36 - CRISTÃO
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Cornelius a Lapide, sj (1597-1637)+
CRISTÃOTradução por Uyrajá Lucas Mota Diniz
O que é um cristão
O cristão é aquele que imita Jesus Cristo, que está unido com Jesus Cristo,
que vive a vida de Jesus Cristo e Lhe possui. O cristão está morto para os vícios...
vive para a virtude... O cristão é um soldado... um piloto... um arquiteto.
É necessário que aquele que veja um cristão possa ver a Jesus Cristo; porque
o cristão deve ser a imagem viva do Salvador, e como outro Cristo: Alter Christus.
Deve parecer-se com Deus. Adão foi criado à Sua semelhança, como o atestam
aquelas palavras do Gênesis: Façamos ao homem a nossa imagem e semelhança; e
Deus criou o homem à sua imagem (Gen. I, 26-27).
A profissão do cristão é conduzir o homem ao seu antigo estado, à sua
primeira grandeza e felicidade, isto é, à semelhança de Deus.
Chama-se cristão, diz Santo Ambrósio, aquele que ama a castidade, aquele
que foge da embriaguez, detesta o orgulho e evita a inveja como um veneno
diabólico (Serm. LVIII).
Cristão vem de Cristo, e estes dois termos são como sinônimos. É preciso,
diz Santo Ambrósio, que a conduta corresponda ao nome, a fim de que aquele nome
não venha a ser uma palavra vã e um grande crime: Actio respondeat nomini, ne sit
nomem inane et crinem immane.
Citemos, por inteiro, outra formosa passagem deste santo Doutor.
Saibamos o que somos; e o que somos por profissão, manifestemo-lo com
nossas obras antes que seja com o nosso nome, a fim de que o nome esteja de
acordo com as ações e as ações correspondam ao nome. De outra sorte, o nome
seria uma palavra vã e um grande crime. É necessário evitar terminantemente que à
honra que nos foi dispensada correspondamos com uma vida abominável; a uma
profissão divina, com uma conduta criminosa; ao hábito do cristão, com os vícios
do mundo; à linguagem da pomba, com os atos da raposa; à aparência do cordeiro,
com a ferocidade do lobo (In Dig. Sacerd., c. III).
É cristão, diz Santo Agostinho, aquele que é misericordioso para todos, que
não se altera por nenhuma injúria, que socorre aos abandonados, que se aflige com
os aflitos, que toma parte na dor do próximo como se lhe fosse própria, que não
fecha sua porta aos desgraçados, que não ultraja a ninguém, que serve a Deus dia e
noite, que se ocupa constantemente em meditar a Lei Divina, que é pobre aos olhos
do mundo, porém rico aos olhos de Deus. É cristão aquele cuja alma é simples e
reta, cuja consciência é fiel e pura, cujo espírito descansa em Deus, e põe toda sua
esperança em Jesus Cristo. É Cristão aquele que prefere os bens do céu aos da terra,
e aquele que despreza o mundo para unir-se a Deus (De Vit. Christ., c. XVI).
O cristianismo é a profissão da santidade, o estudo da virtude, a imitação da
vida de Jesus Cristo. A que coisa, diz Santo Antônio, não haveremos de abandonar,
de bom grado, para ganhar o Reino dos Céus, senão a uns bens que, cedo ou tarde,
deve a morte arrebatar de nós? O cristão não deve se ocupar das bagatelas que não
pode levar consigo. Busquemos e desejemos aquilo que conduz ao céu, a sabedoria,
a pureza, a justiça, a vigilância, a caridade para com os pobres, a fé em Jesus Cristo,
um espírito valoroso que saiba domar a ira.
Fazer boas obras é confirmar o título de cristão; porque somente é
verdadeiramente cristão aquele que regula sua fé e suas obras segundo os preceitos
de Jesus Cristo.
O cristão deve viver em Jesus Cristo. Mas, diz o Apóstolo São João, aquele
que diz que permanece em Jesus Cristo, deve seguir o mesmo caminho que Ele
seguiu: Qui dicit se in ipso manere, debet, sicut ille ambulavit, et ipse ambulare (I
Johann. II, 6).
O cristão é o compêndio do Evangelho, diz Tertuliano: Christiano est
compendium Evangelii (Apolog.).
Em seu panegírico de Santo Atanásio, São Gregório Nazianzeno, pode
pronunciar estas belas palavras: Louvando a Atanásio, louvarei a virtude:
Athanasium laudans, virtutem laudabo (Orat. De S. Athan.).
Como um cristão deve agir
Não se vive utilmente neste mundo senão reunindo méritos que sejam títulos
para a vida eterna, diz Santo Agostinho: Neque in tempore utiliter vivitur, nisi ad
comparandum meritum, que in aeternitate vivatur (Lib. de Civit.).
