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Copyright 2006 [urandir Malerba
Todos os direitos desta edio reservados Editora Contexto
(Editora Pinsky Ltda.)
Montagem de capa e diagramaoCustava S. Vilas Boas
RevisoLilian Aquino
Vera Quintanilha
Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara
Brasileira do Livro, SP, Brasil)
A histria escrita: teoria e histria da historiografia
/organizador J urandir Malerba. - So Paulo: Contexto, 2006.
Bibliografia.ISBN 85-7244-303-7
I. Histria - Filosofia 2. Historiografia -Histria 3.
Historiografia - Teoria I. Malerba,Jurandir.
05-5761 COO-901
ndice para catlogo sistemtico:1. Hisroriografia : Histria 90
I
EDITORA CONTEXTO
Diretor editorial: Jaime Pinsky
Rua Acopiara, 199 - AI to da Lapa05083-110 - So Paulo - SP
PABX: (l1) 3832 5838contexroteditoracontexro.com.br
www.editoracontexto.com.br
2006
Proibida a reproduo total ou parcial.Os infratores sero
processados na forma da lei.
Sumrio
Apresentao
...........................................................................................................................7
Teoria e histria da historiografia .Jurandir Malerba
11
Para uma nova histria da historiografia 27
Horst Walter Blanke
Historiografia e tradio das lembranasMassimo Mastrogregori
. 65
Historicismo, ps-modernismo e historiografia 95
Frank R. Ankersmit
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114
Historiografiacomparativa intercultural
J6m Rsen
Por que a teoria?Muitos trabalhos em historiografia so
elaborados dentro da estrutura de
uma histria nacional.' Uma perspectiva mais ampla incluir a
historiografiaeuropia ou ocidentaF ou ahistoriografia de culturas
no-ocidentais. Essa ltimatrataria principalmente de um nico pas ou
uma nica cultura, como a China
3
ou a ndia." Estudos comparativos so raros.' H uma srie de razes
para issoe mencionarei apenas duas delas: a dificuldade de aplicar
habilidades depesquisa especializada a culturas histricas
diferentes e o domnio dopensamento histrico ocidental nos estudos
histricos mesmo em pases no-ocidentais. Essa dominao arrasta o
interesse acadmico para as origens e o
-
desenvolvimento do modelo especificamente moderno de
pensamentohistrico. Porm, h urna necessidade crescente de comparao
interculturalsimples e inevitavelmente por causa do grande aumento
da comunicaointernacional e intercultural, no apenas na economia
ena poltica, mas tambmem vrios campos da vida cultural.
Como a comparao intercultural deveria ser feita?" No basta
prdiferentes histrias da historiografia juntas. Isso poderia
fornecer um til emesmo necessrio panorama do conhecimento disponvel
at determinadomomento, mas no se constitui em um tipo de comparao,
uma vez que asdiferentes acumulaes de conhecimento carecem de uma
estrutura comumde organizao cognitiva. Toda comparao precisa de um
parmetroorganizativo. Antes de olhar para os materiais (textos,
tradies orais, imagens,rituais, monumentos, assim por diante),
necessrio saber que campo de coisasdeve ser levado em considerao e
de que maneira as descobertas nesse campodevem ser comparadas.
Trocando em midos: quais so as similaridades e ondeesto as
diferenas nos domnios da historiografia?
Essa questo simples exige uma resposta muito complexa. A
comparaointercultural um assunto muito delicado. Ela resvala no
campo da identidadecultural e, por conseguinte, envolve-se em
conflitos de poder entre diferentespases, especialmente no que
tange dominao ocidental e resistncia no-ocidental a ela, em uma
grande variedade de formas de relao intercultural.Porm, no s
Oconflito poltico pelo poder que torna problemtica umacomparao
intercultural dentro da disciplina da histria. Para alm da
poltica,encontra-se uma dificuldade epistemolgica com enormes
conseqnciastericas e metodolgicas para as humanidades: tO~l2..ara~
feita emum dado contexto cultural, de~im.Elica~oda~o~araso. Os
historiadores, ao olharem para o pensamento histrico deoutras
culturas, normalmente o fazem por meio da idia de historiografia
desua prpria cultura. Eles no sentem nenhuma necessidade urgente de
refletirou de explicar isso teoricamente. Esse sentido
preestabelecido do que historiografia funciona como parmetro
oculto, como norma ou, pelo menos,como fator que vem estruturando o
panorama de variedades de pensamentohistrico em diferentes lugares
e pocas.
A desateno o problema: em uma tal comparao, certo tipo
depensamento histrico tem um metastatus irrefletido, e acaba
determinando
116
os resultados da comparao. O modo "real" ou essencialmente
"histrico"de historiografia naturalmente s poder ser encontrado
nesse paradigmapreexistente e os outros modos ganham seu sentido,
significado e significaoapenas em relao a ele.7Acomparao, aqui, no
revela nada seno uma medidada distncia de uma norma acriticamente
assentada. Em casos raros, estudiosospodem usar projees de
alternativas dentro de outras culturas no sentido decriticar a seus
prprios pontos de vista; mas, mesmo nesse caso, eles nuncatm um
discernimento substancial das peculiaridades e similaridades de
diferentes modos de pensamento histrico e de historiografia.Por
exemplo, pode-se perguntar: como devemos tratar com elementos
de fico e imaginao potica na representao do passado? Se
avaliamosesses elementos como a-histricos, no-histricos (mesmo
anti-histricos),ou como essenciais para entender a histria, vai
depender do conceito depensamento histrico e historiografia dado
pela nossa cultura. Um outroexemplo a questo da importncia de uma
linguagem escrita. Por causa deuma convico acriticamente assentada
sobre o papel constitutivo de umalinguagem escrita para o
pensamento histrico, por muito tempodenominamos de lia-histricas"
culturas com tradio unicamente oral,mesmo como no pertencendo
histria como um todo:" tais culturas soconsideradas histricas
somente depois da introduo da escrita. Por certo,esse preconceito
impede discernir dentro da cultura tipos especficos depensamento
histrico que no se apiem sobre uma linguagem escrita.
