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Universidade Federal do Rio Grande FURG
Instituto de Educao - IE Programa de Ps-Graduao em Educao
Ambiental - PPGEA
V EDEA Encontro e Dilogos com a Educao Ambiental
Volume 1 Trabalhos Completos
Organizadores
Cludia da Silva Cousin Caio Floriano dos Santos
Wagner Valente dos Passos Carlos Roberto da Silva Machado
Humberto Calloni Filipi Vieira Amorim
Tamires Lopes Podewils Alana das Neves Pedruzzi
Anacirema da Silva Porciuncula Joselline Elena Rudez Guzman
Leidy Gabriela Ariza Claudionor Ferreira Arajo
Stfani do Nascimento Srgio Ronaldo Pinho Junior
EDIGRAF/FURG Rio Grande/RS
2013
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Universidade Federal do Rio Grande - FURG Instituto de Educao -
IE
Programa de Ps-Graduao em Educao Ambiental - PPGEA
V EDEA Encontro e Dilogos com a Educao Ambiental
A Educao Ambiental e os desafios da contemporaneidade
Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil 02 a 03 de dezembro de
2013
ISBN: 978-85-7566-312-7
EDIGRAF/FURG
Anais do V EDEA - Encontro e Dilogos com a Educao Ambiental. Rio
Grande, Rio Grande do Sul, Brasil: FURG, 02 e 03 de dezembro de
2013.
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E56 Encontro e Dilogos com a Educao Ambiental (5.: 2013 : Rio
Grande, RS). Anais do V EDEA - Encontro e Dilogos com a Educao
Ambiental / Claudia da Silva Cousin ...[et al.] (org) - Rio Grande,
RS, Editora da FURG, 2013.
2v.
Contedo: 1.v.: Trabalhos completos. 2.v.: Palestras. Evento
realizado na Universidade Federal do Rio Grande - FURG, no perodo
de 02 a 03 de dezembro de 2013.
Modo de acesso: http://www.educacaoambiental.furg.br/ ISBN:
978-85-7566-312-7
1. Educao. 2. Educao Ambiental. I. Cousin, Claudia da Silva. II.
Santos, Caio Floriano dos. III. Passos, Wagner Valente dos. IV.
Machado, Carlos Roberto da. V. Calloni, Humberto. VI. Amorin,
Filipi Vieira. VII. Podewils, Tamires Lopes. VIII. Pedruzzi, Alana
das Neves. IX. Porciuncula, Anacirema da Silva. X. Guzman,
Joselline Elena Rudez. XI. Ariza, Leidy Gabriela. XII. Arajo,
Claudionor Ferreira. XIII. Nascimento, Stfani do. XIV. Pinho
Junior, Srgio Ronaldo. XVI. Ttulo
CDD: 372.357
Os trabalhos publicados nos Anais do V EDEA Encontro e Dilogos
com a Educao Ambiental, no que se refere a contedo, correo
lingstica e estilo so de inteira responsabilidade dos respectivos
autores (as).
FICHA CATALOGRFICA Catalogao na fonte: Maria Helena Machado de
Moraes - CRB 10/2142
Anais do V EDEA - Encontro e Dilogos com a Educao Ambiental. Rio
Grande, Rio Grande do Sul, Brasil: FURG, 02 e 03 de dezembro de
2013.
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FICHA TCNICA Comisso Geral Wagner Valente dos Passos -
Universidade Federal do Rio Grande - FURG Caio Floriano dos Santos
- Universidade Federal do Rio Grande - FURG Humberto Calloni -
Universidade Federal do Rio Grande - FURG Claudia da Silva Cousin -
Universidade Federal do Rio Grande - FURG Carlos Roberto da Silva
Machado - Universidade Federal do Rio Grande - FURG Leidy Gabriela
Ariza - Universidade Federal do Rio Grande - FURG Joselline Elena
Rudez Guzman - Universidade Federal do Rio Grande - FURG Srgio
Ronaldo Pinho Junior - Universidade Federal do Rio Grande - FURG
Claudionor Araujo- Universidade Federal do Rio Grande - FURG
Comisso de Inscrio e Financeira Wagner Valente dos Passos -
Universidade Federal do Rio Grande - FURG Anacirema da Silva
Porciuncula - Universidade Federal do Rio Grande - FURG Caio
Floriano dos Santos - Universidade Federal do Rio Grande - FURG
Comisso Cientfica Alana das Neves Pedruzzi - Universidade Federal
do Rio Grande - FURG Filipi Vieira Amorim - Universidade Federal do
Rio Grande - FURG Stfani do Nascimento - Universidade Federal do
Rio Grande - FURG Tamires Lopes Podewils - Universidade Federal do
Rio Grande - FURG Editorao Eletrnica Maria Helena Machado de Moraes
- Universidade Federal do Rio Grande - FURG
Anais do V EDEA - Encontro e Dilogos com a Educao Ambiental. Rio
Grande, Rio Grande do Sul, Brasil: FURG, 02 e 03 de dezembro de
2013.
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PROGRAMAO 02/12 - Segunda-feira 8:00 - Credenciamento 8:30 s
9:00 - Solenidade de Abertura 9:00 s 12:00 - Mesa redonda "A Educao
Ambiental e os desafios da contemporaneidade" com: Prof. Dr. Srio
Lopez Velasco Prof. Dr. Humberto Calloni Prof. Dr. Vanessa
Hernandez Caporlingua Mediadora: Prof. Dr. Elisabeth Brando Schmidt
12:00 s 14:00 - Intervalo e Visita a Sala Verde Judith Corteso
14:00 s 17:30 - Apresentao de Trabalhos Grupo de Trabalho 1 -
Fundamentos da Educao Ambiental Grupo de Trabalho 2 - Educao
Ambiental: Ensino e Formao de Educadores Grupo de Trabalho 3 -
Educao Ambiental no formal 17:30 s 18:30 - Atividade cultural e
lanamento de livros 19:00 s 21:00 - Avaliao interna do Programa de
Ps-Graduao em Educao Ambiental (atividade destinada apenas para
docentes e discentes do PPGEA) 03/12 - Tera-feira 8:30 s 12:00 -
Apresentao de Trabalhos Grupo de Trabalho 1 - Fundamentos da Educao
Ambiental Grupo de Trabalho 2 - Educao Ambiental: Ensino e Formao
de Educadores Grupo de Trabalho 3 - Educao Ambiental no formal
12:00 s 14:00 - Intervalo e Visita a Sala Verde Judith Corteso
14:00 s 17:00 - Mesa redonda "A Educao Ambiental e os desafios da
contemporaneidade" com: Prof. Dr. Luis Fernando Minasi Prof. Dr.
Paula Corra Henning Prof. Dr. Maria do Carmo Galiazzi Mediador:
Prof. Dr. Carlos Roberto da Silva Machado 17:00 s 18:00 - Sntese
dos Grupos de Trabalho e lanamento do site do Observatrio dos
Conflitos Socioambientais do Extremo Sul do Brasil. 18:00 s 19:00 -
Atividade cultural e lanamento de livros 19:30 s 21:00 - Avaliao
interna do Programa de Ps-Graduao em Educao Ambiental. (atividade
destinada apenas para docentes e discentes do PPGEA)
Anais do V EDEA - Encontro e Dilogos com a Educao Ambiental. Rio
Grande, Rio Grande do Sul, Brasil: FURG, 02 e 03 de dezembro de
2013.
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APRESENTAO
Caio Floriano dos Santos1
Wagner Valente dos Passos
2
Claudia da Silva Cousin
3
O V Encontro Dilogos com a Educao Ambiental EDEA foi realizado
nos dias
02 e 03 de dezembro de 2013, organizado pelos discentes e
docentes do Programa de Ps-
Graduao em Educao Ambiental PPGEA, na Universidade Federal do
Rio Grande
FURG.
O evento teve como tema "A E ducao A mbiental e os d esafios d
a
contemporaneidade", a fim de refletir sobre o papel da Educao
Ambiental (EA) no
cenrio das jornadas de junho4
Entendemos com isso, que esse era um momento de se realizar tal
anlise e
explicitar o que o PPGEA tem produzido, bem como identificar as
diferentes formas de se
entender e trabalhar com a EA e, ainda, como essa diversidade
constitui o campo
e tentando realizar um debate aberto sobre EA e suas aes.
Para isso, foi pensado um evento que discutisse as diversas
questes, ali lanadas, a partir
do PPGEA. Ou seja, qual o papel do PPGEA nesse cenrio? O que o
PPGEA tem
produzido no que se refere a tais questes?
5
Assim, o evento foi composto em suas mesas por membros do corpo
docente do
PPGEA, pertencentes s diferentes linhas de pesquisa, os quais
apresentaram suas
perspectivas tericas e prticas sobre o fazer da EA (Volume II
dos anais do evento). Os
trabalhos apresentados (Volume I dos Anais) seguiram as trs
linhas de pesquisas do
PPGEA, intituladas: Educao Ambiental no Formal, Fundamentos da
Educao
Ambiental, Educao Ambiental: Ensino e Formao de Educadores.
do
conhecimento da EA.
Para qualificar e intensificar o dilogo de saberes, foram
organizadas rodas de
conversas que privilegiaram o apresentador e seu relato de
experincia, buscando, com
1 Doutorando do Programa de Ps-Graduao em Educao Ambiental da
Universidade Federal do Rio Grande (PPGEA/FURG). Bolsista
FAPERGS/CAPES. Pesquisador voluntrio do Observatrio dos Conflitos
do Extremo Sul do Brasil. 2 Cartunista. Mestre em Educao Ambiental
(PPGEA/FURG). 3 Doutora em Educao Ambiental. Coordenadora Adjunta
do Programa de Ps-graduao em Educao Ambiental. Professora do
Instituto de Educao da Universidade Federal do Rio Grande FURG. 4
Forma como foram chamadas as manifestaes de junho e julho de 2013
no Brasil no livro "Cidades Rebeldes" da Editora Boitempo, lanado
no ano de 2013. 5 Campos so os lugares de relaes de foras que
implicam tendncias imanentes e probabilidades objetivas. Um campo
no se orienta totalmente ao acaso. Nem tudo nele igualmente possvel
e impossvel em cada momento (Bourdieu, 2004, p. 27). In: BOURDIEU,
Pierre. Os usos sociais da cincia: por uma sociologia clnica do
campo cientfico. So Paulo: Editora UNESP. 2004.
