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Copyright O Luis Fernando cerri
14 edio 20
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autorizada desta publicao,no todo ou em parte, constitui violao do
copyright (Lei no 9.610/98).
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autor.
Este livro oi editado segundo as normas do Acordo Ortogrfico da
Lngua Portuguesa, aProva-do pelo Decreto Legisativo ns 54, de 8 de
abril de 1995, e promugado Pelo Decreto nq 6.581,de 29 de setembro
de 2008.
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FrancoPREPARAO DE ORIGINAIS: Sandfa FTanKREVISo: Fatima Caroni,
Marco Antnio Corra e Adriana AvesDIAGRAMAO, PROJETO GRFlCO E CAPA:
dUdCSigN
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Simonsen/FGV
Cerri, Luis FernandoEnsino de histria e conscincia histrica /
Lus Fernando Cerri. Rio de
Janeiro : Editora FGV 201 II 18 p. (Coleo FGV de bolso. Serie
Histria)Inclui bibliograia.ISBN: 978-85-225-0882-2l. Histria Estudo
e ensino. 2. Didtica. l.
lio Vagas. II. Ttulo. IL Serie.
Editora FGVRua Jornaista orlando Dantas, l7
222t1-olo I Rio de Janeiro, RJ ] BrasilTes.: OSOO-021 7177 1
2r-3799-4427
Fax: [email protected] I pedidoseditora@)fgvbr
www.fgv br/editora
lntroduo
Captulo 1O que a conscincia histricat onscincia histrica,
fenmeno humano( ,pturando a conscincia histricaI )idtica da
histria, uma disciplina de investigao do uso.,ocal da histria
Captulo 2Conscientizao histrica?l't'nsar historicamente
conscincia histrica histrica... e mltipla
captulo 3Consequncias para a prtica do profissional de histriaI
nsinar histria para qu, afinal?( onscincia histrica e o problema
dos contedos
Sumrio
47
5759B3
192741
Historiografra. I. undao Cetu-
CDD - 907
105108124
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do romantismo, do racionalismo, da perspectiva do
progress(,(ainda que em ltima instncia), imponha a ns,
profesores,uma concepo de tempo, de identidade e de humanidadcque
no se encaixa nas vises das novas geraes, marcadaspor perspectivas
de futuro (e, portanto, de tempo, de iden-tidade e de humanidade)
distintas. pode ser que venha da adificuldade de diaogar com a
vivncia dos indivduosjovensem convivncia com suas comunidades
concretas.
O conceito de conscincia histrica ligado, ainda segundoRsen,
mudana de paradigma da didtica da histria nosanos I960, de acordo
com a qual o foco da disciplina passa d
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que viria a ser o progresso. Marx tornou_se um clssico,
nosentido de um autor cujas contribuies guardam o poten_c,ia de
utrapassar sua prpria poca, aind que no ns sejadado ignorar a sua
historiiidad. Imaginar, descrever, estu_dar a sociedade que viria a
ser um excicio constante de es_quadrinhar o futuro
- fazem parte das caractersticas de sua
obra, mas nem por isso ee p.idl, de vista o peso do passado,dos
condicionamentos e deierminaes sobre a ao histricacriativa. Por
isso que afirma, em uma frase to citada de Odezoito brumrio de Luis
Bonaparte, que
os homens fazem a sua prpria histria, mas no a azem comoquerem;
no a fazem sob circunstncias de sua escolha e simsob aquelas com
que se defrontam diretamente, ligadas e trans_mitidas pelo passado.
A tradio de todas as geraes mortasoprime como um pesadeo o crebro
dos vivos.
(Marx, 196:99)E, no momento mesmo de criar algo totamente novo,
socor_
remo-nos das imagens e falas do passado.Nesta formulao de Marx
esto contidos, de forma did_
tica, alguns pressupostos que ultrapassam a obra marxiana ea
tradio marxista, e inscrevem_se entre as bases da cinciahistrica em
construo no sculo XIX, seja inaugurando,corroborando, seja apenas
participando da elimito des_se campo do saber. Temos a a histria
como obra humana,entendida aicamente, em vez da histria como
cumprimen_to de desgnios sobrenaturais de uma ou mais
divindades.Mesmo entendida como realizao humana, a histria apa_rece
a como movimento cuja sntese escapa ao controle dosseus agentes,
mesmo que coetivamente organizados, mesmoos dotados de enorme poder
sobre os outrs homens. Mas o
Ensino de histria e conscincia histrica
pressuposto que nos interessa mais diretamente nesse mo-rncnto o
de que, no agir sobre o mundo e ser sujeito dalristria, o passado e
suas projees de futuro so tudo o quet'st disposio do homem, como
matria-prima para a suat riao. A criao e mesmo a reproduo so
possveis comorccriao do que j existiu: o totalmente novo, o que se
livratle todas as amarras do tempo permanece como
especulaoinatingvel.
Talvez essa perspectiva no tenha sido
suficientementecclnsiderada nas sociedades contemporneas que
tentaramser outra coisa que no capitalistas, e que foram
classificadaslrelo polissmico nome de "socialismo real" (o
meio-irmo do"capitalismo real", que necessita ciclicamente da
intervenodo Estado). Mas certamente foi essa a perspectiva que
impul-sionou uma grande parte dos estudos de histria e
possibili-tou um grande desenvolvimento da disciplina.
Quanto haver, ento, de passado em nosso presente e emrrosso
futuro? Em que medida o futuro j est comprometi-do pelas condies
dadas pelo passado e peas soues quedemos no presente? O passado (ou
a nossa imagem de passa-do) estvel ou modifi.ca-se conforme a
ut1\zao que faze-mos dele? Que fundo de verdade haver na anedota de
que opassado mais imprevisvel do que o futuro? Qual a relaocntre o
tempo e a imagem que temos de ns mesmos? Quan-do se mexe no
passado, mexe-se tambm na identidade cole-tiva? Essas questes
sempre se colocam para quem atua naproduo e divugao do conhecimento
histrico, mas noscampos da teoria da histria e de sua didtica que
se coocamcom maior premncia, pois as respostas pem na berinda
oprprio significado de produzir histria e ensin-la: por que,para
quem, desde quando, respondendo a que necessidades.
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FGV de Bolso Ensino de histria e conscincia histrica
( ()num a todos os que se utiizam da expresso. Pelo contr-rio, s
vezes ela relacionada a reaidades muito diferentes( )u mesmo
excludentes entre si. em busca dessas diferenas,r'specificidades,
mas tambm semelhanas, que nos propomos.r criar um dilogo com
diferentes autores que tomam em con-t.r o problema ou utilizam-se
da expresso ou da noo.
Na conferncia 'A noo de sentido da histria", de 1957,l(aymond
Aron aponta que toda sociedade seria portadora derrrna conscincia
histrica em sentido amplo, mas apenas asociedade europeia teria uma
conscincia propriamente his-Iririca, apesar de seus pro'olemas:
Esta conscincia de Europa .- com seu aspecto tripo, iberda-de na
histria, reconstruo cientfica do passado, significaoessencialmente
humana do devir
- ainda que esteja em vias de
se converter em conscincia histrica da humanidade no s-culo XX,
se v simultaneamente afetada por contradies: nonterior de cada um
de seus elementos e entre esses eementos.
