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333A incluso do surdo na universidade...
A INCLUSO DO SURDO NA UNIVERSIDADE MITO OU REALIDADE?
Maria Cecilia de Moura Pontifcia Universidade Catlica-SP
[email protected]
Kathryn M. Pacheco HarrisonPontifcia Universidade Catlica-SP
[email protected]
Resumo: Este artigo tem como objetivo discutir se o que colocado
pelo Decreto de Lei nmero 5.626 (22/12/2005), que regulamenta a lei
sobre a lngua brasileira de sinais (Lei Federal n10436, de
24/04/2002) e a Lei de Acessibilidade (n. 10.098 de 19/12/2000),
que dita que as Universida-des devero estar aptas a receberem
alunos Surdos, est sendo obedecida. A questo que se coloca no
panorama atual : a incluso dos Surdos na Universidade ocorre de
forma efetiva? Aps trabalho de um ano numa Universidade, junto a
professores, alunos Surdos e intrpretes, verificou-se que se est
muito longe ainda de se conseguir uma real incluso e que muitas
decises devem ser tomadas e aes realizadas para que se possa
verdadeiramente conseguir que essa incluso seja verdadeira.
Conclui-se que a simples presena do intrprete na sala de aula
condio necessria, mas no suficiente para que o Surdo possa ter seus
direitos respeitados.Palavras-chave: incluso na universidade,
surdos, intrpretes de lngua de sinais, lei de libras.
Abstract: This article discusses whether Decree 5626
(12/22/2005) refer-ring to Brazilian Sign Language (Federal Law
10436 04/23/2002) and Accessibility Law 10098 (12/19/2000) that
requires Universities to be equipped to receive deaf students is
being followed. The question is whe-ther deaf inclusion in
universities actually occurs. After a year working
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Maria Cecilia de Moura & Kathryn M. Pacheco Harrison334
with teachers, deaf students and interpreters at a university,
we have con-cluded that the university is far from achieving real
inclusion and that many more decisions must be taken and actions
made in order to meet genuine inclusion. It concludes by confirming
that the presence of the interpreter in the classroom is necessary,
however, it is not sufficient for the Deaf to have their rights
fully respected.Keywords: university inclusion, deaf people, sign
language interpreters, libras law.
1. Introduo
A utilizao da lngua de sinais na educao e habilitao do Surdo foi
alvo de muitos estudos nos ltimos anos, principalmente aps a
constatao por Stokoe (1960/1978), em 1960, de que, tanto em relao a
sua estruturao interna como de sua gramtica, ela ti-nha valor
lingstico semelhante s lnguas orais e cumpria as mes-mas funes, com
possibilidades de expresso em qualquer nvel de abstrao. Em pases
como a Sucia, a Dinamarca e a Finlndia ela vem sendo usada na
educao com Surdos h aproximadamente vinte anos. No Brasil, os
estudos sobre a lngua de sinais so ainda mais recentes (QUADROS,
1997, 2006, 2007, 2008, 2009; LODI, 2004; LACERDA; NAKAMURA; LIMA,
2000) e o uso da ln-gua de sinais na educao do Surdo iniciou-se com
a introduo da Comunicao Total na dcada de setenta (YOSHIOKA, M.C.;
SPINELLI, M.; TEIXEIRA, V.; MOURA, M. C., 1981).
Na verdade, foi o movimento multicultural na dcada de oitenta
que trouxe em seu bojo a luta dos Surdos para que sua lngua fosse
respeitada, assim como a sua cultura (MOURA, 2000).
Como resultado deste movimento foi que se verificou, no Bra-sil,
desde o mesmo perodo, o fortalecimento da comunidade Surda que, por
meio de suas associaes e principalmente de sua federa-o FENEIS1 -,
passou a requisitar que a lngua de sinais passasse a ser usada na
educao com os Surdos como parte de uma filosofia
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335A incluso do surdo na universidade...
que prega a compreenso do Surdo no como deficiente, mas como
diferente e pertencente a um grupo lingstico minoritrio
(An-dersson, 1994). Esse movimento teve o respaldo da comunidade
cientfica que, por meio de pesquisas e artigos cientficos, validou
o desejo, transformando-o em necessidade a ser atendida.
O conjunto dessas aes resultou na elaborao e na votao das leis n
10.436, que dispe sobre a Lngua Brasileira de Si-nais - Libras, e o
art. 18 da Lei n 10.098 que, aprovadas, foram regulamentadas pelo
decreto 5.626/05. Essa regulamentao exige agora que novas bases
tericas e formas prticas de atuao sejam revistas para que a ao
exigida pela lei possa ser cumprida.
Sabe-se que apenas uma mudana total dos paradigmas possi-bilitar
que uma modificao real tome corpo e possa tornar a lei efetiva. As
Universidades devero se adaptar a essa nova realidade desde que a
lei estabelece vrias normas a serem seguidas.
O decreto 5626/05, por exemplo, no captulo II Da Incluso da
LIBRAS como Disciplina curricular - coloca que:
Art. 3 - A Libras deve ser inserida como disciplina cur-ricular
obrigatria nos cursos de formao de professores para o exerccio do
magistrio, em nvel mdio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia,
de instituies de ensino, pblicas e privadas, do sistema federal de
ensino e dos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municpios.
