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    Instituto Politcnico de Viseu

    Escola Superior de Educao de Viseu

    Projeto de Desenvolvimento Comunitrio

    Maceira uma Aldeia Cultural

    - MESTRADO DE ANIMAO ARTSTICA -

    Elsa Fortunato Cardoso Fulgncio

    Viseu, 2012

  • Projeto de Desenvolvimento Comunitrio

    Maceira uma Aldeia Cultural

    Dissertao apresentada para obteno do Grau

    de Mestre no Curso de Mestrado em Animao

    Artstica pela Escola Superior de Educao de

    Viseu

    Orientador: Doutor Lus Sousa

    Elsa Fortunato Cardoso Fulgncio

    Viseu, 2012

  • O Projeto, no uma simples representao do futuro, mas um futuro para fazer, um

    futuro a construir, uma ideia a transformar em ato.

    Jean Marie Barbier

  • Dedicatria

    Dedico este trabalho a algum muito especial que me faz

    acordar todos os dias e sentir que estou viva e pronta para

    enfrentar mais uma batalha..

    Minha filha Raquel.amo-te muito

    Dedico tambm minha famlia que me est no corao

    diariamente.

    Dedico finalmente aos meus amigos que me ajudam a ser quem

    sou!

    Obrigada!

  • Agradecimentos

    Como todos ns sabemos sempre ingrata a tarefa de um agradecimento,

    principalmente quando se sente que esta corre o risco de ter muitas omisses.

    No entanto quero deixar aqui o meu reconhecimento a todas as pessoas e

    entidades pelo auxlio, compreenso e considerao que me dispensaram ao longo de

    todo este percurso do Mestrado em Animao Artstica, cuja ltima etapa foi a

    elaborao deste projeto.

    Desejo expressar, em primeiro lugar, os meus agradecimentos ao Professor

    Jorge Fraga, Coordenador do Curso e ao Professor Lus Sousa, orientador do projeto,

    no s pelo interesse, compreenso e total disponibilidade demonstrada nas etapas

    percorridas na elaborao deste projeto, mas tambm pela sua exigncia e rigor. As

    suas palavras foram encorajadoras neste percurso, revelando-se fundamentais para

    atingir os objetivos.

    Um sentido obrigado aos colegas do Curso de Mestrado de Animao Artstica

    pela sua amizade, apoio e partilha de conhecimentos.

    Aos amigos sempre presentes em todos os momentos, Ana Pinto e Lus Filipe,

    pelas suas sugestes apresentadas, bem como o apoio, fora e coragem que sempre

    me manifestaram.

    Por ltimo, um agradecimento muito especial ao meu marido, Jos Rodrigues,

    e minha filha Raquel, pela sua compreenso e carinho incondicional que sempre me

    deram fora para trilhar esta caminho. O seu estmulo, apoio e pacincia revelaram-se

    importantes para superar esta prova.

  • Resumo

    Maceira, considerada por muitos uma das mais lindas aldeias do concelho. SantAnna Dionsio anotou no guia de Portugal: Maceira, aldeia tranquila de altitude (700m), rodeada de terrenos frteis, com muita gua de rega e bons ares. A paisagem campesina que envolve a pequena aldeia respira to ntima doura que mesmo sem querer se lembrar Bernardim (Dicionrio Enciclopdico das Freguesias, 1997, p.278).

    No entanto, um exemplo vivo do fenmeno que a desertificao. Possuidora de um riqussimo patrimnio quer natural, quer construdo, sem esquecer todo o seu patrimnio imaterial, pelo que rene as condies essenciais para dinamizar um projeto de carcter social, cultural, de desenvolvimento e educativo.

    Uma vez que a descoberta faz parte do passeio e caminhar um meio de descobrir uma regio, a implementao de itinerrios tursticos neste territrio rural, contemplando atividades ldico-pedaggicas e ambientais so uma mais valia para a sua dinamizao, promoo e valorizao, aliado sua preservao, respeito e transmisso dos valores incutidos na cultura deste territrio.

    Abstract

    Maceira, is considered by many one of the prettiest villages in the country. Sant'Anna Dionysius noted in the "Guide of Portugal:" Maceira, a quiet village, at an altitude of 700m, surrounded by fertile land, with plenty of water for irrigation and good air. The landscape that surrounds the small peasant village breathes so intimate sweetness that even accidentally will Bernardim remember "(Encyclopedic Dictionary of the Parishes, 1997, p.278).

    However, a living example of the phenomenon that is desertification. Possessing a rich heritage whether natural or constructed, without forgetting all their intangible heritage by bringing together the essential conditions for a project to boost social, cultural, and educational development.

    Once that the discovery is part of the walk and walking is a way to discover a region, the implementation of tourist routes in this rural area, including recreational activities and environmental-education, is an added value for its dynamism, promotion and enrichment, combined with the its preservation, respect and transmission of the instilling values in the culture of this territory.

    Palavras-chaves: Comunidade, desenvolvimento endgeno, animao, percursos

    Keywords: Community, endogenous development entertainment, pathways

  • NDICE

    Agradecimentos __________________________________________________________ 5

    Resumo ________________________________________________________________ 6

    Abstract ________________________________________________________________ 6

    ndice __________________________________________________________________ 7

    ndice de Figuras _________________________________________________________ 9

    ndice de Grficos ________________________________________________________ 9

    ndice de Quadros ________________________________________________________ 9

    Tabela de Siglas ________________________________________________________ 10

    INTRODUO __________________________________________________________ 11

    CAPITULO I APRESENTAO E JUSTIFICAO DO ESTUDO ________________ 14

    I.1 - A problemtica do Estudo ___________________________________________ 14

    I.2 Objeto de Estudo __________________________________________________ 16

    I.2.1 Objetivo Geral: __________________________________________________ 17

    I.2.2 Objetivos Especficos: ____________________________________________ 17

    I.3 - Metodologia ______________________________________________________ 20

    I.4 - Destinatrios _____________________________________________________ 23

    I.4.1 - O Papel dos seniores no meio rural ________________________________ 24

    I.4.2 - O papel dos jovens no meio rural __________________________________ 26

    CAPTULO II ENQUADRAMENTO TERICO CONCEPTUAL __________________ 28

    II.1 Comunidade _____________________________________________________ 28

    II.2 Desenvolvimento Local / Comunitrio _________________________________ 30

    II.3 Cultura, Identidade e Memria _______________________________________ 32

    II.3.1 - Cultura ______________________________________________________ 32

    II.3.2 - Identidade ____________________________________________________ 33

    II.3.3 - Memnia _____________________________________________________ 35

    II.4 Patrimnio, territrios rurais e turismo _________________________________ 36

    II.4.1 Patrimnio e territrios rurais _____________________________________ 36

    II.4.2 Patrimnio Cultural ____________________________________________ 38

    II.4.3 O patrimnio ao servio do turismo ________________________________ 40

    II.5 - Animao Artstica como Instrumento Mobilizador ________________________ 42

    II.6 - O papel do animador artstico enquanto agente promotor de desenvolvimento

    comunitrio __________________________________________________________ 45

    II.7 - A Animao Artstica no contexto das aldeias culturais ____________________ 46

  • II.8 - Os processos artsticos e a qualidade de vida da populao ________________ 48

