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DECISION MAKING BASED ON THE DATA AND FACTS ANALYSIS:A
OBSERVATIONAL STUDY IN THE LIGHT OF THE FILM TWELVE ANGRY MAN
Iraides Gonalves do Amaral (Universidade Nove de Julho -
UNINOVE, So Paulo, Brasil) - [email protected] R. Pitombo
Leite (Universidade Nove de Julho - UNINOVE, So Paulo, Brasil )
[email protected]
The object of study this article its the movie 'Twelve Angry
Man' directed by Lumet (1957) and Friedkin (1997). The criteria for
choosing for use of this movie were based on wealth that brings
their content to the social sciences, particularly for
Administration, and in fact revolve around the theme 'decision
making', through careful analysis of data and facts. The
methodological approach is consistent with the qualitative
research, method phenomenological and observational study in filmic
analysis. The general objective defined was investigating the
strategy of filmic analysis in the management of educational
projects, in light of the thematic decision making. The question
was answered by the analysis of observations protocols, and the
interviews, showing that the effectiveness of the use of film lies
in simulation that distance the individual from exposure to
embarrassment and increment of its reflection by observing the
behaviors of the characters. The results have reinforced the
mobilizer power of the decision-making process and confirmed that
observational studies as a didactical resource are educational
projects, from prospects of teaching, development, intervention,
research, learning, by making be noted in the field of
Administration.
TOMADA DE DECISO BASEADA EM ANLISE DE DADOS E FATOS: UM ESTUDO
OBSERVACIONAL LUZ DO FILME DOZE HOMENS E UMA SENTENA
Keywords: Decision Making. Observational Study. Filmic analysis.
Teaching and Research in Administration.
O objeto de estudo deste artigo o filme Doze Homens e uma
Sentena dirigido porLumet (1957) e Friedkin (1997). Os critrios de
escolha foram baseados na riqueza que seu contedo traz para as
cincias sociais, em particular, para a Administrao, bem como no
fato de versar sobre a temtica tomada de deciso, por meio da anlise
de dados e fatos. A abordagem metodolgica insere-se na pesquisa
qualitativa, mtodo fenomenolgico e estudo observacional em anlise
flmica. O objetivo geral definido foiinvestigar a estratgia de
anlise flmica na gesto de projetos educacionais, luz da temtica de
tomada de deciso. A questo foi respondida pela anlise dos
protocolos de observaes e das entrevistas, mostrando que, a eficcia
do uso de filmes reside na simulao que distancia o indivduo da
exposio a constrangimentos e no incremento da sua reflexo pela
observao dos comportamentos dos personagens. Os resultados
reforaram o poder mobilizador do processo de tomada de deciso e
confirmaram que osestudos observacionais, como recurso didtico,
constituem projetos educacionais, sob as perspectivas de ensino,
desenvolvimento, interveno, pesquisa e aprendizagem, fazendo-se
notar no campo da Administrao.
Palavras-chave: Tomada de Decises. Estudo Observacional. Anlise
Flmica. Ensino e Pesquisa em Administrao.
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21. Introduo
Este artigo originou-se de um projeto educacional, desenvolvido
com base na perspectiva de projetos de ensino, pesquisa e
aprendizagem, destinada ao desenvolvimento de discentes de
mestrado, sob orientao docente, com a finalidade de realizar aes
voltadas para a formao humana e construo conjunta do conhecimento.
As trs perspectivas do projeto tendem a contribuir para a manuteno
da indissociabilidade entre ensino-aprendizagem e pesquisa.
Justifica-se este estudo, pelos aspectos de um projeto educacional
contendo a indissociabilidade dessas trs perspectivas em
Administrao, sob a tica da temtica tomada de deciso baseada em
anlise de dados e fatos.
Para o desenvolvimento dessa temtica, uma breve fundamentao
terica foi desenvolvida, versando tambm sobre estudo observacional,
em consonncia com os objetivos e a questo de pesquisa deste artigo.
Tanto esses objetivos, quanto a questo esto relacionados s
perspectivas de projetos educacionais supramencionados.
Como unidade de anlise foi escolhido o filme Twelve Angry Man,
traduzido para o Brasil como Doze Homens e Uma Sentena, em suas
duas verses: Lumet (1957) e Friedkin (1997). Os critrios de escolha
para uso desse filme foram baseados: no fato de versar sobre a
temtica tomada de deciso por meio da anlise cuidadosa de dados e
fatos; na possibilidade de trabalhar o estudo observacional em
anlise flmica, selecionando seus fragmentos em protocolos de
pesquisa para poder analis-lo com acuidade, preciso, e
responsabilidade em relao cientificidade.
O objetivo geral foi definido como o de investigar a estratgia
de anlise flmica na gesto de projetos educacionais. Para auxiliar
na consecuo de tal objetivo, os objetivos secundrios foram assim
delineados: analisar o filme Doze Homens e uma Sentena; identificar
as caractersticas dos personagens; compreender como essas
caractersticas influenciaram o processo de tomada de deciso;
verificar o processo de tomada de deciso baseado em investigao
analtica dos dados; comparar as duas verses do filme; verificar
como esse filme vem sendo utilizado em um projeto educacional de
interveno.
Com a finalidade de buscar responder questo investigada de como
a estratgia de anlise flmica pode contribuir para a gesto de
projetos educacionais, foram cuidadosamente selecionados os
aspectos metodolgicos da pesquisa com abordagem qualitativa, mtodo
fenomenolgico, estratgia de estudo de caso com texto flmico,
valendo-se do estudo observacional e entrevistas como estratgias de
coleta de dados e da anlise de discurso e de contedo como
estratgias de anlise desses dados.
O item de apresentao e anlise dos dados e discusso dos
resultados foi subdividido em trs partes, em que foram vistos os
contextos do filme, das entrevistas edas discusses dos resultados,
pautados na exigncia prvia de um levantamento de referencial terico
compatvel com as necessidades basilares de interconexo entre as
partes do texto e de modo a tornar possvel o ato de se tecerem
consideraes finaisinstigantes manuteno de uma agenda de
pesquisa.
