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MUSEU MILITAR DE LISBOA—FACULDADE DE BELAS-ARTES UNIVERSIDADE DE LISBOA 2016-2020
EVOCAÇÃO
CoordenaçãoLuís Sodré de Albuquerque Ilídio Salteiro
SALA DA GRANDE GUERRA
MUSEU MILITAR DE LISBOA
NOS 100 ANOS DA PRIMEIRA GRANDE GUERRA
MUSEU MILITAR DE LISBOA—FACULDADE DE BELAS-ARTES UNIVERSIDADE DE LISBOA 2016-2020
EVOCAÇÃO
CoordenaçãoLuís Sodré de Albuquerque Ilídio Salteiro
SALA DA GRANDE GUERRA
MUSEU MILITAR DE LISBOA
NOS 100 ANOS DA PRIMEIRA GRANDE GUERRA
FICHA TÉCNICA
TÍTULOEvocação: Nos 100 Anos da Primeira Grande GuerraSalas da Grande Guerra do Museu Militar de Lisboa
COORDENAÇÃOLuís Sodré de AlbuquerqueIlídio Salteiro
EDIÇÃOCentro de Investigação e de Estudos em Belas Artes (CIEBA)
TEXTOS Luís Sodré de AlbuquerqueIlídio SalteiroJoão Castro SilvaIsabel SabinoJoão Rocha de SousaAntónio TrindadeDora Iva RitaManuel GantesJosé TeixeiraHugo Ferrão
ASSISTENTES DE CURADORIAMargarida VinhaisMariana ScarpaSandra RamosSilviana Rocha
APOIO AUDIOVISUALFernando Fadigas
MONTAGEMLuís Soares
CAPAAdriano Sousa Lopes, Bombardeamento em La Couture (detalhe), 1918. Museu Militar de Lisboa
DESIGNTomás Gouveia
ISBN978-989-8944-33-7
DEPÓSITO LEGAL475495/20
IMPRESSÃO E ACABAMENTOACD Print
TIRAGEM200 exemplares
PROPRIEDADECIEBA: Centro de Investigação e de Estudos em Belas-ArtesUniversidade de LisboaLargo da Academia Nacional de Belas-Artes1249-058 Lisboa, Portugal
APOIOSMuseu Militar de LisboaFaculdade de Belas-Artes da Universidade
de LisboaDireção de História e Cultura MilitarComissão Coordenadora da Evocação do Centenário da I Guerra Mundial
+INFOevocacao14-18.blogspot.ptfacebook.com/evocacao
Museu Militar de Lisboa, Largo do Museu da Artilharia, Lisboa, 2020
EVOCAÇÃO
CoordenaçãoLuís Sodré de Albuquerque Ilídio Salteiro
MUSEU MILITAR DE LISBOA—FACULDADE DE BELAS-ARTES UNIVERSIDADE DE LISBOA
SALA DA GRANDE GUERRA
MUSEU MILITAR DE LISBOA
NOS 100 ANOS DA PRIMEIRA GRANDE GUERRA
ÍNDICE
PREFÁCIO
A GUERRA E A ARTELuís Sodré de Albuquerque
EVOCAÇÃOIlídio Salteiro
OSSOSJoão Castro Silva
A MENINA (NÃO) FICA EM CASAIsabel Sabino
LINK PARA MEMÓRIA DO ESQUECIMENTO GLOBALJoão Rocha de Sousa
GUERRA E ESPELHOSAntónio Trindade
ENTRE O TERRA E O CÉUJoão Paulo Queiroz
JOÃO PAULO QUEIROZ E A PROCURA DA GNOSE Dora Iva Rita
CAMPO SANTOManuel Gantes
GRAVIDADEJosé Teixeira
ERANOS, BANG! BANG! A CONSCIÊNCIA DE SIHugo Ferrão
CORPOS DESCONHECIDOSArtur Ramos
PREDELA DE UM RETÁBULO LAICOIlídio Salteiro
ALFARROBEIRAJ. Rosa G.
ALFARROBEIRA DE J. ROSA G.Ilídio Salteiro
PRANTOS Luís Sodré de Albuquerque
CURRICULA VITAE
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Editamos este livro, referente a uma programação que decorreu desde 2016 até 2019, com dez intervenções artísticas nas Sala da Grande Guerra do Mu-seu Militar de Lisboa para unir num mesmo documento toda a investigação que este projeto envolveu e que dez artistas efetuaram e concretizaram atra-vés de obras realizadas especificamente para este local.
Obras que são de homenagem a todos os soldados desconhecidos de todos os tempos, expostas em confronto direto com o emblemático conjunto de pin-tura de Adriano Sousa Lopes exposto permanentemente como documento visual e histórico de uma guerra que ele mesmo presenciou.
Assim Evocação iniciou-se com um convite ou solicitação para a realização de uma obra destinada a um espaço onde se evoca permanentemente a Primeira Guerra Mundial. Mas uma obra que esteja em sintonia com o tempo presente. Um tempo que nos obriga a interrogações constantes sobre a quantidade e a diversidade de conflitos existentes no mundo.
Quanto às dez respostas só queremos agradecer o empenho e a dedicação que os dez artistas investigadores colocaram neste projeto, realizando obras de grande qualidade e impacto. Obras que foram fundamentadas na madeira que parece ser osso e ferro em João Castro Silva, no papel das mulheres na guerra das trincheiras em Isabel Sabino, nas memórias de conflitos em João Rocha de Sousa, nos espelhos que invertem a visão dos factos em António Trindade, nos campos de inúmeras batalha em Manuel Gantes, no nosso po-sicionamento perante tantas opções em João Paulo Queiroz, no peso dos nos-sos corpos sobre as lamas da guerra em José Teixeira, na consciência de nós em Hugo Ferrão, nos soldados quase sempre desconhecidos de Artur Ramos e nos rumos da história em J. Rosa G.
PREFÁCIO
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Queremos também agradecer ao Museu Militar de Lisboa, à Faculdade de Be-las Artes da Universidade de Lisboa, à Direção de História e Cultura Militar, à Comissão Coordenadora da Evocação do Centenário da I Guerra Mundial e ao Centro de Investigação e Estudos em Belas-Artes pela compreensão e apoio prestado a este projeto, que agora se conclui.
Luís Sodré de AlbuquerqueIlídio Salteiro
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A Guerra, enquanto fenómeno de extrema violência e a sua perceção desenca-deiam uma quantidade de emoções humanas que acabam por se manifestar de muitas formas. A Arte é assim e, com alguma naturalidade, uma das formas de exteriorizar as emoções a ela ligada.
Assim, não é invulgar ver a Guerra retratada pela Arte com as motivações mais diversas, como se pode verificar em muitos museus militares, por exemplo.
Isto foi particularmente sensível em relação à I Guerra Mundial, conhecida na altura por Grande Guerra exatamente pelas dimensões que atingiu, os teatros geográficos em que se desenrolou, a escala do sofrimento infligido, a grandeza dos números envolvidos, em material, homens e animais, o inacreditável (para a época) número de baixas. Mas também porque foi enformadora do Século XX, com a afirmação dos nacionalismos e o final de uma Europa de monar-quias, substituídas agora por repúblicas.
Nasceu uma nova era, marcada pela exaustão dos países envolvidos, a ideia de uma vida demasiado efémera, o poder destrutivo das novas tecnologias utili-zadas na guerra, engendrando os totalitarismos, o pacifismo, os loucos anos 20 e a sua vontade de viver tudo de uma vez.
Tudo isto levou à produção de obras artísticas marcantes nos mais diversos campos. No Museu Militar de Lisboa estão patentes os painéis de Adriano de Sousa Lopes, ricos do testemunho pessoal do artista na linha da frente. Cla-ro que isso é uma oportunidade rara para um artista, mas mesmo os que não estiveram na frente produziram obras importantes, como “A caminho da po-sição — peça alvejada” de Delfim Maya, também no Museu Militar de Lisboa.
A GUERRA E A ARTELuís Sodré de Albuquerque
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O Centenário da Grande Guerra levou-nos a colocar muitas interrogações — como é que hoje os artistas veem um acontecimento desta magnitude, com consequências tão duradouras que ainda hoje persistem e estão na base de alguns problemas que dominam as nossas preocupações? É possível reinter-pretar as obras produzidas na altura com um olhar do Século XXI? Qual a influência do mundo pós 11 de Setembro nesta forma de olhar? Se voltasse a acontecer algo desta grandeza, qual seria a nossa forma de o encarar?
Estas questões encontraram eco na Faculdade de Belas-Artes, instituição com quem o Museu Militar já tinha, do antecedente, contactos.
É assim que nasce esta iniciativa, com o apoio da Direção de História e Cultura Militar e da Comissão Coordenadora da Evocação do Centenário da I Guerra Mundial, destinada a revisitar a Grande Guerra com um olhar contemporâ-neo, e que nos recorda o sofrimento que a espécie humana foi capaz de infligir a si própria há, APENAS, 100 anos atrás.
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O Museu Militar de Lisboa é detentor de um importante património com um elevado valor histórico, artístico e cultural. Instituído como museu em 1851 por Decreto Real de D. Maria II, possui uma importante e diversificada coleção que o transforma tanto num museu de Arte como num museu da História de Portugal. Por um lado possui um património artístico de autores que alicerça-ram a sua formação na Academia de Belas-Artes, como por exemplo Colum-bano Bordalo Pinheiro, Teixeira Lopes, José Malhoa, Francisco Franco, Veloso Salgado ou Luciano Freire. E por outro lado possui um património histórico com inúmeros instrumentos provenientes do Exercito Português que docu-mentam a História de Portugal.
É desta relação que surge o projeto Evocação, simultaneamente focado na par-ticipação de Portugal na I Guerra Mundial e focado na intervenção artística na Sala da Grande Guerra da autoria de Adriano Sousa Lopes e Veloso Salgado.
