, 9, 12,
13, 14, 19 e 20 de novembro de 2012, das 19h s 21h. No calendrio
inicial do curso
estavam previstas aulas no sbado, dia 10, das 9h s 11h e na
sexta-feira, dia 16,
no perodo noturno. A pedido dos alunos, no houve aulas nessas
datas, sendo,
portanto, postergadas para os dias 19 e 20. O horrio escolhido
permitiu a
participao daqueles que trabalham ou estudam na universidade, ou
em outras
instituies de ensino. O curso, gratuito, teve carga horria total
de vinte horas e a
divulgao foi feita por meio de correio eletrnico e pela divulgao
de panfletos em
alguns pontos da universidade.
10 Naquele momento o PEPPFOL passava por uma reformulao e, no
perodo de implementao do
curso, ainda mantinha o nome antigo, apesar de j estar sob a
coordenao da Professora Doutora
Lcia Maria Assuno Barbosa, que assumiu a coordenao do NEPPE em
setembro de 2012. A
partir do ano de 2013, o NEPPE comeou a funcionar j com as novas
diretrizes.
-
44
Um nmero expressivo de interessados recebeu a informao por
intermdio
de um amigo ou conhecido, que se inscreveu no curso. Outro
aspecto a destacar a
participao de famlias. O nmero de vagas foi limitado a vinte
pessoas, pois, o
local onde est localizado o NEPPE possui trs salas com espao
mximo de vinte
aprendizes por sala. Porm, como a quantidade de interessados
excedeu em duas
vezes as vagas ofertadas, foi aberta uma segunda turma, nos
mesmos dias e
horrios com outro professor regente.
As inscries foram realizadas nas duas semanas que antecederam o
incio
do curso e os contatos com os interessados foram feitos sempre
via correio
eletrnico. Aos interessados em participar do curso, foi enviada
aos participantes a
Figura 2
-
45
ficha de inscrio com a solicitao de alguns dados pessoais. No
fim de semana
que antecedeu o incio do curso, tambm foram enviadas informaes
sobre o
material didtico e uma mensagem de boas-vindas em que se
reiteravam as datas e
horrio em que o curso aconteceria, alm de um mapa com a
localizao das salas
em que seriam ministradas as aulas.
3.5 Os materiais base: Portugus Via Brasil: um curso avanado
para
estrangeiros e Novo Avenida Brasil 3
A anlise documental constitui uma tcnica importante na
pesquisa
qualitativa, seja complementando informaes obtidas por outras
tcnicas, seja
desvelando aspectos novos de um tema ou problema. (LUDKE e ANDR,
1986).
Esse tipo de anlise compreende a identificao, a verificao e a
apreciao de
documentos para determinado fim. Funciona como expediente eficaz
para
contextualizar fatos, situaes e permite a localizao,
identificao, organizao e
avaliao das informaes contidas no determinado documento.
(MOREIRA, 2005)
Na pesquisa cientfica pode ser utilizada como:
Mtodo: o ngulo escolhido como base de uma investigao.
Tcnica: recurso que complementa outras formas de obteno de
dados.
No nosso caso foi utilizada como tcnica, pois o objetivo era
simplesmente verificar
como eram tratadas as expresses idiomticas, objeto do nosso
estudo, nos livros
didticos de PLE selecionados.
O mercado editorial de materiais didticos de PLE tm crescido
substancialmente nos ltimos anos. J h uma grande variedade de
livros com
diferentes propostas e objetivos, formatos que vo alm do
convencional material
impresso e que usam as novas tecnologias para atrair os
aprendizes. Para a
elaborao do material usado no curso, tomamos como base a anlise
de dois livros
didticos muito usados em cursos de portugus para estrangeiros:
Portugus Via
Brasil: um curso avanado para estrangeiros (VB) e o Novo Avenida
Brasil 3: curso
bsico de portugus para estrangeiros (AB). Estes dois livros so
destinados a
aprendizes de nvel intermedirio/avanado, apresentam contedos
gramaticais e
-
46
lexicais semelhantes e trazem na descrio de seus objetivos a
proposta de
trabalhar com diferentes aspectos da lngua portuguesa e da
cultura brasileira.
Neste momento, apresentaremos os materiais, suas descries e
objetivos e,
no captulo IV, ser feita a anlise, seguindo a categorizao
elaborada para esta
pesquisa. Faz-se importante ressaltar que no temos como objetivo
fazer uma
anlise exaustiva, portanto, nos restringiremos s categorias
criadas para que se
possa vislumbrar os objetivos desta pesquisa.
3.5.1 Portugus Via Brasil: um curso avanado para
estrangeiros
O material didtico Portugus Via Brasil: um
curso avanado para estrangeiros composto de livro
texto, manual do professor e CDs com a gravao dos
textos. O livro texto est dividido em dez unidades que
trazem uma ampla variedade de exerccios e
atividades. Cada unidade est disposta da seguinte
maneira:
APRESENTAO DAS UNIDADES DIDTICAS PORTUGUS VIA BRASIL
Texto inicial Textos de fontes diversas, seguidos de atividades
de interpretao
de texto, gramtica e vocabulrio.
Gramtica em reviso Retoma um tema gramatical que as autoras
julgam j ter sido
estudado at aquele nvel
Cotidiano Brasileiro Textos que tem como tema principal aspectos
culturais, histricos e
geogrficos brasileiros.
Linguagem coloquial Apresenta gneros textuais como a crnica, a
reportagem, a nota e
com temtica humorstica ou curiosa. Esta seo traz atividades
de
compreenso do texto e do vocabulrio e trabalha expresses
idiomticas, grias, metforas e outras unidades fraseolgicas.
Gramtica Nova (I) Atividades e exerccios elaborados a partir de
temas gramaticais
ainda no estudados.
Pausa Atividade com vocabulrio, principalmente unidades
fraseolgicas,
Figura 3
-
47
sem relao com o contedo que vem sendo discutido.
Gramtica Nova (II) Atividades e exerccios elaborados a partir de
temas gramaticais
ainda no estudados.
Ponto de vista Textos de temticas variadas que tem como objetivo
a produo,
oral ou escrita, do aprendiz.
Linguagem formal Apresenta gneros textuais literrios como o
conto, a prosa, a
poesia, etc. Esta seo traz atividades de compreenso de texto
e
de vocabulrio.
Tabela 3
Apesar de conter uma variedade expressiva de exerccios e
atividades de
produo oral e escrita e de compreenso escrita,