    CAPTULO III. - CARACTERIZAO DA ALDEIA DE MACEIRA __________________ 49

    III.1 Enquadramento __________________________________________________ 49

    III.1.1 - Caracterizao Fsica __________________________________________ 51

    III.1.2 - Caracterizao Scio-Econmica _________________________________ 53

    III.1.3 - Demografia __________________________________________________ 55

    III.1.4 - Caracterizao da estrutura urbanstica ____________________________ 60

    III.1.5 Principais traos culturais _______________________________________ 61

    III.1.5.1 Artesanato _________________________________________________ 61

    III.1.5.2 Gastronomia _______________________________________________ 62

    III.1.5.3 Tradies __________________________________________________ 62

    III.1.6 Recursos Patrimoniais da freguesia de Maceira _____________________ 67

    III.2 Anlise SWOT ___________________________________________________ 74

    CAPTULO IV. PROJECTO DE INTERVENO NA FREGUESIA DE MACEIRA ___ 76

    IV.1 - Apresentao ____________________________________________________ 77

    IV.2 - Estratgias ______________________________________________________ 78

    IV.3 - Diagnstico _____________________________________________________ 80

    IV.4 - Implementao de itinerrios em Maceira _______________________________ 82

    IV.4.1 - Itinerrios Culturais e Ambientais _________________________________ 84

    IV.4.1.1 - Itinerrio Cultural ______________________________________________ 85

    IV.4.1.2 - Itinerrio Ambiental ____________________________________________ 91

    IV 2 Impactos da implementao do projeto _________________________________ 92

    CONCLUSES _________________________________________________________ 93

    BIBLIOGRAFIA _________________________________________________________ 97

    ANEXOS _____________________________________________________________ 105

  • ndice de Figuras

    Figura 1 - Plano de Investigao Metodolgica ...........................................................23

    Figura 2 - Interao nos itinerrios ..............................................................................85

    Figura 3 - Itinerrio Cultural .........................................................................................86

    Figura 4 - Itinerrio Ambiental .....................................................................................92

    ndice de Grficos

    Grfico N 1 - Grfico da Evoluo da populao entre 1940 e 2011 ..........................57

    Grfico N 2 - Grfico da Populao residente (2011) por escalo etrio ....................58

    ndice de Quadros

    Quadro 1 - Anlise Swot do territrio de Maceira ........................................................74

    Quadro 2 - Fases de elaborao do Projeto ................................................................79

    Quadro 3 Workshops a implementar ........................................................................87

    Quadro 4 Encontro Inter-geracional e Lanche - convvio ..........................................90

    Quadro 5 Jogos tradicionais .....................................................................................90

    Quadro 6 - Impactos do projeto na aldeia de Maceira .................................................93

  • Tabela de Siglas

    ADL Associaes se Desenvolvimento Local

    BTT Bicicleta Todo-o-Terreno

    CCDRC Comisso de Coordenao e Desenvolvimento Regional do Centro

    EM Estrada Municipal

    EN Estrada Nacional

    GAL Grupos de Ao Local

    ICOMOS International Council on Monuments and Sites

    IGESPAR Instituto de Gesto do Patrimnio Arquitetnico e Arqueolgico

    INE Instituto Nacional de Estatstica

    PACTA Associao Portuguesa de Empresas de Animao Cultural e Turismo

    de Natureza e Aventura.

    PDM Plano Diretor Municipal

    PRODER Programa de Desenvolvimento Rural

    TER Turismo em Espao Rural

    UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization

    UNIDROIT Instituto Internacional para a Unificao do Direito Privado

  • 11

    INTRODUO

    A maioria das caractersticas que nos identificam, enquanto elementos

    pertencentes a um determinado grupo social e a um local especfico, sedimentado

    atravs dos tempos e transmitido por outros indivduos j pertencentes a esse local, ou

    seja, os nossos antepassados.

    dessa comunidade que recebemos grande parte dos testemunhos materiais

    e as memrias intangveis ou imateriais. Esses testemunhos fazem parte da herana

    patrimonial, dado especial destaque herana cultural e histrica, uma vez que se

    trata de territrio rural com caractersticas sui generis, na medida em que vivemos

    numa sociedade cada vez mais envelhecida, onde os territrios rurais se encontram

    cada vez mais desertificados.

    As transformaes que atingiram Portugal nos ltimos anos, modificaram a

    paisagem rural portuguesa. Mudanas essas de ordem espacial e demogrfica, que se

    traduzem pelo fenmeno crescente de litorizao, de progressivo envelhecimento e de

    desertificao, quer fsica, quer humana, sendo esta ltima a mais preocupante. De

    opinio idntica Gaudiano (2005) que considera, (...) os territrios rurais esto

    vinculados a imagens e modos de vida peculiares, confundem-se com sociedades

    marcadas por arcaismos, indissociveis de economias vulnerveis, merc do xodo

    e do despovoamento (Gaudiano, 2005, p. 54).

    Considerando o despovoamento um dos principais problemas com o qual se

    debate o mundo rural portugus, a procura de respostas aponta para uma maior

    diversificao e dinamizao de atividades no meio rural, de forma a limitar os efeitos

    perversos das transformaes sociais e a revitalizar, numa perspetiva de valorizao e

    preservao todo o patrimnio.

    De acordo com a definio da UNESCO (Organizao das Naes Unidas para

    a Educao, Cincia e Cultura, 1972) patrimnio uma legado cultural e natural que

    recebemos dos nossos antepassados, vivemo-lo no presente e transmitimo-lo s

    geraes futuras, e esta mesma organizao, na conveno do Patrimnio Mundial,

    Cultural e Natural (1972), classificou-o em patrimnio natural e cultural, sendo este

    ltimo subdividido em patrimnio tangvel (monumentos, artesanato, entre outros) e

    em patrimnio intangvel (tradies, usos e costumes), inerente a estes territrios.

    Maceira, considerada alto concelho e a povoao fica na encosta nascente

    com belas vistas para um vale e para a Serra da Estrela. Avista-se Celorico, Guarda,

    Seia e algumas terras do concelho de Trancoso, uma aldeia pertencente ao

  • 12

    concelho de Fornos de Algodres, da qual dista, aproximadamente 15Km, e que muito

    embora possua um riqussimo patrimnio quer natural, quer construdo, sem esquecer

    todo o patrimnio social do qual faz parte a sua populao, repleta de sabedorias e

    simultaneamente to frgil e humilde, tambm ela caracterizada pela baixa

    densidade populacional afeta aos territrios rurais.

    Como descreve Monsenhor Pinheiro Marques, no seu livro "Terras de

    Algodres"." uma das mais lindas aldeias do concelho de Fornos. Situada no alto da

    Serra que segue Infias, como esta e Algodres a uma altitude de 700 metros, num

    suave declive do monte que se quebra quase a um horizonte, com vistas sobre a

    cidade da guarda a nascente e a Serra da Estrela ao sul." (Marques, 2001, p. 302).

    De forma a atenuar o despovoamento desta aldeia e visto a Animao ter um

    papel fulcral no desenvolvimento destes territrios, j que se apresenta, segundo

    Ander-Egg (2001, p.19), () como uma tecnologia social, que se baseia numa

    pedagogia participativa e que tem como finalidade atuar em diferentes sentidos da

    qualidade de vida, mediante a participao das pessoas no seu prprio

    desenvolvimento sociocultural. E, visto o Animador ter um importante papel na criao

    de estratgias que permitam contribuir ativa e efetivamente, de forma a promover e

    desenvolver dinmicas nestes espaos vitais, com a finalidade destes permanecerem

    vivos e ativos. De encontro a isto, e tal como refere, Cubero (1991, p.35), () A

    terceira idade procura na atividade de animao poder sentir-se til, dar um novo

    sentido sua vida. O idoso necessita de participar, mover-se, atuar, sentir-se vivo.

    Por sua vez a Animao Artstica como metodologia de interveno atravs

    das artes, poder exercer um papel catalisador de sinergias, potencializadoras de

    transformao, quer a nvel pessoal como no meio social, o que certamente se refletir

    no desenvolvimento desta comunidade.

    A Animao Artstica foca-se na problemtica da interpenetrao entre os

    universos formais e informais de educao, de arte e de cultura, entendidos como

    espaos potenciais de criatividade e de desenvolvimento pessoal e comunitrio,

    particularmente atravs do contributo das linguagens e dos instrumentos da animao

    recreativa, cultural e artstica. Os conceitos centrais de comunidade e de animao,

    balizam a conceo, a implementao e a avaliao de projetos orientados para

    populaes e grupos, em funo de necessidades e de aspiraes devidamente

    contextualizadas e identificadas como objetivos e percursos de desenvolvimento.