Anais do V EDEA - Encontro e Dilogos com a Educao Ambiental. Rio
Grande, Rio Grande do Sul, Brasil: FURG, 02 e 03 de dezembro de
2013.
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isso, entender as diferentes formas do fazer da EA. Com isso,
esperamos que os trabalhos
apresentados na modalidade de comunicao oral e os textos das
mesas redondas possam
contribuir com o pensar sobre EA e seu papel frente realidade
posta, seja ela a da crise
ambiental ou a dos conflitos socioambientais.
Desejamos a todos uma excelente leitura e reflexo.
Anais do V EDEA - Encontro e Dilogos com a Educao Ambiental. Rio
Grande, Rio Grande do Sul, Brasil: FURG, 02 e 03 de dezembro de
2013.
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INTRODUO
Alana das Neves Pedruzzi6Filipi Vieira Amorim
7
Stfani do Nascimento
8
Tamires Lopes Podewils
9
As discusses em torno da sade e da sustentabilidade do Planeta
como
problemtica ambiental contempornea e globalizada tm aumentado
consideravelmente
nas ltimas dcadas. Desse modo, inmeras so as propostas e
reflexes para o
enfrentamento desta, que surgem de todos os campos do
conhecimento. O horizonte
comum dessa multiplicidade de reas enfatiza a (pr) ocupao comum
com a manuteno
da vida humana na Terra. Nesse contexto, a Educao, entre as
mltiplas reas envolvidas
com a problemtica ambiental, tambm est incumbida de contribuir
com propostas que
levem superao e transformao do que est legitimado enquanto crise
scio-ecolgica-
ambiental, sob a perspectiva denominada Educao Ambiental.
Nesse cenrio, o V Encontro e Dilogos com a Educao Ambiental -
EDEA,
baseado nas trs linhas de pesquisas que orientam o Programa de
Ps-Graduao em
Educao Ambiental - PPGEA, da Universidade Federal do Rio Grande
- FURG, e
organizado por docentes e discentes do referido programa, buscou
discutir o que, em
mbito nacional, tem se construdo, constitudo, pensado e
refletido, no cerne dos desafios
sociais (econmicos, polticos e culturais) contemporneos, em sua
ntima ligao com a
Educao Ambiental. Da a origem do tema gerador do evento: A
Educao Ambiental e
os Desafios da Contemporaneidade.
Os artigos completos, apresentados neste e-book, esto dispostos
conforme os
Grupos de Trabalho do evento onde cada texto foi apresentado por
seus autores e autoras.
uma gama de ensaios frutos de pesquisas em diferentes nveis, da
educao formal
educao no formal, resultantes de trabalhos de iniciao cientfica,
de graduao, ps-
graduao e iniciativas no formais ligadas Educao Ambiental, a
saber: i) GT 1 -
6 Bacharel em Histria; Mestranda em Educao Ambiental
(PPGEA-FURG); [email protected] 7Licenciado em Cincias Biolgicas;
Mestre em Educao; Doutorando em Educao Ambiental (PPGEA-FURG);
[email protected] 8Licenciada em Pedagogia; Mestranda em
Educao Ambiental (PPGEA-FURG); [email protected] 9
Licenciada em Cincias Biolgicas; Mestranda em Educao Ambiental
(PPGEA-FURG); [email protected]
Anais do V EDEA - Encontro e Dilogos com a Educao Ambiental. Rio
Grande, Rio Grande do Sul, Brasil: FURG, 02 e 03 de dezembro de
2013.
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Fundamentos da Educao Ambiental; ii) GT 2 - Educao Ambiental:
ensino e formao
de educadores e educadoras; iii) GT 3 - Educao Ambiental no
formal.
Os possveis interlocutores e interlocutoras deste e-book
encontraram, nos trabalhos
do GT 1- Fundamentos da Educao Ambiental, abordagens ligadas
discusso
epistemolgica, filosfica, tica, histrica, antropolgica,
sociolgica da Educao
Ambiental. Os trabalhos reunidos nesse grupo trazem importantes
definies e variadas
compreenses entre as relaes estabelecidas no metabolismo
Sociedade-Natureza, e
favorecem a atualizao de discusses que permeiam a atual crise
scio-ecolgica-
ambiental.
Os trabalhos com abordagens voltadas aos contextos educativos
institucionalizados
e com objetivos direcionados a formao docente esto reunidos no
GT 2 - Educao
Ambiental: ensino e formao de educadores e educadoras. No cerne
dessas propostas
encontraremos o horizonte comum da Educao Ambiental nos aspectos
educativos e
pedaggicos referentes s questes ambientais emergentes nesta
contemporaneidade.
O GT 3- Educao Ambiental no formal, remete os leitores e
leitoras ao que se
tem pensado no conjunto estabelecido entre a Educao Ambiental e
os movimentos
sociais, bem como entre questes de diversidade e alteridade
desses grupos. Nessa esteira,
as discusses transpassam gneros e geraes humanas, compreenses
sobre sade coletiva
e qualidade de vida, relatos de pesquisas em comunidades
tradicionais e processos na
ordem da gesto e do licenciamento ambiental.
Durante todo o evento, dilogos foram sistematizados em nome de
novas
compreenses e possibilidades de intervenes na realidade com a
Educao Ambiental.
Mas, sobretudo, alm dos esforos tecidos em prl da legitimao de
uma Educao
Ambiental engajada aos ideais intencionais que alimentam a crena
e a compreenso de
que uma outra realidade tanto possvel quanto necessria, inmeros
desafios ficaram
inscritos e entendidos como problemas ainda sem respostas.
Destarte, nesse reconhecido
esforo coletivo em nome da compreenso, interveno, e transformao
da realidade, ao
mesmo tempo, identificamos que a diversidade de saberes em torno
dos desafios da
contemporaneidade podem subtrair as reais e especficas
necessidades das comunidades
humanas em nome de interesses individuais e de mercado. O fato
que, embora sejamos
defensores da multipluralidade da Educao Ambiental, esta permite
que algumas lacunas
sejam preenchidas por perspectivas terico-prticas no solidrias,
no coletivas, no
Anais do V EDEA - Encontro e Dilogos com a Educao Ambiental. Rio
Grande, Rio Grande do Sul, Brasil: FURG, 02 e 03 de dezembro de
2013.
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sustentveis, em nome dos ideais capitalistas: economicamente
desiguais e ecologicamente
insustentveis.
Outro ponto digno de meno o resultado do afloramento da chamada
crise
ambiental contempornea e a emergncia dos temas em torno da
Natureza. A Educao
Ambiental, pensando essa problemtica, tem sobreposto, por vezes,
ideias
conservacionistas e pragmticas, em nome de uma preservao
salvacionista. Assim, tais
abordagens ganham destaque em detrimento de propostas com vistas
amplas ao que
estritamente condizente ao carter social (econmico, poltico e
cultural) da crise e
necessidade de uma transformao desta. Isso ocorre justamente
porque as primeiras
tratam, prioritariamente, de respostas imediatas, enquanto as
segundas buscam, cada uma a
seu modo, valorizar a pergunta em nome da compreenso da
realidade para, em seguida,
encaminhar as possibilidades de mudanas, buscas de respostas e
transformaes.
Os possveis interlocutores e interlocutoras desse e-book tero a
oportunidade de
identificar a denncia que fizemos acima, observando que o
conjunto de artigos completos
aqui publicados, so, em geral, complementares uns aos outros.
Encontrar-se-, na
totalidade da disposio dos grupos de trabalho, artigos que
trilham perspectivas mais
conservadoras e pragmticas, outrossim, artigos com enfoques
epistemolgicos e com
postulados longo prazo, de formao de educadores, de transies
paradigmticas, mas
todos com objetivo comum: legitimar o potencial transformador da
Educao Ambiental.
Igualmente e nesse sentido, deu-se as rodas de dilogos, com o
reconhecimento da
necessidade de buscarmos comunicao entre particulares diferentes
e complementares,
tornando salutar a diversidade de enfoques na Educao
Ambiental.
Por fim, desejamos aos leitores e leitoras uma leitura
produtiva, crtica e profcua,
para que possamos, cada vez mais, ampliar o debate e o dilogo na
construo e
legitimao ininterruptas da Educao Ambiental.
Anais do V EDEA - Encontro e Dilogos com a Educao Ambiental. Rio
Grande, Rio Grande do Sul, Brasil: FURG, 02 e 03 de dezembro de
2013.
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Sumrio
GT 1 - Fundamentos da Educao Ambiental
A natureza pampeana narrada na msica
gacha......................................................................15
Virgnia Tavares Vieira, Paula Corra Henning Alguns discursos
sobre Educao Ambiental em exame: fabricao de sujeitos na
atualidade...........................................................................................................................................................24
Brbara Hees Garr, Paula Corra Henning, Priscila Oliveira da
Silva
Cidade, identidade e
ecologia..........................................................................................................35
Fabiane Pianowski Educao ambiental como poltica pblica: a
construo da Agenda 21 Escolar nas e scolas municipais de Vacaria
RS............................................................................................................44
Carolina Moretti Berto, Lcia Ceccato de Lima Educao ambiental e
sujeitos
miditicos.....................................................................................54
Renata Lobato Schlee, Virginia Tavares Vieira, Albina Peres
Bernardes Educao ambiental, um olhar crtico no Ensino de
Cincias.....................................................63
Manoella Ribeiro de Oliveira, Cleonice Puggian, Ana Francisca
Leo da Costa Entre a pesca e a barbrie: experincia e saber da
experincia diante do assdio do capital...
...........................................................................................................................................................74
Maicon Dourado Bravo
Os conflitos em torno da apropriao territorial e a q uesto
ambiental no Pontal da Barra, Pelotas/RS, desde a perspectiva
etnogrfica de mapeamento dos atores
sociais.......................85
Gitana Cardoso da Silveira Nebel
Problematizando enunciaes nos Gibis do Chico Bento: ditos sobre
a natureza....................97
Sergio Ronaldo Pinho, Rodrigo Silva Simes, Paula Corra Hennig
Sustentabilidade ambiental e princpios da Termodinmica: uma reflexo
l uz da obra de Nicholas
Georgescu-Roegen..........................................................................................................105
Leila Cristina Aoyama Barbosa, Carlos Alberto Marques
Anais do V EDEA - Encontro e Dilogos com a Educao Ambiental. Rio
Grande, Rio Grande do Sul, Brasil: FURG, 02 e 03 de dezembro de
2013.
