QVOD ERAT DEMONSTRANDVM Os Exempla no discurso gramatical de Mário Vitorino e Élio Aftônio
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7/24/2019 QVOD ERAT DEMONSTRANDVM Os Exempla no discurso gramatical de Mrio Vitorino e lio Aftnio
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unesp UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTAJLIO DE MESQUITA FILHO
Faculdade de Cincias e Letras
Campus de Araraquara - SP
VIVIAN CARNEIRO LEO SIMES
QVOD ERAT DEMONSTRANDVMOs Exemplano discurso gramatical de Mrio Vitorino e lio Aftnio
ARARAQUARASP2014
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VIVIAN CARNEIRO LEO SIMES
QVOD ERAT DEMONSTRANDVMOs Exemplano discurso gramatical de Mrio Vitorino e lio Aftnio
Dissertao de Mestrado apresentada ao Programade Ps-Graduao em Estudos Literrios daFaculdade de Cincias e Letras Unesp/Araraquara, como requisito para obtenodo ttulo Mestre.
Linha de pesquisa: Teoria e crtica da poesiaOrientador: Prof. Dr. Joo Batista Toledo PradoBolsa: Capes/CNPq
ARARAQUARASP
2014
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Simes, Vivian Carneiro LeoQuod erat demonstrandum : os exempla no discurso gramatical de
Mrio Vitorino e lio Aftnio / Vivian Carneiro Leo Simes2014188 f. ; 30 cm
Dissertao (Mestrado em Estudos Literrios)UniversidadeEstadual Paulista Jlio de Mesquita Filho, Faculdade de Cincias eLetras (Campus de Araraquara)
ORIENTADOR:JOO BATISTA TOLEDO PRADO
l. Lngua latina -- Gramtica. 2. Lngua latina -- Mtrica e ritmo.3. Literatura latina. I. Ttulo.
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Vivian Carneiro Leo Simes
QVOD ERAT DEMONSTRANDVMOs Exemplano discurso gramatical de Mrio Vitorino e lio Aftnio
Dissertao de Mestrado apresentada ao Programade Ps-Graduao em Estudos Literrios daFaculdade de Cincias e Letras Unesp/Araraquara, como requisito para obtenodo ttulo Mestre.
Linha de pesquisa: Teoria e crtica da poesia
Orientador: Prof. Dr. Joo Batista Toledo PradoBolsa: Capes/ CNPq
Data da Defesa: 22 de abril de 2013
MEMBROS DA BANCA EXAMINADORA:
Presidente e Orientador: Prof. Dr. Joo Batista Toledo PradoUniversidade Estadual Paulista Faculdade de Cincias e Letras,
Cmpus de Araraquara.
Membro Titular: Prof. Dr. Brunno Vinicius Gonalves VieiraUniversidade Estadual Paulista Faculdade de Cincias e Letras,
Cmpus de Araraquara.
Membro Titular: Prof. Dr. Marcos Martinho dos SantosUniversidade de So PauloFaculdade de Filosofia, Letras e Cincias
Humanas, So Paulo.
Local: Universidade Estadual PaulistaFaculdade de Cincias e LetrasUNESPCampus de Araraquara
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VIVIAN CARNEIRO LEO SIMES
QVOD ERAT DEMONSTRANDVMOs Exemplano discurso gramatical de Mrio Vitorino e lio Aftnio
Dissertao de Mestrado apresentada ao Programade Ps-Graduao em Estudos Literrios daFaculdade de Cincias e Letras Unesp/Araraquara, como requisito para obtenodo ttulo Mestre.
Linha de pesquisa: Teoria e crtica da poesiaOrientador: Prof. Dr. Joo Batista Toledo PradoBolsa: Capes/CNPq
ARARAQUARASP2014
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RESUMO
Caio Mrio Vitorino, africano de origem, ensinou retrica em Roma no tempo do imperador
Constantino; teria chegado ao apogeu de sua carreira como rtor de Roma entre os anos 350 e355 d. C. Sua evidncia materializou-se por meio de uma esttua junto s de grandes outrosimperadores e funcionrios do alto escalo no Frum de Trajano. Sobre lio Aftnio,contemporneo a Mrio Vitorino, pouco se sabe a respeito de sua biografia e poucos registrosrestaram de comentrios s suas obras. atribuda a ambos os gramticos a autoria dos MariiVitorini Artis Grammaticae Libri IIII, os Quatro livros de Mrio Vitorino sobre a ArteGramatical, o manual tcnico, acerca das modalidades tcnicas mtricas para a composioartstica de poemas, sobre o qual este estudo se debrua.
Depois de pesquisa bibliogrfica a respeito da fortuna crtica dos autores, a ateno do estudorecaiu sobre a anlise do manual tcnico, o Ars Grammatica, presente no volume VI dos
Grammatici Latini, texto editado e compilado pelo fillogo alemo Heinrich Keil, em 1860, e,especialmente, dos exempla, ferramenta presente no discurso gramatical que, na obra, foi osuporte para que se discorresse sobre a flexibilidade da mtrica na poesia latina, para aelaborao de poemas. Concludas as consideraes sobre os exempla, elaboraram-se notasexplicativas para as lies poticas, bem como uma introduo em que se apresentaram osautores e sua obra.
Palavras-chave: Gramtica latina. Mtrica latina. Tradio literria. MariusVictorinus.Aelius Festus Aphtonius.
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RSUM
Caius Marius Vitorinus, africain dorigine, a enseign la rhtorique Rome au temps delempereur Constantinus ; il serait arriv lapoge de sa carrire comme rhteur Rome
entre les annes 350 et 355 d. C. Son vidence sest mat rialise par une statue auprs cellesdes grands empereurs et des fonctionnaires de plus haute poste sur le Forum de Trajan. Quant lio Aftnio, contemporian de Mrio Vitorino, peu se peut savoir propos de sa biographieet peux denregistrements sont rest avec des commentaires sur ses uvres. Cest attribue tout les deux grammairiens la cration des Marii Vitorini Artis Grammaticae Libri IIII, lesQuatre livres de Mrio Vitorino sur lArt Grammatical, le manuel technique, auprs desmodalits techniques mtriques pour la composition artistique de pomes, sur lequel se
penche cette tude.
Aprs une recherche biographique auprs dune fortune critique des auteurs, lattention deltude centre sur lanalyse dun manuel technique, lArs Grammatica, prsent au volume VI
des Grammatici Latini, texte runi par le philologue allemand Heinrich Keil, en 1960 et,spcialement, sur les exempla, qui sont un outil prsent au discours de la grammaire que, dansloeuvre, est le soutien pour que sanalyse la flexibilit de mtrique dans la posie latine,
pour organiser les pomes. Une fois conclues les considrations sur les exempla, se faonnentles notes explicatives pour les leons potiques, aussi comme une introduction qui prsenteles auteurs et son uvre.
Mots-cls:Grammaire latine; Mtrique latine; Tradiction littraire;Marius Victorinu AeliusFestus Aphtonius.
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AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Joo Batista Toledo Prado, orientador e amigo em todas as etapas deste trabalho.
CAPES/ CNPq, por seu auxlio imprescindvel.
Ao Prof. Dr. Brunno Vincius Gonalves Vieira, ao Prof. Dr. Marcos Martinho dos Santos, aoProf. Dr. Mrcio Thamos e ao Prof. Dr. Fbio da Silva Fortes, pela prestatividade e ateno.
Ao Prof. Dr. Henrique Fortuna Cairus e Prof. Dr. Tatiana Ribeiro, por muito.
Aos professores Alceu Dias Lima, Jos Dejalma Dezotti, Mrcio Thamos, tambm JooBatista e Brunno, pelas primeiras letras em Latim.
A meus pais, Almir e Maria Jos por fornecerem o maior e o melhor de todos os exemplos.
minha doce irm, Bruna, que se fez presente em todos os momentos.
A Daniel, pelo carinho, pela confiana e motivao.
Aos amigos, Daniel Leone, Nikita Ramos e Aline Polachini pela fora e pelo apoio ao longodesta jornada.
A todos esses, em especial, e a todos os outros que me tenham auxiliado em algum momento,meu sincero: Muito obrigada!
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A UM POETA
Longe do estril turbilho da rua,Beneditino escreve! No aconchegoDo claustro, na pacincia e no sossego,Trabalha e teima, e lima , e sofre, e sua!
Mas que na forma se disfarce o empregoDo esforo: e trama viva se construaDe tal modo, que a imagem fique nua
Rica mas sbria, como um templo grego
No se mostre na fbrica o suplcioDo mestre. E natural, o efeito agradeSem lembrar os andaimes do edifcio:
Porque a Beleza, gmea da VerdadeArte pura, inimiga do artifcio, a fora e a graa na simplicidade.1
1BILAC, Olavo. Poesias. Rio de Janeiro: Agir, 1972
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SUMRIO
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 11
LISTA DE FIGURAS 15
ESCLARECIMENTOS 16
CONSIDERAES INICIAIS 17
PARTE ACAIO MRIO VITORINO
I. Testemunhos antigos: esboo biogrfico 22
II. O embate entre cristos e pagos: a atmosfera espiritual de Roma no sculo IV 27
PARTE BMARII VICTORINI ARTIS GRAMMATICAE LIBRI IIII
III. A histria do texto de Mrio Vitorino: introduo de Keil 35
IV. A estrutura daArs Grammatica 39
IV. 1AArs Grammaticade M. Vitorino, as primeiras noes de prosdia e
ortografia.