    A arte simultaneamente manifestao de cultura e meio de conhecimento

    cultural. Cada cultura possui as suas expresses artsticas e as suas prticas culturais

  • 13

    especficas. A cultura, na sua diversidade, e os seus produtos criativos e artsticos,

    representam formas contemporneas e tradicionais de criatividade que contribuem de

    forma incomparvel para a nobreza, o patrimnio, a beleza e a integridade das

    civilizaes humana (Comisso Nacional da UNECO, 2006, p. 8).

    Pelo papel relevante que exerce na dinamizao pessoal e social, a Animao

    Artstica pode constituir um modelo do aumento da auto-estima individual e coletiva,

    pela valorizao de capacidades, contribuindo assim para a qualidade de vida, de

    forma a responder aos grandes desafios do mundo atual, nomeadamente, a

    construo de um futuro mais sustentvel.

    H quem afirme que a criatividade expressa atravs da cultura o recurso

    mais equitativamente distribudo no mundo (Comisso Nacional da UNESCO, 2006,

    p.16).

    De acordo Bernard K. (1994, p.45) As diferenas entre regies, localidades,

    aldeias, entre geraes e entre grupos sociais so sobretudo diferenas culturais. Em

    vez de procurar esquec-las, ou deix-las esquecer, no ser melhor procurar afirm-

    las e promov-las? preciso deixar de considerar o desenvolvimento cultural como

    um luxo suprfluo e reconhec-lo como um motor do desenvolvimento econmico e

    social leva-nos a reconhecer a cultura como uma alavanca para o desenvolvimento

    local.

    Neste sentido, implementar um projeto de Animao, designado Maceira- Uma

    Aldeia Cultural e desta forma, conceber dinmicas ldico-pedaggicas, integradas em

    dois itinerrios (cultural e ambiental) que visam envolver a populao autctone e os

    visitantes, entre eles, crianas e jovens estudantes em meios urbanos e desta forma,

    impulsionar atividades inter-geracionais, que possibilitem populao,

    fundamentalmente, idosa a transmisso das tradies rurais, da cultura sui generis

    desta comunidade, a estes jovens, que por sua vez podem contribuir, no s, para a

    alegria e vivacidade desta aldeia, mas tambm para a preservao e divulgao deste

    territrio.

    As prticas ldico-pedaggicas contempladas no presente projeto, visam

    desenvolver nos jovens, enquanto pessoas atuantes na sociedade e especialmente

    por serem os cidados do amanh, um conjunto de valores, atitudes e competncias

    para viverem em harmonia e solidariedade. De acordo com Carlise (1985), () O

    valor destas experincias normalmente avaliado atravs do conhecimento obtido por

    parte dos jovens, daquilo que os estudantes dizem, das perguntas que fazem, das

    discusses que iniciamisto , julgamos a qualidade da experincia atravs do

  • 14

    envolvimento dos jovens, da sua excitao ou prazer expresso pela curiosidade e da

    sua aplicao nas atividades presentes () (Carlise 1985, cit. por Almeida 1998, p.

    25).

    Cavaco (1995), salienta que, () aproveitar os espaos de liberdade

    diversificando e enriquecendo as situaes de aprendizagem alargando criativamente

    o espao escolar, implicando os alunos em projetos com sentido (Cavaco, 1995, p.

    127).

    O presente estudo organizado em quatro captulos distintos.

    O Captulo I, correspondente, na sua essncia, identificao da problemtica

    e objeto de estudo, para a implementao deste projeto, quais os objetivos que se

    pretendem alcanar com a implementao do mesmo, bem como definio dos

    destinatrios.

    O Captulo II um captulo onde efetuamos o enquadramento conceptual que

    circunscreve esta anlise onde sero abordados os conceitos utilizados ao longo do

    estudo.

    O Captulo III, caracteriza o territrio em anlise procedendo a uma

    apresentao da freguesia de Maceira de uma forma geral, onde exposto todo o

    potencial para a implementao de uma aldeia cultural visando contribuir para o

    desenvolvimento sustentvel.

    A ltima parte, correspondente ao Captulo IV, consiste na apresentao da

    proposta de interveno, onde so definidas vrias estratgias de ao que se

    pretendem implementar. Por ltimo, feita uma reflexo sobre a problemtica e

    definidas algumas linhas de orientao para trabalho futuro.

    CAPITULO I APRESENTAO E JUSTIFICAO DO ESTUDO

    I.1 - A problemtica do Estudo

    Em consequncia do fenmeno da desertificao e envelhecimento da

    populao existe o risco de desaparecerem algumas aldeias situadas no interior do

    Pas de Portugal. Exemplo vivo deste fenmeno contemporneo, diminuio da

    populao residente, a freguesia de Maceira, povoao do concelho de Fornos de

    Algodres. Porm esse facto no invalida que seja senhora de um riqussimo

    patrimnio cultural, variado e vasto, fruto do conhecimento tradicional acumulado pelos

  • 15

    habitantes, um verdadeiro Museu Cultural a Cu Aberto digno de ser transmitido s

    geraes vindouras.

    Apesar das muitas personalidades histricas e os acontecimentos marcantes

    que esto ligadas histria desta aldeia, que em muito contribuem para a riqueza

    patrimonial e cultural, ter que haver esforos no sentido de inverter esta tendncia,

    pelo que se torna necessrio e urgente a criao de mecanismos que no s atenuem

    como contrariem essa realidade, de forma a impedir esse problema e os demais que

    lhe esto subjacentes.

    neste contexto que o patrimnio fator primordial no desenvolvimento de

    projetos de mbito comunitrio e cultural, pois a cultura assume-se cada vez mais

    como uma forma de lazer, e nos dias de hoje assiste-se a uma conscincia mais

    generalizada da importncia da mesma como agente de desenvolvimento das

    sociedades.

    A cultura participa hoje, de forma decisiva, no desenvolvimento das

    sociedades. Ela responsvel pelo alargamento do espao de participao do

    indivduo, pelo fortalecimento da conscincia social, pela elevao da qualidade de

    vida, pelo progresso cientfico dos povos. (Figueiredo, 1997, p. 9)

    A cultura que constitui o presente que reflete o passado, e ao mesmo tempo

    um passado trazido ao conhecimento, ao encontro e ao deleite de uma actualidade

    que bebe esse conhecimento revisitado.

    Tendo como cenrio Maceira urge pensar que necessrio implementar

    estruturas que possibilitem a divulgao, promoo de todo o patrimnio desta aldeia,

    numa vertente de desenvolvimento comunitrio e tambm numa perspetiva artstica,

    considerando para tal todos os grupos sociais que constituem parte integrante desta

    populao.

    Pensar na implementao de um projeto de mbito cultural como condio de

    desenvolvimento comunitrio e visto que na sociedade contempornea, os territrios

    rurais constituem, cada vez mais, instrumentos insubstituveis para a preservao de

    usos e costumes, de um modus viendi muito particular, ou seja, de uma identidade.

    O desenvolvimento local um processo de transformao da realidade

    sustentado na capacitao das pessoas para o exerccio da cidadania ativa e

    transformadora da vida individual e em comunidade. de capital importncia que os

    grupos no sejam meros utentes de servios, mas, atores e autores das prticas de

    desenvolvimento local (Viveiros, A. L. N., 2008, p. 2).

  • 16

    Este esboo acadmico assenta no seu prprio objeto de estudo Maceira uma

    Aldeia Cultural onde inclui a prpria aldeia como produtor e difusor de criaes

    artsticas, numa ligao estrutural e orgnica com o Concelho a que pertence,

    contribuindo para a construo de experincias perdurveis no tempo.

    Na Constituio da Repblica Portuguesa, no Artigo 78. (1999, p. 38) pode ler-

    se que:

    1. Todos tm direito fruio e criao cultural, bem como ao dever de preservar,

    defender e valorizar o patrimnio cultural.

