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  • 18 Moosburger, L. - Georg Trakl

    Pandaemonium, So Paulo, v. 18, n. 25, Jun. /2015, p. 18-36.

    Georg Trakl: um romntico em tempo de guerra [Georg Trakl: a Romantic in wartime] http://dx.doi.org/10.1590/1982-883718385

    Laura Moosburger1

    Abstract: This paper seeks to indicate that the presence of the First World War in the poetry of Georg

    Trakl is inextricably entangled with his dark worldview, in which man is seen as an unavoidably

    misfortunate being. If on the one hand a romantic longing for purity, beauty, and goodness remains in

    this poetry, on the other hand such longing is continually refuted by menacing images of the evil

    inherent in the world among which the images of the Great War impose themselves perhaps as the most terrifying. In order to show the mentioned connection, we shall first explore the experience of the

    prevalence of evil in the poem De Profundis (De Profundis), written before the outbreak of the War, and secondly we shall analyze that experience in the poems Grodek (Grodek) and Lament (Klage), in which it is directly related to the War.

    Keywords: Romanticism; Sehnsucht; war; melancholy.

    Resumo: Propomos neste texto indicar que a presena da Primeira Guerra na poesia de Georg Trakl

    vincula-se de modo inextricvel sua concepo sombria do mundo, em que o homem surge como um

    ser incontornavelmente desgraado. Se nessa poesia resiste um romntico desejo de pureza, beleza e

    bondade, tal aspirao continuamente refutada por imagens ameaadoras do mal inerente ao mundo,

    dentre as quais as da Guerra talvez se imponham como as mais aterradoras. A fim de evidenciar esse

    vnculo, buscaremos primeiramente explicitar a experincia de prevalecimento do mal no poema De Profundis (De Profundis), escrito antes da Guerra, para em seguida analisar essa experincia nos poemas Grodek (Grodek) e Lamento (Klage), em que est diretamente associada a ela..

    Palavras-chave: romantismo; Sehnsucht; guerra; melancolia.

    1 Universidade de So Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas, Departamento de Filosofia,

    Av. Prof. Luciano Gualberto, 315, 05508-900, So Paulo, SP, Brasil. Email: [email protected]. Esta

    pesquisa est sendo desenvolvida com apoio financeiro da FAPESP.

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    No tenho o direito de me furtar ao inferno.

    GEORG TRAKL2

    1 Trakl, a guerra, o romantismo

    Segundo Pedrag MATVEJEVITC (1979: 178), o que define a relao de um poeta com uma

    determinada circunstncia, alm da natureza e intensidade do acontecimento, o maior ou

    menor grau de implicao pelo qual uma pessoa se encontra entranhada em um

    acontecimento particular. A intensidade dessa implicao aumenta, mais especificamente,

    em proporo direta profundidade subjetiva e pessoal em que ela se d: diferena das

    poesias cerimoniais e daquelas engajadas em termos sciopolticos ou histricos, uma poesia

    de circunstncia no sentido da Gelegenheitsgedicht goetheana, qual seja a que canta os fatos

    de carter particular ou subjetivo, fugaz ou mesmo imaginrio, [...] supe uma

    possibilidade de participao mais individual, um mais alto grau de implicao

    (MATVEJEVITC 1979: 178). tambm na experincia subjetiva e em sua expresso que Jean

    STAROBINSKI (1999: 15) vislumbra o papel do poeta diante de um acontecimento:

    [...] a responsabilidade do poeta antes a de conferir ao evento histrico a qualidade de evento

    interior, de exprimi-lo na linguagem lrica do sentimento antes que naquela do julgamento e da

    exortao. Dir-se-ia ainda que o poeta est compelido ao grito, que deve esquecer as palavras e

    as frmulas costumeiras, para achar em si mesmo uma palavra nascente, mais prxima do

    indizvel.

    sem dvida nessa magnitude de envolvimento que se situa o poeta austraco Georg TRAKL

    em relao Primeira Guerra Mundial. No fosse to extrema a circunstncia por si s, sua

    experincia pessoal como farmaceuta e enfermeiro militar j teria sido perturbadora o

    bastante. O episdio mais marcante dessa participao foi em 1914, aps a batalha de Grodek

    (Polnia), quando por dois dias e duas noites se viu sem ajuda de mdicos e desprovido de

    entorpecentes diante dos feridos que lhe imploravam alvio ou at mesmo a morte. Tal

    experincia de impotncia em uma situao de responsabilidade, se no foi a motivao

    primeira, foi no entanto muito provavelmente o estopim de suas duas tentativas de suicdio

    (uma delas lograda)3. O poema Grodek, o ltimo de Trakl, escrito logo aps a batalha, um

    2 Segundo Joo BARRENTO (1992: 11), essa sentena proferida por Trakl em dilogo com o escritor Hans

    Limbach teria sido absorvida de uma personagem de Dostoievski. 3 Toda biografia de Trakl d a conhecer uma situao mais ampla que o teria levado ao suicdio. Alm de sofrer

    de esquizofrenia (segundo diagnstico da poca), um momento de grave complicao na vida de sua irm, com

    quem mantinha uma relao amorosa, parece t-lo abalado desmesuradamente, pois antes de testemunhar o

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    lacnico e agudo testemunho do peso dessa circunstncia, como teremos ocasio de perceber4.

    H em sua obra mais algumas referncias explcitas guerra, como nos poemas No Leste

    (Im Osten), A Melancolia (Die Schwermut) e Lamento (Klage), este ltimo escrito no

    mesmo lapso de tempo que Grodek: entre o trmino da batalha e o suicdio. Cabe

    mencionar que a experincia arrasadora da guerra se soma, no universo histrico de Trakl,

    experincia do estilhaamento do Imprio Austro-Hngaro como afirma Modesto CARONE

    (1974: 18), a poesia de Trakl se torna no apenas uma mimese eficaz, mas tambm um

    poderoso testemunho desse universo. As imagens de destruio e decadncia em seus poemas

    do testemunho de seu tempo histrico, e o tom de constante lamento que as acompanha,

    como uma marcha fnebre entoada na sucesso das imagens, d testemunho do sentimento de

    horror e desolao com que o poeta contempla o tenebroso cenrio. No poderiam ser mais

    profundos o entranhamento do poeta na circunstncia, a internalizao do evento exterior, a

    contrao do tempo histrico no tempo pessoal (STAROBINSKI 1999: 10)5.

    Mas a dimenso dessas experincias para Trakl pode ser compreendida de modo mais

    profundo ao considerar-se a sua filiao, no mbito da histria do esprito, ao romantismo.

    Isso permite compreender melhor a sua concepo do mal como inerente existncia pois

    ela indissocivel da crise interior na viso romntica do mundo que experimentada e

    desenvolvida pelo poeta , bem como o impacto da Guerra sobre sua sensibilidade,

    essencialmente romntica. Assim, mais do que a circunstncia imediata da Guerra e do

    esfacelamento do Imprio Austro-Hngaro, toda uma configurao histrico-espiritual

    uma circunstncia, por assim dizer, essencialmente interior que pesa na poesia de Trakl.

