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III -

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Mudanças à vistaPólo de Silveira Martins precisa de reestruturação ao completar 500 dias

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Problemas de resgate hospitalar na UFSM

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Como é renovadoo acervo da Biblioteca

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Cultura e tradição unem os universitários

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Revista Laboratório do 4º semestre de Jornalismo da UFSM

Edição: Viviane BorelliSub-edição: Kamila BaidekDiagramação: Anelise Dias, Gabriela Moraes, Guilherme Porto, Luiz Valério Seles, Manuela Ilha e Mathias RodriguesCoordenação de diagramação: Maiara Alvarez (8º sem.)Revisão: Bárbara Barbosa, Camila Marchesan, Fernanda Arispe, Gabriel Bortulini, Gregório Mascarenhas, Greice Marin, Janine Appel, Julia do Carmo, Olívia Scarpari e Renata Müller. Colaboração: Paula Pötter (8º sem.)Fotografia: Gabriela Moraes, Iuri Müller, Maurício Brum e Yuri Medeiros Divulgação: Débora Dalla Pozza e Eduarda ToscaniEdição online: Giuliana Matiuzzi, Marlon Dias e Nadia GarletCapa: Maiara AlvarezFoto da capa: Iuri MüllerProfessora responsável: Viviane Borelli Mtb/RS 8992Endereço: Campus da UFSM, prédio 21, sala 5234Telefone: (55) 3220 8487Impressão: Imprensa UniversitáriaData de fechamento: 01 de outubro de 2010Tiragem: 500 exemplares

www.ufsm.br/[email protected]

sumário

.txt Outubro de 20102

expediente

Produtos UNI retornam ao mercado da região

UFSM vai ter ciclovia em 2011

Músicos da UFSM além-fronteiras

Son-rise: qualidade de vida para autistas

Problemas da UDESSM após a implantação

Teatro independente em Santa Maria

Aquisição de livros pela Biblioteca Central

20 cultura

22 cultura

Estratégias para alcançar um sonho24 perfil

8 geral

6 geral

17 de fora para dentro

16 de dentro para fora

18 categorias

11 paralelo

4 entrevista

10 geral

Questões de Educação Física no Vestibular?

Recordações do Colégio Politécnico

Atendimento pré-hospitalar no campus

19 o arco da velha

Rotina dos vigilantes da UFSM

LULA INAUGURA OBRAS NA UFSMPrimeiro presidente democraticamente elei-

to a pisar na UFSM, Luiz Inácio Lula da Silva, esteve na instituição no dia 3 de setembro para inaugurar obras do REUNI – os campi da Uni-versidade em Frederico Westphalen, Palmeira das Missões e Silveira Martins. Outras inaugu-rações ocorreram simultaneamente na UFRGS, Unipampa e FURG.

No Largo do Planetário, a estrutura mon-tada especialmente para o evento recebeu cerca de três mil pessoas em uma sexta-feira que amanheceu chuvosa. Com Lula, estiveram presentes o prefeito municipal Cezar Schirmer, o ministro da Educação Fernando Haddad, e o ex-ministro das Cidades e ex-governador do Rio Grande do Sul Olívio Dutra (foto ao lado).

O presidente permaneceu na UFSM por pouco mais de duas horas, tempo necessário para que autoridades das quatro instituições que participavam da cerimônia se comunicas-sem por teleconferência. O ato foi aberto com fala do prefeito Schirmer. Também discursa-ram o Reitor da UFSM, Felipe Müller, o repre-sentante do Diretório Central dos Estudantes (DCE), o aluno Pedro Silveira, o ministro Haddad e, por fim, o presidente Lula.

NovidadeS Na Jai A 25ª Jornada Acadêmica Integrada da

UFSM, a JAI, acontece de 9 a 12 de novem-bro e reforça a união entre ensino, pesquisa e extensão na Universidade. Paralelamente à JAI, ocorrem o Festival de Cultura e Folclo-re da UFSM e o 1º Congresso Internacional de Ciências pela Vida, com o tema “Huma-nização e Inovação”.

A inscrição para alunos ouvintes na jornada vai até dia 16 de outubro, ao custo de R$ 5,00. A JAI 2010 visa trocar conheci-mentos e experiências entre alunos e profes-sores, divulgar novas metodologias, discutir temas atuais e congregar os docentes e discentes da UFSM e de outras instituições do país. Mais informações da JAI podem ser encontradas em www.ufsm.br/jai.

Conhecimento e tradição unidos por um ideal

12 capa

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Nos seus 50 anos de existência, a UFSM marcou sua trajetória com ideias de expansão para além dos limites mu-nicipais. Em 1969, antes mesmo de completar a sua primeira década, a Uni-versidade ergueu, no ainda inóspito e distante estado de Roraima, um campus avançado da instituição. Mesmo tantos anos depois, com a UFSM consolidada em Santa Maria e respeitada em todo o país, os ideais de antigamente são man-tidos.

Em julho de 2005, propondo inte-riorizar o Ensino Superior no Rio Gran-de do Sul, a UFSM inaugurou o Cen-tro de Educação Superior Norte/RS (CESNORS) – hoje com unidades em Palmeira das Missões e Frederico Wes-tphalen. Em 2007, com os recursos do Reuni (Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais) nascia a Unidade Descentralizada de Ensino Superior de Silveira Martins, a UDESSM.

Entretanto, cada passo para além dos muros da Cidade Universitária precisa de alguns cuidados: infraestrutura em cada unidade, currículo adequado às necessidades da região e recursos huma-nos suficientes para atender a essas de-mandas. Como reconhece a Reitoria da UFSM, o caso de Silveira Martins é um dos que, quase 500 dias após a implanta-ção, carece de mudanças. A reportagem de Capa faz um retrato da situação atual da UDESSM: problemas, perspectivas de transformações e o futuro da UFSM em Silveira Martins.

Iuri Müller e Viviane Borelli

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carta ao leitor

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eM diSCUSSÃo a CoMUNiCaÇÃo PoPULaR Em sua 35ª edição, a Semana Acadêmica da Comunica-

ção coloca em pauta o popular e o alternativo com o mote “Comunicação feita à mão”. Dentro dessa discussão, emer-gem também a literatura, a cultura pop e a política.

A semana é organizada pelo Diretório Acadêmico dos Cursos de Comunicação Social – Mário Quintana, e acon-tece entre os dias 19 e 22 de outubro no campus da UFSM com uma programação de palestras e oficinas diversificadas.

Estarão presentes nomes como Aldyr Garcia Schlee, jornalista e escritor, Marcelo Canellas, repórter especial da Rede Globo e egresso da UFSM, e Patrícia Saldanha, profes-sora da UFF (Universidade Federal Fluminense) para falar de publicidade comunitária.

Na semana, acontecem também as avaliações do PANC, o Prêmio Anual de Comunicação. Com objetivo de valorizar os melhores trabalhos produzidos no ano pelos alunos, o prêmio abrange três grandes áreas: Jornalismo, Publicidade e Propaganda, e Relações Públicas. Acompanhe a programa-ção completa em www.35secom.net.

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.txt Outubro de 20104

entrevista

O mesmo saborsob nova direção

Produtos da marca UNI voltam ao mercadoDébora Dalla Pozza, Eduarda Toscani e Renata Müller

Durante 15 anos, a Cooperativa dos Produto-res de Leite de Santa Maria, a COOPROL, e a Usina Escola de Laticínios, produziram em

parceria iogurtes, sorvetes e outros derivados lácteos que eram comercializados na região sob a marca UNI. Este convênio foi rompido em 2008 devido a problemas financeiros sofridos pela COOPROL. Em março deste ano, os produtos UNI voltaram ao mercado. Dessa vez, produzidos em parceria com a Cooperativa Regional da Reforma Agrária Mãe da Terra (COPERTERRA), de Tupanciretã, que investiu cerca de R$ 250 mil na re-forma das instalações da usina e na compra de novos equipamentos. Entretanto, recentemente, a produção foi paralisada devido a problemas com a vigilância sa-nitária. Para saber mais sobre a volta dos produtos UNI ao mercado e os problemas pelos quais a Usina Escola de Laticínios passou, a .txt entrevistou Adilson Pereira, gerente da filial da Cooperterra, que coordena a produ-ção dos produtos UNI.

.txt: O retorno dos produtos UNI aos mercados de Santa Maria e região foi bem aceito pelos consu-midores?

Adilson: A aceitação foi boa, tanto na cidade de Santa Maria, quanto em outros municípios da região. A gente conseguiu retornar a produção de todos os pro-dutos que eram feitos anteriormente.

.txt – Quais produtos UNI são produzidos nessa

nova fase?Adilson: Produzimos leite integral, uma linha de

iogurtes que tem vários sabores, queijos de três tipos, nata, ricota, doce de leite e também vários sabores de sorvetes. O beneficiamento é, em média, de três mil li-tros diários nesses diversos derivados do leite.

.txt – Para reativar a fabricação dos produtos UNI na Usina Escola de Laticínios, quais foram as principais mudanças estruturais que vocês tiveram de fazer?

Adilson: Como ficamos muito tempo parados, houve várias questões que tiveram de ser mudadas obrigatoriamente. Tivemos de fazer toda uma reforma na parte elétrica, além de manutenção em praticamen-te todos os equipamentos. Isso porque, à medida que começávamos a usar, eles davam problemas. Então, fo-mos adequando conforme as necessidades, até porque equipamentos desse tipo têm um desgaste maior quan-do estão parados do que quando estão funcionando. Também fizemos uma adequação na parte de estrutura civil para nos enquadrar às novas regras da vigilância sanitária.

.txt: Então o convênio com a COPERTERRA su-priu as necessidades da Usina?