    2. Incumbe ao Estado, em colaborao com todos os agentes culturais.

    Nos nossos dias temos vindo a assistir a um gradual desinteresse e

    desresponsabilizao do Estado, relativamente a esta matria. Assim, o colmatar

    desta lacuna passa muitas vezes pelos agentes culturais, os criadores, os artistas, a

    comunidade.

    Por outro lado, no devemos, no entanto esquecer que a criao artstica ,

    muitas vezes condicionada pelas polticas culturais, cabendo enumeras vezes s

    comunidades intervir e agir neste contexto.

    A aldeia de Maceira enquadra-se no que acabamos de explanar, cabendo a

    dinamizao de atividades artsticas aos membros da comunidade, no sentido da

    criao de uma aldeia cultural com ao onde no se pretende que a arte comente a

    vida, mas que participe dela!

    I.2 Objeto de Estudo

    A formulao de um projeto deve ser o mais precisa e concreta possvel, exige

    uma conjugao harmnica de todos os passos que nos levam prossecuo do

    mesmo, especificando os seus objetivos, metas, calendrio de execuo e recursos.

    Podemos dizer que um projeto um avano antecipado das aes a realizar para

    conseguir determinados objetivos.

    A criao de um projeto comunitrio na aldeia de Maceira tem um carcter,

    fundamentalmente, social e cultural, nasce como consequncia do desejo de melhorar

    a realidade onde estamos inseridos. Com efeito, pretende-se que a elaborao do

    mesmo siga uma orientao para a resoluo de problemas sociais, com o objetivo de

    tentar satisfazer as necessidades do indivduo e, desta forma, melhorar as condies

    de vida, as relaes com outros sistemas de valores, ou seja, contribuir para a

    configurao da cultura de um povo, este conceito entendido por Ander-Egg ()

  • 17

    como criao de um destino pessoal e coletivo (), (Ander-Egg, 1980, p, 71). O

    aumento progressivo da procura dos espaos rurais para o consumo e desempenho

    de atividades de turismo e de lazer, um outro facto a ter em ateno.

    Numa tentativa de dar resposta a estas questes, estabeleceram-se os

    seguintes objetivos:

    I.2.1 Objetivo Geral:

    O projeto tem como principal objetivo criar uma Aldeia Cultura na freguesia de

    Maceira, no mbito de desenvolvimento comunitrio deste territrio.

    I.2.2 Objetivos Especficos:

    Tendo em linha de conta o objetivo geral, podemos definir vrios objetivos

    especficos:

    Fomentar o desenvolvimento scio-econmico e histrico-cultural da

    freguesia, bem como para a afirmao enquanto destino de turismo

    cultural;

    Promover e preservar o patrimnio existente, de forma a privilegiar o

    turismo sustentado a partir de metodologias pedaggicas;

    Proteger a natureza e os seus recursos;

    Preservar, respeitar e transmitir a cultura e tradio associada freguesia

    de Maceira, bem como contactar diretamente e ativamente com os seus

    usos e costumes, de forma a imortalizar tradies;

    Fomentar a participao estimulando o projeto de ao, numa sociedade

    que deve crescer em solidariedade em comunicao inter-geracional, no

    sentido da valorizar a presena do snior na comunidade restabelecendo a

    identidade local.

    Desenvolver Processos Artsticos, promovendo o desenvolvimento de

    competncias pessoais e sociais.

    Porque a criao fica sempre a cargo de algum, neste caso eu, e como eu

    sou produto das minhas vivncias e experincias de vida gostaria de salientar a

    importncia que a atividade profissional que exero teve na minha motivao e

    sensibilizao para este projeto. Por um lado, o exercer funes num estabelecimento

    de ensino, onde estou diariamente em contacto com a populao jovem e onde

    verifico, ano aps ano, o decrscimo do nmero de alunos e o desenraizamento

    destes ao meio. Por outro, na sequncia da minha Licenciatura desempenho o Cargo

  • 18

    de Animadora Sociocultural de um Centro de Dia onde verifico o potencial cultural da

    populao-alvo, onde o fenmeno da transmisso de conhecimentos observvel no

    rosto e passvel de ser sentida a necessidade latente de partilha, por sua vez sendo

    situado num meio rural apuro o oposto, ou seja, o aumento do nmero de utentes.

    Mas atravs de parcerias, neste caso com as autarquias, escolas e

    associaes ou empresas na rea do turismo e lazer, que devemos promover as

    respostas s problemticas rurais e ao sedentarismo dos jovens das escolas em

    meios urbanos.

    Desta forma, a freguesia de Maceira, pela sua multifuncionalidade, possuidora

    de um patrimnio quer natural, quer construdo, sem esquecer o seu patrimnio

    imaterial, tem as condies essenciais para a dinamizao de um projeto de carcter

    social, cultural, ambiental e educativo, de revitalizao da aldeia, criando atratividades

    populao existente, a novos residentes e visitantes, atravs de eventos como,

    encontros Etnogrficos e outras formas de dinamizao antropolgica. Passando por

    espaos museolgicos vivos, processos artsticos, oferta gastronmica tradicional,

    dinmica de jogos tradicionais, participao em prticas agrcolas, descoberta da

    fauna e flora, o desfrutar do lazer e bem estar, caminhadas ecolgicas, prticas

    desportivas, entre outras.

    Perante isto, o projeto a desenvolver, tem como principal objetivo criar

    iniciativas de desenvolvimento no meio rural e deste modo valorizar numa perspetiva

    inter-geracional e socialmente integrada a presena do snior na comunidade, como

    reportrio vivo da memria coletiva local e garantia da identidade, separando perda de

    autonomia, de inibio do direito participao na vida local, por via de processos de

    animao que os englobem. Pelo que a viabilidade deste projeto passe, no s, pela

    integrao da populao autctone, mas tambm, pela participao de jovens em

    idade escolar a residir em meios urbanos de qualquer ponto do Pas. Ao mesmo

    tempo que se pretende valorizar os saberes e prticas da populao idosa,

    envolvendo-os na prpria animao, pretende-se tambm permitir aos jovens, que no

    contacto com a populao e com a natureza desfrutem e aprendam as tradies do

    mundo rural, pois este possuidor de uma riqueza cultural digna de ser transmissvel.

    O sucesso deste projeto passa, ainda, que de forma gradual, reanimar a

    economia local, tornando o projeto sustentvel, com a venda do artesanato local e

    produtos do mundo rural, incluindo, servios inerentes ao TER (Turismo em Espao

    Rural), que se define em termos jurdicos como o () conjunto de atividades, servios

    de alojamento e animao a turistas, em empreendimentos de natureza familiar,

  • 19

    realizados e prestados () em zonas rurais (). (Decreto Lei n 54/2002) e todas

    as variantes que possibilitem o desenvolvimento integrado sem adulterar este espao

    to especial e genuinamente nico.

    A aldeia pode adquirir a valncia de Aldeia Cultural e desta forma, transmitir

    aos mais novos os saberes da cultura Beir, a Etnografia, a Antropologia, em sntese,

    os usos e costumes mais genunos do meio rural, ou seja, a cultura.

    pois, importante no esquecermos que necessrio salvaguardar e

    revitalizar o mundo rural, combatendo o imobilismo, a desertificao, de forma a criar

    uma relao perfeita entre o homem e o seu habitat, uma afirmao cultural do mundo

    rural.

    A necessidade de desencadear dinmicas que estimulem o desenvolvimento

    sustentado, foi o principal motivo de um estudo de caso efetuado na freguesia de

    Maceira, um espao rural paradigmtico do Interior de Portugal, que alberga elevado

    potencial cultural, patrimonial e humano.

    Por outro lado a arte parte integrante do nosso quotidiano, apresentando-se

    muitas vezes como ponto de partida para questes, reflexes e projetos artsticos a

    desenvolver na comunidade. Sendo a cultura parte integrante no desenvolvimento de

    qualquer ser humano. A arte um modo de apreender o que nos rodeia e ajuda-nos a

    desenvolver. Assim torna-se cada vez mais pertinente a incluso das artes e de toda a

    dinmica artstica neste processo de divulgao e promoo de um territrio no

    sentido do desenvolvimento do mesmo, bem como no processo de construo

    permanente do Ser humano.