Deste modo o Museu Militar de Lisboa em colaboração com a Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa realiza um conjunto de exposições de artistas portugueses contemporâneos nas Salas da Grande Guerra com cará-ter evocativo dos acontecimentos ocorridos entre 1914 e 1918. Estas exposi-ções, individuais e por períodos de cerca de três meses, decorreram entre 9 de março de 2016, quando do centenário da declaração de guerra da Alemanha a Portugal, e 30 de julho de 2019, quando se assinala o regresso do Corpo Expe-dicionário Português.
Evocação, decorrendo durante três anos, procurando rememorar o valor das vidas daqueles que estiveram diretamente implicados, procura também de-monstrar, através de produções artísticas contemporâneas, diferenciadas mas concebidas especificamente para as Salas da Grande Guerra, que a arte atuali-za o sentido dos acontecimentos e promove sintonias, diálogos e debates, quer sejam sobre ela própria ou quer sejam sobre os outros ou sobre outras causas.
EVOCAÇÃOIlídio Salteiro
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Os artistas participantes neste projeto foram João Castro Silva, Isabel Sabino, João Rocha de Sousa, João Paulo Queiroz, Manuel Gantes, António Trindade, Artur Ramos, José Teixeira, Hugo Ferrão e J. Rosa G. ( João Prates).
Para a participação neste projeto, o apelo lançado a estes dez artistas foi no sentido de conceberem uma intervenção, instalação, exposição ou mostra-gem de obras evocativas das guerras tanto de ontem como de hoje, em diálogo aberto e franco com o espaço museológico, dominado pelas pinturas de Adria-no Sousa Lopes e pela memória da ação do CEP, Corpo Expedicionário Por-tuguês. A opção por estes artistas foi pensada tendo como base os seguintes pressupostos: o conhecimento e o reconhecimento do projeto artístico de cada um deles, e a perceção de que reside em todos estes autores a capacidade para tratar esta questão como um conceito que, hoje, no inicio do terceiro milénio, pode ser a memória ou matéria necessárias, com flexibilidade para serem re-constituíveis ou atualizáveis noutros formatos.
A Vida e a Natureza coabitam um espaço e uma época onde a história e as guerras são assuntos sensíveis, que movem pensamentos e promovem interro-gações, podendo adquirir muitas formas: Arte.
Estas formas passam pelos antigos e novos modos de estar e fazer guerra e arte, pelas coisas, seres, formas e narrativas, pelos valores territoriais e cultu-rais, pelos desenhos de linhas, limites, fronteiras, muros e barreiras, pelos de-senvolvimentos tecnológicos, pelas mutações, pelas arquiteturas dos conflitos e pelos camuflados contemporâneos.
As guerras desencadeiam inevitavelmente destroços, sargaços, fragmentos, ele-mentos dispersos, ideológicos e formais, passíveis de se transformarem em for-ma pura e desse modo atingirem o objetivo como novos arquétipos culturais.
Estas salas, feitas nos anos 30 e revestidas maioritariamente com pinturas de Adriano Sousa Lopes, um pintor que se voluntariou para a frente de combate como pintor de reportagens da guerra, estão imbuídas de uma densidade dra-mática notável.
Neste espaço, a Evocação da participação do CEP na primeira Guerra Mundial, pensam-se todas as guerras. Evocações realizadas por diversas matérias trans-formadas em intervenções espaciais que se constituem em organismos estéti-cos com muitas conotações: a madeira que se interroga, em João Castro Silva, as terras que se pisam, em Isabel Sabino, o perda das memórias, em Rocha de Sousa, a ilusão dos reflexos, em António Trindade, o lugar que ocupamos,
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em João Paulo Queiroz, os campos santos, em Manuel Gantes, o peso dos nos-sos corpos alinhados e disponíveis, em José Teixeira, a nossa consciência, em Hugo Ferrão, a entrega ao desconhecido, em Artur Ramos e as narrativas da História em J. Rosa G. Estamos na presença de formalizações do pensamento sobre a guerra, como metáfora da fragilidade humana, enquanto companheira de muitas guerras, globais ou individuais acentuando a debilidade dos meios de sobrevivência, a ironia da guerra e também a humanização dos beligerantes.
Estas obras refletem todas as guerras, desde as pontas de sílex ao nuclear, homenageando acima de tudo a inteligência humana capaz de encontrar solu-ções que lhe garantam o rumo.
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9 MARÇO — 30 MAIO 2016
OSSOS
JOÃO CASTRO SILVA
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“O combate das máquinas é tão colossal que o homem está muito perto de, perante ele, se apagar. Já muitas vezes, apanhado nos campos magnéticos da batalha moderna, me pareceu estranho e quase inacreditável que estivesse a assistir a acontecimentos da História humana. O combate reveste a forma de um mecanismo gigantesco e sem vida, recobrindo a extensão de uma vaga destruidora, impessoal e gelada.”1
Despojos de árvores, sobras de madeiras várias de origem industrial trabalhada por meios mecânicos. Reaproveitamentos de postes de vedação, desperdícios de poda, fragmentos de mobiliário, pranchas e barrotes reconformados e uni-ficados na construção de uma forma. Madeira torneada e serrada. Um canhão.
Madeira de maré, branca pelo sal. Ossos esculpidos em talhe direto a partir de ramos de árvore recolhidos em praias. Cada ramo foi escolhido em função da forma singular que tinha, uma forma que remetia para a forma de um osso.
Ossos talhados em madeira branca de maré. Restos mortais quese recolheram num campo de batalha e que não se consegue identificar de quem foram nem em que partes do corpo se situavam.
João Castro SilvaLisboa, 15 de Setembro de 2015
1 JUNGER, Ernst, A Guerra com experiência interior, Ulisseia, Lisboa 2005, p. 107.
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15 JUNHO — 30 SETEMBRO 2016
A MENINA(NÃO)FICAEM CASA
ISABEL SABINO
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Este projeto de intervenção artística no Museu Militar, nas salas dedicadas à participação portuguesa na 1ª Grande Guerra, por ocasião do centenário des-ta, assume como perspectiva um olhar feminino.
Quando se percorre as salas deste museu surgem diferentes imagens da mu-lher: começando pelo retrato da jovem rainha D. Maria por Joaquim Rafael, há algumas figuras de mulheres associadas à história de Portugal, tais como a mulher de Egas Moniz com ele a entregar-se ao rei de Castela (por Malhoa), ou Inês de Castro (por Columbano).
Mas a maioria da figuração feminina neste museu é, de facto, da ordem do imaginário, um imaginário que, de certa forma, povoa o espírito guerreiro: alegorias da vitória, da fama e da glória ou dos lugares de conquista, guerreiras ou anjos protetores, mas também assombrações do terror, esposas, mães en-lutadas e carpideiras, ou ainda deusas, ninfas e Nereides, aparições sensuais de amantes longínquas.
Na sombra destas, podem contudo supor-se também mulheres discretas, his-tória invisível nos bastidores dos objetos necessários à guerra e à vida que con-tinua: laborando uma arma, um agasalho, uma maca, um curativo ou uma oração, em especial no contexto da guerra de 14-18. Para além do museu, as histórias reais acumulam-se tanto como as suspeitadas, imaginadas, ou absur-das — como a acusação de espionagem hipotética a Sonia Delaunay, em abril de 1916, por as suas telas abstratas, a secar ao sol na casa da Rua dos Banhos de Vila do Conde, terem sido vistas por alguém como avisos em código aos submarinos alemães que passavam ao largo: no fundo, um outro tipo de parti-cipação na guerra que a certas mulheres se poderia imputar.
Seguindo à letra a designação corrente da Guerra 14-18 como “guerra das trincheiras”, e sob os exemplos inspiradores da Cruzada das Mulheres Portu-guesas, de algumas mulheres das gerações de vanguarda feminista no nosso país e, em especial, das mulheres construtoras de trincheiras na frente do Rio Piave (Norte de Itália), este projeto toma como alegoria a construção de uma trincheira.
Assim, a invocação desse reduto bélico expressivo da ação dupla de defesa-e--ataque surge aqui corporizada por gestos ancestrais de labor e de potencial solidariedade feminina e pacifismo na especificidade das linguagens plásticas e pictóricas usadas (pequenas pinturas sobre tela e um objecto instalativo), num tempo em que as trincheiras reais são obsoletas e um outro tipo de guerra
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menos visível — a de iníquas e recorrentes violências de género, frequente-mente associadas ao terrorismo — parece estar de regresso e para ficar, a não ser que as próprias mulheres pensem e ajam mais decisivamente.
Isabel Sabinoabril de 2016
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A Menina (não) fica em casa, 2016. Acrílico sobre tela, dimensões várias (pequeno formato).
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Mulheres de Armas, 2016. Acrílico sobre tela com medalha, pequenos formatos
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Miss Maria, 2016.
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6 OUTUBRO — 15 NOVEMBRO 2016
LINK PARA MEMÓRIA DO ESQUECIMENTOGLOBAL
JOÃO ROCHA DE SOUSA
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O Prisioneiro, 1980. Com a participação de Lima Carvalho, 23’28’’.
A Tempestade, 1991. Com participação de Fátima Mendonça, 26’29’’.
O Atelier do Pintor, 1983-1984. Com a participação de Rogério Ribeiro, 20’41’’.
A Praga, 1989. Com a participação de Ana Machado e Fátima Mendonça, 26’05’’.
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Portanto a urgência de dizer. Dizer apesar dos limites, contra ou por dentro das convenções. Mesmo quando não se refazem, as convenções podem sobre-por-se ou misturar-se. Fernando Pessoa dizia imagens com palavras e usava as convenções, inteiras ou distorcidas, adequadas à forma expressiva de cada heterónimo, poetas diferentes que o habitavam, emergindo misteriosamente para a vida.