39
IV. 2AArs Grammaticade E. Aftnio, o tratado de mtrica 43
V. Os exemplano discurso gramatical 48V. 1As vrias tentativas de definio 50
V. 2Demarcao: A insero do exemplo no discurso gramatical 52
V. 2. 1A marcao tipogrfica 53
V. 2. 2A marcao robusta 56
V. 2. 3A ausncia de demarcao: integracionismo 59
V. 3A questo da representao 60
V. 3. 1Representao em extenso 60V. 3. 2Representao em compreenso 61
V. 4Os tipos de exemplos 64
V. 4. 1Listas fechadas vsno fechadas (ou abertas) 64
V. 4. 2Paradigmas: conjugao e declinao 64
V. 4. 3Exemplos forjados 65
V. 4. 4Citaes 68
V. 4. 5Anti-exemplos 72V. 4. 6Exemplo herdado 73
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V. 5O discurso didtico sobre o bom uso dos exemplos 76
V. 6As funes dos exemplos 77
VI. Concluso 79
VII. Anexos
VII. 1Apresentao 89
VII. 2Listagem: os exempla de Mrio Vitorino 91
VII. 3Listagem: os exempla de lio Aftnio 105
VII. 4Rol de autores e obras 173
VIII. Referncias bibliogrficasVIII. 1Texto do crpus 181
VIII. 2Textos clssicos 181
VIII. 3 Referncias do crpus ilustrativo da obra Marii Victorini Artis
Grammaticae Libri IIII
182
IX. 4 Textos modernos 184
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
SEES DOSMARII VICTORINI ARTIS GRAMMATICAE LIBRI IIII
LI Liber primus de Orthographia et de Metrica ratione
[LI D. Voc.] De Voce
[LI D. Litt.] De Litteris
[LI D. Orthog.] De Orthographia
[LI D. Syll.] De Syllabis
[LI D. Enunt. Littm.] De enuntiatione Litterarum
[LI D. Syllm. Nat. et Conex.] De Syllabarum natura et conexione
[LI Mens. Long. et Breu. Syllm.] Mensura longarum et breuium syllabarum
[LI D. Ar. et Th.] De Arsi et thesi
[LI D. Rhyt.] De rhythmo[LI D. Ped.] De pedibus
[LI D. Met.] De metris
[LI D. C. Metm.] De colis metrorum
[LI D. Vers.] De uersu
[LI D. Poe.] De poetice
[LI D. Stro. et Antis. et Ep.] De strophe et antistrophe et epodo
[LI D. Metm. Fine seu Clau.] De metrorum fine seu clausula
[LI D. Epi. id est Metm. Ampl.] De epiploce id est metrorum amplexione
[LI D. Tom. Siu. Inc. Uersm.] De tome siue incisione uersuum
[LI D. Con. e Coll. Uoca.] De concursu et collicione uocalium
[LI D. Vit. Versm.] De uitiis uersuum
LII Liber secundus de prototypis speciebus nouem
[LII D. Dac. M. ] De dactylico metro
[LII D. Anap. M.] De anapaestico metro
[LII Iam. M.] Iambico metro
[LII D. M. Troc.] De metro trochaico
[LII D. Chor. M.] De choriambico metro
[LII D. M. Antis.] De metro antispastico
[LII D. M. Ion. AM] De metro ionico A C
[LII D. M. Ion. AE] De metro ionico CCONOC
[LII D. Paeon. M.] De paeonico metro
[LII D. M. Proc.] De metro proceleumatico
LIII Liber tertius de coniunctis inter se et mixtis metris pragmaticus
[LIII Des. Num. quae Metm. Mult.
Red.]
[Desumma numeri quae metrorum multiplicatione redigitur]
[LIII Quot ex Dact. Her. Metm. Gena.
Deriu.]
[Quot ex dactylico heroo metrorum genera deriuentur]
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[LIII D. Gnb. Metm. quae a Pent.
Profl.]
[De generibus metrorum quae a pentametro profluunt]
[LIII D. Enunt. Penti. Eleg.] [De enuntiatione pentametri elegiaci]
[LIII D. Rec. Versib.] [De reciprocis uersibus]
[LIII D. Tetra. Vers.] [ De tetrametro uersu]
[LIII D. Phal. M.] [ De phalaecio metro]
[LIII D. Trim. Vers.] [ De trimetro uersu]
[LIII D. Dim. Vers.] [De dimetro uersu]
[LIII D. Met. quae ex Penthm. et
Hephtm. tome Proprag.]
[De metris quae ex penthemimere et hephthemimere tome
propagantur]
[LIII D. Anapi. Meti. Gnb. quae ex
Her. Deru.]
[De anapaestici metri generibus quae ex heroo deriuantur]
[LIII Chor. quod ex Pent. Her. Man.] [De metro choriambico quod ex pentametro heroo manat][LIII D. Duo. Ioni. a Dact. Hex. Gene.] [De duobus ionicis a dactylico hexametro generatis]
[LIII D. Gnb. Metm. quae a Iam
Profl.]
[De generibus metrorum quae a iambico profluunt]
[LIII D. Trim. Vers Iam.] [De trimetro uersu iambico]
[LIII D. Sat. Vers.] [De saturnio uersu]
LIV Liber quartus de conexis inter se atque inconexis quae graeci
uocanti pragmaticus
[LIV D. Mets. H.] De metris horatianis
[LIV D. Num. Eor.] De numero eorum
[LIV A.F.Aph.] [Aelii Festi Aphthonii V. P. de metris omnibus explicit liber IIII]
AUTORES E OBRAS
Acc. Trag L. Accius Tragoediae
ACT. Pal.
Trag.
Anonymi Comici et Tragici Palliatae poetarum incertorum
Tragoediae poetarum incertorum
AEL. Ser.
Ver. R.
Ver. C.Ver. A.
Anonymi Epici et Lyrici Serioris aetatis uersus.
Versus reciproci
Versus aeui CatullianVersus aevi Augustei
Ann. Annianus Carmen
Archil. Arquiloco Fragmenta
Bass. Carm.
Metr.
C. Caesius Bassus Carmen
De metris, fragmenta
Frag. Bob. Fragmenta Bobiensia De Versibus
Caec. M. Caecilius Metellus Versus in Naevium
Catul. Carm.
Carm. fr.
C. Valerius Catullus Carmina
Carmina, fragmenta
Cn. Naev Cn. Naevius Bellum Punicum
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Hom. Il.
Od.
Homerus. Ilada
Odisseia
Hor. Ars
Carm.
Ep.
Epod
S.
Saec.
Ser.
Q. Horatius Flaccus. Ars Poetica
Carmina
Epistulae
Epodi
Sermones
Carmen Saeculare
Sermones
L. Cin. Gram. L. Cincius Grammatica
Luc. M. Annaeus Lucanus Bellum Ciuile
Lucil. C. Lucilius Saturae, fragmenta
Lucr. T. Lucretius Carus. De Rerum NaturaMart. I4. M. Valerius Martialis Epigrammata
Maur. Terentianus Maurus De litteris, De Syllabis, De
Metris.
Ovid. Amor.
Ars.
Epist.
Met.
Rem.
Trist.
P. Ovidius Naso Amores
Ars Amatoria
Epistulae
Metamorphoses
Remedia Amoris
Tristia
Pac. Trag. M. Pacuuius Tragoediae
Petron. Sat. Petronius Satyrica, fragmenta
Pom. S. Trag. P. Pomponius Secundus Tragoediae
Plaut. Plautus Miles Gloriosus
Sal. C. B. Iug. C. Sallustius Crispus. Bellum Iugurthinum,
Seren. Q. Serenus Liber Medicinalis.
Seru. A. Maurus Seruius Honoratus Vergilium Commentarius
Sep. S. Carm. Septimius Serenus. CarmenTib. Albius Tibullus Carmina Tibulliana
V. Ruf. Trag. L. Varius Rufus Tragoediae
Varr. Carm. P. Terentius Varro Atacinus Carmina
Verg. A.
Ecl.
G.
P. Vergilius Maro. Aeneis
Eclogae
Georgica
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NOTAES
S. n. Sem nota.
Mod. Modificado
Cf. Conferir/Comparar
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LISTA DE FIGURAS
As figuras constantes deste trabalho foram escolhidas de modo que representassem os
temas aqui abordados, asArtes Grammaticae e os poetas latinos.
FIGURA ILa Grammaire et son amphithtre d'lves.X a. C. 20
FIGURA IIVirglio e as Musas, Museu do Bardo, Tunis, Tunsia.III a. C. 33
FIGURA IIIHoratius reads before Maecenas.1863. 89
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ESCLARECIMENTOS
1. Quando, no texto, aparecerem passagens em lngua estrangeira, acompanhadas de
equivalentes vernculos sem qualquer meno a seu tradutor, tratar-se-o de tradueslivres da autora, preparadas para este trabalho;
2. Por vezes, durante a pesquisa, foi necessrio consultar obras paralelas que no mantm
relao direta com os temas que este estudo props-se tratar, desse modo e por esse
motivo, suas referncias no se localizam na seo Referncias Bibliogrficas, mas,
em vez disso, foram alocadas como notas de rodap ao fim das pginas em que foram
utilizadas como citaes. Alm disso, referncias bibliogrficas diludas no corpo dotrabalho aparecem de forma simplificada, i. e., apenas com o nome do autor, da obra e
da pgina ou intervalo de pginas que compreende a(s) passagem(s) citada(s), e
estando essas referncias localizadas, sistematicamente, em nota de rodap, uma vez
que as completas podem ser encontradas na seo Referncias Bibliogrficas.
3. Por sugesto do Prof. Dr. Henrique Fortuna Cairus, docente da Universidade Federal
do Rio de Janeiro, nas mais diversas oportunidades (encontros, reunies e congressos
fundamentais para o embasamento e progresso deste estudo), a presente pesquisa,
desde o seu projeto inicial, foi nomeada QVOD ERAT DEMONSTRANDVM, Como
queramos demonstrar, em traduo livre. O ttulo coube convenientemente ao
trabalho, uma vez que sua mltipla significao abarca dois aspectos do estudo:
primeiramente, o crpus utilizado so os exempla que M. Vitorino e E. Aftnio
utilizaram para demonstrar e ilustrar teoria potica em sua Ars Grammaticae, dessa
forma, a expresso latina reitera neste estudo o objetivo dos rtores em aliar teoria e
exemplo; em segundo lugar, a expresso tambm recupera seu vnculo com o contexto
de sua utilizao no campo da matemtica, que reitera a acurcia da percepo de
Vitorino no que tange Literatura de sua poca, ou seja, evoca a inteno do que
Vitorino buscava com sua obra, como tambm o objetivo final do presente trabalho.
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Mximo Vitorino, Csio Basso, Atlio Fortunaciano, Terenciano Mauro, Mrio Plcio
Sacerdote e Rufino, para citar aqueles que foram reunidos no volume VI da obra de Heinrich
Keil, intitulado Grammatici Latini(GL). Vol. VI: Scriptores Artis Metricae.
necessrio mencionar a existncia do projeto Scripta Latina de Re Metrica -
Traduo de fontes primrias projeto do Departamento de Lingustica da Faculdade de
Cincias e Letras - UNESP, Campus de Araraquara, financiado pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico, CNPq. Sob a orientao do Prof. Dr. Joo Batista
Toledo Prado , a partir do qual so desenvolvidos outros subprojetos, todos unidos pelo
mesmo propsito: analisar a importncia da mtrica em textos de autores latinos, segundo os
manuais contidos na obra citada de Keil.
Escolheu-se investigar a obra Marii Victorini Artis Grammaticae Libri IIII,pois esta
pesquisadora participou do desenvolvimento da primeira fase do projeto, intitulada Scripta
Latina de Re Metrica - Traduo de fontes primrias I, que se ocupou da traduo, ainda
incompleta, da obra. Em outras etapas, o projeto buscou traduzir e investigar a obra de C.
Basso, estudo que resultou na Dissertao de Mestrado Os Fragmenta de Csio Basso: leitura
crtica e traduo anotadade Francisco Diniz Teixeira (TEIXEIRA, F. D., 2005) e, em etapa
posterior em andamento, o projeto dedica-se traduo e investigao da obra Terentianus de
littera, de syllaba, de pedibus,por Mariana Peixoto Pizano, (PIZANO, M., 2012).
O discurso das Artes Grammaticae que tm como escopo a mtrica latina , como se
pretende demonstrar ao longo do presente trabalho, bastante distinto das demais Artescujo
objetivo investigar a matria lingustica do latim e que tiveram seu incio com a obra de
Palmon, mestre de Quintiliano, no sculo I, conforme Baratin (1994, 142), e floresceram ao
longo dos sculos III, IV e V com Donato, Carsio e Diomedes, entre outros.