    Os romnticos, em seu desejo e nostalgia (Sehnsucht) do infinito e absoluto, em sua

    busca de um reencontro com a unidade perdida entre homem e natureza Deus em um

    sentido cristo pantesta6 , tinham em certa medida o respaldo de uma esperana quanto

    possibilidade desse reencontro, uma vez que justamente acreditavam em uma unidade

    sofrimento dos feridos na Guerra, Trakl confidenciara o seu prprio em carta ao amigo Ludwig von Ficker: Nos ltimos dias ocorreram-me coisas to terrveis que durante toda a minha vida no poderei livrar-me delas...

    uma desgraa sem par quando o mundo se rompe diante de algum. Oh, meu Deus, a que tribunal fui submetido!

    Diga-me que ainda devo ter foras para viver e fazer o que o valha. Diga-me que no estou enganado... Como

    tornei-me pequeno e infeliz! (apud CAVALCANTI 2010: 95). 4 As tradues provisrias de todos os poemas aqui apresentados e interpretados so nossas. Para cotejo, foram

    utilizadas as verses argentinas de Aldo Pellegrini e as brasileiras de Claudia Cavalcanti, bem como, sempre que

    possvel, as portuguesas de Joo Barrento e de Paulo Quintela. Para consulta aos originais foi utilizada a

    historisch-kritische Ausgabe preparada por Walter Killy e Hans Szklenar. 5 Starobinski glosa Pierre Jean Jouve a respeito de Rimbaud; a referncia da frase a Trakl por nossa conta.

    6 Como tudo no romantismo, seu sentimento religioso do mundo assume feies prprias, unindo de modo nico

    cristianismo, pantesmo, mitologia e romantismo. Em pesquisa mais ampla exploramos o carter prprio dessa

    religiosidade; aqui, basta ter em mente que nela domina a ideia de uma correspondncia entre a alma e desejos

    do sujeito humano e o prprio universo, sendo este perpassado por uma alma do mundo (Weltseele).

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    csmica primordial e, logo, em uma conspirao entre o universo, todos os seres e o homem

    conspirao cujo momento apotetico seria uma verdadeira unio mystica, a qual poderia

    realizar-se ao menos esteticamente. nesse horizonte que surge a flor azul de Novalis,

    tornada smbolo do idealismo romntico ao consubstanciar o espiritual e o sensvel, o infinito

    e o finito: vislumbrada em sonhos pelo heri homnimo no romance Heinrich von

    Ofterdingen, a flor se torna seu ideal mximo, imagem de sua nostalgia infinita, e ele se lana

    em sua busca. E, embora a flor no possa ser encontrada na realidade do dia, ao menos se

    realiza no sonho, poeticamente. Ao perguntar-se nos Hinos Noite, receoso, se a manh

    sempre ter de voltar?, se jamais terminar o poder da Terra?, se jamais ficar a arder

    sem fim a secreta oferenda do amor?, uma vez que a agitao nefasta [do dia] consome o

    celeste pousar das Asas da Noite, o prprio Novalis quem responde afirmando a

    perenidade do Sono para aqueles que se consagram Noite (NOVALIS 1998: 23). Tal o

    sentimento de um prevalecer do potico sonho sobre a realidade prosaica do dia: o potico

    o autntico real absoluto. Quanto mais potico, mais verdadeiro. esse o cerne da minha

    filosofia (NOVALIS apud SANTOS 1947).

    O homem do incio do sculo XX j no se sente enlevado por uma correspondncia

    entre seus anseios e o universo: um homem rfo de Deus, que j no idealiza a si mesmo,

    a natureza, o mundo; um homem que, confrontando seus anseios com provaes potentes

    dentre as quais a Grande Guerra , sente o apelo de uma tomada de conscincia menos

    romntica sobre si prprio e o mundo. Um homem para quem a flor azul se revela smbolo

    apenas de seus desejos, e no imagem de uma realizao possvel ainda que s

    esteticamente desses desejos. Para a sensibilidade romntica de Trakl, todo um mundo que

    se desfaz: o seu um mundo da decadncia e do desterro. Se ele soube muito bem canalizar

    as foras de antecessores como Novalis e Hlderlin para a tentativa de refletir poeticamente as

    dores e os anseios do homem moderno (SELIGMANN-SILVA 2011), tais anseios no podem

    mais ser nutridos: para o romntico tardio, resta apenas o sonho desfeito, e nenhuma forma de

    realizao possvel. Assim, o que no desejo nostlgico (Sehnsucht) pelo absoluto era, no

    romantismo, esperana em relao ao futuro, torna-se agora pura melancolia: lamento pela

    esperana passada e perdida, sem que se tenha perdido o desejo. Assim se tinge toda sua

    poesia de uma monotnica desesperana, como no poema Rondel (Rondel):

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    Verflossen ist das Gold der Tage,

    Des Abends braun und blaue Farben:

    Des Hirten sanfte Flten starben

    Des Abends blau und braune Farben

    Verflossen ist das Gold der Tage.

    (TRAKL 1973: 14)

    O dourado dos dias se foi,

    Cor azul e marrom da tarde:

    J no soa a doce flauta do pastor

    Cor azul e marrom da tarde

    O dourado dos dias se foi.

    A imagem nostlgica e romantizante do pastor que tocava a flauta docemente, como que em

    consonncia com o dourado dos dias, intercala-se imagem sombria e esmorecida da cor

    marrom e azul da tarde, gerando um efeito intensificador, como se essa oscilao marcasse o

    contraste entre a vitalidade dourada do passado e a atmosfera de ocaso que se abate sobre o

    presente como talvez se a memria desse passado desejasse tristemente reaparecer na

    vibrao do presente, no lusco-fusco do entardecer. A flauta do pastor no soa mais porque,

    em sua suavidade, tocava em harmonia com a luz dourada e gentil, que se foi. O sujeito lrico

    no pode mais se sentir no estado de esprito leve de um pastor que canta com o dia.

    Em mais explcita referncia ao romantismo, tambm significativo o poema de Trakl

    A Novalis (segunda verso) que, como aponta CAVALCANTI (2010: 97), mais parece um

    epitfio de si mesmo:

    In dunkler Erde ruht der heilige Fremdling.

    Es nahm von sanftem Munde ihm die Klage der

    [Gott,

    Da er in seiner Blte hinsank.

    Eine blaue Blume

    Fortlebt sein Lied im nchtlichen Haus der

    [Schmerzen.

    (TRAKL 1973: 183)

    Em terra escura repousa o estrangeiro santo.

    Dos lbios suaves Deus tomou-lhe o lamento

    Quando, florindo, fenesceu.