    Assim, sendo o ser humano, um ser predominantemente cultural a arte revela-

    se um meio importante para a adaptao ao meio, comunidade que o envolve, no

    sentido da preservao e promoo do seu territrio, da sua identidade local e difusor

    cultural.

    Falar de cultura falar de patrimnio, pois a cultura parte integrante do

    patrimnio imaterial de qualquer comunidade ou territrio, neste sentido nunca

    demais lembrar que ao defendermos o patrimnio estamos a defender o progresso,

    pois o patrimnio um dos principais fatores de desenvolvimento endgeno e

    exgeno.

    De referi que estes espaos rurais, de que exemplo vivo a freguesia de

    Maceira so smbolos de qualidade de vida (despoluio, quietude, sade) e de

    identidade (tradies ancestrais, usos e costumes) sendo as pessoas os verdadeiros

    protagonistas destes locais.

  • 20

    Assim, a difuso cultural, a criao artstica aliada ao patrimnio contribuem

    para a capacitao do local em causa para gerar e promover desenvolvimento, e

    citando Delors (1998) que refere que aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender

    a interagir e aprender a ser, pretende impulsionar e conduzir ao desenvolvimento de

    vrias competncias inerentes comunidade.

    I.3 - Metodologia

    A metodologia resume-se a um conjunto de procedimentos e regras para

    formar conhecimento. a maneira de se aderir ao problema a investigar, o modo

    como o abordamos, articulando assim um conjunto de operaes incluindo variadas

    tcnicas.

    Citando Gonalves (1998, p.105): A investigao um processo, um conjunto

    hierarquizado de atividades interdependentes. O que se faz em cada passo deve ter

    em considerao o que j fez, o que tambm se est a fazer e o que, previsivelmente,

    se far. A investigao pode ser ainda associada a uma estratgia. Trata-se de

    escolher o melhor caminho (mtodo) a percorrer, numa mirade de pequenas e

    grandes decises orientadas para o melhor alcance dos objetivos mediante uma

    otimizao dos recursos mobilizados e disponveis.

    No que concerne ao mtodo, este baseia-se na forma consistente de se

    organizar a pesquisa, sendo um conjunto de princpios que orientam a escolha do

    objeto de estudo, a formao dos pareceres apropriados. O mtodo permite fazer a

    adaptao intelectual do objeto, ou seja, atravs do mtodo chegamos ao nvel

    intelectual do objeto. O mtodo o caminho que deve seguir a nossa investigao, ou

    seja, o procedimento que se utilizar Ander-Egg (2000, p.75).

    Segundo Pardal e Correia (1995, p.10) o mtodo, consiste essencialmente

    num conjunto de operaes, situados a diferentes nveis, que tem em vista a

    consecuo de objetivos determinados, (), que torna possvel a seleo e a

    articulao de tcnicas, no intuito de se poder desenvolver o processo de verificao

    emprica. Por outras palavras, consiste num guia orientador do trabalho a

    desenvolver.

    A combinao de sentimentos de pertena, experincias profissionais com a

    problemtica em causa, o fenmeno da desertificao, foram os fatores primordiais

    que geraram a oportunidade de investigar, ao mesmo tempo que se elabora um

    projeto de interveno que tem como objetivo contrariar a tendncia de abandono dos

  • 21

    espaos rurais. Como afirma Serrano (2004, p. 102) A investigao em animao

    orienta-se para a mudana, o aperfeioamento e a transformao da realidade social

    Com base no objetivo geral do presente trabalho criar uma Aldeia Cultural na

    freguesia de Maceira, no mbito do desenvolvimento comunitrio deste territrio,

    tornou-se inevitvel a aplicao de uma metodologia de anlise.

    Este projeto de desenvolvimento comunitrio contempla a conceo de dois

    itinerrios, um de mbito cultural-pedaggico e outro de mbito ambiental.

    A metodologia de investigao escolhida para este projeto uma investigao

    qualitativa, mais voltada para a compreenso dos fenmenos culturais, sociais,

    ambientais e patrimoniais, tendo em conta a perspetiva dos participantes. Segundo

    Bogdan e Biklen (1982, p. 23), Os dados (qualitativos) referem-se aos materiais em

    bruto (rough materials) que os investigadores recolhem da realidade.

    Trata-se, de uma investigao num territrio, ou seja, um estudo de caso pois

    pretende-se compreender, explorar todo o contexto em que est inserido este

    territrio, mais concretamente um territrio rural com caratersticas muito prprias que

    lhe conferem uma identidade.

    Em qualquer tipologia de animao artstica e sociocultural a investigao

    particulariza-se pela multidisciplinaridade metodolgica que utiliza para responder

    problemticas a abordar.

    De acordo com Yin (1994, p. 13) que define estudo de caso com base nas

    caractersticas do fenmeno em estudo e com base num conjunto de caractersticas

    associadas ao processo de recolha de dados e s estratgias de anlise dos mesmos.

    Ainda de acordo com a classificao do mesmo autor (Yin, 1993), trata-se um estudo

    de descritivo, uma vez que se trata da anlise de um fenmeno dentro do seu

    contexto.

    Para Ponte (2006) estudo de caso uma investigao que se assume como

    particularstica, isto , que se debrua deliberadamente sobre uma situao especfica

    que se supe ser nica ou especial, pelo menos em certos aspectos, procurando

    descobrir a que h nela de mais essencial e caracterstico e, desse modo, contribuir

    para a compreenso global de um certo fenmeno de interesse. (Ponte, 2006, p.2)

    A componente emprica deste estudo: a anlise documental, como a questo

    do desenvolvimento comunitrio assume especial destaque neste estudo, foi

    consultada bibliografia e documentao especfica relativa a este contedo. Mas

    constituem o corpus analtico deste trabalho, alm da reviso conceptual que

  • 22

    circunscreve esta anlise, documentos como o Plano Diretor Municipal, Pr

    diagnstico do Municpio de Fornos de Algodres.

    Perante a lacuna cultural que se faz sentir na atualidade, a perda de

    identidades dos territrios rurais, esquecidos entre montes e serras, a no valorizao

    destes museus de histria ao vivo1, necessrio contrariar esta tendncia com a

    implementao de um projeto de desenvolvimento comunitrio na freguesia de

    Maceira.

    De referir, ainda, que para a elaborao do projeto a implementar na freguesia

    de Maceira procedeu-se ao levantamento do patrimnio local, quer tangvel como

    intangvel e, aplicaram-se alguns pressupostos do plano estratgico e da elaborao

    de uma anlise SWOT2 Base de sustentao da aplicao do projeto, identificando

    atores fundamentais para o objeto de estudo, assim como estratgias de ao.

    As tcnicas de investigao so comportamentos operacionais e instrumentos

    para fornecer dados. A tcnica utilizada para o desenvolvimento deste projeto

    constitui-se num processo de observao no participante. Tratando-se de um estudo

    direcionado para as problemticas do desenvolvimento sustentado de uma regio

    concreta, assente na base do patrimnio, memrias e identidades locais, ser

    defendido que a implementao de uma aldeia cultural no territrio rural que a aldeia

    de Maceira poder constituir-se como forma de contrariar a atual tendncia de

    desertificao, j mencionada, atuando como fator de desenvolvimento social, cultural

    e econmico.

    Como o projeto abrange um pblico especfico, este mtodo de investigao

    afigura-se como o mais adequado para aplicao da tcnica de investigao - a

    observao no participante, que e de acordo com Quivy aquela em que o

    investigador procede diretamente recolha das informaes, no entanto no h

    interveno dos sujeitos observados.

    Isto , o observador no est diretamente envolvido na situao a observar,

    no interage nem afeta de modo intencional o objeto de observao e os sujeitos no

    sabem que esto e ser observados, pois o investigador observa do exterior (Quivy,

    2003).