(Aron, I984:105)
Aron toma a conscincia histrica predominantementecomo uma espcie
de conscincia poltica, traando um pai-ne de como diferentes
historiadores, cientistas sociais, fi-sofos e tendncias das cincias
humanas buscam a lgica daevoluo histrica. compondo um ensaio sobre
como diferen-tes sentidos (no sentido "vetorlial" do termo) so
atribudosao processo histrico. Pelo contrrio, estamos buscando
pen-sar, juntamente com os autores com os quais dialogaremos,uma
perspectiva de compreenso do fenmeno da conscin-cia histrica,
entendida como uma das expresses principaisda existncia humana. que
no necessariamente mediadapor uma preparao intelectual especfica,
por uma filosofia
conta o qu^e ou quem, ao lado de quem o fazemos? eual osentido,
enfim. do no desprezve investimento ,o.iu qrr"existe hoje em torno
da hislrla? para que a mobiizao de11 ::-pt"*o empresarial de
distribuio do conhecimentonrstorlco, que vai de editoras de livros
acadmicos a livros dedivulgao para o grarde pbico, am de contedos
digitaisnas mais diversas mdias? Sobretudo, como explic".
qrJ.rr.movimento social do conhecimento histrico no faia contada
estrutura tradicional
.que, imaginamos, vai da produode_ textos especializados iua
divu"lgao no sistema escolar?Inegavemente, a histria -
ou a rIaao com o passado, ou,ainda, com o tempo -
tem um papel muito imporiante ,r pu_norama.das coisas que chamam
,rorru ateno e mobilizamnosso dinheiro na sociedade moderna. Embora
agum tipo depreocupao com a representao da coletivid"d ,ro
t;-p;seja constante em todas ,, ,o.i.dud"s, em nossos tempos
aproduo, a distribuio e o consumo de histria se eevarama nveis
industriais.
Nas ltimas dcadas possvel perceber um esforo assis_temtico,
descontnuo e geograficmente descentralizado de:"{.":t".r e.ssas
questes porLeio do instrumento conceituaintituado "conscincia
histrica,,. O objetivo deste captulon9 _
- nem poderia ser
- esgotar o tema ou .ornecer umpainel representativo ou
exaustivo, mas recompor e procu_rar alinhavar a contribuio de
diferentes autores, originriosde diferentes ugares, tanto fisicos
quanto epistemolgicos,
visando uma maior sistematizao sobre a ,,conscincia
his_tr},c1".e suas impticaes sobr o fazer atual da histria
nosmltipos espaos que ela ocupa.o primeiro possvel .rrgurro
desfazer que o conceito deconscincia histrica que estamos tentando
.o_po. aqui seja
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ou teoria da histria complexamente elaborada e sistematica_mente
aprendida.
Um primeiro aspecto a considerar se a conscincia his_trica um
fenmeno inerente existncia humana ou se uma caracterstica especfica
de uma parcela da humanidade,uma meta ou estado a ser alcanado. Ou,
em outros termos,se estamos tratando de um componente da prpria
conscin_cia, no sentido geral de autoconscincia, de saber_se
estandono mundo, e nesse caso ago inerente ao existir pensando
esabendo, ou se estamos tratando de um nvel especfico desaber que
no imediatamente caracterstico de toa a huma_nidade, e, portanto,
uma forma de conhecer qual precisochegar, no sentido de tomada de
conscincia. Nsse sgundocaso haveria, em contraposio conscincia
histrica, umainconscincia ou uma alienao histrica. Outra forma
depensar esse tema e perguntar se os homens so dotados de al_guma
forma de conscincia histrica desde que se organizamem grupos, ou se
apenas recentemente a acanaram.
A segunda opinio considerada pelo filsofo Hans-GeorgGadamer no
desenvolvimento de sua conferncia ,,problemaiepistemolgicos das
cincias humanas". para ele,
o aparecimento de uma tomada de conscincia histrica cons_titui
provavemente a mais importante revoluo pela qualpassamos desde o
incio da poca modernu. [...] A conscinciahistrica que caracteriza o
homem contemporneo um privi_gio, tavez mesmo um fardo que jamais se
imps a nenhumagerao anterior. [...] Entendemos por conscincia
histrica oprivilgio do homem moderno de tcr pena conscincia da
his_toricidade de todo o presente e da reatividade de toda
opinio.
(Gadamer, 1998:17)
Ensino de histria e conscincia histrica
Ocorre que o personagem que Gadamer chama ora de ho-rnem
contemporneo, ora de homem moderno, um homem.rdjetivado, e no se
refere ao homem em geral. A circunscrioque o adjetivo estabelece
exclui todos aqueles que no tenhampassado pelo processo histrico
chamado de modernizao, ouque tenham permanecido refratrios a ele,
mesmo dentro desociedades modernas, que so, por definio,
heterogneas.Portanto, o que o fisofo chama de conscincia histrica
algorestrito, e o atributo que ele confere a ela mais adiante
("umaposio reflexiva com relao a tudo o que transmitido
pelatradio") assevera sua condio de estgio atingido por al-guns
seres ou subgrupos humanos (Gadamer, 1998:8). Assim,no desprezveis
camadas sociais dos pases centrais e imensasmassas nos pases
perifricos vegetariam num estado de mise-rvel inconscincia da
histria, sendo ignorantes da historici-dade do presente e
submetidas ao dogma das opinies culturale tradicionalmente
consideradas corretas.
Desse modo, essa parte da humanidade est alijada das"subverses
espirituais da nossa poca" e amarrada tradi-o, sem a possibilidade
de uma postura reflexiva sobre o queea transmite. Essa perspectiva
permite, inclusive, pensarum papel vanguardista para o conhecimento
histrico e seuprocesso de distribuio pelos setores no acadmicos
dassociedades
- inclusive o ensino
-, numa obra de "conscienti-zao" histrica. inevitve que se
lembrem os conceitos de"cultura" e de "civilizao" , tambm
equacionados como ca-ractersticas restritas a uma parcela da
populao mundial, auma parte de suas organizaes polticas
- quej foram sufi-
cientemente questionadas pelas cincias sociais -
como arma-dilhas do pensamento que acabam por justificar uma
posturade superioridade de algumas sociedades sobre outras.
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Ti
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Por outro lado, para que no sobrecarreguemos um s as-pecto,
Gadamer tambm talha a noo de "senso histrico",ou seja, "a
disponibilidade e o talento do historiador paracompreender o
passado. talvez mesmo 'extico' , a partir doprprio contexto em que
ele emerge". De posse do sensohistrico possvel ao indivduo
considerar o passado semjulgo, tendo a nossa vida atual como
parmetro. Mas des-taque-se que, nesse ponto, o autor passa a tratar
da especia-lidade acadmica, e no mais do "homem moderno" ou
dassubverses espirituais de sua poca.
Em suma, assumindo o modelo de Gadamer, a permeabili-dade entre
o conhecimento especializado (ou acadmico, oucientfico, ou erudito)
e o conhecimento das massas sobre ahistria dada por um sistema de
sentido nico, no qual osaber qualitativamente superior flui das
instituies socia-mente destinadas produo do conhecimento
histrico(universidades, institutos etc.) para instituies de
divulga-o ou de ensino que atingem a populao no especiaistae
permitem-he alcanar
- pelo menos de forma razovel , o
nvel de saber e de estruturas de pensamento que detidopelos
especialistas, ou pelas classes sociais ou mesmo
naes"modernizadas". Trata-se do modelo educacional e
maispropriamente do modelo didtico
- cssico, em que o ato de
ensinar se resume a um sujeito " cheio" que preenche com
seuconhecimento um sujeito "vazio", o aprendiz que reproduzo saber
do mestre. No por acaso esse modelo se aproximatambm do que
Habermas chama de razo tcnica, cuja prin-cipal caracterstica a
relao impositiva entre o saber e ono saber.