Adilson: Na verdade, a Usina foi disponibilizada de forma licitatória, ou seja, através de uma licitação para entidades e cooperativas interessadas. Já que lidamos

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o gerente da filial da CoPeRTeRRa, adilson Pereira, coordena a fabricação dos produtos UNi

com o recolhimento de leite há 10 anos, sentimos a necessidade de fazer o beneficiamento. Quando surgiu essa oportunidade, nós participamos do processo legal de licitação e apresentamos a documentação para então começar a explorar o espaço físico da Usina.

.txt: Existiu uma troca no pessoal que trabalhava há dois anos?

Adilson: Exatamente. São duas entidades diferen-tes. Uma era a COOPROL, que tinha a sua estrutura, e outra é a COPERTERRA, que tem outro sistema, ou-tro pessoal e outra forma de trabalho. Então tivemos de readequar os recursos humanos, enfim, todo o espaço para trabalho conforme o que a COPERTERRA tem no seu planejamento.

.txt: Esses funcionários são exclusivos da usina?Adilson: Tem dois sistemas. Como trata-se de um

contrato com a COPERTERRA, é ela quem disponibi-liza os funcionários. A Universidade disponibiliza uma pessoa que trabalha internamente que tem a responsa-bilidade de acompanhar os trabalhos e as atividades, mas fica mais como apoio e orientação.

.txt: Adilson, sabemos que a Usina Escola de La-ticínios foi interditada recentemente pela Vigilância Sanitária. Qual foi o motivo para isso?

Adilson: Bom, a estrutura da Usina, para quem conhece, foi construída há muito tempo. No caso, para reativar a própria Usina, tivemos que fazer várias altera-ções bem práticas para adequar as exigências atuais da vigilância sanitária. Fizemos alterações na parte inter-na, já que não pode ter nenhuma estrutura de madeira na área de produção, como portas e janelas. Tem de ser tudo de metal. Também fizemos várias adequações em toda a parte de registro de produtos, o que não era feito de forma correta anteriormente e era necessário. Além de toda a parte de registro, também fizemos o layout de rótulos, e ainda temos toda uma estrutura pra adequar ao CISPOA (Coordenadoria de Inspeção Sanitária de Produtos de Origem Animal), que é o órgão que nos fiscaliza.

.txt: Qual a perspectiva para solucionar esses problemas e como vocês estão lidando com eles?

Adilson: Se eu for listar todas essas questões prá-ticas, dá uma lista enorme, desde portas, investimento em câmara fria, janelas da parte externa, enfim, várias mudanças. Até vestiário feminino, que nós não tínha-mos, tivemos de fazer. Hoje já estamos num processo de conclusão de todas essas adequações, que são ques-tões que não temos como ficar jogando para frente. In-clusive tivemos que fazer essas adequações para sermos liberados pra trabalhar. Estivemos paralisados durante 30, 40 dias para fazer essas adequações. Quando fica-ram prontas, fomos liberados para voltar às atividades.

.txt: E para fazer essas reformas, vocês encontra-ram algum empecilho burocrático ou financeiro?

Adilson: Com certeza. Nós tínhamos um plane-jamento anterior com o que julgávamos necessário e, como tivemos de fazer várias alterações, passamos por várias dificuldades. Também enfrentamos alguns em-pecilhos para colocar os documentos 100% em dia. An-tes não tínhamos registro, nem várias outras questões nesse sentido. Hoje, nós temos toda essa parte, tanto de ordem de fiscalização quanto na parte da FEPAM

(Federação Estadual de Educação Ambiental), além de vários outros registros que não são obrigatórios, mas que são importantes no nosso trabalho do dia-a-dia.

.txt: Como estão os esforços para voltar com po-tência ao mercado consumidor?

Adilson: Nós temos muita dificuldade para entrar no mercado. Temos conhecimento, por relatos das pes-soas que trabalhavam aqui anteriormente, que na cida-de existiam dois, três, tipos de leite diferentes há um tempo. Já hoje, no nosso levantamento, existem sete ou oito tipos diferentes, e isso faz com que a concor-rência acabe colocando os mesmos produtos à venda. Isso dificulta bastante a disponibilização dos produtos no mercado, de forma geral. Nós temos um custo alto na parte de produção e tivemos que fazer vários inves-timentos, além de termos um cronograma para obter esse retorno. Tudo isso dificultou e está dificultando a disponibilização desses produtos no mercado santa-mariense.

.txt: E qual é a expectativa para o futuro?Adilson: É otimista. Nós temos sempre esse prin-

cípio de ser otimista e de acreditar no potencial desse trabalho de beneficiamento. Buscamos vários projetos da CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) e de escolas que possam viabilizar o trabalho na própria Usina. Esses projetos nas escolas começaram com uma lei, do ano passado, que exige que as escolas usem 30% do recursos da União para comprar produtos derivados de agricultura familiar. Como somos uma cooperativa, nossa base é a agricultura familiar. Aí surge, então, a possiblidade de disponibilizar os produtos produzidos aqui para merenda escolar, de maneira formal. .txt

Foto: Renata Müller

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geral

6

O relógio marcava quatro horas da tarde de quinta-feira, dia 19 de agosto de 2010. As aulas do

segundo semestre transcorriam normal-mente. Enquanto isso, o aluno do Colégio Politécnico, Francisco Oliveira de Souza, bolsista de um projeto de energias renová-veis, equilibrava-se na viga do telhado do galpão onde se guardam colheitadeiras e tratores utilizados pelo colégio.

Desempenhando o trabalho que lhe ca-bia em troca da remuneração de R$180,00 mensais, ele tentava passar um cabo de um lado do telhado a outro. Tal ação seria cha-ve para o êxito do funcionamento de um catalisador destinado a transformar raios de sol em energia. Concentrado em realizar a tarefa à qual foi designado, desequilibrou-se e pisou nas telhas irregulares que davam forma ao telhado. Forçou com o pé a telha, que rompeu-se e o fez cair de uma altura de aproximadamente oito metros. Após 45 minutos de espera, uma ambulância chega-va para socorrê-lo.

“Quando o aluno caiu, ligamos pronta-mente para o HUSM. Disseram que havia uma ambulância para socorrê-lo, mas que não dispunham de médicos para atender aquela ocorrência” - relata Valmir Aita, vice-diretor do Colégio Politécnico da UFSM. Orientaram-no, então, a chamar o Corpo de Bombeiros, “pois disseram que eles tinham pessoal treinado para fazer o resgate e que poderiam utilizar ambulância

do HUSM para a remoção”. Por segurança, o resgate da Unimed também foi contata-do.

O caso de Francisco não era grave. Mesmo assim é revelador de uma deficiên-cia que existe no campus da Universidade. Alerta para uma fratura na estrutura do atendimento e mostra que quando uma real emergência ocorrer, o socorro, infe-lizmente, pode não chegar a tempo. “Meu caso acabou não sendo grave, mas fico ima-ginando quem corta e mexe com carnes aqui no Politécnico. Se por acaso alguém decepa a mão e precisa de resgate urgente não tem como contar com isso aqui pela própria UFSM” – lembra Francisco.

Os ponteiros do relógio marcavam nove horas da noite. O movimento na Universi-dade rareava e Francisco tratava de retor-nar a sua casa, em companhia da mãe, que o auxiliava. Recebeu um atestado médico de uma semana, porém faltou a mais aulas, devido às fortes dores nas costas ocasiona-das pela queda. Hoje, Francisco trabalha em terra firme, em um outro projeto que faz marcações que fornecerão dados para alimentar o Sistema de Posicionamento Global (GPS).

TRANSPORTE - O Hospital Universi-tário de Santa Maria (HUSM) possui uma ambulância própria e outra está a caminho – ainda em fase de licitação. Para dirigi-las, há quatro motoristas servidores da univer-sidade e mais um terceirizado. Eles respon-

dem pelo plantão durante as 24 horas do dia. Segundo a encarregada pelo transporte do hospital, Nadir Lopes, os funcionários têm como trabalho apenas o transporte de pacientes internos do HUSM.

“Nós fazemos o serviço de transporte dos pacientes do hospital para outras cida-des, caso haja necessidade de certa cirur-gia que não possa ser realizada aqui, ou de consulta com algum outro médico” – diz Nadir. A funcionária também ressalta que o paciente é sempre acompanhado de um técnico de enfermagem ou de um médico. Já o atendimento pré-hospitalar de emer-gência ou resgate, não é tarefa dos motoris-tas do HUSM: “nós só temos uma ambulân-cia aqui, que normalmente está viajando. E mesmo se o carro estiver aqui, ainda há a necessidade de que uma equipe médica nos acompanhe para realizar o resgate. Mas ob-viamente que, por uma questão de humani-dade, ajudamos sempre que podemos”.

O motorista Roberto dos Santos este-ve presente em um desses casos de ajuda. Ele dirigiu a ambulância que participou do resgate de Francisco. “Nós ajudamos em tudo que podemos, mas apenas dirijo, não tenho como auxiliar na parte médica. Nos ligaram, o carro estava pronto para sair, mas o PA [Pronto-Atendimento do HUSM] não liberou nenhum enfermeiro para me acom-panhar. Tivemos que chamar os Bombeiros e demoramos muito para fazer o resgate” – lembra o motorista.