1. Todos os cursos de licenciatura, nas diferentes reas do
conhecimento, o curso normal de nvel mdio, o curso normal superior,
o curso de Pedagogia e o curso de Educa-o Especial so considerados
cursos de formao de pro-fessores e profissionais da educao para o
exerccio do magistrio.
2. A Libras constituir-se- em disciplina curricular opta-tiva
nos demais cursos de educao superior e na educao
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Maria Cecilia de Moura & Kathryn M. Pacheco Harrison336
profissional, a partir de um ano da publicao deste De-creto.
A introduo da LIBRAS como disciplina curricular na Uni-versidade
traz mais do que apenas o ensino de uma lngua, pois h a necessidade
de que todos os envolvidos nessa aprendizagem compreendam a
especificidade do Surdo, no apenas com relao sua lngua, mas tambm
com relao sua cultura e forma de estar na sociedade. Apenas a
compreenso desses aspectos possibilitar uma atuao que contemple a
singularidade dos sujeitos Surdos.
Temos que ressaltar que o universo de Surdos que freqentam a
Universidade pautado por particularidades que devem ser
con-templadas por todos aqueles envolvidos no trabalho educacional:
professores e intrpretes. Muitos Surdos no tm fluncia em LI-BRAS,
mas conseguem compreender o que lhes dito se condies optimais de
leitura-oro-facial lhes forem oferecidas. Este um tra-balho que os
intrpretes devem propiciar aos Surdos que freqen-tam a
Universidade, assim como o conhecimento pelo professor da
particularidade de funcionamento desses alunos.
Portanto, necessrio que todas as facetas dos Surdos que
fre-qentam a Universidade sejam compreendidas para que a incluso
seja real.
Com relao aos intrpretes, sabemos que a sua presena na sala de
aula assunto complexo que necessita ser muito bem estru-turado
dentro da Universidade, mas consideramos que os intrpre-tes
necessitam de uma base de apoio bem estabelecida onde possam
colocar suas dvidas, seus problemas e onde se possam buscar solues
que faam com que as necessidades dos Surdos sejam am-plamente
contempladas. Alm disso, h a necessidade de uma ao integrada entre
os intrpretes e os professores dos diferentes cursos para que a
educao possa ocorrer de forma plena.
necessrio que se torne claro para todos os elementos envol-vidos
no processo de incluso de alunos Surdos na Universidade que, com
relao ao Surdo, estamos lidando com a linguagem em
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337A incluso do surdo na universidade...
suas diferentes formas de expresso, sejam elas a comunicao ou a
expresso escrita. Saber como lidar com o intrprete na sala de aula
condio necessria e imprescindvel para que uma proposta de incluso
como esta se d de forma integrada e possvel de ser realizada.
Compreender a forma particular que o aluno Surdo tem para se
expressar na linguagem escrita outra prioridade nesse trabalho. Alm
disso, deve-se discutir com o professor quais as formas mais
efetivas para que o aprendizado se d de forma real.
2. Objetivo
O objetivo desse trabalho foi verificar se a incluso do Surdo na
Universidade exigida pelo governo por meio do decreto nmero 5.626
(22.12.05), que regulamenta a lei sobre a lngua de sinais (Lei
Federal n10436, de 24/04/2002) e a Lei de Acessibilidade (n. 10.098
de 19.12.00) est sendo cumprida, realizando uma reflexo sobre o que
foi observado aps um ano de atuao numa Universidade com alunos
Surdos inclusos e propondo aes que possam ajudar para que essa
incluso ocorra de forma real.
3. Metodologia
Foram elaborados questionrios que foram respondidos por Surdos,
intrpretes e professores envolvidos com os alunos Surdos includos
numa Universidade em So Paulo. Posteriormente esses dados foram
avaliados, procurando-se compreender, por meio da anlise de suas
respostas, baseando-se na Anlise de Discurso de Bardin (1977), o
que ocorre na Universidade com relao incluso dos Surdos que a
freqentam. As respostas de todos os entrevistados foram transcritas
e analisadas, sendo que as expresses recorrentes que levavam
possibilidade de se compreender o que os diversos
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Maria Cecilia de Moura & Kathryn M. Pacheco Harrison338
segmentos desejavam expressar com relao incluso dos Surdos na
Universidade foram colocadas como unidades de anlise.
4. Resultados
4.1. Com relao aos professores
Os professores entrevistados pertenciam a cinco
cursos/Facul-dades: Artes do Corpo, Pedagogia, Matemtica,
Administrao e Direito, e foram em nmero de dezenove.
Num primeiro momento tnhamos como forma de obteno de dados o
desejo de agendarmos reunies com os professores. En-tretanto,
percebemos que era muito difcil conseguir-se agendar reunies com os
mesmos para a discusso dos aspectos relaciona-dos incluso dos
alunos Surdos. Isso parece se dar por falta de conscientizao dos
mesmos com relao ao seu papel na incluso desses indivduos, falta de
tempo para reunies e principalmente falta de conhecimento sobre um
servio que esteja verdadeiramente voltado para apoiar tanto os
surdos como os professores. Entretan-to, por meio de outras
estratgias, como por e-mail, foi possvel conseguir-se informaes que
nos levaram a analisar a situao do Surdo e do professor na
Universidade. Dessa forma conseguimos dados dos 19 professores de
diferentes cursos.
O questionrio aplicado constou das seguintes questes:
O aluno Surdo que voc tem na sala de aula est integrado com os
outros alunos?