2. Fundamentao Terica
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3Esta breve fundamentao terica versa sobre os constructos:
tomada de deciso e estudo observacional, em consonncia com os
objetivos e a questo de pesquisa deste artigo. Tanto esses
objetivos, quanto a questo esto relacionados ao escopo de projetos
educacionais, que, com base em Barbosa, Gontijo e Santos (2004) e
Moura e Barbosa (2011), podem ser desenvolvidos sob as perspectivas
de ensino, desenvolvimento, interveno, pesquisa e aprendizagem.
Russo, Ruiz e Cunha (2005) consideraram, dentre outras habilidades
necessrias para a realizao de um projeto, a resoluo de problemas e
a capacidade de exercer influncia.
2.1. Tomada de deciso
Etimologicamente a palavra deciso foi considerada por Houaiss,
Villar e Franco (2009:212), um substantivo feminino que significa:
resoluo tomada aps julgamento; sentena; livre escolha; opo;
capacidade de resolver sem hesitao; firmeza. Os autores (2009:302)
mostraram o verbo definir como aquele que implica: tomar resoluo
sobre; deliberar; resolver; estabelecer; emitir juzo final sobre
(questo, causa, etc.); (fazer) chegar a um resultado; resolver-se;
optar por; escolher. O substantivo escolha foi tido pelos mesmos
autores como preferncia que se d a alguma coisa que est entre
outras; predileo; opo; eleio. Do mesmo modo, o verbo escolher
significa: manter preferncia por; eleger; preferir; fazer seleo de;
selecionar.
Filosoficamente a tomada de deciso foi considerada por
Abbagnnano (2003:232), como escolha ou o momento conclusivo de
deliberao no qual se adere a uma das alternativas possveis. Do
mesmo modo, o autor, ao discorrer sobre a faculdade de julgar,
avaliar, escolher, decidir, relembrou que, tanto a deciso quanto a
escolha precisa eliminar uma incerteza e dirimir uma
controvrsia.
No campo do ensino, Santos e Mortimer (2001) discutiram o
significado e as implicaes educacionais com relao ao objetivo
central de formao da cidadania para uma ao social responsvel, e os
resultados de pesquisas em torno da capacidade de tomada de deciso,
considerada por eles como um processo fundamental na formao da
cidadania.
Voltando etimologia, o substantivo julgamento foi visto por
Houaiss, Villar eFranco (2009:444) como: sentena de um juiz, de um
tribunal; audincia de um tribunal perante o juiz; juzo; parecer. O
verbo julgar, por sua vez, como: tomar deciso sobre (algo), na
qualidade de juiz; decidir, aps refletir; pronunciar sentena;
sentenciar; emitir parecer, opinio sobre; avaliar, considerar, ter
certa ideia, opinio sobre si ou outrem; supor-se; considerar-se
julgador. Observa-se que essas expresses esto imbricadas no
processo de tomada de deciso.
No campo da Administrao, a tomada de deciso vista como o
processo cognitivo pelo qual se escolhe um plano de ao com base em
variados cenrios, ambientes, anlises ou fatores para uma
situao-problema. Simon (1970) e Shimizu (2006) salientaram que todo
processo decisrio produz uma escolha final o que pode ser vista
como uma ao ou uma opinio de escolha. Como um processo decisrio
pressupe opes, escolhas nem sempre muito fceis de fazer, reforado o
fato de haver: perdas e ganhos; o curto e o mdio prazos; conflitos
de valores.
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4No contexto organizacional, como salientado por Choo (1998), a
tomada de deciso formal estruturada por regras e procedimentos que
especificam papeis, mtodos e normas que, por sua vez, estabelecem
valores que influenciam a forma como a organizao enfrenta a escolha
e a incerteza, salientando-se a expectativa de combinao entre
cultura organizacional, comunicao e consenso para promover a
eficcia nesse processo, com o uso de escolha racional.
Com o objetivo de analisar os elementos intervenientes no
processo de tomada de
deciso nas organizaes, Angeloni (2003) elaborou um estudo terico
que aborda a inter-relao de dado, informao, conhecimento, comunicao
e tecnologia da informao como suporte a esse processo. A autora
afirmou que, para alavanc-lo importante ter disponveis esses
elementos, mas alertou tambm para o fato de que tais elementos
normalmente esto dispersos, fragmentados e armazenados na cabea dos
indivduos e, portanto, sofrem interferncia de seus modelos
mentais.
A deciso foi considerada por essa autora como um processo
essencialmente coletivo, caracterizado pela interferncia das
diferenas individuais na coleta e interpretao da informao, o que
dificulta a existncia de apenas uma deciso. Por outro lado,
salientou que a tomada de deciso em que envolve um maior nmero de
pessoas tende a resultados mais qualificados, aumentando o
conhecimento da situao de deciso, amenizando as distores da viso
individualizada, haja vista que ouvir e tentar compreender cada
viso leva ao aprimoramento e solidez das decises, no obstante
demandar mais tempo.
Com vistas a propiciar um aprimoramento, fundamental para uma
formao mais crtica do cidado, na capacidade de tomada de deciso,
diversos estudos tm demonstrado a importncia da argumentao nesse
processo, a exemplo de: Patronis, Potari eSpiliotopoulou (1999), ao
considerarem a argumentao como um processo social, em que
indivduos, em cooperao, tentam ajustar suas intenes e interpretaes,
encontrando suporte ou razo para as suas aes; McConnell (1982),
para quem a tomada de deciso pblica pelos cidados em uma democracia
requer atitude cuidadosa, habilidades de obteno e uso de
conhecimentos relevantes, conscincia e compromisso com valores,
capacidade de transformar atitudes, habilidades e valores em ao,
perspectiva de tomada de deciso incorporada ao processo
educacional; Kortland (1996), ao compreender a tomada de deciso
como a maneira racional de escolha entre meios alternativos de ao
que requeiram um julgamento em termos de valores.
Ao analisarem a utilizao de sistemas de informao, enquanto
instrumento para a tomada de deciso no exerccio da gerncia,
Guimares e vora (2004) advertiram que, no processo de trabalho, a
tomada de deciso considerada a funo que caracteriza o desempenho da
gerncia, fruto de um processo sistematizado, que envolve o estudo
de um problema a partir de um levantamento de dados, produo de
informao, estabelecimento de propostas de solues, escolha da
deciso, viabilizao e implementao da deciso e anlise dos resultados
obtidos. As autoras chamaram a ateno para o fato de que a deciso
nem sempre resultante de um processo sequencial, estruturado e
dirigido para uma nica soluo, mas consideraram possvel afirmar que
a informao um recurso primordial para o processo de tomada de
deciso.