    Uma flor azul

    Prossegue seu canto na morada noturna da dor.

    Novalis aqui de fato o prprio Trakl: o estrangeiro romntico em um mundo destrudo, que,

    por desejar ainda a flor azul, prossegue no embalo de seu canto; mas se para Novalis a flor

    azul simbolizava a ansiada unio mystica do homem com a natureza, realizvel na Noite, no

    Sonho, refgio eterno contraposto realidade do dia, para Trakl ela simboliza apenas o desejo

    desenganado, e em ltima instncia nem mesmo a Noite a acolhe: se seu canto prossegue na

    noite, nela s mora enquanto dor. Como conclui CAVALCANTI (2010: 97), no poema de Trakl

    o desejo (sonho) destrudo pela realidade. Poder-se-ia dizer que o poema de Trakl a

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    Pandaemonium, So Paulo, v. 18, n. 25, Jun. /2015, p. 18-36.

    Novalis exprime um dilogo interno de um mesmo esprito que se volta para si prprio no

    transcorrer de uma crise histrica; Novalis e Trakl, dois momentos de um mesmo esprito:

    aquele a esperana, este a frustrao.

    To estrangeiro nesse mundo o eu lrico trakliano, que experimenta sua existncia

    como uma remota sombra de lugarejos escuros, que bebeu o silncio de Deus na fonte do

    bosque (do poema De Profundis, citado e traduzido na ntegra mais frente). No se trata

    apenas de inexistncia, mas da ausncia de Deus, no lugar do que um dia foi a aspirao e

    esperana de Sua existncia (Deus no est ausente porque um dia existiu, mas porque um dia

    o homem O sentiu existir). No romantismo agnico de Trakl, no pode haver um reencontro

    com o absoluto, simplesmente porque nunca houve uma unidade primordial; como exprime

    BARRENTO (1992: 11) com exatido, em Trakl o que h uma disiunctio mystica.

    Nessa atmosfera, sua poesia configura-se como descrio de um cenrio crepuscular

    quase imutvel, em que vibra a queda, a decadncia, a desesperana e a perda. Seu sentimento

    do mundo se condensa na revelao ntida e insistente desse cenrio onde as figuras da pureza

    e da beleza o estranho, o desconhecido, o apartado, o adolescente Helian, por fim o

    prprio poeta que testemunho de todas essas figuras encontram-se ora desamparadas pela

    indiferena do mundo, ora maculadas por sua corrupo. A aspirao pureza que, como

    indica Aldo PELLEGRINI (2009: 10), constitui o prprio elemento potico em Trakl, se v em

    constante luta contra a tendncia predominante do mundo, a corrupo:

    A poesia de Trakl poderia resumir o sentido exemplar de toda poesia, se o fim de toda poesia

    incitar-nos a recuperar esse mundo ideal a que aspira o homem, e se a um s tempo denncia

    e recusa do mundo falso, inautntico que se nos oferece. Constituiria o potico, portanto, uma

    aspirao pureza. Sua ao se desenrola na esfera do espiritual e se encontra em luta

    permanente contra a ameaa de corrupo que, comeando pelo mundo espiritual, termina por

    invadir o material.

    Assim, seus versos descrevem um angustiado e fatdico avano do impuro sobre o puro, do

    abjeto sobre o belo, da treva sobre a luz: noite encontrei-me num pntano,/ Coberto de lixo

    e p de estrelas./ Na avelzeira/ Soaram de novo anjos cristalinos. (de De Profundis), De

    quartos cinzentos saem anjos com asas sujas de excrementos (de Salmo, TRAKL 2010: 25),

    Quando a alma de Helian contempla-se no espelho rosado/ E neve e lepra descem de sua

    fronte (de Helian, TRAKL 2010: 37). Seus poemas, talvez sem exceo, cantam a dor da

    impossibilidade de o puro e o belo prevalecerem, e mesmo naqueles versos em que no h,

    aparentemente, traos de corrupo, num tom de glacial tristeza que brilha o puro: Pombas

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    azuis/ bebem de noite o suor gelado/ que corre da fronte cristalina de lis (de lis, TRAKL

    2009: 133).

    A prova mais cabal dessa absoluta disjuno e avano do mal talvez seja a guerra,

    impassvel de redeno: "Todos os caminhos desembocam em negra putrefao, lamenta o

    poeta em Grodek (tambm citado e traduzido na ntegra mais frente). No que segue, ao

    analisar os poemas De Profundis, escrito antes da guerra, e Lamento e Grodek, escritos

    logo aps a batalha de Grodek, buscaremos justamente explorar a relao entre o predomnio

    do mal, que permeia toda a lrica trakliana, e a guerra como evento que tanto confirma quanto

    alimenta a ideia desse predomnio.

    2 Uma leitura de De Profundis, Grodek e Lamento

    DE PROFUNDIS

    Es ist ein Stoppelfeld, in das ein schwarzer Regen fllt.

    Es ist ein brauner Baum, der einsam dasteht.

    Es ist ein Zischelwind, der leere Htten umkreist.

    Wie traurig dieser Abend.

    Am Weiler vorbei

    Sammelt die sanfte Waise noch sprliche hren ein.

    Ihre Augen weiden rund und goldig in der

    [Dmmerung,

    Und ihr Scho harrt des himmlischen Brutigams.

    Bei der Heimkehr

    Fanden die Hirten den sen Leib

    Verwest im Dornenbusch.

    Ein Schatten bin ich ferne finsteren Drfern.

    Gottes Schweigen

    Trank ich aus dem Brunnen des Hains.

    Auf meine Stirne tritt kaltes Metall.

    Spinnen suchen mein Herz.

    Es ist ein Licht, das in meinem Mund erlscht.

    Nachts fand ich mich auf einer Heide,

    Starrend von Unrat und Staub der Sterne.

    Im Haselgebsch

    Klangen wieder kristallne Engel.

    (TRAKL 1973: 27)

    DE PROFUNDIS

    H um restolhal, onde cai uma chuva negra.

    H uma rvore marrom, que se ergue ali solitria.

    H um vento sibilante, que rodeia cabanas vazias.

    Como triste esse entardecer.

    Passando pela aldeia

    A terna rf recolhe ainda raras espigas.

    Seus grandes olhos dourados se demoram no

    [crepsculo,

    E o seu regao espera pelo noivo divino.

    No regresso casa

    Os pastores acharam o doce corpo

    Apodrecido no espinheiro.

    Uma sombra remota eu sou de lugarejos escuros.

    O silncio de Deus

    Bebi na fonte do bosque.

    Em minha fronte avana um frio metal.

    Aranhas procuram meu corao.

    H uma luz, que se apaga na minha boca.

    noite encontrei-me num pntano,

    Coberto de lixo e p de estrelas.

    Na avelzeira

    Soaram de novo anjos cristalinos.