As Artes Grammaticae abarcavam um contedo descritivo da lngua latina, ao
compreender desde o estudo dos sons e da formao de palavras at as partes do discurso, e as
suas virtudes e seus vcios, de modo a orientar a correo da leitura e da escrita, tambm de
acordo com Baratin (1994, 147). Esse modelo didtico-pedaggico parte dos elementos mais
rudimentares da lngua e avana rumo aos mais complexos. No entanto, a diversidade de
planos adotados pelos gramticos deve-se principalmente focalizao de cada tratado. Um
detalhe, como define Baratin (1994, 156), escolhido por cada gramtico para tratar mais
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FIGURA I
La Grammaire et son amphithtre d'lves
(Martianus Capella, Noces de Philologie et de Mercure, Xe sicle Paris, BnF, dpartement des
Manuscrits, Latin 7900 A, fol. 127)
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PARTE A
CAIO MRIO VITORINO
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I. Testemunhos antigos: esboo biogrfico
A maioria das informaes disponveis a respeito da vida de M. Vitorino foi recolhida
de testemunhos daqueles que o conheceram ou conservaram em textos escritos sua memria.Parte considervel dos dados biogrficos provm das obras de Jernimo e Agostinho, essas
informaes foram reunidas principalmente por Pierre Hadot (1971), Italo Mariotti (1967),
Albert Travis (1943) e Frederick Bruce (1946).
O primeiro de vrios registros sobre M. Vitorino na obra de Jernimo est presente no
livro Chronicon, escrito por volta de 380 d. C. Nele mencionada a esttua de M. Vitorino,
erigida em sua homenagem no Frum de Trajano, em 354 d. C., dada a sua importncia como
rtor para a sociedade culta de Roma, Victorinus rhetor et Donatus grammaticus, praeceptor
meus, Romae insignes habentur. E quibus Victorinus etiam statuam in foro Traiani meruit.2
[O rtor Vitorino e o gramtico Donato, meu mestre, so considerados ilustres em Roma. O
mesmo Vitorino recebeu tambm uma esttua no Frum de Trajano.]
O segundo registro data de 386 ou 387 d. C., corresponde ao comentrio de Jernimo
sobre a Epstola aos Glatas, em que o autor demonstra no apreciar os ensaios exegticos do
rtor convertido.
Non quod ignorem Caium Marium Victorinum, qui Romae, me puero,rhetoricam docuit, edidisse Commentarios in Apostolum; sed quodoccupatus ille eruditione saecularium litterarum, Scripturas omnino sanctasignoraverit: et nemo possit, quamvis eloquens, de eo bene disputare, quodnesciat. 3
[No que eu desconhea que Caio Mrio Vitorino, que ensinou retrica emRoma quando eu era criana, tenha escrito comentrios sobre o Apstolo(Paulo), mas sim que ele, enquanto esteve ocupado com o estudo da
literatura profana, era ignorante das letras seculares, e ningum, mesmoeloquente, poderia lidar de forma adequada com aquilo que desconhece.]
Jernimo quem formula para o autor o epteto Victorinus (natione)Afer pelo
qual ser reconhecido pelos psteros, sem deixar, no entanto, de criticar o estilo obscuro de
sua obra.
2 JRME, Chronicon: R. HELM, EusebiusWerke, t. VII, C. G. S , T. XLVII, Berlin, 1956, p. 239. In:MARIOTTI, 1967, 4.3 JRME,In epistolam Pauli ad Galatas commentarium, P. L., t. XXVI, col. 307, p. 308. Apud MARIOTTI,1967, 4.
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Victorinus, natione Afer, Romae sub Constantio principe rhetoricam docuitet in extrema senectute Christi se tradens fidei scripsit adversus Arium librosmore dialectico valde obscuros, qui nisi ad eruditis non intelleguntur etcommentarios in Apostolum4
[Vitorino, africano de origem, ensinou retrica em Roma, sob o imperadorConstantino, e j na extrema velhice, entregando-se f de Cristo, escreveulivros contra rio verdadeiramente obscuros e maneira dos dialticos, queso compreendidos somente pelos eruditos e escreveu comentrios sobre oApstolo (Paulo)].
Agostinho, em suas Confesiones, escritas entre 397 e 401 d. C., narra a histria que
ouvira anos antes de Simpliciano e o encontro deste com M. Vitorino, ocorrido em 386 d. C.,
segundo Hadot (1971, 14). Agostinho tomara conhecimento de M. Vitorino por meio das
tradues que o rtor de Roma, que ouvira dizer ter morrido cristo, teria feito de obrasplatnicas e, ao comentar sobre o assunto com Simpliciano, este lhe contou ter conhecido
intimamente M. Vitorino, quando estava em Roma.
Deinde, ut me exhortaretur ad humilitatem Christi sapientibus absconditamet revelatam parvulis, Victorinum ipsum recordatus est, quem Romae cumesset familiarissime noverat, deque illo mihi narravit quod non silebo. habetenim magnam laudem gratiae tuae confitendam tibi, quemadmodum illedoctissimus senex et omnium liberalium doctrinarum peritissimus quiquephilosophorum tam multa legerat et diiudicaverat, doctor tot nobilium
senatorum, qui etiam ob insigne praeclari magisterii, quod cives huiusmundi eximium putant, statuam Romano foro meruerat et acceperat, usquead illam aetatem venerator idolorum sacrorumque sacrilegorum particeps,quibus tunc tota fere Romana nobilitas inflata spirabat, popiliosiam5 etomnigenum deum monstra et Anubem latratorem, quae aliquando contraNeptunum et Venerem contraque Minervam tela tenuerant et a se victis iamRoma supplicabat, quae iste senex Victorinus tot annos ore terricrepodefensitaverat, non erubuerit esse puer Christi tui et infans fontis tui,subiecto collo ad humilitatis iugum et edomita fronte ad crucis opprobrium6.
[Em seguida, para me exortar humildade de Cristo, escondida aos sbios e
revelada aos pequeninos, recordou-se de Vitorino, a quem conheceraintimamente, quando estava em Roma. No guardarei silncio sobre o queme contou dele, porque encerra grande louvor, que s tua7graa se deveatribuir: ele, o to clebre e doutssimo ancio, o mais perito em todas asartes liberais, leitor e crtico de tantas obras filosficas, preceptor de tantossenadores ilustres; ele, que, pelo seu insigne e notvel magistrio, merecera eaceitara uma esttua no Foro romano, coisa que os cidados deste mundotm por mais excelsa; ele, at aquela idade, um adorador dos dolos e umcomparticipante dos ritos sacrlegos, com que ento quase toda a nobrezaromana, arrogante, de monstros de deuses de todo o gnero e at do
4JRME,De uiris illustribus, d. E. Richardson, T. U., XVI, I, Leipsig, 1896, p. 57. In: MARIOTTI, 1967, p.
4.5Popiliosiam, relativo a Popilius, nome de uma gens romana: Popilia.6AGOSTINHO, Confissiones, 8, 2, 3 sqq. In: MARIOTTI, 1967, 5.7O pronome tua refere-se graa divina, como se pode depreender do texto.
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ladrador Anbis monstros que outrora pegaram em armas contraNetuno, Vnus e Minerva a quem Roma fazia splicas, depois de os tervencido; ele, enfim, o velho Vitorino, que por tantos anos defendera essesdeuses com aterradora eloquncia, esse mesmo ancio Vitorino no tevevergonha de se fazer servo do teu Cristo e um beb na tua fonte, sujeitando o
pescoo ao jugo da humildade e dobrando a fronte sob o oprbrio da cruz.]
Com relao s datas de nascimento de M. Vitorino, os bigrafos dividem-se em dois
grupos, segundo Hadot (1971, 23) aqueles que no mencionam o assunto ou admitem nada
saber sobre ele e aqueles outros que afirmam, com base em conjecturas, M. Vitorino ter
nascido por volta de 300 d. C8. No entanto, Travis (1943, 83) aponta evidncias suficientes
para mostrar o silncio ou o extremo cuidado dos primeiros serem desnecessrios, mas
tambm assinala que, embora aproximada, a data de 300 d. C. deve ser substancialmente
alterada.
A expresso empregada por Jernimo in extrema senectute9para designar M. Vitorino
na poca de sua converso, somada ao relato vvido que faz Agostinho a respeito da histria
da converso de M. Vitorino deixam claro que este era um homem velho poca e trazia
consigo uma longa e distinta carreira profissional. Travis (1943, 84) e Baltes (2002, 25)
denotam que M. Vitorino no apenas retratado como um homem de idade avanada, o texto
coloca em maior destaque a sua erudio, ille doctissimus senex10
.
Travis (1943, 85) observou em obras do mesmo perodo11 o emprego da expresso
extrema senectutee concluiu ser incomum aplicar essa expresso a pessoas abaixo dos 70
anos. O termo senex, de fato, seria indicado para esboar uma idade que varia entre 70 e 90
anos, nunca menos, como possvel encontrar em Ccero, Tcito, So Jernimo e Cornlio
Nepos 12. Assim, seria possvel considerar que a converso de M. Vitorino deva ter acontecido
quando ele atingia a uma idade entre 70 e 90 anos, para se justificar o emprego do in extrema
senectute.
A converso de Vitorino posterior construo da sua esttua no Frum de Trajano,
isto , posterior a 354 d.C., como sustenta Hadot (1971, 27); entretanto, anterior data de
8P. Monceaux, Hist. litt. de 1'Afrique chretienne III, Paris, 1905, p. 374; P. de Labriolle, Hist. de la litt. lat.chretienne, Paris, 1924, p. 346. (TRAVIS, 1943, 83)9JRME,De uiris illustribus, d. E. Richardson, T. U., XVI, I, Leipsig, 1896, p. 57. In: MARIOTTI, 1967, p.410AGOSTINHO, Confesiones, 8, 2, 3 sqq. In: MARIOTTI, 1967, 5.11C.f. TRAVIS, 1943, 85.12Senex equivale a90 ans, CICRON, Cato, 22; 86 ans, TACITE,Ann., V, I; 85 ans, JRME, Epist., CXXX,13; CICRON,De republ., I, I; Verrin., V, 180; 80 ans, TACITE,Ann., IV, 8; 78 ans, TACITE,Ann., IV, 58; 77ans, CORNELIUS NEPOS, Vita Att., XXI, I; TACITE,Ann., IV, 29. (HADOT, 1971, 24).
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composio de uma de suas obras crists, o Adversus Arium, pouco antes da morte do
imperador Constantino, em novembro de 361 d.C.
Hadot estabelece para a converso de M. Vitorino o ano de 355 d. C., assim,considerando que Vitorino estivesse em idade avanada nessa data, subtraindo-se um mnimo
de 70 anos, chegar-se-ia ao ano de 285 d. C., que consideravelmente inferior ao ano
sugerido pelos bigrafos, ou seja, o de 300 d. C. Travis (1943, 85) prope a idade de 75 anos
para M. Vitorino, dessa forma, a data do seu nascimento cairia para 280 d. C.