No se pode evitar o conflito entre engajamento e interesse
relativo identidade histrica das pessoas cuja historiografia pode e
deve sercomparada. Esse engajamento e interesse tm de ser
sistematicamente levadoem conta; tm de se refletir sobre eles,
explic-Ios e discuti-Ios. H pelomenos um meio sistemtico de faz-lo,
que d a oportunidade para odiscernimento compreensivo e o
conhecimento e para a concordncia potenciale o consenso entre
aqueles que se sentem comprometidos com umacompreenso rigorosa das
diferentes culturas em questo. Eu penso na teoria,ou seja, um certo
modo de refletir sobre e explicar os conceitos e as estratgiasde
comparao. Somente por meio da reflexo teoricamente informada
nspoderemos evitar ou corrigir qualquer imperialismo cultural
oculto ou
perspectiva equivocada no conhecimento comparativo.9
117
-
Qual teoria?Como podemos simplesmente evitar assumir como
genericamente vlida
nossa prpria maneira tradicional de pensamento histrico? A
resposta para essaquesto est em olhar para os universais
antropolgicos da conscincia histrica.Para faz-lo, devemos ir alm
dos limites da historiografia profissional eacadmica e seus
procedimentos racionais de cognio histrica. A histria
comodisciplina acadmica no pode servir como modelo ou paradigma
para ainstituio universal da historiografia. Ao contrrio, dgvemos
reclamar poropr a es is' icas ue odem ser encontradas em
ualquer~a", Haver algo como um universal antropol.Qgko chamado
"consc~iahstrca"? Ns sabemos que pensar historicamente, no sentido
corrente dapalavra "histria", um resultado de um longo processo de
desenvolvimentocultural e no pode ser pressuposto em todas as
formas de vida humanas. Mas sese observa algumas operaes mentais
bsicas constituintes da conscinciahistrica, possvel identific-Ias
como universais. A explicao dessesprocedimentos conduz a uma t~a
geral da memria culturaL
No h cultura humana sem um elemento constitutivo de memriacomum.
Ao relembrar, interpretar e representar o passado, as
pessoascompreendem sua vida cotidiana e desenvolvem uma perspectiva
futuradelas prprias e de seu mundo. Histria, nesse sentido
fundamental eantropologicamente universal, uma reminiscncia
interpretativa do passadode uma cultura, que serve como um meio de
orientar o grupo no presente.Uma teoria que explica esse
procedimento fundamental e elementar de darsentido ao passado
consoante orientao cultural no presente um pontode partida para a
comparao intercultural. Tal teoria tematiza a memriacultural ou a
conscincia histrica que define o objeto de comparao em geral."Ela
serve como definio categrica do campo cultural no qual a
historiografiatoma forma. Na estrutura dessa teoria no h uma
definio a priori dehistoriografia. Ao contrrio: a historiografia
aparece, na sua estrutura geralda conscincia histrica ou memria
cultural, como uma forma especfica deuma prtica cultural bsica e
universal da vida humana.
A estrutura terica de uma comparao intercultural no tem apenas
de"definir" o campo daquilo que deve ser comparado. Ela tem de
abrir umaperspectiva dentro da qual a "historiografia" ou o
"pensamento histrico",como matria de comparao, entra em foco. Ela
tambm tem de abrir uma
118
'f
perspectiva que torne visvel a variedade de diferenas, e assim
esclarecercomo essa variedade se constitui. Antes de mais nada, ela
depende dascircunstncias dentro das quais a conscincia histrica
trabalha. Quais osdesafios que ela implica e quais junes ela tem de
preencher? Alm do mais,de~pxticlUJJl.t.ur.al.- p9!-J.l1ejo da qual
a conscincia histrica..i~~pr.ocesso de com~ co~
~elemento-ia_vid>aSQ.cial. Terceiro, de~e-se o~rvar os
pr~rocessos melliai!LpOr meio dosquais uma reminiscncia
interpretativa do passado ganha a qualidade
especfica daquilo que ns chamamos "histria".U0a ateno
esp..eciaLdeveria ser dada.aos ]2!inci12.iosde "sentido" ~e
go~f\St-rll~o1tistrica. Eles determinam a lgica da
interpretaohistrica, a potica e a retrica de constituio de uma
representao e aspossibilidades de entender o passado como algo
relevante e importante paraa orientao de uma cultura no presente. O
livro de Hao Chang sobre opensamento chins na virada para o sculo
xx fornece excelente descrio dessesprncpos." Ele fala de um
"simbolismo orientador", uma "interpretao geralda vida e do mundo"
que permite s pessoas '1lnter coerncia e ordem emum universo de
sentido". Esse simbolismo est relacionado a trs fatores- - -
-------pr~ eu, a sociedade e o cosmQs. EIg..tambm modela os modos.
dep.ms.amento histrjo. Assim como, em histria, se expressa em
conceitos detempo e de mudana temporal que definem a relao entre
passado, presentee futuro. Tais conceitos inserem o mundo em ordem
e permitem s pessoassuportarem a experincia da contingncia, pela
qual suas vidas sopermanentemente ameaadas. O~ chineses tambm
definem suas formas devi$la social co~tlnand. . entidade intimidade
.dade. Em chins pode-se falar no Tao da histria, que pode ser
comparado com o logos da histria ouseu" sentido", no Ocidente. Os
princpios e os modos de pensamento correla tosmarcam uma linha
entre sentido e insensatez, com respeito dimensotemporal da vida
humana. (Assim, poder-se-ia investigar-se no apenas osentido, o
significado e a significao, mas tambm seus opostos: o que vistocomo
sendo sem sentido, catico, ameaador e assim por diante?)
Finalmente, deve-se atmtaLpara..modos., processos e fatores de
mudana e~ - ---- -"
de~ent(l...Gem-re.,s.peito ao trabalho, d~scincia
~trica~P~diferentes m~ de atribuir sentido histrico ao passado ser
colocados emum;yegitnci temporal? FIlg~~qm.P.~ na r5'~dn'a estrutur
dopnsamento histrico mediante as fronteiras de diferent~r~S?
Aqi.
, ",...." __ o -
119
-
deve-se ser especialmente cuidadoso para generalizar para todas
as culturasas mudanas que marcaram o pensamento histrico
europeu.
Nas pginas seguintes, abordo esses pontos com mais detalhes.
Contudo,um argumento sistemtico exigiria uma teoria compreensiva
ebem articuladado "entendimento da histria", a qual eu (ainda) no
posso oferecer.12
Algumas observaes a respeitodo mtodo de comparaoEm qualquer'
comparao intercultural necessrio questionar como as
unidades de comparao devem ser vistas. H entidades
preestabelecidas,bem delimitadas no tempo e no espao? Quais os
pressupostos adequadospara uma teoria da comparao intercultural? H
critrios de sentido queconstituem o pensamento histrico em geral.
Esses critrios so parte essencialde um cdigo cultural que define as
unidades de comparao.Conseqentemente, culturas podem ser comparadas
por meio de conceitosfundamentais que definem as formas e os campos
de realidade e deautocompreenso humanos. De modo que uma tpologa de
tais conceitos um instrumento terico muito til para uma abordagem
comparativa.
Iohan Galtung props uma tipologia bem estruturada desse tipo."
Elecaracteriza seis diferentes culturas (ocidente 1, ocidente 2,
Indica, bdica,sina, nipnica)' a partir de oito conceitos bsicos
("natureza", "indivduo","sociedade", "mundo", "tempo individual",
"tempo social", "transpessoa","episteme"). Tal tipologia revela a
especificidade dos cdigos culturais. Masqual O status de um tal
cdigo constitudo pela inter-relao sistmica deconceitos bsicos e
critrios de sentido? Ele torna a cultura algo muito estticoe
espacialmente descontnuo. As culturas tornam-se mnadas,
configuraesisoladas de sentido e significado que acompanham a fora
reguladora deseus cdigos culturais profundamente arraigados.
