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SURDOS EM DESTAQUE: BIOGRAFIAS
Kátia Yuri Okawa*
Maria Emilia Mello Zanquetta**
RESUMO Este artigo teve o objetivo de conhecer alguns Surdos que se destacam na comunidade surda. Para a construção desse artigo, foram coletados depoimentos das próprias situações vivenciadas pelos Surdos e com base nessa coleta foram montadas suas biografias. Suas opiniões sobre as metodologias de ensino também foram levadas em conta, o processo até construírem suas identidades, o apoio familiar que é muito importante, os vários tipos de preconceitos que tiveram, as dificuldades que sofreram com a falta de interpretes, como superaram todas as dificuldades e como eles se encontram atualmente. Os resultados foram satisfatórios, pois todos apesar de sofrerem no início, acabaram colocando esse sofrimento como mais um obstáculo entre muitos que enfrentaram, tornando-se fortes para alcançar os seus objetivos. No entanto, toda essa trajetória foi de extrema importância para que eles não desistissem dos seus sonhos e hoje, relatam com muito orgulho todos os momentos que viveram e lutam pelos seus direitos como cidadãos para que os outros surdos não sofram o que eles sofreram. Palavras-chave: Surdez. Biografia dos Surdos. 1 INTRODUÇÃO
O objetivo desse artigo é conhecermos os Surdos que se destacam em sua própria
comunidade, para isso é necessário um esclarecimento sobre o que é a construção de
identidade, quais são os tipos de identidade, a cultura e comunidade surda. Com esses
esclarecimentos podemos compreender e entender o trabalho árduo desses Surdos
para se destacarem em sua comunidade.
Neste artigo, as biografias citadas foram analisadas pessoalmente pelos próprios lutam
pelos seus direitos e o quanto é gratificante ver que eles conquistam cada vez mais o
seu espaço em meio ao mundo ouvinte. * Pós-graduanda do Curso de Especialização em LIBRAS/Língua Portuguesa: Educação Bilíngüe para Surdos/2009 do Instituto Paranaense de Ensino. E-mail; katiayokawa@hotmail.com
** Professora orientadora. Professora de Métodos e Técnicas de Pesquisa – Instituto Paranaense de ensino..
Surdos, o que realmente faz grande diferença, pois todos foram minuciosamente
analisados e só depois redigido. Nessas biografias, iremos perceber o quanto todos.
As grandes mudanças que os Surdos tiveram durante toda a sua história foram muito
significativas, como a transição do Oralismo para a comunicação total e finalmente para
o bilingüismo. Essa luta não foi tão fácil e rápida como parece. Muitos séculos se
passaram e uma trajetória muito árdua foi percorrida por eles.
Inicialmente com o Oralismo muitos Surdos eram tratados como deficientes e limitados,
e seu objetivo maior era transformá-los em ouvintes, assim muitos aspectos cognitivos,
afetivos e sociais eram deixados de lado e com isso não se desenvolviam plenamente.
Além dos métodos de aprendizagens serem extremamente traumáticos, eles eram
submetidos muitas vezes a situações constrangedoras e assim muitos eram
“domesticados”. O Surdo era ensinado a pronunciar palavras e não a falar, a ênfase
nos exercícios de articulação trazia um prejuízo ao desenvolvimento da linguagem
(GÒES, 1995, p.35). Com isso, era quase que impossível um Surdo se destacar em sua
comunidade e menos ainda na sociedade ouvinte.
Depois veio a Comunicação Total que tinha como objetivo melhorar os processos
comunicativos entre a comunidade surda e também a comunidade ouvinte. Algumas
mudanças já são visíveis, como a preocupação com os aspectos cognitivos, sociais e
emocionais do Surdo. Reconhece também que existem vários recursos para facilitar a
comunicação como, por exemplo, à utilização de recursos como a fala, a leitura labial, a
escrita, o alfabeto manual, a língua de sinais etc. Quando foi criada teve mérito por
reconhecer a língua de sinais como direito do Surdo, mas ainda não é considerada
como língua e sim como mais um recurso facilitador de comunicação. Alguns Surdos,
embora muito poucos começam a ter seu espaço.
O grande “BOOOM!!!” para o desenvolvimento pleno do Surdo, veio com o surgimento
do bilingüismo, que reconhece o Surdo não mais como um deficiente e sim pela sua
diferença e especificidade. A língua oral não é mais utilizada, e o reconhecimento da
Libras como língua natural e oficial do Surdo. Com isso, o Surdo começa a criar sua
própria identidade surda, sua comunidade e principalmente a sua própria cultura.
Reconhecidos como indivíduos com potencialidades, são notórios os inúmeros Surdos
que se destacam em toda a sociedade surda e ouvinte. É esse o meu objetivo desse
artigo, mostrar que existem Surdos que conseguem se destacar em sua comunidade e
que de fato são grandes exemplos pra todos. Com a luta constante do povo Surdo,
algumas vitórias já ocorreram como a lei da oficialização de libras, o direito ao intérprete
em instituições educacionais e em qualquer local público ou privado em que houver
necessidade. Atualmente, alguns Surdos são bem sucedidos, e conseguiram seu
espaço com muita dedicação e muita luta. Alguns são doutores, mestrandos,
profissionais de sucesso, famosos. Vejamos alguns Surdos que se destacam e que dão
grande contribuição para a comunidade surda e que principalmente estão dando
exemplos aos Surdos que estão lutando pra conseguir seu espaço.
2 GLOSSÁRIO
Para que possamos entender um pouco mais sobre a cultura surda é preciso
compreender as palavras que eles os Surdos utilizam constantemente.
Surdo – pessoa com surdez. É escrita com letra maiúscula, pois segundo o autor Oliver
Sacks, grande pesquisador na área da Surdez, utiliza sempre com letra maiúscula para
designar o individuo lingüístico e cultural, ou seja, o indivíduo que tem sua própria
cultura, sua singularidade na forma de pensar e agir, e não apenas pensando somente
nos aspectos biológicos e clínicos, ligados a surdez. (SACKS, 1990).
Identidade surda - O conceito de identidade implica no processo de consciência de si
próprio, ocorrendo por meio de relações de comunicações lingüísticas, experiências
sociais e culturais. Assim, autoproduzem significados a partir de informações
intelectuais, artísticas, jurídicas, éticas desenvolvendo então a cultura Surda (Sá, 2006,
p. 126).
Comunidade Surda - A comunidade surda são todos os indivíduos que participam e que
ajudam o surdo a se identificar e construir sua identidade. Assim, a comunidade surda,
na verdade não é só de Surdos, uma vez que ouvintes como familiares, intérpretes,
professores, amigos e outros participam compartilhando os mesmos interesses em
comum. Esses interesses fazem com que os Surdos cresçam, se desenvolvam e se
beneficiam em sua comunidade.
Cultura Surda - A cultura surda é todo jeito Surdo de ser, perceber, de sentir, vivenciar,
de comunicar, de transformar o mundo de modo a torná-lo habitável (PERLIN, 2003).