Se M. Vitorino era um homem na velhiceem 355 d. C., no seria possvel admitir que
sua data de nascimento fosse anterior a 280 d. C., pois isso faria dele um homem
extremamente velho em atividade, por essa razo Travis (1943, 87) apresenta 280 d. C. como
uma aproximao mais correta da data de nascimento de Vitorino. Hadot (1971, 25) menos
exato e admite o intervalo de anos entre 281 e 291 d. C.
A respeito da provvel data de sua morte, toma-se como referncia o trecho da
declarao de Agostinho, cujo relato anuncia que M. Vitorino teria abandonado a docncia em
362 d. C; quando o edito de Juliano, o Apstata, imps condies severas para que os
cristos pudessem assumir a funo de mestre. Seria preciso, dentre outras exigncias,sobressair-se pelos costumes e submeter-se a uma avaliao da cria municipal, cujo resultado
deveria ser encaminhado ao prprio imperador.
Posteaquam vero et illud addidit, quod imperatoris Iuliani temporibus legedata prohibiti sunt Christiani docere litteraturam et oratoriam, quam legemille amplexus loquacem scholam deserere maluit, quam uerbum tuum, quolinguas infantium facis disertas non mihi fortior quam felicior visus est, quiainvenit occasionem vacandi tibi13
[De fato, toda a sua narrao tinha este mesmo fim em vista. Porm, quandodepois acrescentou que, de acordo com uma lei, promulgada nos tempos doImperador Juliano, os cristos tinham sido proibidos de ensinarem literaturae oratria lei que Vitorino abraou, preferindo assim abandonar antes aescola dos palradores do que a tua Palavra, "com que tornais eloquentes aslnguas das crianas" a mim no pareceu que Vitorino era mais corajosoque feliz, por ter encontrado ocasio propcia para entregar-se a ti](AGOSTINHO, 1980, 170).
13AGOSTINHO, Confesiones, 8, 2, 5 sqq. Apud MARIOTTI, 1967, 5.
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Para Travis (1943,88), M. Vitorino teria vivido pouco alm de 362 d. C., tendo em
vista a sua extrema senectute, fixada em torno de 355 d. C., e os seus trabalhos posteriores
sua converso.
Agostinho, tambm no livro VIII de suas Confesiones, atribui a M. Vitorino o ttulo
Rhetor urbis Romae, o que significava que M. Vitorino era titular da ctedra de retrica
instituda por Vespasiano. A narrativa de Simpliciano, tal como nos conta Agostinho, sustenta
a impresso de M. Vitorino ter exercido durante longo perodo essa funo, segundo Hadot
(1971, 30), embora no seja possvel estabelecer a possvel data de sua nomeao.
Ainda de acordo com Hadot (1971, 34) e Mariotti (1967, 15), a notoriedade de M.
Vitorino no teria sido ofuscada por seus contemporneos, em especial por Donato.
Agostinho nos diz que M. Vitorino fora mestre de muitos nobres senadores, afinal, toda
carreira pblica exigia uma formao retrica, princpio, portanto, condizente com as ideias
do imperador Constantino, que dignificara a cultura literria, elevando-a ao patamar de
primeira qualidade necessria a um homem (litteratura quae omnium virtutum maxima
est14). Infelizmente, alm do testemunho de Agostinho, no restou posteridade nenhum
registro dos nomes desses homens notveis que foram alunos de M. Vitorino.
14COD. THEOD.: Theodosiani libri XVI, d. Th. Mommsen, I, i, Berlin, 1954 apud: HADOT, 1971, p. 34.
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II. O embate entre cristos e pagos: a atmosfera espiritual de Roma no sculo IV
A reorganizao do imprio sobre a base da religiosidade tradicional do culto aos
deuses pagos por Diocleciano, imperador romano de 284 a 305 d. C., no pde extinguir ocristianismo (FUNARI, 2002, 140), mas conseguiu adiar o declnio de Roma e criou as bases
para o imprio bizantino. Em 285 d. C., Diocleciano dividiu o imprio em dois, o do Oriente e
do Ocidente; e em seguida, repartiu ainda mais o poder num sistema chamado Tetrarquia,
nomeando como seus homens de confiana Maximiano, Constncio Cloro e Galrio. Quatro
editos consecutivos nos anos de 303 e 304 d. C. impuseram aos cristos a destruio das
igrejas, o confisco dos bens, a entrega dos livros sagrados, a tortura at a morte para quem no
propusesse sacrifcios em honra do imperador. Era preciso retornar s antigas leis e tradicional disciplina romana: s o retorno antiga f de Roma poria fim s presses dos
pagos fanticos e reestabeleceria a precria situao econmica em que se encontrava o
imprio (CARLAN, 2009, 28).
As perseguies violentas contra os cristos s abrandaram quando, em 311 d. C., j
no fim da sua vida, Galrio, junto de seu CsarLicnio, emitiu um edito de descriminalizao
do Cristianismo; no documento declarava que perseguir os cristos tornara-se intil, e ainda
pedia a estes oraes pelo seu reestabelecimento (FUNARI, 2002, 140).
O edito de tolerncia de Galrio abriu caminho ao Edito de Milo de 313 d. C., com o
que Constantino I legalizou e apoiou fortemente a cristandade, ao mesmo tempo em que
admitia tambm culto pago, assim, tornava lcita toda e qualquer prtica religiosa no
Imprio. A aplicao do edito acabou com toda a perseguio sancionada oficialmente e fez
devolver os lugares de culto e as propriedades que tinham sido confiscadas dos cristos. De
acordo com Funari (2002, 142), a poltica religiosa encaminhava-se claramente na direo deuma aliana entre o Estado e a Igreja, na mesma proporo em que os cultos aos deuses
pagos perdiam sua importncia.
Dessa maneira, de acordo com o historiador Pedro Paulo Funari,
O imperador Constantino concedeu aos cristos, por meio do chamado Editode Milo, em 313, liberdade de culto. Em seguida, esse mesmo imperador
procurou tirar vantagem e interveio nas questes internas que dividiam os
prprios cristos e convocou um conclio, uma assembleia da qualparticipavam os principais padres cristos (2002, 143).
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Na tentativa de consolidar a totalidade do Imprio Romano sob o seu domnio, Licnio
arma seu exrcito contra Constantino I, porm derrotado e, em 324 d. C., Constantino
reunifica o imprio. Durante todo o seu reinado, o imperador dedicou-se a promover
profundas reformas, ao mesmo tempo em que zelava pela unidade religiosa. Constantino I
quis resolver o problema da diviso da elite dirigente, props ento uma modificao na
composio do Senado, cujo conselho estava composto por seiscentos membros, aumentando
esse nmero para dois mil. Tratava-se, pois, de uma hierarquia de status, sem poderes ou
responsabilidades, e a formao de outra classe, a hierarquia burocrtica, de altos funcionrios
dotados de amplos poderes civis, responsveis por manter a ordem pblica e as finanas
(FUNARI, 2002, 141).
Aps 326 d. C., os altos funcionrios passam a pertencer ordem senatorial, os
clarissimi, que, sem quaisquer poderes polticos, no interferiam na escolha dos imperadores,
os candidatos vinham da famlia do imperador ou eram membros do exrcito. Indivduos no
oriundos da aristocracia tradicional tornavam-se automaticamente senadores ao serem
nomeados pelo imperador, para cargos da hierarquia senatorial, ou pelos prprios senadores,
que podiam eleger novos membros para a sua classe. Este parece ter sido o caso de M.
Vitorino. Sabe-se de seu ttulo de vir clarissimuspor meio da tradio manuscrita de suas
obras crists, oAdversus Arium e oHymne. possvel que o prprio imperador Constncio II
(337 - 361 d. C.) o tivesse nomeado vir clarissimus; improvvel, no entanto, que essa
nomeao tenha sido feita por Constantino, antes de 337 d. C. (HADOT, 1971, 34), uma vez
que no h registros desse ttulo em obras anteriores sua converso.
Constantino I, antes de morrer, repartiu o poder entre seus trs filhos: Constantino II, o
mais velho, a quem couberam os domnios da Hispnia, Glia e Britnia, a parte ocidental do
Imprio; Constncio II, que foi agraciado com a parte oriental do Imprio: o Egito e asprovncias asiticas; e, por ltimo, Constante, a quem, por causa da tenra idade, restou a
menor fatia de terras: a Itlia, a Ilria e os domnios romanos na frica. Constante, desgostoso
da partilha, j nos primeiros anos de seu reinado, rebelou-se contra seu irmo mais velho,
derrotando-o em Aquileia, em 340 d. C., e assumindo, assim, o controle de todo o Ocidente.
Anos mais tarde, aliou-se a Constncio II em uma luta na Glia contra Magno Magnncio, no
entanto, foi morto em batalha, em 350 d. C. Em 353 d. C, aps o suicdio de Magno
Magnncio, Constncio II emergiu comoAugustusnico.
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Segundo Carlan (2009, 31), os problemas administrativos e a questo sucessria
levaram Constncio II a nomear seu primo, Constncio Galo, como Csar, porm, este foi
assassinado no ano seguinte, acusado de traio. Em 355 d. C., Constncio II nomeia Csar
da parte ocidental do Imprio o seu primo Juliano, que se destacou como estrategista,
administrador e legislador aps vrias batalhas vitoriosas.
Depois de ordenar que suas tropas da Glia, comandadas por Juliano, fossem
transferidas para o exrcito do leste, Constncio II teve de enfrentar a insurreio provocada
por sua deciso, e, dessa maneira, as tropas de Juliano proclamaram-no Augustus e novo
imperador (FUNARI, 2007, 20). Porm, enquanto se deslocava para a Glia, ao encontro de
Juliano, Constncio II morreu de peste, no havendo, por isso, nenhuma luta. As prpriaslegies de Constncio II reconheceram Juliano como nico imperador.
Juliano, segundo Funari (2007, 21) foi um anacronismo no seu tempo: ltimo
representante da famlia de Constantino, criado na educao crist, recebeu a influncia do
neoplatnico Mximo de feso, de modo que, sob a aparncia de catlico, abraou o
paganismo j no incio de seu governo, o que lhe valeu o cognome o Apstata. Quis promover
a restaurao cultural pag transferindo os direitos conquistados pela Igreja aos templos
pagos (AMMIEN MARCELLIN, 1977, XVI, 6, 1-26). Em Junho de 362 d. C., Juliano
publicou um abrangente edito sobre educao no qual impedia os cristos de lecionar. Tal
medida atingiu M. Vitorino que, sem foras para enfrentar o governo, teria desistido de
lecionar, segundo depoimento de Agostinho.