Tal teoria das diferenas culturais padece de uma perigosa
tendncia aessencializar ou mesmo a reificar as culturas singulares
em questo. Suas
N. T.:No original: Indic, Buddhic, Sinic, Nipponic. Os
neologismos do Dr. Galtung foram criadoscom a inteno de indicar uma
cultura - e no um pas ou regio, Assim, ndica refere-se India;bdica,
a budista; sina, a chinesa e npnca, a japonesa. Os esclarecimentos
so do Prof. Rsen,
120
historicidades prprias, suas mltiplas conexes e seus
condicionamentosmtuos perdem-se de vista. A comparao simplesmente
resgata dicotomiase ou alternativas claras: o pensamento histrico
segue este ou aquele cdigo.Formas afins de identidades culturais
parecem territrios espaciais comfronteiras ntidas. Nada parece
existir para alm ou por meio de cdigosnicos. Mas a prpria tipologia
transgride essa linha fronteiria com umpasso decisivo para indicar
um modo de pensamento que no emergenecessariamente de um cdigo
cultural. Uma tipologia das diferenasculturais, uma construo
necessariamente heurstica, tem de evitarcaracterizar culturas como
entidades ou unidades preestabelecidas.
Essa idia obedece uma lgica cultural que fundamenta a
identidadeem uma diferena bsica entre dentro e fora. Assim,
conceitua identidadecomo um territrio mental com fronteiras ntidas
e uma correspondenteclara diviso entre o eu e o outro. Essa lgica
essencialmente etnocntricae o etnocentrismo est inscrito em uma
tipologia das diferenas culturaisque trata as culturas como
unidades coerentes que podem sertranqilamente separadas umas das
outras.
Proponho uma conceituao terica que evita esse etnocentrismo, _
qgese d se.3ma [email protected] entendida como a combinao de
elemen~oscompartilhado~pJ outras culturas. Desse modo, a
especificidade das culturas- - ,rE:alizada pelas diferentes
constelaes dos mesmos elementos. Ta-labordagem tem as seguintes
virtudes: ela apresenta a diversidade dediferentes culturas como um
espelho que melhor propicia o auto-- ._-en!endimento; ela assim
inclui a diversidade, mais propriamente que a usacomo um princpio
de segregao; ela encoraja o reconhecimento e areciprocidade em
pessoas de diferentes culturas.
o que deve ser comparado?A historiografia resulta da conscincia
histrica, a qual no pode ser
compreendida sem que se atente para um complexo conjunto de
conjeturas,circunstncias, desafios e funes que moldam sua
peculiaridade. Como possvel comparar peculiaridades? necessrio
encontrar seus componentesbsicos e reconstru-los como uma relao e
uma sntese especfica de vrioselementos. Se puder ser mostrado que
esses elementos, ou pelo menos alguns
121
-
deles, so os mesmos em diferentes manifestaes da historiografia,
uma anlisecomparativa pode ser feita de forma sistemtica. Ento, o
primeiro passo parauma historiografia comparativa ser uma teoria
dos principais componentesdessas manifestaes culturais especficas
chamadas historiografia.
Para faz-Io, yrecisoi.dentificar os uni versais antropolgicos na
cnsci~nciahistrica. H uma experincia universal
A experincia de ameaa estrutural na mudana temporal" tem de
serinterpretada no sentido de ermitir pessoas que esto ameaadas a
continuarvivendo suas v:idas. Far~ s.trn ..d..e.construr.uma idia
de ordtemporal Que responda ao desafio da contingncia. O trabalho
da conscingahi~trica pode ento ser descrito como um procedimento
por meio do gual tcgidia de uma ordem temg.oral resgatada. Ela
refere-se experincia damudana temporal da vida e do mundo, que pode
ser armazenada na memria,d sentido mudana do passado que pode ser
aplicada para se entender opresente, permitindo, assim, s pessoas
antecipar o futuro, para conduziremsuas atividades a partir de um
futuro informado pelas experincias do passado.
O trabalho ~s_ci.ncia histrica. .feito em atividades
culturaisespecficas. Eu gostaria de cham-Ias prticas de narrao
histrica. Por meio
.... ~ - - --dessas prticas, a "historiografia" torna-se parte
da cultura e um elementonecessrio da vida humana. Qualquer comparao
intercultural tem de
. N. T.:No original: "The world is out of joint; - O coursed
spite I that ever I was bom to set it right."
122
..._ ..._"._---~~---
sistematicamente levar em conta essas prticas e interpretar
formas especficasda atividade cultural universal de dar sentido ao
passado por meio danarrao. (Eu no negaria que h elementos
no-narrativos operando notrabalho da conscincia histrica e que a
representao narrativa do passadotem seus limites, mas o fenmeno
cultural peculiar chamado histria apia-se fundamentalmente na
prtica cultural da narrao.)
Q~o os elementos substanciais desse construto
mental.chamato"histria"? Para distingui-lo de outros contedos da
memria humana, dever--se-ia primeiramente sublinhar seu carter
especfico como uma memria deum passado mais distante que vai alm
dos limites da lembrana individualde algum ou (mais objetivamente)
para alm da extenso de uma vidaindividual. Ess~~ te~poral d~emria
condio necessria..p--.!'aatribuir ao passado a qualidade de
"histrico". Por outro lado, a perspectivafutura aberta pela
~scin;iahistriCa tra~nde tambm o limite da extensode uma vida
individual. A conscincia h~~.9rica, a.sim, amp-lia o
cQll.ceito_dedimenso ~pgral da vida humana _eo estende Rara muito
alllLda...dura~-oda vida de uma ~ssoa; faz o trabalho histrico da
rememorao.------ - - - _ .. -
Essa simples ampliao do ho!i}onte temr..oral da memria
condionecessria, 1'-orBLno ~ficiente, para
~9ualidad~_'.:..histrica" especfica dereGrno ao passado. A mente
hum...'ll..t~m de satisfazeu_ssa..,dimen_:ill-
-
do passado como histria. Para propsitos comparativos, uma
dicotomiabsica tem sido usada com freqncia: tempo cc1ico versus
tempo linear.Essa distino, ela mesma, no caracteriza muito
utilmente os modosfundamentais de pensamento histrico, uma vez que
no h nenhum conceitode histria que no faa uso de ambos. De modo que
devemos dirigir nossosesforos para descobrir os modos de sntese do
tempo cclico e linear.
A perspectiva comparativa em historiografia temdeiGentmGar.esses
CJ::i.MJjosde sentido e signifjcado histrSQS.Normalmente, eles no
Ocorrem em uma forma'--. - -elaborada. Muito freqentemente, so
princpios implcitos ou vigorosaspressuposies, que se tomam as mais
necessrias para identific-Ios e explic-los,Assim, ns podemos
explicar um sistema de conceitos bsicos que governam
ahistoriografia como um todo, que estruturam seu modo de
transformar aexperincia do passado em uma histria com sentido e
significado para o presente.Tal sistema desvenda a semntica da
histria e cria as bases para a comparao.
