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J a m e s P a t t e r s o n
Aviso
Se te atreveres a ler esta história,
vais fazer parte da Experiência.
Sei que isto parece muito misterioso,
mas não posso dizer-te mais nada por enquanto.
Max
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PRÓLOGOParabéns. O facto de estares a ler isto significa que deste mais
um passo gigante para conseguires sobreviver até ao teu próximo
aniversário. Sim, TU, que estás aí a virar as páginas. Não ponhas
este livro de parte. Estou a falar muito a sério: a tua vida pode de-
pender dele.
Esta é a história da minha família e da minha vida, mas podia
muito bem ser também a TUA história. Acredita no que te digo:
estamos juntos nesta aventura. Nunca fiz nada de parecido, por-
tanto vou começar sem demoras. Tenta manter-te a par.
Muito bem. Sou a Max. Tenho catorze anos e vivo com a minha
família: cinco miúdos que não partilham os meus genes.
Nós somos… bem, nós somos um pouco especiais. Não quero
parecer convencida, mas é verdade que não somos parecidos com
algo que tu já tenhas visto.
Posso dizer que somos muito fixes, simpáticos, inteligentes…
e totalmente fora do normal. Somos seis — eu, o Fang, o Iggy, a
Nudge, o Gazzy e a Angel — e fomos alterados geneticamente pe-
los cientistas mais horríveis que possas imaginar.
Criaram-nos como parte de uma experiência que fez com que
sejamos apenas 98 por cento humanos. E os dois por cento que
faltam têm um grande impacto, podes crer.
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Crescemos num laboratório-prisão chamado A Escola, em gaio-
las, como ratinhos de testes. É incrível que consigamos sequer pen-
sar e falar. Mas somos capazes disso e de muito mais.
A Escola tinha outra experiência, que originou resultados hor-
rendos: uns seres híbridos, semi-humanos, semilobos, predadores
sem misericórdia. Chamam-lhes Erasers, os Apagadores. São duros,
espertos e difíceis de controlar. Parecem humanos, mas quando
lhes apetece são capazes de transformar-se em lobisomens, com
pelo, caninos e garras enormes. A Escola usa-os como guardas ou
polícias — e carrascos.
Para eles, somos seis alvos em movimento: presas suficiente-
mente inteligentes para serem um bom desafio. Querem, muito
simplesmente, cortar-nos o pescoço e assegurar-se de que o mun-
do nunca saberá da nossa existência.
Mas ainda não desisti nem perdi. Afinal, estou a contar-te isto,
não estou? Esta história podia ser a tua… ou a dos teus filhos. Se
não for hoje, poderá ser em breve. Por isso, por favor, leva-me a
sério. Lê este livro até ao fim.
Estou a arriscar tudo para te contar este segredo, mas é neces-
sário que o saibas.
Continua a ler. Não desistas.
Max
(E a minha família: o Fang, o Iggy, a Nudge, o Gazzy e a Angel.)
Bem-vindo ao nosso pesadelo!
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PARTE 1
O BANDO ASSUSTADO
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1 A parte engraçada de se estar à beira da morte é que uma pes-
soa põe tudo em perspetiva, pensa na vida de outra forma. Um bom
exemplo é o que se está a passar comigo, agora mesmo.
Corre! Vá, corre! Tu sabes que consegues.
Engulo grandes golfadas de ar. Tenho o cérebro a trabalhar a
500 à hora; estou a correr para salvar a vida. Só tenho um objeti-
vo: escapar.
Nada mais me interessa.
Os braços estão a ser feitos em tiras por uma roseira contra a
qual choquei? Paciência!
Os pés descalços batem em todas as rochas afiadas, raízes saí-
das e paus pontiagudos que encontram? Não há crise.
Tenho os pulmões a doer com falta de ar? Posso bem com isso.
Desde que consiga manter a maior distância possível entre mim
e os Erasers, claro.
Sim, Erasers. Mutantes: semi-homens, semilobos, normalmente
armados, sempre sedentos de sangue. Estão a perseguir-me neste
preciso momento.
Estás a ver? Isto põe tudo em perspetiva, não é?
Corre. És mais rápida do que eles. Consegues despistar qualquer um.