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Teoria crtica, Ao Comunicativa e Educao Ambiental: contribuies
para umaracionalidade
ambiental................................................................................................................114
Jacqueline Carrilho Eichenberger, Vilmar Alves Pereira
GT 2 - Educao Ambiental: Ensino e Formao de Educadores e
Educadoras
A Educao Ambiental na formao de educadores no Movimento Social
da Agricultura
Familiar..........................................................................................................................................124
Ionara Cristina Albani, Cludia da Silva Cousin
Anlise s obre a s C oncepes Filosficas relacionadas ao M eio A
mbiente d os estudantes de Licenciatura em Fsica do
IFSul...................................................................................................135
Gabriela Susana Andrade, Christiano Nogueira
Categoras de anlisis de la dimensin ambiental en programas de
formacin de profesores de
Qumica......................................................................................................................................145
Diana L. Parga Lozano, William M. Mora P., Yiny P. Crdenas R.
Conhecer e compartilhar a realidade para sensibilizar a comunidade
escolar numa proposta de aprendizagem transformadora em Educao
Ambiental.....................................................154
Fabio Jos Klafke, Luciani Wienke Beiersdorff, Danielle Monteiro
Behren Contextualizando a E ducao A mbiental n a e scola, c om b
ase n a teoria S
cio-Histrica.........................................................................................................................................165
Lilian Brasil Pereira, Iara Beatriz Voughan Pereira Educao
Ambiental e currculo impasses e
desafios..............................................................175
Maristela Dutra Educao Ambiental problematizadora na perspectiva
de Paulo Freire.................................185
Renan Ribeiro Pimentel, Brbara Pereira Terres Justia ambiental,
educao e tecnologias na Baixada Fluminense: resultados
preliminares....................................................................................................................................194
Cleonice Puggian, Ellen Midi Lima da Silva, Jefferson Lima da
Silva Percepo de duas professoras sobre as suas prticas em Educao
Ambiental.....................205
Maria Jos Rodrigues, Lus Castanheira, Vtor Manzke
Anais do V EDEA - Encontro e Dilogos com a Educao Ambiental. Rio
Grande, Rio Grande do Sul, Brasil: FURG, 02 e 03 de dezembro de
2013.
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Repensando a Educao Ambiental n a formao complementar e c
ontinuada de
professores......................................................................................................................................216
Jaqueline Gomes Nunes, Cassiano Pamplona Lisboa Repensando a
formao do educador ambiental a partir de uma experincia de trabalho
no Departamento Municipal de guas e Esgotos de Porto Alegre, RS,
Brasil.............................224
Cassiano Pamplona Lisboa, Fernanda Saretta Subprojeto Pibid
interdisciplinar Educao Ambiental: Aes que contribuem na formao de
educadores
ambientais..............................................................................................................232
Danielle Monteiro Behrend
GT 3 - Educao Ambiental No Formal
A Construo do Conhecimento Socioambiental um Estudo
Interdisciplinar sobre o Potencial Ecoturstico de Cambar do
Sul/RS............................................................................240
Andrea da Silva, Luzia Klunk A experincia dos parceiros
ambientais.......................................................................................252
Marina Patricio de Arruda, Lucia Ceccato de Lima, Kau Tortato
Alves A t emtica gua em questo: conceitos de a lunos do ensino
fundamental durante o estgio supervisionado em
Cincias..........................................................................................................260
Kassiana Miguel, Anelize Queiroz Amaral, Brbara Tobaldini A
utilizao de cartilhas como instrumentos de Educao Ambiental na
Igreja Evanglica de Confisso Luterana no
Brasil........................................................................................................268
Carlos Alberto Genz Aes de Educao Ambiental em Unidades de C
onservao Estaduais do Rio Grande do
Sul....................................................................................................................................................278
Rita Paradeda Muhle Diagnstico preliminar sobre a aplicao da
metodologia do aprendizado sequencial em atividades de Educao
Ambiental
vivencial...............................................................................289
Arianne Brianezi, Zysman Neiman Direitos Humanos Fundamentais e
Cidadania: uma abordagem mediada pela Educao
Ambiental........................................................................................................................................298
Simone Grohs Freire, Vanessa Hernandez Caporlngua
Anais do V EDEA - Encontro e Dilogos com a Educao Ambiental. Rio
Grande, Rio Grande do Sul, Brasil: FURG, 02 e 03 de dezembro de
2013.
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Educao ambiental no formal na Cidade de Duque de Caxias: dilogo
entre Instituies de Ensino Superior e organizaes sociais da Baixada
Fluminense...............................................308
Leila Salles da Costa, Sebastio Fernandes Raulino, Milton
Trajano de Oliveira Educao Ambiental: o aprendizado sequencial como
experincia escolar
alternativa.......................................................................................................................................319
Amanda Nascimento da Silva, Paulo Romeu Moreira Machado, Sandra
Grohe Educao Ambiental para a participao cidad na formulao de
polticas pblicas do setor pesqueiro
artesanal........................................................................................................................329
Janaina Agostini Braido, Vanessa Hernandez Caporlingua Educao
Ambiental, Histria Oral e Economia Solidria: imagens do mundo do
trabalho na pesca
artesanal...............................................................................................................................340
Caroline Terra de Oliveira, Victor Hugo Guimares Rodrigues
Esportes surdos na constituio do ser social: o resgate histrico sob
a perspectiva da Educao
Ambiental......................................................................................................................348
Marco Aurlio Rocha di Franco, Gisele Maciel Monteiro Rangel,
Lorena de Lima Oppelt Gnero na Contemporaneidade: suas controvrsias
e complementaridades...........................357
Brbara Pereira Terres, Renan Ribeiro Pimentel O aluno interno do
CaVG/IFSul sob uma perspectiva
ambiental............................................366
Leandro Rodrigues da Silva, Angelita Soares Ribeiro, Luciane
Soares Ribeiro Percepo ambiental no ensino de
Biologia................................................................................376
Jefferson Lima da Silva, Manoela Ribeiro de Oliveira, Ellen Midi
Lima da Silva Percepo e pertencimento: um estudo de caso sobre a
relao dos cidados com o espao da
cidade..............................................................................................................................................386
Luciele Nardi Comunello, Chalissa Beatriz Wachholz
Anais do V EDEA - Encontro e Dilogos com a Educao Ambiental. Rio
Grande, Rio Grande do Sul, Brasil: FURG, 02 e 03 de dezembro de
2013.
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1. Fundamentos da Educao Ambiental
A natureza pampeana narrada na msica gacha1
Virgnia Tavares Vieira2
Paula Corra Henning3
Resumo O presente estudo tem como pretenso investigar a forma
como vem sendo narrada a natureza, o meio
ambiente e a relao do homem com a paisagem natural na regio do
pampa gacho, por meio da msica?
Para dar conta de responder a essa investigao, tomaremos como
corpus discursivo, diferentes letras
compostas por artistas que estavam e esto intimamente atrelados
a cultura de nosso Estado para colocar em
suspenso as enunciaes de natureza, de meio ambiente e homem.
Neste estudo selecionamos como
metodologia algumas ferramentas da anlise do discurso a partir
de Michel Foucault, operando
especificamente com os conceitos de discurso e enunciado. Sendo
assim, apoiada em autores como Michel
Foucault, Maria Lcia Wortamann e Leandro Belinaso Guimares o
estudo aponta para a msica como um
importante artefato cultural que auxilia na (re) produo de
discursos, bem como coloca em operao uma
relao de poder ao fabricar verdades, produzir sentidos e
constituir sujeitos.
Palavras-chave: Educao Ambiental. Msica. Natureza.
1 Esta pesquisa contou com financiamento do Programa Observatrio
da Educao CAPES/INEP. 2 Bacharel em Msica pela Universidade Federal
de Pelotas, Mestre em Educao Ambiental pela Universidade
Federal
do Rio Grande - FURG e Doutoranda deste mesmo Programa de
Ps-Graduao.
Participante do Grupo de Pesquisa Cultura, Subjetividade e
Polticas de Formao. E-mail: [email protected] 3Professora
Adjunta do Instituto de Educao, do PPG Educao em Cincias e do PPG
Educao Ambiental da
Universidade Federal do Rio Grande FURG. Pesquisadora do Grupo
de Pesquisa de Cultura, Subjetividades e Polticas de Formao da
PUCRS. Trabalha especialmente com Educao Ambiental e Mdias nos
espaos escolares. E-mail:
[email protected]
Anais do V EDEA - Encontro e Dilogos com a Educao Ambiental. Rio
Grande, Rio Grande do Sul, Brasil: FURG, 02 e 03 de dezembro de
2013. 15
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Introduo
Nas ltimas dcadas a msica cada vez mais desperta o interesse de
pesquisadores
como um instrumento de grande relevncia para compreendermos a
nossa histria e a
realidade que nos cerca. Alm disso, tratamos a msica como
artefato cultural que (re)
produz saberes e verdades que nos interpelam e nos constituem
enquanto sujeitos de um
determinado tempo social e cultural. Seguindo nesta mesma
correnteza, podemos dizer que
na e pela cultura que vamos estabelecendo modos de ser, pensar,
ver e agir no meio em
que vivemos.
Nossa proposta com o estudo que vimos realizando, convidar o
leitor a refletir
sobre a importncia desta arte para problematizarmos como, por
meio da msica, podemos
apreender a forma como vem sendo narrada a natureza na regio do
Pampa, mais
especificamente, no sul do Rio Grande do Sul. Para isso,
tomaremos como corpus
discursivo algumas obras de artsticas que estavam e esto
intimamente atrelados a cultura
de nosso Estado. Podemos dizer que por meio da msica vamos sendo
ensinados a olhar s
paisagens naturais do Pampa, bem como os hbitos e costumes do
homem com esse
cenrio natural. Sendo assim, escolhemos dialogar entre o campo
de saber da Educao
Ambiental e o da msica tradicionalista gacha, por entender que
esta arte expressa a vida
e a cultura desses sujeitos e suas relaes com as paisagens
naturais. Diante disso,
entendemos que tais obras vm produzindo discursos, saberes e
verdades ante essa
natureza to enaltecida narrada pela msica gacha. Ressaltamos que
o estilo de msica
pampeana escolhido para este estudo, so os ritmos como a
Milonga, o Chamam, a
Chamarrita, entre outros.