Essas categorias bsicas podem parecer como idias de uma ordem
divinado tempo, como um mundo dividido ou dual no qual as
ocorrncias cotidianasdo mundo humano so menos importantes que ou
inferiores ao mundoimaginado de uma ordem temporal superior
consagrada a seres divinos ouprincpios superiores de civilizao ou
progresso. Exemplos dessas idias nastradies chinesa e europia de
historiografia podem ser os seguintes:primeiramente, os conceitos
de "preservar em registro'" (chi) e de "incitar osvelhos
[precedentes] para conhecer o novo" (wen ku erh chih hsin); de
memria,sentido e histria, para ser completados por noes bsicas como
tradio,continuidade, descontinuidade, desenvolvimento, processo,
revoluo,restaurao (chung-hsing), evoluo, transformao pela virtude
(hua),progresso, decadncia, assim por diante. Ento, devemos levar
em contadiferentes "filosofias da histria" embutidas em uma ordem
moral do mundo,histria sagrada, divina providncia, a filosofia da
histria desde o Iluminismoe o conceito de modernizao. Para fins
comparativos necessrio encontrarconceitos bsicos correspondentes em
todas as outras historiografias.
Hoje, esses critrios de sentido so vistos principalmente como
ficcionais,como invenes. Mas no se pode negar a realidade da
experincia quemodela o construto mental chamado "histria" tanto
quanto as imagens,
. N. T.: Record keeping, no original.
124
smbolos e conceitos usados para interpret-Io. Freqentemente,
esseselementos interpretativos so parte da prpria experincia,
portanto, umequvoco caracteriz-los como substancialmente
ficcionais.
No territrio das vrias prticas culturais de narrao histrica e
das diferentesmanifestaes do construto mental chamado histria,
"~grafia" podeser caracterizada como uma espcie de p.Iill!s~ltural
e de estrutura mental. uma apresentao elaborada do passado limitada
ao meio da escrita, comsuas possibilidades e limites. Ela pressupe
a experincia social de umhistorigrafo, caracterizado por certo grau
de especializao e eventualmentede profissionalizao e sua funo em
uma ordem poltica e social. Para finsde comparao, as seguintes
questes so importantes: que posio social oshistorigrafos possuem?
De quem dependem? Qual sua posio funcional emum sistema de poder
poltico? Que papel seu trabalho desempenha nalegitimao ou no
questionamento do poder poltico? Que papel o gnerodesempenha na
determinao de quem competente para ser umhistorigrafo? Que outros
grupos ou pessoas esto interessados em resgataro passado? Contra
quem os historigrafos tm de defender suas posies?Quem legitima sua
profisso?
A ~g!.aha .uma maneira especfica de manifestar a
conscinciaistrica. Ela geralmente apresent
-
essas questes tero uma resposta simples, uma vez que pelo menos
trabalhosparadigmticos da historiografia chinesa esto relacionados
com a "China"como unidade cultural na mente dos historigrafos e de
suas audincias. Mase a respeito da Europa? o horizonte da
autocompreenso ou a elaborao deidentidade histrica sempre "europia"
nos trabalhos historiogrficos doOcidente? Sem estabelecer ou
explicar o horizonte interno do espao histricoque d ao passado sua
perspectiva especfica, a interpretao comparativa podetornar-se
simplesmente uma m representao ou uma projeo precria dointerprete
sobre omaterial. A comparao sincrnica deve ser feita respeitando-se
(a) os tipos de prtica cultural concernentes narrao histrica, (b)
os tiposde senso ou significado histrico, (c) as condies da
conscincia histrica, (d)as estratgias internas e as operaes da
conscincia histrica, (e) os topoi darazo histrica, (f) as formas de
representao, os meios e as espcies dehistoriografia e (g) as vrias
funes de orientao histrica.
(A) Com respeito aos tipos de prtica cultural de rememorar
historicamenteo passado, a historiografia precisa ser colocada em
uma escala de diferentesmodos a fim de descobrir seus contextos e
relaes com outras formas detratar o passado. Qual a relao da
historiografia com rituais, cerimnias,festividades, feriados
pblicos, performances religiosas, tais como romarias eoutras
manifestaes de memria coletiva? Qual sua relao para com acultura
popular? Pode ser ela parte integral da cultura popular? Outra
questocoloca a historiografia em uma perspectiva social: como a
escrita da histria disposta na hierarquia social? Ela olha para os
acontecimentos humanos apartir de cima da hierarquia ou a partir
debaixo?
Gnero um aspecto muito importante da histria social da
historiografia. importante distinguir entre vozes masculinas e
femininas na representaodo passado e levar sistematicamente em
conta os domnios masculinoe feminino de experincia, apresentados
pela historiografia. O mesmo deveser feito com relao funo de
orientao da historiografia: comoela introduz a identidade - ou,
mais precisamente, como a identidadefundada no gnero relaciona-se
com a histria?
(B)Com respeito aos tipos de razo histrica, deve-se utilizar uma
tipologiacompreensiva que fornea clara e distinta estrutura
conceitual para ainterpretao da historiografia. Com respeito
historiografia em sua formaescrita elaborada, h pelo menos quatro
tipologias de historiografia praticadasno discurso metahistrico
ocidental dos ltimos sculos:
126
D.:..oyse~~tingue em seu "Top~k" as ~pres~nta0es
~tigativa,narrativa (em um sentido mais estreito l..clidtica
e~statria----::- - - ------ ~do' passado.I8
~ietzsche descr~ve trs modos de lidar com o passado:
monumental,antiquarista e representao crtica."
H~den White....ofere~ a mais elaborada tipologia de
historiografia. Eleestabelece a razo histrica em quatro tropos que
configuram todanarrativa: metfora, metonmia, sindoque e ironia; e
acrescenta trstipologias paralelas de razo histrica: quatro modos
de armao daintriga' (romntico, trgica, cmico, satrico); quatro
modos deexplanao por argumento formal (formalista, mecnico, orgnico
econtextualista); e quatro modos de explanao por implicao
ideolgica(anarquista, radical, conservador, liberal)."
Minha prpria tipologia combina elementos funcionais e
estruturaisde narrao histrica e distingue entre quatro diferentes
modos deentender o passado: tradicional, exemplar, crtico e gentico
denarrativa histrica."
(C) Com respeito ao contexto cultural da historiograjia, deve-se
atentar paraos critrios religiosos de sentido e significado da
cultura, uma vez que namaioria das sociedades - ao menos naquelas
do tipo pr-moderno - a religio a fonte principal para um senso de
relacionamento entre passado e presente. trivial dizer que a
natureza caracterstica do pensamento histrico noOcidente est
profundamente influenciada pelo cristianismo, mesmo na pocado
historicismo, quando os estudos histricos ganharam estrutura
acadmicacomo uma disciplina com sua prpria metodologia de pesquisa.