Assim, os Surdos vêem o mundo de maneira diferente, com experiências visuais,
compartilhando experiências, valores, hábitos de modo a construir sua própria cultura e
sua identidade como pertencente a um povo de uma cultura diferente aos dos ouvintes
(STROBEL, 2009)
Oralismo – método de ensino para Surdos, impondo exclusivamente a língua na
modalidade oral, com o objetivo da integrar o Surdo na cultura ouvinte e seu
afastamento da cultura surda. É extremamente proibida a íngua de sinais. As formas de
organização cultura, cognitiva, afetiva são deixados de lado, assim, sem essa base, fica
inviável a instrumentalização lingüístico-cognitiva do Surdo (SÀ, 2006, p. 78)
Comunicação Total – tinha como um dos objetivos os processos comunicativos entre os
Surdos e Surdos e entre Surdos e ouvintes. Acreditava que os aspectos cognitivos,
emocionais e sociais não deviam ser deixados de lado em prol do aprendizado
exclusivo da língua oral, defendendo a utilização de recursos espaço-visuais como
facilitadores da comunicação (GODLDFELD, 1997, p.35)
Educação Bilíngüe – é uma situação lingüística que compreende a utilização de duas
línguas na escolarização dos Surdos: a língua brasileira de sinais – libras e a língua
portuguesa. É a possibilidade de incluir a análise da educação dos Surdos dentro de
um contexto mais apropriado a situação lingüística, social, cultural, dos sujeitos Surdos
(SKLIAR, 2001, p. 14).
LSB – abreviação de Língua de Sinais Brasileira, mais conhecida e oficializada no
Brasil como Libras. É a língua natural dos Surdos.
Libras – Língua brasileira de sinais, é a língua oficial da comunidade surda brasileira, é
uma língua gesto-visual, com estrutura gramatical própria.
INES – Instituto Nacional de Educação dos Surdos, é o centro nacional de referência na
área da surdez, no Brasil, sendo órgão do Ministério da Educação. Foi a primeira
Instituição no Brasil ( pt.wikipedia.org/wiki/INES).
FENEIS – Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos. É uma entidade
filantrópica sem fins lucrativos com a finalidade de integração sócio-cultural, assistencial
e educacional. Lutando pelos direitos da Comunidade Surda Brasileira. Suas atividades
são reconhecidas como Utilidade Pública Federal, Estadual e Municipal
(pt.wikipedia.org/wiki/FENEIS).
APADA – Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Auditivos. É uma entidade sem
fins lucrativos com a finalidade de promover a inclusão dos Surdos na sociedade
brasileira, bem como capacitar profissionais voluntários (intérpretes) para o
aperfeiçoamento da comunicação entre Surdos e ouvintes.
ARPEF – Associação de Reabilitação e Pesquisa Fonoaudiológica. Surgiu com a
finalidade de reabilitar os Surdos na sociedade, por meio da comunicação oral, que
depois foi ampliado para uma perspectiva bilíngüe, onde os Surdos são ensinados a
falar e também aprender a língua de sinais.
CES – Centro de Estudo Surdo. Foi criado para tender a comunidade Surda de todo o
Brasil.
CAS - Centro de Apoio aos Profissionais de Educação de Surdos.
ILSB – Instituto de Língua de Sinais Brasileira. Tem como princípio contribuir para a
valorização divulgação da arte e da comunidade Surda, promovendo e estimulando a
inclusão social.
UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina.
CONADE – Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência. É um
órgão superior de deliberação colegiada criada para acompanhar e avaliar o
desenvolvimento de uma política nacional para inclusão da pessoa com deficiência e
das políticas setoriais de educação, saúde, trabalho, assistência social, transporte,
cultura, turismo, desporto, lazer e política urbana dirigidos a esse grupo social.
UCDB - Universidade Católica Dom Bosco. Instituição de ensino superior situada em
Mato Grosso do Sul.
Essas palavras deste glossário são muitos utilizados pelos Surdos citados abaixo, muito
deles foram e são membros dessas associações, ajudando toda a comunidade Surda
na luta pelos seus direitos, vejamos a seguir.
3 “AUTOBIOGRAFIAS” DOS SURDOS
Alguns Surdos contam sua história de vida, os obstáculos que enfrentaram e que
enfrentam até hoje, a maioria deles enfrentaram a mesma dificuldade com a educação,
todos aparentemente com a mesma idade, passaram pela educação oralista, pela
construção da sua identidade até chegarem onde estão, sempre lutando pelos seus
ideais. Os depoimentos estão em ordem alfabética para melhor entendimento. Vejamos
a história de cada um deles
Antonio Campos de Abreu “O objetivo de ter escolhido o curso foi conhecer um pouco
mais da historia dos Surdos, sua luta através das associações de surdos e os movimentos dos Surdos,...”
Nasceu em 11 de maio de 1956, em Abaeté em Minas Gerais. Surdo desde que
nasceu, aprendeu a se comunicar através de sinais que ele próprio inventava. Como a
sua cidade não havia recursos para educação de surdos, ele só foi à escola com 11
anos, quando realmente aprendeu a Língua Brasileira de Sinais. A partir daí sua vida
mudou completamente, pois passou a se comunicar com maior desenvoltura e aprender
sobre o mundo que o cercava.
Sua infância foi como a de qualquer criança, sua casa sempre estava cheia de gente, e
para comunicar-se ele utilizava o português sinalizando as palavras para a família,
amigos e vizinhos com os sinais que ele próprio inventava. Sua família já estava
habituada com as diferenças, pois havia parentes com outras diferenças, seus pais
embora tradicionais faziam questão de estimular o diálogo para orientar os seus filhos.
Sua mãe e seu pai sempre estiveram preocupados em educá-lo, mas sua situação
financeira não era boa, seu pai não concordava com a escola especializada, queria que
ele estudasse na escola normal junto com seus outros irmãos, então com 11 anos, seu
primo financiou a sua viagem para estudar no INES (Instituto Nacional de Educação de
Surdos, no Rio de janeiro. Em 1973 saiu do INES e foi para Belo Horizonte estudar o
ensino médio na escola comum. Teve um pouco de dificuldade, pois não tinha recursos
como intérprete de Libras. Então sua irmã teve um papel fundamental porque foi ela
quem o ajudou e ensinou tudo. Com 27 anos terminou o ensino médio e começou a
trabalhar como colaborador da Associação de Surdos em Minas Gerais e depois foi
trabalhar na Usiminas.
Em 2004, voltou a estudar fazendo supletivo, dessa vez em um projeto inclusivo, com a
presença de intérprete. Em 2005, passou no vestibular da Universo, no curso de
História onde concluiu em 2007, o objetivo de ter escolhido o curso foi conhecer um
pouco mais da história dos Surdos, sua luta através das associações de Surdos e os
movimentos dos Surdos, teve a oportunidade de comparar os diversos contextos da
História dos Surdos e ouvintes, encontrando documentos sobre a trajetória da
comunidade surda.