Cultura e natureza
um manancial de alegria/A inspirao que extravasa/Quando a gente
d de casa/Pra escutar um Buenos dias/ Cincerros de melodias/ Depois
tudo se entrevera/ Num soluo de beleza/ Pra saudar a natureza/
Vestida de Primavera/ o quadro vivo mais lindo/ Que enternecido
contemplo[...] O lindo capim
mimoso/ Prossegue o rodzio eterno/ De se queimar no inverno/ Pra
renascer mais vioso no ciclo
maravilhoso/ Da tbua das estaes/[...] Na melodia campeira/ Que
se faz cancha no espao/ Como
marcando o compasso/ Junto ao sabi-laranjeira/ H tanta
autenticidade/ Nas vozes da natureza/ Que
resumem a beleza/ Da prpria simplicidade/ [...] O bordoneio da
sanga/ Mas no s nos descampados/ A
Primavera incendeia/ Ela se enfeita e passeia/ Nas vilas e nos
povoados/ Nos ambientes asfaltados/ Cidades
e capitais/ Pombas, bem-te-vi's, pardais em melodiosos arrulhos/
Repetem doces barulhos/ De tempos
imemoriais/ O domnio absoluto/ Que tem da gente e do mundo/ E o
homem defronte a isso/ At parece
impossvel/ Vai se tornando insensvel/ Por fora de algum feitio/
um criminoso, um omisso/ Da forma
mais inconsciente/ Gente que j no gente buscando outra
trajetria/ Depois da triste vitria/ De matar o
meio ambiente [...] (Payada Das Primavera - Jayme Caetano Braun,
1994).
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Somos constitudos por um discurso naturalista e romntico de
natureza que se
instalou em nossa sociedade, principalmente a partir do sculo
XVIII, com o movimento
da virada cultural e reforado pelo movimento romntico do sculo
XIX. Mas no foi
sempre assim! Segundo Guimares, h uma multiplicidade de formas
de ver, narrar e se
relacionar com a natureza (2008, p. 88). Segundo o autor, essas
diferentes vises so
dadas a partir da histria e da cultura na qual estamos
inseridos. Se adentrarmos a histria
do mundo ocidental, veremos as diferentes formas pela qual a
natureza vm sendo contada
e significada na cultura, desde as grandes navegaes dos sculos
XV e XVI: ora uma
natureza paradisaca, exuberante, ora uma natureza selvagem,
temida. Foi com o projeto
civilizatrio, em contraposio ao prottipo medieval, que a
natureza passou a ser vista
como o perodo das trevas, do inculto. Os ambientes considerados
como naturais, ou
seja, matas, florestas e montanhas, no condiziam com a ideia de
progresso que inaugurava
a virada cultural da modernidade. Porm, no sculo XVIII, com o
fenmeno denominado
de novas sensibilidades, que a natureza passou a ser vista como
boa e bela, quando as
paisagens naturais passaram a ser valorizadas e apreciadas pelo
homem.
Esse culto natureza foi ainda mais realado com o aparecimento do
movimento
romntico no sculo XVIII e XIX, que buscava ilustrar o lirismo e
o sonho de um cenrio
devastado pela Revoluo Industrial. Diante disso, podemos
evidenciar o quanto o ideal
que temos de meio ambiente e natureza construdo
culturalmente.
Pensando a atualidade, gostaramos com este estudo, problematizar
a viso que
hoje temos de natureza, principalmente no que tange a regio
pampeana, alocada
especificamente no sul do Rio Grande do Sul. Quais as questes
sociais, econmicas,
ambientais e culturais se entrelaam na construo de tais
enunciaes? Podemos dizer que
na msica pampeana encontraremos enunciaes que nos remetero a uma
separao entre
mundo natural e mundo humano?
Um campo a se estender imenso e plano onde cu e campo se
encontram no
horizonte desta paisagem que gostaramos de falar um pouco. A
regio do Pampa,
cenrio de mltiplos processos histricos-culturais, herana dos
diversos povos que
habitaram estas regies, at nossos contemporneos, contriburam
significativamente para
a construo da cultura pampeana. Para entendermos um pouco sua
geografia, bem como
tais procedimentos culturais, trazemos sucintamente algumas
consideraes deste campo
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imenso que foi cenrio/palco de grandes artistas, que por meio da
msica, ao longo dos
tempos vm narrando o Pampa.
Em uma pesquisa prvia, pudemos observar o quanto se faz presente
na msica
tradicionalista gacha peculiaridades que descrevem os hbitos e
costumes dos sujeitos
pampeanos, principalmente em sua relao com a paisagem natural.
Msicas estas que tem
por caractersticas cantar as coisas natureza e do meio ambiente.
Com isso, ressaltamos a
importncia de olharmos para msica como um instrumento que capaz
de produzir
discursos e verdades diante desse entrelaamento entre cultura e
sociedade.
De acordo com Dos-Santos (2012), o pampa horizonte do viver e
das relaes
socioculturais de diversos povos que ali se encontraram ao longo
dos anos, desde os
indgenas at os nossos contemporneos (p. 51). Para o autor ela
peculiar e
caracterstica, pois carregamos a herana de nossas colonizaes
luso-espanhola,
indgena, africana, alem e italiana.
com esse intuito que o estudo se apresenta. Estabelecer um
entrelaamento entre
msica, cultura e Educao Ambiental para problematizarmos: que
ideal de natureza est
posto nas letras colocadas em suspenso? Qual relao existente
entre o homem e as
paisagens naturais da regio sulina que compem e delineiam o
Pampa? Jayme Caetano
Braun (1998) nos descreve um pouco desses campos nos dizendo
que,
Pampa a plancie sem fim que vai do Rio Grande do Sul aos
contrafortes dos
Andes na taiga da Cordilheira. o campo imenso a predeira, dos
centauros campesinos, rio-grandenses e platinos, tits da raa
campeira. Vem do Quchua e quer dizer, o campo aberto a planura, o
descampado a lonjura, a vrzea que se destampa. Nele a liberdade
acampa e o civismo no estanca. Animal cabea
branca tambm chamado de Pampa (p. 254 - 255).
De origem indgena o termo Pampa representa mais do que terras
divididas
geograficamente entre esses pases. Esse amplo espao de terras
compartilha culturas,
hbitos de vida e costumes que fazem parte da nossa histria, bem
como da cultura do
gacho e desse povo pampeano que atravessam as fronteiras. A
regio do Pampa foi alvo
de muitas disputas, principalmente entre portugueses e espanhis,
naes essas que
lutavam pelo predomnio dessas terras, e que foram definindo suas
fronteiras
principalmente aps os Tratados de Madri (1750), Santo Ildefonso
(1777) e Badajs
(1811).
Inicialmente essas terras eram habitadas por ndios como os
Charruas e Minuanos.
Com a chegada dos Jesutas espanhis que atravessaram o rio
Uruguai com o desgnio de
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catequizar os ndios, muitas lutas se travaram. At a chegada dos
Jesutas, os povos que
habitavam estes campos viviam da caa, da pesca e tambm da
agricultura utilizando a
tcnica da coivara4. Produtos como a mandioca, o milho, a batata
doce, o fumo, o feijo e a
erva-mate foram herdados dos ndios Guarani. Segundo Baioto e
Quevedo (1997), foram
os Jesutas de So Miguel juntamente com os ndios guaranis, que
introduziram nos vastos
campos das Misses as primeiras cabeas de gado, dando incio as
estncias rio-
grandenses, caracterstica econmica do Pampa e que permanecem at
os dias atuais.
No excerto abaixo, com a msica Me comparando ao Rio Grande
apresentamos
um pouco do pampa.
Sou grito do quero-quero/No alto de uma coxilha/Sou herana das
batalhas/Da
epopeia farroupilha/Sou rangido de carreta/Atravessando
picadas/Sou o prprio
carreteiro/ra boi, ra boiada [...] Sou a cor verde do pampa/Nas
manhs de
primavera/Sou cacimba de gua pura/Nos fundos de uma tapera/Sou
lua,
sou cu, sou terra/Sou planta que algum plantou/Sou a prpria
natureza/Que o patro velho criou/ra ra boi Brasino/ra ra boi
Pitanga/Boi
Fumaa, Jaguar/Olha a canga [...] (Me comparando ao Rio Grande
Iedo Silva) [Grifos nossos].
A proposta de colocar em suspenso s enunciaes de natureza
descritas em tantas
letras de msicas de artistas da regio pampeana se d no intuito
de problematizarmos a
forma como vem sendo narrada a paisagem natural do pampa. O
trecho apresentado nos
salienta elementos bastante comuns ao homem do campo e que
contribui para a
constituio da paisagem natural destas terras como o quero-quero,
a boiada, as coxilhas,
o rangido das carretas e a cor verde do pampa.
Com isso, ressaltamos mais uma vez a importncia de olharmos para
msica
como um instrumento que capaz de (re) produzir discursos, modos
de ser e viver diante
desse entrelaamento entre cultura e sociedade.
Na regio do Pampa, Fante (2012) ressalta que as grandes extenses
de
monocultura na regio pampeana vm trazendo grandes prejuzos aos
trabalhadores rurais
no que tange as questes de desemprego e danos sade provocados
pelo uso de
agrotxicos. Alm disso, a substituio de campos nativos por
extensas plantaes de
rvores como o eucalipto vem acarretando tambm nas mudanas
relativas a questes
culturais em decorrncia das modificaes das paisagens
naturais.
Diante das problemticas sociais, polticas, culturais e
ambientais pela qual
estamos sendo atravessados, importante problematizarmos questes
como as que aqui
4 Segundo Baioto e Quevedo esta tcnica consistia na limpeza do
terreno para o plantio, atravs da derrubada da mata e
queima dos galhos (1997, p. 7).
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esto colocadas sob exame, to vigentes na atualidade e que muitas
vezes so dadas como
j conhecidas, desbravadas e dominadas por ns. Que verdades nos
atravessam e nos
fazem olhar para mundo de determinadas formas?
Entendemos que a verdade produzida, fabricada a partir de
discursos que
fazemos circular como verdadeiro, ou seja, quando elegemos
aquilo que deve ou no
funcionar como verdade. Foucault (2011) ao discorrer sobre a
verdade nos diz que,
O importante, creio, que a verdade no existe fora do poder ou
sem poder [...].