Como foi feita a incluso desses alunos na sala de aula? Vo-cs
receberam algum tipo de orientao?
Quais as maiores dificuldades encontradas com relao ao aluno
Surdo includo?
Como est sendo o aproveitamento acadmico do aluno Sur-do
includo?
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339A incluso do surdo na universidade...
Qual o contato dos professores com os alunos Surdos fora do
horrio de aula?
Qual o contato dos professores com os intrpretes? O que voc
gostaria de sugerir com relao aos alunos Sur-
dos includos?
A partir das respostas dos professores e para melhor anlise dos
dados, reunimos os mesmos sob a forma de expresses-chave que sero
apresentadas a seguir.
5. Integrao e Orientao
Com relao integrao vrias colocaes foram feitas: o alu-no
participa da mesma forma dos colegas desde que a disciplina
ministrada no utilize como ferramenta o debate em sala de aula. A
integrao vista em alguns casos como algo presente na relao de
amizade com os colegas, mas no existindo participao na aula, o que
corrobora o que os intrpretes colocam em suas respostas. Para um
dos professores, o lugar ocupado pelo aluno Surdo em sala de aula,
na frente e em contato direto com o intrprete, poderia restringir o
contato do aluno com o resto da classe. Consideramos que se a
incluso for bem feita e os alunos ouvintes conscientizados do que
ter um colega Surdo em sala de aula, isso no impediria a integrao
do aluno Surdo com o resto da turma.
No caso de alunos Surdos na mesma sala o que acontece a integrao
maior entre eles do que com os alunos ouvintes o que perfeitamente
natural se pensarmos no compartilhamento de uma mesma lngua e a
falta de orientao e sensibilizao com os cole-gas ouvintes.
H um relato de nenhuma integrao do aluno Surdo com seus colegas,
seja dentro ou fora de aula (pelo menos que o professor tenha
observado).
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Maria Cecilia de Moura & Kathryn M. Pacheco Harrison340
Nenhum professor relata ter sido orientado com relao a como agir
com o aluno Surdo e todos relatam contar com o intrprete para lidar
com o aluno Surdo, apesar de no ter nenhum contato formal ou fora
da aula com o mesmo. Os professores mostram preocupao com relao a
esse aspecto e desejo de ter maiores in-formaes. O aluno Surdo foi
visto uma vez como exigente demais consigo mesmo e com os outros, o
que para um dos professores exprime a sua maior dificuldade.
Alguns professores chegam a relatar o estranhamento que tive-ram
quando entraram na sala no primeiro dia de aulas e encontra-ram um
aluno que se sentava de costas para o professor. S aps pedir para
esse aluno se virar que descobriram que ele era um intrprete e que
havia um aluno Surdo em sala.
Os professores no sabem se tm que falar mais lentamente por
conta do intrprete e relatam dificuldade no incio, pois tentam
falar mais devagar, mas depois de um tempo esquecem e falam mais
rpido. Eles colocam que alguns dos intrpretes pedem para falarem
normalmente. Em nenhum momento foi pedido aos pro-fessores para
esperarem os alunos anotarem o que estava escrito na lousa antes de
continuarem a sua explanao. Isso ajudaria os alunos Surdos que no
podem se dedicar a duas atividades visuais ao mesmo tempo (olhar o
intrprete e copiar da lousa).
5.1 Incluso
Para todos os professores, o fato do aluno Surdo estar em sala
de aula foi uma surpresa, no houve nenhuma preparao ou
conscien-tizao com relao presena desse aluno. O intrprete
considera-do parte importante do processo de incluso. Ele tido at
como um profissional muito paciente, dadas as condies de
trabalho.
Alguns professores elogiam a atuao do intrprete que, em alguns
casos, buscam realmente levar ao aluno Surdo todas as in-formaes do
que acontece em sala de aula.
Existe no discurso de todos os professores uma preocupao muito
grande com a incluso real desses alunos e a reclamao
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341A incluso do surdo na universidade...
constante de no saberem o que fazer e como agir. Existe uma
demanda que deve ser tomada como algo a ser resolvido pela
Uni-versidade.
5.2 Dificuldades
Como explicitado anteriormente, os professores relatam que a
dificuldade maior se relaciona a no saber como agir em relao ao
aluno Surdo. Eles no sabem se tratar o aluno Surdo da mesma forma
que os outros no uma forma de discriminao, pois no lidam com as
dificuldades, at por no saberem como fazer. Para um dos
professores, o aluno Surdo parece no se esforar para compreender o
que se passa, parecendo no estar feliz em estar l. Para o professor
s vezes difcil compreender o que acontece com o aluno Surdo pela
falta de informaes. Para um dos profes-sores o tempo do aluno
diferente dos demais e esse professor em particular se preocupa em
sentar com o aluno para explicar melhor o contedo, mas isso s
possvel porque esse professor ministra aula terico-prtica, o que
facilita esse tipo de abordagem. Claro que a disponibilidade do
professor tambm ajuda muito.
Um professor relata que: No tenho como saber se o que est sendo
interpretado corresponde ao que est sendo passado clas-se,
principalmente porque o intrprete no tem conhecimento da matria (e
nem teria obrigao de ter). Isso aparece em outras palavras no
discurso de outros professores que no entendem como o intrprete
pode estar interpretando assuntos desconhecidos para ele.