Como Juliano no deixou herdeiros, soldados cristos apressaram-se em aclamar como
augusto um oficial da guarda imperial, general das tropas leais a Constncio II. Ele teve,
como principal ato, a adoo do cristianismo como religio oficial do Estado, como haviadecretado pela primeira vez o grande imperador Constantino, e, por meio de um edito restituiu
aos cristos todos os privilgios retirados por Juliano (AMMIEN MARCELLIN, 1977, XVI,
6, 1-26).
A incerteza militar e poltica provocou uma perptua atmosfera de desconfianas e
suspeitas, definida por Hadot da seguinte maneira: Chaque triomphe est suivi de procs, de
tortures, dexcutions, de bannissements (HADOT, 1971, 36), corroborada pela viso de
Mariotti (1967, 25) Questatmosfera, ancora cos viva ala fine del secolo e che ser
presente, soprattutto nella scuola, anche nel secolo successivo (...) , spiega i dubbi e le
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incertezze. No entanto, mais grave do que a crise poltico-econmica era a crise espiritual
que se configurava quela conjectura na qual, de acordo com Hadot,
LEmpire est la recherche dune nouvelle base spirituelle: le paganismerejet, perscut, est encore puissant, comme le montrera la raction deJulien ; le christianisme, apparemment triomphant, est lui-mme dchir parla terrible querelle arienne. (1971, 36).
Foi durante o reinado de Constncio II (337-361 d.C.) que Constantinopla se
consolidou como a nova capital do Imprio, a nova Roma, a Roma crist. Para a antiga e
verdadeira Roma, restava ser uma espcie de encarnao viva da eterna Roma,
resplandecente em seus templos pagos e monumentos magnficos como o Frum de Trajano.
Roma le centre sacr et inviolable de lunivers. Sorte de sanctuaire ou de muse (...) (HADOT, 1971, 38).
Diante da Roma crist, Constantinopla, que se edificava cada vez mais slida, e dos
imperadores que haviam abandonado os deuses tradicionais, ainda existia uma aristocracia
romana, consciente do papel que devia desempenhar, defensora da Roma tradicional e do
culto aos deuses pagos. Il fallait protger les institutions des anciens, les prrogatives
sacrs, les destines ternelles de la patrie15.
Naturalmente, o que sustentou a aristocracia romana tradicionalista foi o orgulho:
fosse da grandeza do passado, fosse da riqueza do presente. De acordo com Hadot (1971, 40)
e Mariotti (1967, 22), o conservadorismo e a romntica nostalgia do passado fizeram
ressurgir, sob diversas formas, nomes que lembravam uma poca feliz de Roma, tais como
Nero e Trajano, sinnimos de justia e grandiosidade; tambm os deuses, como Cibele a
me de todos os deuses , Baco, Hrculesduas divindades populares da Roma Antiga; e
ainda uma galeria de homens importantes, como Horcio, Virglio, Terncio, Salstio,Apuleio, em geral, grandes escritores. A nostalgia aristocrtica da Roma de outrora traz luz
um aspecto valioso: o amor pelas letras antigas.
Revela-se, ento, toda a concepo de vida da sociedade em que viveu M. Vitorino.
Um verdadeiro esprito de renascena literria que se estender por todo o sculo IV.
15 SYMMAQUE: Q Aurelii Symmachi quae supersunt, d. O. Seeck, Monummenta Germaniae Historica,Auctores Antiquissimi, t. VI, I, Berlin, 1883. Apud HADOT, 1971, 39.
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Alguns manuscritos, segundo HADOT (1971, 40) conservam ainda os traos dessa
atividade literria que, no somente copiava os textos dos autores antigos, mas tambm os
revisava. Tito-Lvio, Marcial, Quintiliano e Juvenal, estavam no rol dos autores que tiveram
suas obras reeditadas durante esse perodo.
Tais trabalhos de reviso eram comumente conduzidos por rtores e gramticos,
Dune manire plus gnerale, nous autons replacer lactivitlittraire de Victorinus, dans
ce contexte de renaissance du IVe sicle. Ces aristocrates humanistes furent ou les
contemporains ou les lves de Victorinus (HADOT, 1971, 41); certamente M. Vitorino
exerceu sua prpria influncia nesse movimento. Numa poca que conheceu uma fecunda
atividade de escoliastas e de comentadores, possvel presumir que tal tenha sido a centelhamotivadora de M. Vitorino para a composio de suaArsGrammatica.
Em paralelo s atividades literrias da aristocracia tradicionalista romana e o seu
esforo por voltar s antigas crenas pags, sempre houve um governo que estava obstinado a
instaurar o cristianismo como religio oficial do Imprio. No entanto, o paganismo, como
afirma Hadot (1971, 42), no era estritamente literrio, era tambm uma prtica religiosa nos
meios aristocrticos, assim, paganismo e cristianismo conviveram durante muito tempo. O
mais precioso exemplo dessa extraordinria simbiose entre ambos um calendrio, copiado e
ilustrado por Philocalusem 353, referente ao ano 354 d. C., em que, cada ms ilustra tanto as
festas crists, quanto as pags (HADOT, 1971, 42).
M. Vitorino foi, durante quase toda a sua vida, um adepto da antiga mentalidade,
segundo Hadot (1971, 47), para a qual o paganismo representava mais do que uma crena
religiosa, significava tambm fidelidade s tradies histricas de Roma, dentre elas a
valorao da lngua e da literatura daquela sociedade.
Le perplessit che unadesione pubblica al cristianesimo suscitava nel suoanimo erano infatti anche di ordine pratico (...): lacclamato maestro ditanti giovani e non pi giovani membri della classe senatoria, il difensoredella tradizione pagana la cui effigie era stata eretta nel foro col plauso diquei potenti amici valutava senza dubbio relazioni sociali (MARIOTTI,1967, 25-6)
Dessa forma, possvel ver os reflexos dessa postura engajada na primeira fase de sua
obra.
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Como apontam Hadot (1971) e Mariotti (1967), o caminho que M. Vitorino percorreu
at encontrar-se na f crist demasiadamente longo e, por vezes, lacunar, desse modo, como
seu percurso de converso pouco influiu na obra que objeto de estudo da presente pesquisa,
osMarii Victorini Artis Grammaticae Libri IIII,acredita-se que as pesquisas e a explanao
realizadas sejam suficientes para demonstrar o contexto de produo da obra.
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FIGURA II
Virglio e as Musas, Museu do Bardo, Tunis, Tunsia.
(Mosaico supostamente representando o poeta Virglio ladeado pelas Musas Clio e Melpmene).
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PARTE B
MARII VICTORINI ARTIS GRAMMATICAE LIBRI IIII
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III. A histria do texto de M. Vitorino e lio Aftnio: introduo de Keil
O fillogo alemo Heinrich Keil reuniu, em seu magnfico trabalho de coleta e edio
de textos de gramticos latinos (KEIL, 1961), no volume VI (Scriptores Artis Metricae) desua obra, os textos de gramticos antigos que desenvolveram reflexo, descrio, catalogao
e prescrio de expedientes poticos da mtrica latina. Integram a compilao de Keil textos
dos autores Mrio Vitorino, Mximo Vitorino, Cssio Basso, Atlio Fortunaciano, Terenciano
Mauro, Mrio Plcio Sacerdote, Rufino e Mlio Teodoro, alm de haver dedicada uma seo
aos Fragmentos e Excertos Mtricos. Tais textos foram organizados e reunidos pelo autor que
ainda elaborou um prefcio, escrito em latim, sua obra. Nele Keil descreve, dentre outros
expedientes, seu contato e trabalho de pesquisa com os manuscritos latinos para oestabelecimento dos textos na sua edio moderna.
Por meio do prefcio de Keil tem-se notcia de que aArs Grammaticade M. Vitorino
chegou posteridade na forma de trs manuscritos principais: os cdices Palatinus 1753,
Parisinus 7539e Valentinianus M. 6. 10; os trs datam de meados do sculo IX (KEIL, 1961,
vii). Chamam a ateno, na obra de Keil, o prefcio e a profuso de notas elaborados em
latim, aquele reservado aos comentrios sobre o trabalho de investigao nos cdices antigos,
e estas, em sua maioria, dedicadas a expor as diferentes grafias encontradas entre os cdices,
alm das referncias de alguns versos citados dentro da obra para as explanaes sobre a
teoria mtrica.
Em sua obra Scriptores Artis Metricae, Keil produz um grande prefcio dedicado aos
estudos relativos Ars Grammaticade M. Vitorino, em especial, ao estado dos ttulos e certas
inscries nos manuscritos que trazem luz o problema da autenticidade da obra que chegou
posteridade em quatro volumes, sob o ttuloArs Grammatica.
O ttulo inicial atribudo obra de M. Vitorino , no manuscrito Palatinus 1753: (ar)s
grammatica Marii Vict(orini); no Parisinus 7539: Incipit ars grammatica Victorini Mari de
ortografia et de metrica ratione; e no Valentinianus M. 6. 10: Incipit ars grammatica Marii
Victorini.
Nos trs manuscritos, ao final do primeiro livro, De orthographia et de metrica
ratione, l-se Marii Victorini de metricis didascalicis liber primus explicit. O ttulo dosegundo livro, de acordo com Keil (1961, viii), Didascalicus prototyporum novem liber
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secundus e, segundo a tradio manuscrita, os ttulos dos dois ltimos livros so:Liber tertius
de coniunctis inter se et mixtis metris pragmaticus eLiber quartus de conexis inter se atque
inconexis quae Graeci vocant pragmaticus. No entanto, o que mais desperta a
ateno que, ao final do quarto livro, l-se, nos trs manuscritos, Aelii Festi Apthonii v(iri)
p(erfectissimi) de metris omnibus expliciunt libri quatuor, seguido de um estudo relativo aos
metros do poeta Horcio, sem ttulo e sem especificaes. A meno a E. Aftnio permite
inferir que, em algum momento, o texto desse gramtico, composto por quatro livros, foi
inserido no texto de M. Vitorino, sem quaisquer notas.
Afora os ttulos e subttulos, Hadot (1971, 63) atenta para uma lacuna existente no
primeiro livro, em que o desenvolvimento de M. Vitorino sobre as slabas interrompidobruscamente16 e uma nova progresso de ideias encaminhada sobre o mesmo assunto. A
lacuna, na pgina 31, linha 13 na edio de Keil (1961), indicada pelo fillogo alemo por
meio de um asterisco e notas explicitando o tratado de E. Aftnio que se iniciaria a partir
daquele ponto, dando continuidade ao captulo sobre letras e slabas. Dessa forma, Hadot
(1971, 63) distingue quatro pores diferentes nesse conjunto de quatro volumes da Ars
Grammatica.
A primeira parte, que corresponde na edio de Keil s pginas 3, 6 a 31, 12, traz o
ttulo Ars Grammatica Marii Victorini, compreende os seguintes captulos: de arte, de voce,
de litteris, de orthographia e de syllabis; a segunda parte corresponde s pginas 31, 13 a 173,
32 de Keil e aborda uma obra em quatro volumes, dois tericos, introduzidos pelo termo
didascali, e dois prticos, introduzidos porpragmatici; estes discorrem sobre os metros e so
atribudos, pelo termo explicit17,a lio Festo Aftnio; a terceira parte estende-se da pgina
174, I 183, 21 da edio de Keil, e trata-se de algumas pginas consagradas aos metros de
Horcio, que no so introduzidas por incipit18 ou explicit, como seria conveniente, masapresentam estreito vnculo com a obra precedente; por fim, a quarta parte corresponde s
ltimas pginas da edio de Keil, 182, 22 a 184, 14, que enumeram algumas definies de
conceitos mtricos como ode, colon, comma emelos.