Não fostes vós os que me escolhestes, disse Jesus Cristo a seus Apóstolos,
senão Eu que vos elegi e destinei para irdes por todo o mundo para que deis fruto; e
vosso fruto seja duradouro, a fim de que qualquer coisa que pedirdes ao Pai em meu
nome, Ele vo-lo conceda: INon vos me elegistis; sed ego elegi vos, et possui vos, ut
eatis, et fructum aferatis, et fructus vester maneat, ut quodcumque petieritis Patrem
in nomine meu, det vobis (Johann. XV, 16).
O cristão que é superior ao mundo; não pode desejar nem buscar o que
pertence ao mundo.
O cristão deve se valer da Cruz como de um instrumento para cultivar seu
corpo, sua alma, seu espírito e seu coração. Somente com a Cruz poderemos
conseguir arrancar as mazelas e os espinhos que nascem sem cessar no Campo do
Senhor.
Os primeiros cristãos:
1º escutavam assiduamente a Palavra de Deus;
2º comungavam frequentemente; e
3º rogavam ao Senhor e celebravam seus louvores;
É preciso agir da mesma maneira.
Três coisas são necessárias para a vida do corpo: o sol, o pão, o ar (ou a
respiração); três coisas são também necessárias para a vida da alma: o sol espiritual
que ilumina a inteligência, isto é, a Palavra de Deus; o Pão Eucarístico; e a oração,
que é a respiração da alma.
O apóstolo São Pedro exige dos cristãos uma santidade plena e universal:
Sede santos, diz ele, em todo o vosso proceder: In omni conversatione sancti sitis (I
Petr. I, 15).
Há cristãos que parecem anjos na Igreja e são demônios em sua casa. É
necessário que a vida seja cristã, isto é, pura e santa em todos os atos, na linguagem,
nos passos, no alimento, no estudo, no trabalho, no sono, no exercício da
autoridade, etc.
Ao pé dos altares, o cristão deve orar com o fervor dos Serafins; na
administração da justiça, deve se manifestar doce e justiceiro como os Tronos; na
repressão de sua cobiça, deve ter a firmeza das Dominações; no governo dos
negócios de sua casa, deve imitar aos Principados; nas tentações, deve reproduzir o
heroísmo e da generosidade das potências; nas lutas contra o demônio, o mundo e a
carne, necessita da força das Virtudes; no cumprimento dos deveres e atos da vida
pública, a fidelidade dos Arcanjos; na mesa, em viagem, fora de sua casa e em seu
interior, dia e noite, a decência, a modéstia e a pureza dos Anjos.
Sois também vós, à maneira de pedras vivas edificadas sobre Jesus Cristo,
sendo como uma casa espiritual, como uma nova ordem de sacerdotes santos, para
oferecer vítimas espirituais, as quais sejam agradáveis a Deus por Jesus Cristo: Et
ipsi tamquam lapides vivi superaedificamini domus spiritualis, sacerdotium
sanctum, offere spirituales hóstias, accepitabiles Deo per Jesum Cristum (I Petr. II,
5).
É preciso que o cristão seja uma pedra vida pela fé e pela caridade. Eis aqui a
semelhança que existe entre uma pedra e um cristão:
1º para que seja empregada, é preciso que a pedra esteja polida; para servir
na construção da celestial Jerusalém, o cristão deve também ser polido com o
cinzel da penitência etc. Isto é o que tão bem expressam as seguintes palavras
de um Hino de autoria de Santo Ambrósio: As pedras vivas desta Cidade
Santa estão cortadas pelas perseguições e pelas dores; logo, a mão do
divino Arquiteto põe cada uma em seu lugar, e coloca-as nos sagrados
muros, onde hão de permanecer eternamente:
Tunsionibus pressuris expoliti lapides,
Suis coaptantur locis per manus artificis:
Dispomuntur permansuri sacris edificiis;
2º assim como a pedra deve ter certas dimensões etc., da mesma maneira o
cristão deve ter a dimensão suficiente para poder ocupar um lugar no muro
da salvação;
3º a pedra deve ser boa e sólida: o cristão deve ser piedoso e forte etc.; não
deve ser indigno de se colocado sobre a pedra fundamental que é Jesus
Cristo;
4º em uma construção, uma pedra sustenta outra pedra: segundo a
recomendação do Apóstolo, os cristãos devem se suportar e ajudarem-se uns
aos outros: Alter alterius onera portate (Gal. VI, 2); e
5º a pedra está ligada com outra pedra por meio da argamassa, para que não
forme mais que um só corpo e um todo; os cristãos devem estar unidos com
os laços da caridade, à imitação dos primeiros fieis, os quais não tinham mais
que um coração e uma alma: Erat cor unum et anima una (Act. IV, 32).
Os cristãos devem ser as ovelhas do Salvador, os discípulos e os membros de
Jesus Cristo, o templo do Espírito Santo, os filhos de Deus, a luz do mundo, o sal da
terra.