Sua relaocom a religio pode funcionar como chave para decifrar a
linguagem desentido, significado e significao na
historiografia."
Para entender por que critrios de sentido especficos de histria
entraram emuso, deve-se primeiramente perguntar: que desafios
provocaram a conscinciahistrica e que demandaram uma resposta
historiogrfica? Eu j defini aquelesdesafios como uma impressionante
ruptura conturbando a continuidade temporale a coerncia da vida
humana. Exemplos dessa experincia de descontinuidadeso a Revoluo
Francesa para o historicismo, a queda de Roma para o conceito
N.T.: o autor usa o termo emplotment.
127
-
agostiniano de histria sagrada, a nova estrutura poltica e o
papel de Atenas nofim do sculo v para Herdoto," a fundao do imprio
das dinastias Ch'in e Hanpara Ssuma Ch'ien. Uma vez que nem toda
incoerncia temporal pode serdominada pela narrao histrica, deve-se
olhar para aquelas experinciastemporais especficas que so
produtivas para a historiografia. Que tipos deproblemas podero ser
resolvidos pela historicizao?
(D)Com relao s operaes e estratgias internas da conscincia
histrica, deve-se, antes de mais nada, atentar-se para as
caractersticas formais dahistoriografia. Ela estruturada como uma
narrativa? Se no, como os clssicosanais na China, o que significa
para os critrios sublinhados da razo histrica?Se no h nenhuma
representao histrica real do passado desprovida deelementos
narrativos, onde encontraremos esses elementos, considerando-se que
textos importantes so diversamente estruturados?
Adicionalmente,deve-se, por conseguinte, procurar pela existncia e
o papel de elementos nonarrativos, como imagens e smbolos, os
quais, enquanto no narrativos elesmesmos, podem inici-los ou pelo
menos atribuir-lhes sentido.
(E)Uma lista de topo ihistricos facilita a comparao. Esses topo
i organizama apresentao narrativa do passado ao lhe atribuir uma
significao especficapara orientar pessoas a apresentar os
problemas. Topoi histricos podem serdefinidos como formas de
percepo e representao dentro da constituiodo sentido histrico do
passado, que ocorrem como padres repetitivosrelacionados a diversos
contedos." O tpos mais famoso de significaohistrica , certamente,
aquele expresso pelo slogan ciceroniano historia magistravitae e na
China pela metfora do espelho (chien).2S A historiografia,
querepresenta o passado de acordo com esse tpos, ensina as regras
gerais daconduta humana por meio de exemplos; ela governada pela
lgica dojulgamento, ou seja, a gerao de regras a partir de casos e
a aplicao de regrasaos casos. A maior parte dessas regras esto
relacionadas poltica e soendereadas aos dirigentes no sentido de
compromet-los a princpios geraislegitima dores do poder e da
dominao." H, por certo, muitos outros topoi.Para fins de comparao,
eles poderiam ser especificados e sistematizadosdentro de uma
retrica da historiografia. Tal retrica ainda no existe;portanto, eu
posso apenas mencionar alguns topo i, sacados sistematicamentede
descobertas empricas em recente investigao da conscincia histrica
dejovens:" o passado um lugar de evaso; o passado uma
contra-imagemutpica do presente; o passado deveria ser mudado; o
passado impe tradies;
128
as coisas importantes do passado perduram; o passado deve ser
explicitamenteconectado com a vida presente; o passado pode
ensinar-nos alguma coisa,
portanto a histria uma questo de aprendizado.(F) H inmeros
outros modos pelos quais se pode criar parmetros de
comparao. Eu no posso explic-Ios todos sistematicamente, de modo
quevou apenas sugerir alguns em forma de questes: como os eventos
do passadoesto relacionados uns com os outros? Que tipo de
racionalidade governaessa relao? Em que nvel de complexidade
diferentes elementos deexperincia e significao so sintetizados?
Quanto a historiografia refletesobre sua prpria estrutura e
princpios? A que profundidade a anlise eas estratgias explicativas
da representao chegam? Que papel os valores e asnormas desempenham
na estruturao do passado como histria? At quedegrau o passado
historicizado? Como a historiografia lida com a experinciade outras
culturas, diferentes da dos historiadores? So elas
marginalizadas,usadas como foco para a projeo dos prprios desejos
de algum, ou lhesso dadas o justo reconhecimento? Que diferentes
espcies de historiografiatm sido observadas e como os antigos
pensadores as sistematizaram? Essaordem corresponde a nossas
estratgias de sistematizao?
J me referi ao problema da fundao da historiografia na
experincia,por um lado, e aos elementos de fico em sua interpretao
do passado,por outro. De acordo com essa relao, deveria haver um
esforo paraencontrar constelaes tpicas entre facticidade e
ficcionalidade no tratamentodo passado. Esse relacionamento poder
mesmo indicar um estgio dedesenvolvimento, uma vez que uma ntida
distino entre facticidade eficcionalidade exige uma cultura
histrica altamente desenvolvida, quepossua procedimentos especficos
para fazer sentido do passado, ao enfatizar
a facticidade do passado relatado.(G) Finalmente, a juno prtica
da historicidade deve ser levada
sistematicamente em conta, sua funo orientadora para os grupos
humanos.Sua manifestao mais marcante a articulao da identidade
histrica daspessoas para quem a historiografia endereada. Para fins
comparativos,precisamos apresentar os diferentes pontos de vista
concernentes identidade.A perspectiva mais importante relaciona-se
incluso, s normas e aos valoresque determinam a incluso em um
grupo. Quem includo, quem excludodas narrativas histricas? Como a
relao entre eles apresentada? Onde ficaa linha fronteiria entre o
eu e ou outro, entre intimidade e estranheza?
129
-
II1
11:lmlll
...1
Perspectivas de comparao diacrnicaEm historiografia, a comparao
diacrnica est relacionada mudana.
Seu desafio terico identificar fatores universais, tipos de
processos edirees de mudana. Mas antes de explicar perspectivas
correspondentesde mudana em historiografia, dever-se-ia refletir
sobre uma periodizaogeral, dentro da qual a historiografia ganha
significao histrica em relaoa todo o processo de mudana no mundo
humano. Tal periodizao esclarecea dependncia da historiografia em
seu contexto, o qual fornece seus desafiosconstitutivos e seus
critrios de sentido bsicos, e dentro do qual ela preenche(ou
abdica) de sua funo de orientao. Uma questo intensamente debatida
se as pocas principais da histria europia podem ser aplicadas a
outrasculturas. Se no, as diferentes periodizaes deveriam pelo
menos sercomparadas com relao aos critrios que determinam a diviso
das pocas.