A verdade deste mundo; ela produzida nele raas a mltiplas coeres
e nele
produz efeitos regulamentados de poder. Cada sociedade tem seu
regime de
verdade, sua poltica geral de verdade: isto , os tipos de
discursos que ela acolhe e faz funcionar como verdadeiros; os
mecanismos e as instncias que
permitem distinguir os enunciados verdadeiros dos falsos, a
maneira como se
sanciona uns e outros; as tcnicas e os procedimentos que so
valorizados para a
obteno da verdade; o estatuto daqueles que tm o encargo de dizer
o que
funciona como verdadeiro (p. 12) [grifo do autor].
Diante disso, entendemos a arte, aqui especificamente a msica
produzida nestas
regies do Pampa, como um importante artefato cultural que vem
produzindo discursos e
verdades de uma cultura no qual esses sujeitos do Pampa esto
inseridos. Como nos diz
Teixeira (1978) na msica Cu, Sol, Sul, Terra e Cor [...] Fazer
versos cantando as belezas
desta natureza sem par/E mostrar para quem quiser ver, um lugar
pra viver sem chorar
[...] este o Pampa, este o meu Rio Grande do Sul. So narrativas
como essas e tantas
outras que descrevem o Pampa. Coxilhas, ps roseteados de campos,
terra e cor, enfim,
uma natureza sem par! colocando em suspenso verdades como essas,
descrita em letras
de msica que ao longo da histria vm nos ensinando o que o Pampa
e como se d a
relao desses sujeitos com as paisagens naturais. O exemplo
referenciado acima, nos
reporta a ideia que h um mundo natural constitudo em oposio ao
mundo humano. H
tambm uma viso de natureza verde, onde tudo que se planta cresce
e na qual o homem
aparece como um ser no pertencente a esse espao natural. Diante
disso, questionamos: h
uma nica forma de olharmos para o mundo, para o meio que
vivemos, para a natureza?
Ao discorrer sobre a importncia da cultura e as multiplicidades
de vermos,
narrarmos e relacionarmo-nos com a natureza, Guimares ressalta
que;
[...] na cultura, nesse espao de circulao e de compartilhamento
de
significados, que vamos aprendendo a lidar com a natureza e,
tambm, vamos
estabelecendo nosso lugar no mundo, ou seja, sabendo quem nos
tornamos dia a
dia. Essa nossa insero na cultura, no momento histrico em que
vivemos, nos
faz ver e estabelecer relaes com a natureza de determinadas
formas. Nesta
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direo, podemos nos perguntar: h uma nica maneira de narrar, ler
e ver a
natureza? (GUIMARES, 2008, p. 88).
Ao colocar em circulao enunciaes referentes a natureza, a forma
como nos
relacionamos com o mundo natural, com o meio ambiente e a ao do
homem no planeta,
entendemos que artefatos culturais como a msica, vo reproduzindo
e constituindo
discursos e verdades relacionados ao campo da Educao
Ambiental.
Logo abaixo apresentamos a forma como muitas vezes tal estilo
musical vem
narrando o Pampa e assim fabricando verdades referentes a esta
regio.
Um medo de andar solito, ouvindo vozes e gritos/E at do barco um
apito na sua
imaginao/Olhos esbugalhados do moleque assustado, olhando aquele
mar
bravo/Ora doce, ora salgado, num temporal de vero/Sem camisa na
beirada
bombachita arremangada/Botou petio na estrada quando a areia
lhe
guasqueou/Sentiu um arrepio com aquele ar frio que o aude e
rio/E as guas que
ele viu no lhe provocou/Coqueiro e figueira dos matos e a bela
Lagoa dos Patos
verdadeiro tesouro/Lago verde e azul que na Amrica do Sul/Deus
botou pra
bebedouro/Tempos que ainda tinham o bailado da tainha/Quando o
boto vinha
com gaivota em revoada/E entre outros animais no meio dos
juncais/Surgiam
patos baguais e hoje no se v mais este smbolo da aguada/ Nas
noites de lua
cheia, a gente sentava na areia/Para ver se ouvia a sereia entre
as ondas
cantando/E hoje eu volto ali, no lugar em que eu vivi/Onde nasci
quando guri me
olho lagoa em ti e me enxergo chorando (Lago Verde Azul Helmo de
Freitas).
Mas que pampa essa que eu recebo agora/ Com a misso de cultivar
razes/ Se
dessa pampa que me fala a histria/ No me deixaram nem se quer
matizes?
Passam s mos da minha gerao/ Heranas feitas de fortunas rotas/
Campos
desertos que no geram po/ Onde a ganncia anda de rdeas soltas/
[...] Herdei
um campo onde o patro rei/ Tendo poderes sobre o po e as guas/
Onde
esquecido vive o peo sem leis/ De ps descalos cabrestiando
mgoas/ O que
hoje eu herdo da minha grei xirua/ um desafio que a minha idade
afronta/ Pois
me deixaram com a guaiaca nua/ Pra pagar um poro de contas/ Se
for preciso,
eu volto a ser caudilho/ Por essa pampa que ficou pra trs/
Porque eu no quero
deixar pro meu filho/ A pampa pobre que herdei de meu pai [...]
(Herdeiro da
Pampa Pobre, Gacho da Fronteira).
A primeira cano nos traz enunciaes de uma natureza bela,
destacando
principalmente a Lagoa dos Patos, o lago verde e azul, como um
dos grandes tesouros da
Amrica do Sul que ainda embeleza nossas terras, mas que no mais
cenrio do bailado
das tainhas e de outros tantos animais, o que provoca uma grande
tristeza refletida na
lagoa. J a segunda msica expe um Pampa que vem sofrendo
modificaes, um Pampa
considerado rico, onde os campos feitos de fortunas rotas, hoje
desertos j no geram
mais po. Dessa forma, vale provocar, suscitar, problematizar
enunciaes como essas que
nos atravessam e nos constituem enquanto sujeitos deste
tempo.
So enunciaes como essas que circulam em artefatos culturais como
a msica e,
dessa forma, constituem discursos e verdades relacionados ao
campo da Educao
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Ambiental. E assim, diante de tais enunciaes tidas como
verdadeiras em nossa sociedade
sobre a Educao Ambiental, constituindo e fabricando modos de ser
neste mundo,
entendemos que esses artefatos culturais colocam em
funcionamento uma operao de
poder. Para Foucault (2010),
[...] numa sociedade como a nossa [...] mltiplas relaes de poder
perpassam,
caracterizam, constituem o corpo social; elas no podem
dissociar-se, nem
estabelecer-se, nem funcionar sem uma produo, uma acumulao,
uma
circulao, um funcionamento do discurso verdadeiro. No h exerccio
do poder
sem uma certa economia dos discursos de verdade que funcionam
nesse poder, a
partir e atravs dele. Somos submetidos pelo poder produo da
verdade e s
podemos exercer o poder mediante a produo da verdade (FOUCAULT,
2010,
p. 22).
Diante disso, se torna importante questionar: de que forma somos
interpelados por
esses discursos ditos como verdadeiros que nos capturam e nos
constituem enquanto
sujeitos?
por entender a importncia da cultura, dos artefatos culturais
que ao
constiturem discursos e verdades vo moldando o mundo nos quatro
cantos desse planeta,
que olhamos para a msica do Sul do Rio Grande do Sul, arte
expressiva na regio
pampeana e que circula o mundo narrando o Pampa gacho.
Consideraes finais
Nossas perspectivas com este estudo que por meio da msica
pudssemos
suscitar o pensamento, provocando novas discusses no campo da
Educao Ambiental,
entendendo esta arte como uma importante ferramenta para
pensarmos como vem se dando
a constituio de saberes referentes a natureza e a relao do homem
com a paisagem
natural na regio do Pampa. Queremos atentar para novas discusses
acerca de questes
pouco problematizadas por ns: que entendimento se tem de
natureza, meio ambiente,
homem e cultura? Como salienta Guimares (2008), que possamos nos
instaurar nas
fissuras da Educao Ambiental, pensando polticas que possam nos
remeter a construo
de coletivos de natureza e culturas no permeados (p. 99). Talvez
Foucault nos ajude a
entender essas fabricaes de verdades que vo constituindo modos
de ser, viver e se
relacionar no mundo. Que pudssemos voltar nosso olhar para arte,
entendendo-a como um
artefato cultural de funo poltica e social capaz de criar novos
modos de relao entre
sujeito, sociedade, natureza e meio ambiente.
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Grande, Rio Grande do Sul, Brasil: FURG, 02 e 03 de dezembro de
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DOS-SANTOS, Jos Daniel Telles. Lcio Yanel e o Violo
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memria(s),histria(s) e identidade(s) de um fazer musical no sul
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(Mestrado) Universidade Federal de Pelotas, Programa de
Ps-Graduao em Memria Social e Patrimnio Cultural, Pelotas,
2012.
FANTE, Eliege Maria. As representaes sociais sobre o bioma pampa
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Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Biblioteconomia e
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FOUCAULT, Michel. Microfsica do Poder. Rio de Janeiro: Edies
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(1975-1976). 4 tiragem.
So Paulo: Martins Fontes, 2010.
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GUIMARES, Leandro Belinaso. A importncia da histria e da
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Fac. Educ. UFG, v.33, n. 1, p. 87-101, jan./jun. 2008.
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biodiversidade ameaada
pela expanso das monoculturas de rvores 2010. Disponvel em:
WWW.natbrasil.org.br.
Acesso em: 15 de outubro de 2012.
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Grande, Rio Grande do Sul, Brasil: FURG, 02 e 03 de dezembro de
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Alguns discursos sobre Educao Ambiental em exame: fabricao
de
sujeitos na atualidade
Brbara Hees Garr1
Paula Corra Henning2
Priscila Oliveira da Silva3
Resumo O trabalho aqui apresentado um recorte de Pesquisa que
tem como propsito investigar a constituio do
discurso de Educao Ambiental a partir de diferentes mdias. Tal
recorte analisa alguns extratos da revista
Veja, trazendo para discusso enunciaes marcadas pelo
direcionamento de como os sujeitos devem agir
diante da crise ambiental que se instala na atualidade. A
discusso proposta se d na interlocuo potente
entre o campo de saber da Educao Ambiental e os estudos da mdia
como artefato cultural que vem
produzindo formas de existir e viver no mundo contemporneo.