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5Enfatiza-se que esse processo extremamente mobilizador.
Kahneman e Tversky (2012) advogaram que, ainda que no se tenha
conscincia, a tomada de deciso acontece frequentemente e isso pode
ser constado em muitas disciplinas, a exemplo de matemtica,
estatstica, economia, cincia poltica, sociologia e psicologia.
Esses autores chamaram a ateno para as questes normativas e
descritivas envolvidas no processo de tomada de deciso e
salientaram que a tenso entre essas questes caracterizada em grande
parte do estudo de julgamento e escolha. No que se refere s questes
normativas, destaca-se a natureza racional e lgica da tomada de
deciso. Quanto s questes descritivas, encontra-se a anlise baseada
em crenas e preferncias das pessoas. Rowe (2002) j ressaltava que
as decises e as atitudes tomadas voluntariamente por gerentes e
funcionrios todos os dias acabam por determinar a estratgia
emergente.
No tocante ao termo estratgia, Mintzberg (1978) o redefiniu como
uma linha de ao percebida, uma espcie de padro de sucesso de
decises. Do mesmo modo, o autor definiu estratgia emergente como um
padro de ao a ser seguido, que quando da ausncia de um plano, de um
mtodo ou de um estratagema, na incipincia e/ou inconsistncia do
plano existente. Mintzberg e Waters (1985) reformularam a definio
de estratgia para um padro em uma sucesso de aes, ao invs de um
padro de sucesso de decises. Lderes estratgicos entendem esse
processo e valem-se dele para garantir a viabilidade futura de suas
organizaes, bem como para influenciar funcionrios a tomar,
voluntariamente, decises que ajudem essas organizaes. Conforme
caracterizado por Mintzberg (1990) e Mintzberg e Quinn (1996), o
uso de estratgias emergentes se faz por organizaes essencialmente
estruturadas por meio de projetos, tendo suas estruturas firmadas
em torno de especialistas que se renem para compor equipes voltadas
s especificidades de cada projeto.
2.2. Estudo observacional
Tomando-se por base Aumont, Bergala, Marie e Vernet (1995), no
suficiente ter visto o filme. Faz-se necessrio rev-lo, observ-lo,
selecionar seus fragmentos para poder analis-lo com acuidade,
preciso, cientificidade - pelas cincias sociais, e
responsabilidade. Tal anlise realizada aps coleta de dados feita
por meio da observao. A esse respeito, Martins e Thephilo (2009)
consideraram que, ao mesmo tempo em que a observao permite a coleta
de dados, abarca a percepo sensorial do observador o que redunda em
distino, enquanto prtica cientfica, da observao da rotina
cotidiana. Os autores enfatizaram que, a observao, enquanto prtica
cientfica, consiste em exame minucioso que requer ateno na coleta e
anlise das informaes, dos dados e evidncias, o que exige
previamente um levantamento de referencial terico, bem como de
outras pesquisas relacionadas ao estudo. Igual exigncia foi
relacionada pelos autores no que tange construo de um protocolo de
observao.
No estudo observacional privilegia-se a observao metdica ou
planejada, sob a perspectiva do exame minucioso. Sobre esse estudo
observacional, Machado, Matos, Leite e Leite (2012) salientaram sua
importncia, tanto quando ocorre na modalidade direta e, portanto,
em tempo real, como quando ocorre na modalidade indireta, como o
caso dos estudos em que o documento o prprio filme examinado. A
modalidade de observao indireta, no obstante ser menos flexvel do
que a direta, de acordo com Cooper e Schindler (2003), tambm muito
menos tendenciosa e pode ser muito mais depurada. Esses autores
consideraram que a observao indireta apresenta como vantagem o fato
de o
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6registro permanente poder ser reavaliado e seu contedo poder
ser rediscutido. Tomando-se um filme como base emprica, portanto,
essa reavaliao pode ser feita com mais acuidade.
O estudo observacional como recurso didtico, assim como o uso de
recursos estticos como filmes, constituem projetos educacionais,
quer sob as perspectivas de ensino, desenvolvimento, interveno,
pesquisa, aprendizagem, e vm se fazendo notar no campo da
Administrao, pelos autores que concordam que tais recursos podem
facilitar a construo de um elo entre construtos tericos e realidade
prtica, como Davel, Vergara eGhadiri (2007); Leite e Leite (2007);
Saraiva (2007); Wood Jr. (2007); Leite e Leite (2010); Matos, Lima
e Giesbrecht (2011); Matos, Queiroz, Lopes, Frota e Saraiva (2012);
Leite, Amaral, Freitas e Alvarenga (2012).
3. Aspectos Metodolgicos da Pesquisa
A abordagem metodolgica deste artigo insere-se na pesquisa
qualitativa, tomando-se por base Chizzotti (2008) e Moreira
(2004a), reforando-se a nfase dada por esse ltimo autor, incluso de
filmes na pesquisa qualitativa. O mtodo de pesquisa aqui adotado o
fenomenolgico, fundamentado por Moreira (2004b) e Aumont e Marie
(2007) com base no rigor cientfico e na capacidade de fazer
refletir sobre a compreenso de mundo e ultrapassar o dualismo
cartesiano.
A escolha tambm se fundamenta em Silva (2006), por chamar a
ateno para a vivncia da experincia e o processo de reflexo que o
mtodo proporciona ao pesquisador. Ainda sob a premissa de
envolvimento do pesquisador, Gil (2009) contribuiu com a afirmao de
que esse mtodo procura resgatar os significados atribudos pelos
sujeitos ao objeto que est sendo estudado, bem como exige que se
admita o peso da subjetividade na interpretao dos dados.
A estratgia de pesquisa pode ser considerada como a de estudo de
caso, com base em Yin (2010) e Eisenhardt (1989). No obstante a
unidade de anlise escolhida filme Doze Homens e Uma Sentena
possibilitar a coleta de dados secundrios, o uso de duas verses
(1957 e 1997) pode caracterizar duas fontes de evidncia, com
observaes indiretas e no participantes. Esse fato no impossibilita
que os resultados: se baseiem em mltiplas fontes, os dados
convirjam em formato de tringulo e, ao mesmo tempo, beneficiem-se
do desenvolvimento prvio de proposies tericas para conduzir a
coleta e a anlise dos dados.