    1So poucos os exemplos de territrios rurais direcionados para aldeia cultural-pedaggica, so

    conhecidos no pas: A Aldeia Pedaggica est em Portela, no distrito de Bragana. - Aldeia Pedaggica do Museu do Milho - Aboim - Aldeia Pedaggica da Montanha e do Centeio 2 SWOT significa Stregth: foras ou pontos fortes, Weaknessess: fraquezas ou pontos fracos,

    Opportunities: oportunidades e Threats: ameaas.

  • 23

    De acordo com Quivy a observao uma etapa intermdia entre a

    construo dos conceitos e das hipteses e o exame dos dados utilizados para as

    testar (Quivy e tal. 1998, p. 163), pois segundo Mximo-Esteves esta permite o

    conhecimento directo dos fenmenos tal como eles acontecem num determinado

    contexto (Mximo-Esteves 2008, p. 87) e isto conseguido atravs de uma

    observao atenta e reflexiva, ou seja, um olhar rotineiro no o suficiente para

    entendermos a realidade. A observao tem a vantagem de permitir que se veja o que

    as pessoas realmente fazem e no o que dizem fazer; esta tcnica possibilita que se

    chegue mais perto da perspetiva dos indivduos. a apreenso dos comportamentos

    e acontecimentos no prprio momento em que se produzem. A recolha de material, de

    informao espontnea, existe autenticidade dos dados.

    Pelo acima exposto a metodologia a utilizada qualitativa, atravs o mtodo de

    estudo de caso e a tcnica observao no participante, o que em termos de etapas

    do projeto poder ser traduzido da seguinte forma:

    Figura 1 - Plano de Investigao Metodolgica

    Fonte: Elaborao prpria

    I.4 - Destinatrios

    Este projeto de animao, pretende, como j foi dito anteriormente, integrar a

    populao de Maceira (numa participao voluntria), seniores, crianas e jovens (a

    frequentarem escolas em meios urbanos ou de outras aldeias). No entanto, e ainda

    Investigao

    constante, coerente e consciente da teoria (problemtica)

    Estudo de Caso

    Reviso da Literatura -Pesquisa Bibliogrfica

    Projeto de Desenvolvimento Comunitrio

    Maceira uma Aldeia Cultural

    Anlise SWOT

  • 24

    que no previstos no projeto, uma vez que este se dirige institucionalmente escolas e

    prpria populao, o presente projeto est recetivo a receber qualquer visitante que

    pretenda integrar esta iniciativa. Visto que nos encontrarmos perante dois coletivos

    que apresentam caractersticas muito especificas convm salientar a importncia de

    ambos numa perspetiva individual e na sua relao de interao.

    Uma das funes chave da Animao consiste, precisamente, no facto de as

    pessoas e os coletivos se transformarem em agentes e protagonistas do seu prprio

    desenvolvimento e um dos factos que particularmente interessa nos processos de

    animao gerar processos de participao, criando, desta forma, espaos e

    dinmicas que proporcionem a comunicao dos grupos e das pessoas, tendo em

    vista estimular os diferentes coletivos a empreenderem o desenvolvimento social

    (resposta s suas necessidades num espao, tempo e em situaes determinadas) e

    cultural (construindo a sua prpria identidade coletiva, criando e participando nos

    diferentes projetos e atividades culturais).

    Maceira possuidora de inmeros recursos patrimoniais, mas para valorizar

    esse mesmo patrimnio necessrio e imprescindvel recorrer a uma ferramenta

    denominada comunicao3 que serve para sensibilizar os vrios grupos sociais,

    tornando-se um processo essencial de toda a atividade humana, tendo um papel

    importante no desenvolvimento da personalidade. Serve ainda de meio de

    aproximao entre povos e culturas, criando um suporte educativo que tem como base

    potenciar e aumentar o sentido de pertena de um lugar.

    I.4.1 - O Papel dos seniores no meio rural

    Nos ltimos anos temos assistido a um processo acelerado de transformao e

    mudana em Portugal, com efeitos sobre a sociedade e as populaes.

    Um destes efeitos o agravamento dos desequilbrios de desenvolvimento

    regional e local, com fenmenos como a desertificao do espao rural e a

    concentrao da populao nas reas urbanas, com todos os problemas de

    desemprego, segurana e ambiente que comportam. Reconhece-se, claramente, que

    3 Considerando que comunicao, segundo Simes, B o processo psicolgico pelo qual se realiza a transmisso interpessoal de ideias, sentimentos e atitudes que possibilitam e garantem a dinmica grupal e a dinmica social. A comunicao poder por isso mesmo, ser verbal ou no verbal. A comunicao verbal realiza-se por intermdio da linguagem que, graas sua estrutura simblica, permite aos elementos de um grupo a comparticipao nas experincias actuais ou tradicionais desse grupo. (Simes, B., s.d., p. 1172)

  • 25

    o desenvolvimento futuro no mundo rural passa pela necessidade de dar mais nfase

    dimenso humana, portadora de grande sabedoria, cultura e tradies ancestrais.

    J foram encetadas vrias aes e diligncia destinadas s pessoas idosas no

    sentido da valorizao da dimenso humana, mas no entanto, e de acordo com o

    Programa Nacional para a Sade das Pessoas Idosas (2004, p. 11) no existe, ainda,

    uma estratgia nacional, regional e local, verdadeiramente consolidada, que promova

    o envolvimento das vrias medidas numa perspetiva integrada, ao longo da vida, para

    um envelhecimento ativo.

    Da que o isolamento da pessoa idosa uma realidade da nossa sociedade,

    sendo o mesmo a causa de inmeras formas de excluso social de que so alvo uma

    grande parte de pessoas idosas, dificultando, desta forma, o desenvolvimento de uma

    sociedade onde o envelhecimento possa ser vivido com maior qualidade de vida

    (Fernandes, H.J., 2007)

    Um dos princpios das Naes Unidas diz respeito terceira idade, defendendo

    que estas devem ter direito independncia, participao, auto realizao e

    dignidade, perante a sociedade (ONU, 2002). Observa, ainda, princpios de que o

    envelhecimento ocorre ao longo de toda a vida, de que as pessoas idosas so um

    grupo heterogneo e que a diversidade individual, se acentua com a idade, deve ser

    respeitada, assim como preservada a sua intimidade.

    de salientar, ainda, que necessrio valorizar a ideia da pessoa idosa como

    algum que no produz e cuja senilidade faz parte da tradio arcaica pelo contrrio

    ela repositrio de uma grande sabedoria, um patrimnio vivencial que pode em muito

    ajudar os mais novos, constitudo para a preservao da nossa cultura,

    nomeadamente da tradio oral como contos, lendas antigas, provrbios, medicina

    tradicional, jogos tradicionais. Tal como nos diz J. Trilla () Animao para que os

    habitantes de um dado territrio se envolvam na resoluo dos problemas dessas

    zonas, cuidem do seu territrio, protejam o patrimnio, intervenham nas decises

    relativas a esse espao e, sobretudo, sejam cidados activos para uma melhor

    qualidade de vida nas zonas onde vivem () (Trilla, J. 1994, p. 54).

    Pelo que qualquer projeto de desenvolvimento, mais precisamente no mundo

    rural, aliado a todo o patrimnio envolvente, impensvel, e jamais ter qualquer

    sucesso se o mesmo no for desenvolvido com o intuito de preservao da memria

    atravs da valorizao do legado histrico com a participao dos atores locais.

    As questes da presena humana encerram, em si mesmo, uma importncia

    relevante nos territrios rurais.

  • 26

    I.4.2 - O papel dos jovens no meio rural

    Como se sabe, os jovens de hoje, essencialmente os que vivem em meios

    urbanos, so de certa maneira, desconhecedores das formas de vida no meio rural.