Os cristãos devem ser crucificados com Jesus Cristo. Devem, como o grande
Apóstolo, morrer para o mundo, para suas pompas e suas seduções. Mas,
1º aquele que está cravado em uma Cruz não pode mover seus pés, nem seus
braços, nem suas mãos; deste modo, os cristãos não se devem valer jamais de
suas mãos, nem de seus pés, para fazer o mal;
2º aquele que está crucificado sofre constantemente: o cristão sujeito à lei de
Jesus Cristo castiga e mortifica sem cessar seus sentidos e sua carne; o
mesmo acontece ao cristão; e
3º ainda que se mantenha vivo, todavia um crucificado já morreu para tudo o
que o rodeia: o cristão deve também estar morto para todas as coisas da terra.
Ponde toda a vossa atenção, diz o Apóstolo São Pedro, em juntar com vossa
fé a temperança, à temperança a paciência, à paciência a piedade, à piedade o amor
fraternal, a caridade ou amor de Deus. Porque, se estas virtudes se encontram em
vós e crescem cada dia mais e mais, farão que não seja estéril ou infrutífero o
conhecimento que tendes de Jesus Cristo. Mas quem não as tem está cego, e anda
tateando, esquecido de qual maneira foi lavado de seus antigos delitos (II Petr. I, 5-
9).
Tais são as virtudes que, segundo São Pedro, devem adornar a um cristão.
Porque, unindo a fortaleza à fé, a ciência à fortaleza, a temperança à ciência, a
paciência à temperança, a piedade à paciência, o amor fraternal à piedade, a
caridade ou amor de Deus, abarcam-se todos os deveres da vida cristã, e chega-se à
sua perfeição. Mediante a fé, a piedade e a caridade, tributamos a Deus o que se Lhe
deve; e, por meio da fortaleza, da ciência, da temperança e da paciência, cumprimos
os deveres que temos relativos a nós mesmos; e por meio do amor fraterno, damos
cumprimento aos deveres que se nos impõem, com relação ao próximo.
Fazei o possível, acrescenta São Pedro, para que Senhor encontre-vos sem
mancha, irrepreensíveis e em paz: Sagite immaculati, et inviolati ei inveniri in pace
(II Petr. III, 14).
É preciso ser irrepreensíveis:
1º na presença Daquele a Quem nada se oculta;
2º no juízo do Tribunal a quem nada pode enganar, nem Daquele de Quem
nada pode escapar; e
3º é preciso ser deste modo, a fim de agradar a Deus, e não para agradar aos
homens; a fim de procurar a honra de Deus, e não a vossa etc.
Ai, ai, ai dos moradores da terra, exclama São João no Apocalipse: Vae, Vae,
vae habitantibus in terra (Apoc. VIII, 13); quer dizer, ai daqueles que se apegam
aos bens da terra! O verdadeiro cristão não é, aqui na terra, mais que um viajante e
um estrangeiro. Aquele que habita realmente a terra e a ama não acha nela mais que
miséria e morte.
Aguarda ao Senhor, diz o Salmista, e porta-te varonilmente; recobre o alento
teu coração, e espera ao Senhor com paciência: Expecta Dominum, viriliter age, et
confortetur cor tuum, et sustine Dominum (Psalm. XXVI, 14).
Enquanto dure a vida presente, trabalhai para adquirir aquela que não acaba
nunca; enquanto possuis vosso corpo, morrei para o mundo e para a carne, a fim de
que assim vivais somente em Deus.
Em meio aos sofrimentos do martírio, São Diácono dizia: Sou cristão, e nada
mais; este é meu nome, minha nobreza, minha pátria e minha doutrina (Vit. Sant.).
As obras são aquilo que faz ao cristão, diz Santo Agostinho. Em vão vos
chamaríeis cristãos, se vivêsseis como pagãos; e, em vão vos dariam o nome de
pagãos, se vivêsseis como cristãos (Tract. V, in I Epist. Joann.).
Não basta ter o nome de cristão, diz Santo Inácio, mas é preciso sê-lo na
prática; não é o nome que o faz feliz, mas as boas obras (Epist.). O cristão é um ser
celestial na terra, diz São Gregório: Chrstianus in terra coelestis (Lib. V. Moral.).
O cristão é como impassível aos sofrimentos: não lhe vencem os obstáculos.
A mulher prudente edifica ou realça a sua casa, dizem os Provérbios: a
mulher néscia a destrói com suas próprias mãos (Prov. XVI, 1). Para construir a
casa espiritual, diz o Venerável Beda, é preciso ter uma fé firme, o elmo da salvação
na cabeça, a Palavra da verdade no coração, a caridade e a castidade por cinturão, a
pureza nas ações, a sobriedade dos costumes, uma bondade constante, a paciência
nas tribulações, a esperança Naquele que nos criou, o desejo da vida eterna, e a
perseverança até o fim (In Psalm.) .