Sua primeira experiência foi como diretor, depois foi da Associação dos Surdos de
Minas Gerais, onde atuou durante 32 anos. Depois fundou a Federação Mineira
Desportiva de Surdos e a Confederação Brasileira de Desportivo dos Surdos,
trabalhando como voluntário, mais tarde uniu-se com um grupo de Surdos e fundou a
Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos. Publicou vários livros entre
eles “Livro da Libras - Língua Brasileira de Sinais” no ano de 1996, o livro sobre surdez
da FENEIS entre outros trabalhos publicados. Sempre teve o objetivo de estimular a
integração entre Surdos e ouvintes, valorizando a cultura do Surdo, o uso da Libras e a
prática de esportes.
Teve a oportunidade de fazer um curso “Pessoas Surdas trabalhando juntas” em 1989
nos Estados Unidos, na Universidade Gallaudet. É membro da Federação Mundial dos
Surdos. Uma das suas maiores contribuições quando estava na Feneis foi a aprovação
da Lei de Libras e o movimento ao MEC para a capacitação de instrutores Surdos e
professores. Em 1995, foi para Áustria no IV Congresso Mundial de Surdos da F.M.A
onde defendeu seu trabalho sobre os direitos humanos dos Surdos. Em 2000, foi para
Venezuela como conferencista falando sobre “A Comunidade Brasileira Atualidade
Surda no Brasil”.
Para ele, a Libras é um instrumento de comunicação e de interação com as pessoas,
salientando sempre que as crianças devem ter acesso a comunicação o quanto antes,
para que elas tenham condições de criar uma identidade na sociedade, podendo então
se desenvolver desde que tenham oportunidade, como acesso à universidade, pós-
graduação, para que possam competir no mercado de trabalho.
Cláudio (Cacau) Henrique Nunes Mourão
“Não sei de onde estou ouvindo, pode ser meu braço ou peito ou pescoço ou cabeça ou... meu coração!!!! Como se minha alma estivesse escutando as musicas e eu acompanhando...”.
Nasceu em fevereiro de 1973. Apesar de ter nascido com
surdez profunda, o maranhense conhecido como Cacau Mourão é um bailarino
talentoso. Foi descoberto por Fabio de Mello em 1997, que desempenhou em abrir
caminhos para sua especialização no Rio de Janeiro, conseguiu superar todas as
descrenças em relação ao seu talento. Tem um currículo invejável como bolsas
integrais de estudos de balé clássico na Academia Dalal Achcar, de dança moderna na
Academia Heloisa Menezes, de aperfeiçoamento em balé na Escola Maria Olenewa, de
dança de salão na casa de Dança Carlinhos de Jesus. Junto ao INES faz atividades
artísticas sob orientação do grupo de teatro Lado a Lado, participou de diversas
apresentações e foi primeiro colocado masculino em audição nacional para a
companhia profissional de dança de Carlinhos de Jesus.
Tem leitura labial, pois sua mãe incentivava a substituir os gestos pela fala, sempre que
conversa com alguém costuma olhar nos olhos enquanto vai lendo os lábios da pessoa
que conversa. Domina a Libras que foi ensinada pelo professor e amigo Nelson
Pimenta, o qual se comunica com outros Surdos. Seus maiores incentivadores foram o
seu ex-professor de jazz Henrique Serra, Fernando Bicudo e Antonio Gaspar. Também
os bailarinos da Ópera Brasil, Fabio Mello e a Companhia Carlinhos de Jesus.
Quando dança, senti a vibração de sons. E com ajuda da matemática, calcula os
passos da coreografia, ele costuma fazer uma marcação, contar os passos e decorar a
coreografia. Aos vinte e dois anos foi convidado a estudar bale clássico, depois de
assistir algumas aulas de um bailarino cubano não parou mais, depois ganhou uma
bolsa de estudo no Teatro Arthur Azevedo, sob a direção de Antonio Gaspar onde
acabou se formando e fazendo parte do corpo de balé da Opera Brasil, dirigido por
Fernando Bicudo, onde participou dos espetáculos “Catirina”, “Nordestenamente”,
“Orfeu e Euridinice”, que foram as maiores emoções da sua vida.
Atualmente é professor de dança de salão e jazz para jovens e adultos na Casa
da Cultura do Silêncio, especializada em deficientes auditivos, com o auxilio do ator
Nelson Pimenta e o coreógrafo Fabio de Mello. Seu maior desejo é a de que os Surdos
lutem e enfrentem todas as barreiras para a realização de seus sonhos seja eles de
dança ou não, se dedicando ao máximo, pois certamente terá um grande retorno.
Galdis Perlin “ A primeira coisa que me encantou, foi a facilidade de
comunicar na língua de sinais...”
Nasceu ouvinte, mas com sete anos pegou uma meningite que a
deixou surda. Para ela, não foi nada interessante, pois estava
ingressando na escola para ser alfabetizada. Aos pouco a sua
comunicação ouvinte, foi sendo extremamente visual. Começou então, um caminho
com muitos obstáculos e frustrações ate encontrar sua própria identidade surda. Não
fazia leitura labial então, ficava muito frustrada e irritada, pois não entendia o que as
outras pessoas falavam e tentava muitas vezes adivinhar o que elas falavam.
Seus estudos foram praticamente em escolas regulares que tinham a visão de
integração dos surdos junto com os ouvintes. Para ela, não foi nada positivo, pelo
contrário, foi frustrante porque era como estudar em uma escola de outro país, não
entendia o significado das palavras e principalmente não entendia o porque estudar
uma língua extremamente ouvinte se ela não ouvia. Somente com quinze anos teve
contato com outros Surdos, ficou fascinada como eles se comunicavam facilmente na
língua de sinais, porém, estava impedida de utilizar a língua de sinais, pois onde
estudava na época, seguia o Oralismo e era proibida a utilização da língua de sinais.
Como por ironia do destino, depois de quinze anos ela voltava à mesma escola não
como aluna, mas sim como professora lutando para introduzir a língua de sinais na
educação dos Surdos. Em 1985, as escolas começaram a perceber a importância
dessa língua para os Surdos.
Possui graduação em Teologia pela PUC-RS (Pontifica Universidade Católica do Rio
Grande do Sul), mestre em educação UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do
Sul) e doutora em educação pela UFRGS, ambos orientados por Carlos Skliar.
Juntamente com outros Surdos, fundou a FENEIS em Porto Alegre, com o objetivo
voltado para as diferenças de ser Surdos lutando até hoje pelos seus direitos. Fez parte
de um grupo internacional o WILD (Womens Institute on Leadership and Disability), que
prioriza o desenvolvimento das mulheres deficientes. Com esse grupo as mulheres
Surdas podem pensar em seus direitos e defender suas causas. Professora adjunta no
Centro de Ciências da Educação pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).
Orientadora de dissertações de mestrado e teses de doutorado na linha Educação e
Processos Inclusivos, que buscam desenvolver Estudos Surdos. Coordenadora do GES
(Grupo de Estudos Surdos). Distinguiu vários tipos de Identidades Surdas.