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Nunca estive tão longe da Escola como agora. Estou completa-
mente perdida. Ainda assim, os meus braços batem-me nos flan-
cos, os pés esmagam o mato, os olhos escrutinam o que tenho em
frente, ansiosamente, a média luz. Consigo fugir deles. Vou encon-
trar uma clareira com espaço suficiente para me esconder… Oh,
não, não! O ladrar desumano dos cães de fila na minha peugada, a
uivar entre as árvores, põe-me agoniada. Posso fugir de homens,
todos nós podemos, até Angel e ela só tem seis anos. Mas nenhum
de nós consegue correr mais do que um cão enorme.
Cães, vão-se embora, deixem-me viver mais um dia.
Eles estão a aproximar-se. Vejo uma luz fraca no fundo do bos-
que à minha frente. Será uma clareira? Por favor, por favor… Uma
clareira poderá salvar-me.
Corro entre as árvores, o peito a arder, uma leve camada de suor
frio por toda a pele.
Sim! Não! Oh, não!
Travo, com os braços a abanar e os pés a derrapar na poeira suja.
Não era uma clareira. À minha frente está um abismo, uma fa-
lésia de rocha que cai, quilómetros e quilómetros até à escuridão.
Atrás de mim tenho uma floresta cheia de cães a babarem-se
de raiva e Erasers psicopatas com armas.
Todas as opções são do pior.
Os cães ladram excitados, encontraram a sua presa: eu.
Olho para o abismo fatal.
Não tenho alternativa. A sério. Se estivesses no meu lugar fa-
rias a mesma coisa.
Fecho os olhos, abro os braços… e deixo-me cair da beira da falésia.
Os Erasers gritam, raivosos, os cães ladram em histeria e, então,
tudo o que oiço é o ar a correr pelas minhas orelhas.
Por alguns segundos, sinto uma paz tão grande que até sorrio.
Depois, respiro fundo e abro as minhas asas o mais depressa
que posso.
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Uns cinco metros mais à frente, as asas — morenas, com listas
brancas e manchas castanhas — apanham o ar e eu sinto-me de
repente a levar um puxão para cima, forte, como se tivesse aberto
um paraquedas. Brutal!
Nota para mim mesma: Não abrir as asas de repente.
Estremecendo, forço-as para baixo, depois puxo-as para cima
com toda a minha força, depois para baixo, para cima…
Oh, meu Deus, estou a voar… tal e qual como sempre sonhei.
O chão da falésia, manchado de sombras, afasta-se de mim.
Sorrio e continuo a subir, sentindo a força dos meus músculos, o
ar a passar pelas minhas penas secundárias, a brisa a secar o suor
no meu rosto.
Sobrevoo o cume da falésia, os cães espantados, os Erasers fu-
riosos.
Um deles, com a cara cheia de pelos e os caninos a pingar, er-
gue a arma. Um ponto vermelho de luz surge na minha camisa
de dormir.
Nem penses, meu estúpido, penso, virando rapidamente para oes-
te para que o sol incida diretamente nos seus olhinhos odiosos.
Nem penses que vou morrer hoje.
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2 Dei um salto e sentei-me na cama, a arfar, com a mão no peito.
Tive de ver o pijama. Nenhuma marca de laser vermelho. Ne-
nhum buraco de bala. Deitei-me para trás na cama, exausta e ali-
viada.
Bolas, odiava esse sonho. Era sempre a mesma coisa: fugia da
Escola, era perseguida pelos Erasers e por uns cães, caía de um
precipício e, de repente, zás!, asas, voar, escapar. Acordava sempre
a um segundo da morte.
Nota para mim mesma: dar ao subconsciente um ralhete para ter
sonhos melhores.
Estava frio, mas forcei-me a sair da caminha. Vesti roupa lava-
da… Era quase inacreditável: Nudge tinha tratado da roupa.
Toda a gente estava ainda a dormir. Podia ter uns minutinhos
de paz e silêncio para me preparar para o dia.
Olhei pela janela do vestíbulo para a cozinha. Adorava esta pai-
sagem: o sol da manhã a romper a crista das montanhas, o céu
limpo, as sombras marcadas, o facto de não haver gente à vista.
Estávamos no cimo duma montanha, em segurança, só eu e a
minha família.
A nossa casa tinha a forma da letra E virada de lado.
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As barras do E estavam suspensas sobre um desfiladeiro, por
isso se olhasse por uma janela era como se estivesse a flutuar. Numa
escala de fixe de um a dez, esta casa seria um quinze nas calmas.