    H no entanto, uma crescente preocupao no que respeita ao desinteresse por parte

    destes jovens e crianas relativamente s tradies, aos modos de vida, ao

    quotidianas e essencialmente no que respeita mais antiga atividade de subsistncia,

    a atividade agrcola.

    A escola acaba tambm por ser um entrave a esta aprendizagem. O facto de

    ter uma forma de ensino, to formal e to convencional, acaba por criar mtodos de

    aprendizagem que pouco potenciam as tcnicas e os saberes dos alunos na sua

    prpria experincia fora da escola.

    Promover, criar dinmicas de trabalho dentro e fora da sala de aula que

    desenvolvam projetos de investigao e trabalhos de campo, utilizando metodologias

    ativas de aprendizagem, esto amplamente desenvolvidas em vrios pases nrdicos,

    no entanto, s agora comeam a estar em voga em Portugal. Apesar de a Educao

    Ambiental estar contemplada no nosso sistema de ensino, quer na Constituio da

    Repblica Portuguesa, artigo 66- Ambiente e Qualidade de Vida, quer na Lei de

    Bases do Sistema Educativo no art 5 e 7 e no Decreto Lei n 6 e 7 de Janeiro de

    2001, existem ainda muitas falhas na promoo deste sistema de ensino. No entanto,

    existem j alguns professores, entre eles, Cameira Serra, que comeam agora a

    potenciar atividades de trabalho e prticas ldicas nos territrios rurais que nos

    cercam, segundo Serra (2001), () inegvel interesse antropolgico e histrico e

    ainda de reconhecido valor pedaggico Serra (2001, p.23).

    inegvel que os jovens de hoje tm modos de vida algo extenuantes e ao

    mesmo tempo sedentrios, mas estes mesmos jovens so pessoas visivelmente

    abertas a novas experincias.

    O estmulo por parte dos educadores sem dvida um fator importante para

    que estes jovens, possam tambm eles participar mais ativamente no processo de

    desenvolvimento do meio rural. Atendendo ao exposto autores como Cavaco (1995)

    salientam que: () se predominam, ainda, nas nossas escolas modelos pedaggicos

    e prticas dominantemente transmissivos, tambm verdade que um pouco por todo

    o lado encontramos grupos de professores que sabem aproveitar os seus espaos de

    liberdade diversificando e enriquecendo as situaes de aprendizagem alargando

    criativamente o espao escolar, implicando os alunos em projectos com sentido()

    (Cavaco, 1995, p. 127).

  • 27

    A cultura destes lugares precisa de seguidores, de jovens que atravs da

    interao com a populao autctone aprenda e valorize no presente o sentido do

    passado, para transmitir no futuro. preciso dar nimo a estes lugares e manter acesa

    a chama da alegria e da vida.

    As relaes inter-geracionais neste projeto tm como objetivo fundamental

    reforar os laos da solidariedade entre as geraes, preservando deste modo a

    cultura local, laos de afetividade e de identidade bem como os valores do passado. A

    relao que se estabelece entre seniores e crianas, participantes de atividades, em

    espaos rurais deve ser entendido como um enriquecimento.

    O relacionamento inter-geracional um caminho para a preservao da

    cultura, compreendendo-se esta como a troca de significados e a preservao de

    smbolos, necessrios sobrevivncia humana.

    possvel compreender o significado da relao que se estabelece entre o

    snior e a criana por intermdio das memrias individuais e coletivas, mediadas pela

    sociabilidade, constituindo-se em processo educativo mtuo, em sentido amplo.

    Desta forma, podemos concluir que os valores relacionados com o contacto

    entre seniores e crianas remetem a questes cruciais, tais como: a pertinncia do

    respeito sabedoria preservada pelos seniores e construo do dilogo com as

    novas geraes. Para Rojas (1999): () O relato oral o mais antigo registo de

    informao e conservao do saber. (...) A transmisso do saber implica,

    necessariamente, a existncia de um narrador e de um pblico ouvinte (Rojas, 1999,

    p. 89).

    Os seniores sentem prazer no contato que estabelecem com os jovens, no

    dilogo e na realizao atividades de interao com as crianas e jovens, sendo desta

    forma de elevada importncia a possibilidade de criar situaes e espaos que

    possibilitem a interao entre geraes. Existindo, no entanto, trabalho a fazer

    relativamente a recetividade dos mais jovens. As escolas tm, neste sentido, um papel

    de destaque que pressupe um investimento em termos educativos e de socializao

    promovendo a ligao entre a escola e a comunidade para fomentar a mudana de

    atitudes.

    A sustentabilidade de projetos desta importncia s possvel se todos os

    intervenientes estiverem mentalizados para a importncia das consequncias e dos

    benefcios que da possam advir.

  • 28

    CAPTULO II ENQUADRAMENTO TERICO CONCEPTUAL

    Tratando-se de um trabalho cientifico-pedaggico assume-se indispensvel a

    investigao de conceitos tericos, essencial a realizao da reviso da literatura

    existente sobre os conceitos gravitacionais problemtica em estudo, nomeadamente

    comunidade, desenvolvimento comunitrio, cultura, identidade, memria, patrimnio,

    territrios rurais, turismo e animao artstica.

    Desta forma neste Captulo abordam-se os vrios termos com o intuito de

    situar e de obter justificao para as afirmaes e ainda para orientar os leitores

    delimitando o mbito conceptual.

    De referir que por se tratar de uma problemtica scio-cultural os conceitos

    prestam-se a interpretaes diversas pelo que esta reviso no intensiva

    propositadamente, mas antes pretende definir as linhas orientadoras do estado da

    arte.

    II.1 Comunidade

    O poeta Ingls John Donne (1624), em pleno Renascimento, refere nos seus

    poemas que nenhum homem uma ilha, completo em si prprio; cada ser humano

    uma parte do continente, uma parte de um todo, o que leva a concluir que j nesta

    poca existia a perceo de que o ser humano no consegue viver isolado, faz parte

    de um todo, de uma comunidade.

    Seguindo o que Fragoso prope o conceito de comunidade continua a ser

    ambguo, muito pela quantidade de definies utilizadas para a definir. com

    frequncia que encontramos este termo aplicado para designar pequenos agregados

    rurais - aldeias, freguesias, ou urbanos - quarteires, bairros, mas tambm grupos

    profissionais - comunidade mdica, comunidade cientfica, a organizaes, como a

    comunidade escolar, ou sistemas mais complexos como pases - comunidade

    nacional, ou mesmo o mundo visto como um todo - comunidade internacional ou

    mundial.

    Para Ander-Egg comunidade um agrupamento organizado de pessoas que

    se entendem como unidade social, cujos membros participam de alguma

    caracterstica, interesse, elemento, objetivo ou funo comum, com uma conscincia

    de pertena, situadas numa determinada rea geogrfica na qual a pluralidade das

    pessoas interage mais intensamente entre si que noutro contexto (Ander-Egg 1982,

  • 29

    cit. por Fragoso, 2005, p. 25). Esta definio refere elementos frequentes na definio

    de comunidade, como o lugar geogrfico e unidade social, que existem em funo de

    vrios fatores, nomeadamente os objetivos comuns e o sentimento de pertena.

    J Kershaw (1992) refere que toda comunidade idntica no que diz respeito

    s diferenas internas que acolhe e ao papel de mediao que assume entre o

    indivduo e a sociedade. Neste sentido, qualquer comunidade teria a funo estrutural

    e ideolgica, de mediar os indivduos e a sociedade em geral.

    O mesmo autor (1992) define ainda dois tipos de comunidade: - uma

    comunidade constituda por uma rede de relacionamentos formados por interaes

    face a face, numa rea demarcada geograficamente, a que chama comunidade local;

    e uma outra comunidade que formada por uma rede de associaes que so

    predominantemente caracterizadas pela sua responsabilidade em relao a um

    interesse comum, a que chama, comunidade de interesse.