Para ela a educação ideal é aquela que inclui o Surdo nos anos iniciais em escolas de
Surdos onde passam a conhecer outros Surdos semelhantes, onde ajuda a encontrar
facilmente a própria identidade como povo Surdo. Para ela, atualmente a integração
escolar só é boa nas séries do Ensino Médio, quando o Surdo já tem o jeito de entender
as coisas. Não incluir a criança Surda entre outras crianças Surdas e somente em
grupos de crianças ouvintes é a mesma coisa que exclui-las. Por isso, é preciso incluir
indivíduo Surdo o quanto antes em sua própria comunidade, pois é essencial para a
construção de sua identidade, lutando pelos seus direitos de
serem cidadãos.
Heloir Aparecido Montanher
“Eu estava começando a descobrir novos horizontes e me desenvolver como pessoa. Aprender a LSB também me ajudou a aprender novas palavras e entender melhor a língua portuguesa em contextos diferentes".
Nasceu em 27 de agosto de 1978, na cidade de Maringá – Pr. Quando nasceu, seus
pais não perceberam nada de diferente, era uma criança como qualquer outra a
primeira vista. Quando tinha aproximadamente oito meses em Palotina onde morava,
sua mãe começou a observar que não atendia a sons, porem quando batia no chão ele
olhava como se estivesse procurando algo, então começou a desconfiar que ele não
ouvia somente sentia a vibração. Então em Londrina, o médico constatou que ele era
realmente Surdo e encaminhou na época para um especialista considerado o melhor
médico otorrinolaringologista em São Paulo.
Entre dois e três anos inventava nome para as coisas que queria, era como se fosse
um tipo de código que apenas os que conviviam com ele entendiam. Com três anos
começou a freqüentar a escola Tia Amélia (atual ACAS), onde começou a aprender a
leitura labial e também a aprender a falar. Apesar da escola ser própria pra surdos não
ensinava a língua de sinais, pois era proibido por lei. Sua filosofia priorizava o oralismo.
Os Surdos em geral sofreram muito com esse sistema de ensino, não havia emoção em
suas comunicações, não entendia, bem os diferentes contextos e nem o verdadeiro
significado das palavras. Seu comportamento sempre era de muita agitação com seus
colegas, porem sempre respeitou os professores, sendo ele o líder da turma.
Com cinco anos morou com seus avós maternos, onde foi muito feliz, pois eles não
eram tão rigorosos como seus pais. Aos onze anos foi morar com seus pais de novo em
Lupiopólis, onde começou a estudar em uma escola regular. Nessa escola ele
enfrentou muitos preconceitos, pois professores e alunos insistiam em dizer que ele não
era capaz de aprender e nem fazer as atividades propostas. Mesmo não entendendo
muito pela falta de conhecimento e comunicação percebia que não era bem vindo,
devido às expressões faciais que freqüentemente deparava, já que seu mundo era
totalmente visual. Mas foi com sua força de vontade que ele realmente mostrou pra
todos que era muito interessado e além de tudo muito esforçado. A partir daí
começaram a aceitá-lo com mais facilidade.
Durante toda sua trajetória escolar, o português foi à disciplina que ele teve mais
dificuldade, pois tinha pouco vocabulário e os professores quase não tinham muita
paciência com ele, como conseqüência não fazia as atividades propostas, onde mais
uma vez sofreu preconceito. Porem, se destacava em outras disciplinas como
matemática, física, química entre outras sendo somente o português a sua maior
dificuldade.
Começou a ter contato com a língua de sinais aos dezoito anos, começou então a
descobrir novos horizontes e se desenvolver realmente como pessoa. Somente com
vinte e quatro anos descobriu sua verdadeira identidade, tendo opinião própria, seu
próprio senso crítico, a lutar pelos seus direitos como cidadão que pensa, aprende,
discute e ensina. Foi com essa mesma idade que entrou para a universidade FAG,
onde concluiu o curso de pedagogia, nesta universidade se sentiu muito confuso com
as disciplinas totalmente diferentes do Ensino médio, e parar piorar não tinha intérprete.
Como já estava com sua identidade construída reivindicou seus direitos de ter intérprete
e depois de seis meses conseguiu uma intérprete voluntária que o ajudou muito a
desenvolver e expor suas idéias. Essa intérprete trabalhou com ele durante um ano e
meio onde foi muito satisfatório, pois ela tinha fluência e ética. Depois dessa intérprete,
ele teve outros intérpretes, mas sem muito sucesso pois, ele desejava aprender como
poderia melhorar realmente a educação e não simplesmente receber o diploma ou
melhorar o salário.
Atualmente esta fazendo a graduação de Letras/Libras pela Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC), tem especialização em Libras/Língua Portuguesa – Educação
Bilíngüe para surdos pelo Instituto Paranaense de Ensino e é pós-graduando em
Filosofia da Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), trabalha no
Centro de Apoio aos Profissionais de Educação de Surdos (CAS) e Secretaria de
Estado da Educação do Paraná/Departamento Educação Especial Inclusão da
Educacional.
Karin Lílian Strobel
“Libras... é uma benção de Deus em existir uma língua visual, com expressão corporal, esta língua me abriu as portas para o mundo Surdo e também de ouvintes, pois com a iniciação do uso dessa língua me fez viver uma vida sadia e feliz”.
Nasceu em Curitiba, nasceu ouvinte e aos quatro dias de vida
pegou um resfriado muito forte e no hospital houve um erro
medico que a deixou Surda profunda. Teve uma infância muito feliz juntamente com
sua família extremamente unida. Quando estava na adolescência teve uma crise de
identidade, tratava-se de anos e anos de disputa pelo espaço social em ambientes
cheios de estereótipos negativos sobre a cultura Surda. Para ela, o mais importante foi
o amor de sua mãe que a apoiou e motivou em todos os momentos na sua construção
da identidade Surda e de se tornar uma vencedora na vida.
Graduada em Pedagogia com habilitação em magistério pela Universidade Tuiuti do
Paraná, especialista em Áudio Comunicação, pelo Instituto de Educação do Paraná e
doutora em Educação pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Autora do
livro “As imagens do outro sobre a cultura surda”. Atualmente faz parte da equipe de
Letras/Libras como autora e professora das disciplinas “Fundamentos de Educação dos
Surdos”, “História de Educação dos Surdos” e “Metodologia de ensino de Libras como
Lingua1”, e também é tutora de turma de licenciatura de Letras/Libras da UFSC.
Preside a FENEIS, como objetivo de atuar na defesa dos direitos das pessoas Surdas.
Sua construção de identidade Surda só foi possível com o apoio de seus familiares, que
aceitaram sua surdez na adolescência, fazendo com que ela se conhecesse melhor,
deixando seus medos de lado e acima de tudo, acreditar no seu potencial para vencer
os desafios da vida.
Aos quinze anos teve o seu primeiro contato com a Libras, na época estava triste, pois
não sabia qual era o seu espaço no mundo, pois na escola para Surdos era proibida a
Libras e na escola regular oralizava como um “papagaio”, foi então que sua mãe levou
a uma associação de Surdos em Curitiba, onde permitiu a ela construir sua verdadeira
identidade Surda e a abrir as portas para o mundo.