Aqui, eu e a minha família podíamos ser nós mesmos. Aqui, po-
díamos viver em liberdade. Literalmente livres, sem ser em gaiolas.
Mas essa é uma longa história. Já conto mais.
E, claro, a melhor coisa: não havia adultos. Quando nos mudá-
mos para aqui, de início, Jeb Batchelder tomou conta de nós como
um pai. Salvou-nos a vida. Nenhum de nós tinha pais, mas Jeb foi
o mais parecido que tivemos.
Há cerca de dois anos desapareceu. Sabíamos que tinha mor-
rido, mas não queríamos falar sobre isso. Estávamos agora por
nossa conta.
Exato: ninguém nos dizia o que devíamos fazer, o que devía-
mos comer, quando é que devíamos ir para a cama. Bem, exceto
eu. Como sou a mais velha, tentei manter as coisas em funciona-
mento o melhor que pude. É um trabalho duro e ingrato, mas al-
guém tem de fazê-lo.
Também não vamos à escola. Por isso, ainda bem existe a in-
ternet porque, de outra forma, não saberíamos nada de nada. Não
há escolas, nem médicos, nem assistentes sociais a bater à porta.
É simples: se ninguém souber que existimos, continuamos vivos.
Andava a ver se encontrava comida na cozinha quando ouvi um
chinelar sonolento atrás de mim.
— Bom dia, Max.
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3 — Bom dia, Gazzy — disse eu enquanto o rapazinho de oito
anos se sentava à mesa. Fiz-lhe uma festa nas costas e dei-lhe um
beijinho na cabeça. Era conhecido por Gazzy (ou «o Gases») desde
bebé. Como é que hei de explicar? A criança tem um problemazito
no aparelho digestivo. Queres um conselho? Afasta-te dele.
Gazzy piscou-me um olho, um dos seus dois belos olhos azuis,
redondos e confiantes.
— O que é o pequeno-almoço? — perguntou. O seu cabelo loiro
estava espetado, apontando em todas direções. Parecia um pinto
com as penas despenteadas.
— Hum, é surpresa — disse eu, dado que não fazia ideia.
— Eu faço o sumo — ofereceu-se Gazzy. O meu coração derre-
teu-se. Era um miúdo amoroso, tal como a sua irmã. Ele e Angel,
de seis anos, eram os únicos irmãos verdadeiros do nosso grupo,
mas éramos uma família de qualquer maneira.
Pouco tempo depois, Iggy, alto e pálido, entrou na cozinha. De
olhos fechados, atirou-se para o nosso sofá velho, sem falhar o alvo.
Ele só tem problemas por ser cego quando um de nós se esque-
ce e muda algum móvel de sítio.
— Hei, Ig, toca a levantar — disse eu.
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— Nem penses — murmurou ele ainda a dormitar.
— Fixe — disse eu. — Perdes o pequeno-almoço.
Estava a olhar para dentro do frigorífico com uma esperança
ingénua. Talvez as fadas da comida tivessem vindo durante a noi-
te. A minha nuca arrepiou-se. Endireitei-me de súbito e virei-me.
— Paras com isso? — disse, irritada.
Fang aparece sempre sem fazer barulho, vindo do nada, como
uma sombra escura que dá à costa. Olhou para mim calmamente,
muito alerta, com o seu cabelo escuro comprido penteado para trás.
Era quatro meses mais novo do que eu, mas já me batia por
uns dez centímetros.
— Paro com quê? — perguntou nas calmas. — Paro de respirar?
Revirei os olhos.
— Sabes a que é que me refiro.
Com um grunhido, Iggy levantou-se.
— Vou fazer ovos — anunciou.
Acho que se fosse ou quisesse ser uma fada do lar me ia chate-
ar por um tipo cego e seis meses mais novo ser melhor cozinheiro
do que eu. Mas não sou. Por isso não me chateio.
Fui à cozinha: o pequeno-almoço estava quase pronto.
— Fang? Põe a mesa. Vou acordar a Nudge e a Angel.
As duas raparigas partilhavam o último quartinho. Abri a porta
para encontrar Nudge, de onze anos, a dormir, toda enrolada nas
mantas. Nem parecia ela, com a boca fechada. Quando estava acor-
dada, chamávamos-lhe a «Canal Nudge»: sempre no ar e consigo
a falar pelos cotovelos.