Compreende-se que a temtica ambiental
est fortemente presente em nossas vidas cotidianas e em
constante relao com nossa constituio enquanto
sujeitos desse tempo. Pretende-se provocar o pensamento sobre
tais discursos, entendendo-os atrelados as
relaes de saber-poder, no intuito de preservar o meio
ambiente.
Palavras-chave: Educao Ambiental. Mdia. Relaes de Poder.
Introduo
A Educao Ambiental tornou-se questo central e de ampla penetrao
nos
espaos educacionais, polticos, econmicos e culturais do mundo de
uma forma geral. J
no se trata de uma problemtica interna de bairros, cidades,
estados ou de um nico pas.
A crise ambiental que acomete a cada um de ns, diz respeito a um
cenrio mundial.
Nesse texto, apresentamos alguns extratos de anlise de uma
pesquisa que visa
investigar o discurso da Educao Ambiental que vem constituindo
este campo a partir de
diferentes mdias. Assim, esse estudo se d na interlocuo potente
entre o campo de saber
da Educao Ambiental e os estudos da mdia como artefato cultural
que vem produzindo
formas de existir e conviver no mundo contemporneo. Para isso,
colocamos sob exame
alguns enunciados que se proliferam na Educao Ambiental. Olhamos
para algumas
propagandas, de maneira especial, veiculadas no rdio, na
televiso e na internet; para
reportagens da mdia impressa; para histrias em quadrinhos e para
filmes de animao.
1 Doutoranda do PPG Educao Ambiental da Universidade Federal do
Rio Grande/FURG, Mestre em Educao em Cincias pela
Universidade Federal do Rio Grande/FURG, Pedagoga e Professora
do IFSUL campus Pelotas. [email protected] 2 Doutora em
Educao, Professoras dos Programas de Ps-Graduao em Educao Ambiental
e Educao em Cincias da
Universidade Federal do Rio Grande/FURG. [email protected]
3 Acadmica do Curso de Pedagogia da Universidade Federal do Rio
Grande/FURG. [email protected]. Pesquisa financiada pelo
Programa Observatrio da Educao/CAPES.
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Pretendemos provocar o pensamento sobre tais discursos,
entendendo-os atrelados as
relaes de saber-poder, no intuito de preservar o meio
ambiente.
Como recorte desse estudo, apresentamos neste momento extratos
de anlise da
Revista Veja, trazendo para discusso enunciaes marcadas pelo
direcionamento de como
devemos agir diante da crise ambiental que se instala na
atualidade. Dessa maneira, o
trabalho aqui apresentado traz para discusso, inicialmente, o
conceito de meio ambiente e
Educao Ambiental que alguns dos importantes autores desse campo
nos evidenciam. A
partir disso, selecionamos alguns extratos miditicos da Revista
Veja e chamamos a
ateno para as estratgias biopolticas (FOUCAULT, 2005, 2008a,
2008b) que circulam
fortemente nas enunciaes acerca da Educao Ambiental hoje. Para
finalizar,
convidamos o leitor a pensar sobre o emaranhado do discurso
ambiental to em voga em
nossas vidas, estejamos ns interessados ou no em
constituirmo-nos sujeitos ambientais
contemporneos.
Algumas concepes de EA em evidncia
Para iniciarmos nossa discusso, gostaramos de apresentar alguns
entendimentos
de Educao Ambiental (EA) que vimos recorrentemente
constiturem-se na mdia e na
sociedade de uma forma geral. Assim, trazemos alguns importantes
autores que nos
provocam a pensar o conceito de natureza e meio ambiente.
O campo da EA vem crescendo nas ltimas dcadas em decorrncia
dos
acontecimentos ocorridos em relao ao meio ambiente como o
aquecimento global e
consequentemente o derretimento das geleiras, as questes
climticas, a poluio do ar e
do solo, entre outros. Atrelado a este crescimento vimos
recorrentemente enunciaes
acerca de novas atitudes diante de nossas aes com o meio
ambiente, preocupaes com a
vida no Planeta Terra, consumo consciente dos recursos naturais,
etc.
Segundo Bezerra (2007), a EA um fenmeno social que se localiza
na interseo
entre sociedade, educao e natureza e como outros assuntos
relacionados s questes
ambientais. Sua abordagem no se limita a um nico pas, este um
campo de saber que
atravessa o mundo de forma ampla, pois as modificaes climticas,
a degradao
ambiental so preocupaes contemporneas que constituem a cada
habitante do Planeta.
A partir de 1942, comea a ocorrer uma srie de eventos
internacionais a fim de abordar os
problemas ambientais e tambm a preservao dos aspectos naturais
do planeta.
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No Brasil, a EA ganhou forte destaque a partir da dcada de 90,
durante o Rio/92.
Desde ento, este campo de saber passou a fazer parte dos
currculos escolares como tema
transversal (PCN, 1998). A partir desta dcada aconteceram os
primeiros encontros
nacionais, simpsios regionais e locais. Atualmente, vale lembrar
dos movimentos
recentemente ocorridos no cenrio mundial: a Reunio de
Copenhagen, preocupada com o
aquecimento global (2009) e a Rio + 20, interessada na
sustentabilidade do Planeta,
ocorrida em junho deste ano.
De acordo com Tozoni-Reis (2006), h diferentes formas de
conceituar a EA como,
por exemplo, o conceito a partir de um cunho disciplinatrio e
moralista que visa a
promoo de mudanas de comportamentos considerados ambientalmente
inadequados.
possvel encontrar tambm a EA como transmissora de conhecimentos
tcnico-cientficos,
com a finalidade de desenvolver relaes mais adequadas com o
ambiente. A pesquisadora
aponta ainda este campo de saber como sendo um processo poltico
que tem por objetivo a
construo de uma sociedade sustentvel. Desse modo, no acreditamos
que seja possvel
traduzir ou reduzir as mltiplas orientaes numa nica educao
ambiental: uma espcie
de esperanto ou pensamento nico ambiental (CARVALHO, 2004).
Reigota (2006) afirma que o problema ambiental est no excessivo
consumo dos
recursos naturais e no desperdcio realizado por uma pequena
parcela da populao. O que
deve ser priorizado so as relaes econmicas e culturais entre a
humanidade e a natureza.
Deste modo, refletir sobre EA to importante quanto agir e
comportar-se de forma
ecologicamente correta. Uma questo relevante anunciada pelo
pesquisador o fato de
muitas pessoas no se considerarem como um elemento da natureza,
mas como um ser
parte que apenas observa e/ou explora. Carvalho (2008) concorda
com a ideia quando diz
que assim se constri a imagem de uma relao antagnica e
excludente onde de um lado
estaria a Natureza e do outro a Humanidade, a Cultura, as relaes
sociais.
Podemos relacionar isso a uma viso naturalista da natureza.
Segundo Carvalho
(2008), os artefatos miditicos evocam ideias de natureza, vida
biolgica, vida selvagem,
flora e fauna.
Essas imagens de natureza no so como pretendem se apresentar, um
retrato
objetivo e neutro, um espelho do mundo natural, mas traduzem
certa viso de
natureza que termina influenciando bastante o conceito de meio
ambiente
disseminado no conjunto da sociedade. Essa viso naturalizada
tende a ver a natureza como o mundo da ordem biolgica,
essencialmente boa, pacificada,
equilibrada, estvel em suas interaes ecossistmicas, o qual segue
vivendo
como autnomo e independente da interao com o mundo cultural
humano.
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Quando essa interao focada, a presena humana amide aparece
como
problemtica e nefasta para a natureza. (CARVALHO, 2008, p.35)
[grifo da
autora]
Por ser um espao de inter-relaes entre sociedade e natureza, o
campo ambiental,
ao ser visto apenas sob um vis naturalista-conservacionista,
sofre consequncias, pois se
ignora a permanente interao entre as pessoas e o meio ambiente.
Carvalho (2008)
defende uma viso socioambiental da natureza, onde esta e os
humanos, bem como a
sociedade e o ambiente estabelecem uma relao interativa e de
co-pertena. Segundo a
autora, tal perspectiva pensa o meio ambiente no com sinnimo de
natureza intocada, mas
como um campo de interaes entre cultura e sociedade que se
modificam de maneira
mtua e dinmica. Assim, a presena humana percebida de forma
pertencente ao
conjunto de relaes de vida social, natural e cultural, longe de
ser considerada como
intrusa ou destruidora.
Partindo do pressuposto que a EA no possui um nico conceito, por
ser um fato
social e histrico, depender sempre do olhar que as pessoas lanam
em sua direo e
tambm de como entendem este tipo de educao e o meio ambiente.
Reigota (2006),
afirma que a EA deve estar presente em todos os espaos que
educam, tais como escolas,
parques, mdia, universidades. No entanto, para realizar um
trabalho de EA, necessrio
que se conhea as concepes de meio ambiente dos sujeitos
envolvidos no processo. Para
ele meio ambiente
(...) um lugar determinado e/ou percebido onde esto em relaes
dinmicas e
em constante interao os aspectos naturais e sociais. Essas
relaes acarretam
processos de criao cultural e tecnolgica e processos histricos e
polticos de
transformao da natureza e sociedade. (REIGOTA, 2006, p.21).
Sendo a escola um local privilegiado para realizar a educao
ambiental, de suma
importncia observar de que maneira ela ser apresentada aos
estudantes. Este campo de
saber pode estar presente em todas as disciplinas ao analisar
temas que permitem enfocar
as relaes entre a humanidade e o meio natural, como tambm as
relaes sociais
(REIGOTA, 2006, p.25).
No entanto, preocupante pensar que ela possa tornar-se uma
disciplina isolada.
Perderia o sentido, j que acreditamos que ela deve perpassar
todas as reas do
conhecimento, sendo responsabilidade de todos. Tem-se a ideia de
que para trabalhar com
EA preciso estar sempre em contato com a natureza em ambientes
externos, como
jardins, praas, parques ou reservas ecolgicas. Porm, deve-se ter
o cuidado de enfatizar
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tambm as relaes existentes entre homem e natureza abordando
tambm os aspectos
polticos, econmicos, sociais e culturais para no correr o risco
de dicotomizar as relaes
humanas e o ambiente.
Nessa perspectiva, para trabalhar a Educao Ambiental atrelada s
questes
sociais e humanas necessrio que se considere as relaes com a
cultura. Considerando
que atravs dela que so produzidos modos de ser, pensar e agir.