A historiografia melhor suprida por uma periodizao geral
relativa aosmeios dominantes de comunicao humana. Pode-se comear
por distinguirtrs pocas, definidas por trs meios: ora lida de,
escritura e "eletronalidade"."Em casos especficos, deve-se atentar
para aqueles fatores e elementos quetransformam o modo pelo qual ns
atribumos sentido e representamos opassado. Para dar pelo menos um
exemplo de tal fora transformadora dahistoriografia, sugiro o
crescimento do conhecimento sobre o passado. Ele podeprovocar novas
categorizaes, que, por sua vez, podem remodelar ereestruturar a
historiografia em geral. O surgimento do pensamentohistoricista no
final do sculo XVIII no poderia ser compreendido sem referncia
exploso do conhecimento na Europa. Havia um impressionante acmulode
conhecimento histrico na China, mas no parece ter provocado
umasubstituio nas categorias auxiliares da percepo e interpretao
histrica.
Outra questo est relacionada apresentao da mudana em
historiografia.H algo como uma experincia de progresso, baseada na
auto-estima de um grupobem-sucedido, com os quais os historiadores
podem associar-se?
O mais importante parmetro da comparao diacrnica a direo
damudana. possvel discernir tendncias transculturais? Hoje essa
questoparece demasiado carregada da carga ideolgica da supremacia
ocidental.Mas uma rejeio da ideologia ocidental encerra a
investigao. Penso quetal questo inevitvel, uma vez que hoje todos
os pases do mundo estodireta ou indiretamente envolvidos no
processo de modernizao, que
130
desafia a identidade histrica de todos eles. extremamente
importantesaber se h tendncias de desenvolvimento na histria
cultural de cada um,similar quelas do Ocidente. E para os
ocidentais til saber se tais tendnciasexistem em culturas
no-ocidentais. Se houver um desenvolvimento culturalou uma evoluo
comum a todos os pases, ento o processo de modernizaoser algo mais
que uma ameaa de alienao; ele pode mesmo ser definidocomo uma
oportunidade de ganhar ou reaver uma identidade prpria emuma
perspectiva mais ampla de humanidade.
Assim, o conceito de Max Weber de uma racionalizao e
desencantamentoiversais pode ser reformulado para uma anlise
comparativa da historiografia.
No h historiografia sem raciona lida de, ou seja, um conjunto de
regras queincula o processo de racionalizao da conscincia histrica
a estratgias de
conceituao, de trazer a evidncia emprica para a representao do
passado e deargumentao coerente. Essa racionalidade dever ser
reconstruda e investigadacomo um desenvolvimento universalmente
vlido. O mesmo deve ser feito comrespeito s normas e valores que
constituem a identidade histrica. Mostram elesuma tendncia
universalizao e, por conseguinte, a identidade histricaexpande-se?
Penso que podemos observar tal processo de universalizao emmuitas
culturas:" ele comea no pequeno grupo social em tempos ancestrais e
leva humanidade na histria moderna. Ao longo dessa universalizao,
acontecemuito freqentemente uma regionalizao correspondente.
Ademais, deve-seprocurar um processo de particularizao e
individualizao; ser uma reao universalizao ou uma conseqncia
dela.
Outra direo de desenvolvimento pode ser definida com respeito
aotratamento de "fatos" em relao suposta ordem do tempo. Ser
ahistoriografia governada por uma tendncia integrao progressiva de
fatospositivos e princpios de ordem temporal? Em sociedades
arcaicas, "fatos"mundanos no so importantes para a apresentao
narrativa da ordem divinado mundo. Mitos, como narrativas que
organizam o cosmos, longe esto decertas datas fixadas
cronologicamente e provadas por evidncias empricas.Mas a ordem
mtica desvaneceu ou foi misturada com a corrente temporal
doseventos e das estruturas positivos, o que quer dizer
"factuais".
Seguindo essa linha argumentativa, ouso esboar uma periodizao
para osmeios de comunicao cultural e sua transformao, que pode pelo
menosfuncionar como uma heurstica para uma histria compreensiva do
pensamentohistrico. Ela supe um perodo ps-histrico na forma de um
tipo ideal, compostodos mais desafiadores elementos do pensamento
histrico ps-moderno:
131
-
Periodizao universal do pensamento histrico30
Pr-histrico
Fina distino entre tempo csmico paradigmtico (tempo "arcaico" do
mito) e tempomundano; oltimo no tem sentido para a ordem domundo
edo eu.O acasoradicalmenteeliminado. Domnio do tipo tradicional de
narrao histrica.Meio da tradio oral.
HistricoIntermediao de ambos os"tempos". Fatos
contingentes(eventos) so carregados comsentido a respeito da
ordemtemporal do mundo. O acaso(contingncia) reconhecidocomo
relevante para essaordem e inscrito em umconceito de tempo que
orientaas atividades prticas e cons-titui a identidade humana.Meio
da escrita.
TradicionalToda a ordem do tempo tem um carter divino. Areligio
a fonte principal para o sentido damudana temporal. Predomnio do
tipo exemplar denarrao histrica.
ModernoMinimizao da dimenso transcendente da ordemdo tempo. Todo
o senso de histria tende a tornar-semundano. A racionalidade humana
est apta areconhec-Io por meio da investigao metodolgicadas
evidncias empricas do passado. Predomnio dotipo gentico de narrao
histrica.
Ps-histrico
Nenhuma ordem compreensiva de tempo incluindo passado, presente
e futuro. Opassado separado em um tempo prprio. Fatos do passado
tornam-se elementos deconstelaes arbitrrias que no tm nenhuma relao
substancial com o presente e ofuturo. Opassado humano torna-se
destemporalizado. Acontingncia perde sua definiopara idias de ordem
temporal vlidas para a vida presente e seu futuro. Meio
eletrnico.
Modernizao, sem dvida, uma das mais importantes perspectivas
dacomparao diacrnica. Ela deve ser concretizada como um processo
internode racionalizao no tratamento do passado. Os estudos
histricos, comodisciplina acadmica, indicam formas e estgios dessa
racionalizao. Masa racionalizao apenas um lado da moeda da
modernizao. H sempreuma reao contra ela, um reencantamento na relao
com o passado que,ao menos, compensa a perda de sentido e
significado, realizada pelasmetodologias tradicionais. Ento, a
aproximao comparativa historiografia dever sempre ter em vista
tanto o desencantamento racionalquanto um reencantamento irracional
compensatrio _ ou novas,reformuladas ("reformadas"), fontes e
potenciais de sentido e significadoda dimenso temporal da vida
humana.