Sento-me, exausto, e penso na metamorfose da escrita em imagem ou da ima-gem em escrita.
No meu livro “AS COINCIDÊNCIAS VOLUNTÁRIAS” tentei dar a ver esse fe-nómeno, sobretudo o da pintura brotando da escrita, entre composição, ritmo e ressurreição plena do espaço adjectivante. E à medida que participava na guerra, olhando mais tarde para os desastres principais, personagens ilustra-dos no limite da morte, tudo se fazia imagem, absurda ou conceptual, e mes-mo há dias cheguei a perceber que a globalização atual cercando o mundo, é um espaço que desfaz culturas e não nos oferece alternativas. Ainda nem todos perdemos a memória. A memória que resta, é ainda dimensão de servi-ços sem conta. Na vida e na arte. Sem conta, reinicia a consciência do ver, não explica o que se vê: abre caminho ao lugar das coisas, confunde-se com elas. E é então que tudo começa: a dicotomia da imagem e da palavra, por exemplo.
Um homem, sentado na fonteira do mundo sem o saber, inventa-se pelas imagens aparentemente perecíveis ou inúteis. O cenário aparente: terra sol-ta, arbustos, a nuvem que passa (imóvel) por cima da sua cabeça, além de uma casa ardida, ruinas de outros tempos, a carcaça de um barco naufragado. O homem olha e não sabe se chega a ver, apropriando-se do sentido das coisas, como fazem os pintores pelo testemunho e pela revolta das suas representa-ções. É através de um certo olhar, de um certo ver, do mundo conceptual e do imaginário interior que muitas coisas se podem reinventar e estimular a
A ESCRITA DENTRO DA IMAGEM
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resistência da nossa espera. A região das palavras/imagens leva o homem a estremecer, imaginando outra verdade, símbolos e mitologias. Como nos so-nhos. Como entre corpos.
Assim digo e imagino a minha pintura, inquieto perante o mundo que me ro-deia e cujo sentido se perde cada vez mais. Por isso escrevo as imagens, arbus-tos, a aparente permanência na vida e os detritos das últimas batalhas. E, em-bora muitos corpos estejam já retidos na margem do pó, consumindo devagar as raízes no milagre da vida.
Quem fica, e sobretudo os artistas, inventam outros contornos, palavra a pala-vra, reiterando a cosmografia de novos símbolos — como se o olhar, cavalgan-do pela perceção a nuvem efémera, pudesse esboçar novos limites de opacida-de, improváveis lugares.
João Rocha de SousaLisboa, julho de 2016
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Vitrina 1, Mobilidades, 1970-2016.
Vitrina 2, Famílias, 1981. 7 Pinturas / colagem.
A Cruz de Cinco Pontas, 1998. Técnica mista, Pintura / colagem, 90 x 90 cm
Força de Interposição, 1998. Técnica mista, Pintura / colagem, 90 x 90 cm
Morada de Deus, 1997. Técnica mista, Pintura / colagem, 90 x 90 cm
A Morte da Inocência, 1997. Técnica mista, Pintura / colagem, 90 cm x 90 cm
Lembrança Branca, 1998. Técnica mista, Pintura / colagem, 90 x 90 cm
Medo e o Ferro, 1998. Técnica mista, Pintura / colagem, 90 x 90 cm
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29 NOVEMBRO — 30 JANEIRO 2017
GUERRA E ESPELHOS
ANTÓNIO TRINDADE
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Nas Salas da Grande Guerra do Museu Militar, a proposta por mim apresen-tada tem como objetivo criar um jogo de espelhos mediante a sugestão de pequenas aberturas ou rompimentos virtuais dentro do espaço real interven-tivo. Nesses rompimentos do espaço do Museu confrontam-se em conjunto uma série de pinturas que se agregam a espelhos formando com estes novos objetos de confrontação óptica. As pinturas mostram-nos imagens icónicas e representativas da melancolia, da saudade, da ausência, da viuvez, do medo, do horror, da morte, do instante da morte, do sofrimento em ação. O caracter monocromático pelo seu tom neutro desta série de pinturas inéditas, nunca antes expostas mas realizadas entre 2000 e 2002, foi selecionado de forma a contrastar e a integrar de forma mais eficaz o espaço e as outras obras en-volventes que integram permanentemente o Museu, já de si rico de formas, tons e cores diversas, ao mesmo tempo que os espelhos que se agregam nas pinturas prolongam estas virtualmente e simetricamente, refletindo ao mes-mo tempo outros espaços virtuais. Criam-se assim fragmentos de outros mi-croespaços que se desmultiplicam consoante a mobilidade do observador-es-pectador à medida que deambula pelo espaço expositivo. Os espelhos foram também eles objeto de intervenção onde o gesto pictórico neles assinalado com derrames de manchas “de sangue” remetem-nos para a má memória da violência, da guerra e do ato do sofrimento e da morte em plena ação. A mancha sanguínea sobreposta aos reflexos pictóricos que se articulam ao mesmo tempo com os reflexos do espaço envolvente cria uma tensão, carac-terística que é paralela e é metáfora da dinâmica da própria guerra em ação. Esta tensão que desmultiplica o espaço envolvente criando outros subespa-ços virtuais e outros espelhos, digamos assim, requerem a mobilidade visual do espectador que é transformadora do espaço imóvel do Museu median-te o confronto de representações reais e virtuais, de reflexos oculares, de novas pinturas justapostas a pinturas e a arquiteturas preexistentes. Todo este jogo de reflexos e de derrames pictóricos de imagens de saudade, luto e sofrimento suscitam e aceleram uma anamnese no espectador que em última instância reivindica a aparente utopia do estabelecimento da paz no mundo em que vivemos.
António Trindade9 de outubro de 2016
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9 MARÇO — 30 ABRIL 2017
ENTRE A TERRA E O CÉU
JOÃO PAULO QUEIROZ
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Entre a Terra e o Céu, 2009-2016, 64 pasteis sobre papel, 29 x 21 cm
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Hoje a vida desenvolve-se em volta da felicidade fácil dos sorrisos do facebook. Toda a gente é feliz, a vida é sorridente! O planeta não é redondo, é apenas superfície. Superfície polida de preferência, brilhante, sorridente! Essa felici-dade excedente de si própria é contagiante, viral! Pandémica! O esgar do riso entranhou-se, estático durante os segundos necessários, já sem necessitar de ensaios. Toda a gente o articula com um jeito que parece inato, tal como o ator que se obriga a viver o riso do personagem que encarna. Parece não haver dúvidas sobre a felicidade que todos demonstram. Parece até que ninguém se sente infeliz, desamparado, ignorado, frustrado, envergonhado, vencido, esfomeado, doente, sem morada. Parece que neste planeta ninguém tem me-dos, ninguém sofre, ninguém é consciente. Parece que todos querem parecer iluminados pela vida, pelas divindades, pelo conhecimento!
Mas para que servem essas iluminações? Para nos sentirmos felizes?
Existem hoje incomensuráveis equívocos acerca do que é ser ente. Conside-ro que esses equívocos se repercutem em conceitos como o de humanidade, o do sentir, o de conhecer, assim como em todas as declinações dos verbos ser e haver, muitas já em desuso na comunicação corrente…
Mas para que serve interrogarmo-nos, para que serve percebermos, ou apenas conhecermo-nos, aos nossos limites máximos e mínimos, como, o quê e por-quê temos sentimento ou “pré-sentimento”?
Por regra, o conhecimento adquire-se quando se consegue identificar padrões. Quando se encontra a coerência da reconstrução de mundos, elos que unem elementos até aí desconexos, quando se entende a interligação do que é móvel e cíclico no ente, do espelho e da transparência do eu e do outro. E, este refle-xionar, é já aquilo que normalmente se designa por ciência, por gnose ou por êxtase. Deveria ser apenas a partir deste ponto que à vivência da vida era dada
JOÃO PAULO QUEIROZ E A PROCURA DA GNOSEDora Iva Rita
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autoridade para sorrir. Interiormente fascinados poderíamos então sorrir. Sen-tir a amplitude do regozijo, rindo.
João Paulo Queiroz pinta ao usar a pictoralidade como meio de aproximação a um território modelo onde o seu ente se reflete em recolhimento. Esta ex-pansão espiritual contida, como um artista-asceta na procura do não visível na visibilidade das coisas onde se transmuta. Porque o ver do olhar concentrado do pintor acaba por ser uma transmutação do ente na coisa que vê. O autor torna-se no que pinta desvelando os padrões mentais que unem ente e mundo natural. Porque o desenho é um ato mental.
Este autor inicia um percurso laboratorial ontogénico sobre um determinado ecossistema complexo existente num determinado território de cerca de 300 m2 e reanalisando-o ciclicamente, num período em que o eixo da terra está perpendicular ao sol. Esta proximidade sugere-nos que o seu objeto funda-mental seja a luz ou a sua incidência sobre as superfícies do mundo e as mo-dificações que lhes provoca. Se é verdadeiro que a nossa espécie é cega para além dos 370-750 nm (nanómetros), também acontece que a variação daquilo que vemos e que existe perante o nosso olhar está em permanente mutação devido à impermanência da luz natural. É apenas esta pequeníssima faixa de 380 nm do espectro electromagnético que se tem quando se trabalha com a visualidade do mundo, portanto, estamos a falar de um trabalho altamente contido e analítico que tem de se submeter a uma metodologia muito rigorosa com o agravo de exigir precisão e rapidez na captação das gradações lumínicas devido à fugacidade da modelação dos momentos de incidência da luz sobre as superfícies.
Como um pensador cujas ferramentas são os olhos e a luz, JPQ desenvolve uma pintura metódica, analítica e imparcial. Referenciando-se por um calen-dário antiquíssimo, cósmico, o autor procura a qualidade da luz visível, inves-tigando as materialidades com que modela as formas. Perceber a luz, impos-sível de ver diretamente ou na sua máxima intensidade mas apenas através da reflexão nas coisas que ilumina, é perceber e comungar a essência das coisas, neste caso, do território eleito.