Percebe-se aqui a necessidade de um contato maior entre intr-pretes
e professores, para que ambos possam trocar informaes e talvez,
pensar em estratgias conjuntas que poderiam favorecer o aprendizado
do aluno Surdo.
Desde que o aluno Surdo no conta com a presena do intrpre-te
fora de sala de aula alguns professores relatam problemas de
co-municao com os alunos Surdos fora de sala de aula para orientar
trabalhos e atividades. Talvez devssemos contar com o intrprete
para esses momentos tambm, apesar dos intrpretes perceberem
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Maria Cecilia de Moura & Kathryn M. Pacheco Harrison342
que os professores no procuram os alunos. A partir desses dados,
tentamos orientar os alunos no sentido deles procurarem os
profes-sores, pois consideramos que um movimento desse tipo por
parte dos alunos Surdos poderia comear a modificar o quadro geral
da incluso dos Surdos na Universidade.
Os professores se mostram desorientados quanto efetividade da
didtica utilizada em sala de aula para a aprendizagem do aluno
Surdo, bem como em relao aos critrios de avaliao.
O uso de filmes no legendados isola o aluno e o professor, a
princpio, no percebe a inadequao do material, por no ter sido
alertado quanto a esse fato. Isso leva, na palavra dos professores,
a uma situao de extremo desconforto e percepo de inadequao que
muito constrangedora para ele.
No discurso de um professor aconteceu exatamente isso:
Tivemos uma aula onde assistimos a um vdeo sobre o tema que
estava sendo discutido. Como o udio era em portu-gus, no havia
legenda, o que dificultou o trabalho da tradutora e a compreenso do
aluno. Foi um evento isolado, mas demonstra o quanto alguns
recursos no so adequados para a incluso.
O prprio professor passa a perceber as situaes inadequadas, mas
isso poderia ser evitado com um trabalho de conscientizao.
5.3 Aproveitamento Acadmico
Com relao participao dos alunos fica clara a no participa-o dos
alunos Surdos na sala de aula, o que j foi relatado no dis-curso
dos professores. O aproveitamento acadmico dos alunos foi
considerado ruim pela maioria dos professores, ainda que alguns
(poucos) relatem aproveitamento dentro da mdia. O rendimento ruim
se deve, em parte, questo pouco ventilada relacionada escrita dos
alunos Surdos. A populao Surda, em grande parte,
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343A incluso do surdo na universidade...
tem uma escrita ruim e isso no se refere apenas populao
bra-sileira, mas aos Surdos do mundo inteiro. Muitas so as razes
apontadas para justificar esse fato, mas a realidade que a leitura
e a escrita dessa populao, muitas vezes, no seguem as regras do
portugus. Isso gera enormes controvrsias, sendo que parte da
liderana Surda pede que a sua forma de escrita, conhecida como
portugus Surdo seja reconhecida e aceita. Por conta disso, soa
politicamente incorreto no aceitar a forma que eles tm de se
expressar por escrito em portugus. O que acontece de forma pr-tica
que os professores no sabem o que fazer com esse portugus que no
segue as regras estabelecidas. Essa uma das razes dos professores
considerarem que o rendimento acadmico dos alunos ruim. A pergunta
que se deve fazer : o portugus ruim que torna seu rendimento
acadmico fraco ou o aluno Surdo realmente no est conseguindo se
sair bem na Universidade? Se ele fosse avaliado por meio da lngua
de sinais ele se sairia melhor? Esse tipo de avaliao pode ser
aceito pela Universidade? Retornare-mos a essa questo
posteriormente.
5.4 Contato do Professor com o Aluno
A maioria dos professores relata no haver nenhum contato dos
professores com os alunos fora do horrio de aula. Parece que o
aluno no se sente confortvel em procurar o professor e muitas vezes
ele no conta com a ajuda do intrprete nesse horrio para intermediar
a conversa que poderia esclarecer dvidas ou ampliar o conhecimento
do aluno. Alguns professores relatam atender ao aluno Surdo sempre
que solicitado.
5.5 Contato do Professor com o Intrprete
Os professores relatam no haver contato algum com os
intr-pretes. Eles dizem nem ao mesmo saber qual a funo do
intrpre-te, que s percebida como uma traduo quando se iniciam as
aulas. Os professore no sabem dizer se o intrprete ajuda ou no
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Maria Cecilia de Moura & Kathryn M. Pacheco Harrison344
o aluno Surdo com relao s dvidas. Um dos professores relata ter
um timo contato com o intrprete dizendo at que o intrprete parece
ter mais interesse do que o aluno, o que mostra que muitas vezes o
intrprete que tenta resolver os problemas vividos pelos alunos
Surdos. Para outro professor, o contato com o intrprete grande, mas
logo aps a aula e de forma rpida. Esses encontros tiveram como
objetivo esclarecer atividades a serem desenvolvidas extra-classe.
Seria importante se houvesse um tempo maior para que esse tipo de
orientao pudesse ser mais bem aproveitada.
Um dos professores, porque assim o quis, procurou o intrprete
logo aps a aula quando discutia situaes extra-sala. Esse profes-sor
chegou a aprender alguns Sinais de Libras. Isso demonstra que o
interesse do professor e do intrprete pode modificar as relaes e
enriquecer o prprio professor.