Tambm Phillipe Aris fala em tomada de conscincia dahistria no
texto 'A histria marxista e a histria conserva-
Ensino de histria e conscincia histrica
dora (Aris, 1989). Essa tomada de conscincia histrica cntendida
no sentido de que o indivduo passa a aperceber-seda sua condio de
determinado pela histria, e no ape-nas de agente dela,
relativizando a ideia de liberdade indi-vidual e, ao mesmo tempo,
possibilitando o surgimento deuma "curiosidade da histria como de
um prolongamentode si mesmo, de uma parte de seu ser" (Aris,
1989:50). Naopinio do autor, o que desencadeia esse novo estgio
apercepo de que a histria das pequenas comunidades que"protegiam" o
indivduo, fornecendo-lhe o aconchego iden-titrio, deixa de
significar um referencial seguro. por contado processo de
modernizao, os indivduos so desterra-dos, movem-se de seus lugares
fsicos, sociais e culturais ori-ginais para uma nova situao, na
qual as referncias soescassas ou inexistentes. Por outros caminhos,
Aris chegaa um ponto parecido com o de Gadamer, que a ideia deque a
conscincia histrica um estgio ao qual se chegaprincipalmente por
conta de um processo de modernizaode todos os mbitos da vida
humana, mas principalmenteo mbito cultural, o mbito do pensamento,
atravs de umrompimento com a dimenso tradicional.
Conscincia histrica, fenmeno humano
Outra vertente pode ser encontrada nas teorias da histriade dois
pensadores razoavelmente distantes em termos de for-mao e espao de
exerccio da atividade intelectual: AgnesHeller e Jrn Rsen. Para
ambos a conscincia histrica no meta, mas uma das condies da
existncia do pensamento:no est restrita a um perodo da histria, a
regies do plane-ta, a classes sociais ou a indivduos mais ou menos
prepara-
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dos para a reflexo histrica ou social geral. para isso,
,,his_tria" no entendida como disciplina ou rea especializadado
conhecimento, mas como toda produo de conhecimentoque envova
indivduos e coletividades em funo do tem-po. Nesse sentido a
conscincia histrica pode ser entendidacomo uma caracterstica
constante dos grupos humanos, pormaiores que sejam as suas
diferenas culturais. expressivo ottuo do terceiro captulo do livro
de Heler (1993) que esta_mos utilizando neste texto: 'A conscincia
histrica cotidianacomo fundamento da historiografia e da filosofra
da histria,,.
Para esta avtoa, a conscincia histrica inerente ao estarno mundo
(desde a percepo da historicidade de si mesmo,que se enraiza na
ideia de que algum estava aqui e no estmais, e de que eu estou
aqui, mas no estarei mais um dia) e composta de diversos estgios,
que indicam a insero da cons-cincia em diferentes contextos da
trajetria da humanidade.
Mobilizar a prpria conscincia histrica no uma opo,mas uma
necessidade de atribuio de significado a um fluxosobre o qua no
tenho controle: a transformao, atravs dopresente, do que est por
vir no que j foi vivido, continua_mente. Embora seja teoricamente
imaginvel estar na corren-te tempora sem atribuir sentido a ela, no
possvel agir nomundo sem essa atribuio de sentido, j que deixar d
agirrevea igualmente uma interpretao. Na prtica tambm noh opo de
atribuir ou no significado ao tempo que passa-mos ou que passa por
ns.
Para Rsen, o homem tem que agir intencionalmente, e spode agir
no mundo se o interpretar e interpretar a si mesmode acordo com as
intenes de sua ao e de sua paixo. Agir(incuindo deixar-se estar e
ser objeto da ao de outrem)s ocorre com a existncia de objetivos e
intenes, para os
Ensino de histria e conscincia histrica
cluais e necessria a interpretao: h um "supervit de
in-tcncionaidade" com o qual o homem se coloca para alm doque ele e
o seu grupo so no presente imediato. Agir, enfim, um processo em
que continuamente o passado interpretado; luz do presente e na
expectativa do futuro, seja ele distanteou imediato. Assim, a
diferena entre tempo como inteno etempo como experincia compe uma
tenso dinmica que,por sua vez, movimenta o grupo.
Neste ponto, tanto Heller quanto Rsen advogam que opensar
historicamente um fenmeno, antes de qualquer coi-sa, cotidiano e
inerente condio humana. Com isso pode-seinferir que o pensamento
histrico vinculado a uma prticadisciplinar no mbito do conhecimento
acadmico no umaforma qualitativamente diferente de enfocar a
humanidadeno tempo, mas sim uma perspectiva mais complexa e
especia-lizada de uma atitude que, na origem, cotidiana e
insepara-velmente ligada ao fato de estar no mundo. A base do
pensa-mento histrico, portanto, antes de ser cultural ou opcional,
natural: nascimento, vida, morte, juventude, velhice soas balizas
que oferecem aos seres humanos a noo do tempoe de sua passagem.
Essa base compartilhada pelo reitor daUniversidade de Berlim e pela
criana aborgine na Austrlia.Segundo Rsen (2OOIa:7 8),
a conscincia histrica no e algo que os homens podem ter ouno
- ela algo universamente humano, dada necessariamente
junto com a intencionalidade da vida prtica dos homens.
Aconscincia histrica enraiza-se, pois, na historicidade intrn-seca
prpria vida humana prtica. Essa historicidade consis-te no fato de
que os homens, no dilogo com a natureza, comos demais homens e
consigo mesmos, acerca do que sejam elesprprios e seu mundo, tm
metas que vo alm do que o caso.
FGV de Bolso T
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O mundo histrico porque queremos ir am do que temose somos.
Durante a Revoluo Industria ir alm significavasuperar a escassez de
bens e capita, dominando a natureza.Na atualidade, pensando em
termos do Protocolo de Kyoto,ir alm evitar que o desenvolvimento
econmico ilimitado,tornado modo de vida de classes sociais e pases
inteiros, de-sequilibre o ambiente e inviabilize a vida humana na
Terra.Antes de ser algo ensinado ou pesquisado, a historicidade
aprpria condio da existncia humana, ago que nos cons-titui enquanto
espcie. O que varia so as formas de apreen-so dessa historicidade,
ou, nos termos de Rsen, as pers-pectivas de atribuio de sentido
experincia temporal. Nadefinio desse autor, a conscincia histrica
um fenmenodo mundo vital, imediatamente ligada com a prtica, e
podeser entendida como
[...] a suma das operaes mentais com as quais os homens
in-terpretam sua experincia da evoluo temporal de seu mundoe de si
mesmos, de forma tal que possam orientar, intenciona-mente, sua
vida prtica no tempo.
(Rsen, 2}0la57)Dessa forma, a operao mental constituinte da
conscin-
cia histrica o estabelecimento do sentido da experinciano tempo,
ou seja, o conjunto dos pontos de vista que estona base das decises
sobre os objetivos. Para am disso, aconscincia histrica precisar,
tambm, dar respostas aos fe-nmenos que no so intencionais, que no
so subjetivos,mas que so naturais e, portanto, sofridos, sendo a
morte oexemplo mais significativo.
A conscincia histrica pressupe o indivduo existindo emgrupo,
tomando-se em referncia aos demais, de modo que a
Ensino de histria e conscincia histrica
pcrcepo e a significao do tempo s podem ser coetivas.I lcller,
para quem a coletividade que possibiita o surgimen-to da ideia de
passagem do tempo e de finitude do indivduotli.rnte da continuidade
do grupo, traduz esse princpio com,rs seguintes palavras: 'A
historicidade de um nico homemirrrplica a historicidade de todo o
gnero humano. O plural ,rrrlerior ao singular [...]" (Heller,
1993:15).