Olívia Scarpari e Mathias Rodrigues

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Francisco oliveira de Souza esperou 45 minutos para ser atendido

Emergência 192Como (não) funciona o resgate no campus da UFSM

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O Pronto Atendimento (PA) do HUSM conta com apenas uma equipe médica por turno. Lá são recebidos pacientes com os mais diversos problemas, sem contar as emergências provenientes de toda a região central do Rio Grande do Sul. Naura Cou-tinho, enfermeira, afirma que não há como o Hospital fazer atendimentos de emer-gência pré-hospitalar: “Só há uma equipe aqui dentro, para atender muita gente. No HUSM não existe uma equipe de remo-ção especializada. Nós apenas fazemos o atendimento hospitalar, que é o realizado quando o paciente chega ao PA. Não há funcionários suficientes para atendermos fora do Hospital, nem é função do HUSM fazer isso”.

“O que se pode fazer é chamar os Bom-beiros ou alguma empresa privada” – alega Arnaldo Teixeira Rodrigues, vice-diretor geral e diretor clínico do HUSM. O mé-dico afirma que não há nenhum esquema de atendimento pré-hospitalar montado dentro do campus pela UFSM, e que a co-munidade acadêmica está sujeita ao mes-mo tratamento, e aos mesmos problemas, de qualquer morador do bairro Camobi - apesar de estarem dentro da universidade que administra o maior hospital da região. “O HUSM não realiza atendimentos pré-hospitalares, nem dentro, nem fora da uni-

versidade. Isso é papel do sistema público de saúde, não do hospital, nem da UFSM” – diz o vice-diretor do HUSM.

“As empresas privadas, como a Uni-med, a Protege e a Cauzzo, fazem remoções gratuitas em casos graves, mas os únicos atendimentos realmente públicos e gratui-tos da cidade são o dos Bombeiros e o do PA do Patronato” – lembra Arnaldo. Isso remete a um problema que não atinge ape-nas a comunidade acadêmica, mas todos os

da comunidade acadêmica, tem quase 50 mil habitantes e está a mais de 30 minutos de carro do Patronato” – sugere Rodri-gues.

O secretário de saúde de Santa Maria, e também vice-prefeito da cidade, José Haidar Farret, rebate duramente os ques-tionamentos quanto aos problemas de atendimentos pré-hospitalares na UFSM e em Camobi: “Lamentavelmente o HUSM só atende emergências, e não urgências. Se eles voltassem a atender urgências, não ha-veria esse problema”. Quanto à sugestão do diretor clínico do HUSM, Farret também é enfático: “Se colocássemos um PA em Ca-mobi, aí todo bairro iria querer um. O que nós temos que fazer é terminar a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) que fica ao lado da Casa de Saúde. A UPA é capaz de atender a toda a cidade, sem que seja neces-sária a criação de um PA em cada bairro.”

A deficiência nos resgates emergenciais não é apenas da UFSM. Trata-se de uma ca-rência maior, proveniente da falta de estru-tura do próprio município. Mesmo assim, a impressão de um HUSM tão perto e, ao mesmo tempo, tão longe, abre precedentes para torcermos que, se acaso haja alguma complicação de saúde dentro do campus, se prescinda de resgate urgente. Afinal, a solu-ção será discar 192 e esperar... .txt

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Fotos: Mathias Rodrigues

o HUSM não faz atendimento pré-hospitalar, como informa o vice-diretor geral arnaldo Teixeira Rodrigues (detalhe)

O que se pode fazer é chamar

os Bombeiros ou alguma empresa

privada

HUSM não dispõe de estrutura para resgate

”habitantes da cidade. Em uma cidade do porte de Santa Maria, com bairros e vilas geograficamente dispersos, há apenas um local capaz de realizar atendimentos pré-hospitalares emergenciais. “Eu acho que, caso houvesse demanda, a Universidade contrataria alguma empresa para fazer o atendimento dentro do campus, mas o nú-mero de ocorrências é mínimo. O que se poderia sugerir é a criação de um Pronto Atendimento no bairro Camobi que, além

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geral

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A impressão que se pode ter ao en-trar em uma biblioteca é a de que aqueles livros estão ali desde sem-

pre – no caso da Biblioteca Central da UFSM, a eternidade dataria de 1972, ano da inauguração do prédio atual. Mas para manter o acervo de mais de 180 mil volumes atualizado, há um processo quase invisível de sugestões de compra de livros. As aquisições definem o que as estantes ganham de novo a cada ano letivo.

Dentro da sistemática de compras da Biblioteca Central (BC), para ganhar é preciso pedir. Ou, em poucas palavras, é preciso que o administrador desses re-cursos saiba do que você precisa. Alguns cursos, no entanto, parecem alheios à Bi-blioteca e não mantêm um hábito vital para o aumento do acervo: enviar uma lis-ta de livros para serem adquiridos.

As compras de livros são programadas a partir dos pedidos que os professores

enviam para a administração por meio de um formulário específico (ver quadro). O Setor de Aquisição apenas tem autonomia para repetir uma compra quando uma obra tem muitas reservas ao longo do ano. Por isso, mesmo que de fato o acadêmico não

consiga retirar o livro, efetuar a reserva é importante para que as carências sejam conhe-cidas.

Para todo o ano de 2010, o recurso global para com-pra de livros é de R$ 400 mil, sem divisão por áreas do co-nhecimento. A bibliotecária responsável pela aquisição na BC, Marisa Severo, afirma

que no momento da compra cabe o bom senso: de um modo geral, os livros de áre-as humanas são mais baratos do que os de Ciências da Saúde e Engenharias. Assim, é necessário encaminhar as compras equili-brando essa disparidade.

Os cursos que foram criados nos últi-mos anos com recursos do Reuni (Progra-

ma de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), por sua vez, contam com uma verba pró-pria de R$ 300 mil, destinados à formação de bibliografia básica. Esses valores são repassados pela Pró-Reitoria de Planeja-mento (Proplan) da Universidade.

Desde 2006, quando as compras pas-saram a ser centralizadas pelo Setor de Aquisição da BC, todos os pedidos devem ser encaminhados para lá. Hoje, cabe às Bibliotecas Setoriais apenas a missão de orientar os professores e estudantes so-bre a maneira de fazer as sugestões. Ainda assim, essa procura costuma ser pequena. Ana Claudia Flores é bibliotecária do Cen-tro de Educação (CE) desde março deste ano e relata que ainda não foi questionada sobre a aquisição.

Para que o assunto ganhe repercussão, a própria direção da Biblioteca Central organiza uma campanha publicitária por meio de cartazes que incentivam e ensi-nam a maneira correta de fazer a encomen-da. Para a diretora da BC, Maria Inês Figas,

Dentro da sistemática de compras

da Biblioteca Central (BC), para ganhar é preciso pedir

Desinformação sobre os processos de pedidos de livros diminui o número de novidades no acervo das bibliotecas da UFSM

Como os corredores se enchem de livros

Giuliana Matiuzzi, Iuri Müller e Maurício Brum

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embora haja oportunidade de efetuar pedi-dos durante todo o ano, o ideal é que eles sejam encaminhados o mais cedo possível, já que o processo burocrático tende a atra-sar a viagem dos títulos desde as livrarias conveniadas até as prateleiras da UFSM.

A mulher que encomendava livros

Embora a prioridade para a encomenda de livros seja a indicação docente, alunos também podem deixar suas sugestões, seja para os de uso em sala de aula, seja para os literários. Para esses últimos, a bibliote-cária Marisa Severo administra as compras de acordo com os livros que tiveram uma grande taxa de empréstimo no ano ante-rior – segundo estatísticas do sistema de bibliotecas adotado pela UFSM, que pode fornecer dados bastante precisos, como, por exemplo, o histórico de empréstimo de um usuário.

Entre a lista dos mais emprestados constam os best-sellers da estação, disputa-dos reserva a reserva pelos alunos. Segun-do ela, o fato de um livro figurar por meses na lista dos mais vendidos das principais revistas do país serve como justificativa

As compras de 2010*

UNidade ToTaL de adMiNiSTRaTiva TÍTULoSBiblioteca Central 100Centro de Artes e Letras 264Centro de Ciências Naturais e Exatas 107Centro de Ciências Rurais 130Centro de Ciências da Saúde 220Centro de Ciências Sociais e Humanas 1.098Centro de Educação 108Centro de Educação Física e Desportos 73Centro de Tecnologia 238Colégio Técnico Industrial de Santa Maria 150CESNORS – FW/PM 538UDESSM – Silveira Martins 91

*O Setor de Aquisição solicitou 3.117 livros até o dia 22/09/2010

para incluir títulos como “Harry Potter”, “Lua Nova” e “A Menina Que Roubava Livros” nas encomendas de literatura. No entanto, ela esclarece que também efetua

compras de obras consideradas mais pro-fundas, partindo de sugestões enviadas pelo site da Biblioteca..txt

Para solicitar livros pelo site da Biblioteca (www.ufsm.br/biblioteca): No menu à esquerda, localize a seção “Serviços/Setores” e clique em “Aquisição”. A seguir, vá em “Processo de Compra 2010” e clique no link ali

disponível. Por último, é preciso fazer o download da Planilha de Sugestão e enviar, já preenchida, para o email [email protected].

Foto: Iuri Müller

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UFSM ganha cicloviaProjeto vai revitalizar também a avenida Roraima em 2011

Bárbara Barbosa e Greice Marin

Os ciclistas que transitam todos os dias pela Avenida Roraima, entre o trevo da faixa nova e o arco da

Universidade, encontrarão um novo cami-nho em 2011. A construção de uma ciclovia deverá tornar o trajeto mais seguro e o ce-nário mais agradável.

O projeto que autoriza a implantação da ciclovia faz parte da revitalização da Avenida Roraima, principal via de acesso à Universidade Federal de Santa Maria. Segundo o pró-reitor de infraestrutura da UFSM, professor Valmir Brondani, o De-partamento Nacional de Infraestrutura de transportes (DNIT) aprovou o projeto no início de setembro.