5.6 Sugestes
Os professores sugerem que algum tipo de orientao deveria ser
dada com relao a como lidar com o aluno Surdo. Alguns sugerem a
elaborao de algum material escrito que favorecesse a compreenso e a
tomada de atitudes com relao ao aluno Surdo includo. H tambm
demanda de explicaes mais aprofundadas sobre o papel do intrprete,
a relao dele com o aluno e com os outros alunos.
Os professores mostram descontentamento com o rendimento e o
background acadmico dos alunos. Para alguns professores, tratar o
Surdo de forma diferenciada, pela singularidade pode at mesmo
atrapalhar o processo educacional dos alunos. Percebe-se em alguns
professores que eles no tm certeza de que o aluno sabe a razo de
estarem no curso escolhido. Isso parece refletir as dificuldades
que os alunos esto experimentando na Universidade.
Para alguns professores seria importante a organizao de uma
reunio junto aos intrpretes no comeo do semestre e que as
orien-taes abordassem questes especficas sobre as aulas
ministradas. Essa ltima demanda parece estar presente em decorrncia
da difi-
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345A incluso do surdo na universidade...
culdade de compreenso dos alunos quanto ao contedo ministrado.Um
dos professores faz uma sugesto que nos parece bastante
importante:
No sei se h disponibilidade de tempo dos intrpretes ou do aluno,
mas um perodo maior de contato entre ambos, fora da sala de aula,
poderia levar o aluno a ter maior aproxi-mao com seus colegas a
partir da sua introduo junto ao grupo por intermdio do
intrprete.
Sabemos das dificuldades de tempo e de tipo de contrato do
intrprete, mas se desejamos uma incluso real do Surdo, aspectos
como esse deveriam ser considerados.
Um dos professore pede suporte sobre tcnicas educacionais
especficas para os alunos e nos conta que seria importante ter um
feedback do aluno quanto a didtica usada, mas para tanto o
pro-fessor precisaria da ajuda do intrprete.
Alguns professores se mostraram interessados em aprender
Li-bras, o que seria muito proveitoso para os alunos Surdos
includos. Mesmo que o aprendizado de Libras no possa ser
obrigatrio, se-ria importante que a Universidade pudesse incentivar
os professo-res a faz-lo, desde que a DERDIC2 organiza o processo
de ensino de Lngua de Sinais. Talvez a formao de grupos de
professores na prpria Universidade em dias de reunio das Faculdades
pudes-se facilitar a formao de grupos.
6. Com relao aos intrpretes
Da mesma forma como relatado anteriormente, desejvamos, num
primeiro momento, realizar entrevistas com os intrpretes. Isso
tambm se mostrou invivel, razo pela qual, da mesma forma descrita
com os professores elaboramos um questionrio que foi respondido por
e-mail.
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Maria Cecilia de Moura & Kathryn M. Pacheco Harrison346
O questionrio dirigido aos intrpretes realizava as seguintes
indagaes:
O aluno Surdo que voc tem na sala de aula est integrado com os
outros alunos?
Como foi feita a incluso desses alunos na sala de aula? Vo-cs
receberam algum tipo de orientao?
Quais as maiores dificuldades encontradas com relao ao aluno
Surdo includo?
Como est sendo o aproveitamento acadmico do aluno Sur-do
includo?
Qual o contato dos professores com os alunos Surdos fora do
horrio de aula?
Qual o contato dos professores com os intrpretes? O que voc
gostaria de sugerir com relao aos alunos Sur-
dos includos?
Conseguimos contato com 3 intrpretes.As respostas dos intrpretes
mostram que, segundo a opinio
desses profissionais, os alunos Surdos no esto integrados, no
tendo havido nenhum tipo de orientao em relao incluso dos mesmos
dentro da sala de aula. Alm disso, os intrpretes rela-tam que as
atividades desenvolvidas em sala de aula no foram adaptadas para os
Surdos, como por exemplo: apresentao de filmes sem legendas,
atividades de msica, dana e relaxamen-to que dependiam inteiramente
da audio. Os intrpretes relatam que no existe agendamento de
horrios extras com os professores para discusso das dificuldades
encontradas. As sugestes dos in-trpretes revelam a importncia de
sensibilizao dos professores conscientizando-os das peculiaridades
dos alunos Surdos e das ne-cessidades especficas desse tipo de
populao. Para os intrpretes, necessrio que os professores tenham
conscincia da necessidade de usar filmes legendados e de que os
materiais usados em sala de aula sejam adaptados. Os exemplos dados
vo desde o fato de que
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347A incluso do surdo na universidade...
o aluno Surdo no tem como anotar da lousa, pois deve olhar o
in-trprete e o professor no d tempo para o aluno copiar, falando ao
mesmo tempo at contedos que esto verdadeiramente fugindo da
compreenso do aluno e que pode ser percebido pela sua expresso
facial e que deveriam ser retomados pelo professor.
Os intrpretes relatam que so raras as ocasies em que foram
procurados para interpretarem fora do horrio de aula ou logo aps a
aula em que o professor poderia desejar esclarecer algo para o
aluno Surdo ou que o aluno Surdo poderia desejar fazer uma
per-gunta sobre algo que no havia entendido.
Um dos intrpretes nos relata uma situao em que o aluno Surdo
obviamente no compreendeu quando o professor fala de Estado laico.
O intrprete procura o aluno no intervalo da aula e pergunta se ele
havia entendido o que o professor havia dito. O aluno relata que no
e pergunta ao intrprete o que seria Estado laico. O intrprete,
consciente de seu papel, pede para o aluno perguntar ao professor.