I'lm comunidade, os homens precisam estabelecer a ligao(uc os
define como um grupo, cultivar esse fator de modo,r permitir uma
coeso suflciente para que os conflitos nolcsultem num
enfraquecimento do grupo e cooquem a suasobrevivncia em risco. Uma
verso, ou um significado cons-trudo sobre a existncia do grupo no
tempo, integrando asrlimenses do passado (de onde viemos), do
presente (o quesomos), e do futuro (para onde vamos) o elemento
principalrla ligao que se estabelece entre os indivduos. A essa
liga-o temos chamado identidade, e podemos defini-la como oconjunto
de ideias [ que a biologia, e mais especificamente,r gentica,
juntamente com a antropologia tm mostrado queno existe fundamento
para pensar uma identidade "sangu-nea" entre as pessoas que formam
um grupo, seja ele uma pe-quena comunidade ou uma nao) que tornam
possve umaclelimitao bsica para o pensamento humano ns e eles
-,
pertencente ou no pertencente ao grupo.Para Heller, a pergunta
identitria no muda, e o que deno-
ta o movimento da histria da identidade a variao da res-posta a
ela. Do mito, metafsico ou transcendente conscin-cia da
historicidade de todos os elementos da vida humana,ao
desencantamento na interpretao da histria, ou, enfim, ideia de
responsabilidade pelo planeta todo, as diferentesrespostas mostram
diversas situaes (Heler chama de est-
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FGV de Boso
gios) em que se encontram os fundamentos da identidadc clt,cada
grupo. primirivame"r. (. ;;;;.iro r.p.rtdamenrc) r resrabeecime"ro
o1]o:l,nd,d. J;;;;;rpo purru peras ima.
5i l;"'irltj,;:::, v1 -ore s q u e o s p "-"r ip " ": i;;' ; ;"n
ome), u._ .o_o ffi , $, ;:rr.: r.j:,#como o legirimador.^da
existnii, d" ;;. (e, na maior parlcdos casos, de suas relaes
hi".;.quiluriProduzir a identida.
.of.tiur,,.r." dela uma cons_cincia histrica especfica .
,irrtriruu
.o_ .lu um dacroessencja a qualquer grupo humano que pretenda
sua conti-nuidade. Decorr
duniversa,,,,b._;':J#'.',1il:;A;:iJ,r::*plid"r s condies do grupo
qrre tehamos em teta. As_sm, se para a comu"-lL"O. pii_itirr" , *,
p..p.ruao estavaf"Sdl principamenre na narrativa ao ,irito fundador
e namemria de seus bretambm r.r-, obr.illl:lti"t-ttida pela tradio
ora (mas... :l: ",, .,r ;,1 ; ; pl :,., ij:;:T; i,",T #r j :
:;tareta passa a ser exercida por.instltuiO"r-ro.iut_ente
orga_nizadas para esse fim. Ligadias a ,rr. . ._ entar
aidentida_de -
am de seus fins especifico, _ . qr" ,o estabeecidas as
,iill;': ria s, igreja s, oi urio,..,i, ;;*,,, u ni versi da
des,Mais compexos sr
cincia:,;;;;;;:::i,::,1""?','_,J::::nff ";rr:escrever,
interpretar upri"d;;;";";;r",::::3'#:l_o'i,u^..,r"
de gestos riruais, e assimpor diante, #J#"art::r."em particuar.
Mas outro efeito d., ;r;;;;;;s que rornam osgrupos de pertencimento
mais extensos . _r, compexos a
Ensino de histria e conscincia histrica
crise de sua homogeneidade: os Estados-nao, por
exemplo,geralmente surgem a partir da incorporao (consenrua oupela
fora) de grupos diferentes. Com isso, o trabalho de con-tnua formao
para uma identidade histrica geralmente seestabelece em torno da
educao para generalizat as formasdominantes de conscincia histrica
(sejam elas resutado deuma sntese harmnica entre os grupos, sejam
resultado deum projeto de dominao mais ou menos explcito ou
cons-cienie) dc tentativas de sobrevivncia de outras articulaesde
respostas s perguntas identitrias. Desse modo, a articu-lao
-
FGV de Bolso Ensino de histria e conscincia histrica
..,,, it'clade em outra condio que meramente o saber sobre
ol,.r\s.do: mais que isso, um elemento ativo e bastante din-ur( ()
na definio de papis e posies sociais, ordens, discur-.,,'.;,
justificativas e assim por diante. Acompanhando Johanlltrrt.inga,
autor de Homo ludens
- uma das mais importantes
,,1r1.15 n2 filosofia da histria em nosso sculo , Bann afrrma,
;rrt' histria o modo pelo qual a cultura lida com o seu pr-1,r io
passado. Assim, em vez de separar a narrativa histrica,lrslrrrcida
pararetifr.c-la e substitu-la pela narcativa corre-t,r, o papel do
historiador deve ser o de compreender que,r 1rrpria retido de uma
narrativa, chancelada pelo Estado,,rr pela cincia, tambm uma inveno
retorica, e inveno,lt' histrias aparte mais importante da
autocompreenso e,r rrtocriao humanas.
'fanto a contribuio de Hobsbawm na "Introduo" de.\ inveno das
tradies quanto os posicionamentos crticostlt' Bann trazem vrios
elementos para pensarmos o conceito,lc' conscincia histrica.
'Ialvez o mais expressivo em Hobs-lr.rwm seja dimensionar a
importncia das relaes de poder(principalmente poltico e social, com
bases econmicas) nol)rocesso de criao de referenciais histricos de
identificaorlt' grupos nacionais ou regionais.
Um exemplo extremamente eloquente pela acumulao denrlerenciais
histricos reproduzido a seguir: o depoimentotlc Charlotte, uma
eleitora de Jean-Marie Le Pen por ocasiorlo segundo turno das eeies
presidenciais francesas de2OO2.
Folha: Por que a senhora apoia Le Pen?Charlotte: Porque eu sou
francesa. Am disso, sou de origemcelta. Aps milhares de anos, ns
somos celtas e franceses. Osceltas eram um grande povo que vivia
aqui antes da invasoromana. Queremos permanecer celtas.
peos seus formuladores (Hobsbawm e Ranger, 20Og:9). Omecanismo
da tradio inventada recurso e manuteoou disputa por bens, direitos,
vantagens por parte de gruposdominantes, submetidos o, .-..g"ites i
est sustentado natransformao de algo que reativamente novo em ago
queteria uma existncia imemoria, ou que, no mnimo, ,. rr_caixa com
uma tal antiguidade. Ela tmbm dotada de umcarter simbico e ritual,
com gestos e objetos que no tmfuno prtica, mas sim ideolgca. Essa
riiualizao natura_liza e facilita a incorporao d novas prticas, que
so umaconstante em sociedades que se moderniz"-, po, exempo,em funo
da Revoluo Industria ou do xodo rura e ur_banizao.
A crtica que Bann faz do ivro organizado por Hobsbawme Ranger
precisa ser reconhecida. O autor deitaca que a tra_dio inventada
(ou seja, mexida por interesses datdos quea constroem como se ela
fosse mais antiga do que realmn_te ) acaba por ser entendida .o-o
,- fasa conscincia,em que a histria poderia discernir o certo e o
errado. Defato, o termo "inveno" pressupe uma criao a partir
donada, e corre-se o risco de imagnar o papel do historiadorcrtico
como o de simplesmente desmasiuu,
^ inveno por
trs da mscara da tradio, mas esses riscos e implciios naopodem
ser eencados o prprio Bann o afirma _ para ous_car o brilho e o
carter semina da coletnea. .hntretanto, suaorientao vai no sentido
da busca do uso que os indivduosfazem de discursos ou representaes
sobre a histria, nonecessariamente em busca da verdade do que
ocorreu, masna busca de como as pessoas lograram o preenchimento
desuas necessidades contemporneas e de piojetos de
futuro.Evidentemente, isso cooca o conhecimento"histrico numa
-
FGV de Bolso Ensino de histria e conscincia histrica
.llx'nas aquela mesma, inconsciente de sua propfia
histria,,rrrrpliando o abismo entre a reflexo historiogrfica e o
ensino,lt'histria. Citron fala em conscincia histrica e
conscincialr istoriogrfica para afirmar a ausncia patente, na
Frana, darroo de que a histria tem uma histria, e que os avanos,l,r
historiografia no campo da autoconscincia das narrativasrr,rtr
chegam para a conscincia histrica da maior parte dos.rnceses,
formados num ensino de histria fundado no scu-lo XIX, resultado do
casamento entre cientificismo e naciona-lismo. Sua obra procura
desmitificar as ideias de uma Franarrrra e indivisvel, doadora dos
direitos do homem ao mundo,plcexistente ao seu espao geopoltico, o
imaginrio arcaico(lue quase chega s nostalgias de uma religio da
Frana, quelcva tambm ideia de uma raa francesa homognea
descen-tlcnte dos ancestrais gauleses, que acabar sendo
incorporadar'omo forma de legitimao, por exemplo, das propostas
polilicas de restrio da imigrao e dos direitos dos
imigrantes.l'ortanto, as questes polticas atuais no podem ser
pena-rente respondidas sem essa relao crtica com o passado.