16A ruptura ocorre quando, pgina 31, encerra-se um pargrafo que disserta sobre a letra i intervoclica eimediatamente inicia-se outro pargrafo, in media res, tratando das cinco vogais existentes, assunto j abordado
por M. Vitorino anteriormente (KEIL, 1961, 29)17Trad.: acaba aqui; fim da obra. Usava-se pr esta palavra no fim dos livros, nos tempos da baixa latinidade,
para indicar que a obra acabava ali EXPLICIT. In: SARAIVA, F. R. Novssimo Dicionrio Latino-Portugus.12 ed. Belo Horizonte: Garnier, 2006, p. 457.18Trad.: comear, dar princpio. INCIPIO. In: SARAIVA, F. R. Novssimo Dicionrio Latino-Portugus. 12 ed.Belo Horizonte: Garnier, 2006, p. 590.
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A diferena entre a obra de E. Aftnio e o tratado de M. Vitorino, seu precedente,
possvel reconhecer de acordo com Hadot (1971, 63), pelas fontes19que os autores utilizam e,
certos critrios estilsticos confirmam-na20. Keil (1961), Hadot (1971) e Mariotti (1967)
levantam hipteses que justificam a ligao entre os dois gramticos antigos e mesmo a
insero do texto de E. Aftnio na Ars Grammaticade M. Vitorino: a primeira possibilidade
seria a de o prprio M. Vitorino ter sido o responsvel por tal juno dos tratados; a segunda
hiptese admite a chance de a ligao ser uma simples consequncia de um erro de copista.
Na primeira hiptese, levantada por Keil (1961, xiv - xviii), M. Vitorino, ao compor
um breve tratado de gramtica, cuja maior parte consagrada ortografia, v-se impelido a
completar a sua obra anexando-lhe o tratado de E. Aftnio. Ao final do tratado, assinalado porum explicit que se encontra em todos os manuscritos (Aelii Festi Aphthonii de metris omnibus
explicit), M.Vitorino acrescenta uma breve listagem de metros de Horcio e mais algumas
definies sobre ode, colon, commae melos,por exemplo.
Para Keil (1961, xv), os argumentos apresentados em favor dessa primeira hiptese,
tais como a presena de repeties inteis de desenvolvimentos anteriores ou mesmo
retomada de contedos, so suficientes para atribuir a M. Vitorino a ligao entre as duas
obras. Para Mariotti (1967, 50), tais repeties de segmentos so trao comum tradio na
literatura didasclica e nenhum argumento apresentado por Keil bastante consistente para
confirmar a autoria da ligao.
De acordo com a segunda hiptese, a ligao entre aArs Grammaticade M. Vitorino e
o De metris de E. Aftnio seria produto de um mero acaso, somente as primeiras pginas
seriam de M. Vitorino, o restante da obra seria de E. Aftnio. De acordo com Hadot (1961,
68) e Mariotti (1971, 50) essa possibilidade mais verossmil: a confuso entre as duas obrasseria proveniente do acaso que suprimiu da Ars Grammatica as suas ltimas pginas e as
19A evidente quebra sinttica e semntica que existe dentro do captulo sobre as slabas, no primeiro livro daArs,pgina 31, 17 da edio de Keil, proporciona um confronto entre o texto de M. Vitorino e a produo de E.Aftnio. Keil assinala, em notas, numerosos desenvolvimentos na obra de M. Vitorino que encontram eco emCarsio e Donato, enquanto o captulo sobre as slabas, atribudo a E. Aftnio, assemelha-se obra de T. Mauro.
Note-se que, Keil quem, em nota ao texto daArs, destaca tais afinidades entre os autores.20 Cf. HADOT 1971, 61-68; MARIOTTI, 1967, 10-23; Mariotti e Keil observam os diferentes empregos da
palavra igiturpor toda aArs.No trecho que se acredita ter sido verdadeiramente escrito por M. Vitorino, todas asocorrncias de igitur aparecem como a primeira palavra da frase, tal como acontece tambm em suas obras
crists. No entanto, nas ocorrncias de igitur,bastante numerosas, dentro do trecho daArs que fora atribudo a E.Aftnio, no primeiro livro, de 19 ocorrncias de igitur, 13 encontram-se no incio da frase e somente 6 como
primeira palavra; no segundo livro, de um total de 14 igitur, 9 esto no incio da frase, porm somente 5 vezes otermo est em posio inicial.
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primeiras do tratado de E. Aftnio. Essa lacuna certamente remonta ao sculo IV, j que
Rufino de Antioquia menciona como sendo de M. Vitorino um trecho da obra de E. Aftnio
(HADOT, 1971, 68). O melhor dos manuscritos, o Palatinus, termina todo o conjunto da obra
com um simples explicit, somente o Parisinus repete a inscrio Ars grammatica Victorini
Mari de orthographia et de metrica ratione; dessa forma, mesmo possvel admitir que se
trata da iniciativa de um copista.
O presente trabalho no pretende esquadrinhar a questo da autoria do texto, apenas
expor as teorias que puderam ser depreendidas dos levantamentos promovidos pela pesquisa;
o expediente de confrontar posies de comentaristas foi necessrio tambm porque suas
teorias, em torno da questo da autoria, so fundamentais para compreender a composioestrutural daArs Grammatica.
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IV. A estrutura daArs Grammatica
Da legtima Ars Grammaticade M. Vitorino restaram apenas algumas pginas, que
correspondem exatamente s vinte e nove pginas iniciais, da edio de Keil (1961), e s onzepginas finais, de acordo com Mariotti (1967, 50). Para Mariotti, Keil teria cometido um
grave engano ao propagar o texto de E. Aftnio ainda relacionado obra de M. Vitorino: uma
vez que o fillogo alemo responsvel pela edio moderna havia reconhecido grande parte
do conjunto de quatro volumes da Ars no pertencer ao autor que d ttulo obra, o mais
adequado teria sido desvincular os textos, publicando-os separadamente. Keil, porm,
manteve os tratados unidos e a justificativa para tal escolha estaria no fato de o editor julgar
que tal unio teria sido feita pelo prprio M. Vitorino.
Acredita-se, no entanto, que os argumentos que refutam tal hiptese, como,
principalmente, a identidade que se pode traar entre as obras de Donato, Carsio e M.
Vitorino e entre T. Mauro, A. Fortunaciano, C. Basso e E. Aftnio, como dito anteriormente,
esteja mais fortemente amparada pelos dados do prprio texto, por isso este trabalho pretende
endossar o ponto de vista de I. Mariotti, que atribui a um erro de um copista a juno entre a
obra de M. Vitorino e E. Aftnio.
Pretende-se, no presente estudo, examinar aArs Grammatica tal como os manuscritos
originalmente a conservam, afinal, mesmo que sob fontes e formas diferentes ao longo dos
quatro volumes, a Arte Gramatical constitui um conjunto inestimvel de postulados das
doutrinas mtricas em circulao na antiguidade. Para que se faa uma anlise justa da
estrutura daArs, prope-se sondar-lhe os preceitos, obedecendo questo da autoria do texto
conforme se definiu h pouco.
IV. 1Ars Grammaticade M. Vitorino: as primeiras noes de prosdia e ortografia
Os captulos De arte, De uoce,De litteris,De orthographia e De syllabis do Liber
Primvs de Orthographia et de metrica rationeso atribudos a M. Vitorino e, como define
Keil (1961, 3- 31), guardam notvel aproximao com a obra de Carsio; enquanto Mariotti
(1967, 47-53) assinala estreita relao entre esse incio da Ars Grammatica e a obra de
Donato. Dessa maneira, submeteu-se anlise a obra de M. Vitorino e, quando foi possvel,
buscou-se estabelecer um dilogo entre o crpus principal desse estudo e as obras de Donato e
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Carsio, para que se pudesse traar um perfil da estrutura que d incio aos estudos
gramaticais, nasArtes Grammaticae.
AsArtes Grammaticae consistem em uma descrio da lngua latina, que compreendedesde o estudo dos sons e da formao de palavras at as partes do discurso, as suas virtudes e
os seus vcios, de modo a orientar a correo da leitura e da escrita. Baratin discorre do
seguinte modo sobre a estrutura da descrio dos elementos constituintes da lngua:
Pour pouvoir en traiter valablement, la grammaire doit d'abord procder une analyse qui dgage les lments qui constituent la langue, et leursvariations formelles. D'o, comme plan: une premire partie sur leslments (lettres, syllabes, catgories de mots), et une deuxime sur la
correction, c'est--dire sur les critres qui permettent de l'tablir et,corollairement, sur les manquements dont elle peut faire l'objet, c'est--diresur les fautes.(BARATIN, 1994, 147)
Esse modelo de descrio comporta uma progresso uox, littera, syllaba, que remonta
a uma prtica de ensino de leitura e de escrita da lngua que parte da letra (vogal ou
consoante), para, em seguida, passar slaba, e, depois, palavra. Essa progresso inerente
ao ensino gramatical e isso j atestara Plato, como lembra Baratin (1994, 146), e, apesar
dessa progresso ser prtica recorrente entre os artgrafos, Law assevera que o ensino de
lngua independe da fixao de conceitos gramtico-lingusticos como letra, slaba oupalavra:
Of course, one can teach someone to read without any grammatical conceptsmore sophisticated than letter, sound and word: equivalent terms arefound in all literate societies, and in most, if not all, preliterate societies. Inother words, the ability to read and write and by implication to devise awriting system does not presuppose an extensive repertoire of linguisticconcepts, still less a well-developed system of grammar or theoreticallinguistics.(LAW, 2003, p. 52)
A progresso gramatical uox, littera, syllaba tem por referncia a prtica de ensino da
lngua latina e, por isso, tal sequncia figura nas Artes grammaticae, uma vez que elas
abrangem as matrias de carter descritivo da lngua de maneira didtico-pedaggica:
Dans cette structure de description, la progression lettres, syllabes,catgoriesdemotsremonte la pratique de l'enseignement de la lecture etde l'criture, o l'on part de la lettre pour passer ensuite la syllabe, puisau mot. Cette progression est inhrente cet enseignement, et elle est djatteste chez Platon (BARATIN, 1994, 145).
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Assim, ao analisar o trecho que originalmente atribudo a M. Vitorino, possvel
identificar, logo de sada, que o autor conserva os tpicos da progresso gramatical, no
entanto, procede, como nica alterao do modelo, a insero do captulo orthographia,
depois de haver dissertado sobre as litterae. M. Vitorino detm-se minuciosamente sobre os
tpicos uox, littera, orthographia esyllaba, e chama a ateno o alto nvel de complexidade
das teorias e conceitos e a descrio primorosa do autor.