A licitação do projeto para a reforma da Avenida Roraima, que será realizada pelo DNIT, deve acontecer até dezembro. A obra terá início cerca de 30 dias após a assinatura do contrato. Conforme o professor Bron-dani, as obras provavelmente começam no início de janeiro de 2011 e serão concluídas em meados de maio, já que o tempo estima-do para sua realização é de 120 dias.

A ciclovia vai ter 680 metros de ex-tensão e 2,5 metros de largura e deve su-prir a demanda, especialmente de alunos e funcionários que trafegam diariamente

pelo local. A via iniciará ao lado do posto do Corpo de Bombeiros de Camobi (RST 287), na Avenida Roraima e se estenderá até o arco da UFSM. A instituição recebeu verba e autorização para viabilizar as obras apenas neste trecho. No entanto, a intenção de, no futuro, ampliar a área da ciclovia para toda a UFSM.

O professor do Centro de Ciências Ru-rais (CCR), Eno Darci Saatkamp, utiliza a bicicleta como seu principal meio de trans-porte e destaca a relevância de uma via úni-ca para os ciclistas. ‘“Há cinco anos e meio convivo com essa realidade e o maior em-pecilho encontrado é a falta de segurança, pois temos de dividir espaço com os outros veículos”, explica.

Além da ciclovia, o projeto inclui a re-cuperação total do pavimento das duas pis-tas da Avenida Roraima, a construção de quatro recuos para paradas de ônibus com abrigos (duas na entrada e duas na saída do campus), a canalização de uma vala de es-goto à direita da entrada (desde o trevo até o Colégio Politécnico), a construção de um calçadão de três metros de largura sobre a canalização, e a implantação de iluminação adequada. O custo total da obra é de, apro-ximadamente, 2,5 milhões de reais. .txt

Rede de esgotoAs valas localizadas nas late-rais da Avenida Roraima apre-sentam problemas de sanea-mento básico que devem ser resolvidos pelo projeto de revi-talização. A água não tratada afeta diretamente a vida dos moradores das redondezas, já que oferece riscos por favore-cer a proliferação de doenças, como a dengue e a leptospiro-se. Leda Lima, moradora dos arredores da Avenida Roraima alega sentir-se prejudicada com o descaso em relação à canalização. Entre as princi-pais reclamações da aposen-tada, destaca-se o mau cheiro exalado pelo esgoto e a alta quantidade de insetos no ve-rão. Em função da presença de roedores, ela conta que de-detiza a casa anualmente.

dNiT aprovou projeto para construção da ciclovia em outubro

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paralelo

seridas no vestibular, as escolas se sentiriam na obrigação de mudar a maneira como

a disciplina é ensinada”. Tra-dicionalmente tomada como uma matéria prática, os professores das escolas terão de se adaptar a essa mudança, pois a carga de conteúdos teóricos a serem trabalhados aumentará.

Conforme a professora do CEFD, Maria Eliza Gama, o processo seletivo da UFSM, apesar de adotar o Enem como 20% de seu peso final, vai de encontro a ele em relação à abordagem das questões. Antes tido como uma prova interdisciplinar, as reformulações do Enem tor-naram a prova mais clássica, já que privilegia conteúdos específicos tradicionais. A avaliação deixa de lado disci-plinas como Educação Física, Artes, Sociologia e Filosofia, o que, para a professora, é um retrocesso.

Uma das primeiras uni-versidades a incluir questões de Educação Física em seu vestibular foi a Universidade Estadual Paulista – UNESP. Segundo a Diretoria Acadêmica da Vunesp – a funda-ção organizadora de Concursos Públicos e Vestibulares da UNESP –, conhecimentos de Língua Portuguesa, Língua Estrangei-ra Moderna, Educação Física, Arte e In-formática, pertencem a uma mesma área, denominada Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Por essa razão, assim como a orientação do ensino médio no Brasil fun-damenta-se nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), os exames vestibulares da UNESP tratam a Educação Física – que faz parte desses parâmetros – como uma disciplina apta a ser abordada em questões teóricas específicas.

Segundo a estudante do ensino mé-dio do Instituto Anglicano Barão do Rio Branco de Erechim, Caroline Jioucoski, os alunos não estão preparados para uma prova teórica de Educação Física: “nós –

principalmente as gurias – praticamente nem temos aulas práticas e nem se fala em aulas teóricas. Tivemos apenas um trabalho durante o ano todo, que era sobre regras de futebol e basquete”.

Em contrapartida, na Escola Estadual de Ensino Médio Maria Rocha, em Santa Maria, as mudanças no ensino da disciplina já vêm ocorrendo. Segundo o professor de Educação Física Rogerson Ruiz Gonçalves, o a escola possui na proposta pedagógica da Educação Física questões como a com-preensão do funcionamento do organismo humano de forma a reconhecer e modifi-car as atitudes corporais e a valorização da

qualidade de vida. São pro-postas que não se limitam apenas à teoria e à prática esportiva, mas que abor-dam outro viés da área, passível de ser questão de vestibular. “Eu tenho aqui alunos que arrumam uma forma de não frequentar a Educação Física para po-der ter outras aulas no cur-sinho pré-vestibular. Com a disciplina no vestibular,

isso pode mudar”, afirma o professor Ro-gerson.

A inclusão da Educação Física no ves-tibular obriga as escolas de ensino médio a mudarem a forma de tratar a disciplina e aponta uma deficiência do ensino brasilei-ro. Os estudantes – e também as escolas de ensino fundamental e médio – alimentam uma preocupação exagerada com o concur-so. Assim, tornam-se aptos a prestá-lo, mas não aprendem os conteúdos específicos da disciplina. A professora Maria Eliza acre-dita que atualmente a busca pelo conheci-mento gira em torno apenas do vestibular e não da real aprendizagem, precarizando a educação”.

Espera-se que, aos poucos, com as mo-dificações, o ensino se comprometa com a formação de um aluno e não apenas se pre-ocupe com um futuro próximo que finda no vestibular. .txt

Debate sobre inclusão de disciplinas objetiva mais qualidade no ensino

Gabriel Eduardo Bortulini e Luiz Valério Seles

no Vestibular

A seleção para o ingresso ao ensino superior nas instituições públicas brasileiras vem sofrendo inúmeras

mudanças nos últimos anos. O Exame Na-cional do Ensino Médio (Enem) ganhou peso e faz parte do processo seletivo. Em alguns casos, o Enem substitui a prova ha-bitual de ingresso em Instituição de Ensino Superior (IES). O vestibular na Universi-dade Federal de Santa Maria (UFSM) não fugiu à tendência nacional: reduziu o nú-mero de questões e o tempo do concurso; acrescentou uma forma de ingresso seriada com Programa de Ingresso ao Ensino Su-perior (Peies) e incluiu também uma nova disciplina nas provas – a Filosofia.

Entre todas as mudanças, a inclusão da disciplina no vestibular influi mais dire-tamente no perfil dos estudantes. Nas es-colas de ensino médio, a Filosofia passou a ser tão valorizada quanto as disciplinas tradicionais. A UFSM, pioneira no Brasil em implementar a Filosofia no processo seletivo, constatou que os acadêmicos que enfrentaram as novas questões estavam mais preparados para encarar a faculdade. A administração superior da Universidade Federal de Uberlândia – uma das institui-ções que adota a disciplina – avalia que a inclusão da Filosofia como conteúdo a ser estudado pelo candidato ao curso superior teve um impacto positivo nas outras provas do processo seletivo. Depois da Filosofia, na UFSM outras disciplinas ganham vez na mesa das discussões. Entre elas, está a Edu-cação Física.

A iniciativa de inserir questões da disci-plina no processo seletivo, porém, tem ge-rado uma discussão à parte. A forma como a matéria é tratada e ensinada hoje nas es-colas, faz com que surjam questionamentos sobre qual será a abordagem tomada pela Copervers (Comissão Permanente do Ves-tibular) para a escolha e a produção dessas questões.

Segundo o vice-diretor do Centro de Educação Física e Desportos da UFSM (CEFD), Rosalvo Luis Sawitzki, “uma vez que questões de Educação Física forem in-

A inclusão da Educação Física no vestibular obriga as escolas de ensino médio a mudarem a forma de tratar a disciplina e aponta uma deficiência do

ensino brasileiro

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Silveira Martins, cidade berço da Quarta Colônia de Imigração, tem pouco mais de dois mil habitantes,

mas simboliza os principais problemas enfrentados pela Região Central do Rio Grande do Sul: recessão econômica, en-velhecimento da população, baixos níveis de escolaridade, evasão dos jovens para as grandes cidades e dependência da agricul-tura. O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do município, por exemplo, é de 0.796 numa escala que vai de zero a um. O número está abaixo da maioria das cidades do estado.

Na tentativa de reverter o quadro de desvitalização territorial, decidiu-se im-

plantar um pólo de ensino que atendesse às demandas da região. Assim, foi criada pela UFSM a Unidade de Ensino Superior de Silveira Martins (UDESSM) no primei-ro semestre de 2009, através do programa de Expansão e Reestruturação das Univer-sidades Federais (Reuni).

O quadro de abandono que se estacio-nou sobre os pequenos municípios do cen-tro do estado é proporcional ao desafio que nasceu junto com o surgimento da Unida-de. A justificativa de criação de um pólo de ensino distante de Santa Maria trazia consigo a necessidade de uma abordagem de ensino diferenciada, que privilegias-se o desenvolvimento daquela região. Em

entrevista à .txt, em maio do ano passado, José Lannes de Mello – coordenador do projeto de criação da UDESSM – explica-va quais eram os objetivos do então recém criado pólo: “Silveira Martins é, hoje, da forma como a gente pensou, uma universi-dade com um viés muito forte para a ques-tão da revitalização do espaço rural”.