Assim, provocar
reflexes e questionamentos acerca das temticas ambientais
abrange o estabelecimento de
relaes sociais, polticas, econmicas e culturais que se travam na
atualidade. Olhar,
problematizar, compreender a EA perpassa pela forma como fomos
nos constituindo
enquanto sujeitos e que entendimentos temos de cultura,
sociedade, meio ambiente e
natureza.
Vemos que cada vez mais a Educao Ambiental no um tema apenas de
ONGs
preocupadas com as questes ecolgicas. Ela vivida diariamente,
nos diversos espaos
que frequentamos, seja atravs da implementao de polticas pblicas
(como as j
mencionadas neste texto), de campanhas publicitrias, de
propagandas miditicas, de
filmes, de histrias em quadrinhos, de outdoors espalhados pelas
cidades, de reportagens
televisivas e impressas e de tantas outras formas. Por onde
circulamos, ela se faz presente.
At mesmo na hora de escolhermos produtos no supermercado,
geralmente o apelo para
que se compre um que seja menos agressivo ao meio ambiente.
Assim, a temtica ambiental est fortemente presente em nossas
vidas cotidianas e
em constante relao com nossa constituio enquanto sujeitos desse
tempo. H que se
problematizar quais os conhecimentos que produzem tal campo de
saber ao mesmo tempo
em que so produzidos por ele. Dessa forma, no h como pensar a EA
dissociada de um
contexto mais amplo. necessrio que se estabelea uma rede de
relaes entre as
questes ambientais, culturais, sociais, polticas e econmicas na
atualidade.
Extratos miditicos sob anlise: constituindo sujeitos ambientais
contemporneos
Neste texto apresentamos como proposta analisar algumas
enunciaes que tratam
da temtica ambiental na mdia, mais especificamente na mdia
impressa. Para tal operao
situamos as anlises em algumas reportagens de capa da Revista
Veja revista semanal
brasileira da Editora Abril e de maior circulao no Brasil.
Escolhemos tal revista como
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corpus discursivo desta pesquisa por sua ampla circulao em nvel
nacional e por se
constituir em um dos mais conhecidos veculos de comunicao em
nosso pas.
No trabalho aqui apresentado tomamos a mdia como um importante
campo de
produo de subjetividades, que interpela os sujeitos e vai
constituindo suas formas de ser,
de viver e de preservar o ambiente no mundo contemporneo. A
partir de alguns estudos
vimos olhando para a mdia como um dispositivo pedaggico,
conforme assinala Rosa
Fischer (2002). Tal dispositivo opera modos de ser e estar dos
sujeitos na cultura em que
vivem e dessa forma, participa efetivamente na produo de
sujeitos, subjetividades e
sentidos. Essa operao se d a partir de estratgias de interpelao
que a mdia coloca em
funcionamento atravs de seus ensinamentos que atingem aos
indivduos e participam de
sua formao.
Assim, o dispositivo pedaggico da mdia reafirma constantemente
verdades, aqui
nos referimos as verdades do campo da Educao Ambiental. Tal
repetio refora esses
ditos e posicionam os sujeitos a agirem de determinas formas,
economizando os recursos
naturais, reciclando o lixo, consumindo de forma sustentvel, por
exemplo. Vejamos
alguns exemplares de peas miditicas da revista Veja:
A vida sem papel higinico
[...] se submete h um ano experincia de viver sem causar nenhum
dano a
natureza. Isso inclui dispensar o papel higinico, iluminar a
casa com velas,
evitar os eletrodomsticos e s andar a p ou de bicicleta (Veja,
outubro de
2007, p. 93) [grifos meus].
Carros Eltricos e Hbridos
Esses veculos emitem at 30% menos CO2, mas custam at 25% mais
que seus
rivais compactos e poluidores. Subsidi-los lucro para qualquer
metrpole.
Reduo: um carro de passeio joga 2 toneladas de carbono por ano
na
atmosfera, valor igual quantidade capturada por 170 rvores
durante dez anos.
(2009, p. 136)
Consumir menos
Uma lmpada feita com os modernos LEDs (sigla em ingls para Light
Emitting
Diode) emite a mesma quantidade de luz de uma lmpada
incandescente
tradicional usando apenas 25 % de energia. Alm disso, sua vida
til estimada
em 50000 horas, contra apenas 1000 horas das concorrentes. Mas
ela ainda custa
at vinte vezes mais do que as lmpadas comuns. Subsidi-la pode
ser uma sada.
Reduo: se todas as lmpadas de Nova York fossem substitudas por
LEDs, a
economia seria de 264 TW/h, que, gerados por usinas
termeltricas, jugam na
atmosfera 200000 toneladas mtricas de gs carbnico por ano, o
equivalente ao
consumo anual de uma frota de 36000 veculos. (2009, p. 137)
As enunciaes destacadas acima do visibilidade a forma como a
mdia interpela
os sujeitos a agirem de maneira consciente, preservando a
natureza e seus recursos. Tais
enunciaes so repetidas constantemente de diferentes formas, seja
na revista aqui
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colocada em anlise, seja em propagandas de televiso, em desenhos
animados ou como
notcia de programas televisivos. Dessa forma, as questes
ambientais apresentadas pela
mdia instauram o visvel e o enuncivel, seja pelas imagens
assustadoras apresentadas,
seja pelas afirmaes apelativas que colocam em risco a vida do
planeta. Assim, a mdia
vai nos convidando a ver e a falar sobre a problemtica
ambiental, como podemos
visualizar nas imagens abaixo, referente a capas da Revista
Veja, nas quais somos
interpelados por imagens emblemticas e terroristas que colocam
em dvida a
continuidade de vida na terra.
Entendemos que os discursos miditicos colocados em circulao
legitimam
verdades que se reverberam como opinio pblica e esses jogos de
verdade acabam por
engendrar e produzir modos de vida. Vimos que a Educao Ambiental
constitui-se como
um desses discursos legitimados pela mdia e que operam no nvel
do coletivo para atingir
o indivduo em suas aes dirias. A mdia vai ensinando as formas
corretas de agir e se
comportar frente a problemtica ambiental, como podemos
visualizar nos excertos abaixo:
SOS TERRA
Pases e pessoas agem...
... mas alguns ainda duvidam (Veja, outubro de 2007).
A realidade do aquecimento global criou uma preocupao com o
ambiente
como nunca se viu: todo mundo quer fazer a sua parte para salvar
o planeta
(Veja, outubro de 2007, p. 87) [grifos nossos].
Pagar para no derrubar
Reflorestar
Energias alternativas
Carros eltrico e Hbridos (Veja, dezembro 2009, p. 136).
Visualizamos nos excertos acima o quanto a mdia ensina e
constitui formas de ser
e viver atravs de uma Pedagogia. Ela dita o que fazer e como
fazer e assim vai
direcionando e conduzindo a vida de cada um. Olhamos para essas
e outras tantas
enunciaes miditicas e colocamo-nos a pensar sobre a fabricao de
verdades no campo
da Educao Ambiental. Olhamos para este campo de saber como
estratgia de controle da
vida social, to bem difundidas pelos meios de comunicao, aqui
especialmente a Revista
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Veja. Articulamos tal estratgia ao que Foucault conceituou de
biopoder (2005; 2008a;
2008b), um poder sobre a vida, agindo com tcnicas de preveno e
seguridade pelo bem-
estar da massa de indivduos. O biopoder tem como alvo a populao,
mas para isso
precisa capturar individualmente cada sujeito, para que juntos
ajam em prol do planeta.
Todos e cada um fazem parte desse jogo.
Assim, os discursos proliferados na mdia acerca das problemticas
ambientais e da
recorrente preocupao com o fim do planeta nos levam a pensar que
tais ditos no se
dirigem apenas para um sujeito, mas para o coletivo que deve,
junto, se mobilizar para que
aes individuais repercutam na transformao do meio ambiente e
contribuam para a
Salvar a Terra (Veja, reportagem de capa, outubro de 2007).
Percebemos ento uma
forte articulao com o biopoder um poder sobre a vida uma
tecnologia de poder que
estaria relacionada e endereada a populao. Dessa forma, passamos
a olhar alguns
discursos de Educao Ambiental, to divulgados na mdia, que
colocam em operao
tanto a tecnologia do biopoder quanto a tecnologia disciplinar.
No excerto abaixo
apresentamos o quanto a disciplina e o biopoder se exercem
conjuntamente em alguns
enunciados.
Salvar a Terra como essa ideia triunfou Militncia ecolgica: dos
verdes aos radicais do planeta sem gente Conscincia ambiental:
filho nico; camiseta de fibra reciclada; sacola d fibra
natural; fralda de pano; alimentos orgnicos; cantil (para evitar
garrafas pet);
cala de algodo orgnico feita mo; bicicleta 0 de CO; sandlias com
lona de
pneu reciclado (Veja, reportagem de capa, outubro de 2007).
Nas estratgias disciplinares torna-se necessrio que cada um faa
a sua parte pelo
planeta, comprando e consumindo produtos ecologicamente
corretos, andando de
bicicleta para no poluir o ar, tendo apenas um filho. Com tais
aes o planeta terra e,
consequentemente, a populao sero beneficiados. Percebemos com
chamadas como esta
um forte apelo para que o sujeito disciplinado atenda ao
convite, realizando aes
diariamente, pensando no bem-estar da maioria dos indivduos.
Assim, o biopoder e a
disciplina capturam-nos para que em nosso cotidiano faamos o
melhor para a
continuidade da vida no planeta. Olhamos para a Educao Ambiental
e os discursos to em
voga na mdia e visualizamos estratgias de gerenciamento da vida
em operao, convocando cada
um e todos a fazerem a sua parte para que no ocorra O Fim do
Mundo (Veja, reportagem de
capa, dezembro de 2009).
Importante destacar ainda que recorrentemente vemos emergir
enunciaes que
reforam uma viso reducionista acerca da relao homem x natureza,
anunciando uma
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viso naturalista. Em tais enunciaes o homem est dissociado do
mundo natural, sua
interferncia sempre negativa, como podemos visualizar nos
excertos abaixo:
A comear por seus bens mais preciosos , a gua e o ar, o balano
da atividade
humana mostra uma tendncia suicida. (Veja, abril de 2001, p.
93)
Com a mesma insolncia de quem joga uma casca de banana ou uma
lata de
refrigerante pela janela do carro pensando que est livrando da
sujeira, a
humanidade despeja na natureza todos os anos 30 bilhes de
toneladas de lixo.