Existe um claro paralelo entre a obra de M. Vitorino e aquela de Donato,
especialmente com aArs maior, como j assinalara Mariotti (1967, 51). O tratado de Donato
parece sobressair aos de sua poca e aos posteriores devido ao grande esmero do autor quanto
organizao de suas duasArtes(MARIOTTI, 1967, 51). possvel verificar que o texto deDonato descreve sistematicamente a lngua latina utilizando-se, para tanto, do mesmo
esquema progressivo de organizao comum s Artes Grammaticae. Se o contedo a ser
tratado assunto comum entre asArtesGrammaticae e se a organizao se fundamenta sobre
o mesmo esquema progressivo, como afirma Baratin (1994), o que haveria na obra de Donato
que teria faltado aos demais artgrafos?
O rigor da exposio terica da obra de Donato o que parece destacar as Artes de
Donato das demais, de acordo com Baratin (1994, 142). O autor prima pela clareza e pela
conciso, pela brevidade e pela perfeio formal ao descrever o sistema da lngua latina, uma
vez que tais atributos seriam capazes de auxiliar no processo de ensino-aprendizagem. Essas
caractersticas da composio donatiana estariam, segundo Dezotti (2011, 14), no cerne da
discusso sobre a supremacia da Ars minor e da Ars maior de Donato no campo das Artes
Grammaticae.
Tradicionalmente a Ars Donati constituda de dois tratados, a Ars minor e a Arsmaior, que consiste na reunio de trs outros tratados menores. Para o presente estudo,
interessa sobremaneira a Ars maior, organizada de acordo com a seguinte sequncia: Ars
maior I: De uoce; De littera; De syllaba; De pedibus; De tonis; De posituris.
Observa-se que Donato segue rigorosamente a estrutura base do estudo progressivo da
gramtica latina, uox, littera, syllaba, e quea essa progresso somam-se os estudos das partes
da orao (Ars maior II), e os estudos sobre os vcios e virtudes (Ars maior III). Conforme j
se disse, Donato objetiva escrever com exatido e clareza, talvez por isso, tenha-lhe parecido
melhor ater-se ao essencial, eliminando o acessrio e as informaes adicionais em prol de
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um texto mais objetivo e didtico, trazendo ao leitor uma abordagem simples, mas completa
do sistema da lngua latina, como sugere Baratin (1994, p. 142).
J no tocante a Carsio, uma das caractersticas mais marcantes de sua ArsGrammatica o carter compilatrio, reconhecido pelo autor no prprio prefcio da obra21.
Esse manual de gramtica descreve o sistema da lngua latina de maneira breve e concisa,
combinando em suas partes materiais distintos, extrados com maior ou menor grau de
fidelidade de diversas fontes. O carter compilatrio daArs de Carsio faz dela um documento
de sumo interesse para o estudo das mltiplas fontes que no apenas serviram para mold-la,
mas tambm indicam uma verdadeira concatenao de estudos gramaticais, da qual se podem
extrair alm de fragmentos de autores anteriores ao sculo IV, transmitidos unicamente porCarsio, tambm aspectos importantes da doutrina gramatical latina e traos caractersticos de
autores de pocas mais distantes, como assegura Baratin (1994, 144).
Carsio tem a sua obra dividida em cinco livros, o primeiro, sobre o qual recai o olhar
deste estudo, traz a teoria da littera atravs da progressogrammatica, uox, littera e syllaba.
Os demais livros tratam: o segundo, as partes do discurso; o terceiro, alguns desdobramentos
a respeito dos verbos; o quarto, os vcios e as virtudes do discurso; e, o quinto, algumas
construes idiomticas.
H, assim, entre as Artes Grammaticae de M. Vitorino, Donato e de Carsio grande
proximidade, isso porque, segundo Baratin (1994, 143), os modelos de descries lingusticas,
ou seja, asArtes, formavam um conjunto de textos com os mesmos princpios e objetivos: dar
a conhecer a estrutura da lngua latina por meio de expedientes didtico-pedaggicos.
De acordo com Baratin, h uma gigantesca diversidade de planos adotados pelos
gramticos latinos, porm, antes de se distanciarem e cuidarem cada qual do enfoque que lhes
mais caro, todos partem de um incio comum, os fundamentos da lngua latina, a uox, a
litterae a syllaba, e nisto so iguais:
En d'autres termes, je ne pense pas que la diversit des plans adopts par lesgrammairiens latins tienne un quelconque souci de se dmarquer les unsdes autres, l'amour de l'un pour les travaux de marqueterie ou au gotd'un autre pour les paquets de fiches, mais au fait que les grammairiens nedisposaient plus, au moins partir du 3e.s., des moyens de repter la
moindre cohrence dans le matriau dcrire. (BARATIN, 1994, 153)21 Cf. a esse respeito VARELA, U. J. Consideraciones sobre el prefacio del Arte gramtica de Carsio,STVDIVM. Revista de Humanidades, 12, 2006, 113-25.
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IV. 2Ars Grammaticade E. Aftnio: o tratado de mtrica
possvel perceber a diversidade de planos adotados a que se refere Baratin (1994)
nas Artes Grammaticae que escolhem a mtrica como enfoque principal. A mtrica, nesse
caso, o que Baratin (1994, p. 153) denominou de detalhe, escolhido pelo gramtico para
ser estudado com maior profundidade. A definio do assunto principal a ser abordado no
tratado o que determinar a organizao do trabalho, a exposio das teorias lingusticas e o
discurso adotado pelo autor.
Baratin destaca ainda, no que tange mtrica, que existe uma dificuldade quando os
estudos avanam o nvel das slabas:a ventuellement un accent, et, surtout, toujours une
quantit, est susceptible de se combiner en mot, mais galement en pied. (BARATIN, 1994,149). Assim, Luque Moreno (2001, p. 22-23.) e Baratin (1994, 149) veem a assimilao dessa
estrutura pelos metricistas num modelo de descrio organizado hierarquicamente da seguinte
maneira:
p > metro > poema
voz > fonema > slaba >
palavra > enunciado > discurso.
Dessa forma, para Luque Moreno:
He aqu, pues, la progresin jerrqueica de constituyentes a que me referaantes: de las letras a las slabas, de las slabas a las palabras, de laspalabras a la oracin.
Los metriclogos pasarn de las slabas a los pies, la mnima unidade
significativa en el flujo rtmico-mtrico, equivalente en muchos sentidos a lapalabra en la cadena hablada. Pies o ritmos denomina Dionsio a laspalabras, identificando as los dos tipos de unidades, la lingstica y lartmico-mtrica(LUQUE MORENO, 2001, 23).
E, nas palavras de Baratin,
On a donc l une bifurcation, d'un ct vers les classes de mots, de l'autrevers les diffrents types de pieds, et ventuellement vers leur propre mode decombinaison, c'est--dire les mtres. Cette bifurcation, qui est coup srtrs ancienne, pose dans le dtail des problmes dlicats, parce que la
morphologie (traitement des classes de mots), et la mtrique (traitement desmtres), ne sont videmment pas sur le mme plan (1994, 149).
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tambm luz das teorias expostas sobre a progresso gramatical que se pretende
estudar o trecho da Ars Grammatica atribudo a M. Vitorino e destacar as correspondncias
existentes entre esse tratado e aquele de T. Mauro, que teria sido a principal fonte de M.
Vitorino. A poro mais volumosa da obra Marii Victorini Artis Grammaticae Libri IIII,
conforme foi abordado aqui, teria sido escrita por lio Festo Aftnio (MARIOTTI, 1967, 47).
A ruptura do tratado de M. Vitorino que d incio ao texto de E. Aftnio est
localizada na pgina 31, 13 da edio de Keil (1961). Keil assinala a quebra com um asterisco
no corpo do texto acompanhado de nota de rodap com a seguinte inscrio: lacuna quam
indicavi exciderunt quaedam, a quibus initium novi tractatus de litteris et de syllabis . Keil
no avalia o novo tratado que tem incio a partir daquele ponto, a meno a E. ,Aftnioacontecer somente na pgina 173, 33, em que se encontra a inscrioAelii Festi Aphthoni V.
P. metris omnibus explicit liber IIII, como observado anteriormente (Cf. Captulo III. A
histria do texto de M. Vitorino: introduo de Keil).
Assim sendo, as noes de mtrica que se estendem da pgina 31 173
corresponderiam, de acordo com Hadot (1971, 64) e Mariotti (1967, 47), ao tratadoDe metris
de E. Aftnio. O trecho daArs que atribudo a E. Aftnio tem o seu incio in media res, isto
, com o captulo sobre as slabas em pleno desenvolvimento. Deste ponto em diante, o que se
segue uma mudana radical quanto s fontes que orientaram a teoria e a estruturao da
obra. Luque Moreno (2005) analisa as confluncias entre as obras de T. Mauro, A.
Fortunaciano e E. Aftnio.
Estruturas gramaticais e sintticas22de T. Mauro e A. Fortunaciano so apontadas no
texto de E. Aftnio por Keil, em notas sua edio23. Chama a ateno no apenas a profuso
de notas que denunciam a clara influncia que aqueles autores exerceram na obra de E.Aftnio, mas tambm o rigoroso paralelo que se pode traar entre elas.
O texto de T. Mauro De littera, de syllaba, de pedibus dividido em trs grandes
partes, de litteris: p. 11, v. 85 a p. 23, v. 278, segundo a compilao de Keil (1961); De
syllabis (etiam metrica ratione): p. 25, v. 279 a p. 93, v. 1299 e De arte metrica (cum
poemate, compositione, structura, musica): p. 95, v. 1300 a p. 213, v. 2981.
22Cf. MORENO, 2005.23Deve-se observar que, em todos os textos de sua compilao, Keil (1961) investiga e anota todas as passagensque so comuns entre asArtesou, que ressoamArtes, a essas anotaes s quais o presente trabalho recorre.
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Chiara Cignolo (2002, xxxiii), na introduo da verso italiana do Terentianus de
littera, de syllabis, de pedibus, demonstra a organizao da obra de T. Mauro. Aps uma
breve apresentao da sua Ars, T. Mauro, no captulo De litteris, estuda a sequncia j
conhecida, comum s Artes Grammaticae, iniciando pela descrio da articulao dos sons,
voclicos e consonantais e, j no incio do terceiro captulo, De syllabis, o autor apresenta
letras, vogais, ditongos e consoantese, por fim, a formao das slabas.
Aps o estudo das slabas, sua formao e composio, T. Mauro dedica o ltimo
captulo de sua obra ao estudo dos metros da lrica latina (CIGNOLO, 2002, xxxiv). Nesse
ponto, d incio explanao a respeito da formao e da natureza dos ps da lrica latina.
Segue-se, ento, um estudo detalhado dos metros, a comear pelo hexmetro e da umasucesso deles: pentmetro, arquiloqueu, anapesto, corimbico, arquebuleu, etc. Ao findar a
sua obra, T. Mauro dedica algumas pginas aos metros mistos e a estrofes, como a estrofe
alcaica e outros metros usados por Horcio.
