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CIRCULA EM NÃO-ME-TOQUE, CARAZINHO, VICTOR GRAEFF, ERNESTINA, TIO HUGO, COLORADO, LAGOA DOS TRÊS CANTOS E TAPERA - ANO XXXV - Nº 1772 - 23 DE MARÇO DE 2013 - VENDA AVULSA: R$ 3,00 SÁBADO, 23 DE MARÇO DE 2013 - 3 É pr eciso dizer Para o educador e antropólogo Tião Rocha o atual modelo escolar aprisiona e já está dando sinais de falência... “A escola do futuro não existirá. É possível fazer educação de qualidade sem escola.” Tião Rocha foi professor da Ufop (Universidade Fe- deral de Ouro Preto). Abandonou o emprego para fundar, em 1984, em Belo Horizonte (MG), o Centro Popular de Cultu- ra e Desenvolvimento. Tião Rocha iniciou, naquele ano, um projeto pedagógi- co onde a cultura local é utilizada como matéria-prima do ensino... Defendendo que a educação acontece em qualquer lugar... “E foi debaixo de um pé de manga que a pedagogia da roda começou. Em círculo as crianças discutem, avaliam e decidem a atividade do dia.” “Há trinta anos eu me perguntava se era possível fazer educação sem escola... Debaixo de um pé de manga. Compro- vamos que é possível sim fazer educação de qualidade em qualquer lugar. Mas o MEC (Ministério da Educação) conti- nua produzindo cartilhas e distribuindo livros didáticos... E os professores continuam dando a mesma aula de sempre.” “As escolas continuam com seis aulas de matemática e nenhuma de cidadania, solidariedade ou artes... Continuam com aulas de 50 minutos... Como se todo mundo aprendesse em 50 minutos... Essa imbecilidade está presente em pleno século vinte e um.” “As escolas têm grades... Têm currículo. Podem ser comparadas a uma cadeia... Uma prisão. Em vez de serem espaço gerador de conhecimento aprisionam conteúdos... Determinam o que é preciso aprender. Se é para as crianças e os adolescentes serem felizes - gostarem do que estão fazen- do - as escolas precisavam ter mais música, mais poesia, mais solidariedade e menos matemática, menos química... Estamos criando pessoas para serem bem-sucedidas profissionalmen- te... Mas será que estamos criando pessoas para serem feli- zes?” Tião Rocha defende a necessidade de se valorizar a cultura popular no ambiente educacional... “Precisamos nos sentir parte integrante do território... Precisamos ter a certeza de que pertencemos a algum lugar... Que estamos ligados a esse lugar... A cultura popular e as tradições fazem a identida- de das pessoas... Transformam indivíduos em pessoas. Quan- do não encontramos nosso lugar no mundo e não nos senti- mos parte de um todo tornamo-nos massa de manobra.” A proposta de Tião Rocha, de uma educação mais livre, já atingiu mais de quinhentos educadores e vinte mil crianças. Foi levada a Moçambique e a Guiné Bissau. “Nós comprova- mos que é possível sim fazer educação de boa qualidade, em qualquer lugar, sem escola. Aprendemos, também, que só podemos fazer boa educação se tivermos bons educadores. Bons educadores são aqueles que geram processos perma- nentes de aprendizado e não repassadores de conteúdo.” “O modelo atual da escola deixa a maioria para trás... Aproveita o mínimo e vai “informando” gente... Gente que não é crítica... Que não pensa... Que não age... Que não é bom cidadão.” Segundo Tião Rocha: a escola, em breve, deverá ser substituída por espaços de aprendizagem... “Educação se faz com bons educadores. O modelo escolar arcaico “aprisiona” e há décadas dá sinais de falência. Não precisamos de sala. Precisamos de gente. Não precisamos de prédio. Precisamos de espaços de aprendizado. Não precisamos de livros. Preci- samos ter todos os instrumentos possíveis que levem as cri- anças a aprenderem.” * Mestre em história, jornalista e pesquisadora ALINE BRANDT*
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2013 Correio Regional . Tião Rocha

Mar 27, 2016

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Tião Rocha em destaque no Jornal Correio Regional.
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Page 1: 2013 Correio Regional . Tião Rocha