Quereis viver como cristãos? Segui os conselhos de São Boaventura:
1º ponde toda a vossa confiança em Deus;
2º purificai, o quanto possível, vosso coração de toda classe de vícios e
concupiscências;
3º rompei todos os laços que vos afastam de Deus, a fim de que possais vos
unir a Ele com espírito são e puro;
4º sofrei com paciência, e até com alegria, as tribulações, e não vos alegreis
mais senão na Cruz de Jesus Cristo;
5º não vos queixeis de nada nem de ninguém, lembrando de que ofendestes a
Deus;
6º desprezai-vos, e desejai ser desprezado pelos demais, sem deixar de honrá-
los.
7º fugi das honras, das riquezas e da fama, como de perigos;
8º humilhai-vos, persuadi-vos que sois o serviçal de todos; e sede-o, de fato,
a fim de imitar a Jesus Cristo, que, sendo Deus, tomou a forma de um
escravo de vosso amor;
9º não vos mescleis com nenhum negócio no qual não se possa achar o bem
de vossa alma;
10º guardai vossos sentidos e vossa língua, a fim de não sentir nem ouvir
nem dizer mais que coisas úteis;
11º Buscai a solidão, e dedicai-vos nela à oração;
12º fazei vossas orações com tanto respeito e fervor como se vísseis diante de
vós os Anjos e ao próprio Deus;
13º respeitai com uma veneração profunda a Santíssima Virgem;
14º Fugi da familiaridade das pessoas de diferente sexo;
15º Evitai a preguiça e a tristeza; e, a fim de não perder jamais a serenidade e
a paz, não resistais a ninguém, nem contradigais a ninguém, a não ser que o
exijam a honra de Deus ou a salvação de vossa alma;
16º Conformai-vos em tudo com a vontade de Deus; fazei que todas as coisas
sejam para vossa edificação, e não vos ofendais com nada;
17º guardai cuidadosamente vosso coração;
18º Sede benfeitores para com todos, a fim de imitar a Deus;
19º tende constantemente vossa alma fixada em Deus, a fim de que façais
todas as vossas obras, até as mais banais na aparência, com tanto fervor
como se as fizésseis em presença de Jesus Cristo;
20º Obedecei não somente a vossos superiores, senão também a vossos
iguais, e ainda a vossos subordinados; a fim de vos acostumardes a fazer a
vontade dos outros e jamais a vossa; não ofendais a ninguém, não
murmureis, não faleis mal de ninguém, não sejais para ninguém motivo de
murmuração ou de maledicência;
21º Escondei vossas virtudes e as graças e os consolos que recebeis, as
tribulações a que estais sujeitos; não as reveleis a ninguém senão ao vosso
diretor espiritual, ou a um amigo especial e experimentado, para pedir-lhe
conselhos e auxílios;
22º Fazei que sempre e em todas as partes Deus esteja presente a vossa
memória e a vosso espírito, recordando que marchais sob Seu olhar e que Ele
vos olha: deste modo, vós O temereis e O amareis;
23º Estai alerta, a fim de prever e evitar as emboscadas do demônio;
24º examinai cada dia vossa consciência, e confessai vossos extravios com
humildade, a fim de que conserveis ou recobreis a pureza de vossa alma; fugi
de todas as ocasiões próximas do pecado, e recordai-vos da morte, do juízo,
do céu e do Inferno; e
25º e quando tenhais feito todas estas coisas, considerai-vos como um
pecador e um servidor inútil (Specul.).
Ao morrer, Santa Catarina de Sena pronunciou, ante suas religiosas, essas
notáveis e imorredouras palavras: É preciso que o cristão tenha uma grande
confiança na Providência; é preciso que saiba que tudo quando lhe sucede e tudo o
que aos demais também sucede, está disposto por Seus cuidados, e que Aquela guia-
se, não pelo ódio, mas por um amor infinito (in ejus vita).
Quem subirá ao monte do Senhor? Ó, quem poderá estar em seu Santuário?,
pergunta o Real Profeta. Aquele, responde, que tenha as mãos inocentes e o coração
puro, aquele que não em vão recebeu sua alma, e jamais jurou falso. Aquele
receberá a benção do Senhor, o obterá a misericórdia de Deus, seu Salvador1.
Fugi do mal e praticai o bem: Declina a malo, et fac bonum (Psalm. XXXVI,
27). Estes são, em suas palavras, todos os deveres do cristão.
Excitai-vos mutuamente aos combates do Senhor, diz Santo Eucher; sirva
cada um de vós a Deus com atividade; seja fervente na oração, atento às piedosas
1 Quis ascendet in montem Domini, aut quis stabit in loco santo ejus? Innocens manibus, et mundo corde; qui non accepitin vano animam suam, nec juravit in dolo próximo suo.Hic accipiet benedictionem a Domino, et misericordiam a Deo salutar suo (Psalm. XXIII, 3-5).
leituras, puro, sóbrio, arrependido de suas faltas, honesto, modesto, sincero, doce,
moderado, grave e pleno de caridade (Epist.).