132
Novas questesO sculo xx desafiou os critrios bsicos de sentido e
significado da
historiografia. Tenho em mente a traumtica experincia do
Holocausto e asocorrncias similares de assassinatos emmassa e
outras violaes radicais de nossosentido das coisas no curso da
histria humana." Tais experincias provocamreaes traumticas e, muito
freqentemente, a supresso de importanteselementos da memria
coletiva no inconsciente. Em historiografia, esseinconsciente deve
ser exposto como um silncio sobre o passado, o qual,
todavia,influencia opresente. Com o fim de tornar a exposio
plausvel, deve-se identificarindicaes dessa supresso nas
representaes articuladas do passado. Dessamaneira, a historiografia
carrega o peso adicional de levar sistematicamente emconta
procedimentos planejados ou no de um modo negativo defazer o
sentido dahistria. Esse sentido negativo ou o sentido defalta de
sentido pode ser demonstradocomo "limites da representao", que tm
nas discusses do Holocausto jparadigmticas." Seria proveitoso
procurar por tais limites at mesmo nahistoriografia comum,
trazendo, assim, ao nosso cuidado uma dimenso daconscincia histrica
na qual a historiografia fala a linguagem do silncio.P
Em minhas observaes introdutrias, eu apontava para o fato de que
cadatrabalho em historiografia que envolve comparao est tambm
envolvidono processo de formao de identidade e guiado por
interesses prticos. Hum lado negativo e um positivo nessa
estratgia. Do lado negativo, ela deveprevenir esteretipos de
peculiaridade cultural de se tornarem pressupostose diretrizes para
o estudo da historiografia, portanto, evitando a difundidadicotomia
entre o eu e o outro e a estratgia correlata de excluso na
formaoidentitria. Do lado positivo, ela deveria habilitar os
estudiosos a apresentartradies historiogrficas de diferentes
culturas, povos e sociedades em ummovimento mental entre igualdade
e diferena. Aqueles cuja identidade estem risco devem estar
prevenidos de que a diversidade um espelho para suasprprias
autoconscincias. Portanto, sua comunicao pode servir ao maisvalioso
objetivo de identificao e reconhecimento mtuos.
(traduo: Jurandir Malerba)
Notas1 Um exemplo o de Horst Walter Blanke,
Historiographiegeschichte aIs Historik. Stuttgart-Bad
Cannstatt, 1991. (Fundamenta Histrica, 3).
133
-
2 Emst Breisach, Historiography: Ancient, Medieval, and Modem,
Chicago, University Of ChicagoPress, 1983; Georg G. Iggers,
Geschichtswissenschaft im 20. Jahrhundert: Ein berlick
irninternationalen Zusammenhang, Gottingen, 1993. A "relao
internacional" de Iggers exclusivamente europia-americana. O mais
antigo Intemational Handbook of Historical Studies:Contemporary
Research an Theory, editado por Georg Iggers e Harold T. Parker
(Westport,Conn., 1979) inclui a maioria dos pases
no-ocidentais.
3 Por exemplo, William G. Beasley e Edward G. Pulleyblank
(eds.), Historians of China and Iapan,Londres, 1961; Yu-shan Han,
Elements of Chinese Historiography, Hollywood, Hawley Pubns,1955;
Charles S. Gardner, Chinese Traditional Historiography [1938],
Cambridge, HarvardUniversity Press, 1961; George Kao (ed.), The
Translation of Things Past: Chinese History andHistoriography, Hong
Kong, Chinese University Press, 1982; Rolf Trauzettel, "Die
chinesischeGeschichtsschreibung", em Gnter Debon (ed.),
Ostasiatische Literaturen, Wiesbaden, AULA-Verlag,1984, pp. 77-90;
Extrme-Orient/Extrme-Occident, IX; La rfrence l'histoire, Paris,
1986.
4 Por exemplo, D. Devahuti (ed.), Problems of Indian
Historiography, Dlhi, DK Publishers, 1979;B. Klver, Ritual und
historischer Raum: Zum indischen Geschichtsverstandnis, Munique,
1993;Pratima Asthana, The Indian View of History, Agra, India,
1992; Michael Gottlob, "On theHistory of Modem Indian
Historiography", em Storia della Storiografia, n. 27, 1995, pp.
123-44.
5 Por exemplo, Donald E. Brown, Hierarchv, History and Human
Nature: The Social Origins of HistoricalConsciousness, Tucson,
University of Arizona Press, 1988. Uma tentativa recente de colocar
o foco emculturas no-ocidentais, ao tratar com a histria da
historiografia ocidental, a srieGeschichtsdiskurs, Wolfgang Ktler,
Irn Rsen, Emst Schulin (eds.) (v. 1: Grundlagen und Methodender
Historiographiegeschichte [Frankfurt/Main, 1993]; v. 2: Anfange
modernen historichen Denkens(Frankfurt/Main, 1994]; v. 3: Die
Epoche der Historisierung [Frankfurt/Main, 1996]).
6 Cf. [rgen Osterhammel, "Sozialgeschichte im
Zivilisationsvergleich: Zuknftigen Moglichkeitenkomparativer
Geschichtswissenschaft", em Geschichte und Gesellschaft, n. 22,
1996, pp. 143-64; Heinz-Gerhard Haupt, Jrgen Kocka (eds.),
Geschichte und Vergleich: Ansatze und Ergebnisseinternational
vergleichender Geschichtsschreibung, Frankfurt/Main, 1996.
7 Um exemplo tpico Brown, Hierarchy, History, and the Human
Nature. Franz Rosenthal refletiusobre o problema ao tratar do
objeto da "Historiografia muulmana": ele a identificou como"aqueles
trabalhos que os muulmanos, em um dado momento de sua histria
literria,consideraram trabalhos histricos e que, ao mesmo tempo,
contm uma quantidade razovelde material que pode ser classificado
de acordo com sua definio de histria [...]." (A Historyof Muslin
Historiography, 2. ed., Leiden, EJ Brill, p. 17, 1968).
8 Por exemplo, Leopold von Ranke, Weltgeschichte, 4. ed.,
Leipzig, 1896, I, VIII. Cf. AndreasPigulla, China in der deutschen
Weltgeschichtsschreibung vom 18. bis zum 20. Jahrhundert,Wiesbaden,
Harrassowitz, 1996.
9 Tentei uma primeira aproximao a tal teorizao com vistas a uma
comparao intercultural(relativa histria dos direitos humanos) em
[rn Rsen, "Die Individualisierung des Allgemeinen:Theorieprobleme
einer vergleichenden Universalgeschichte der Menschenrechte", em
[rn Rsen,Historische Orientierung: ber die Arbeit des
Geschichtsbewutseins, sich in der Zeitzurechtzufinden, Colonia,
Bhlau, 1994, pp. 168-87.
10 Para o que segue, ver Rsen, "Was ist Geschichtsbewutsein?
Theoretische berlegungen undheuristische Hinweise", em Historische
Orientierung, op. cit., pp. 3-24.