Um território mítico, estranho e misterioso, quanto mais não seja pela espe-cificidade que lhe foi incorporada pelo pensamento, fé ou imaginação ativa de tantos milhões de seres humanos. Uns 300m2 eleitos na imensidão do pla-neta, escolhidos para ensaiar a reflexão da luz. Como um sorriso interior de comunhão com o mundo.
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O riso, no ente, ilumina-o! Porque vibra, modela-o indeterminávelmente como luz invisível para os olhos. É nele que se revela o milagre da conjunção do ente com um todo, qualquer que este seja, e que naquele instante se transforma em entu-siasmo de recompensa. Ao riso não se olha para o ver mas para se percepcionar a iluminação que provoca. Por isso é contagiante. O riso, o sorriso, comunga-se!
É apenas por isto que os rires e sorrires ataráxicos dos Facebook são tão morbi-damente visíveis aos nossos olhos… Fixados como esgares não iluminam ros-tos, modelam-nos apenas através da forma…
Evocar a tragédia coletiva fruto da ignorância, avidez e oportunismo de uns sobre outros é trazê-la à superfície da consciência, repensá-la e reorganiza-la metaforicamente ao nível da catarse.
Evocar os antepassados, honrá-los e apaziguá-los é uma tradição muito antiga que a Oriente ainda tem grande importância.
Nunca se saberá quantas vítimas causou a 1ª Grande Guerra mas foram mui-tas, demasiadas. E não apenas gente humana porque todo o ser vivo foi nela martirizado. Os equídeos, “recrutados institucionalmente”, os cães e os pom-bos foram os que mais diretamente intervieram no drama. Mas quantas flores-tas não foram dizimadas, quanta terra não foi esventrada exatamente como se corpos humanos fossem…
Neste ano de 2017 completam-se 100 anos sobre o auge deste conflito sob a indiferença do nosso atual riso cristalizado, ou “petrificado”, do Facebook. Talvez já não se consiga atingir o sentimento, talvez tenhamos desistido da humanidade que nos calibrava e definia como “seres humanos”, talvez seja já uma das visibilidades do Antropoceno. Talvez as tragédias tenham sido maio-res e mais injustas do que era possível.
Evocar este primeiro grande conflito global não é apenas relembrar a dor e os atos de bravura ignorada mas também reconhecer a dor e a valentia com que estamos obrigados a viver. A guerra escraviza o sentido da civilidade com tal enraizamento que torna muito difícil refazermo-nos íntegros.
Num território modelo, através da árvore, JPQ tenta encontrar qualquer sinal de humanidade evocativo dessa integridade perdida. Apenas a natureza no seu correr, a árvore, está ainda apta a ser um elemento redentor. Um elo entre as tragédias dos humanos e a indiferença do tempo. Árvores como um pequeno exército, árvore como um soldado desconhecido. Árvore como elemento que une a terra ao céu — tal como cada ente se deveria reconhecer.
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Qualquer atitude parece sempre pequena para evocar o drama coletivo, apenas o ser-se mártir dessa dor, da dor do Outro que somos nós próprios, a pode resgatar e possibilita que cada um de nós seja incorrupto. Como a luz que irradia da energia que se reflete das superfícies dos corpos e que varia de momento a momento… Por isso o riso é libertador, assim como as obras que João Paulo Queiroz apresenta na Sala da Grande Guerra do Museu Militar de Lisboa, numa exposição que intitulou Entre a Terra e o Céu, umas das muitas ações de arte atual comissionadas pelo pintor Ilídio Salteiro e que constituem a evocação da 1ª Grande Guerra no Museu Militar de Lisboa.
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CAMPO SANTO
MANUEL GANTES
7 NOVEMBRO — 7 DEZEMBRO 2017
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Campo Santo 1/20, 2017. Óleo sobre tela, 20 x 16 cm
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Cristos das trincheiras. Céu negro, sem luz, linhas de sombra. A pintura como evocação de um tempo transversal, um tempo que nunca se repete e no entan-to é um tempo de desgaste. Sombra celeste.
Flandres, vale da ribeira de La Lys, dia 9 de Abril de 1918, os soldados portu-gueses são massacrados pela máquina de guerra alemã.
A consciência, as trincheiras do medo e da impotência que se abatem peno-samente sobre este pequeno país, o fogo, as chamas, a guerra, as vítimas, no limite todos vítimas mas uns mais que outros. Os outros.
Écran branco ou negro? Rarefação ou saturação? Natal, Páscoa, Carnaval ou Quaresma?
Pontuação, valor estrutural? O quadro, o enquadramento é limitação necessá-ria. O quadro dentro do quadro. Visível e legível. Inconsciente?
Um conjunto. O todo e as partes. Vasos comunicantes. Quadros de guerra. Linha de fogo. Fio de tempo. Sempre fora de campo mesmo nas imagens mais fechadas — porque existe a imagem espiritual. Ou a imortalidade cósmica (Borges) ou o infinito azul (Poe). Que realidade espiritual?
Espaço e tempo (para Borges, em pensamento, podemos prescindir do espaço mas não do tempo).
Os sentidos… O tempo flui… O tempo é movimento perpétuo… somos coi-sas nos espaços do tempo… A memória é feita, em boa parte, de esquecimen-to… a memória é morte (el olvido es la muerte)… A invenção da eternidade… A memória: o presente do passado. Para Platão o tempo era a imagem móvel da eternidade… No entanto o ser é mais que o universo, mais do que a eternidade.
CAMPO SANTO, TERRA QUEIMADA
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Tudo é superfície… e a economia? A economia da superfície…
O momento presente: o presente contínuo fora do tempo…
Presente contínuo. O outro nós. O outro em cada um. Fora de campo. En-quadramento: a ordem do visível?...geometria da guerra. Divisão, deriva. Divisível. Cristo nas trincheiras… Perspectiva no tempo, horizonte, ponto de vista… estado primitivo. a tendência escondida, plano destruído.
Linhas de luz. Luz negra. Sombras de luz. Restos de Luz. Rastros de luz. Mor-rem amando. Fuga para a frente. Maternatura. Alma Mater. Ver a luz. Restos de luz. Luz morta. Memória de luz. Linhas de Lys. Céu sem cor, cristos de guerra, cristos da guerra. Cristos das trincheiras. Nós fomos os outros.
“(…) Fala-se antes e sobretudo de desvios, de escapatórias, de falsos caminhos. E quem hoje vive num país europeu sabe como muitos não resistem à tensão atroz — uma tensão que se estende do conflito pessoal entre a necessidade de repouso e a capacidade de decisão, que se estende da necessidade material mais simples e inadiável às questões mais gerais e no entanto prementes da política, do futuro económico, social e cultural — uma tensão a que ninguém escapa ileso. E se, não obstante, a juventude tenta escapar ilesa, por conscien-ciosa que seja no modo como interprete a sua fuga, ainda assim traz na testa a marca de Caim, a marca de quem traiu o irmão.”1
A exposição consta de cerca de duas dezenas de pequenas pinturas criadas expressamente para a ocasião, instaladas provisoriamente no espaço do Mu-seu Militar.
Manuel GantesRoma-Lisboa, Agosto/Setembro de 2017
1 Annemarie Schwarzenbach, “Morte na Pérsia”, p.14. Tradução de Isabel Castro Silva, Tinta-da-China, Lisboa, 2008.
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GRAVIDADE
JOSÉ TEIXEIRA
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Cai chuva, granizo e neve. Uma chuva diluviana e gélida. Não sinto os pés. A roupa encharcada cola-se ao corpo. Se ao menos pudesse trocar as peú-gas e enxugar as botas. Chove há meses. A trincheira acumula a água. Vive-mos num charco nauseabundo. Chove e o frio glacial sobe das falanges até à nuca. Às vezes ficamos submersos até à canela. Quando a chuva cessa e a água escoa, é a lama. A trincheira é um pântano que, ao movermo-nos, nos cola ao chão. Descalçamos as botas. Torcemos as meias esburacadas. Vol-tamos a calçar as botas descosidas e rôtas de tanto esperar.
Porque esperamos? Às vezes deseja-se a morte — imagino-me a saltar a trincheira e a correr louco e desesperado em direção à linha de fogo do ini-migo que está entrincheirado cinquenta metros à frente. Uma bala num órgão vital e num segundo tudo se consuma. Acaba-se a espera infindável, o medo, a morrinha nos ossos, o lento apodrecimento nesta metamorfose da lama. Lama, eis o que somos. Foi para isto que alguém insuflou de vida o pó pri-mordial. O sofrimento é tanto que nos deixa o corpo dormente. Perdemos a noção do tempo. Que dia é hoje? A cabeça zune com o fragor dos estampidos. Quantos dias se passaram desde que nos enterraram aqui vivos? É de novo noite. E nós aqui encurralados debaixo do ensurdecedor silêncio.
Uma trégua.
Passo a passo percorre-se o caminho (às vezes sem sair do mesmo sítio) que conduz cada um ao seu destino.
Gravidade, com tudo o que tem de ambíguo, consta de uma instalação es-cultórica, que contou com a participação de setenta e sete pessoas, homens, mulheres e crianças entre os dez e os oitenta anos. O projeto, iniciado em Abril de 2016, partiu da ideia de representar um cen-tésimo das vítimas portuguesas na grande guerra. A evocação dos que mor-reram há cem anos serve para lembrar, no presente, os milhares de migran-tes, os refugiados, oriundos de zonas de conflito bélico, as crianças soldados recrutadas por grupos extremistas e, simultaneamente, para celebrar a vida simbolicamente representada nos setenta e sete participantes que comigo co-laboraram na elaboração deste trabalho.
Segundo a estatística pereceram 7700 portugueses durante o conflito.