O aluno diz que no tem coragem. Na segunda parte da aula o aluno
Surdo no pergunta, mas um aluno ouvinte o faz, pois tambm no sabia
o que era Estado laico. O professor explica e o aluno surdo mostra
que compreendeu o que o professor elucidou. Frente a essa situao, o
intrprete procura o aluno Surdo e mostra para eles como as
perguntas podem e devem ser feitas e que no s o aluno Surdo que no
entende alguns contedos, palavras ou expresses. O aluno Surdo sorri
envergo-nhado, mas o intrprete percebe que em outras situaes o
aluno passa a perguntar para o professor, mesmo que isso no venha a
acontecer sempre.
Esse mesmo intrprete nos questiona sobre um assunto muito
importante: papel do intrprete fazer esse tipo de interveno com o
aluno Surdo includo na Universidade? De quem esse pa-pel? O
professor no deveria estar atento s dificuldades demons-tradas
pelos alunos Surdos e incentivar os alunos a perguntarem?
Consideramos que isso deveria ocorrer, mas que s pode acontecer se
houver um trabalho integrado com esses professores aonde eles
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Maria Cecilia de Moura & Kathryn M. Pacheco Harrison348
mesmos poderiam esclarecer as suas dvidas e as suas
possibilida-des de atuao na sala de aula com o aluno Surdo.
Pelo tipo de discurso feito pelos intrpretes e pelas
dificuldades levantadas junto aos professores e alunos Surdos, fica
a questo: qual o papel do intrprete? Ele no poderia ser um
facilitador das relaes entre os prprios alunos?
Fica claro, no discurso dos intrpretes que os papis devem no
apenas ser passados como regras a serem seguidas, mas discutidos
amplamente para que tanto alunos como professores e intrpretes
possam saber o que fazer e como fazer.
7. Com relao aos alunos surdos
Os alunos Surdos tiveram maior disponibilidade para agendar
reunies, mas, para mantermos a mesma sistemtica adotada com
professores e alunos, pedimos a resposta a um questionrio, que foi
realizada presencialmente ou enviada por e-mail.
O nmero de Surdos que freqentaram efetivamente a Univer-sidade
nesse perodo foi de 8 (oito) alunos, sendo que conseguimos ter
contato com 6 (seis) deles.
7.1 Questionrio para os alunos Surdos
Como foi a sua entrada na Universidade? O que poderia ter sido
feito e no foi feito? Voc acha que o intrprete ajuda no seu
dia-a-dia escolar? Como o intrprete poderia ajudar mais? Voc
entende o que o professor explica? Quando voc tem dvidas voc tem a
possibilidade de per-
guntar e ter a sua dvida solucionada? Quais as suas sugestes
para uma melhor incluso do Surdo
na Universidade? O que voc gostaria de falar para seu intrprete?
O que voc gostaria de falar para seus professores?
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349A incluso do surdo na universidade...
7.2 Entrada na universidade
Os alunos Surdos relatam que no h uma preparao para sua entrada
na Universidade. Quando chegam na sala de aula o intr-prete que
lhes explica como ir funcionar o esquema de intrprete em sala de
aula. Muitos dos Surdos j conhecem o esquema, mas alguns nunca
puderam contar com o intrprete em sala de aula e essa uma situao
muito nova. Eles percebem que os professores se sentem no
confortveis com a presena do intrprete, assim como os demais
alunos, que aparentam no entender o que est acontecendo. Eles
mesmos, no incio, no sabem se podem ou no interromper o professor e
acabam ficando com dvidas, muitas vezes por vergonha.
Os alunos percebem que os professores no tm informaes sobre como
o Surdo se relaciona com o mundo (de forma visual) e que o
intrprete ajudou nessa compreenso.
7.3 Sugestes
As sugestes dadas so as mesmas dadas no primeiro bloco de
respostas e que se encontram anteriormente neste trabalho.
Alguns alunos consideram importante um contato maior dos
professores com os intrpretes para que esses ltimos possam sa-ber
mais a respeito do assunto tratado em sala de aula e para que
possam estudar os Sinais correspondentes a termos especficos.
7.4 Intrprete
Para todos os alunos Surdos o intrprete figura essencial no seu
dia a dia acadmico. Eles no podem nem ao menos imaginar como fariam
sem o intrprete na sala de aula. Para alguns, seria importante que
o intrprete conhecesse melhor o assunto a ser interpretado para que
pudesse fazer a interpretao de forma mais fluda.
H alguns relatos (ainda que no de todos os Surdos) de que s
vezes eles tm a sensao de que o intrprete resume o que o pro-
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Maria Cecilia de Moura & Kathryn M. Pacheco Harrison350
fessor falou. Eles percebem isso porque o professor faz um longo
discurso e o intrprete faz poucos Sinais. Alm disso, muitas vezes o
professor escreve na lousa algo que no foi dito pelo intrprete e
que parece ser um conceito importante.
Um problema bastante relatado diz respeito mudana de intr-pretes
no decorrer do Curso. Eles gostariam, na medida do poss-vel, que os
intrpretes fossem mantidos, porque se habituam a eles que passam a
conhecer seu jeito e a melhor forma deles compre-enderem. Sabemos
que isso pode ser impossvel, muitas vezes em razo dos intrpretes
pararem de trabalhar na universidade, mas consideramos esse pedido
bastante razovel se for exeqvel.