A observao a estratgia apropriada, de acordo com Cooper e
Schindler (2003), para coletar dados oriundos de recursos estticos,
pois possibilita a coleta de dados visuais. No que tange estratgia
de coleta de dados, neste artigo, consideram-se, ainda, as
microanlises registradas em protocolos de observaes. A temtica
tomada de deciso foi pesquisada simultaneamente na literatura e nos
protocolos das duas verses do filme analisado. A observao indireta
e no-participante caracterizada por Cooper e Schindler (2003) e
corroborada por Flick (2004) como quela que pode ser mais depurada,
na medida em que apresenta como vantagem a reavaliao do registro
permanente de modo a poder incluir vrios aspectos diferentes do
fenmeno investigado. Como salientado por Chizzotti (2008), tais
registros possibilitam, ainda, o acrscimo de percepes, concepes,
valores, e objetivos dos observadores, oriundos de diferentes
momentos de coleta.
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7O uso de filmes como material emprico nas cincias sociais foi
indicado por Denzin (2004) junto a um conjunto de princpios
organizativos para a pesquisa de documentos visuais, salientando
que tais princpios devem ser adaptados s necessidades do
pesquisador. Nesta pesquisa, sob os cuidados de proceder s adaptaes
necessrias, foram seguidas as quatro fases indicadas por esse
autor: olhar e sentir, procurando identificar padres de significado
e registrar as impresses em protocolos de pesquisa; formular a
questo de pesquisa ou definir o objetivo; realizar microanlise em
cada cena de per si, descrevendo-a detalhadamente; aps ver o filme
tantas vezes quantas necessrias, descrever os dados observados de
forma a atingir o objetivo definido.
Os filmes como entendidos por Denzin (1989) podem ser analisados
por meio da estratgia de anlise de discurso, pela riqueza de
detalhes, coerncia e silncios discursivos que so oferecidos. Assim,
no que tange estratgia de anlise dos dados, nesta pesquisa,
considerou-se pertinente a anlise de discurso, com base em Gill
(2011), por ser uma estratgia de leitura cuidadosa, que caminha
entre o texto e o contexto, uma interpretao fundamentada em
detalhada e cuidadosa ateno do material aqui estudado. Nos
protocolos de observaes encontram-se registrados os dados: filme
Doze Homens e Uma Sentena, verses (1957; 1997); tempo total de 03
horas e 34 minutos de projeo e 23 horas e 38 minutos de
microanlises; exibio para anlise, 07 vezes por verso, de modo a
identificar as caractersticas dos personagens e compreender como
essas caractersticas influenciavam o processo de tomada de deciso.
Os critrios de escolha para uso desse filme foram baseados na
riqueza que seu contedo traz para as cincias sociais, em
particular, para a Administrao, bem como versar sobre a temtica
tomada de decisopor meio da anlise cuidadosa de dados e fatos.
Com a finalidade de trabalhar o objetivo especfico de verificar
como esse filme vem sendo utilizado em um projeto educacional de
interveno, foram realizadas 02 entrevistas semiestruturadas e em
profundidade, com as quais Martins e Thephilo (2009) defenderam a
necessidade de conduo com uso de roteiro, de modo a criar a
liberdade de acrscimo de novas questes pelo entrevistador, com
vistas obteno de motivaes, percepes, crenas e atitudes em relao ao
objeto de estudo. Essas entrevistas foram analisadas pela estratgia
de anlise do contedo das mensagens, com base em Bardin (2011).
No que tange ao contexto, o filme escolhido, Twelve Angry Man,
traduzido para o Brasil como Doze Homens e Uma Sentena, sinaliza-se
que ele foi estudado nesta pesquisa em suas duas verses: Lumet
(1957) e Friedkin (1997). Em um caso de assassinato, doze homens
foram convocados para compor um jri. Um jovem de dezoito anos era
acusado de apunhalar fatalmente o prprio pai. Na viso da
promotoria, o resultado poderia ser definido facilmente. Da tomada
de deciso desse jri, dependia o destino desse jovem. O veredicto
necessitava ter unanimidade dos doze jurados, que receberam a
orientao de absolv-lo, caso encontrassem uma s dvida cabvel. A
discusso entre os jurados foi permeada por tenso. Onze, desses doze
jurados votaram culpado na votao preliminar, enquanto um votou
inocente. A maioria considerou, a princpio, uma tarefa trivial,
rpida, sem necessidade de discusso, e se rebelou pelo voto
contrrio.
Valena (1997:140) reportou-se a esse filme para discutir a tese
da advocacia em conjunto com auto-inquirio, a partir da suspenso da
atitude arrogante de certeza. Valena, Kenigs e Hare (2004:81),
abordaram o aspecto da reflexo sobre a reflexo na ao,
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8tomando esse mesmo filme como objeto de anlise. No captulo
Filmes no ensino e aprendizagem de questes ticas na Administrao
pblica de autoria de Bata (2007), esse filme foi utilizado como um
projeto de ensino da disciplina tica na Administrao Pblica, com o
objetivo de dinamizar o processo de ensino-aprendizagem e favorecer
a compreenso do contedo da disciplina no curso de Ps-Graduao em
Administrao da Fundao Joo Pinheiro. No contexto de um projeto
educacional de interveno junto a executivos, Sonia Dondice, scia da
Mapa Consulting, em entrevista concedida em 14.11.2012, declarou
que utiliza esse filme h dez anos em um mdulo de treinamento para
ilustrar a influncia, sem autoridade formal, analisando
caractersticas gerenciais, e competncias dos executivos. Nesta
pesquisa esse filme foi utilizado para estudar o processo de tomada
de deciso baseado em investigao analtica dos dados. Sua
contextualizao com as duas verses pode ser visualizada no Quadro
01.