Durante toda sua vida escolar com exceção do mestrado e doutorado não teve
intérprete em sala de aula e na universidade, enfrentando muitas dificuldades, pois os
profissionais da educação não tinham conhecimento de como lidar com uma pessoa
Surda. Ao ingressar no mestrado na UFSC teve a oportunidade de encontrar colegas e
professores usuário da língua de sinais, de assistir aula com intérprete e participar
juntamente no grupo GES (Grupo Estudos Surdos) que tem por objetivo desenvolver
pesquisas na área dos estudos Surdos. Sua tese de doutorado aborda algumas
analogias de poderes em relação ao corpo Surdo e modos possíveis de abordar em sua
subjetividade o ser Surdo.
Para ela, a Libras é uma porta de interculturalidade entre os Surdos e ouvintes, pois os
sujeitos Surdos precisam de intérpretes, família, amigos e professores que os
entendam. Seus planos para o futuro são escrever mais livros que auxiliem as
comunidades ouvintes a entenderem o povo Surdo e também incentivar outros sujeitos
Surdos a deixarem registros de suas experiências nas formas escritas ou narradas em
libras pelos dvds.
Kenia Jéssica Yamanaka
“A família, meus pais sempre me ajudaram muito, conversavam sobre tudo, me
ensinavam coisas além do que a escola passava (conhecimento de mundo)”.
Nasceu em 10 de agosto de 1984, na cidade de Guairá - Pr. É filha única, nasceu
Surda profunda não sabendo a causa da Surdez. Seu diagnóstico só foi feito com um
ano e meio de idade. Logo após o diagnóstico mudou-se para Maringá-Pr em busca de
uma escola especializada para Surdos – ANPACIN, iniciando nessa escola com dois
anos e meio de idade. Nesta época, a escola tinha uma abordagem Oralista com o
objetivo de aprender a falar, teve atendimento com fonoauodiologista e aprendeu a
leitura labial e a fala. Sua família foi muito importante para o seu conhecimento de
mundo, ou seja, sempre ensinavam, ajudavam e conversavam muito sobre o que
acontecia alem co conteúdo escolar.
Terminou o Ensino Médio aos dezoito anos. Prestou vestibular na Cesumar, na área de
Odontologia, passou pelas provas objetivas, mas foi desclassificada na redação, pois
sua escrita é surda, e também não tinha um professor na faculdade que conhecesse a
escrita dos Surdos. Felizmente, foi reconhecida e foi aprovada. No começo foi muito
difícil, pois na ANPACIN ela só convivia com a Comunidade Surda e os seus
professores só usavam a Libras. Teve notas baixas nos 1o e 2o bimestres, porque não
entendiam o que os professores falavam, era tudo rápido demais e principalmente
esqueciam que tinha uma pessoa Surda na sala. Graças a sua mãe, que toda vida a
apoiou, conversou com a coordenação do curso e com os professores para que
mudassem as estratégias de ensino e também que corrigissem todas as produções
escritas levando em conta o conteúdo e não a forma de escrita. Com o apoio de seus
amigos de sala que explicavam para ela o que às vezes não ficava claro ela conseguia
entender os conteúdos, concluiu sua graduação em 2007.
Começou a trabalhar como voluntária na ANPR e na UEM, atendia crianças com
deficiências na ANPR e Surdos na UEM. Com isso, fez pós-graduação em Odontologia
para pacientes com necessidades especiais na Faculdade São Leopoldo Mandic, em
Campinas-SP. No inicio de 2008, começou a trabalhar com remuneração e deixou de
lado o voluntariado que tanto adorava.
Na clínica particular em Maringá, onde ela trabalhou, tinha vários dentistas
especializados na mesma área que ela. Atendia vários pacientes e não tinha problema
de comunicação, discriminação e nem preconceito por ela ser Surda. Trabalhava todos
os dias inclusive aos sábados. Mas com a exaustão dos estudos, deixou de lado o
trabalho para concluir sua monografia da especialização, pois viajava todos os meses e
ficava muito tempo fora de casa.
Depois que terminou o a especialização, fez um curso de Capacitação de Sedação
Consciente na mesma faculdade, São Leopoldo Mandic. A faculdade de São Leopoldo
disponibilizou uma intérprete para ela durante dois anos, o que deixou muito aliviada,
pois a própria faculdade fez prevalecer os seus direitos de cidadã. Sua intérprete
sempre a auxiliava nas aulas teóricas, pois nas praticas não havia necessidade. Na sua
graduação nunca teve intérprete, pois naquela época a faculdade não disponibilizava
intérpretes para Surdos.
Atualmente, fez vários concursos na área de odontologia, foi classificada em alguns,
mas ainda não foi chamada. No momento esta aguardando para ser convocada no
ultimo concurso prestado, no qual conseguiu classificação.
Luciana Dantas Ruiz
“O Oralismo teve seu lado bom que foi ser incluída socialmente, podendo ter plena participação nas atividades da comunidade. Quando temos essa oportunidade não percebemos a “deficiência”. Esquecemos as diferenças porque interagimos igualmente”.
Filha caçula de uma família de ouvintes nasceu no dia 25 de
fevereiro de 1967, na cidade do rio de Janeiro. Nasceu surda,
mas seus pais só perceberam a surdez por volta dos oito meses de idade, depois de
passar por dois médicos o qual diagnosticaram sua surdez de grau severa e profunda.
A partir daí, seus pais começou uma grande maratona para reverter este quadro, foi
levada aos melhores especialistas do Brasil que apenas confirmaram a sua surdez,
embora seus pais tentassem modificar esse quadro, levando até a um “milagreiro” em
Congonhas do Campo, mas sem nenhum resultado.
Sua mãe se dedicou muito ao seu tratamento. Aprendeu com vários cursos realizados
em São Paulo e em outras instituições americanas a como lidar, estimular e
desenvolver uma forma de comunicação e ao mesmo tempo preparando sua filha a
conviver “normalmente” com as pessoas ouvintes. Diariamente durante dois anos, seus
pais fizeram uma super estimulação a todos os seus sentidos preservados: tato, viso,
olfato e paladar. Seus exercícios eram muitas vezes cansativos e estressantes, sem
nenhum resultado positivo. Por fim, desistiram dessa técnica e passaram a procurar o
método tradicional de ensino de surdos: o Oralismo. Recorreram então ao INES, que
naquela época a sua metodologia era trabalhar a fala. Como não se adaptou, ficou
apenas um ano e voltou para Nova Friburgo, onde foi matriculada novamente em uma
escola de ouvintes no Maternal, depois estudou no Externato Santa Ignez ate a 8a série.
Segundo ela, o Oralismo teve o seu lado bom que foi ser incluída socialmente, podendo
ter plena participação nas atividades da comunidade, ou seja, quando não se vê a
deficiência, é possível a interação por igual.
Passou por vários vestibulares, como o de arquitetura no rio de Janeiro e administração
na Universidade Candido Mendes – Nova Friburgo, mas como não era sua vocação,
depois de quatro meses abandonou a graduação. Fez vários cursos de arte, pintura e
porcelana e também trabalhou com festas infantis.