7.5 O professor
Para a maioria dos Surdos os professores se esforam muito para
passar informaes para os alunos Surdos, mesmo no saben-do Libras.
Mas, os alunos percebem total desconhecimento por parte dos
professores de como o Surdo aprende, das dificuldades que eles
possam ter com relao ao portugus, da necessidade do aluno Surdo ter
acesso a material pedaggico anterior aula.
A questo dos filmes no legendados tambm foi levantada, o que
trouxe angstia e desconforto aos alunos.
Para os alunos Surdos, o professor deveria respeitar as
dificul-dades de escrita do Surdo. Esse um assunto muito polmico
que j levantamos acima e a que retornaremos ao final desse
artigo.
7.6 Orientaes
Buscamos, no decorrer da pesquisa, orientar os alunos no
sen-tido de que buscassem junto aos professores respostas para suas
perguntas e dvidas, assim como requisitassem tudo que consi-deravam
importante para realizarem suas atividades acadmicas. Sentimos que
para alguns alunos isso possvel, mas muitos se sentem incomodados
em ter que tomar essa atitude. Enfatizamos o papel do intrprete
como elemento de ligao importante entre
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351A incluso do surdo na universidade...
eles e o professor. Parece-nos que a relao com o intrprete em
geral muito boa e que os intrpretes esto fazendo o possvel para
solucionar os problemas enfrentados pelos Surdos.
Colocamo-nos disposio de professores e intrpretes para
solu-cionar problemas e discutir dvidas, mas parece que essa no uma
funo que eles pudessem atribuir a ns, desde que a DERDIC que , para
eles, o departamento responsvel por esse assunto na Uni-versidade,
mesmo que no o realize. Parece-nos que, desde que esse tipo de
orientao e acolhimento nunca foi feito na Universidade. Apesar de
termos alunos surdos includos h bastante tempo, no se criou a
tradio de se contar com esse tipo de servio. Nada impede que ele
possa se iniciar agora, desde que quem for realizar esse tipo de
atividade seja investido de autoridade e autorizao para faz-lo.
8. Algumas consideraes
A unidade acadmica que se mostrou mais mobilizada para
compreender e fornecer informaes sobre os alunos Surdos in-cludos
foi a de Cincias Contbeis em que os professores se mos-traram
preocupados em entender assuntos relacionados ao aluno. Tanto os
alunos, como os professores se mostraram mais dispon-veis para
prestarem informaes e se disporem a uma interlocuo com a
pesquisadora. Os intrpretes no eram dessa unidade. Artes do Corpo
tambm se mostrou bastante mobilizada. interessante observar que os
alunos e professores desses dois cursos se mostra-ram muito
envolvidos com esse projeto.
Parece-nos importante salientar que a verdadeira incluso s pode
se dar se todos estiverem envolvidos no processo e os dados, ainda
que de um pequeno nmero de sujeitos pesquisados, demons-tra que
quando um dos lados se envolve e se interessa (no caso, os
professores) os outros envolvidos (alunos) tambm se sentem mais
motivados a procurar ajuda e trabalhar para chegar a solues aos
problemas enfrentados.
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Maria Cecilia de Moura & Kathryn M. Pacheco Harrison352
Os alunos Surdos requisitaram alguns itens especficos que
elen-co abaixo:
Necessidade de ter material escrito do contedo das aulas
dadas.
Necessidade de ter apoio visual nas aulas (Power Point
Pre-sentation, transparncias, etc.).
Possibilidade de ter acesso ao material anteriormente aula para
poderem seguir melhor o que lhes passado.
Maior flexibilidade do professor com relao correo das provas em
razo da escrita do portugus como segunda ln-gua.
Sentimento de que os professores no conhecem os Surdos e se
sentem incomodados com a sua presena.
Possibilidade de realizar as provas em LIBRAS com a ajuda do
intrprete.
Falta de conhecimento do intrprete do assunto a ser
inter-pretado na aula.
9. Concluso
De acordo com os dados coletados conclumos que se as
univer-sidades desejam fazer cumprir a lei de forma que uma real
incluso venha a acontecer necessrio que exista uma pessoa
encarregada da incluso dos Surdos na Universidade em todas as
instncias: Surdo Intrprete Professor. Esse profissional deve ter
vasto e profundo conhecimento da questo educacional do Surdo, das
questes relacionadas lngua e a Libras e escrita do portugus como
segunda lngua. Alm disso, recomendvel que esse profis-sional saiba
Libras para que possa ter um caminho fcil e fludo de comunicao com
os alunos Surdos.
Dada a necessidade de intercmbio de informaes que se mos-trou
crucial para a real incluso do Surdo, vemos como condio
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353A incluso do surdo na universidade...
imperativa que o Intrprete tenha uma carga horria mais estendida
para que possa atender os professores e os alunos em suas
ativida-des extra-classe.