Contextualizao do Filme em suas duas Verses
OrdemJurados
Caracterizao dos Jurados Atores Verso 1957
Atores Verso 1997
Ordem Votao
01 Presidente do jri, preocupado em organizar os trabalhos.
Professor e tcnico de futebol da Escola Andrew J. McCorkle,
localizada no Queens
Martin Balsam Courtney B. Vance
09
02 Bancrio despretensioso e atento aos detalhes John Fiedler
Ossie Davis 0503 Empresrio e pai emocionalmente abalado com o
desprezo do filho, sempre gritando e irritado Lee J. CobbGeorge
C. Scott
12
04 Racional e educado corretor de bolsa de valoresE. G.
Marshall
Armin Mueller-Stahl
11
05 Ex-morador de cortio, f do Baltimore Orioles efuncionrio de
um Hospital no Harlem Jack Klugman
Dorian Harewood
03
06 Pintor de paredes, com princpios e respeitoso com os demais.
Sem hbito de especular dados Edward Binns
James Gandolfini
06
07 Vendedor de marmelada, f de beisebol, superficial e
indiferente s discusses Jack Warden Tony Danza
07
08 Arquiteto, afeito a analisar dados e fatos, nico voto pela
inocncia no incio dos trabalhos, identificado como Davis ao final
do filme
Henry Fonda Jack Lemmon
01
09 Ancio sbio, apoiador e observador, tambm bom em anlise de
dados e fatos, identificado como McArdle ao final do filme
Joseph Sweeney
Hume Cronyn
02
10 Dono de oficina, na verso de 1957 e dono de lava jato, na
verso de 1997, preconceituoso, mal educado e grosseiro
Ed Begley Mykelti Williamson
10
11 Relojoeiro imigrante, atento e cuidadoso com os dados e fatos
George Voskovec
Edward James Olmos
04
12 Publicitrio corporativo, indeciso e inseguro em suas
afirmaes
Robert Webber
William Petersen
06
Quadro 01 Base do processo de tomada de deciso para o veredicto
InocenteFonte1: Baseado inicialmente em interfilmes (2012)
Fonte 2: Dados obtidos das duas verses do filme (2012)
Esse quadro serviu de base para auxiliar no processo de comparao
das duas verses do filme, em que se notaram pequenas mudanas na
caracterizao dos jurados, registrando-se ainda que: a ordem desses
jurados permaneceu inalterada nas duas verses;
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9a ordem em que eles mudaram seus votos tambm permaneceu
inalterada na verso de 1997. A caracterizao dos jurados foi
importante para entender seus discursos durante o processo de
tomada de deciso.
4. Apresentao e anlise dos dados e discusso dos resultados
Cabe, nesse item, relembrar Martins e Thephilo (2009), pela
nfase observao, enquanto prtica cientfica, consistindo em exame
minucioso que requer ateno na coleta e anlise das informaes, dos
dados e evidncias, o que exige previamente um levantamento de
referencial terico, bem como de outras pesquisas relacionadas ao
estudo. Os subitens 4.1, 4.2 e 4.3 esto fundamentados nessas
prerrogativas.
4.1. No contexto do filme
As anlises dos dados e discusso dos resultados tomaram por base,
nesse contexto, ambas as verses do filme escolhido, mostradas no
Quadro 01. Entretanto, a contagem dos tempos das cenas
microanalisadas se refere apenas verso de 1957. Esse quadro
apresenta, na votao preliminar, aos 10m 48s, o jurado nmero 08
votando inocente disposto a analisar dados e fatos sobre o
julgamento de um adolescente de 18 anos, acusado de matar o prprio
pai e, se condenado, a pena seria a cadeira eltrica. Os discursos
analisados mostram o que se passava no mapa mental de cada um dos
jurados convocados, na medida em que expunham seus pontos de
vista.
Na segunda votao, solicitada pelo jurado nmero 08 aos 31m 07s,
com voto escrito e secreto, aps exaltao e agressividade dos jurados
nmeros 03 e 10, o jurado nmero 09 revelou que queria ouvir mais e
apoiar a anlise e discusso provocadas pelo jurado nmero 08. Essa ao
do jurado nmero 09 est alinhada ao que foi preconizado por Angeloni
(2003), acerca da necessidade de inter-relao de dado, informao,
conhecimento e comunicao como suporte ao processo de tomada de
deciso.
Aps novas discusses, aos 47m 15s, o jurado nmero 05 informou ao
jurado n 01, relator do processo, que queria mudar o voto para
inocente. Uma terceira votao foi solicitada, e o relator
contabilizou 9 votos culpado e 3 votos inocente. O jurado n 11
disse ao relator que tambm queria votar inocente, ficando o final
dessa votao com 8 a 4 a favor de culpado. Tais mudanas encontram-se
respaldadas no que disseram Patronis, Potari & Spiliotopoulou
(1999), quando consideraram a argumentao como um processo social,
em que indivduos, em cooperao, tentam ajustar suas intenes e
interpretaes, encontrando suporte ou razo para as suas aes.
Aos 53m 11s, o jurado nmero 08 pediu a planta do apartamento e
fez a simulao da provvel caminhada do velho que deps afirmando ter
ouvido o ru e registrou o tempo de 41s, ao invs dos 15s afirmados
pelo velho no tribunal. Tais aes encontram fundamentao em Guimares
& vora (2004) ao advertirem que a tomada de deciso fruto de um
processo sistematizado, que envolve o estudo de um problema a
partir de levantamento de dados, produo de informao,
estabelecimento de propostas de solues, escolha da deciso,
viabilizao e implementao da deciso e anlise dos resultados obtidos.
Aos 61m 44s a quarta votao foi solicitada e o relator informou que
se encontrava 6 a 6.
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Aps a cena da simulao do uso da faca e da afirmao do jurado
nmero 05 de que ela era usada de baixo para cima, pois j havia
presenciado muitas brigas com o uso de facas similares, o jurado
nmero 08 perguntou ao jurado nmero 12 o que ele achava. A resposta
foi no sei e ento ele foi at o jurado nmero 07, que lhe respondeu
aos 65m 52s: no sei os outros, mas isso j me cansou. No chegaremos
a lugar algum. Vou me deixar convencer. Mudo meu voto para
inocente. O jurado nmero 03, mostrou indignao com a resposta e o
nmero 11 disse enfaticamente: ele tem razo. Isso no resposta. Que
tipo de homem voc? Sentou-se aqui e votou culpado com os outros
porque tem ingressos queimando seu bolso. E agora muda o seu voto
porque diz que est cansado de tanto falatrio. Quem disse que tem o
direito de brincar com a vida de um homem? [...] Se quer votar
inocente ento vote porque est convencido disso. E no porque se
cansou. Se o acha culpado ento vote dessa forma. No tem coragem
para fazer o que certo? [...] Culpado ou inocente? J lhe disse.