A anlise da sistematizao dos dados na obra de T. Mauro permite entrever que
tambm esse autor aplica sua Ars a organizao a que Baratin (1994) nomeou progresso
gramatical. Note-se, entretanto, que T. Mauro no aparece na relao elaborada por Keil, s
primeiras pginas da Ars de M. Vitorino, com justia atribuda a ele; em seu lugar, Keil
estabelece a analogia com Carsio e Donato. Todas essas Artes, as de T. Mauro, Carsio e
Donato, adotam o mesmo modelo de organizao estrutural, ao menos no que tange aos
primeiros tpicos a serem abordados, uox, littera, syllaba; no entanto, M. Vitorino e E.
Aftnio buscaram cada qual a sua referncia, fator este que demonstra, conforme assinalado,
o conjunto dos quatro livros da obra Marii Victorini Artis Grammaticae Libri IIII ter sido
composto por dois autores diferentes (MARIOTII, 1967, 50).
O tratado tcnico Marii Victorini Artis Grammaticae Libri IIII, cujas pginas iniciais
so atribudas a M. Vitorino e a volumosa poro central, que trata dos assuntos mtricos,
atribuda a E. Aftnio, d prosseguimento sequncia de Artes Grammaticaeque aplicam a
progresso gramatical uox, littera, syllaba, no princpio dos estudos, como j se demonstrou, e
tm sua continuidade, aps o estudo das slabas, na formao dos ps e metros da lrica latina,
semelhante ao modelo empregado por T. Mauro e descrito por Baratin (1994) e Moreno
(2001). Tal construo incomum a Donato e Carsio, que, aps o estudo das slabas,
dedicaram-se ao exame da formao de palavras, das estruturas sintticas e anlise do
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discurso; ela, porm, encontrada frequentemente nas Artes Grammaticae cujo principal
interesse est nos estudos mtricos.
possvel notar, pela organizao estrutural da Arsde T. Mauro, que o seu objetivo compor um tratado que esgotasse o assunto mtrica, e o mesmo se pode dizer a respeito do
texto de E. Aftnio, inserido na Arsde M. Vitorino24. Assim, o que se tem uma srie de
obras voltadas para os estudos aprofundados da mtrica em lngua latina, isto , sem
quaisquer fins didtico-pedaggicos, conforme afirma Cignolo:
Il trattato, poi, non ha certo le caratteristiche di un manuale di scuola e nonpu in nessum modo essere stato pensato per uso didattico, anzitutto per ledifficolt che lo renderebbero inaccessibile per degli studenti alle primearmi.(2002, xxix)
Cignolo refere-se especificamente ao tratado de T. Mauro, no entanto, pela
semelhana que se denota entre os tratados de T. Mauro e E. Aftnio, possvel transferir e
aplicar tambm a este as ponderaes feita quele por Cignolo.
Os textos de T. Mauro, portanto, justamente por causa da complexidade que atingem
nos estudos mtricos, no esto, segundo Ciagnolo (2002, xxix), destinados aos jovens
aprendizes da lngua de nvel escolar, mas sim, queles que j dominavam a lngua latina eestariam buscando aprofundar seus conhecimentos a respeito da mtrica, ou mesmo aos
pretensos novos poetas, o mesmo se pode dizer a respeito de E. Aftnio, dadas as
semelhanas estilsticas encontradas em ambos os tratados.
Possiamo allora forse immaginare una figura di poeta erudito, in accordocon il modello comune dellAfrica del sec. III, buon conoscitore di metrica egrammatica, anche se non maestro di scuola, che scrive con lobiettivo diteorizzare le competenze tecniche in campo prosodico e metrico acquisite in
anni di pratica poetica, proponendosi come ideali dei colleghi, persone gicompetenti in materia, per cos dire aspiranti poeti. (CIGNOLO, 2002,xxix)
necessrio ressaltar que Baratin associa a progresso gramatical como um modelo
didtico-pedaggico inerente ao processo de ensino-aprendizagem da lngua (BARATIN,
1994, 145). Porm, no diferencia os nveis de dificuldades impostos ao aprendiz por umaArs
Grammatica que pretende analisar de maneira breve e sucinta o sistema lingustico latino,
praticar anlise do discurso e arrolar os vcios e virtudes do enunciado, como fazem os textos
de Donato e Carsio, daqueles outros textos que, como os de T. Mauro, A. Fortunaciano e E.
24Tambm na obra Fortunatiani Ars Metrica, a Arte Gramatical de A. Fortunaciano (MARIOTTI, 1967, 52).
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Aftnio, tm por pretenso aprofundar-se nos estudos mtricos e proporcionar ao leitor uma
anlise completa dos metros da lrica latina.
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V. Os exemplano discurso gramatical
Todas as gramticas comportam exemplos. Esse parece ser um ingrediente
indispensvel ao discurso do gramtico (CHEVILLARD, 2007, 6). Entretanto, o estatutoepistemolgico, a forma e o funcionamento semitico dessas sequncias intituladas exemplum
podem ser diferentes, segundo o crpus que se observa, quer se trate de tradies gramaticais
distintas, quer se situem no interior de uma mesma tradio, em momentos histricos
diferentes. Enquanto os discursos gramaticais j foram alvo de numerosos e exaustivos
estudos sobre sua histria, epistemologia e semiologia, recente o interesse pelo estudo dos
exempla, e alguns dos pesquisadores que se dedicaram a essa classe de estudos renem nomes
como os de J.-C. Chevalier (2007), J.-L. Chevillard (2007), B. Colombat (2007), J. Lallot(2007), J.-M. Fournier (2007), J. P. Guillaume (2007) e M. Baratin (2009; 2011).
necessrio salientar que a fonte mais abundante em informaes sobre o estudo dos
exempla dentro do discurso gramatical encontrada por esta pesquisa o volume 166,
Lexemple dans les traditions grammaticales,da Revista Langages. O volume consagrado
ao exemplo em vrias tradies gramaticais e apresenta um conjunto de reflexes sobre esse
fato do discurso caracterstico das gramticas. A partir do confronto e da comparao dessas
prticas em diferentes tradies, como as tradies grega, latina, rabe, tmil e francesa, os
artigos do volume descrevem as solues imaginadas pelos gramticos para a elaborao do
discurso, para a manipulao do exemplo e para a construo de uma representao da lngua
objeto. Assim, por meio desses elementos, possvel traar uma tipologia dos exemplos no
discurso gramatical, como fizeram os autores que compem o Volume 166 da Revista
Langages e como pretende tambm fazer este estudo.
O que se seguir uma reflexo de ordem terica, luz dos conceitos expostos pelospesquisadores h pouco citados, sobre as propriedades e a natureza desse fato do discurso que
caracterstico aos gramticos. a partir do confronto e da comparao das abordagens que
se tem hoje sobre os exempla que trataremos, neste captulo, de lhes propor uma definio e
de determinar as tcnicas de insero e de manipulao no discurso de que fazem parte, bem
como a construo de uma representao da lngua-objeto, a partir de alguns de seus
elementos.
Ressalta-se, porm, que cada um daqueles modernos estudiosos dos exemplos e do
discurso gramatical apresentados nos artigos reunidos da Revista Langages, volume 166,
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expe suas reflexes medida que analisa um crpus selecionado. Chevillard (2007), por
exemplo, escolhe como objeto de pesquisa algumas tradies gramaticais bastante distintas
entre si como a tradio tmil, o discurso gramatical da Nouvelle Mthode latine de Port-
Royal e a obra de Apolnio Dscolo, tambm objeto dos estudos de Jean Lallot (2007).
Bernard Colombat (2007) tomar como crpus os dois pilares da tradio latina, as Ars maior
eArs minor de Donato e as Institutiones grammaticales de Prisciano. Jean-Marie Fournier
(2007) investiga os dados das gramticas de tradio francesa e Jean Patrick Guillaume
(2007), os de tradio rabe.
Alm desses artigos publicados na Revista Langages, h ainda que se mencionar dois
outros artigos ainda mais recentes, o de Baratin, intitulado La littrarit comme performancede textes techniques: les Artes grammaticae antiques, apresentado ao XVIII Congresso
Nacional de Estudos Clssicos, realizado no Rio de Janeiro em 2011 ao qual essa
pesquisadora teve acesso privilegiado, por gentileza do autor na data do eventoque aborda
os exemplos literrios inseridos no discurso gramatical; e o de Alessandro Garcea & Angelo
Giavatto, denominado Les citations dauteurs grecs chez Priscien: un premier tat de la
question, artigo publicado na Revista Letras Clssicas da FFLCH/USP, lanado em
setembro de 2012, no qual os autores estudam a presena de citaes literrias gregas na obra
de Prisciano, traando uma tipologia desses exemplos, analisando as formas que assumem e,
especialmente, os principais autores citados.
Este trabalho no pretende adotar metodologia diferente. Neste captulo acerca dos
exemplos, intenta-se abordar os exempla da obra Marii Victorini Artis Grammaticae Libri
IIII, cotejando-os com os exemplos presentes nas Artes com as quais, conforme se
demonstrou (Cf. Captulo IV), tm estreita afinidade, quais sejam, as de Carsio, de Donato e
de T. Mauro, e ainda outros autores presentes na edio compilatria de Keil (1961), taiscomo C. Basso e A. Fortunaciano, medida que se julgar valorosa a contribuio desses
autores para a presente pesquisa. Optou-se por discriminar neste trabalho aqueles exemplos
presentes nas 29 primeiras pginas e nas pginas finais da obra Marii Victorini Artis
Grammaticae Libri IIII que, de acordo com o exposto, foram estabelecidos por M. Vitorino,
daqueles outros pertencentes grande fatia da Ars Grammatica atribuda a E. Aftnio. Para
tanto, o presente estudo, doravante, empregar M. Vitorino para se referir aos exemplos
presentes exclusivamente nas 29 pginas iniciais e nas 11 finais da obraMarii Victorini Artis
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Grammaticae Libri IIII, e E. Aftniopara aludir aos exemplos do grande volume do tratado
De metris inserido na obra deste.
H que se destacar, entretanto, que a recorrncia de exemplos nas obras daquelesgramticos que dissertaram sobre a mtrica muito maior quando comparada ao nmero de
exemplos presentes nas obras de Carsio e de Donato, que tiveram por inteno descrever a
matria lingustica do latim, de maneira sucinta, mas em sua totalidade. Dessa maneira, h
uma quantidade consideravelmente menor de exemplos no segmento da Ars Grammatica
atribudo a M. Vitorino se comparada exorbitante quantia daqueles que se encontram no
tratadoDe metris de E. Aftnio.
V. 1As vrias tentativas de definio
A dificuldade de definir de maneira satisfatria o que seja um exemplum dentro do
discurso gramatical advm da imensa variedade de formas e funes que ele pode assumir,
assim , de fato, ocioso insistir na complexidade de se colocar sob um nico rtulo dados que
podem parecer, e
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