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    Como caracterstico na lrica de Trakl, o prprio mundo e a natureza so aqui carregados de

    tonalidades afetivas. Na primeira estrofe, as imagens do restolhal, da chuva negra, da rvore

    solitria, do vento sibilante rodeando cabanas vazias, vo compondo um cenrio desolado no

    qual no h vestgio dos homens seno pelas cabanas que, todavia, esto desabitadas. O

    sequenciamento dessas imagens vai ampliando o cenrio rumo a um efeito de imensido na

    qual a subjetividade solitria do eu lrico absorvida: a prpria tarde que triste, e ela to

    triste porque sua tristeza ubqua, sincronicamente paira pelo restolhal, se precipita como

    chuva negra, se erige na rvore solitria, volteia no vento sibilante em torno s cabanas

    vazias, e assim, imensa, pesa sobre o sujeito. Em certo sentido, eu lrico e mundo exterior

    compartilham uma mesma subjetividade, na qual porm o peso do mundo exterior se

    sobrepe e oprime o eu interior. Esse peso tambm sugerido pela construo repetitiva das

    oraes sem sujeito nos trs primeiros versos: Es ist ein Stoppelfeld..., Es ist ein brauner

    Baum..., Es ist ein Zischelwind... H um restolhal..., H uma rvore..., H um vento... Essa

    construo na qual se pode identificar uma influncia de RIMBAUD em seu uso sequencial da

    forma Il ya a... na parte III do poema Enfance (1892: 15) gera uma nfase que confere

    aos elementos enumerados uma carga existencial intensificada, e certa estaticidade, como se

    se tratasse de um estado de coisas pairando esttico no tempo, como uma cena antiga,

    imemorial, existindo desde e para toda a eternidade: Es ist... lembra um pouco o Es war

    einmal..., nosso Era uma vez..., com que se iniciam as fbulas. S que aqui o estado de

    coisas se encontra no tempo presente, aumentando ainda mais a sensao de eternidade.

    Na segunda estrofe, a imagem da aldeia refora a sensao de um mundo primitivo. A

    presena humana, por sua vez, no torna o cenrio menos hostil, mas sim se soma a ele, pois

    introduz uma histria triste. As cabanas e a aldeia trazem ainda um tom de singeleza, que ir

    se concentrar na figura da terna rf que colhe as raras espigas e, na sua inocncia e

    sinceridade de ser, reflete o crepsculo em seus grandes olhos dourados. O eu lrico de certa

    forma se aproxima da rf ao descrev-la com empatia. E ela, figura do mundo exterior,

    tambm se funde ao mundo em sua subjetividade, na medida em que reflete em seus olhos o

    crepsculo. Poder-se-ia quase pensar aqui na unio mstica com a natureza, no fosse o

    crepsculo, alm de dourado nos olhos da menina, tambm um pressgio de decadncia, a

    qual se cumpre na estrofe seguinte, quando o doce corpo encontrado apodrecido no

    espinheiro. um movimento de queda que se realiza na sequncia entre essas duas estrofes:

    primeiro, a imagem da pureza, que quase encontra misticamente a natureza os olhos

    dourados que sorvem e refletem o crepsculo , mas esse encontro se revela um desencontro,

    uma disiunctio mystica, porquanto o crepsculo prenuncia o mal (prenncio talvez j

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    introduzido na atmosfera lgubre da primeira estrofe...), e, por fim, a imagem da consumao

    do mal, que destroa a pureza. Repletas de significncia so as imagens da orfandade e do

    noivo divino. Elas ajudam a compor a figura inocente e casta da menina, mas seu sentido

    vai mais longe. O noivo divino se refere aqui muito provavelmente a Cristo, o qual assim

    denominado no Novo Testamento (HAMMER 2006: 334). O regao da jovem, tal como o da

    Virgem Maria, aguarda o casamento sagrado. Mas o noivo divino, Cristo, no vem; em vez

    disso, o corpo encontrado em putrefao pelos pastores aqueles que velam. Por qu?

    Talvez sua orfandade o explique. Esta poderia ser apenas mais um elemento a sugerir a

    singeleza, humildade e inocncia da menina, mas tambm pode ser uma referncia ao

    abandono de Deus: de Deus que ela rf. Nesse sentido, a terna rf representa a

    aspirao a Deus e fuso do homem terreno e mortal com a divindade dos cus, mas, sendo

    rf de Deus, reduzida mera condio de corpo, abandonada morte e decomposio.

    Tudo parece desenrolar-se em uma lentido malvola que ressalta o carter inevitvel dos

    acontecimentos, como em uma fbula mesmo, em que o destino dos personagens est selado

    desde o princpio. Ou como na prpria Bblia, em que esse destino selado pela vontade

    divina.

    Entre a terceira e a quarta estrofes pode-se sentir uma pausa maior, um silncio mais

    alongado do que entre as anteriores, na medida em que a quarta estrofe opera uma quebra na

    narrativa ao referir-se o eu lrico a si mesmo, mas, sobretudo, pelo impacto destas duas

    sentenas que soam como o ponto central, o corao de todo o poema: Uma sombra remota

    eu sou de lugarejos escuros./ O silncio de Deus/ Bebi na fonte do bosque. Fala aqui a voz de

    um testemunho, triste e sombrio, porque bebeu na fonte o abandono, o silncio de Deus que,

    ao abster-se diante do mal, como que Ele prprio o consente. O eu lrico sabe desse silncio

    como quem provou do fruto do conhecimento. Mas comer um fruto no geraria aqui o

    efeito melanclico e frio da imagem de Trakl: beber um ato mais imediato, pois no h

    mediao entre o lquido e sua absoro; e gelado e obscuro, pois da fonte do bosque.

    Tem-se mesmo a arrepiante sensao de uma remota sombra de lugarejos escuros, que

    vagueia pelas profundezas do bosque e conhece as trevas que Deus no habita. A quebra

    dessa estrofe em relao s anteriores, na realidade, revela uma ligao direta: pois a

    testemunha que conhece profundamente a essncia obscura da existncia, abandonada ao

    silncio/ausncia de Deus, por isso mesmo tambm testemunha da histria narrada, v e

    entende seu sentido, que o sentido de uma histria sem Deus. A imagem da sombra

    remota rica de significado nesse horizonte. Enquanto sombra, ele pode vagar pelo ambiente

    descrito no poema, o que retrospectivamente confirma a sensao, na primeira estrofe, de uma

  • 27 Moosburger, L. - Georg Trakl

    Pandaemonium, So Paulo, v. 18, n. 25, Jun. /2015, p. 18-36.

    conscincia flutuante, acompanhando a atmosfera do restolhal, da chuva, do vento... Pode

    pairar pelo cenrio em que se desenrola a histria da rf. Mas o que significa ser esse

    testemunho, e s-lo enquanto sombra? Trata-se de um testemunho ao mesmo tempo

    profundamente sentido vem das distncias remotas de lugarejos escuros, das profundezas do

    bosque e completamente impotente. Ao beber o silncio de Deus, essa sombra conheceu o

    abandono e a impotncia. Uma sombra no apenas escurido, ela o rastro sem luz de algo

    iluminado e ontologicamente superior. Ser uma sombra ser a falta desse algo. Tivesse ele

    luz, talvez pudesse salvar a menina. Mas sombras apenas seguem, nada mudam: assim, ele

    acompanha a histria do incio ao fim e, como mera sombra, no pode salvar aquela a quem

    v com empatia e ternura. A estrofe seguinte prossegue com a caracterizao dessa condio

    do eu lrico.