José Teixeira2017
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ERANOSBANG! BANG!
A CONSCIÊNCIA DE SI
HUGO FERRÃO
11 ABRIL — 20 MAIO 2018
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Eranos é um termo grego (erano) que significa banquete frugal entre amigos, em que cada um dos comensais se serve e partilha os alimentos trazidos por todos. Esta palavra encantatória é capaz de atingir diretamente a essência dos rituais praticados na juventude, que nos permitem inventar o futuro, questionar todas as visões que possam significar a existência. Podemos pressentir em eranos, uma ambivalência subtil, pois evocamos a materialidade do alimento para o corpo e também a imaterialidade da consciência de si, entendida como veículo do conhecimento, capaz de criar palavras e ideias transformadoras, como aquelas que faziam parte da imagética vivenciada em casa do Agostinho Sanches (1953-2009), onde se partilhava alguma coisa que se comia, mas onde se discutia e se especulava sobre livros, revistas, discos, textos pacifistas, desenhos, pinturas, máquinas fotográficas, fotografias mal impressas, e se combinavam idas aos ci-nema, às livrarias, à Fundação Calouste Gulbenkian, à Sociedade de Naturalogia de Lisboa para assistir a uma conferência de algum «mahatma», que nos trou-xesse o perfume da Índia mística, ou à Sociedade Nacional de Belas-Artes de Lisboa na esperança de reconhecer atualidade e identidade nos novos artistas portugueses como aconteceu com a nova figuração em sintonia com a irreverên-cia da Pop Art.
Na década de 70, vivíamos intensamente os últimos estertores do Estado Novo, protagonizados pelas conversas em família do Marcelo Caetano, teledifundidas a preto e branco, assistíamos aos embarques dos mancebos para as províncias ultramarinas, com o firme propósito de manter uma guerra a distância que se iniciara em 1961 e anunciava o fim do Império e dos altos desígnios impostos a um povo pobre de tudo. O regime político «orgulhosamente só», teimosamen-te afirmava a «mitologia lusitana» (António Ferro) que passava pelo sacrifício e pela resignação instaurados nas medalhas recebidas no Terreiro do Paço (10 de Junho), espécie de amputações devastadoras que criavam uma dimensão de irrealidade só suspensa pelo som das vozes de comando dadas aos «meninos da luz» (Colégio Militar) que desfilavam com todo o aprumo evocando o «zacatraz» e a divisa: «um por todos, todos por um». O respeito e a amargura desses tempos heroicos está sinalizado no meu imaginário pelo «silêncio escultórico» emanado dos claustros do Colégio, associado à generosidade do batalhão perfilado que chamava pelos alunos que haviam morrido em África, respondendo a uma só voz «presente!», para que o seu supremo sacrifício nunca fosse esquecido.
As mistificações que podem «justificar» a necessidade de uma guerra passaram a ser testemunhadas (informação-desinformação) pelas imagens fotográficas, pelos filmes mais ou menos ficcionados, pelos documentários, pela investiga-ção académica (dissertações e teses), pelos imensos ensaios, pelas coleções dos museus militares, pelos arquivos, pelos desenhos, pelas gravuras, pelas pintu-ras, pelas esculturas, pelas medalhas comemorativas, pelos monumentos, pelas
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exposições de todo o tipo e natureza, que criam uma densidade especulativa e espetacular, aparentemente tranquilizadora, perante a instantaneidade dos conflitos armados que testemunhamos quotidianamente (terrorismos), e que «justificam» viver-se num estado de exceção perpétuo (Giorgio Agamben), onde todas as opacidades repressivas são permitidas.
Lembro-me dos olhos da humanidade vitrificarem com os cogumelos atómicos de Hiroxima e Nagasaki, marcando o advento da total militarização das socie-dades. Para trás ficavam os horrores e a barbárie «artesanais» das I e II Guerras Mundiais, onde milhões de militares e civis foram imolados. Passivamente as-sistimos à industrialização da morte (campos de concentração), e aos conflitos regionais que continuam a alimentar e a orientar os destinos da humanidade com a cumplicidade mercantil da ciência e da tecnologia.
O impacto da Guerra Colonial (1961-1974), eternizava-se e era indissociável do serviço militar obrigatório ou da deserção para parte incerta, no entanto che-gavam-nos notícias fragmentadas, desfasadas, vigiadas, censuradas de um admirável mundo novo (Aldous Huxley), dos movimentos pacifistas como os Beatniks, assumindo a figura do «anti-herói» na marginalidade das obras de William Burroughs, de Allen Ginsberg e de Jack Kerouac, ou dos Hippies com o seu grande «guru», Timothy Leary, que elaborava alucinadas miscigenações entre psicologia, sociologia, antropologia e arte (psicadélica), do amor livre, das manifestações pacifistas antiguerra (I wont’t fight in Vietnam), das alternativas comunitárias radicalizando o abandono da sociedade de consumo ( Jean Bau-drillard), dos assassinatos dos Kennedy ( John - 1963 e Robert - 1968) do Martin Luther King (1968), da personagem mítica de Che Guevara fotografado pelo Kor-da (Alberto Diaz Gutierrez) com uma Leica M2, da Leni Riefenstahl e os filmes nunca vistos, do maravilhoso Picasso com a Guernica a infernizar o Franco, das latas do Andy Warhol, do Roy Lichtenstein e a banda desenhada transformada em obra de arte, do IKB (International Klein Blue) de Yves Klein, da imagética consumista da Pop Art, da sedução do Maio de 68, com toda a utopia estudantil contestatária da ordem internacional estabelecida, enchendo Paris de barrica-das e maravilhosos slogans (L’obéissance commence par la conscience et la conscien-ce par la désobéissance) e das viagens em motas velhas que nos levassem para bem longe, para o sul da Grécia.
Faziam parte do nosso imaginário, entre muitos autores como Gaston Bache-lard (A Terra e os Devaneios da Vontade), Herbert Marcuse (e o homem uni-dimensional), Carl Yung (com a ideia dos arquétipos e do inconsciente co-lectivo), Claude Lévi-Strauss (e o pensamento selvagem), René Guénon e o Titus Burckhardt (a paixão pela Sophia Perennis), Mircea Eliade (e as imagens e os símbolos), Gilbert Durand (a imaginação simbólica), Jean-Paul Sartre (os
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homens servis), Noam Chomsky (a dignidade do individuo em relação ao es-tado), Guy Debord (sociedade do espetáculo), Jean Baudrillard (sociedade de consumo) e o Roland Barthes (com o sistema da moda), discutidos com a música de fundo do Wagner para nos lembrar da condição humana e dos mi-tos que nos habitam, ou ouvindo os protestos alternativos da Janis Joplin, do Jimi Hendrix, do Bob Dylan, do Zeca Afonso, do Ravi Shankar, da Joan Baez, do Miles Davis, dos Beatles, dos Led Zepplin, os Pink Floyd, os Doors, do Adriano Correia de Oliveira, do Leonard Cohen, do Otis Redding e do Léo Fer-ré, cujas letras e musicas nos inflamavam e nos faziam reconhecer a necessi-dade de assumir posicionamentos de resistência (Ni Dieu Ni Maître) como era o caso da objecção de consciência fervorosamente e calorosamente discutida em casa do Agostinho.
Estas inquietudes sobre a consciência de si, evitaram em mim o consenti-mento, o esquecimento e a resignação, em grande medida, porque tive fi-guras tutelares como a Hannah Arendt (Desobediência Civil), o Henry David Thoreau (A Desobediência Civil) o Martin Heidegger (Carta sobre o Huma-nismo) e o Mahatma Ganghi (e os protestos pacifistas) que eram capazes de descarnar os protocolos de sacrifício impostos aos outros esvaziando e mumificando (Mário Perniola) qualquer horizonte de humanidade. O espectro da Guerra Colonial marcou profundamente a minha geração, o nosso imaginário estava habitado por imagens que geravam uma tensão conflituosa in-suportável, que não era possível apaziguar que tinha inevitavelmente de acabar.
Ao intitularmos esta instalação como: «Eranos — Bang! Bang! A Conciênca de Si», pretendemos evocar um mitema libertador, intuído no enigma ocasio-nal da negação de uma cultura de sacrifício e esquecimento. O processo de «coisificação - industrial» desta exposição tenta acentuar intencionalmente a dimensão de «colectivo-anónimo», de «linha de montagem» e da precarieda-de dos seres, a forma de o expressar passou pela criação de desenhos que fo-ram tratados em computadores e projectados por intermédio de ampliadores analógicos (Durst 138 S), utilizando-se cartão reciclado canelado em painel (Proforma-Guimarães), com uma espessura capaz de manifestar a fragilidade do corpo na presença das balas, este cartão foi serrado e posteriormente pin-tado recorrendo a moldes (seleção de cores) que obrigavam ao nivelamento das formas (apagamento da individualidade) provenientes da matriz fotográ-fica utilizada. As cores são lisas, uniformizadas, impessoais e foram aplicadas com pistola, rolo, trincha, spray e outros instrumentos feitos especificamente para que não existisse grande controle actuante, mas que instaurassem as ca-dências monótonas da produção industrial. O balão «Bang!», é uma apropria-ção fragmentada do Roy Lichtenstein e colado acidentalmente sobre o corpo das figuras. Os números e letras (código de série) são riscados e pintados por
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intermédio de alfabetos em chapa e nas costas de cada um dos soldadinhos, estão inscritos números do balanço estatístico dos países envolvidos na I Guerra Mundial, dos mobilizados, dos mortos, dos feridos, dos desapareci-dos e dos prisioneiros (Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes).
Pretendia conceber um dispositivo imagético convocando as imagens dos solda-dos impressos em cartolinas que se recortavam e se colocavam em pé dobrando a base e com os quais se brincava às guerras. Estes soldadinhos adquiriram a es-cala real, representam jovens do Colégio Militar do curso (1966-1973), portadores de números que lhes foram atribuídos e os identificavam, mas que ao longo dos anos foram simbolicamente atingidos (Bang !) por todas as desilusões e imagens de guerra a que estiveram expostos.