Inocente. Por que? [...] diga! Por que? No acho que culpado. A
exigncia do jurado nmero 11em relao ao do jurado nmero 07 pode ser
respaldada pelo que foi dito por McConnell (1982), quanto tomada de
deciso pblica pelos cidados em uma democracia, o que requer atitude
cuidadosa, habilidades de obteno e uso de conhecimentos relevantes,
conscincia e compromisso com valores, capacidade de transformar
atitudes, habilidades e valores em ao, perspectiva de tomada de
deciso incorporada ao processo educacional.
O jurado nmero 08 pediu a quinta votao, aos 67m 11s. Os jurados
nmeros 12 e 01 votaram inocente. O relator anunciou: a votao est 9
a 3 a favor de inocent-lo. O jurado nmero 10 se indignou e iniciou
um discurso agressivo contra todos da classe social do ru. Pouco a
pouco os outros jurados foram virando as costas, restando apenas os
jurados nmeros 04 e 07. Dirigindo-se ao nmero 04 ele disse: oua
[...]. O nmero 04 lhe respondeu: [...] j ouvi. Agora se sente e no
abra mais a boca. O jurado nmero 10 retirou-se da mesa e sentou-se
de costas. Aos poucos os outros retornaram aos seus lugares. Na
verso de 1997 a repreenso ao jurado nmero 10 foi dividida entre os
jurados nmeros 02 e 04.
Na verso de 1957 o jurado nmero 08 fez a interveno: sempre
difcil deixar os preconceitos fora de uma questo dessas. No importa
para que lado v, o preconceito sempre obscurece a verdade. No sei
qual a verdade. E suponho que ningum saber de fato. Nove pessoas
aqui parecem achar o ru inocente. Mas s estamos jogando com
possibilidades. Podemos estar enganados. Podemos estar deixando um
homem culpado livre, no sei. Ningum pode saber ao certo. Mas temos
uma dvida cabvel. E isso algo que muito valioso em nosso sistema.
Nenhum jri pode declarar um homem culpado a menos que tenha
certeza. Ns nove no podemos entender como vocs trs continuam com
tanta certeza. Talvez possam nos dizer. Na verso de 1997 no h esse
prembulo, mas o que se segue foi visto em ambas as verses.
O jurado nmero 04 disse: [...] vou tentar. Voc levantou
excelentes pontos, mas acho o ru culpado. Tenho duas razes para
isso: uma a prova dada pela vizinha da frente que viu o homicdio
ser cometido; a segunda ela ter testemunhado o esfaqueamento,
dizendo ter visto o rapaz levantar o brao e esfaquear o pai no
peito, de cima para baixo. Ela viu. E do jeito errado de usar a
faca. Falemos um pouco dessa mulher. Disse que foi dormir s 11
daquela noite. Sua cama fica perto da janela e ela consegue ver,
deitada, o quarto do rapaz do outro lado da rua. Rolou uma hora na
cama sem conseguir dormir. Finalmente, se virou para a janela, por
volta da 00h10min. E, quando olhava l para fora
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viu o assassinato atravs das janelas de um trem. Disse que as
luzes se apagaram aps o crime. Mas que deu uma boa olhada no rapaz
enquanto ele esfaqueava o pai. Pelo que consigo ver esse testemunho
inabalvel, irrefutvel. Perguntou ao jurado nmero 08 o que ele
achava. Sem resposta, voltou-se para o nmero 12 que respondeu no
sei. Outra votao foi pedida. O jurado nmero 12 disse que trocava
seu voto para culpado. O jurado nmero 03 perguntou se havia mais
algum e informou, exultante, que a votao estava 8 a 4. O jurado
nmero 11 perguntou-lhe: [...] por que parece uma vitria pessoal? um
voto.
Refora-se aqui o poder mobilizador do processo de tomada de
deciso. Reitera-se, com as mobilizaes subsequentes s do jurado
nmero 08, principalmente as dos jurados nmeros 09, 05, 11, 02 e 04,
respectivamente, o que foi argumentado por Kahneman & Tversky
(2012) acerca das questes normativas e descritivas envolvidas no
processo de tomada de deciso, salientando que a tenso entre essas
questes caracterizada em grande parte do estudo de julgamento e
escolha. No que se refere s questes normativas, destacaram a
natureza racional e lgica da tomada de deciso. Cabe relembrar o que
foisalientado por Choo (1998), a respeito da tomada de deciso
formal, estruturada por regras e procedimentos que especificam
papeis, mtodos e normas que, por sua vez, estabelecem valores que
influenciam a minimizao da incerteza e a obteno do consenso por
escolha racional.
Aos 72m 03s, o jurado nmero 04, ao tentar olhar as horas retirou
os culos e esfregou o nariz, sob o olhar atento do jurado nmero 09
que o interrompeu dizendo: [...] desculpe t-lo interrompido. Mas
voc fez um gesto que me lembrou uma coisa, em uma das testemunhas
[...] queria saber por que esfregou o nariz assim [...]. O jurado
nmero 04 respondeu: bem, se quer saber porque me incomoda um pouco.
por causa dos seus culos? sim. Agora podemos prosseguir com outro
assunto?. Os culos fizeram duas marcas nas laterais do seu nariz.
No havia notado. Deve incomodar muito [...] A mulher que
testemunhou ter visto o assassinato tinha essas mesmas marcas nas
laterais do nariz [...] Dem-me apenas um minuto e encerro meu
argumento. No sei se mais algum notou isso nela. No pensei nisso na
hora. Mas andei relembrando seu rosto em minha mente. Ela tinha as
mesmas marcas. Esfregava no tribunal [...]. Essas marcas poderiam
ser feitas por algo que no culos?. O jurado nmero 04 respondeu: no.
No poderiam.
Aps lembranas complementares de tais detalhes, por outros
jurados, o jurado nmero 08 levantou-se e perguntou ao jurado nmero
12. possvel? Ele respondeu inocente. Deslocou-se at o nmero 10, que
se mantinha afastado e perguntou: acha que ele culpado? Ele acenou
que no. Ao chegar ao nmero 04 o nmero 08 indagou: voc acha? No.