    Em minha fronte avana um frio metal./ Aranhas procuram meu corao./ H uma

    luz, que se apaga na minha boca. Nos dois primeiros versos, o mal o cerca e invade. A luz

    impotente diante desse mal, e se apaga em sua boca: ele no pode dizer o bem. significativo

    que a concluso dessa estrofe retome a estrutura da primeira, com uma orao sem sujeito:

    H uma luz, que se apaga na minha boca. Existe uma luz. Mas ela se apaga na minha boca.

    Essa luz mais no que um impotente desejo de luz, refutado pela realidade, e portanto no

    pode ser proferida de modo a iluminar. Aquele que bebeu o silncio de Deus no pode mais

    conter em si a luz. No se trata apenas de escurido, mas de uma escurido enquanto rastro da

    falta da luz: enquanto sombra. A voz que fala a voz dessa sombra, que conta a histria que

    nunca pde evitar. Em certo sentido, essa voz tambm se revela como a do prprio mal, uma

    vez que, invadido por ele, o eu lrico se torna obrigatoriamente seu intermdio.

    Na ltima estrofe, retomada a narrativa linear: noite... quer dizer esta noite, a

    que se segue ao triste entardecer no qual se desenrolou a histria. A absoro do eu lrico

    naquele entardecer e no que nele se deu fica novamente reforada nestas palavras que soam

    como uma concluso: noite encontrei-me num pntano/ Coberto de lixo e p de estrelas.

    O sujeito que no pde salvar a inocente, e que j confessou sua impotncia

    simultaneamente uma culpa tem como destino o pntano. Assim como pronunciara o mal ao

    apagar-se a luz de sua boca, aqui o sujeito lrico se iguala ao lixo de que est coberto; como

    observa Gunther KLEEFELD (1985: 256), ao lado dos diversos objetos feios no imaginrio de

    Trakl tambm surge um eu feio. Mas essa feira do eu no voluntria, ela antes algo do

    qual o sujeito no pode escapar, algo que o cerca, invade e adentra, como o frio metal que

    avana em sua testa e as aranhas que procuram seu corao. Esse elemento talvez mais

  • 28 Moosburger, L. - Georg Trakl

    Pandaemonium, So Paulo, v. 18, n. 25, Jun. /2015, p. 18-36.

    propriamente expressionista em Trakl, o feio, s ganha sentido na referncia ao elemento

    romntico, aquele do sujeito que deseja a beleza, o bem, a salvao, mas lhe vedado o

    direito a isso7. Assim, justamente, alm de lixo o eu est coberto de p de estrelas, uma

    imagem sublime que convive tensamente com o pntano e o lixo. Trakl opera aqui aquela

    juno de elementos da pureza e beleza com elementos da decadncia. Nessa juno se

    destaca tanto a sensao de um avano da decadncia sobre o puro e belo, quanto a

    persistncia de algo sagrado, que justamente confere presena do mal em Trakl uma fora

    to angustiante. Assim, Na avelzeira/ soaram de novo anjos cristalinos. A imagem dos

    anjos cristalinos coroa essa angstia, porque sugere a indiferena ou at assentimento por

    parte dos anjos diante do mal: de modo semelhante ao Deus que permite o mal ao silenciar-se,

    os anjos como que o confirmam ao soarem novamente a despeito da morte da rf. Mas,

    lendo mais profundamente, a imagem final dos anjos, como algo que desfecha e prevalece,

    simultaneamente afirma, ao lado do profano, a persistncia do sagrado (j indicada na imagem

    do p de estrelas), ao qual Trakl nunca renuncia. O poeta obtm aqui a sntese e o paradoxo

    entre sagrado e profano ao fundi-los em uma unidade perfeita, em uma mesma imagem, e

    todavia em tenso indissolvel. O efeito semelhante ao da fuso dos olhos da rf com o

    crepsculo, fuso que s se sustenta enquanto disiunctio mystica. A disiunctio se estabelece

    propriamente como um corte na unio, que subsiste irrealizvel.

    De Profundis foi escrito em fins de 1912, quase dois anos antes de estourar a guerra.

    Mas sob nenhum aspecto seu cenrio menos desolador do que aquele em Grodek,

    derradeiro poema de Trakl, escrito em 1914, e que retrata a destruio da Grande Guerra.

    GRODEK

    Am Abend tnen die herbstlichen Wlder

    Von tdlichen Waffen, die goldnen Ebenen

    Und blauen Seen, darber die Sonne

    Dstrer hinrollt; umfngt die Nacht

    Sterbende Krieger, die wilde Klage

    Ihrer zerbrochenen Mnder.

    Doch stille sammelt im Weidengrund

    Rotes Gewlk, darin ein zrnender Gott wohnt

    Das vergone Blut sich, mondne Khle;

    GRODEK

    Ao entardecer ressoam nas florestas outonais

    Armas mortferas, nas plancies douradas

    E lagos azuis, por cima o sol

    Mais sombrio rola; a noite envolve

    Guerreiros em agonia, o lamento selvagem

    De suas bocas dilaceradas.

    Mas, quietas no fundo dos prados, se avultam

    Nuvens vermelhas, onde mora um deus enfurecido,

    O sangue vertido, frieza lunar;

    7 Cabe mencionar que, tendo como foco neste texto a tenso prpria do romantismo tardio de Trakl expresso

    que, por dar mais destaque perda da possibilidade de ser romntico, preferimos a neorromantismo , deixamos para um futuro desenvolvimento, dada a complexidade nas caracterizaes do expressionismo, a tarefa de

    explorar mais explicitamente a relao entre romantismo e traos expressionistas em Trakl.

  • 29 Moosburger, L. - Georg Trakl

    Pandaemonium, So Paulo, v. 18, n. 25, Jun. /2015, p. 18-36.

    Alle Straen mnden in schwarze Verwesung.

    Unter goldnem Gezweig der Nacht und Sternen

    Es schwankt der Schwester Schatten durch den

    [schweigenden Hain,

    Zu gren die Geister der Helden, die blutenden

    [Hupter;

    Und leise tnen im Rohr die dunklen Flten des

    [Herbstes.