Estas «coisas efémeras» com a configuração «meninos da luz» são simultanea-mente um tributo aos jovens que na sua candura e generosidade participaram morrendo ou sobrevivendo na I Guerra Mundial, ao meu saudoso amigo Agos-tinho Sanches, com quem partilhei as angustias dos «dias de chumbo» e as alegrias da inexistência do serviço militar obrigatório, aos camaradas do curso do Colégio Militar, presentes como árvores frondosas, portadores de códigos e valores espartanos transmitidos e vividos durante toda a existência, à ligação inquebrantável gerada entre eles, forjada na endurance das «firmezas», nas idas a Mafra, nas formaturas, nas praxes, na instrução militar, nas salas de estudo, no toque de alvorada que nos despertava para as manhãs luminosas anunciado-ras do futuro (carpe diem). É também o reconhecimento pelo engenho e arte dos militares como o meu avô, que profissionalmente prepararam milhares de jo-vens para olharem a morte de frente sendo capazes de a saudar com um sorriso, testemunhado por estas pinturas que nos cercam e nos olham dizendo na sua visibilidade: «Lembrem-se !…». Termino reconhecido pelo enorme contributo dado pelo Director do Museu Militar Coronel Luís Sodré de Albuquerque e pelo pintor Ilídio Salteiro ao realizarem um conjunto de exposições subordinadas à evocação da I Guerra Mundial como actos de memória que só a dimensão da arte nos pode fazer sentir e compreender.
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CORPOS DESCONHECIDOS
ARTUR RAMOS
28 SETEMBRO — 28 OUTUBRO 2018
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Corpos Desconhecidos corresponde a um conjunto de oito desenhos a grafite sobre papel, representando corpos de soldados no campo de batalha, desnu-dados, em poses vivas mas estáticas e envolvidos por rostos e expressões de personagens femininas alusivas à morte, à vida e aos afetos, que efetivamente são os assuntos primordiais que ocupam a mente de todos os que participam numa guerra.
Estes desenhos, colocados sob uma pintura de grandes dimensões de Adriano Sousa Lopes intitulada Avanço para a 1ª linha, contribuem de modo decisivo para vermos esta obra como um retábulo laico porque universaliza os atos sa-crificiais implícitos no titulo e porque se apresenta como predela conceptual de uma narrativa baseada em volumes e luz e em corpos e rostos anónimos com uma estrutura clássica excelentemente concebida que os organiza.
Esta predela salienta o todo que se representa na pintura de Sousa Lopes, onde se regista o avanço das tropas do Corpo Expedicionário Português para a primeira linha da frente de combate enquanto a população civil francesa retira penosamente para a retaguarda.
A intervenção de Artur Ramos nesta sala torna-se numa proposta que provoca inquietações e reflexões sobre o papel que desempenhamos dentro de uma entidade coletiva, difícil de consciencializar por tão envolvidos que estamos dentro dela. Encaminha-nos igualmente para analogias com as inúmeras ba-talhas travadas no quotidiano que, se por um lado nos dificultam as escolhas e as opções pelos rumos da Vida, por outro reforçam solidariedades em torno de causas.
Trata-se de uma proposta desenvolvida propositadamente para este espaço, que nos remete para o corpo, para a identidade e para um relacionamento entre o ser e os paradigmas clássicos. A instalação Corpos Desconhecidos re-
PREDELA DE UM RETÁBULO LAICOIlídio Salteiro
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força os monumentos que exaltam a memória do soldado que o tempo deixou perder. Um Soldado-Humanidade, com valores clássicos da Luz, do Equilíbrio e da Proporção à procura de uma Harmonia utópica.
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ALFARROBEIRA
J. ROSA G.
23 MAIO — 30 JULHO 2019
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Alfarrobeira é uma intervenção em forma de livro de J. Rosa G. nas salas da Grande Guerra onde se homenageia o Infante D. Pedro (1392-1949), um prínci-pe morto num campo de batalha nas margens da ribeira de Alfarrobeira, pró-ximo de Alverca, no dia 20 de maio de 1449. É um Livro que se abre para dois lados: o lado do Pedro e o lado do Pranto. Em Pedro apercebemo-nos dos valo-res do conhecimento, em Pranto lastimamos a ocultação desse conhecimento
Sendo um príncipe culto e amado por todos, profundo conhecedor do seu tempo, a sua morte alterou o rumo da História, porque, sem esta batalha e com D. Pedro, tudo teria sido diferente.
E a Grande Guerra que se evoca aqui, sendo uma guerra mundialmente as-sumida por todos, com muitos soldados desconhecidos de ambas as partes, é igualmente uma ocorrência que alterou o rumo da história. Sem ela tudo seria diferente.
Esta relação entre estes dois momentos, pode ser descoberta na sensibili-dade própria do investigador-artista que relaciona o irrelacionável, que diz o indizível, que questiona incessantemente as origens das coisas e dos factos, sempre com uma atitude construtiva de perspetivar outros futuros.
Verificamos que as coincidências entre estes dois factos são o tempo e os lugares percorridos por todos aqueles que buscam soluções para o mun-do, tanto de forma consciente como de forma natural. Lugares como Arras, Bruges, Gante, Bruxelas, Lovaina, Nuremberga são por onde passaram o in-fante D. Pedro em 1425-26, seguramente o primeiro português a viajar pela Europa, numa longa viagem que o leva a conhecer cinco países ao longo de dois anos, num périplo que nos esclarece sobre a sua grandeza intelectual, cultural e humanista.
ALFARROBEIRA DE J. ROSA G.Ilídio Salteiro
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São também estes lugares, onde, entre 1916 e 1918, milhares de soldados deram as sua vidas por causa das raízes de uns e de outros. Soldados desconhecidos, não por não se saber a sua identificação, mas porque não lhes foi dado o tempo necessário para nos disserem o que eram e qual seria a sua missão no mundo. Soldados desconhecidos evocados neste evento sob o pretexto do infante D. Pe-dro, um príncipe português do século XV, humanista, a quem não foi dado o tempo e o espaço para exercer o seu saber. Se o fosse tudo seria diferente.
O que J. Rosa G. nos propõe é o questionamento do destino perante a vida e a morte, perante Pedro (pedra-príncipe) e o Pranto, perante a sensibilidade estética ao estruturar um livro-obra como lugar de registos do pensamento vivo e universal em sintonia com o seu tempo. Uma evocação dos desconhe-cidos de uma guerra grande e mundial e de uma batalha pequena e localizada nas margens de uma ribeira. Temos deste modo três tempos, 1449, 1918 e 2019 em sintonia, por intermédio de uma obra baseada em factos que inevitavel-mente nos supera a todos.
Uma obra que resulta de investigação histórica, de pensamento estético, de intuição envolvida na procura da essência da arte. Pedro e Pranto, um livro sobre a batalha da Alfarrobeira também é sobre a força do ser e da emoção, so-bre a questão da ausência e sobre o destino. Pedro e Pranto é um pensamento sobre como o mundo poderia ser diferente se uma batalha, ou se uma guerra, não tivessem existido. Um pensamento sobre os prantos e os nossos arquéti-pos civilizacionais de ontem e de hoje e sobre os entendimentos sociais pela palavra e pela arte.
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O que há de comum entre a Batalha de Alfarrobeira e a Grande Guerra? Entre um conflito interno e um conflito mundial? Aparentemente, nada… Alfarro-beira é o ato final de uma desgraça anunciada e a Grande Guerra é, também, uma desgraça eminente, adiada e anunciada. Em ambos os casos, há a ideia de inevitabilidade, embora pareça que tudo é solucionável sem chegar a extre-mos. Há como que um certo sonambulismo…
Em acontecimentos tão diferentes existem, inevitavelmente, pontos de contacto. Mesmo não evidentes, temos que procurar debaixo da capa do tem-po, do âmbito, das circunstâncias e das personagens. E quando essas conexões começam a aparecer, é-nos exposta a superficialidade do nosso primeiro olhar, e revelam-se as pulsões humanas que fazem com que tudo aconteça.
D. Pedro, Duque de Coimbra, também conhecido pelo Infante das Sete Par-tidas, é, sem dúvida, uma personagem apaixonante. Foi a ele que foi confiada a Regência durante a menoridade do seu sobrinho e futuro monarca. Culto e viajado, tentou diminuir a influência da aristocracia na gestão do país. Natu-ralmente, esta conceção de Estado concitou a animosidade de alguns, nomea-damente D. Afonso, Conde de Barcelos e Duque de Bragança. Com a subida ao trono de D. Afonso V e a crescente influência exercida pelo Duque de Bra-gança, o embate de Alfarrobeira era inevitável, marcando um retrocesso no processo de centralização do Estado. Em Alfarrobeira, a 20 de maio de 1449, morre um homem esclarecido, triunfam os interesses particulares e o desígnio nacional é adiado. A normalização só vai ser restabelecida, novamente com derramamento de sangue, pelo sobrinho neto de D. Pedro, D. João II.
Passados 465 anos, inicia-se uma guerra, fruto de tensões de vária ordem, mas que envolve um conjunto alargado de países. A guerra parece (in)evitável até começar. O seu início é quase um alívio. Parece que, finalmente, tudo se vai resolver. Ou esclarecer. Mas a teimosia dos homens, e a tecnologia, não o quiseram. E a guerra vai-se prolongar. Estúpida e longamente. Portugal, en-volvido desde o início em África, vai participar na guerra em França, neste suicídio coletivo dos europeus. Mas a história de Portugal na Grande Guerra
PRANTOSLuís Sodré de Albuquerque
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é uma litania de infelicidades: as operações correm mal em África e, na Flan-dres, o Corpo Expedicionário Português é destroçado em La Lys, como muitos outros corpos foram destruídos durante a guerra. E no final houve choro pelos ausentes e mãos erguidas ao céu, como se vê na tela de Sousa Lopes. Mães e viúvas. Carpideiras. Pranto.