— Hei, docinho, toca a acordar — disse eu, abanando-lhe o
ombro suavemente. — O pequeno-almoço fica pronto dentro de
dez minutos.
Nudge piscou os olhos castanhos, tentando a todo o custo focá-
-los em mim.
— Quê? — murmurou ela.
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— Já é outro dia — disse. — Levanta-te e enfrenta-o, anda.
Gemendo, Nudge ergueu-se numa posição toda torta, mas ofi-
cialmente direita.
Do outro lado da sala, uma cortina fina tapava um canto. Angel
gostou sempre de cantinhos confortáveis. A sua cama, escondida
atrás da cortina, era como um ninho: cheio de peluches, livrinhos,
a maioria da sua roupa. Sorri e abri o cortinado.
— Ena, já estás vestida! — disse, debruçando-me para a abraçar.
— Olá, Max — disse Angel, tirando os caracóis loiros de den-
tro da gola. — Apertas-me os botões?
— Aperto — Virei-a de costas para mim e comecei a arranjá-la.
Nunca o disse aos outros, mas eu adoro, adoro, adoro esta miú-
da. Talvez porque tome conta dela desde bebé. Ou talvez porque
ela é incrivelmente doce e amorosa.
— Talvez porque eu sou, tipo, a tua menina — disse Angel,
virando-se para me olhar. — Mas não te preocupes, Max. Eu não
digo a ninguém. Além disso eu também gosto muito de ti. — Pôs
os bracinhos à volta do meu pescoço e pespegou um beijinho um
bocado peganhento na minha bochecha. Abracei-a com força.
Ah, pois… Angel tem outra coisa especial. Ela lê os pensamen-
tos das outras pessoas.
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— Quero ir hoje apanhar morangos — disse Angel com firme-
za, enfiando uma garfada de ovos mexidos na boca. — Estão ma-
durinhos.
— Tudo bem, Angel, eu vou contigo — disse Gazzy. E nessa al-
tura deixou escapar uma das suas infelizes ocorrências, o que lhe
motivou um risinho.
— Oh, bolas, Gazzy — disse eu.
— Tragam máscaras de gás! — disse Iggy a fingir que estava
engasgado, apertando a garganta como se fosse asfixiar.
— Já acabei — disse Fang, levantando-se muito depressa, e foi
pôr o prato no lava-loiças.
— Desculpem — disse Gazzy automaticamente, mas conti-
nuou a comer.
— Boa, Angel — disse Nudge. Acho que o ar puro nos fazia
bem a todos. Eu também vou.
— Vamos todos — decidi.
Lá fora estava um tempo lindo, o céu sem nuvens, e era o pri-
meiro calor a sério de maio. Levámos baldes e cestos e Angel
levou-nos para um grande campo de morangos silvestres. Agar-
rou-me a mão.
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— Se fizeres um bolo, posso fazer bolachas de morango — dis-
se ela alegremente.
— Ah, pois, espera que a Max faça bolos, espera — ouvi Iggy a
dizer. — Eu faço, Angel.
Rodopiei.
— Ah, obrigadinho! — exclamei. — Está bem que não sou uma
grande cozinheira. Mas ainda sei dar-te um pontapé no rabo, não
te esqueças disso!
Iggy desatou-se a rir e levantou as mãos a dizer que não.
Nudge esforçava-se por não se rir, e até Fang estava a sorrir e
Gazzy parecia… perverso.
— Não me digas que… foste tu! — disse eu a Gazzy.
Ele riu-se e encolheu os ombros, tentando disfarçar que estava
muito contente com a sua proeza. Gazzy tinha uns três anos quan-
do percebi que ele era capaz de imitar sons e vozes. Perdi a conta
às vezes que Iggy e Fang quase andaram à estalada por coisas que
tinha sido Gazzy a dizer, imitando as vozes de um ou de outro. Era
um dom malvado e ele usava-o alegremente.
Enfim, era só mais uma habilidade estranha. A maioria de nós
tinha esses poderes, que tornavam a nossa vida mais interessante.
Angel parou e gritou.
Espantada, olhei para ela e, no segundo seguinte, homens com
focinhos de lobo, grandes caninos e olhos vermelhos caíram do
céu como aranhas. Erasers! E não era um sonho...