    O stolzere Trauer! ihr ehernen Altre

    Die heie Flamme des Geistes nhrt heute ein

    [gewaltiger Schmerz,

    Die ungebornen Enkel.

    (TRAKL 1973: 94-5)

    Todas as vias desembocam em negra putrefao.

    Sob ramagens douradas da noite e estrelas

    Oscila a sombra da irm pelo mudo bosque.

    Para saudar os espritos dos heris, as cabeas que

    [sangram;

    E baixinho soam nos juncos as flautas escuras do

    [outono.

    Oh, orgulhoso luto! Vs, altares de bronze,

    Uma dor violenta alimenta hoje a chama ardente

    [do esprito,

    Os netos no nascidos.

    Como observa James ROLLESTON (2005: 187-188), o poema inicia como que de dentro da

    natureza: das florestas que soam as armas mortferas; o verbo tnen, inclusive, usado por

    Trakl como transitivo indireto com complemento circunstancial die Wlder tnen von

    tdlichen Waffen..., literalmente as florestas ressoam de armas mortferas... , gerando a

    impresso de que so as prprias florestas que soam, como se as armas mortferas lhes

    pertencessem tal como folhas ou pssaros. Assim como em De Profundis e na lrica de

    Trakl de modo geral, a fuso do mundo humano com a natureza possui aqui um sentido

    negativo e sombrio: a guerra irrompe da floresta, das entranhas da natureza, na medida em

    que animalesca, e o homem um ser selvagem. Ainda que em seguida tambm surjam

    imagens da natureza em um sentido mais positivo, at mesmo romantizado e sublime as

    plancies douradas e os lagos azuis , essa ambincia romntica s aparece para ser

    maculada/profanada pelo horror, pois tambm nelas ressoam as armas mortais. Um tom

    escatolgico se faz sentir quando sobrevm a imagem (recorrente em Trakl) do sol que rola

    sombrio pela plancie mais sombrio, indicando seu movimento de ocaso, a queda do

    entardecer para a noite. Nas palavras de ROLLESTON (2005: 188), esse derradeiro levante

    dionisaco funde o humano com o cosmos em voluntria destruio: uma fuso maligna,

    em que o mundo est tomado pelo mal, e o mal a prpria guerra. At aqui no poema, o

    homem, enquanto combatente da guerra, completamente reduzido a essa condio: suas

    bocas dilaceradas, sua voz humana reduzida ao lamento selvagem. E se os guerreiros so

    envolvidos pela noite, essa envolvncia nada possui de terna, mas apenas sela e confirma a

    destruio que fora anunciada e levada a cabo no entardecer (em uma estrutura narrativa

    muito semelhante, nesse sentido, que vimos em De Profundis).

  • 30 Moosburger, L. - Georg Trakl

    Pandaemonium, So Paulo, v. 18, n. 25, Jun. /2015, p. 18-36.

    Ao comear com doch, a sentena seguinte doch stille..., mas, quietas... indica o

    contraste entre o alarido das armas e o lamento dos soldados, de um lado, e, de outro, o

    silncio em que as nuvens vermelhas se avultam... Todavia, essa quietude no se contrape

    em esprito aos versos anteriores, pois o mesmo mal que irrompeu da floresta o que aqui,

    silenciosamente, se ajunta na forma de nuvens vermelhas no fundo dos prados, onde mora

    um deus enfurecido. A quietude pode ser entendida aqui de forma semelhante ao silncio de

    Deus em De Profundis, como um consentimento tcito invaso do mal por parte desse

    Deus em silncio. Entretanto, aqui Deus surge mais como uma figura positiva do mal: ele

    habita, enfurecido, as nuvens vermelhas, e se parece com um mal sorrateiro que se infiltra no

    mundo, onipresente e onipotente. A fuso maligna do mundo humano com essa presena

    csmica do mal se mostra na aposio de nuvens vermelhas e o sangue vertido, como se o

    sangue derramado na Terra se absorvesse nas nuvens do cu, vermelhas porque embebidas de

    sangue, ou como se um espelhasse o outro. J a imagem da frieza lunar surge um tanto

    enigmtica como aposto de nuvens vermelhas e sangue vertido, pois, ao contrrio destes,

    no sugere movimento e fria, e sim parada e em certo sentido apaziguamento. Talvez a frieza

    lunar se refira ao advento da noite como concluso do movimento csmico de destruio e

    derramamento de sangue, como a face obscura e fria do mal aps sua exploso de fria. Em

    todo caso, a sensao de uma presena ubqua e portanto incontornvel do mal,

    confirmada pela imagem que soa como a derradeira concluso do combate e ponto central de

    todo o poema: Todas as vias desembocam em negra putrefao. No h como escapar ao

    mal; por onde quer que se v, ele o destino voraginoso que atrai e devora todos os caminhos.

    No verso seguinte, introduzida uma imagem aparentemente redentora e apaziguante:

    Sob ramagens douradas da noite e estrelas/ Oscila a sombra da irm pelo mudo bosque./ Para

    saudar os espritos dos heris, as cabeas que sangram. A irm (em possvel referncia

    irm de Trakl), surge como algo espiritual e elevado, cingida por ramagens douradas da noite

    e por estrelas, e vem para saudar algo de tambm elevado: os espritos dos heris. Contudo,

    o aposto a os heris quebra completamente a imagem espiritual, romntica e sagrada: as

    cabeas que sangram. O esprito se reduz a corpo, e o corpo a putrefao. Vale observar,

    porm, que j na imagem da sombra da irm oscilando pelo mudo bosque soa talvez algo de

    um mau pressgio, como um fantasma oscilante no mundo das trevas. H algo de atormentado

    em uma sombra oscilante. E baixinho soam nos juncos as flautas escuras do outono.

    Novamente o silncio permeando todo o cenrio, permitindo ouvir as flautas que soam

    baixinho. Elas soam nos juncos, plantas pantanosas, e so as flautas escuras do outono, a

    estao da queda. Esse verso, como no final de De Profundis, tambm tem algo de um

  • 31 Moosburger, L. - Georg Trakl

    Pandaemonium, So Paulo, v. 18, n. 25, Jun. /2015, p. 18-36.

    consentimento csmico com a fatalidade dos eventos ocorridos: a natureza parece aqui ao

    mesmo tempo lamentar esses eventos e coro-los com seu canto, como se tudo pertencesse a

    um movimento necessrio.

    Oh, orgulhoso luto! Vs, altares de bronze,/ Uma dor violenta alimenta hoje a chama

    ardente do esprito,/ Os netos no nascidos. Essa concluso no deixa dvidas sobre a

    concepo trakliana de um predomnio do mal. Mas aqui no apenas o desejo de pureza,

    beleza e bondade que o mal desfaz com sua fora maior, mas sim, sobretudo, a suntuosidade

    humanamente construda para justificar o injustificvel: o luto orgulhoso, os altares de bronze

    erigidos em memria de idealizados heris tudo isso, no fundo, apenas mais uma

    expresso, uma confirmao do impulso que conduz os homens destruio. O que prevalece

    no fim a potncia da morte, infinitamente maior do que todo esse orgulho: os netos dos

    guerreiros nunca iro nascer. A imagem final conclusiva, incontornvel, irredimvel; em um

    sentido mais amplo, sugere que a guerra matou a vida, a prpria possibilidade de continuao

    da humanidade.