Há coincidências geográficas, físicas e sentimentais. Na Flandres estiveram os “serranos” do CEP, e por lá terá passado D. Pedro, durante as suas viagens. Um dos filhos de D. Pedro foi Bispo de Arras, localidade nas proximidades do setor português do CEP. E D. Isabel, irmã de D. Pedro, casou com um Duque da Borgonha, suserano da mesma região. Também os símbolos cívicos portu-gueses da Grande Guerra, os dois Soldados Desconhecidos, emblemáticos do sacrifício supremo pela Pátria, estão sepultados no Mosteiro da Batalha, local de repouso eterno da Ínclita Geração, e nomeadamente de D. Pedro.
Subjacente a estes dois acontecimentos, tão diferentes pela magnitude, pela cronologia e pelas circunstâncias e intervenientes, não deixa de haver uma ideia de autodestruição e de tristeza… de pranto. Ou prantos.
E um livro.
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JOÃO CASTRO SILVA
Nasceu em Lisboa, em 1966. Licenciado em Escultura FBAUL, 1992. Frequenta o Curso “Bronze Casting” Royal College of Art - Londres, 1994. Mestre em História da Arte ULL, 2001. Doutor em Escultura FBAUL, 2010. É docente da FBAUL desde 1996 onde é, actualmente, Director da Área de Escultura e Coordenador dos Doutoramentos em Escultura.Como escultor, realiza exposições desde 1991. Individuais (selecção): 1997 MM Dr. Santos Rocha, Figueira da Foz. Galeria de Desenho, Estremoz. Casa Municipal da Cultura, Coimbra. 2002 MNB-A, RJ, Brasil. 2004 MUMA, Curitiba. MASC, Florianópolis, Brasil. 2006 TMG, Guarda. 2011 Convento Espírito Santo, Loulé. 2015 Sala do Veado, MNHNC, Lisboa. Museu Militar de Lisboa. Museu de Lanifícios da UBI, Covilhã. Prémios (selecção): 1993 1º Prémio Os Jovens e a Arte CM Amadora. 1998 2º Prémio Simpósio de Escultura de Abrantes. 1999 Menção Honrosa F. C. Gulbenkian, Culturgest, Lisboa. 2005 Prémio Dr Gustavo Cordeiro Ramos, ANBA. Simpósios (selecção): 1996 Escultura da Amadora. 2005 Montauban, França. 2006 Montjean-sur-Loire, França. Escultura de Ar Livre, Odemira. 2007 Land Art, Oliveira do Douro. 2010 Land Art Cascais, Pq Natural Sintra-Cascais. Escultura pública (selecção): Qta da Marinha, Cascais. Área de Serviço Repsol, A8. B.Braun Medical lda, Queluz de Baixo. Rotunda viária, T. Vedras. Parque de St. António, Abrantes. Heidrick & Struggles, Lisboa. Montauban, França. Novimed, Lisboa. Montjean-sur-Loire, França. Saraiva e Associados, Lisboa. Igreja de S. José, Catujal, Loures. Prime Yield, Lisboa. Praça da Liberdade, Costa da Caparica. Centro de Educação Ambiental, Torres Vedras. Faculdade de Direito
da Universidade de Lisboa. Praça de S. Pedro, Torres Vedras.
ISABEL SABINO
Natural de Lisboa, 1955. Licenciatura em Artes Plásticas-Pintura (ESBAL, 1978); estágio pedagógico do MEC (1979); agreg./equip. Dout. (ESBAL 1992); agreg. Univ. (U. Lisboa 1999). Docente no E. Secundário (1976-1982); professora em Belas Artes (ESBAL/FBAUL), desde 1982, atualmente professora catedrática. Membro do Centro de investigação Cieba (FBAUL), i2ads (FBAUP) e da ANBA (Academia Nacional de Belas Artes). Sócia da Sociedade Nacional de Belas Artes. Exposições desde 1977. Seleção recente: Individuais — Lido com ela (2019, G. Municipal Artur Bual, Amadora); Ela (2019, Salão da SNBA, Lisboa); Four seasons, please! (2019, G. Arte Periférica, Lisboa); A menina (não) fica em casa (2016, Museu Militar, Lisboa); Na volta da maré (2016, Galeria Municipal do Montijo); E os rios nascem no mar (2015, Lugar do Desenho/Fundação Júlio Resende); Talvez bombons (2014, G. Arte Periférica, Lisboa). Coletivas — - JustMadrid (2020, Madrid, com G. Arte Periférica); JustLx (2019, Lisboa, com G. Arte Periférica); Belas Artes da Academia. Hoje. (2019, Museu do Dinheiro, Lisboa); Diálogos Iberos (2016, Galeria da UFES, Vitória, Brasil); ArteMadrid (com G. Arte Periférica, Madrid, 2017 e 2018); A possible breeze. Portuguese Modern Art (2017. Minsheng Museum of Contemporary Art, Beijing, China); Belas Artes da Academia. Uma coleção desconhecida (2018, Centro Cultural de Cascais); We Are Europe (2018, Lodz Academy of Fine Arts, Poland); Belas Artes da Academia. Uma coleção desconhecida. Galeria de Pintura do Rei D. Luís, Palácio Nacional da Ajuda,
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Lisboa, 2017; De braços abertos: A sala de Ruth. Ruth’s room. Casa das Artes, Tavira, 2015;
Mais informações:umbrapicturae.blogspot.pt Textos: orcid.org/0000-0002-9514-5952
JOÃO ROCHA DE SOUSA
Nasceu em Silves, em 1938. É artista plástico pintor, professor na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e crítico de arte. Foi professor convidado da Universidade Aberta, onde investigou e lecionou Tecnologia do Vídeo. É membro correspondente da Academia Nacional de Belas-Artes, da Associação Internacional da Crítica de Arte e tem uma larga participação na programação da Sociedade Nacional de Belas Artes. Com uma larga atividade artística, expôs no país e no estrangeiro, em centenas de exposições coletivas e realizou cerca de vinte exposições individuais. Tem participado em diversos campos de criação artística e em espaços culturais de periódicos como Diário de Lisboa, Colóquio Artes, Seara Nova, Sinal, Artes Plásticas e atualmente o Jornal de Letras. Participou em muitas conferências, visitas guiadas, em paralelo com trabalho de pesquisa e ensaio em cinema e vídeo, com diversos filmes realizados. Nos anos 70 participou na Bienal de Veneza. Colaborou em várias séries sobre arte para a RTP como por exemplo Arte Portuguesa, As Coisas e as Imagens, A Mão, o Homem em Desenvolvimento entre outras. Publicou tanto estudos de carácter pedagógico, didático e técnico como por exemplo Didática Educação Visual, Ver e Tornar Visível, Desenho: Textos Pré-Universitários 19, Introdução às Artes Plásticas, como ensaios
monográficos de artistas portugueses seus contemporâneos como Pedro Chorão, Eduardo Nery ou Dourdil.No plano literário tem uma extensa bibliografia publicada: Amnésia (teatro), Angola 61 - uma Crónica de Guerra, A Casa, Os Passos Encobertos, A Casa Revisitada, A Culpa de Deus, Belas Artes e Segredos Conventuais, Coincidências Voluntárias, Talvez Imagens e Gente de Um Inquieto Acontecer, Lírica do Desassossego, Narrativas da Suprema Ausência e Os Fantasmas de Lisboa.
Mais informações:pt.wikipedia.org/wiki/Rocha_de_Sousarochasousa.blogspot.ptFERRÃO, Hugo, Rocha de Sousa: ser sem heterónimos. In: Arte Teoria. - Lisboa, 2000. - Nº4 (2003). ISSN 1646-396X, p. 73-99.
ANTÓNIO TRINDADE Nasceu em 1967 em Lisboa onde vive e trabalha. Viveu em Alcobaça até 1973. É Professor Auxiliar com nomeação definitiva na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa desde 2013. Licenciado em Pintura pela Faculdade de Belas Artes da universidade de Lisboa em 1992. Mestre em Arte, Património e Restauro, variante de História de Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em 2002. Concluiu o Doutoramento em Belas Artes, especialidade em Geometria Descritiva, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa em 2008. É membro do Departamento de Desenho da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Na vertente académica e científica, tem 16 artigos publicados em revistas, três capítulos de livro e um livro “A Pintura Integrada em Tectos e Abóbadas e a
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Perspectiva Linear”, Lisboa, CIEBA, FBAUL, 2015, distribuído pela Princípia Editora, resultante de uma parte da sua tese de Doutoramento. Paralelamente, como artista plástico, escreveu 14 textos sobre as suas exposições individuais, publicados em folhetos e catálogos, pela Galeria Arte Periférica em Lisboa e pela Galeria Sete em Coimbra. Na vertente artística, realizou também exposições regularmente a partir de 1991 até à data presente, contabilizando desde aquele ano 54 exposições colectivas e 16 exposições individuais. Tem obras em colecções como a Telecel-Lisboa, Frubaça-Alcobaça, Fundação Luciano Benetton e na Quinta das Lágrimas em Coimbra. Realizou também trabalhos artísticos por encomenda e convite para as empresas da Telecel, Frubaça e para o novo Centro Pedagógico de Faro, no Complexo Campos da Penha.