CIRCULA EM NÃO-ME-TOQUE, CARAZINHO, VICTOR GRAEFF, ERNESTINA, TIO HUGO, COLORADO, LAGOA DOS TRÊS CANTOS E TAPERA - ANO XXXV - Nº 1772 - 23 DE MARÇO DE 2013 - VENDA AVULSA: R$ 3,00

SÁBADO, 23 DE MARÇO DE 2013 - 3

É pr eciso dizer� Para o educador e antropólogo Tião Rocha o atual

modelo escolar aprisiona e já está dando sinais de falência...“A escola do futuro não existirá. É possível fazer educação dequalidade sem escola.”

� Tião Rocha foi professor da Ufop (Universidade Fe-deral de Ouro Preto). Abandonou o emprego para fundar, em1984, em Belo Horizonte (MG), o Centro Popular de Cultu-ra e Desenvolvimento.

� Tião Rocha iniciou, naquele ano, um projeto pedagógi-co onde a cultura local é utilizada como matéria-prima doensino... Defendendo que a educação acontece em qualquerlugar... “E foi debaixo de um pé de manga que a pedagogia daroda começou. Em círculo as crianças discutem, avaliam edecidem a atividade do dia.”

� “Há trinta anos eu me perguntava se era possível fazereducação sem escola... Debaixo de um pé de manga. Compro-vamos que é possível sim fazer educação de qualidade emqualquer lugar. Mas o MEC (Ministério da Educação) conti-nua produzindo cartilhas e distribuindo livros didáticos... Eos professores continuam dando a mesma aula de sempre.”

� “As escolas continuam com seis aulas de matemática enenhuma de cidadania, solidariedade ou artes... Continuamcom aulas de 50 minutos... Como se todo mundo aprendesseem 50 minutos... Essa imbecilidade está presente em plenoséculo vinte e um.”

� “As escolas têm grades... Têm currículo. Podem sercomparadas a uma cadeia... Uma prisão. Em vez de seremespaço gerador de conhecimento aprisionam conteúdos...Determinam o que é preciso aprender. Se é para as crianças eos adolescentes serem felizes - gostarem do que estão fazen-do - as escolas precisavam ter mais música, mais poesia, maissolidariedade e menos matemática, menos química... Estamoscriando pessoas para serem bem-sucedidas profissionalmen-

te... Mas será que estamos criando pessoas para serem feli-zes?”

� Tião Rocha defende a necessidade de se valorizar acultura popular no ambiente educacional... “Precisamos nossentir parte integrante do território... Precisamos ter a certezade que pertencemos a algum lugar... Que estamos ligados aesse lugar... A cultura popular e as tradições fazem a identida-de das pessoas... Transformam indivíduos em pessoas. Quan-do não encontramos nosso lugar no mundo e não nos senti-mos parte de um todo tornamo-nos massa de manobra.”

� A proposta de Tião Rocha, de uma educação mais livre,já atingiu mais de quinhentos educadores e vinte mil crianças.Foi levada a Moçambique e a Guiné Bissau. “Nós comprova-mos que é possível sim fazer educação de boa qualidade, emqualquer lugar, sem escola. Aprendemos, também, que sópodemos fazer boa educação se tivermos bons educadores.Bons educadores são aqueles que geram processos perma-nentes de aprendizado e não repassadores de conteúdo.”

� “O modelo atual da escola deixa a maioria para trás...Aproveita o mínimo e vai “informando” gente... Gente quenão é crítica... Que não pensa... Que não age... Que não é bomcidadão.”

� Segundo Tião Rocha: a escola, em breve, deverá sersubstituída por espaços de aprendizagem... “Educação se fazcom bons educadores. O modelo escolar arcaico “aprisiona” ehá décadas dá sinais de falência. Não precisamos de sala.Precisamos de gente. Não precisamos de prédio. Precisamosde espaços de aprendizado. Não precisamos de livros. Preci-samos ter todos os instrumentos possíveis que levem as cri-anças a aprenderem.”

* Mestre em história, jornalista e pesquisadora

ALINEBRANDT*