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Não havia tempo para pensar. Jeb treinou-nos para não pensar-
mos. Agimos e nada mais. Atirei-me a um Eraser, rodopiando, e
atingi-o no peito com um pontapé fortíssimo. O Eraser perdeu o
ar, com um ufff, e o cheiro que lhe saiu da boca era mesmo desa-
gradável, como lixo deixado muito tempo ao sol.
Depois, foi como num filme, um molho de imagens sobrepos-
tas que nem parecem reais. Dei outra pancada num, depois um
Eraser deu-me um soco tão grande que a minha cabeça ficou a an-
dar à roda e senti sangue na boca. Pelo cantinho do olho, vi Fang
lançar-se a um Eraser… até dois outros lhe saltarem em cima e o
deitarem por terra com as suas garras.
Iggy ainda estava de pé, mas tinha um olho inchado.
Em choque, pus-me em pé e vi Gazzy de cara para baixo, caí-
do no chão.
Arrastei-me até junto dele, mas fui de novo agarrada. Dois Era-
sers puxaram-me os braços para trás das costas. Outro inclinou-se
com os olhos vermelhos a brilhar de excitação, a mandíbula toda para
fora como um focinho. Puxou a mão atrás e fechou o punho. Depois
disparou-a com força, dando-me um murro na barriga. Senti uma
dor enorme a explodir e dobrei-me toda, caindo como uma pedra.
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Ao longe, ouvi Angel a gritar e Nudge a chorar.
Levanta-te!, disse a mim mesma, tentando enfiar ar nos pulmões.
De pé! Por sermos crianças mutantes somos muito mais fortes do
que os humanos adultos normais. Mas os Erasers não são adultos
humanos normais e eram mais do que nós. Lutei com as mãos e
os joelhos, tentando não vomitar.
Pus-me em pé, cega de raiva, pronta a matar. Dois Erasers agar-
ravam nas mãos e nos pés de Nudge. Baloiçaram-na com força e
atiraram-na pelo ar! Ela bateu com a cabeça numa árvore: ouvi um
gritinho de dor e depois caiu no meio da caruma.
Com um grito rouco, desatei a correr e agarrei com força nas
orelhas peludas de um Eraser.
Guinchou, os tímpanos saltaram-lhe e ele caiu de joelhos.
— Max! — gritou Angel, com uma voz muito aguda, aterrori-
zada, e eu voltei-me. Um Eraser agarrava-lhe os braços e eu corri
para eles, saltando por cima de Iggy, que estava desmaiado no chão.
Dois Erasers caíram-me em cima, atirando-me ao chão, e um
pôs um joelho no meu peito. Debati-me e um deles deu-me um
estalo na cara com força, as suas garras a marcarem a minha bo-
checha com arranhões fundos.
Meio tonta, caí para trás, com os dois Erasers a manterem-me
imóvel. Foi com horror que vi outros três a enfiarem Angel, o meu
bebé, num saco. Ela chorava e gritava e um deu-lhe uma palmada.
Lutando freneticamente, tentei gritar mas só consegui emitir
um ruído rouco e engasgado: — Saiam de cima de mim, seus es-
túpidos anormais… — Tentei soltar-me, mas mas acabei por ser
de novo empurrada contra o chão.
Um Eraser inclinou-se sobre mim, sorrindo malevolamente.
— Max — disse ele, e o meu estômago revolveu-se… será que
o conhecia? — Que bom ver-te de novo — continuou ele em tom
amável. — Pareces um saco de lixo. E como costumas agir mui-
to melhor do que todos os outros, isso só me dá mais satisfação.
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— Quem és tu? — disse, sentindo um grande frio no corpo todo.
O Eraser riu-se, com os seus dentes longos e afiados que mal
lhe cabiam na boca.
— Já não me conheces? Se calhar, é porque cresci.
Os meus olhos ficaram muito abertos quando de repente o re-
conheci, para meu horror.
— Ari — murmurei e ele riu-se como um doido.
Depois levantou-se. Vi a sua enorme bota preta aproximar-se
da minha cabeça, senti a cabeça dobrar-se para um lado e ficou
tudo preto.
O meu último pensamento era de descrença: Ari era filho de
Jeb. Transformaram-no num Eraser. Tinha sete anos.
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