De volta ao tema da inveno das tradies, podemos con-siderar a
contribuio de Hobsbawm alm do aspecto da in-luncia das relaes de
poder na contnua reelaborao daconscincia histrica, para pensarmos a
noo de tradiodentro dela. Para Rsen a tradio seria uma espcie de
pr-histria da conscincia histrica, ou seja, um fato elementar
c genrico da conscincia, anterior distino entre experin-cia e
interpretao. Isso corresponderia aos primeiros estgiosda conscincia
histrica, segundo Agnes Heler. Para ela, aperspectiva de
desenvolvimento da conscincia histrica aoongo do tempo pode ser
descrita, entre outras formas, comoum processo de ampiao do tempo
que se pode conceber, e
Folha: Como a senhora descreveria Le pen?Charlotte: Ele o nico
que reamente defende o povo francshoje. Tambm fala exceente francs,
tem uma tima oratria.[...] Le Pen Vercingentorix [...] Ee o nico
capaz d,e dar umacontribuio. Do contrrio, ser o caos na Frana.
absurdo oque acontece hoje. Ningum controa mais nada, estamos
entrebrbaros.
(Folha de S.Paulo,5 maio 2OO2, p. A 23)Charotte escolhe uma
seleo
- do seu prprio passado e
do passado francs -
dotada de um significado eipecfico,e a coloca em sua fala para
sustentar uma escoha polticaque pretende responder a problemas do
presente, tais comoidentificados pela entrevistada. No se trata de
uma operaofalsa ou verdadeira, autntica ou abusiva, mas
principalmen-te de uma ligao passado-presente-futuro que
conitruda,mas que no se assume como tal.
A entrevistada no representa um caso isolado. SegundoCitron
(1987), na Frana a histria nacional est sempre naordem do dia, e
isso no se deve apenas ao fato de qe, na-quele momento, estavam
muito prximos da comemoraodo bicentenrio da Revouo Francesa. Os
eventos pblicosque envolvem o tema da nao e da identidade francesa
fo_ram bastante comuns desde fins do sculo XVIII e incio dosculo
XIX, sempre refletindo, mais que o passado, as deman-das e disputas
de cada um dos momentos presentes. SuzanneCitron sustenta que o
estatuto da histria na Frana oscilaentre a lenda, as mitologias
nacionais consagradas pela es-coa e as novas perspectivas de
pesquisa historiogrfica, quese chocam com a primeira perspectiva e
no se inscrevemnela. O silncio dos historiadores sobre essa
discrepncia atento deixava entender que a histria possvel na escoa
seria
-
FGV de Bolso
cuja representao interfere nas formas da organizao social:nos
primeiros grupos humanos, a amplitude do tempo tocompacta que se
vive imediatamente o tempo que decorre daorigem, da cosmogonia.
Votaremos a esse ponto mais adiante.
Ao agir, o ser humano j se pauta por um passado que seoferece a
ser lembrado e considerado sem mediao da narra-tiva, antes do
trabalho interpretativo da conscincia histri-ca; um conjunto de
elementos em que "o passado no cons-ciente como passado, mas vae
como presente puro e simples.na atemporalidade do bvio" (Rsen,
2OOla:77). As institui-es seriam exemplos de tradio nesse sentido
de elementosque se impem para o presente por serem a sedimentao
demuitas aes passadas, e que aparecem como dados, mesmoque a inteno
do agir seja super-los.
A relao interessante a traar com o texto de Hobsbawm a ideia de
que mesmo esse elemento "pr-histrico" no esta salvo da interpretao
e da inveno intencionadas: a dife-rena que muitos desses elementos
oferecem-se como tradi-o, como elementos anteriores narrativa, como
portadoresda fora da obviedade. nesta chave de compreenso que
seapresentam os objetos de referncia identidade escocesa ouos
rituais da monarquia inglesa, analisados por outros auto-res na
coletnea de Hobsbawm e Ranger. Diante dessa consi-derao possivel
pensar que fica invalidada a construo deRsen. E mesmo atradio, que
se oferece como antecedendoe transcendendo a interpretao pela
conscincia histrica, apenas falsamente um dado e , na verdade,
outro componen-te do processo de significao do tempo por parte do
grupo.Ou ento se pode pensar que de fato existe um elemento
tra-dicional e "pr-histrico" na conscincia histrica, o que dfora
redobrada s invenes interpretativas do passado que
Ensino de histria e conscincia histrica
( ( )rscguem passar-se por tradio. Se considerarmos essa
pos-,,ilrilidade, decorrer da um campo de estudos
caracterizado1't'l.r diferenciao entre o que autenticamente tradio
e o(lilc se apresenta falsamente como se o fosse, campo esse que,
r'cjeitado por Stephen Bann. No nossa inteno resolver,'ssc impasse,
mas to somente marcar a sua relevncia e pro-r, uidade, sem deixar
de lembrar a necessidade de superar artlcia de mera indicao de
falsidade ou verdade nos estudos,;rrc abordam os processos de
consoidao de conjuntos dergens e ideias legitimadoras. Trata-se, na
verdade, daqui-lo clue era chamado, antes da dcada de 1990 (com
relativatr,rnquilidade), de anlise das ideoogias, que tem
estudosl,rstante interessantes. Tais estudos superam a
perspectiva,lit'otmica entre conscincia e alsa conscincia ao
imaginar.r ideologia como processo de organizao e hierarquizao
dertlcias dentro do ampo universo no qual elas esto dispon-r,
-
FGV de Bolso
\
4T
relatos de sua origem no conduz a que todos esses relatossejam
essenciamente iguais ou sejam usados da mesma ma_neira em todas as
sociedades. pelo contrrio, os relatos de ori_gem podem ser
narrativas mticas (Ado e Eva no den, porexemplo), constructos de
memria histrica (a origem do tira_sil devido ao seu descobrimento
pea frota do rei d. Manuecapitaneada por Cabral) ou teorias
cientf,cas (o Big Bang). possve mesmo a inexistncia de uma
narrativa dr o.igerrccomo as anteriores, em sociedades que no tomam
o tempo deforma linear e sim cclica. Nesse caso, em vez d.e rr-u
orig.-,aparece uma lgica que define o funcionamento dos clilos.Mas
o que ocorre que todas essas narrativas ou represen-taes do uma
dimenso do tempo e de seus efeitos iobre avida, e cada uma delas
ter um uso distinto em sua sociedadee na estruturao dos diversos
papis sociais e condutas pes_soais. Quando se afirma que apenas a
conscincia histricamoderna pode ser realmente definida como
conscincia his_trica porque suas caractersticas internas a
diferenciam detoda forma anterior de representao do tempo e
orientaotempora, ficamos com a impresso de que j vimos isso
antes,nos conceitos de civilizao e de cultura do sculo XIX, quan_do
esses eram atributos somente do povo europeu.