Quinhentos dias depois da inaugu-ração da UDESSM, a equipe da .txt sobe a serra novamente em busca de algumas respostas: qual é a situação da Unidade? Os objetivos que justificavam a fundação vêm sendo alcançados? E mais: quais as perspectivas para o futuro da Unidade de Silveira Martins?

UFSM: 500 dias em Silveira

Martins.txt volta à UdeSSM para mapear os problemas enfrentados um ano e meio após a implantação

Anelise Dias e Gregório Mascarenhas

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A UDESSM está instalada no prédio do extinto Colégio Bom Conselho, construí-do em 1908 e mantido pelas irmãs do Ima-culado Coração de Maria durante 80 anos. O local, patrimônio histórico de Silveira Martins, foi inicialmente emprestado pelo município para a instalação da Unidade. Em 27 de agosto deste ano, o edifício foi cedido à UDESSM.

Apesar do prédio não estar em más condições, há marcas evidentes da ação do tempo. Por ser patrimônio histórico, a UDESSM não pôde fazer alterações na estrutura arquitetônica do antigo colégio.

Assim, foram reformados apenas os am-bientes que seriam utilizados pelos alu-nos imediatamente. Os espaços reparados correspondem a quatro salas de aula, um laboratório de informática, uma biblioteca e uma sala de vídeo, que é utilizada tam-bém como auditório. Ainda que equipadas, as salas são insuficientes para atender mais alunos no caso de um novo vestibular.

Falta ainda alojamento para quem mora fora da cidade e restaurante universitário. O vice-reitor da UFSM, Dalvan José Rei-nert explica que essas são aquisições que vêm com o tempo: “Santa Maria demorou 14 anos para ter um Restaurante Universi-tário (RU); o pólo do CESNORS de Pal-

meira das Missões demorou quatro. Cer-tamente está se pensando em alternativas para implantar um RU em Silveira Martins, mas isso leva tempo”.

Com o objetivo de estruturar mais sa-las de aula e de melhorar as condições de instalação, a Unidade passará por reformas no ano que vem. O diretor da UDESSM, José Cardoso Sobrinho, informa que há dois milhões de reais para a reforma já li-berados pela União: “A obra vai ser licitada até o final de setembro e os valores já foram liberados”. Além disso, conta que está pre-visto para o orçamento de 2011 um repasse de dois milhões para construção de novos prédios.

Falta de professores e funcionários

A UDESSM não enfrenta apenas problemas com a falta de estrutura física. Faltam também pessoas capa-citadas para atender às demandas dos alunos. Segun-do dados da Pró-Reitoria de Recursos Humanos da UFSM, a Unidade possui 12 professores e dois funcio-nários técnico-administrativos, além de funcionários de limpeza e segurança de uma empresa terceirizada. Os dois técnico-administrativos se desdobram entre a secretaria, a biblioteca e também o setor de projetos de pesquisa e extensão, já que na UDESSM não há Ga-binete de Projetos.

A falta de pessoal capacitado para atender a cada setor faz com que a Unidade não possua registros de dados básicos, como cadastro de professores e alunos, nem de projetos e ações desenvolvidas. Não há tam-bém um sistema que contabilize o número de alunos que desistem ou trancam a vaga – dados que apenas a UFSM dispõe.

Frente e fundos do Colégio Bom Conselho, no qual está instalada o pólo da UFSM de Silveira Martins

José Sobrinho Cardoso - diretor da UdeSSM

Necessidade de ampliação

Fotos: Anelise Mascarenhas

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Sala de aula do Colégio Bom Conselho, que foi reestruturado e hoje abriga os alunos da UdeSSM

No seu primeiro ano de existência, a UDESSM realizou dois processos seleti-vos vinculados ao vestibular da UFSM: o Extraordinário 2009 e o de Verão 2010. Foram ofertadas 200 vagas em 2009 e 160 em 2010, divididas entre os quatros cursos superiores da Instituição: Tecnologia em Gestão de Turismo, Tecnologia em Gestão em Agronegócios, Tecnologia em Proces-sos Gerenciais e Tecnologia em Gestão Ambiental.

Das 360 vagas oferecidas nos dois con-cursos, apenas 199 estão ocupadas, o que corresponde a aproximadamente 55,27% do total de aproveitamento. Não bastasse a procura ser menor do que oferta (ver gráfi-co), a UDESSM enfrenta outro problema: o progressivo trancamento e abandono de curso.

Inajara Mello, acadêmica do curso su-perior de Tecnologia em Gestão Ambiental e membro do Diretório Central dos Estu-dantes (DCE) da UFSM, conta que muitas pessoas abandonaram ou trancaram a vaga por que o custo para se manter estudando na UDESSM é alto. “Alguns colegas meus não cursam todas as disciplinas porque não têm dinheiro para ir e voltar todos os dias. Além de ser caro, são poucos horários de ônibus, então fica difícil ir todos os dias”,

detalha a estudante.Para chegar a tempo da aula do perí-

odo da manhã, que começa às 7h45, um estudante da UDESSM que mora em San-ta Maria e utiliza o ônibus intermunicipal como meio de transporte precisa sair da cidade às 6h35. Ele gasta R$ 4,25 com a passagem. Da parada de ônibus da Aveni-da Rio Branco, em Santa Maria, até Silveira Martins, a distância é de 25 quilômetros. A discrepância é que existem algumas linhas internas em Santa Maria que percorrem ex-tensões semelhantes. Da Cohab Tancredo Neves ao campus de Camobi, por exemplo, a distância é de 17 quilômetros. A diferen-ça é que um aluno da UFSM que reside na Tancredo paga, de ida e volta R$ 2,00 por dia – enquanto um estudante da UDESSM gasta R$ 8,50.

Segundo dados do Departamento de Registro e Controle Acadêmico da UFSM (Derca), 18 alunos trancaram a matrícula e 23 abandonaram o curso que freqüen-tavam, desde a criação da Unidade. Boa parte dos alunos ingressou na Instituição como segunda opção de curso, um sistema que permite que aqueles que não obtive-ram pontuação suficiente para ingressar no curso desejado ocupem vagas remanes-centes na UFSM ou em um de seus pólos,

como é o caso de Silveira Martins.Devido ao grande número de vagas

ociosas e aos índices de desistência e tran-camento, a UDESSM ficará de fora do Ves-tibular de Verão 2011, que será realizado na UFSM e em seus respectivos pólos. Du-rante o ano que vem, a Instituição passará por uma reforma curricular na tentativa de sanar alguns problemas. “Vamos replanejar a Unidade através de uma comissão de 11 pessoas. Montamos essa comissão para fa-zer um rearranjo pedagógico e nisto vamos colocar uma nova idéia de cursos”, explica o diretor da Unidade.

De acordo com uma das coordenado-ras do projeto de criação da UDESSM, professora Marilú Marin, existe uma pre-ocupação por parte da Reitoria da UFSM com a baixa procura pelos cursos ofereci-dos em Silveira Martins, que justifica a ne-cessidade de revisar o plano pedagógico da Unidade. Outro problema encontrado pela professora é o fato dos cursos serem para formação de tecnólogos ao invés de bacha-réis. “A atual gestão da UDESSM tem um compromisso de, frente a um prazo maior que foi dado pela Reitoria, elaborar um novo vestibular. O que se propõe é que a Unidade ofereça a possibilidade de bacha-relado”.

Muitas vagas para pouca procura

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Projetava-se, dentro do programa de expansão das universidades públicas no Brasil, o Reuni, criar uma unidade que contemplasse as necessidades de cres-cimento não só da Quarta Colônia, mas também de todos os municípios da Região Central do Rio Grande do Sul – os quais se assemelham pelos baixos índices de de-senvolvimento sócio-econômico.

A criação da Unidade de Silveira Mar-tins tinha por propósito abrir um novo espaço de ação da UFSM, voltado às ne-cessidades particulares de seu local de atu-ação. Foram criados, então, cursos de Edu-cação Profissional de Nível Tecnológico que considerassem as potencialidades da região: o turismo, a produção agrícola e a manutenção dos recursos ambientais.

Se a Unidade foi instalada no núcleo de uma região carente de acesso à educação, por que, então, enfrenta o impedimento central, que é a falta de procura por suas vagas? Conforme o vice-reitor Dalvan José Reinert, “a justificativa na época da cria-ção era que a Unidade teria um projeto pe-dagógico diferenciado e que atenderia aos arranjos produtivos locais e regionais. E é o que está demorando a acontecer”.

Para o diretor da UDESSM, José Car-doso Sobrinho, “os problemas enfrentados são normais, pois uma implantação é uma

ascensão. A UFSM levou 50 anos para es-tar como é hoje, a UDESSM tem pouco mais de um ano. São necessários mais três anos, no mínimo, para a implantação co-meçar a surtir efeito.”

Já a professora Marilú Marin acredita que “a Universidade não faz uma divul-gação ampla de seus cursos. E essa é uma postura que, frente ao processo de expan-são, a Universidade terá que assumir. O governo nos cobra número maior de alu-nos por professor e também carga horária maior do professor. Esse é um problema do contexto do quadro gerado pela expan-são, que é positiva. Mas nós precisamos aprender a lidar com essa nova realidade”.