PaoChang, Chinese Search for Order and Meaning 1890-1911,
Beckerleym 1987, p. 7.12 o faz-Io, vou me referir a muitos
argumentos, palpites e idias recolhidas durante o trabalho de
umgrupo de pesquisa do Centro de Estudos Interdisciplinares da
Universidade de Bielefeld, que est svoltas com o assunto "Entender
a Histria: Estudos Interdisciplinares em Estrutura, Lgica, Funoe
Comparao lntercultural de Conscincia Histrica". O termo "sentido"
[sense] usado comoequivalente para a palavra alem Sinn, que
diferente de "significado" [meaning] (Bedeutung). Sinto-me
particularmente devedor a KIaus E. Mller, Burkard Gladigow e (sobre
a China) Helwig Schrnidt-Glintzer e [oachim Mittag. O ltimo
enriqueceu substancialmente minha abordagem comparativa
dahistoriografia. Devo a ele a maioria dos exemplos chineses do
texto.
13 [ohan Galtung, "Die 'Sinne' der Geschichte", em KIaus E.
Mller, [rn Rsen (eds), HistorischeSinnbildung: Problemstellungen,
Zeitkonzepte, Wahrnehmungsorte, Darstellungsstrategien,Reinbeck,
SAGEPublications, 1997; Johan Galtung, "Six Cosmologies: An
ImpressionisticPresentation", em Galtung, Peace by Peaceful Means,
London, 1996, pp. 211-22.
1"/1
11,11
134
14 Shakespeare, Hamlet, ato I, cena v.15 Kg-yang chuan, Ai-kung
do sculo XIV.16 Em chins, ela expressa pelo termo pien ("mudana" no
sentido de "distrbio").17 Cf. Mencius III, p. 8.18 Peter Leych
(ed.), Untersuchende, erzhlende, didaktische und diskussive
Darstellung: Droysen,
[ohan Gustav Historik, historisch-kritische Ausgabe,
Sttutgart-Bad Cannstatt, 1977, 1.,pp. 217-83,445-50. Cf. Rsen,
"Bemerkungen zu Droysens Typologie der Geschichtsschreibung",em [rn
Rsen, Konfigurationen des Historismus: Studien zur deutschen
Wissenschaftskultur,Frankfurt, Suhrkamp, 1993, pp. 267-75.
19 Friedrich Nietzsche, "Vorn Nutzen und Nachteil der Historie
fr das Leben", em SrntlicheWerke, Kritische Studienausgabe in 15
Einzelbnden, Munique, De Gruyter, 1988), v. 1, pp. 243-334,
especialmente pp. 258-70. (Friedrich Nietzsche, "On the Uses and
Disadvantages of Historyfor Life", em Untimely Meditations, trad.
R. J. Hollingdale, Cambridge, Cambridge UniversityPress, 1983, pp.
83-100.
20 Hayden White, Metahistory: The Historical Imagination in
Nineteenth Century Europe, Baltimore,1973, pp. 1-42.
21 [rn Rsen, "Die vier Typen des historischen Erzhlens", em
Rsen, Zeit und Sinn: Strategienhistorischen Denkens, Frankfurt,
Fischer /Originalausg Edition, 1990, pp. 153-230; d. Rsen,Studien
in Metahistory, Pretoria, Human Science Research Council, 1993, pp.
3-4.
22 Cf. Rsen, "Historische Methode und religiser Sinn:
Vorberlegungen zu einer Dialektik derRationalisierung des
historischen Denkens in der Moderne", em Wolfgang Kttler
(ed.),Geschichtsdiskurs, v. 2: Anfange modernen historischen
Denkens, [rn Rsen, Ernst Schulin(Frankfurt/Main, 1994), pp.
344-77.
23 Meier, Die Entstehung der Historie, pp. 251-306. Meier fala
de um "processo politicamentedeterminado de um imenso
arrebatamento, uma mudana profunda de medidas". (p. 254)
24 [rn Rsen et a!., "Untersuchungen zum Geschichtsbewutsein von
Abiturienten im Ruhrgebiet",em Bodo von Borries, Hans-Jrgen Pandel,
[rn Rsen (eds.), Geschichtsbewutsein empirisch,Pfaffenweiler, 1991,
p. 286.
25 Cf. Chun-chieh Huang, "Historical Thinking in Classical
Confucianism: Historical Argumentationfrom the Three Dynasties", em
Chun-chieh Huang, Erik Zrcher (eds.), Time and Space inChinese
Culture, Leiden, 1995, p. 76: "Chien significava originalmente
'espelho', e espelho aquilo por meio do qual examinamos a ns
mesmos, como ns olhamos as pessoas, o que representativo de nossa
conscincia. O carter, chien, mudou ento, mais tarde, para
significar'lio, norma, modelo', sem abandonar totalmente o sentido
original de reflexo normativo".
26 Esse tpos parece ser universal em todas as civilizaes
avanadas. Ele a base, por exemplo, dolivro de Ibn Khaldn
(1332-1406), Livro dos exemplos e coleo das origens, assim como a
do livrode Ssuma Kuang (1019-1086), Espelho compreensivo para
socorro dos governos.
27 J. Rsen, "Untersuchungen zum Geschichtsbewutsein von Schlern
und Studenten iminternationalen und interkulturellen Vergleich", em
Bodo von Borries, [rn Rsen (eds.),Geschichtsbewutsein im
interkulturellen Vergleich: Zwei empirische Pilotstudien,
Pfaffenweiller,1994, pp. 79-206.
28 Albert D'Haenens (Louvin Ia Neuve) usou uma vez, em um
debate, o slogan "oralit, scribalit,electronalit", de que eu me
aproprio aqui.
29 Eu tentei conceituar tal processo com respeito questo da
universalidade dos direitos humanostpico gerais de humanidade,
personalidade e diversidade em [rn Rsen, "DieIndividualisierung des
Allgemeinen" e [rn Rsen, "Human Rights from the Perspective of
aUniversal History", em Wolfgang Schmale (ed.), Human Rights and
Cultural Diversity: Europe-Arabic-Islamic World - Africa - China,
Frankfurt, Keip Pub, 1993, pp. 28-46; [rn Rsen, "VornUmgang mit den
Anderen: Zum Stand der Menschenrechte heute",
InternationaleSchulbuchforschung, n. 15, 1993, pp. 167-78.
30 Emprego trs dos quatro tipos de razo histrica em uma clara
ordem peridica. Isso enganoso,uma vez que eles desempenham um papel
muito mais complexo em todos os perodos. Mas de modoalgum podem ser
usados para caracterizar um tipo de pensamento histrico especfico
de uma poca.
135
-
31 Para dar um exemplo chins, a Rebelio Taiping resultou em 20
milhes de vtimas.32 Saul Friedlander, Probing the Limits of
Representation: Nazism and the "Final Solution",Cambridge, Harvard
University Press, 1992.
3J A respeito da queda de Nanking (1867), um padro literrio j
estabelecido de supresso damemria foi aplicado, o qual articulava
uma exausto de se olhar para trs: "E eu temo olharpara trs, escutar
muito atenciosamente o lu de Y Hsin." (Stephen Owen, "Place:
Metidationon the Past at Chin-ling", Harvard [ourna] of Asiatic
Studies, n. 56, 1990, pp. 417-57.)
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