O que parece mais importante nas sociedades modernas no o
pretenso fato de que elas sejam caracterizadas pela pre_dominncia
da conscincia histrica moderna, mas sim o fatode serem
profundamente heterogneas e marcadas pea con_vivncia de muitos
modos de produo de sentido histricoconcomitantemente: do modo
"racional,, e,,cientfico',, queautoriza a pesquisa com
clulas-tronco, ao modo tradicional,que aprova a "guerra contra o
terror" (na verdade contra po-vos inteiros) por questes mais
emocionais e preconceituosas
Ensino de histria e conscincia histrica
(luc racionais. no se trata apenas de uma mesma
socieda-tlt'ocidental, mas, muitas vezes, dos mesmos indivduos nos(
| uais essas perspectivas convivem.
Capturando a conscincia histrica
O espao que a conscincia histrica ocupa nas relaes hu-r;nas pode
ser percebido por diversos elementos, mas o prin_, ipal (e
provavelmente aquele do qua os demais derivam) aitlcntidade
coletiva, ou seja, tudo aquilo que possibitita quetligamos ns (e
eles). Dessa conscincia fazem parte as ima-gcns, ideias, objetos,
valores que os participantes julgam ser()s seus atributos
especficos (sendo que o primeiro deles onome), bem como um (ou
mais) mito de origem, que funciona('omo o egitimador da existncia
do grupo (Heller, 1993:i6)c, na maior parte dos casos, de suas
reaes hierrquicas. Emsuma, a conscincia histrica constitui a parte
preponderanteda resposta pergunta: quem somos ns?
Nas reaes humanas, a conscincia histrica ocupa umlugar
especfico, e este pode ser percebido indiretamente pe-los resutados
da identidade coetiva, pois dela deriva umasrie de outros
acontecimentos no campo do pensamento. Emoutras palavras, tudo o
que permite que digamos ns e elescompe a identidade coetiva ou
social, e essa identidade composta da conscincia de diversos
elementos: familiarida-des e estranhamentos, ideias, objetos e
vaores que um grupoacredita fazerem parte de seus atributos
exclusivos e excu-dentes. O primeiro de todos esses elementos o
nome da co-etividade. Por isso, um dos primeiros atos na conquista
deum povo darlhe um nome que no seja aquee pelo qualos indivduos se
conhecem, como, por exemplo, "negros,,ou
-
FGV de Bolso Ensino de histria e conscincia histrica
,rlrrrros responderam assinaando um dos itens de uma escala,ll
vaorao que ia de "concordo totalmente" a "discordot,,t,rImente",
passando por "concordo", "indeciso" e "discor-rlo", o eue, em
estatstica, denominado "escala de atitudes",,rr "cscala de Likert".
Os alunos, am de fornecer informa-,,()('s para contextualizar cada
indivduo, responderam sobre,r ( ()ncepo que tm da histria e de sua
importncia, cre-,libilidade em fontes de conhecimento histrico,
descrio e.rl)r'oveitamento das aulas de histria assistidas,
concepes,lt uturo, conhecimentos cronolgicos, interesse por
pero-,l,rs da histria e assuntos ou temas histricos, conhecimento,
.rvaliao de fatores de mudanas histricas atuais e futuras,.rvaliao
e imagens atribudas aos perodos e personagens dalristria.
Responderam tambm sobre causas das mudanasrro Leste europeu,
expectativas de futuro pessoal e de futu-r o cla Europa (um dos
motivos principais da pesquisa foi aproduo de conhecimento til para
sobre o processo de uni-icao da Europa) e motivos da diviso das
sociedades em, lasses. Havia, ainda, perguntas acerca de reaes
pessoais aosimular situaes do passado (como casamentos fbrados,
porcxcmplo), fatores de composio da nacionalidade e da sobe-rania
sobre um territrio, preservao de patrimnio hist-rico, conceitos de
nao, posicionamentos polticos contro-versos quanto a questes
prementes nos pases ou na Europacm geral.
Os professores responderam a questes de contextualizaodo
indivduo nos pases, questes relativas formao aca-cmica, experincia
docente em anos, particularidades cur-riculares no ensino da
histria, avaliao da capacidade inte-lectual dos alunos, signicado
de religio e de poltica paraa vida cotidiana do professor, scu
posicionamento poltico,
"ndios". Da mesma forma, a construo da autodetermina_o passa
obrigatoriamente peo estabeecimento ou restabe_ecimento de um nome
prpiio, definido de modo autnomo.Um mito de origem (no sentido de
um evento naturafizad.ocomo rea e no questionado socialmente que
define a iden_tidade e legitima a forma de vida do grupo no
presente),seja ele "primitivo" ou "moderno,', oitro componente
didentidade social, que depende de uma operao istrica
daconscincia.
_
De quaquer modo, o desafio que se coloca : se a
conscinciahistrica existe, preciso que ea seja captve por
instrumentosde pesquisa, e essa captao deve sr possve m diversos
uga_res, com identidades sociais e fundamentos culturais
diferens.Um dos exemplos mais interessantes de pesquisa
sobreconscincia histrica
- embora esse no fosie su objetivo
nico ou principal -
foi o projeto youth and History, .rri" "*-tensa pesquisa no
formato de suruey, organizad,ainicialmente
por pesquisadores que atuam na interface de preocupaesentre a
histria e a educao da Aemanha e Noruega. fl pes_quisa teve por base
o conceito de conscincia hirica ide_finida sumariamente como ,,o
grau de conscincia da reaaoentre_o passado, o presente e o
futuro,,) e procurou identificare avaliar sua aplicao nas opinies
emitias por jovens de l5anos e seus professores em 25 pases
europeus. mais Israe ePalestina, num tota de 32 mi entrevistos.
Constituiu_seda elaborao, aplicao e tabuao de um questionrio
paraalunos e outro para professores, definido aps vrias
reuniesentre as dezenas de pesquisadores de tod a Europa, idera_dos
por Magne Angvik e Bodo von Borries.
O questionrio organizou vrios temas que se desdobra_ram em
perguntas apresentadas como afirmaes s quais os
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FGV de Bolso
perodos da histria enfatizados, conceitos mais
importantesensinados, mtodos de ensino aprendizagem, objetivos
doensino da histria, interesse dos alunos, principais problemasdo
ensino de histria no pas segundo a viso do professor,fatores de
mudana histrica que considera mais relevantese projeo de futuro
quanto a fatores de mudana histrica.
Os resultados da pesquisa foram dispostos em dois voumesde
planilhas de dados. O trabalho de anlise desses resultadosconfirmou
algumas hipteses e caractersticas, at certo pon-to previsveis, do
ensino de histria. por outro lado, trouxedados significativos para
a reflexo sobre educao, ensinode histria e conscincia histrica. O
primeiro dado que ainfluncia do professor de histria sobre as
opinies histri-cas do aluno , no mnimo, limitada, como tambm
limitadaa influncia dos currculos oficiais de histria sobre o
traba-lho do professor e seu resultado. A pesquisa permite
concluirque os elementos narrativos constantes dos currculos
oficiaisou da formao que os professores recebem no se reprodu-zem
necessariamente na aprendizagem dos alunos. Assim, comum
encontrarmos opinies divergentes sobre a histriano mbito oficia,
incluindo a a escola e os alunos que serelacionam com essas
esferas, o que nos conduz concusode que a formao histrica dos
alunos depende apenas emparte da escola, e precisamos considerar
com interesse cadavez maior o papel dos meios de comunicao de
massa, dafamlia e do meio imediato em que o auno vive se
quisermosalcanar a relao entre a histria ensinada e a
conscinciahistrica dos alunos.