Ao final desse retrato da UDESSM, o que se constata é que priorizou-se o au-mento dos índices de acesso ao ensino superior. Entretanto, não houve demanda suficiente para preencher o total das vagas ofertadas, segundo dados do Derca. Um dos motivos é a falta de condições neces-sárias para manutenção e permanência dos estudantes nas instituições públicas recém criadas, já que não há alojamento, um restaurante universitário ou bolsas au-xílio carência. A transposição de etapas na expansão do ensino superior federal obri-ga, hoje, a UDESSM a mudar na tentativa de manter-se viva. .txt

Retrato de uma implantação

estado atual das vagas da UdeSSM

Fotos: Anelise Mascarenhas

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uilherme Porto

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Extensão da Almaa música que saiu da UFSM e ganhou os palcos do mundo

Guilherme Porto e Yuri Medeiros

A principal função de uma universi-dade pública é atender às deman-das da sociedade a qual pertence.

Porém, sua contribuição não se restringe às inovações científicas. Por vezes ela acon-tece de uma forma um tanto mais subjeti-va, como acontece no curso de Música da UFSM.

A trajetória de alguns músicos que aqui passaram deixa evidente a influência da academia na vida cotidiana, e como o sen-timento liberado por uma criação artística pode fazer a diferença para todos.

Luiz Carlos Borges nasceu em 1953, em São Luís Gonzaga, onde cresceu tanto com a família quanto com a música. Desde quando tinha tamanho suficiente, já passa-va o tempo com a gaita e o violão no colo. Em janeiro de 1976, tomou a decisão que, como ele mesmo ressalta, mudou seu con-ceito sobre música: veio para Santa Maria, passou no vestibular e daqui saiu um dos maiores acordeonistas do Brasil.

Conhecido na música popular desde tempos, ele reitera a importância que a passagem pela UFSM teve em sua evolução musical. “O convívio com gente da mais alta qualidade na arte me fez entender melhor o

que era ser músico; antes eu era apenas ber-ço, apenas inspiração”, ressalta. Somando a inspiração nata e o embasamento teórico, Borges fez seu passaporte para ganhar o mundo e hoje carrega em suas credenciais parcerias com ícones da música mundial do quilate de Dominguinhos, Raúl Barbosa, Antonito Tarragó Ros e Mercedes Sosa.

Na época que Luiz Carlos Borges in-gressou no curso de música, a vertente po-pular não tinha espaço no campo teórico da academia. Tanto Borges quanto a UFSM mudaram a partir de então: “O que não era permitido eu fiz: tocar nos corredores, to-car no RU [Restaurante Universitário]. Eu sempre busquei liberdade pra tentar coisas novas”. A única ponderação de Borges é que o curso preparava o aluno conceitualmente, enquanto as vertentes menos eruditas eram deixadas de lado.

Mas não é só pela música regional que a cultura desenvolvida na UFSM chega às pessoas. Influenciado pela música popular e pelo jazz, desde os acordes clássicos en-saiados nos corredores do Centro de Artes e Letras (CAL), o músico Gustavo Assis Brasil vem rompendo fronteiras com sua guitarra.

Cria de Santa Maria, Gustavo já dava aulas de violão desde os 14 anos de idade. A decisão de estudar música na UFSM quase foi atrapalhada, no momento do vestibular, por uma idéia de seguir a carreia de dentis-ta. Para o bem da música mundial, ele fez a escolha certa.

Hoje, Gustavo leciona na Cambridge School of Weston, nos Estados Unidos, e acumula inúmeras parcerias com virtuosos músicos do jazz, o que reforça seu respal-do em terras estrangeiras. Trilhas sonoras de filmes e clínicas de guitarra por toda a América incrementam seu currículo. De quebra, ele tem dois livros de teoria musi-cal, editados em mais de 20 países. Mesmo com todo esse destaque, o músico ressalta com humildade que o aprendizado e a vi-vência que teve na UFSM, durante os anos 90, ainda se refletem na sua produção.

Ao contrário das ciências exatas, o de-senvolvimento acadêmico das Belas Artes se revela através do contato humano e das expressões que embalam alma. Fazendo-se valer das sete notas musicais, os músicos formados na UFSM preocupam-se em le-var cultura – e teoria musical – de Santa Maria mundo afora. .txt

“A qualidade do ensino da UFSM é excepcional. Qualquer estudante, vindo de todas as partes do mun-do, chega em Santa Maria e pode ter um estudo de primeira linha.”Gustavo Assis Brasil

"Na universidade, vão se abrindo caminhos e luzes que sozinho eu não teria

nem como tomar iniciativa."Luiz Carlos Borges

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de fora para dentro .txt

17.txt Outubro de 2010

Mudanças sempre foram comuns na vida da família Silva Costa. O trabalho de Daniel Silva Costa,

36 anos, sargento da Base Aérea de Santa Maria, fez com que morassem em diferen-tes lugares do país. Foi em uma dessas mu-danças, em 2008, que Arthur, o filho mais novo do casal Daniel e Ana Paula Silva Costa, 30, começou a evidenciar compor-tamentos totalmente inesperados. Crises de choro, apego inadequado a objetos e uma forte tendência ao isolamento passa-ram a fazer parte do dia a dia de Arthur, então com dois anos.

Diante dessas atitudes do menino, a família voltou para sua cidade de origem, Santa Maria, para procurar ajuda médica especializada e ficar próxima dos demais familiares. Eles já desconfiavam do diag-nóstico. E a confirmação veio em junho de 2008. Arthur tem Autismo e o desafio, en-tão, era descobrir como lidar com isso. O Autismo é um transtorno global do desen-volvimento e ainda não tem cura. É uma patologia caracterizada pelo comprometi-mento grave em diversas áreas do desen-volvimento humano, como a comunicação, a socialização e a imaginação.

O sentimento que prevaleceu na família Silva Costa foi o empenho em buscar trata-mentos que pudessem oferecer ao menino uma possibilidade de melhora. A família saiu em busca de mais informações sobre o autismo e, durante sua pesquisa, conheceu um tratamento alternativo do distúrbio: o programa Son-rise. Depois de participar de workshops sobre o assunto e conhecer as possibilidades de melhoras experenciadas pelas outras famílias participantes, o casal tomou uma importante decisão: a implan-tação do programa Son-rise dentro de sua casa.

O Son-rise consiste em um programa familiar baseado em metas que buscam es-timular as capacidades da criança através do lúdico, sem o uso de medicação. Uma

profissional, chamada de facilitadora, apli-ca o método num playroom. Esse espaço é um quarto branco ou de cores neutras, com equipamentos específicos para a realização das atividades, como brinquedos, espelho, prateleiras e um piso especial para evitar fortes impactos.

No ano passado, Daniel inscreveu-se no vestibular para o Curso de Educação Especial da UFSM, com o objetivo de aprender um pouco mais sobre a situação que enfrentava e buscar apoio para o pro-grama que já desenvolvia dentro de casa. Foi então que conheceu o professor dou-tor, Carlos Schimidt, especialista em Autis-mo. Juntos viram a possibilidade de utilizar a experiência do tratamento de Arthur para trabalhar o Autismo dentro do Centro de Educação (CE) e, com isso, estender os be-nefícios do tratamento a outras famílias.

Este ano, o programa Son-rise transfor-mou-se em um projeto vinculado à Univer-sidade. Desde março, todas as manhãs, uma facilitadora, aluna do Curso de Educação Especial, desenvolve atividades com Arthur

n o p l a y r o o m

enquanto tudo é monitorado pelos pais atra-

vés de câmeras. As imagens servem, ao mesmo tempo, para o treinamento das alunas de Educação Especial, para o con-trole dos progressos de Arthur e para o embasamento teórico da pesquisa acadê-mica.

O PRESEENTE DE ARTHUR - Ar-thur hoje tem quatro anos. Desde que iniciou o tratamento com o Son-rise, ele vem apresentando melhoras significati-vas. Cada pequeno progresso é, então, comemorado com muito entusiasmo por seus pais e por sua irmã Caroline, 11 anos. Eles sabem que cada evolução do menino representa uma grande vitória para toda a família. Mais do que isso, representa uma esperança para as outras famílias e crian-ças que enfrentam a mesma situação de Arthur. .txt

Estimular para desenvolverCamila Marchesan, Fernanda Arispe e Julia do Carmo

Em parceria com a UFSM, família faz tratamento alternativo para Autismo

Família de arthur comemora avanços no tratamento do autismo

Foto: Arquivo Pessoal

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18 .txt Outubro de 2010

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Soldati, 47, que integram a equipe dos vi-gilantes terceirizados há cerca de um ano, não têm toda a experiência de Moreira, mas têm em comum um perceptível senti-mento de responsabilidade pela integrida-de e segurança dos estudantes.

Dos quase 200 profissionais responsá-veis por zelar pelos estudantes em todos os campi da UFSM apenas quatro são mu-

lheres. Maria, que é uma delas, trabalhou durante um ano na recepção do Centro de Ciências Naturais e Exatas (CCNE) até re-ceber a oportunidade de fazer parte desta seleta equipe. E diz adorar seu trabalho. O sonho de ser policial foi levado pelo passar dos anos e a vontade de policiar transfor-mou-se na missão que cumpre agora com prazer: primar pela qualidade de vida dos estudantes que enfrentam os desafios da academia e da distância de suas casas e famílias.

Maria e Valente trabalham, atualmen-te, no posto de vigilância criado na Casa do Estudante, a CEU II, e dizem que o trabalho exige paciência e boa vontade. Paciência para lidar com as dificuldades que os jovens recém-saídos de suas casas têm em aceitar que mesmo longe de seus pais existem regras, e mais ainda: alguém sempre vai os vigiar para que essas regras sejam cumpridas. Boa vontade para enten-der que muitas das discórdias entre segu-ranças e alunos são fruto de uma rebeldia típica dos jovens. Mas que muitas delas vêm, sim, questionar um sistema viciado que impõe regras desconsiderando, mui-tas vezes, as necessidades e as característi-cas de cada geração de alunos.