Na vida espiritual, diz o Padre Álvarez, a água da compunção é necessária
para purificar-nos, o fogo do Espírito Santo para inflamar-nos, o ferro da tribulação
para domar-nos, o sal da mortificação para preservar-nos da corrupção, o leite da
pureza para fortificar-nos, o pão das virtudes para alimentar-nos, o mel dos
conselhos para animar-nos, uma grande dose de zelo para levar a cabo nossas boas
obras, o óleo da caridade para dulcificar-nos, e a veste da graça para cobrir-nos
(Proverb.).
Escutai a Santo Egídio: Se quereis ver claramente, arrancai vossos olhos; se
quereis ouvir bem, tornai-vos surdos; se quereis falar bem, sede mudos; para andar
bem, cortai vossos pés; e, para trabalhar bem, mutilai vossas mãos. Se quereis vos
amar de verdade, aborrecei-vos; se quereis viver bem, mortificai-vos; se quereis
enriquecer-vos, sabei perder; se quereis ser ricos, sede pobres; se quereis estar entre
delícias, vivei na aflição; se quereis ter segurança, não deixeis jamais de tremer; se
quereis ser elevado, humilhai-vos; se quereis ser honrado, desprezai-vos e honrai
aos que vos desprezam; se quereis receber o bem, sofrei o mal, se quereis estar em
repouso, trabalhai; se quereis que vos bendigam; desejai ser ofendidos! Ó que
grande sabedoria reside em saber estas coisas e praticá-las! Porém, precisamente
porque esta ciência é útil, há poucos cristãos que a possuem (In ejus vita).
O cristão deve dedicar-se a Jesus Cristo e unir-se a Ele, imitando-Lhe
Sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Ele cortará todos aqueles
ramos meus que são estéreis, e podará todas a que dão fruto, a fim de que
produzam, todavia, mais. Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. O ramo
não pode dar fruto por si mesmo se não permanecer unido à videira. Assim
acontecerá comvosco se não estais unidos comigo. Eu sou a videira, e vós os ramos.
Quem está unido, portanto, comigo, e Eu com ele, esse dá muito fruto. Sem mim,
nada podeis fazer. Aquele que não permanece em mim, será cortado fora e lançado
ao fogo, e arderá2.
Eu sou a videira, diz Jesus Cristo, e vós os ramos: Ego sum vitis, vos
palmites. Porque Jesus Cristo compara-Se à videira antes que a qualquer outra
árvore?
1º Por causa da abundância dos frutos que produz a videira, o cristão deve
produzir abundantes frutos;
2º por causa da doçura deste fruto, o cristão deve ser doce, paciente e
resignado;
3º porque a videira produz vinho, e Jesus Cristo é chamado precisamente de
Vinho que gera as virgens, o cristão deve ter sede de Jesus Cristo e trabalhar
para procurar para si mesmo este vinho delicioso, que reparará suas forças;
4º porque a videira estende-se muito, o cristão deve estender e aumentar o
número de suas virtudes;
5º a videira não se levanta por si mesma, senão que se arrasta pelo solo; o
cristão devem se comprazer na humildade;
6º a videira segue a direção que se lhe dá: o cristão deve renunciar à sua
vontade, e obedecer constantemente a Deus e à Igreja;
7º a videira tem flores odoríferas e folhas largas: o cristão deve derramar por
todas as partes o bom perfume de Jesus Cristo, e cobrir-se Dele como de uma
brilhante folhagem; e
2 Ego sum vitis vera, et Pater meus agricola est. Omnem palmitem in me non ferentem fructum tollet eum; et omnem qui fert fructum purgabit, ut fructum plus adferat.[…] Manete in me, et ego in vobis, sicut palmes non potest ferre fructum a semetipso, nisi manserit in vite, sic nec vos, nisi in me manseritis. Ego sum vitis, vos palmites; qui manet in me et ego in eo hic fert fructum multum; quia sine me nihil potestis facere. Si quis in me non manserit, mittetur foras sicut palmes, et arescet, et colligent eum, et in ignem mittent, et ardet (Johann XV, 1-6).
8º o fruto da videira posto na prensa, dá o vinho: o cristão deve se resignar a
passar pela prensa das provações, se quer produzir atos de virtude.
Permanecei em mim, diz Jesus Cristo: Manete in me. Porque:
1º sem Mim, nada podeis fazer: Sine me nihil potestis facere; comigo sereis
fecundos em frutos divinos.
2º Sem Mim, seríeis áridos; comigo vivereis; e
3º Sem Mim seríeis cortados e lançados ao fogo; comigo permanecereis e
sereis transportados ao Céu. Permanecei em mim: como o ramo da videira
recebe sua vida, sua seiva e seus frutos do tronco que a leva, assim também o
cristão toma de Jesus Cristo todas as Suas virtudes, todos os Seus méritos, a
vida da graça e a vida eterna.
Se alguém não permanecer em mim, diz Jesus Cristo, será lançado fora,
como o sarmento inútil; secar-se-á; será recolhido; lançar-lhe-ão ao fogo e arderá: Si
quis in me non manserit, mittetur foras sicut palmes; et arescet, et colligent eum, et
in ignem mittent, et ardet. Meditemos frequentemente e com atenção a respeito de
cada palavra deste versículo do Evangelho.