Depois de passar por dificuldades na vida pessoal aos 33 anos de idade, teve que
refazer sua vida. Foi nesse momento que ela foi procurar a comunidade surda em
busca de sua verdadeira identidade, ate então, ela só se comunicava com o método
oral, pois sua visão de Libras era de que limitava muitas as habilidades dos Surdos e
sua capacidade de comunicação com as pessoas ouvintes. Depois de um seminário no
ano de 1999, sobre bilingüismo, sua visão mudou. Neste seminário ela teve a
oportunidade de conhecer outros Surdos do Brasil inteiro e percebeu então que seu
mundo era todo visual. Daí por diante, ela descobriu a Libras e o quanto era importante
poder se comunicar das duas formas: com pessoas de sua própria cultura (Surdos) e
com os ouvintes. Teve a oportunidade de conhecer e entender que existe um mundo
próprio dos Surdos e aceitar com naturalidade a sua identidade Surda.
Em 2005, formou-se em Psicologia pela Universidade Estácio de Sá, fez curso de
instrutores da APADA de Niterói. Assim encontrou seu caminho profissional. Neste
mesmo ano, montou um centro de convivência para adolescentes Surdos, baseado nas
suas próprias dificuldades e nos objetivos que ela alcançou. Além disso, divulga a
Libras através de cursos livres para a comunidade. Engajada na luta pela defesa dos
direitos das pessoas Surdas, participa do Conselho Municipal de Defesa dos
Deficientes, na cidade onde mora, Nova Friburgo. Ocupou o cargo de presidência no
ano de 2005 a 2007 e atualmente ocupa o cargo de vice-presidência. E mais uma vez,
valorizando sua Identidade, cultura, comunidade e língua esta se graduando em Letras-
Libras, pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, com o termino previsto
para 2010.
Nelson Pimenta de Castro
“Eu me entrego totalmente e fico feliz vivendo os
personagens...”
Nasceu em Brasília e m 6 de setembro de 1963. Vem de uma
família de Surdos e ouvintes, tem uma irmã Surda, e seu avô também era Surdo.
Estudou em escola especial em Brasília e depois foi ao Rio de Janeiro estudar no INES.
Desde pequeno sentia atraído pelas artes cênicas. E na década de 1990 começou a
atuar no INES. Foi o primeiro ator Surdo a se profissionalizar no Brasil, estudou no NTD
(National Theatre of the Deaf, de New York). Já atuou como instrutor e pesquisador de
LSB em diversas instituições, entre elas o INES, a ARPEF (Associação de Reabilitação
e Pesquisa Fonoaudiológica), o CES e a FENEIS.
Atualmente se graduou em Cinema e Vídeo pela Universidade Estácio de Sá no Rio de
Janeiro. Coordena as ações de teatro e expressão corporal na ARPEF, preside o ILSB
(Instituto de Língua de Sinais Brasileira) e é professor de teatro no Centro Educacional
Pilar Vilazquez. Fundou junto com um ouvinte, a LSB Vídeo que é uma empresa criada
no Rio de Janeiro com o objetivo de melhorar a educação e o nível de informação dos
Surdos no Brasil, atualmente essa empresa tem fitas de vídeo, jogos educativos e livros
didáticos feitos pela equipe da empresa composta por seis pessoas sendo cinco Surdos
e um ouvinte. É autor do livro e DVD “As aventuras de Pinóquio”, em versão com
Libras, que foi desenvolvido com o objetivo de permitir que as crianças interessadas
ouvintes e Surdas, conheçam e tenham acesso a essa história, favorecendo e
incentivando a inclusão social.
Como ator e consultor de Língua Brasileira de Sinais, participou de inúmeras peças
teatrais, vídeos e documentários. Sua atuação no Show Nelson 6 ao Vivo estendeu-se
por Campinas/SP, Curitiba/PR, Florianópolis/SC, Juiz de Fora/RJ, Manaus/AM, Passo
Fundo/RS, Recife/PE, Rio de Janeiro/RJ, São Paulo/SP e Santa Rosa/RS, e lhe rendeu
em 2002 o prêmio na Jornada de Literatura de Passo Fundo.
Para ele, os Surdos precisam de uma educação melhor e completa, precisam ter
acesso a facilidades modernas de comunicação, como por exemplo, legenda em
programas de televisão, intérpretes em teatro, aparelhos de comunicação como Pager
com teclado alfabético etc. Tem o sonho de ver todos os Surdos com os mesmos
direitos de cidadania das pessoas ouvintes.
Rimar Ramalho Segala
“Talvez não haja a necessidade de fazer um diagnóstico tão minucioso sobre quem sou, pois sou surdo. A maior dificuldade neste trabalho não foi à pesquisa e sim como transmitir a vocês, contudo, ouço com meus olhos e falo com minhas mãos”.
Professor, tradutor e ator. Concluiu o curso de Matemática e trabalhou como professor
de Matemática na escola especial para crianças Surdas por seis anos, também fez
curso de teatro.
Entre 2003 e 2004, atuou intensamente em filmes publicitários e institucionais,
destinados a surdos e ouvintes, entre eles um comercial da Vivo e um participou do
curta-metragem “Sinais de Sonho”, dirigido por Billy Castilho. Fundou a Companhia Arte
& Silencio, junto com a sua irmã Sueli Ramalho Segala, também Surda. Foi nesta
companhia, da qual participa até hoje como ator, clown e mímico que criou o espetáculo
“Orelha”, que aborda a inclusão social dos Surdos, a cultura surda e Libras. Esse
espetáculo continua sendo apresentado ate hoje em escolas, praças, teatros,
seminários e congressos, entre outros espaços. Fez curso de clown, no Espaço Folias
D’arte, com Beth Dorgam.
Entre 2005 e 2007, fez curso de pantomima com Luciano Fraga. Junto com Luciano
criou um espetáculo de mímica “Manu Narrare”, que apresenta até hoje. Com Victor
Seixas, fez curso de Mímica Corporal Dramática, e criou o espetáculo de rua “Mil em
Um”. Participou do curso Mimo Corpóreo, com Leela Alaniz.
Com a Cia Arte & Silêncio e Sueli Ramalho Segala criou o espetáculo “os palhaços na
escola”, que aborda a questão da surdez, cultura curda e Libras dentro da sala de aula.
A peça tem sido apresentada em diversas escolas, com o objetivo de sensibilizar
alunos, pais, professores e funcionários sobre a inclusão. Criou também o espetáculo
“Os Palhaços no RH”, que tem sido apresentado em empresas para sensibilizar
empresários e funcionários.
Participou junto da Cia.2Nós, do projeto Dialogo Físico – A Criação Teatral pela
Comunidade Surda e Ouvinte, dentro o VAI (programa de Valorização as Iniciativas
Culturais). Neste projeto, ensinou dramaturgia para alunos Surdos na EMEE Madre
Lucie Bray. Criou o espetáculo infantil “O Coelho que Pensa Pedro”, com a Cia.2Nós,
dirigido por Victor Seixas e apresentado no Centro Cultural São Paulo, em
comemoração ao dia das crianças, em escolas regulares, especiais e inclusivas.