Ao dizer “sabemos que nosso traba-lho é importante e também que sem os estudantes a Universidade não existiria”, Moreira demonstrou a consciência que os vigilantes têm de que seu trabalho é fun-damental para a manutenção da ordem e que sem funcionários, visitantes ou alunos a UFSM não existiria.

Além disso, independentemente das dificuldades encontradas para realizar suas funções a paixão pela profissão e a seriedade com que os vigilantes tratam seu trabalho salta aos olhos de quem deles necessita..txt

Em meados dos anos 70, o convi-te para entrar em um opala preto assustava qualquer pessoa. Se ele

fosse dirigido a um jornalista por um fun-cionário do governo então, significava que o passeio não deveria ser nada agradável. Mas foi nessa situação que Romeu Lemes Osório (foto), chefe do setor de vigilância da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) levou nossa equipe até Renato Moreira, 44 anos, 17 deles trabalhados como vigilante concursado da UFSM. Em seu posto de trabalho, na entrada da zona rural da Universidade, Moreira, como é chamado pelos colegas, contou sua roti-na de trabalho e os desafios daqueles que optam por ter como objetivo profissional o zelo pelos dois grandes patrimônios da UFSM: o espaço físico e os estudantes.

Na Universidade, cerca de 200 pessoas compõem a equipe responsável pela segu-rança dos alunos e do patrimônio. Menos de um quarto desta equipe é composta por funcionários concursados, pois cerca de 150 são contratados por uma empresa ter-ceirizada. Moreira que já passou por todos os postos de vigilância existentes na Uni-versidade cumpria suas 12 horas diárias de trabalho no tranqüilo posto da horta no dia em que o entrevistamos.

Já Éverton Valente, 31 anos, e Maria

O dia-a-dia dos profissionais que prezam pela ordem e segurança no campus

Vida de vigia

Camila Marchesan, Fernanda Arispe e Julia do Carmo

Cerca de 200 pessoas compõem a equipe responsável

pela segurança dos alunos e do

patrimônio

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.txt Outubro de 2010 19

o arco da velha

Camila MarchesanFernanda ArispeJulia do Carmo

Dando continuidade à seção em homenagem aos 50 anos da Universidade, o arco da velha desta edição traz fotos históricas do Colégio Politécnico da UFSM.

Início da década de 1970

Área Nova da Universidade Federal de Santa Maria. A Área

Nova localiza-se na porção oeste do campus e é dividida entre o

Curso de Zootecnia e o Colégio Politécnico da UFSM. A área é

utilizada para criação de animais, pastagens e plantações.

Meados da década de 1980

Aula prática de Silvicultura. Setor de Silvicultura do Colégio

Politécnico da UFSM. A disciplina faz parte do currículo do curso

técnico em Agropecuária, criado em 1963.

Início da década de 1970

Área Nova da UFSM. Aula prática de Topografia, do curso técnico em Agropecuária. Na época da foto, o Colégio Politécnico chamava-se Escola Agrotécnica e só oferecia o curso de Agropecuária. Os outros cursos surgiram na década de 1990.

Fotos: Arquivo histórico do Colégio Politécnico

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20 .txt Outubro de 2010

culturaParceiros de lida

DTG Noel Guarany aproxima o tradicionalismo gaúcho da rotina universitária

Gabriela Moraes e Janine Appel

Para a UFSM, o DTG Noel Guarany é um projeto de extensão do Centro de Ciências Rurais (CCR), mas, para o

Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), é uma entidade estudantil plena. Já para quem participa do grupo, ele é muito mais que o espaço ocupado numa das salas do CCR: é o resultado do esforço coletivo para fazer com que conhecimento e tradição gaúcha dêem as mãos.

No início, era para ser um lugar onde a gurizada das Ciências Rurais pudesse matar a saudade da vida na cidade pequena de onde tantos tinham saído para vir estudar na Universidade Federal de Santa Maria. Era para ser um lugarzito no campus acadêmico que tivesse jeito de campo gaúcho, onde os guris pudessem se arranchar entre uma aula e outra e tomar uns mates, contar uns causos, tocar um violão e cantar umas modas missioneiras. Era para ser um pouquinho do CTG que ficara num pago distante desta querência adotiva, onde muitos tinham aprendido desde cedo a amar a tradição do Rio Grande. Em 2005, era para ser um DTG pequenininho, “coisa pouca”, como diria o gaúcho. Em 2010, o “Noel Guarany” é o DTG da UFSM. É o tradicionalismo gaúcho consolidando seu espaço no universo formal da universidade. É a academia participando da mesma roda de mate que a comunidade tradicionalista muito além dos limites do arco. E isso não é “pouca coisa”.

Desde seu nascimento até hoje, véspera de completar o quinto aniversário em novembro, o departamento ainda não possui sede própria que lembre uma estância de campanha ou se compare às estruturas físicas dos CTG’s freqüentados nos tempos de piá. A gurizada, volta e meia, se reúne numa sala perto da biblioteca do CCR. Por lá se encontra o mate, símbolo da hospitalidade gaúcha, desde a porta. É que o símbolo no Noel, esculpido em madeira e pendurado na porta, é o desenho de um livro aberto que faz o contorno do topete do chimarrão. Aliás, ele representa muito bem o significado da presença de um DTG no ambiente estudantil, como sugere o lema da entidade: “Conhecimento e Tradição unidos pelo mesmo ideal”.

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21.txt Outubro de 2010

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ivulgação

Conhecimento e tradição

Te aprochega,vivente!

Conheça mais sobrea tradição gaúcha!

● MTG: federação das entidades tradicionalistas do Rio Grande do Sul. Possui mais de 1500 filiados, entre CTG’s, DTG’s e afins.

● Centro de Tradições Gaúchas (CTG): entidade tradicionalista por excelência cujo objetivo é preservar a tradição gaúcha.

● Departamento de Tradições Gaúchas (DTG): entidade tradicionalista vinculada a outras instituições como escolas, clubes ou universidades.

● Região Tradicionalista (RT): órgão do MTG que reúne entidades e municípios geograficamente próximos. O Rio Grande do Sul está dividido em 30 RT’s. Santa Maria pertence à 13ª RT.

● Encontro de Arte e Tradição Gaúcha (ENART): festival amador promovido pelo MTG. São 23 modalidades artísticas disputadas em classificatórias regionais e interregionais até a etapa final.

● Como a entidade tradicionalista é uma estância simbólica, a nomenclatura dos cargos da diretoria, chamada de Patronagem, é inspirada na linguagem campeira.

Patrão: equivale ao Presidente do clube.

Capataz: equivale ao vice-presidente.

● Causos: relatos fantasiosos que exploram aspectos do cotidiano gaúcho.

● Pago: terra-natal.

● Querência: lugar onde se mora.

● Topete: elevação de erva-mate que repousa sobre uma lateral da cuia.

DTG Noel Guarany classificado para a fase final do ENART 2010

Fomos à busca dos integrantes do DTG em plena Semana Farroupilha. Chegamos ao prédio 44, onde fica a tal salinha, e encontramos apenas uma moça, que embora não estivesse usando vestido de rendas e flor no cabelo, era uma das prendas do Noel.

Perguntamos pelos responsáveis e a resposta revelou como funcionavam as coisas por ali: estavam todos trabalhando muito, patronagem e grupo de danças, pois tinham que preparar o almoço campeiro servido no Centro de Eventos no outro dia.

Ainda havia os demais compromissos assumidos para a semana, como palestras culturais e apresentações artísticas em escolas da cidade. Somava-se à agenda a guarda da Chama Crioula na Casa do Gaúcho, sede da 13ª Região Tradicionalista do MTG, à qual o DTG é filiado. Além, é claro, do desfile do dia 20, em que eles tinham de fazer bonito, pois ano passado foram um dos premiados. Tudo isso acontecia entre as atividades de mais uma semana normal no calendário universitário.

Conversamos com a patronagem do DTG, composta apenas de estudantes, durante o almoço do dia 17 de setembro. Enquanto o patrão, auxiliado por um grupo de prendas, trabalhava no preparo do arroz-de-carreteiro, prato típico da culinária gaúcha, estendeu-se a nossa prosa com o seu “braço direito”. Segundo Tainá Valenzuela, acadêmica de História e capataz do departamento, a entidade é uma alternativa mais barata e viável em termos de tempo e deslocamento em Santa Maria,

sobretudo porque não é fácil conciliar compromissos acadêmicos com atividades tradicionalistas. Por isso, o DTG precisa da colaboração de muitos para funcionar: “As mãos que assinam as atas são as mesmas que preparam o almoço e servem”, afirma orgulhosa a estudante que conheceu o Noel por meio de um panfleto entregue durante a confirmação da vaga e que ajuda a tomar as rédeas da entidade.

O grupo de trabalho é composto por, no máximo, 30 pessoas. Elas desenvolvem projetos culturais em escolas, além de atividades campeiras e artísticas. Sobre essas, aliás, a expectativa é grande: o grupo de Danças Tradicionais foi classificado para a final do ENART 2010. O evento, promovido pelo MTG, é a mais importante vitrine da arte amadora tradicionalista no Rio Grande do Sul. O DTG também está participando com declamadores, cantores e bailarinos de danças de salão.