    Tal impossibilidade de continuar surge tambm no poema Lamento, penltimo

    escrito por Trakl. E, ainda que Grodek tenha sido seu derradeiro poema, em Lamento

    que podemos ouvir uma ntida despedida.

    KLAGE

    Schlaf und Tod, die dstern Adler

    Umrauschen nachtlang dieses Haupt:

    Des Menschen goldnes Bildnis

    Verschlnge die eisige Woge

    Der Ewigkeit. An schaurigen Riffen

    Zerschellt der purpurne Leib

    Und es klagt die dunkle Stimme

    ber dem Meer.

    Schwester strmischer Schwermut

    Sieh ein ngstlicher Kahn versinkt

    Unter Sternen,

    Dem schweigenden Antlitz der Nacht.

    (TRAKL 1973: 94)

    LAMENTO

    Sono e morte, as sombrias guias

    Rondam noite adentro esta cabea:

    A imagem dourada do homem

    Tragada pela glida onda

    Da eternidade. O corpo purpreo arrebenta

    Em abominveis recifes

    E a voz escura lamenta

    Sobre o mar.

    Irm de tempestuosa melancolia

    V, um barco temeroso afunda

    Sob estrelas

    E a muda face da noite.

  • 32 Moosburger, L. - Georg Trakl

    Pandaemonium, So Paulo, v. 18, n. 25, Jun. /2015, p. 18-36.

    Sono e morte: a isso se reduziu o universo e a existncia para Trakl. Eles parecem ser quase

    evocados como um doloroso desejo, a nostalgia da morte (Sehnsucht nach dem Tode), mas

    sem a tonalidade romntica em que a morte pressentida como uma fuso com o todo, e sim

    enquanto queda absoluta, nico destino possvel a uma existncia qual vedada qualquer

    salvao. Nesse caso, a nostalgia da morte nada mais que o reconhecimento de um destino

    inelutvel: Sono e morte, ao mesmo tempo uma evocao e um lamento. As sombrias

    guias que rondam noite adentro esta cabea esta referindo-se cabea do eu lrico

    talvez sejam as aves de rapina que o rondam para tomar-lhe a vida. Embora a guia seja uma

    figura de grande complexidade simblica, podendo conotar aspectos positivos e negativos

    (CHEVALIER & GHEERBRANT 2006: 22-26), no poema de Trakl o que prevalece certamente

    seu aspecto noturno malfico ou desastroso... a perverso de sua fora (CHEVALIER &

    GHEERBRANT 2006: 25), o seu carter de rapinante cruel que rouba com violncia e

    carrega as vtimas com suas garras para conduzi-las a lugares de onde no podem escapar

    (CHEVALIER & GHEERBRANT 2006: 26) aqui, o reino de Sono e Morte. Mais um elemento

    suporta essa leitura: o verbo umrauschen, aqui traduzido por rondar, significa mais

    exatamente farfalhar em volta de, gerando a sensao de uma cabea verdadeiramente

    atormentada pelas guias noite adentro, como por algo maligno prestes a acontecer.

    Como indicado pelo uso de dois pontos entre o segundo e o terceiro versos, este

    introduz a derradeira explicao dos anteriores: a imagem dourada do homem sendo

    tragada pela glida onda da eternidade. A palavra usada por Trakl em a imagem dourada

    do homem Bildnis, que comumente possui o sentido de efgie, uma imagem construda

    pelo homem, como a das cabeas em moedas. Nesse sentido, poder-se-ia interpretar A

    imagem dourada do homem/ Tragada pela glida onda/ Da eternidade como o aniquilamento

    da imagem de si prprio construda pelo homem. Mas, mais forte que isso, a referncia parece

    ser a Gnesis, 1: 27: E Deus criou o homem sua imagem. Mais do que uma imagem de si

    construda pelo homem, tratar-se-ia de uma determinao que transcende o homem, seja

    porque algo muito acima dele assim o determinou, seja porque tal imagem a aspirao

    (malograda) do homem. As coisas se confundem: desfaz-se a aspirao do homem a ser

    imagem de um Ser Perfeito, ou o que se desfaz a determinao, dada por esse Ser, de que o

    homem fosse Sua imagem (Deus desiste do homem). A segunda leitura funciona como uma

    metfora da primeira. Em todo caso, mesmo que a inteno nesse poema seja conferir uma

    existncia a Deus, vale observar que tambm ela finita e impotente: maior que ela a

    glida onda da eternidade, que engole a imagem dourada do homem semelhana de

    Deus, seja esta uma mera aspirao do homem ou uma determinao divina. A nica coisa

  • 33 Moosburger, L. - Georg Trakl

    Pandaemonium, So Paulo, v. 18, n. 25, Jun. /2015, p. 18-36.

    que aqui se eterniza o mal. Assim, enquanto a imagem dourada do homem se desfaz, e o

    seu corpo purpreo, carnal e sem alma, arrebenta em abominveis recifes, acima/em

    torno a essa perda a voz escura lamenta sobre o mar voz que pode ser a daquele Deus cujo

    intuito se desfaz, mas tambm a de Trakl, no lamento da sua prpria tristeza infinita. Podemos

    ainda lembrar que o ttulo deste poema, assim como vrias das formas recorrentes na lrica de

    Trakl, remete linguagem da tradio crist: lamentaes, salmos (dentre os quais o aqui

    citado De Profundis), cnticos..., o que faz contrastar ainda mais o dilema existencial cantado

    pelo poeta, na medida em que ele se vale de formas que supem um fundamento e um

    endereamento que no mais se sustentam em um mundo sem Deus.

    Os prximos versos parecem conter um grito angustiado de despedida. A irm de

    Trakl, talvez a figura que lhe fosse mais prxima e querida, invocada: Irm de tempestuosa

    melancolia/ V, um barco temeroso afunda/ Sob estrelas/ E a muda face da noite. Irm de

    melancolia, irm em melancolia, como quando se diz que algum um irmo de esprito.

    quela que talvez mais profundamente compartilhou sua melancolia, tonalidade afetiva

    predominante de sua alma, que o poeta pede que veja o que lhe acontece: em um barco

    temeroso, afunda sob estrelas, sob os olhos e o mudo consentimento da Noite.