Fez vinhetas de classificação de faixa etária em Libras para a TV Ideal, da Editora Abril.
Foi entrevistado por Brito Junior, ao lado de Sueli Ramalho Segala, no programa
Entrevista Imprevista, da Record News, falando um pouco do seu trabalho como ator e
apresentou uma adaptação de poesia visual que criou do Hino Nacional.
Em 2008, fez curso de Mímica Total, com Luis Louis, e atualmente trabalha como ator-
tradutor na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), no curso de Letras-Libras.
Mestrando do Curso de Pós-Graduação em Estudos da Tradução (UFSC).
Rosani Suzin
“Costumo dizer que a pior surdez é aquela que se trava na alma e não no ouvido”.
Nasceu em 9 de agosto de 1967, na cidade de São Lourenço
d’Oeste em Santa Catarina. Nasceu Surda, pois sua mãe teve
rubéola nos primeiros meses de gestação, seus pais ficaram
inconformados, pois não havia nenhum caso de Surdos na
família. Começaram então a procurar soluções, como a cidade era pequena não havia
otorrinolaringologista, somente clinico geral. Foram para a cidade de Pato Branco –
Paraná, onde o otorrinolaringologista na época tentou confortar a família dizendo que
até os seis anos de idade ela iria ouvir, mas meus pais estavam realmente
determinados que queria ouvir mais médicos e em 1970 foram para São Paulo onde
diagnosticaram que era realmente Surda e que deveria imediatamente estudar em uma
escola especial. Como na época havia somente Escolas especiais em centros maiores,
foi para o internato em Curitiba, com apenas três anos e meio de idade. E lá
permaneceu até os sete anos de idade. Foi um sofrimento terrível pela separação, tanto
para ela como para a minha família. O meio de transporte e a comunicação eram
precários. Nesse meio tempo nasceu seu irmão e com isso seu sofrimento aumentou.
Vendo os problemas emocionais que começou a ter, sua mãe como era professora,
começou a se especializar e fundou uma classe especial na sua cidade e passou a
estudar com ela. Porém não deu muito certo, pois como toda criança, queria minha mãe
só para ela.
Em 1980 como sua mãe pesquisava muito, conheceu as Irmãzinhas da Pequena
Missão para surdos do Instituto Londrinense em Londrina, foi para lá, concluindo o Iº
grau em Londrina-Pr. Em 1989, concluiu o 2o grau, numa escola comum no Opet nesta
época foi muito difícil, pois não havia intérprete, havia professores de bigode, era muito
difícil de fazer a leitura labial, além disso, foi a primeira e única aluna Surda da escola,
ou seja, foi a primeira experiência.
Em 1994, começou a dar aula de Libras, e jogar para fora tudo o que estava sufocado
dentro dela, pois até então era Oralismo puro. Foi a primeira instrutora de Libras na
UFSC, seus alunos eram fonoaudiólogos e pedagogos. No ano de 1995, participou de
um Congresso na Áustria e conheceu as melhores escolas na Europa, e com isso seus
olhos foram se abrindo e tendo uma visão ampla de como os Surdos são capazes de se
desenvolverem completamente.
Foi defensora na Assembléia Legislativa na oficialização da Libras no Paraná. Pela
importância do intérprete na vida do Surdo, entrou com um projeto na Assembléia
Legislativa pela oficialização do dia do intérprete, o qual se deu a oficialização em 26 de
julho de 2007. Teve a primeira intérprete na época a atuar na universidade em sala de
aula, na época foi muito difícil fazer com que a direção da universidade entendesse a
importância da intérprete em sala, quando a direção aceitou ela pagou durante seis
meses e depois de muita luta a direção assumiu a responsabilidade quanto ao
pagamento da intérprete.
Após muita batalha hoje, é formada em Pedagogia, pós-graduada em Libras/Português
e cursando Letras/Libras pela UFSC. Ministrou vários cursos de Libras pelo Brasil a
fora. Atuou como professora durante sete anos no Centro de Reabilitação Sidney
Antonio (Universidade Tuiuti do Paraná). Palestrante do projeto INCLUSAO DA
LIBRAS. Coordenadora da banca dos interpretes da FENEIS/Pr desde 2002. Em 2008,
declamou varias poesias para professores da UFPR, amigos Surdos, familiares, e
interpretes e foi considerada a poetiza Surda do Paraná.
A sua educação toda foi baseada no Oralismo, desde o maternal até conclusão do
Curso de pedagogia. Apesar da educação Oralista, a língua de sinais embora
escondida, sempre fez parte de sua vida, pois a LIBRAS cria a idéia e a comunicação
entre Surdos. E espontânea, tem estrutura própria sofisticada, apesar de não recorrer a
sons, mas sim, ás mãos, á expressão facial, ao corpo, ao espaço e ao movimento.
Apesar de hoje estar com minha visão bem reduzida, pois sofre de retinose pigmentar
congênita diz com segurança que a pior Surdez ou cegueira é aquela que se trava na
alma e não no ouvido ou nos olhos.
Shirley Vilhalva
“Mesmo que você não queira liderar algo, saiba ensinar aquele que deseja. Não tema a concorrência, olhe para o céu e veja se tem um lugarzinho ainda para você no meio das estrelas. Viu quanto espaço você tem? Sucesso!”.
Nasceu no dia 18 de junho de 1964 em Campo Grande – Mato
Grosso do Sul. Nasceu surda parcial sendo um ouvido com
surdez profunda, na área clinica é considerado o melhor
ouvido, pois em sua família a casos de nove surdos, portanto, a causa foi hereditária.
Quando sua família desconfiou da sua surdez, procurou vários recursos desgastantes
como médicos, curandeiros, benzedeiras, promessas, mas, sem nenhum sucesso. Sua
infância foi muito disciplinada e com muita dedicação familiar. Aos doze anos colocou o
sue primeiro aparelho auditivo, mas não aceitou, pois tinha muita vergonha. Aos 20
anos volta a colocar o aparelho auditivo.
Sua educação se iniciou com professor particular e seguiu por muito tempo uma
sistemática de aprendizagem da língua escrita e da língua oral, dando ênfase mais na
escrita sem cobrança da fala, por isso demorava muito para entender o conceito das
coisas. Estudou em escola regular, sua irmã Ângela apoiou muito na sala de aula como
se fosse uma intérprete com a diferença de ser tudo em leitura labial. Mesmo estudando
em escola regular, seu sonho mesmo naquela época era estudar em escola para
Surdos, onde estaria em contato com outros Surdos iguais a ela. Só conseguiu ir para
uma escola de Surdo quando foi aceita como estagiaria do magistério, onde se realizou
e começou uma nova vida.
Sempre quis ser professora de Surdos, pois acredita que os professores são
considerados como um nobre guerreiro que tem mais influencia que um político na vida
das pessoas que passam pelo menos 200 dias letivos em contato direto, teve
excelentes professores que hoje são seus colegas de trabalho e tem a honra de dizer o
que cada um contribuiu para sua motivação. Ela diz ainda que existem dificuldades sim,
mas, são menores quando se tem um nobre professor ou professora fazendo o alicerce
em nossa vida.