importante salientar a necessidade de se realizar uma discus-so
ampla com relao s dificuldades de portugus apresentadas pelos
alunos Surdos (ainda que no todos, mas de qualquer forma, a
maioria). Esse um assunto de grande impacto atualmente que muitos
profissionais da rea da surdez evitam dar opinio frente questo
poltica que se coloca. De maneira bem simples o que se encontra
hoje em dia no discurso de muitos profissionais que o Surdo no tem
culpa de no ter aprendido a lngua escrita. A culpa do sistema
educacional que no soube realizar bem a sua funo. O resultado seria
a aceitao do portugus Surdo em que o que seria avaliado seria o
contedo e no a forma. Alm disso, se espe-ra que o aluno Surdo possa
fazer a avaliao em lngua de sinais. Essas no so questes simples e
no devem envolver apenas a opinio de Surdos e/ou de um
profissional. uma questo com-plexa que merece reflexo e discusso
ampla entra profissionais da rea. A partir dessa discusso, a
Universidade dever adotar uma sistemtica de trabalho em que essa
forma de expressar o portugus Surdo ser ou no aceita, assim como a
possibilidade de realizar as provas em Libras. Essa deciso ser ento
passada para todos os envolvidos, inclusive aos alunos antes de
prestar vestibular. Todos tm que estar cientes das exigncias:
Surdos, Intrpretes e Profes-sores para que mal entendidos sejam
evitados e para que o melhor possa ser feito para que uma real
incluso acontea. A falta de conhecimento do professor pode levar
quilo que no desejamos para nenhuma universidade: a incluso
perversa que finge que in-clui para apenas cumprir o papel de dar
um certificado que pouca serventia ter para um profissional
despreparado.
Como nos dizem Harrison e Nakasato (2006) num trabalho que
analisam as questes ligadas ao Surdo na universidade:
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Maria Cecilia de Moura & Kathryn M. Pacheco Harrison354
A universidade, como um dos centros privilegiados de sa-ber,
deveria estar atenta s questes da diversidade e ne-cessidade de se
tomar as diferentes prticas sociais como fundamentais para o
processo de construo de novas prti-cas educacionais. (p.72)
Nos Estados Unidos encontramos um respaldo bastante grande para
que os alunos Surdos possam ser capazes de ler e escrever na lngua
inglesa, sendo que o Departamento de Ingls da Gallaudet University
(NICKERSON, J., 2003) desenvolve um trabalho que incentiva os
alunos a desenvolverem proficincia em ingls de for-ma a poderem
compreender uma grande gama de gneros escritos de forma a poderem
ser independentes na sua vida acadmica.
Para eles, os alunos Surdos que desejam cursar a Universidade
devem ter domnio do ingls lido e escrito. Eles acreditam que a
leitura de material em ingls essencial para o acmulo de
conhe-cimentos e a formao de uma mente crtica. Da mesma forma, a
escrita do ingls formal importante para passar informaes e formar
opinies.
Depender do outro para refazer a escrita do ingls perpetuar a
dependncia a que o Surdo foi assujeitado no decorrer dos sculos. A
independncia passa pelo domnio da lngua majoritariamente usada no
pas. Eles esclarecem que isso no retira a importncia da lngua de
sinais e da cultura Surda, mas que leva os sujeitos a po-derem ser
atuantes de forma significativa no mundo dos ouvintes.
Na verdade, muitos Surdos chegam s Universidades nos Es-tados
Unidos com um domnio incompleto do ingls, da mesma forma que no
Brasil, razo pela qual eles tm a possibilidade, den-tro da
Universidade, de melhorarem suas habilidades lingsticas por meio de
cursos especiais de ingls como segunda lngua por um ano antes de
iniciarem os cursos nas Faculdades por eles es-colhidas. O objetivo
desses cursos melhorar a leitura e a escrita de textos acadmicos.
Ainda enquanto freqentam os cursos, esses alunos podem contar com
auxlio em textos em ingls para que
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355A incluso do surdo na universidade...
possam ter habilidades lingsticas adequadas para seguirem sua
carreira, acadmica ou no. Esse sistema tambm adotado na Colmbia,
tambm sob a formatao de um ano de curso de lngua escrita antes da
entrada formal nas faculdades.
Esse tipo de sistemtica poderia ser adotado pelas Universida-des
brasileiras. Reiteramos que, para uma incluso verdadeira, necessrio
o esforo de todos os envolvidos ainda que isso tenha um custo para
a Universidade.
Outro aspecto de grande importncia o aquele relacionado ao
intrprete. Encontramos, nessa pesquisa, que se considerava que a
simples presena de intrpretes na sala de aula seria suficiente para
que os problemas dos Surdos na universidade fossem resolvidos.
Demonstramos que isso no verdade. O que necessrio uma atuao muito
mais ampla. No apenas uma questo de lngua que est em pauta, mas
muitos outros fatores que passam, em pri-meiro lugar, pelo respeito
pela diferena.
Temos certeza de que muitas Universidades no Brasil atual-mente
realizam um trabalho consciente de incluso, mas muito h ainda a ser
feito e acreditamos que os dados aqui apresentados podero ser teis
para uma discusso profunda entre os envolvidos que poder melhoras
ainda mais o cenrio da incluso de Surdos na Universidade
brasileira.
Notas
1. FENEIS Fundada em 1987 - Federao Nacional de Educao e
Integrao dos Surdos - entidade filantrpica, sem fins lucrativos,
tem finalidade scio-cultu-ral, assistencial e educacional e tem por
objetivo a defesa e a luta dos direitos da Comunidade Surda
Brasileira. filiada Federao Mundial dos Surdos.
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2. Derdic: Diviso de Educao e Reabilitao dos Distrbios da
Comunicao. Unidade Suplementar da Faculdade de Cincias Humanas e da
Sade da PUC-SP, que possui Clnica para atendimento de alteraes de
audio, voz e linguagem, e Escola Especial para Surdos.
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