Outro aspecto considervel refere-se "modernizao" dosprocessos de
ensino e aprendizagem em histria, que so mui-to mais restritos do
que poderamos supor diante do investi-
Ensino de histria e conscincia histrica
rr('rto em formao de professores a partir de novas
conceP-r,rrt's, contdos e tcnicas, o mesmo valendo para o
esforo,lt'cspecialistas em educao instalados na burocracia estata.
st'us projetos de mudana de rumo do ensino em geral, e
em1',rrticular do ensino da histria. Uma hiptese considervel, rrr
relao a esse tpico a de que a funo social do ensino,l,r histria
transcende os projetos contemporneos e liga-se arrrna necessidade
de perpetuao do grupo (Estado nacional)sobre a qual a capacidade de
influncia do debate contempo-r.rneo restrita.
l)esde 2006, uma equipe de pesquisadores brasieiros, ar-gcntinos
e uruguaios, da qual fao parte, vem procurando,rdaptar o
questionrio europeu s realidades sul-americanast' aplicar esse
questionrio em algumas amostras, como umprojeto piloto. Essa
investigao foi inicialmente intitulada".lovens brasileiros e
argentinos diante da histria"; poste-liormente incluiu o Uruguai e
passou-se a chamar o projetornais simplesmente de "Jovens e a
histria". No instrumento.rdaptado concentramos as categorias de
questes que se re-rem a componentes da conscincia histrica, sem
esquecerque o questionrio destinado aos aunos envolve tambm umasrie
de perguntas para identificao social e cultural do res-pondente,
bem como vrias outras sobre a realidade do ensi-rro e da
aprendizagem de histria na escola.
Embora no focado no conceito de conscincia histrica,Carretero
(2007) confirma algumas das hipteses e cons-tataes que esses
estudos puderam esboar. Um dos itensprincipais a distncia entre a
histrla ensinada na escola, ahistria oficial, e a histria vivida e
relembrada pela comuni-dade e transmitida entre geraes dentro das
famlias. Essadistncia chega s raias da esquizofrenia quando falamos
de
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FGV de Bolso Ensino de histria e conscincia histrica
rlrrs textos iniciais. A situao proposta para o trabaho
dos,rlrrrros foi rica pela capacidade de mobilizar tanto
elemen-t,,s histricos (a escravido e o racismo) quanto
elementosrrr,ris imediatos de identidade nacional (porque o acusado
de,liscriminao participava, no momento, de um time de fute-lrol
argentino jogando contra um time brasileiro) e ainda um,,r1r".to de
juigamento moral, um dos resultados tpicos dolrrncionamento da
conscincia histrica. Aps uma primei-r,r cscrita, a dinmica da
pesquisa proporcionou a ampliao,l,r reflexo lingustica e histrica,
dialogando com os alunos,rul.ores, aportando novos elementos (como
textos e informa-t,tics atinentes ao tema) e possibilitando a
reescrita do texto'Ncssa reescrita foi possve perceber as formas
pelas quais,,s alunos reestruturam seus textos iniciais, tanto no
que selt'lere a estrategias de comunicao quanto de decodificao('
regociao de informaes e ideias novas. O estudo dos tex-tos
produzidos por alunos foi feito com base em um quadrotlc categorias
organizadas nos trs eixos temporais (passado,presente e futuro) e
nos modos de dizer e de produzir senti-clo usados pelos sujeitos.
Foi a anise dessas estratgias quemais de perto permitiu a anlise
dos elementos e dos desloca-mentos da conscincia histrica dos
alunos. Ao exercitar suacompetncia narrativa, cada aluno revelava
suas formas deconceber e se relacionar com o tempo.
Didtica da histria: uma disciplina de investigao do usosocial da
histria
Rsen argumenta que o desafio metodolgico da pesquisada
conscincia histrica comea a ser enfrentado com a ela-borao de
modelos tericos. Afinal, a boa pesquisa come-
grupos sociais ou pases inteiros dominados por outros, como o
caso da Estnia. De um modo geral, Carretero aponta quea histria
marxista pr-sovitica ensinada nas scolas'depases do Leste europeu
entre o ps-guerra e a queda do murode Berlim acaba por
desvanecer-se rpidamente aps o fim dodomnio sovitico, o que
demonstrara que ea p.r.o se afer_rou conscincia e identidade das
pessoas. por outro ado,o estudo de Carretero est onge de apontar
que a histriaensinada
- oficia ou "domstica,,
- seja irrelevante. Anali_
sando os casos dos Estados Unidos e do Mxico, por exemplo,mostra
como esse assunto tem sido decisivo no contexto derealinhamento das
identidades nos processos de transforma-o ligados globalizao
intensificada dos anos 1990.
Outra frente significativa no estudo da conscincia his_trica tem
sido a dos estudos quaitativos baseados em umgrup^o menor de
sujeitos participantes, que so capazes deaprofundar noes
importantes de como o fenmeno operaem detalhes.
Um exemplo das reflexes em torno do conceito de cons_c_incia
histrica a percepo das suas ligaes com o temada linguagem, tanto
nos processos de sua constituio quan_to na possibilidade de
estud-la. Esses dad
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FGV de Bolso Ensino de histria e conscincia histrica
Ir,rl, cssa estrutura, segundo Rsen, "narrativa". No toda'
(lu.lquer narratva, mas especificamente a que orienta ou,lrrt'r
rrrientar elementos e momentos da vida prtica. Narrati-\',r ('
orientao so os termos contguos quando entramos nal,rrsca de
evidncias empricas da conscincia histrica.
lrmbora se trate de apenas uma das formas de representa-(,.f ()
histrica, a narrativa oferece uma sada, em termos der('(()rte
emprico, para a pesquisa da conscincia histrica,l'()r'que um dos
produtos que resultam de sua produo de',t'ntido. As narrativas no
so apenas verbalizadas, mas tam-l,t'rn condensadas em imagens (o
prncipe d. Pedro a cava'l,r levantando uma espada), palavras
(Bastilha, Auschwitz) e.,irnbolos (cruz, foice e martelo, sustica),
que so abreviaesrr.rrrativas. As formas pelas quais as narrativas
so usadas (err.io apenas feitas) vo demonstrar a incorporao de
deter-rrrinados padres normativos da conscincia histrica. E nosc
trata de uma narrativa quaquer, mas de narrativas quest: refiram a
processos reais (e no fictcios), que tenham porobjetivo e
terminalidade o estabelecimento de uma "moral dahistria", uma
concluso necessria (mesmo que subjacente)tlue oriente/justifique a
ao dos sujeitos, tanto na histrianarrada quanto na histria vivida
no Presente. Para essesenmenos construiu-se o conceito de cultura
histrica, quedelineia "um conjunto de fenmenos histrico-culturais
re-presentativos do modo como uma sociedade ou determinadosgrupos
lidam com a temporalidade (passado-presente-futuro)ou promovem usos
do passado" (Abreu, Soihet e Gontijo'2O07:15). Para Flores (2OO7),
a expresso cultura histrica tra-duz a perspectiva de articulao
entre os processos histricosem si e os processos de produo,
transmisso e recepo doconhecimento histrico.
a pea boa pergunta, que traz implicita uma teoria sobre aqua
importa ter conscincia. O objeto de uma pesquisa so_bre a
conscincia historica pressupOe refletir so^b.e'o que e como se
atinge o objeto, j que estamos falando de faioresmentais, dificeis
de investigar porque no so reconhecveisobviamente como fatos.
frta_ie, po.turrto, de demarcar umterritrio emprico. S a definio
terica do objeto no nospermite investig-lo. No se trata de modeos
'que criamospara encaixar os dados empricos a contragosto estes,
masde autoconscincia, como jiafirmamos, da teoria que articulaa
pergunta da pesquisa.
Falar em conscincia histrica impica uma definio
propo_sitadamente muito ampla de histr, como tempo significdo(ou,
dizendo um modo um pouco diferente, experincia dotempo que passou
p?r 1- processo de significao). Tempono quer dizer passado.