Estou convencido. Inocente. O jurado nmero 08, em sua capacidade de
tomar deciso balizada e, ajudado, principalmente pelo jurado nmero
09, demonstrou a importncia da argumentao nesse processo, em linha
com o que foi dito por Kortland (1996), ao compreender a tomada de
deciso como a maneira racional de escolha entre meios alternativos
de ao que requeiram um julgamento em termos de valores. Assim, aos
82m 02s o jurado nmero 03, aps catarse associada sua relao com seu
filho, votou inocente. Na verso de 1997 o jurado nmero 08 disse ao
jurado nmero 03: ele no seu filho. filho de outro. O jurado nmero
04 acrescentou: deixe-o viver. O jurado nmero 3 votou inocente. O
jurado nmero 01 avisou ao oficial que j haviam chegado ao veredicto
e foi orientado para que todos voltassem ao tribunal.
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O veredicto obtido pode ser analisado com o suporte de Angeloni
(2003), quando salientou que a tomada de deciso em que envolve um
maior nmero de pessoas: tende a resultados mais qualificados;
aumenta o conhecimento da situao de deciso; ameniza as distores da
viso individualizada, haja vista que ouvir e tentar compreender
cada viso leva ao aprimoramento e solidez das decises, no obstante
demandar mais tempo.Tambm pode servir de suporte o que foi
ressaltado por Rowe (2002), sobre as decises e as atitudes tomadas
cotidiana e voluntariamente por gerentes e funcionrios, redundando
na determinao da estratgia emergente.
Os 11 jurados, tomando-se por base Mintzberg (1990) e Mintzberg
e Quinn (1996),trataram as estratgias emergentes, estruturados como
uma equipe temporria voltada s especificidades do contexto. O
jurado nmero 08 agiu como um lder estratgico do jri, entendendo o
processo de tomada de deciso e valendo-se dele para garantir a
unanimidade do veredicto, bem como para influenciar os outros
jurados a tomar, voluntariamente, decises que ajudassem a justia do
resultado, respaldados nas dvidas cabveis contidas no processo todo
e valorizadas pelo sistema vigente.
4.2. No contexto das entrevistas
As anlises dos dados e discusso dos resultados, nesse contexto,
tomaram por base duas entrevistas semi-estruturaras: a primeira,
com uma administradora de formao, profissional de consultoria,
professora de projetos de educao continuada para executivos no
Brasil e no exterior. Atua h 26 anos no mercado e h 10 anos
trabalha com o filme Doze Homens e uma Sentena; a segunda, com uma
executiva do setor de TI para a rea financeira, que participou h 3
anos de um dos projetos de educao continuada com a primeira
entrevistada, com a utilizao desse filme.
A primeira entrevistada declarou que o critrio principal para a
utilizao desse filme a abrangncia de temtica que ele permite
explorar: capacidade de influncia, percepo, tomada de deciso. A
segunda entrevistada afirmou que o filme serviu, em sua turma,
principalmente para o aprendizado do ouvir eficazmente antes de
tomar decises.
Indagada acerca das caractersticas gerenciais avaliadas com esse
filme, a primeira entrevistada informou que so discutidos aspectos
tais como organizao, propsito, consequncias de ao, como tomar
decises, estrutura de atividades. Por sua vez, a segunda
entrevistada fez o registro do aprendizado relacionado s formas de
alcanar resultados, tomar decises e incrementar o poder de
argumentao.
No que diz respeito aos aspectos ligados a habilidades e
competncias, a primeira entrevistada enumerou: gesto do estresse,
tomada de decises, competncias emocionais, empatia, comunicao,
controle emocional, autoconscincia. A segunda entrevistada citou:
capacidade de exercer influncia, capacidade de tomar decises, saber
ouvir, saber argumentar, saber liderar.
Com relao aos resultados atingidos com o uso desse filme, a
primeira entrevistada declarou que tem percebido, em grupos com os
quais trabalha, resultados como: clareza, exerccio da empatia,
processo da escuta ativa, equilbrio emocional, ateno ao preconceito
e desenvolvimento da habilidade de olhar desapaixonadamente para as
situaes. A segunda entrevistada declarou que, em reunies existem
situaes que
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lembram as cenas do filme como argumentao, ponderao, quietude,
pacincia, aprender a ouvir mais. Enfatizou que o filme ajuda,
simula situaes dirias, pois existem situaes no filme que se
confundem com as organizacionais.
4.3. No contexto das discusses dos resultados
A comparao entre as duas verses do filme (1957 e 1997) mostrou a
atualidade do constructo tomada de decises, consolidando o que
Simon (1970) e Shimizu (2006) salientaram em relao a todo processo
decisrio produzir uma escolha final. Como um processo decisrio
pressupe opes, escolhas nem sempre muito fceis de fazer, o filme
reforou os fatos de: haver perdas e ganhos no processo; saber lidar
com o curto e o mdio prazos; enfrentar conflitos de valores.
As entrevistas mostraram que esse filme vem sendo utilizado
eficazmente h dez anos em um projeto educacional de interveno, com
executivos organizacionais, reforando a relevncia dos estudos
observacionais em anlise flmica, no campo da Administrao e
corroborando Aumont, Bergala, Marie & Vernet (1995), ao
afirmarem que no suficiente ter visto o filme. Faz-se necessrio
rev-lo, observ-lo e selecionar seus fragmentos para poder analis-lo
com acuidade, preciso, cientificidade e responsabilidade.
Relembrando o estudo de Valena, Kenigs e Hare (2004), no qual
esse mesmo filme foi tomado como objeto de anlise, esses autores
afirmaram que o jurado nmero 08 realizou oprocesso de reflexo sobre
a reflexo na ao junto aos outros 11 jurados, deslocando-se da forma
imediatista de realizar a tarefa de condenar sumariamente um jovem
de 18 anos cadeira eltrica. Esse personagem optou por uma
reconsiderao das falhas existentes no processo da procuradoria, de
modo a levar esses outros jurados a admitir a possibilidade da
existncia de uma dvida cabvel.