Fez vários vestibulares, pois naquela época não tinha intérpretes. Logo que ingressou
na faculdade teve muitas dificuldades, pois não havia muita troca de conhecimentos
entre os colegas, pois não havia compreensão, teve apenas um único grupo que era o
seu apoio. Ela sempre foi “copista”, pois não tinha tempo de ler a boca do professor e
escrever o que ele ditava, então enquanto um colega ouvia o professor ela copiava
simultaneamente e só depois procurava ler e entender o que se referia o assunto. Foi
nesta época que iniciou os cursos de Libras dentro da faculdade.
Formada em Pedagogia pela FUCMAT atual UCDB, com pós-graduação em
Metodologia de Ensino, cursando o Mestrado em Lingüística pela UFSC, onde
desenvolve o projeto Índio Surdo que tem por objetivo fazer um mapeamento das
línguas de sinais emergentes nas comunidades/reservas indígenas do Mato Grosso do
Sul. Em 1997 recebe a placa de agradecimento pelo apoio ao mercado de trabalho no
período de 95/97 pelos professores da Educação Profissional da Capital e do Interior.
Em 2000, recebeu o prêmio, “O mestre que marcou a minha vida” como destaque da
Educação 2000 por ter apresentado o projeto “A Língua de Sinais na Educação de
Surdos de mato Grosso do Sul” que vigora há quatorze anos.
Atuante da comunidade Surda. Foi diretora da Escola Estadual de Surdos – CEADA,
diretora de Administração da FENEIS e conselheira do CONADE. Foi presidente e
conselheira da CONSEP- Conselho Estadual ao Portador de Deficiência. Atuou como
professora Tutora do Pólo UFSC e atualmente atua como Coordenação do Sistema e
Acompanhamento de Estudante do Curso Letras/Libras. Membro do corpo editorial da
FENEIS desde 2007, ganhou vários prêmios como o “SOM DAS PALAVRAS” na XI
Beinal, pela editora Litteres. Publicou o livro “Despertar do Silencio” onde deixou
registrado uma fase de sua vida que estava sendo encerrada, buscou em seu diário o
que gostaria que as pessoas soubessem e mostrou também que já tinha novas metas
paras seguir.
Seu sonho para a educação dos Surdos é a de que sejam uma educação bilíngüe e
que os alunos Surdos sejam contemplados alem do intérprete de Libras, com recursos
visuais que é o legendador. Esse segundo recurso vai ajudar aprimorar os Surdos de
acompanhar a língua portuguesa escrita em tempo real enquanto o intérprete dará o
conceito contextualizado de mundo. Um sonho caro, mas com resultado imediato para
alunos bilíngües sejam eles Surdos ou ouvintes. Dentro da educação de índios Surdos,
tem como objetivo que todos os povos indígenas comecem a registrar os sinais
emergentes e até mesmo a língua de sinais que existir nas terras indígenas para
garantir a acessibilidade tanto para os Surdos quanto para os índios Surdos. Já existe
intérprete de Libras nas terras indígenas e isso já inicia sua realização do seu sonho,
onde o seu respeito maior é para os lideres indígenas que a orientaram e permitiram
seus sonhos nas escolas dentro das terras indígenas.
4 CONCLUSÃO
Ao concluir esse artigo, notou-se que a maioria dos Surdos passou por vários
momentos difíceis, tanto na educação quanto na vida pessoal, ou seja, a educação não
era adequada para eles, sofriam por não entender o que se ensinava e mais ainda
sofriam por preconceitos que a própria sociedade da época colocava. Mesmo os
docentes, não estavam preparados para lidar com tal situação, o que acarretou em
muitos “traumas” em alguns Surdos.
Primeiramente, gostaria de agradecer todos os Surdos citados acima que colaboraram
muito para a construção desse artigo. Todos sem exceção de nenhum me ajudaram
muito trocando informações necessárias para que esse artigo fosse concluído. É muito
gratificante saber que eles estão realmente preocupados em expandir e esclarecer o
conhecimento, a cultura Surda para toda a sociedade seja ela Surda ou ouvinte.
Notou-se ainda que todos passaram pela metodologia Oralista, que consistia em
desenvolver a linguagem oral, com o objetivo de tornar o Surdo um ouvinte com leitura
labial. Para os Surdos, o Oralismo foi e ainda é considerado um sofrimento muito
grande e com raras e limitadas perspectivas de sucesso. Após muitos sofrimentos e
tratamentos sem muito sucesso, os Surdos se descobriram com a metodologia do
Bilingüismo, que tem o objetivo de estruturar e desenvolver os aspectos cognitivos,
emotivos e expressivos, para depois ter a compreensão e o desenvolvimento da Língua
Oficial de seu país. Assim, suas particularidades, sua Língua (Libras), sua cultura, sua
identidade são realmente compreendidos.
Nas biografias citadas acima, o que se pode realmente notar é a de que todos os
Surdos tiveram uma necessidade de lutar pelos seus objetivos, essa vontade é
extremamente notória em todos eles, ou seja, todos não deixaram que a sua diferença
se tornasse uma deficiência, embora todos passaram pela sua construção de
identidade, ou seja, conflitos que às vezes deixavam de lado o seu modo de pensar, até
sua construção total de sua identidade. A partir desse momento, com a identidade
assumida, é fascinante a luta deles pelos seus direitos como cidadãos. Alem de que a
maioria está envolvida e engajada com projetos sociais e associações que lutam por
esses direitos.
Todos os Surdos que citei e que brilhantemente superaram suas dificuldades procuram
ajudar de forma significativa os outros Surdos que ainda se encontram em processo de
construção de identidade. Todos sem nenhuma exceção lutam pelos seus direitos como
cidadãos, tentando conquistar seu espaço diante de um mundo totalmente ouvinte,
respeitando todas as pessoas sujam elas surdas ou ouvintes.
É importante salientar que alem desses surdos que foram citados no artigo, ainda
existem muitos Surdos que se destacam como lideres da comunidade surda como a
Marianne Stumpf que faz um belíssimo trabalho com a escrita da Libras, a Ana Regina
Campello que também luta pelo direitos dos Surdos, o Renato Sindicic que atua como
professor de matemática na Universidade Gallaudet, entre outros que estão lutando
pelos seus objetivos. Enfim, com a aquisição da Libras e o bilingüismo, os Surdos
começaram a se desenvolver como pessoas que pensam, que lutam, que conquistam e
que são alem de tudo cidadãos.
Assim, todos que assumem essa identidade Surda, assumem também sua cultura e
conseqüentemente, sua comunidade. Essa comunidade é importante salientar, que
todos os Surdos estão realmente engajados pela luta da inclusão de todos os aspectos
sejam eles sociais, educacionais, emocionais dos Surdos. Contudo, nenhum deles
deixou se abater pela sua diferença, pelo contrario, lutaram e conseguiram seu espaço
em meio à sociedade ouvinte e principalmente a comunidade Surda, ressaltando que
esses méritos foram totalmente conquistados pelos seus esforços, suas perseveranças,
suas lutas, seus objetivos traçados, entre outros.
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