JOÃO PAULO QUEIROZ
(Aveiro, 1966-). Curso Superior de Pintura pela Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa. Mestre em Comunicação, ISCTE. Doutor em Belas-Artes, Universidade de Lisboa. Professor na Faculdade de Belas-Artes desta Universidade (FBAUL). Professor nos cursos de doutoramento em Ensino da Universidade do Porto e de doutoramento em Artes da Universidade de Sevilha. Coordenador do Congresso Internacional CSO Criadores Sobre outras obras (anual, desde 2010) e diretor das revistas académicas Estúdio, Gama, e Croma. Coordenador do Congresso Matéria-Prima, Práticas das Artes Visuais no Ensino Básico e Secundário (anual, desde 2012). Dirige também a Revista Matéria-Prima. Membro de diversas comissões e painéis
científicos, de avaliação, e conselhos editoriais. Consultor da FCT, Portugal. Atulamente, Presidente do Centro de Estudos e Investigação em Belas-Artes (CIEBA) e Presidente da Sociedade Nacional de Belas-Artes, Portugal. Diversas exposições individuais de pintura. Prémio de Pintura Gustavo Cordeiro Ramos pela Academia Nacional de Belas-Artes em 2004.
MANUEL GANTES
Nasceu em Figueira de Castelo Rodrigo, 1967. Professor de Desenho na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, onde realizou o Mestrado de Pintura em 2003 e o Doutoramento em Desenho em 2013. Pós-graduação em História de Arte na UNL, 1998. Expõe individualmente desde 1987, nomeadamente em Lisboa: Galeria de São Bento, Galeria IAM, Galeria Módulo, Galeria António Prates, Templo do Gato, Casa dos Dias da Água, Galeria Monumental; Guimarães, Galeria Gomes Alves; Porto, Galeria da Restauração, Galeria Canvas, Galeria Graça Brandão, Galeria da Miguel Bombarda; Roma, Instituto Português de Santo António; Lille, L’Ariap; Haarlem, Ateliers 63; Guarda, Teatro Municipal da Guarda, Museu Militar de Lisboa. Participou em exposições colectivas em Roma, Galeria Trart; Arábia Saudita; Rio de Janeiro, Lisboa; Porto; Madrid; Sofia, Rijeka; Paris; Basel; Coimbra. Participou em Feiras de Arte como o Arco, Art Basel, Drawing Room, etc, etc, integrando os pavilhões de várias galerias. Realizou viagens de estudo e investigação artística à Índia, Estados Unidos da América, Holanda, Itália, Arábia Saudita, Turquia. A sua obra encontra-se representada em importantes colecções públicas e privadas, tais como: Caixa Geral de
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Depósitos, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Fundação António Prates, L’Ariap, Ateliers 63, CAC de Málaga, Fundação Luciano Bennetton, Museu de Portimão, Instituto Português de Santo António em Roma. Integra sítios de internet como slash seconds, bem como outros por via de leilões pontuais de obras suas. Catálogos e bibliografia vária, nomeadamente com textos da autoria de Rui Chafes, António Barahona, João Miguel Fernandes Jorge, João Pinharanda, Bernardo Pinto de Almeida, etc. Algumas edições de múltiplos no CPS. E a vida continua.
JOSÉ SILVA TEIXEIRA
Nasceu a 3 de Novembro de 1960. Desde os anos oitenta, data em realizou a sua primeira exposição individual, que tem desenvolvido trabalho artístico na área da escultura. A partir da década de noventa interessou-se também, pela medalhística, (tem cerca de meia centena de medalhas editadas e é autor de duas moedas do Euro 2004; do Mundial de Futebol (2006); Jogos Olímpicos de Pequim (2008); 40 anos do 25 de Abril (2014). Foi distinguido com alguns prémios, tem obras no espaço público, em coleções particulares e em alguns museus e instituições nacionais e internacionais. Em termos académicos destaca-se a Licenciatura em Belas-Artes /Escultura, concluída em 1995; o Mestrado em Teorias da Arte, realizado em 2002; o Doutoramento em Escultura Pública, concretizado em 2009. Desde 1998 é professor na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, onde leciona os três ciclos de estudos: Licenciatura, Mestrado e Doutoramento. Desde 2016 é o regente responsável pela Unidade Curricular de Medalhística. Além do ensino e da atividade artística tem trabalhado
(desde 2001) como conferencista e ensaísta e participado em inúmeras publicações científicas, nacionais e internacionais, no âmbito da escultura, arte pública e medalhística.
HUGO FERRÃO
Nasceu em 1954. Doutor em Belas-Artes, especialidade de Pintura — FBA/Univ. Lisboa (2007). Equiparação a Doutoramento - Agregação ao 5º Grupo — ESBAL (1996). Mestre em Comunicação Educacional Multimédia — Univ. Aberta (1995). Pós-Graduação em Sociologia do Sagrado e do Pensamento Religioso — Univ. Nova de Lisboa (1992). Licenciado em Artes Plásticas-Pintura - ESBAL (1985). Prof. Associado em Pintura na FBAUL, onde cria as disciplinas de Cibercultura, Ciberarte e Realidade Virtual, Cibercultura as Imagens do Futuro (Doutoramento FCTUN em Filosofia da Ciência, Tecnologia, Arte e Sociedade); colaborou enquanto docente e investigador com as Universidades Aberta e Católica de Lisboa, do Pais Basco –FBA e de Barcelona –FBA; investigador com a fundador do Centro de Investigação em Ciberarte, e do CIEBA — Centro de Investigação e Estudos em Belas-Artes (Director; Invest. Principal da Ciberarte; Presid. do C. Científico (2006-2012); Presid. Coord. do Doutoramento da Fac. de Belas-Artes. Membro do Conselho Geral da Univ. de Lisboa (2011-2017); Membro do Conselho Geral da Esc. Artística António Arroio (2011 -2020); Vice-Presidente da AAPTA — Associação de Artistas Plásticos e Técnicos Afins; (2016-2020); Académico Efectivo da Academia Nacional de Belas-Artes de Lisboa (2018). Investiga e publica nos domínios da pintura, simbolismo, tapeçaria, ciberarte, cibercultura,
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realidade virtual e seu impacto na formalização do discurso artístico-pintura. Tem desenvolvido um projecto artístico no âmbito do abstracionismo lírico e da nova figuração. Participa regularmente em exposições colectivas desde 1985 (desenho, pintura, tapeçaria e fotografia) e realizou 11 exposições individuais (Pintura e desenho) e foram-lhe atribuídos dois prémios em Pintura.
ARTUR RAMOS
Nasceu em Aveiro em 1966. Licenciado em Pintura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa em 1992. Mestre em Estética e Filosofia da Arte pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 2001. Doutor em Desenho pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa em 2007. É docente de Desenho na FBAUL desde 1995. É autor de várias publicações sobre retrato das quais se destaca o livro publicado em 2010, «Retrato: o Desenho da Presença». Participou em inúmeras exposições das quais se destacam as exposições individuais: “Da Beleza da Sombra à Luz do Olhar”, desenhos e pinturas, na Galeria SOCTIP em Lisboa em 1992, “Desenhos”, na Galeria da Sociedade Cooperativa de Gravadores Portuguesa Gravura, em Lisboa, em 1995, “O Olhar da Paisagem”, Desenho e Pintura, na Galeria de Colares em Colares, em 2004, “Corpos Desconhecidos”, no MML em 2018 e “O Corpo da Fisionomia”, na Galeria da FBAUL em 2019. A sua produção artística questiona os limites da correção sem a perda da semelhança na representação da figura humana e em particular no retrato. Como pode um retrato ou uma figura ser mais convincente que o próprio modelo? Como pode uma representação mostrar tudo aquilo que
a pessoa é mas que dificilmente dá a ver? Estas são algumas das questões que os seus textos, desenhos e pinturas procuram formular. O seu trabalho estende-se também ao desenho de património e em particular ao desenho de reconstituição arqueológica.
J. ROSA G.
Nasceu em 1961 em Vale de Açor, concelho de Ponte de Sor.Desde 1995 efetuou mais de 120 livros de autor, únicos ou de tiragem reduzida. Exposições Individuais:1. “dos livros que não se lêem”, em 2004, na Biblioteca Nacional, Lisboa, apresentando 56 livros. Entre outros, foram apresentados os seguintes: O Livro dos Inocentes (1995), O Livro da Maçã (1995), 25 de Abril (1996), Arte Liberal (1997), Tupac Amaru (1997), USA versus IRAQ (1998), De Cervantes a Espinosa (1998), Manual de Desenho (1998), Manual de Pintura (1998), Manual do Ladrão (1998), Um Minuto (1998), Discos com Vida (1998), Grândola (1998), Um Instante no Mundo (1999), 25 (1999), Os Primeiros Segundos (2000), Um Olhar Contra Narciso (2001), A Mão do Pintor (2001), Vitória: os Burros e os Nomes (2003) e Alexandria (2003).2. “O Livro de Pan II e Outros Livros”, em 2007 no Museu da Água em Lisboa. Foram apresentados os livros: A Última Ceia (1999), Aldeia: Açor (2006), Vida First (2004-2007), Água Livre (2007) e O Livro de Pan II (2007), obra com 100 m de comprimento aberto, incluindo fotografia, desenho, pintura, colagem, gravura, serigrafia, poesia, citações, textos e música original.3. “Milagre — Elogio aos Painéis de Nuno Gonçalves”, em 2013/15 na Capela do Fundador do Mosteiro do Mosteiro da Santa Maria da Vitória, Batalha. Esta
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instalação, patente de Dezembro de 2013 a Janeiro de 2015, foi vista por mais de 300.000 pessoas e foi doada ao povo daquela emblemática vila. Na sequência da exposição foi editado no Jornal da Golpilheira, durante o ano de 2014 e em forma de colecionável, o projeto Identidades - Eco dos Painéis de Nuno Gonçalves no Portugal Contemporâneo.4. “Alfarrobeira — Livro de Homenagem ao Infante D. Pedro (1392-1449)”, em 2019 Museu Militar de Lisboa. Integrada no projeto Evocação Arte Contemporânea. Curadoria Coronel Luís Albuquerque e Professor Doutor Ilídio Salteiro.
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