Conscincia histrca no memria,mas a envolve: o tempo significado a
experincia pensadaem funo do tempo como expectativa e -perspectiva,
com_pondo um sistema dinmico. A conscincia histrica no definida
aqui como conquista particuar, mas como aquisiocutura eementar e
geral, na qua os sujeitos azem suas sn_teses entre objetivo e
subjetivo, emprico e normativo.
Para encontrar o objeto, enfocarnos suas manifestaes.
Aconscincia histrica est baseada em padres comunicativos,de acordo
com a natureza do tempo experienciado. Registre_-se a dificuldade
de istar evidncias tpicas e no amguasde manifestaes da conscincia
histrica. Exercendo a fun-o de m;mria, de percepo das diferenciaes
temporais,a conscincia histrica produz uma estrutura unificada
depensamento num modo de conscincia que adequado aoreacionamento
dos sujeitos com a histr. O t.._o tcnico
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FGV de Bolso Ensino de histria e conscincia histrica
r, or i.r da histria como disciplina especializada.
Finalidades,I,rrlcs de informao, procedimentos de trabaho e
resultados,lr.,t intos so motivos suficientes para considerar a
distino' ntlL esses saberes histricos, como j vem sendo feito h
rn,ris de uma dcada por estudiosos do ensino da histria aor,
tlor do mundo, principalmente porque o conceito de cons-'
r('rcia histrica ajuda a perceber a presena de muitos
outros,.,rlrcres histricos alm destes dois.
Novamente citando Rsen, pode-se dizer que, entre outrosrrrol
ivos, por causa da diferena qualitativa entre a histria( r('rcia e
a histria escolar, e necessria "[...] uma discipina, it'ntfica
especfica que se ocupe do ensino e da aprendiza-r,,'rn da histria
[...]: a didtica da histria" (Rsen, 2001a:5I).( ) .onjunto dessas
consideraes cristaliza-se na ideia de dis-trrro em essncia entre a
histria da escola e a histria aca-,lt'rnica. Essa ideia
desenvolve-se em diversos pases e a partir,lt'diferentes lugares no
campo das cincias da histria e da, rlucao e, ao desenvolver-se,
viabliza ao mesmo tempo,1trc viabili zada por
- uma mudana de paradigma na did-
t it.r da histria, que at ento vinha sendo entendida como
or'onjunto dos estudos que permitiriam aprimorar as formas det
rrsinar histria, para garantir maior aprendizagem por par-It' clos
alunos. Tacitamente, compreendia-se a aprendizagem( ()mo um
elemento dependente do ensino formal da discipli-rra. Ao
compreender que, nesse sentido, a aprendizagem no(' um processo
dominado pelo ensino escolar, mas ocorre emrclao dialtica com ele,
ensino e aptendizagem passam a sercntendidos como processos
significativamente autnomos, erue no so compreendidos somente um em
funo do outro.
Diante disso, a didtica da histria tambem se distinguerle uma
disciplina cientfica do ensino (cujo resultado um
A discusso terica sobre a conscincia histrica e as
brevespinceladas sobre alguns resultados de projetos como o
youthand History cooca elementos importantes para pensarmos aagenda
educativa e de pesquisa sobre o ensino da histria,pois, ao buscar
recolher empiricamente dados da conscinciahistrica, trouxeram uma
srie de dados que tanto confirma-ram a viabilidade do conceito para
expicar os acontecimen_tos, quanto impuseram novos problemas para
as reflexesdidticas da histria. Em primeiro lugar, a ideia de
conscin-cia histrica refora a tese de que a histria na escola
umtipo de conhecimento histrico qualitativamente diferentedaquele
conhecimento produzido pelos especialistas acad-micos, e, mais que
isso, so ambos apenas parcelas do grandemovimento social que pensar
historicamente, e no a formade fazlo.
Consequentemente ganha fora a recusa de um modelo emque o
conhecimento histrico produzido academicamentetem na escola e nos
meios de divugao cientfica uma cor-reia de transmisso e simplificao
de seus enunciados. Apsdois sculos de "combates pela histria", o
conhecimentohistrico acadmico logrou tornar-se a principal
refernciapara o pensar historicamente da sociedade, mas o
momentoexige que se reconhea que no o nico, sob pena de limi_tar a
percepo dos fenmenos que envolvem o surgimento,a circulao e o uso
dos significados atribudos ao grupo notempo. Isso coloca questes
referentes ao mtodo, seleo decontedos e os fundamentos da histria
ensinada na escoa.Para Rsen, entre o ensinar e o aprender histria
na univer_sidade e na escola h uma diferena qualitativa, que logo
seevdencia quando se promove a reflexo sobre os fundamen-tos do
ensino escolar de maneira anloga que se faz com a
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FGV de Bolso
conjunto de mtodos e tcnicas que permitem transmitirum dado
conhecimento de quem o tem para quem priva_do dele), e passa cada
vez mais a caractrizar_r.
"o- .r-udisciplina que estuda a aprendizapem histrica. Como
essaaprendizagem ultrapassa em muito a sala de aula de hist_ria.e
mesmo a escoa, a didtica da histria acaba assumindoa produo,
circulao e utilizao socia de conhecimentoshistricos como seu objeto
de estudo, e ao ser realizado porhistoriadores esse estudo no se
encaixa em nenhum oscampos da historiografia (porque no , por
exemplo, histriada educao, embora dialogue com ela), mas sim no
campo dateoria da histria. Nesse espao epistemolgico tem cndi_es de
permitir que todos os estudos histris, e no apenasaquees p_ensados
para e a partir da escola, sejam submtidosa uma reflexo didtica, ou
seja, a uma reflexo sobre o que ensinado (estudando currculos,
programas e manuais, mastambm sries de televiso, filmes, revistas
de histrias emquadrinhos etc.), sobre as gicas internas, condies,
inte_resses e necessidades sociais quanto ao ensino e aprendi_zagem
de conhecimentos histricos que ocorre na atualidadee, por fim,
sobre o que deveria ser ensinado (em funo dasnecessidades e
caractersticas mnimas de cada sociedade, esuas formas autnomas de
gerao de sentido histrico).A discusso sobre conscincia histrica
coloca_noi ain_da diante da necessidade de dar continuao proposiode
Klaus Bergmann e de Jorn Rsen, entre outros autores,de uma didtica
da histria, que seria uma disciplina interna cincia da histria,
tendo uma srie de metal que podemser sintetizadas na indagao "sobre
o carter efetivo, poss!vel e necessrio de processos de ensino e
aprendizage e deprocessos formativos da histria. Nesse sentido [a
ditica da
Ensino de histria e conscincia histrica
lristtirial se preocupa com a formao, o contedo e os efeitosrl,r
conscincia histrica (Bergmann, l99O:.29).
(l
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FGV de Bolso Ensino de histria e conscincia histrica
,lr.rrrlc dela com serenidade, frrmeza e clareza, e no com
a,.r'ns.ro de insegurana perante uma realidade que lhe tira,,,1ro,
ou com o desalento de um Joo Batista que clama no( l{ s('rto.
os aspectos que potencializam os avanos do conhecimento,mas
tambm no se pode imaginar que uma atividade susten_tada pela
sociedade no atenda s necessidades de conheci_mento dela.
Na proposio de BergmatTn, a metodoogia do ensino dahistria
torna-se apenas uma das preocupaes da didtica dahistria. A pesquisa
"youth and Historyi .r- exemplo dessaampliao do campo de atuao,
cujos resultados reforam,inclusive, a necessidade de pensar L
pesquisar os conheci_mentos histricos em todo o tecido social, i as
inter_relaesque promovem entre si e com o conhecimento erudito ou
oescoar. Para a prpria metodologia do ensino saudve
essaperspectiva, de modo a compreender a educao histricacomo um
processo que no pode ser encarado como dentr