A questo de pesquisa foi respondida, por meio da anlise dos
registros de observaes e das entrevistas, mostrando que a estratgia
de anlise flmica pode contribuir para a gesto de projetos
educacionais pela possibilidade de verificaes acuradas dos dados e
fatos, passveis de revises sistemticas pelo acesso repetido aos
registros. Tanto as entrevistas quanto a anlise das duas verses do
filme reforaram que o estudo observacional como recurso didtico,
assim como o uso de filmes, constituem projetos educacionais, quer
sob as perspectivas de ensino, desenvolvimento, interveno,
pesquisa, aprendizagem, e, por essa razo, vm se fazendo notar no
campo da Administrao, pelos autores que concordam que tais recursos
podem facilitar a construo de um elo entre construtos tericos e
realidade prtica, como Davel, Vergara & Ghadiri (2007); Leite
& Leite (2007); Saraiva (2007); Wood Jr. (2007); Leite &
Leite (2010); Matos, Lima &Giesbrecht (2011); Matos, Queiroz,
Lopes, Frota & Saraiva (2012); Leite, Amaral, Freitas &
Alvarenga (2012).
Nos resultados h indcios, tanto pelas observaes do filme
estudado, quanto pelasentrevistas, que o processo de tomada de
deciso baseado em investigao analtica dos dados, no se constitui
tarefa trivial, rpida e sem necessidade de discusso. No campo da
Administrao, a tomada de deciso vista como o processo cognitivo
pelo qual se escolhe um plano de ao com base em variados cenrios,
ambientes, anlises ou fatores para uma situao-problema. No contexto
organizacional, como salientado por Choo (1998), a
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tomada de deciso formal estruturada por regras e procedimentos
que especificam papeis, mtodos e normas.
Em ambas as verses do filme foi observado o que Angeloni (2003)
considerou a respeito da deciso como um processo essencialmente
coletivo, caracterizado, por um lado, pela interferncia das
diferenas individuais na coleta e interpretao da informao e suas
consequentes dificuldades. Por outro lado, tambm foi visto o que a
autora salientou acerca da qualidade da tomada de deciso com um
maior nmero de pessoas envolvidas, aumentando o conhecimento da
situao de deciso, amenizando as distores da viso individualizada,
como mostrado pelos jurados 8, 9, 5 e 11, respectivamente, haja
vista que eles ouviram e tentaram compreender cada viso dos demais
jurados, o que levou ao aprimoramento e solidez das decises, bem
como conscincia de que, com dvidas cabveis, no poderia haver
certezas.
Aqui vale relembrar o que foi visto em Houaiss, Villar &
Franco (2009:444), acerca do verbo julgar, essencialmente como
decidir, aps refletir; pronunciar sentena; considerar-se julgador.
O jurado nmero 08 optou por decidir aps refletir, desde o incio,
enquanto os outros 11 jurados optaram por pronunciar sentena e
considerarem-se julgadores, nessa circunstncia. No obstante ter
demandado mais tempo do que o esperado pela maioria dos jurados, os
resultados deste estudo mostraram alinhamento com Abbagnnano
(2003), quando discorreu sobre a faculdade de julgar, avaliar,
escolher, decidir e relembrou que, tanto a deciso quanto a escolha
precisa eliminar uma incerteza e dirimir uma controvrsia. Somente a
partir da deciso do jurado nmero 08 foi possvel pronunciar a
sentena pautada no que regia o sistema.
5. Consideraes Finais
Este artigo foi oriundo de um projeto educacional, desenvolvido
com base na perspectiva de projetos de ensino, pesquisa e
aprendizagem, destinada ao desenvolvimento de discentes de
mestrado, sob orientao docente, com a finalidade de realizar aes
voltadas para a formao humana e construo conjunta do conhecimento.
As trs perspectivas do projeto contriburam para a manuteno da
indissociabilidade entre ensino-aprendizagem e pesquisa.
O estudo observacional em anlise flmica, em meio a suas limitaes
e vantagens, mostrou que, o filme Doze Homens e Uma Sentena
favoreceu a compreenso de um processo analtico, em carter precrio,
em razo de tratar-se da realizao de uma atividade com tempo curto
em um trabalho conjunto. Nesse filme, o jurado nmero 08,
identificado ao final como Davis, o arquiteto que realizou uma
exaustiva investigao com outros 11 jurados que julgaram
precipitadamente o ru, condenando-o cadeira eltrica.
Utilizando-se da prerrogativa da tomada de deciso com base em
anlise de dados e fatos, em sua ao inicial de votar inocente, Davis
conseguiu: garantir o tempo para conversar sobre o caso; favorecer
a investigao sobre os fatos; mostrar, com dados examinados, a
possibilidade de uma dvida cabvel; revelar as inconsistncias das
teses dos outros 11 jurados, ao decidirem por culpado, antes de
quaisquer discusses; contribuir para a obteno da unanimidade do
veredicto.
Ficou patente, desde a segunda votao, que, quando Davis tomou a
deciso de votar inocente, criou a possibilidade de investigar a
existncia de uma dvida cabvel
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entre os demais jurados e ajud-los a sair do processo de tomada
de deciso baseado no senso comum, no preconceito, na precipitao e
na abdicao de responsabilidade pelo processo, sob a premissa
equivocada de que a procuradoria j o havia feito. Por meio dessa
investigao, Davis extraiu a dvida cabvel de cada um desses jurados,
at absolver o ru por esse critrio.
O processo balizado de tomada de deciso foi possvel, somente aps
os jurados: assumirem deixar de lado preconceitos, medos,
hipocrisias, sarcasmos e idiossincrasias; deixarem de entender as
etapas de anlise de dados e fatos, propostas pelo jurado nmero 08,
como provocaes pessoais; eliminarem os ressentimentos que
inviabilizavam a capacidade de votar com iseno. As decises
partilhadas foram incrementadas por intermdio de revelao das
diferenas de conhecimentos entre esses jurados, do modo de
raciocinar, de valores e de propsitos.
A investigao acerca da estratgia de anlise flmica na gesto de
projetos educacionais, quer pelas entrevistas, quer pelos
protocolos de observaes, mostrou que, a eficcia desse recurso
reside na simulao que distancia o indivduo da exposio a
constrangimentos e do incremento da sua reflexo pela observao dos
comportamentos dos personagens. Reforou-se neste estudo o poder
mobilizador do processo de tomada de deciso com base em anlise de
dados e fatos.
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