Cortado o ramo da videira, diz Santo Agostinho, não tem aplicação nenhuma,
nem para a agricultura, nem para as obras de arte. Este ramo não tem senão um
destes dois destinos: ou permanece unido à videira, ou ser queimado; se não
permanece unido à videira, há de ir ao fogo: Ligna vitis precisa, nullis agricolarum
usibus prosunt; nullis fabrilibus operibus deputantur. Unum de duobus plamiti
congruit, aut vitis, aut ignis; si in vite non est, in egni erit (Tract. LXXXI, in
Johann).
Se quereis ser cristãos, uni-vos a Jesus Cristo, vivei de Jesus Cristo e segui
seus exemplos. Quem diz que permanece em Jesus Cristo, deve seguir o caminho
que Ele seguiu, diz o Apóstolo São João (I Johann. II, 6).
São Próspero diz muito oportunamente: O que é seguir o caminho que Jesus
Cristo seguiu senão desprezar todas as prosperidades que Ele desprezou, não temer
as adversidades que Ele sofreu, praticar o que ensinou, esperar o que Ele prometeu,
fazer bem até aos ingratos, não devolver mal por mal, orar por nossos inimigos, ter
compaixão dos maus, acolher aos que nos perseguem, suportar aos hipócritas e aos
orgulhosos, e, enfim, estar, segundo a expressão do Apóstolo São Paulo, morto para
a carne, a fim de não viver mais que de Jesus Cristo? (De Vit. Contempl.).
Seremos cristãos, diz São Cipirano, se imitarmos a Jesus Cristo: Erimus
Christiani, si Christus fuerimus imitati (Serm.).
Ser cristão, diz São Leão, é despojar-nos de toda semelhança com o homem
terrestre, e tomar a forma do homem celestial: Hoc est christianum esse, nimirum,
terreni hominis imagine deposita, coelestem formam induere (Serm. de Quadrag.).
Os primeiros cristãos e os bons cristãos de todos os séculos imitaram a Jesus
Cristo
Os primeiros cristãos não tinham mais que um mesmo coração e uma mesma
alma; todos estavam unidos a Jesus Cristo e em Jesus Cristo; imitavam-No tal
maneira, que eles também eram outros Cristos: Multitudinis autem credentium erat
cor unum, et anima una (Act. IV, 32). São Gerônimo, Santo Agostinho e São
Basílio ensinam que os primeiros cristãos lançaram os fundamentos da vida
religiosa.
Ouvi como São Justino descreve as virtudes dos cristãos de seu tempo: Toda
comarca, por mais afastada que esteja, é sua pátria; e a pátria eles a olham como um
país estrangeiro. Estão revestidos de um corpo de carne; porém, não vivem segundo
a carne; estão na terra; porém, sua conversação é do Céu; são pobres, e enriquecem
aos outros; tudo lhes falta, e nadam em abundância (Epist. ad Diog.).
Os verdadeiros cristãos de todos os séculos foram modestos em suas vestes,
de rosto sereno, prudentes em suas palavras, assíduos à oração, grandes na fé,
plenos de esperança e de caridade, profundamente humildes, circunspectos nos
conselhos, animados de uma terna piedade, ativos nas boas obras, satisfeitos nos
opróbrios, doces de costumes, e plenos de sabedoria, de virtude, de graça diante de
Deus e dos homens. Tal é a vida cristã e a imitação de Jesus Cristo.
Lemos na vida de São Willibald3, que este santo dava abundantes esmolas,
fazia assíduas vigílias, amava a oração, era muito compassivo ante a desgraça
alheia, estava pleno de uma caridade perfeita, era poderoso em doutrina, e santo em
sua conversação. A doçura de seu rosto manifestava a candidez de sua alma; a
mansidão de suas palavras era indício da piedade de seu coração; não omitia nada
quanto lhe podia conduzir à salvação eterna, praticando-o e ensinando-o aos outros.
Tomava muito pouco repouso, jamais dava ouvidos às suas inclinações e à sua
vontade, era amante do trabalho, paciente frente às injúrias, desprezava os elogios,
era pobre de dinheiro, porém, rico de virtudes, humilde ante o mérito, terrível contra
o vício, sem que perdesse de vista a Deus. Este é o verdadeiro cristão. O retrato
deste santo é o de todos os santos e de todos os bons cristãos; porque o bom cristão
é um santo, assim como o mal cristão já é um condenado.
Basílio – diz São Gregório Nazianzeno no panegírico daquele Santo – estava
intimamente unido a Deus: a virtude era sua pátria, tinha por tesouro a sobriedade,
por alimento a sabedoria; e, por mansão, a justiça, a verdade e a pureza.
Lede a vida dos Santos, e vereis que todos viveram de Jesus Cristo, para
Jesus Cristo e em Jesus Cristo.