(Veja, abril de 2001, p. 94)
Nas reportagens das prximas pginas, Veja traa um panorama das
armadilhas
produzidas pelos homens para si mesmos, desde a exausto dos
recursos vitais
como a gua at os efeitos incontornveis do aquecimento global,
que podem ser
amenizados na melhor das hipteses, ou agravados em propores
dantescas, na
pior. Duas reportagens registram tambm pequenas rstias de
esperana que
podem vir a ser a salvao do planeta. (Veja, outubro de 2005, p.
85)
A mo do homem na matana das focas, na desolao do morador
devastado
pelo Katrina e na poluio chinesa: capacidade demudar o planeta
em escala
geolgica. (Veja, outubro de 2005, p. 87)
Olhamos para enunciaes como estas e retomamos os estudos de
Carvalho (2008)
quando faz uma crtica para a forma como a natureza vem sendo
representada, muitas
vezes nos remetendo a ideia de um mundo natural e biolgico.
Segundo a autora, em
muitos contextos o homem aparece como um ameaa destrutiva a
natureza, que boa, pura
e pacfica. Prope uma reflexo sobre os conceitos de natureza e
meio ambiente contidos
em tais iderios. Argumenta que estes se fundamentam numa viso
que denomina como
naturalista que baseia-se principalmente na percepo da natureza
como fenmeno
estritamente biolgico, autnomo, alimentando a ideia de que h um
mundo natural
constitudo em oposio ao mundo humano (2008, p. 35). Em
contrapartida, apresenta
uma outra abordagem j apresentada neste texto , a qual se prope
a estudar e que
chama de socioambiental. Aqui a natureza e os humanos, bem como
a sociedade e o
ambiente, estabelecem uma relao de mtua interao e co-pertena,
formando um nico
mundo (2008, p. 36).
Nessa perspectiva a Educao Ambiental estabelece relaes entre o
homem e a
natureza, entendendo que ambos no esto dissociados, mas que se
integram, se produzem
e se modificam na cultura. Tal entendimento considera a
importncia da tica nas relaes
sociais e nas relaes com a natureza. Assim, a EA estaria
profundamente relacionada com
as questes culturais, que produzem nossas vidas e com as quais
convivemos e
modificamos diariamente. Assim, no teria sentido tratar o homem
de forma isolada em
relao a natureza. Aqui natureza e homem se produzem e so
produzidos.
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No queremos com tais anlises dizer que a problemtica ambiental
no algo real,
entendemos que existe uma materialidade da crise e no podemos
negar todos os
acontecimentos ambientais que nos acometem nos ltimos anos como
as chuvas e
tempestades que inundam as cidades e deixam milhares de pessoas
desalojadas; os grandes
terremotos que destroem cidades inteiras; as terrveis secas que
atacam agricultores no
pas; a escassez de gua que leva as pessoas a fazer racionamento
em alguns locais do
Brasil e tantos outros. Nossa inteno nesse trabalho foi colocar
em anlise a forma como
essa crise vem sendo narrada, quais estratgias de poder so
operadas e de que forma os
sujeitos so posicionados a partir de uma produo discursiva
colocada em funcionamento
na mdia impressa.
Provocaes finais
Nosso texto caminha na direo de pensar para alm de aes
ecologicamente
corretas. No queremos, com isso, dizer que no devemos agir
pensando no futuro. Talvez
pensar nessas aes seja fundamental para a existncia da vida na
Terra. No entanto,
queremos pensar para alm disso isso j tem farta exposio na mdia!
Qual fora e
produtividade e no negatividade como estamos acostumados a
pensar tm os discursos
miditicos que nos conduzem a aes e pensamentos diante do cenrio
contemporneo?
Indo alm, talvez Foucault nos ajude a entender esse mecanismo de
poder, to evidente na
mdia brasileira, como uma ferramenta que produz coisas, forma
sujeitos, constitui o
espao-tempo atual.
Diante disso, gostaramos que nosso texto pudesse provocar novas
discusses no
campo da Educao Ambiental, entendendo-a como um importante
instrumento para o
gerenciamento da sociedade atual. Talvez ele pudesse tornar-se
uma possibilidade de
resistncia e criao, ao olhar a Educao Ambiental para alm de um
discurso naturalista,
ecolgico ou de preservao do planeta. Talvez pudssemos pensar na
criao de uma
ecosofia (GUATTARI, 1990), promovendo espaos de resistncia,
produzindo estratgias
de poder que possibilitam a subverso e a produo de espaos ticos
e polticos para o
campo da Educao Ambiental.
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Cidade, identidade e ecologia
Fabiane Pianowski
1
Resumo
No decorrer do processo histrico de estabelecimento da cidade, o
afastamento gradativo
do homem em relao natureza resultou no caos ecolgico em que o
planeta se encontra,
no qual visvel tanto a degradao do meio ambiente (construdo ou
natural) quanto a
falta de identidade em relao ao mesmo. Uma das formas possveis
de se pensar a questo
da identidade se faz atravs da leitura arquitetnica/espacial da
cidade, sob a perspectiva
ecolgica, permitindo a verificao/constatao do afastamento do
homem moderno do
ambiente natural, uma vez que a construo da cidade se d de forma
dialgica com a
construo da identidade. Para que isto se torne vivel, a cidade
deve ser pensada alm de
sua forma. O presente trabalho estabelece as relaes tericas
entre cidade, identidade e
ecologia, na tentativa de demonstrar em que medida a configurao
da cidade um ndice
revelador do processo de construo da identidade.
Palavras-chave: Cidade. Identidade. Educao ambiental.
Cidade e educao ambiental
Ao conceituar a ecosofia sob a perspectiva das trs ecologias: do
meio ambiente,
das relaes sociais e da subjetividade humana, Flix Guattari
(1989) sintetizou as
questes que tangem vida como correlacionadas em cadeia. Desse
modo, objetivou sem
deixar menos complexa a rede que configura a educao ambiental
contempornea.
Portanto, se pensarmos ecologia sob a definio de Manuel Castro
(1992): ecologia um
problema de relao do homem consigo mesmo, com os outros e com as
coisas, nos
aproximamos da ecosofia de Guattari e podemos, ento, vincular
educao ambiental
ecologia, mas a uma ampla ecologia e no mais restrita ecologia
do meio ambiente. Sob
este aspecto, a educao ambiental passa a ser uma forma de
questionamento, de busca e
de construo do modo de ser, estar e viver do homem moderno.
Ampliando-se o enfoque da educao ambiental, ampliam-se tambm
seus objetos
de estudo. Assim, os ambientes natural e construdo passam a ter
o mesmo valor de
importncia; mais do que isso, dialogam na construo do
conhecimento ambientalista, no
momento em que compem os fios de uma mesma teia de relaes. So
estes ambientes,
1 Professora assistente da Universidade Federal do Vale do So
Francisco (UNIVASF), Arte/Educadora, Mestre em Educao Ambiental
pela FURG e doutoranda em Histria da Arte pela Universidad de
Barcelona. Contato: [email protected]
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contra e justapostos, o substrato fsico/matrico da ao da
ecosofia de Guattari, no s
enquanto o ambiente em que estamos presentes, mas como o local
onde a ao se
desenrola, ou seja, o palco das relaes sociais e da concretizao
da subjetividade
humana. Tornam-se, portanto, objetos passveis de estudo, de
maneira que, ao
compreend-los, a atuao neles se faz mais profunda e,
conseqentemente, mais
competente. Como afirma Crivellaro et al (2001, p.18), o estudo
do meio, um dos
principais recursos em educao ambiental, nos revela as
potencialidades e fragilidades do
ambiente, seja ele natural ou urbano, possibilitando captar
informaes sobre sua dinmica
e as caractersticas peculiares que do identidade a cada
comunidade.
Dessa forma, fica claro que pensar cidade tambm pensar educao
ambiental, e
vice-versa. Mas assim como esta no pode ser pensada somente pelo
enfoque biolgico,
aquela tambm deve ser pensada alm de sua forma. Desse modo,
deve-se estudar a cidade
"por dentro", como afirma Carlos (1997), ou seja, refletir sobre
sua natureza, considerar
seu contedo e seus processos; voltar-se para uma dimenso
especfica da cidade: a sua
dimenso visual/espacial, que se configura como o espao da
realizao fsica/concreta das
relaes sociais e da subjetividade humana.
A cidade, enquanto resultado da produo humana, presta-se como
objeto de
anlise na busca do conhecimento identitrio. O enfoque dado o da
ecologia que objetiva
a preservao da habitao, entendida como o lugar externo e interno
da ao humana.
Desse modo, a cidade, como lugar de moradia, e a identidade,
como lugar de existncia,
so duas faces de uma mesma moeda: a cultura. Esta no s pode,
como deve ser
preservada, configurando-se, portanto, como uma questo de ordem
ecolgica.
O caos est instaurado e seu mais bvio reflexo a alienao do homem
de si
mesmo e do mundo. Para o desvendamento dessa problemtica, muitos
caminhos se
apresentam, o escolhido aqui o que reconhece essa crise catica
como uma crise de
identidade. A identidade apresenta-se numa relao dialgica com a
configurao
espacial/arquitetnica da urbe, que se faz como produto da relao
homem-natureza.
Tanto cidade como identidade, entendidas como cultura, quanto a
ecologia so
assuntos que esto na ordem do dia. No movimento paradoxal de
separ-las para entrela-
las, busca-se dar conta de sua complexa teia de
inter-relaes.
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Ecologia: interseco entre natureza e cultura
Tudo vai, tudo volta;
eternamente gira a roda do ser...
Tortuoso o caminho da eternidade.
Nietzsche
O homem moderno carrega o estigma de ter se afastado da natureza
a ponto de no
mais se reconhecer nela. Sua atitude de alienao do mundo e de si
mesmo, sentindo-se
como que deslocado, em descompasso com o mundo que o rodeia; ou
ao contrrio,
sentindo que o mundo que o rodeia que est descompassado em relao
ao seu ritmo. H
nesta relao um desconforto que gera a crise. Crise que leva ao
caos. O caos amplia a
ruptura, que aumenta a crise, que adensa o caos... Configura-se
um moto-contnuo que
levaria autodestruio, no fossem os movimentos tangenciais
engrenagem que
desviam o fluxo e promovem o ajuste responsvel pela manuteno da
vida.
A vida se apresenta aqui como um