Em pouco tempo, o DTG que era inicialmente desacreditado por ser uma entidade gerida por estudantes tão jovens, conquistou o respeito da comunidade da UFSM e a admiração dos tradicionalistas por aí afora. O que essa eles têm feito para merecer cada vez mais espaço e reconhecimento? A frase que eles postaram na página do DTG no Orkut – onde também fincaram bandeira – responde: “A diferença é que a gente sonha e luta. SEMPRE”. O valor do trabalho em equipe, eles provavelmente aprenderam desde piás, como manda a tradição. E agora reforçam a lição com o conhecimento adquirido na sede do saber, onde o tradicionalismo também faz morada pelas suas mãos. .txt

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Cauã maquia-se no banheiro. Juliet passa o texto. Aline concentra-se. Luiza tenta relaxar. Deivid está

atrasado. Felipe confere os últimos deta-lhes. Giro, Dilma, Célia, Leninha e Oswal-do preparam-se para entrar em cena.

Sambas antigos embalavam aquelas três moças que desfilavam boêmias entre as mesas do Bar Macondo Lugar naque-la noite. Com um cigarro na mão e cheias de más intenções, o trio aproveitava-se do colo dos cavalheiros e causava burburinho entre as mulheres. De longe, um homem de sobrancelhas arqueadas e olhar atento as observava, juntamente com seu capanga. O ar começava a ficar denso. O Abajur Lilás entrava em cena.

Três prostitutas - Dilma, Célia e Le-ninha – são submetidas à opressão, hu-milhação e tortura do homossexual Giro, o inescrupuloso e explorador dono do prostíbulo, e de seu violento e enigmático serviçal, Oswaldo. É a vida valendo menos que um abajur lilás. O Abajur Lilás, apesar de ter sido escrita há mais de 40 anos pelo dramaturgo Plínio Marcos, é uma peça impressionantemente atual. Aliás, foi esse espetáculo que deu forma ao grupo Teatro Por Que Não? e garantiu que ele ganhasse os palcos.

Entrelaçando interesses, conversas, tra-balhos e experiências, Aline Ribeiro, André Galarça, Cauã Kubaski, Deivid Gomes, Fe-lipe Martinez, Juliet Castaldello, Luiza de Rossi e Rafaela Costa, todos acadêmicos do Curso de Artes Cênicas da Universida-de Federal de Santa Maria (UFSM), uni-ram-se para comungar com o público um sentimento comum: a paixão pelo teatro.

O Teatro Por Que Não? formou-se nos corredores do Centro de Artes e Letras (CAL) da UFSM, ganhou corpo no início desse ano e conquista cada vez mais espaço na cena cultural santa-mariense. “Quan-do o grupo se formou, eu vi que era mui-to sólido o trabalho. Trabalhamos muito duro pelo que queremos. Somos um grupo unido, porque um grupo de uma pessoa só não é um grupo”, conta André Galarça. A união entre os integrantes, combinada com o profissionalismo, fez com que o grupo de jovens artistas alçasse vôos mais altos e colhesse os frutos de sua incansável dedi-cação ao teatro.

Mesmo assim, o caminho para manter um grupo de teatro independente não é fácil. Foi preciso suar muito a camiseta e correr atrás das oportunidades. Junto com outros grupos de teatro independente de Santa Maria e com o Macondo Coletivo,

Teatro, por que não?

A cena cultural independente de Santa Maria ganha vida através do sonho de oito jovens estudantes da UFSM

Kamila Baidek e Marlon Dias

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formaram o Palco Fora do Eixo, uma ini-ciativa que promove, incentiva e difunde a cultura teatral em âmbito nacional. Gra-ças a essas parcerias, o grupo conseguiu fazer apresentações em locais alternativos da cidade, como na Praça Saldanha Mari-nho, na Gare da Estação Férrea e nos ba-res São Francisco e Macondo Lugar. Outra iniciativa foi participar do Teatro Fora do Eixo, projeto orientado pelo professor e coordenador do Curso de Artes Cênicas da UFSM, Pablo Canalles, com o intuito de levar os espetáculos produzidos dentro da sala de aula para outros espaços, a fim de que eles não ficassem restritos apenas ao Caixa Preta. As cortinas já estavam se abrindo.

Em março, a trupe fez sua primeira en-cenação fora de palcos santa-marienses. Em Vale do Sol, o grupo participou de 27 horas ininterruptas de teatro e apresentou as peças Fim de Partida e O Abajur Lilás. No início de julho, fizeram as malas e par-tiram para Rosário do Sul, onde apresen-taram O Abajur Lilás na Sessão Maldita do Rosário em Cena. No dia seguinte, já es-tavam na estrada rumo ao estado de Santa Catarina. Lá, participaram do 23º Festival Internacional de Teatro Universitário de Blumenau com a mesma peça que foi su-cesso de crítica. Na bagagem, vieram dois prêmios: melhor atriz para Aline Ribeiro e melhor direção para Felipe Martinez. Mas, mais do que os dois prêmios, o intercâm-bio com os outros grupos e a experiência adquirida amadureceu e fortaleceu o grupo para galgar passos mais largos. Em outubro,

o Teatro Por Que Não? mostrará toda sua competência em terras paulistas com uma temporada de sete dias de apresentações pelo projeto VEM (Valor, Ética e Moral), no Teatro Paulo Autran da Faculdade Ítalo-Brasileira.

São grupos de teatro universitário como esse que fazem com que se enxergue o teatro de outra forma. Eles mostram que não basta apenas assistir a um espetáculo. É preciso senti-lo. Sentir com todos os poros. Identificar-se. Ser um pouco Dilma, Célia

e Leninha e ter uma vida que vale menos que um abajur lilás. É preciso viver cada peça, sorvendo cada mínimo detalhe quase imperceptível. É urgente valorizar o traba-lho desses meros mortais que transbordam arte e reconhecer que sem cultura não exis-te progresso. É necessário enxergar os ta-lentos pelos corredores das nossas univer-sidades, em nossas cidades, em nosso país. Vamos abrir as cortinas para grupos de te-atro universitário. É hora de se perguntar: teatro, por que não? .txt

Foto: Lucas BaischFoto: G

abriela Moraes

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O sorriso insiste em aparecer. Sol-to e cativante, tenta concorrer com as piscadas rápidas e ritma-

das dos olhos que brilham. Tão brilhantes como a ideia que motivou mudanças sig-nificativas na vida de um menino de São Pedro do Sul. As dificuldades que viriam – e não seriam poucas – foram motivações para seguir em frente e alcançar, um por um, os sonhos. Estudar e alcançar o ensi-no superior eram os objetivos iniciais do jovem que deixou sua cidade e a casa de seus pais para tentar mudar seu destino. Na insistência, conseguiu não só graduar-se como também retornar à Universidade Fe-deral de Santa Maria como docente. Mas esse é o final desta história...

O ano era 1973, e Jorge Abel Flores, hoje professor do curso de Odontologia da UFSM, é aprovado em Engenharia Flores-tal. Contudo, com um ano de curso, ele viu seus planos como engenheiro tombarem como árvores. Não era aquele o curso de-sejado, não era assim que ele queria ver-se no futuro. Então, em 1974, fez novamen-te o vestibular, e a aprovação veio. Jorge Abel tornou-se o mais novo acadêmico de Odontologia da UFSM. “Quando passei para a Odonto, meu pai ficou apavorado, pois havia um parente nosso que havia co-mentado que o curso era muito caro, mas eu sempre respondia que daria um jeito”, relembra Flores.

Foram várias as maneiras para con-tornar os elevados custos dos materiais, a falta de dinheiro e outras dificuldades que surgiam. Para participar das aulas práticas, ele conseguia os instrumentos empresta-dos com um colega. “Eu passava na casa do meu colega, pegava o instrumental, vinha para a Universidade, usava e esterilizava tudo, devolvia e então ia para casa”, conta

Jorge Abel. A casa citada era de seu tio, que morava próximo ao Km 2, zona norte de Santa Maria. De lá, ele ia para o campus e retornava sempre para almoçar, pois não tinha como pagar o almoço no Restauran-te Universitário (RU). Das festas da turma, Jorge Abel nunca deixou de participar. Ele era responsável por reunir todo o dinhei-ro e, por isso, a turma rateava a parte dele. “Até no álbum de formatura eu apareço co-brando do pessoal”, lembra contando que apenas conseguiu comprar o álbum após um ano de formado.

Com a formatura, em 1978, veio o de-safio da colocação profissional. Durante a graduação, conta que um professor sempre prometia ajudá-lo. E assim o fez. Um irmão desse professor era dentista no Paraná e precisava de ajuda. Jorge Abel foi para lá. Iniciou como funcionário e conquistou aos poucos seu espaço. Através de um financia-mento, comprou seu primeiro consultório e instalou-se na cidade. Casou, teve filhos, mas acalentava um novo sonho: ser profes-sor universitário.

Após dez anos da graduação, Jorge Abel entra na pós-graduação da Univer-sidade Federal de Pelotas (UFPel) e vive nos primeiros meses com as parcelas do consultório vendido no Paraná. Depois, veio a aprovação para docente na UFPel, e no início da década de 1990, a aprovação em Santa Maria. Após um ano de docência na UFSM, veio o Doutorado, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). O orgulho mistura-se com a humildade característica de Jorge Abel. Para ele, ter superado todos os obstáculos que surgiram em sua formação acadêmica parece, às vezes, um sonho. “Eu sou apai-xonado pelo que eu faço, dou aula por vo-cação e adoro estar com os alunos”, afirma. Aquele jovem que ousou sonhar grande, chegou além de suas maiores expectativas. Coordenou o curso de Odontologia por cinco anos, e hoje é professor na área que escolheu desde o segundo ano de curso – a Cirurgia Bucomaxilofacial.

O sonho, quase teimosia, quebrou a regra que o pai costumava acreditar. “Não me envergonho em dizer que meu pai fa-lava que filho de pobre não precisava es-tudar, e eu dizia que iria fazer faculdade, mesmo que morasse embaixo da ponte”, finaliza. .txt

Exceção à regra

Manuela Ilha e Nadia Garlet