O cristão deve imitar ao soldado
3 Santo Willibals nasceu no Reino de Wessex e faleceu, por volta de 787, em Eichstätt, na Alemanha (Nota do tradutor).
Este preceito recomendo-te, filho Timóteo, e é segundo as profecias
pronunciadas outrora sobre ti; assim, cumpras ou plenifiques teu dever, militando
como bom soldado de Cristo: Hoc praeceptum comendo tibi, fili Timothee,
secundum praecedentes in te profecias, ut milites in illi bonam militiam (I Tim. I,
18).
E onde está vosso Rei?, pergunta São Basílio. No Céu. Então, para este
ponto, deveis dirigir vossos passos, soldados de Cristo! Esquecei tudo o que há na
terra. O soldado não constrói casas, não compra terras, não se aplica ao comércio,
nem busca ganancias; cobra seu soldo e recebe seu alimento do rei, levanta sua
tenda nas praças públicas e nos campos, come porque é preciso comer, sofre o frio e
o calor, apresenta frequentes e terríveis combates ao inimigo, acha muitas vezes
neles a morte; porém, não retrocede; e seu sangue é glorioso, digno das
recompensas reais. Soldados de Jesus Cristo, obrai da mesma maneira! Fazei, ao
menos para o Céu, para uma coroa eterna e para o Rei dos reis, aquilo que um
soldado faz para esta terra, para obter algumas insígnias honoríficas e para honrar a
um príncipe mortal. Ocupe-se vosso espírito no pensamento dos bens eternos.
Proponde-vos passar esta vida sem as riquezas e sem todas as coisas inúteis;
desprezai todos os cuidados e os estorvos desta vida (Praef. Ascet., Serm. I).
Ouvi o que diz Tertuliano: Estamos chamados ao exército do Deus vivo.
Nenhum soldado deve marchar ao combate submergindo-se nas delícias: não é de
uma cama de onde há de sair para ir receber ao inimigo, senão de uma tenda dura e
pobre, que não exige mais que um breve momento para ser transladada de um lugar
para outro. Até na paz, o soldado aprende o que é a guerra com seus trabalhos, com
incomodidades de mil espécies, andando com as armas, plantando acampamento,
fazendo trincheiras, e secando pântanos. Fortifica-se com os suores que sofre, e
prepara-se assim para não temer no momento do perigo. Anda da sombra ao sol, e
do sol à luta; tão prontamente põe seu uniforme como uma couraça; passa do
silêncio aos gritos; e, do repouso, ao bulício da batalha (Ad. Martir., c. III).
Instruído pelos preceitos e pelas ordens de seu divino Capitão, o soldado de
Jesus Cristo, diz São Cipriano, não empalidece no momento do combate, senão que
se prepara para a vitória.
Os soldados de Jesus Cristo podem morrer; porém, não podem ser vencidos;
e são invencíveis precisamente porque não temem a morte: Miles Crhisti, praeceptis
ejus et monitis eruditus, non expavescit ad pugnam, sed paratus est ad coronam.
Milites Christi vinci non posse, mori posse, et hoc ipso invictos esse, quia mori non
timent (Ad Martyr.).
Cristãos, exclama São João Crisóstomo, sois soldados mui dedicados e mui
débeis, se credes vencer sem combate e triunfar sem fazer guerra! Exercei vossas
forças, combatei com valor, feri sem cuidado. Considerai o juramento, a condição, o
exército: o juramento que fizestes a Jesus, vosso Rei; a condição que aceitastes; e o
exército em cujas fileiras vos alistastes (Homil. in Martyr.).
Estando em conformidade com o Evangelho, toda a vida do cristão, diz Santo
Agostinho, é uma Cruz e um martírio: Tota vita christiani hominis, si secundum
Evangelium vivatur, atque martyrum (Sentent.).
Vantagens de que o cristão aproveita até em meio a seus trabalhos
É indubitável que toda correção, diz São Paulo aos Hebreus, pode
prontamente parecer um motivo de tristeza e não de alegria; mas depois produzirá,
naqueles que são esculpidos por ela, o fruto suavíssimo da justiça: Omnis disciplina
in praesenti quidem videtur non esse gaudii, sed maeroris, postea autem fructum
pacatissimum excercitatis per eam redet justitiae (Heb. XII, 11).
A gordura da carne e a moleza, diz São Bernardo, são mortificados pelos
golpes do Senhor que fortificam as virtudes da alma. A carne fica presa, e a alma
voa aos céus nas asas da virtude; a carne perde o que tinha de supérfluo, e a alma
adquire as qualidades que lhe faltavam. Assim, pois, se como consequência das
flagelações que nos vem do Senhor, as virtudes crescem e apagam-se os vícios; se
aprendemos a desprezar as coisas temporais e a amar as cosias do Céu; se, buscando
as recompensas eternas, experimentamos alguma grave enfermidade ou alguma
forte tentação, ou a perda dos bens da terra, devemos tirar forças e paciência do
pensamento consolador que nos apresenta as vantagens das provações do Senhor.