    3 Consideraes finais

    Mediante uma contextualizao da poesia de Trakl em sua relao com o romantismo e, em

    seguida, a anlise dos poemas De Profundis, Grodek e Lamento, buscamos indicar que

    a existncia vivida e o mundo vislumbrado por Trakl no correspondem e no sustentam

    justamente o que se exprime como a sua grande nostalgia: um romntico desejo de beleza,

    pureza e bondade. Ao usar com constncia os mesmos recursos expressivos, a poesia trakliana

    transmite uma sensao de mundo sempre tingida pela mesma tonalidade afetiva: a dor

    inextirpvel de aquela nostalgia ser fadada ao fracasso, refutada pelo mal inerente ao mundo.

    Dentre esses recursos cuja riqueza e integrao no seria possvel explorar em um trabalho

    to breve tentamos aqui destacar, sobretudo: a lenta sucesso de imagens suscitando uma

    atmosfera de fatalidade malvola; elementos de mau pressgio que o eu lrico

    percebe/imagina em movimentos da natureza; o avano de imagens do mal sobre imagens de

    pureza; uma indiferena, seno uma espcie de consentimento, por parte do prprio universo

    diante do mal; a sensao de que sujeito lrico e mundo compartilham uma mesma

  • 34 Moosburger, L. - Georg Trakl

    Pandaemonium, So Paulo, v. 18, n. 25, Jun. /2015, p. 18-36.

    subjetividade, o que no entanto se d ao modo de uma disjuno, e no de uma unio mstica.

    Todos esses elementos se combinam sinergicamente para expressar o tom de angustiada

    melancolia que permeia os poemas de Trakl como o lamento de uma verdadeira

    impossibilidade existencial. Assim, no mais uma nostalgia esperanosa, como no

    romantismo, mas apenas uma nostalgia melanclica a tonalidade afetiva que acompanha a

    viso trakliana de um prevalecimento do mal, imposto ao homem como condio perene. Sua

    poesia se faz como um canto do desejo impossvel, e como lamento do que : embora o poeta

    ainda seja romntico, o mundo j no romantizvel.

    A escolha pelos poemas De Profundis, Grodek e Lamento foi feita tambm com

    o intuito de explorar a relao entre a experincia de prevalecimento do mal (e nostalgia do

    bem irrecupervel ou impossvel) e a experincia da Guerra, na medida em que os dois

    poemas escritos logo aps a batalha de Grodek Grodek e Lamento compartilham com

    um poema anterior irrupo da Guerra De Profundis uma mesma atmosfera, uma

    mesma tonalidade afetiva fundamental e um uso semelhante daqueles recursos usados com

    constncia por Trakl. Nesse sentido, procuramos explicitar, por exemplo, que o modo e a

    atmosfera em que a guerra surge no poema Grodek equiparvel ao modo e a atmosfera em

    que a histria da rf se desenrola em De Profundis. Ambos os poemas narram afirmaes

    do mal, enquanto o tom testemunhal de Trakl sempre aquele do lamento, de quem deseja

    dizer luz, mas obrigado a dizer trevas: em De Profundis, H uma luz, que se apaga na

    minha boca; em Grodek, Todas as vias desembocam em negra putrefao, no que se

    pode ler a incluso do sujeito lrico: tambm sua voz termina na (des)articulao do mal.

    Assim, se nunca se identifica com o mal, mas ao mesmo tempo no pode furtar-se ao destino

    de pronunci-lo e, nesse sentido, medi-lo, essa voz no pode seno exprimir um pesaroso

    lamento. Como no pensar na significncia do ttulo de seu penltimo poema, Lamento?

    Como no pensar que os versos a imagem dourada do homem/ Tragada pela glida onda/ Da

    eternidade... no concluem a derrocada da imagem do homem como um ser espiritual,

    coroamento da criao divina, pois guerra tal imagem no poderia sobreviver?

    significativo que a palavra lamento intitule um poema escrito no calor da experincia de Trakl

    na guerra ao mesmo tempo em que funciona como uma concluso para toda sua obra, que

    muito antes desse momento decisivo j se encaminhava para semelhante fim. A leitura

    comparada desses trs poemas ressalta portanto no apenas sua unidade formal, mas a

    profunda identidade de uma mesma concepo, um mesmo olhar para o mundo, uma mesma

    sensibilidade, em que a Guerra, seja porque confirma essa viso, seja porque a alimenta,

  • 35 Moosburger, L. - Georg Trakl

    Pandaemonium, So Paulo, v. 18, n. 25, Jun. /2015, p. 18-36.

    exerce em todo caso o impacto de um processo profundamente internalizado, no o de um

    evento exterior do qual o sujeito pudesse desligar-se.

    Nesse sentido, integram-se a observao de PELLEGRINI (2009: 10) de que a poesia de

    Trakl poderia resumir o sentido exemplar de toda poesia, se o fim de toda poesia incitar-

    nos a recuperar esse mundo ideal a que aspira o homem, e se a um s tempo denncia e

    recusa do mundo falso, inautntico que se nos oferece e a de STAROBINSKI (1999: 9) a

    respeito das poesias que vigorosamente testemunham a Guerra:

    Perante certos acontecimentos graves e absolutos, o testemunho, nascido em suas profundezas,

    profere o canto: o grito que se esfora pela pureza. Face ao destino, um ato libertador se

    cumpre, palavra que exprime o terror e a piedade diante do mal, que denuncia a cegueira passional, palavra que conduz a desgraa luz gloriosa que nada pode macular.

    preciso dizer que supor nessa resistncia romntica de Trakl ao mal um simples

    maniquesmo seria grande injustia ao poeta, para quem a bondade e a pureza so olhadas, por

    assim dizer, de frente, em sua impotncia. Mas no s isso: o homem, para Trakl, um ser

    fadado destruio e incontornavelmente desgraado no apenas por ser abandonado (por um

    Deus inexistente ou indiferente) ao mal, mas tambm, e talvez sobretudo, porque ele prprio

    perpetrador do mal. Como bem observa BARRENTO (1992: 11), Trakl nunca coloca a questo

    religiosa para encontrar qualquer forma de salvao, mas sempre, e apenas, para confirmar

    uma culpa. Por um lado, ele verbaliza o mal, reconhecendo a pureza e a bondade como

    estrangeiras sem lugar no mundo e impotentes diante da corrupo. Por outro, ele justamente

    o recusa, e afirma a pureza e a bondade, ainda que em uma condio de impotncia. Seria essa

    a sua impossibilidade existencial, capaz de realizar na poesia aquele sentido especial que,

    segundo STAROBINSKI (1999: 10), um testemunho pode assumir: o sentido sagrado de um

    martrio. No se permitindo furtar-se ao inferno, Trakl tampouco se submeteu a ele.

    Referncias bibliogrficas

    BARRENTO, Joo, Georg Trakl: o mosaico da morte, in TRAKL, Georg. Outono Transfigurado. orto: Assrio e Alvim, 1992.

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    Recebido em 24/02/2015

    Aceito em 13/04/2015