Seu número e sua extensão não nos devem fazer descuidar nada do que possa
aumentar a glória de nossa vitória e a riqueza de nossa coroa. Agindo assim,
manifestaremos com que ardor dirigimo-nos a Deus, posto que vamos até Ele, não
somente durante a tranquilidade e o repouso, senão também através das aflições,
provas, e cruzes. Por consequência da queda do homem, não podemos voltar às
alegrias eternas sem seguir um caminho semeado de espinhos, dores e lágrimas.
Desde a saída do paraíso terreno, não se pode subir ao Céu senão pelo caminho do
Calvário. Por esta razão, fortes com a esperança da felicidade que nos espera,
devemos estimar, como uma grande vantagem, todas as adversidades (Lib. de
Consid.).
Ademais, que maior prazer há, diz Tertuliano, que desprezar o deleite,
desprezar as coisas da terra, gozar de uma verdadeira liberdade, ter uma consciência
sem mancha e uma vida tranquila, não experimentar nenhum temor da morte,
pisotear os vãos ídolos incensados pelas paixões, domar o Inferno e viver de Deus?
Estes prazeres incomparáveis, estes espetáculos dos cristãos, são santos, gratuitos e
perpétuos (Apolog.).
Grandeza do cristão
O cristão fiel é, por assim dizer, partícipe dos divinos atributos: é santo,
onipotente, imutável, celestial, quase impecável, muito bom, sábio, imperturbável,
liberal, reto, constante, prudente, igual, forte, sincero, parece-se a seu Pai... Deus.
Para ser semelhantes a Deus na glória, devemos parecer-nos a Ele em
santidade, em virtude, em graça, em amor, em trabalho, em dor, e devemos, assim
mesmo, levar nossa Cruz, segundo aquelas palavras do grande Apóstolo aos
Romanos: E, sendo filhos de Deus, somos também herdeiros; herdeiros de Deus e
coerdeiros de Jesus Cristo, contanto que padeçamos com Ele, a fim de que sejamos
com ele glorificados: Se autem filii, et haeredes; haeredes quidem Dei, cohaeredes
autem Christi: si tamen compatimur, ut et conglorificemur (Rom. VIII, 17).
Sereis meu povo fiel, disse o Senhor por meio de Jeremias, e eu serei o vosso
Deus sempre benigno: Eritis mihi in populum, et ego erro vobis in Deum (Jer.
XXX, 22).
A grandeza do cristão consiste não em passar por tal, senão em sê-lo
realmente, diz São Jerônimo: Esse christianum grande est, non videri (Epist. ad
Paulin.).
Devemos corresponder com nossa conduta a um título tão glorioso. Dizendo
que um homem é cristão, entendo que é um homem perfeito, diz Santo Ambrósio:
Cristianum dum dico, perfectum dico (Serm. XII, in Psalm. CXVIII).
Por isso, disse também São Leão Magno: Reconhece, ó cristão, tua
dignidade; e posto que chegastes a ser partícipe da natureza divina, não voltes a
cair, por uma conduta degradante, em tua antiga baixeza. Lembra-te de que Chefe e
de que Corpo és membro: Agnosce, ó christiane, dignitate tuam, et divinae consors
factus naturae, noli in veterem vilitatem degeneri conversatione redire; memento
cujus capitis et cujus corporis sis membrum (Serm. de Nativit.).
Os cristãos são filhos das promessas
Os cristãos são filhos da promessa, isto é, prometidos por Deus.
1º Deus havia prometido por meio dos profetas que haveria cristãos, ou uma
nação de cristãos; e
2º por meio dos mesmos profetas prometeu aos cristãos a justificação e a
salvação, que provém de sua fé e de sua obediência a Jesus Cristo.
A geração dos cristãos não é natural, mas sobrenatural e livre; verifica-se por
meio da graça, que é sua mãe, e pelo consentimento da vontade, que é seu pai. Os
cristãos sucederam aos judeus incrédulos e afastados da filiação espiritual e da
família de Abraão; e, por conseguinte, da herança de benção, isto é, da justiça e da
salvação prometidas a Abraão.
Major serviet minori: O filho maior será posposto ao mais jovem (Gen.
XXV, 23), isto é, os judeus serão pospostos aos cristãos. Estes serão os preferidos,
assim como o Antigo Testamento há de ceder seu posto ao Novo Testamento.
Assim, Santo Agostinho expressa-se ao comentar este versículo do Gênesis.
Jesus Cristo disse-o: Muitos que eram os primeiros neste mundo, serão os
últimos; e muitos que eram os últimos, serão os primeiros; Multi autem erunt primi
novissimi, et novissimi erunt primi (Matth XIX, 30).
Os judeus venderam seu direito de primogenitura; e, crucificando o Salvador
do mundo, perderam a benção.
Meios que podemos empregar para sermos bons cristãos
Há excelentes meios para fazer-nos bons cristãos:
1º a recordação da presença de Deus;
2º a intenção pura;
3º a confiança em Deus;
4º a oração;
5º o valor da perseverança;
6º nunca desprezar as coisas pequenas;
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