    Podemos referir que a comunidade no se define apenas em termos de

    localidade. a entidade qual as pessoas pertencem, maior que as relaes de

    parentesco, mas mais imediata do que a abstrao a que chamamos "sociedade". a

    arena onde as pessoas adquirem as suas experincias mais fundamentais e

    substanciais da vida social, fora dos limites do lar (Cohen, 1985, p. 15).

    A comunidade o nervo central para a sustentabilidade da construo de

    alternativas de desenvolvimento dos territrios, capaz de gerar sinergias criativas

    localizadas no envolvimento das populaes.

    Segundo Habermas, Tourine e Bauman Se tem que existir uma comunidade

    no mundo dos indivduos, esta s pode ser ( e tem que ser) uma comunidade tecida

    de partilha e preocupao mtua, uma comunidade preocupada e responsvel pelo

    direito igual de se ser humano e pela capacidade igual de agir de acordo com esse

    direito (Tourine e Bauman citadodo por Delanty, G. in Kuppers, P. and Gwen, R.

    2007, p. 31).

    Na generalidade podemos dizer que comunidade implica ter algo em comum,

    podendo esse algo, serem pessoas, um local, um interesse. Nesta conjuntura,

    podemos referir que a comunidade parte integrante de um todo e que a sua

    participao ativa contribui para o bem comum.

  • 30

    II.2 Desenvolvimento Local / Comunitrio

    O desenvolvimento local um processo de transformao da realidade

    sustentado na capacitao das pessoas para o exerccio de uma cidadania ativa e

    transformadora da vida individual e em comunidade. de capital importncia que os

    grupos no sejam meros utentes de servios, mas, atores e autores das prticas de

    desenvolvimento local.

    Este modelo de desenvolvimento caracteriza-se por um processo de melhoria

    das condies culturais, econmicas, educativas e sociais das populaes atravs de

    iniciativas de base comunitria, de valorizao dos recursos humanos e materiais em

    ligao privilegiada com as populaes locais e as instituies do territrio em zonas

    rurais ou urbanas, no litoral ou interior.

    () o Desenvolvimento deve ser um processo integrado, envolvendo as

    dimenses econmica, social, cultural, ambiental e poltica, privilegiando para essa

    integrao o trabalho a nvel local, em meios desfavorecidos, atuao que no se

    esgota na componente econmica do Desenvolvimento, incluindo tambm com

    destaque a educao para a auto-estima, a cidadania ativa e a valorizao da cultura

    local (Viveiros, A. L. N., 2008, p. 2)

    Ainda segundo o mesmo autor, falar em desenvolvimento4 local implica refletir

    sobre o desenvolvimento comunitrio ou desenvolvimento da comunidade. Os

    modelos e princpios metodolgicos subjacentes aos conceitos de desenvolvimento

    so anlogos na sua ao de base comunitria.

    A forma consensual de definio de desenvolvimento comunitrio passa

    invariavelmente por duas fases: comea-se a definir o que comunidade e por uma

    espcie de acrescento, um passo num degrau qualitativo, chegamos ao

    desenvolvimento da comunidade. (Fragoso, 2005, p. 24).

    Rudolf Rezsohazy (1988, p.18) afirma que, () o Desarrollo Comunitrio es

    una accion coordinada y sistemtica que, en resposta a las necesidades o a la

    demanda social, trata organizar el progreso global de una comunidad territorial de una

    poblacin-objectivo, com la participacin de los interesados.

    O desenvolvimento comunitrio o esforo para melhorar as condies de vida

    daqueles que habitam um local (a comunidade e o seu espao geogrfico e cultural)

    tomando em linha de conta a especificidade desse local. Procura o desenvolvimento

    4 Baseando-nos no que nos indica o dicionrio de Lngua Portuguesa, desenvolvimento implica movimento, movimento para a frente, uma dinmica que ajuda a progredir, implica avano.

  • 31

    equilibrado e integrado de uma comunidade, com o mximo respeito pelos seus

    valores prprios e procurando tirar partido da sua riqueza histrica.

    O desenvolvimento comunitrio, enquanto ao concertada que produz a

    tomada de conscincia acerca das potencialidades locais, promove,

    consequentemente, iniciativas geradoras de riqueza e de emprego que correspondem

    a um plano local de desenvolvimento integrado, neste sentido podemos referir que

    acima de tudo, a concertao de estratgias e metodologias de ao que pretendem

    alterar, para melhor o contexto e o nvel de vida das pessoas duma comunidade.

    Silva (1964) refere que devemos s Naes Unidas a seguinte definio: O

    desenvolvimento comunitrio uma tcnica pela qual os habitantes de um pas ou

    regio unem os seus esforos aos dos poderes pblicos com o fim de melhorarem a

    situao econmica, social, e cultural das suas coletividades, de associarem essas

    coletividades vida da nao e de lhes permitir que contribuam sem reserva para os

    progressos do pas (Silva, 1964, p. 506).

    Para esta autora, o desenvolvimento comunitrio, parte das necessidades

    sentidas pela populao e sobre elas constri o plano de ao contando, desde o

    comeo, com a iniciativa, a responsabilidade e liberdade de escolha por partes dos

    interessados.

    Todo o desenvolvimento comunitrio tem por objetivo proporcionar aos

    intervenientes, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, que visa mudanas nas

    estruturas polticas, econmicas, sociais, educativas e culturais.

    No fundo estamos a operar transformaes substanciais no modo de vida dos

    povos e a preparar uma mentalidade nova favorvel ao progresso, capaz de o

    assimilar e apta cooperao, sem esquecer as origens, o passado.

    Nunes Viveiro (2008) vai ao encontro das ideias de Silva, quando afirma que o

    desenvolvimento comunitrio um desafio permanente, espao de construo de uma

    cidadania ativa e fundamento da democracia participativa. A comunidade o nervo

    central da sustentabilidade da construo de alternativas de desenvolvimento dos

    territrios, capaz de gerar sinergias criativas localizadas no envolvimento das

    populaes (Viveiros, A. L. N., 2008, p. 4)

    O desafio do desenvolvimento comunitrio reside no axioma pensar global,

    agir local, ou seja, baseando-nos na realidade social existente que devem procurar

    solues participadas, integradoras e valorizadoras das gentes e dos recursos. (Nunes

    Viveiro, 2008)

  • 32

    E um desafio permanente, espao de construo de uma cidadania ativa e

    fundamento da democracia participativa. O desenvolvimento de iniciativas no sentido

    da capacidade produtiva e bem-estar da comunidade; bem como outras direcionadas

    para a dinamizao num mbito mais social e cultural.

    II.3 Cultura, Identidade e Memria

    A sociedade tem sido, ao longo dos tempos, testemunha de muitas mutaes,

    sendo os conceitos de patrimnio, patrimnio cultural e identidade exemplos das

    mesmas. O patrimnio entendido como representao e afirmao de uma

    determinada identidade consolidou-se com a Nova Histria, aps a Segunda Guerra

    Mundial, altura em que a compreenso do papel do indivduo na sociedade se altera

    (Stefanello, L. Z., e Padoin, M. M. s/d)

    O patrimnio, constitudo por ideias e por objetos com os quais as sociedades

    afirmam as suas diferenas perante os outros, hoje fundamental na celebrao da

    memria e na construo/reconstruo das identidades. Mas, se verdade que os

    conceitos de cultura e identidade so olissmicos, a verdade que s vezes se

    tornam muito pouco operatrios, na medida em que se basifica, tantas vezes, o seu

    uso, mesmo entre a comunidade dita letrada e intelectual. Identidade e cultura, na

    boca de tantos sujeitos, so tudo e so quase nada.

    .

    II.3.1 - Cultura

    Vamos agora refeltir sobre o conceito de cultura um determinado conjunto

    de modelos de comportamentos, de usos e costumes, de instrumentos e objectos,

    usados por uma populao, geralmente confinada num espao geogrfico definido

    (Ferreira, J. M., 1983, p. 23).

    Assim entendida, cultura uma realidade precisa e concreta, isto , diz sempre

    respeito a uma populao assinalada por caractersticas peculiares, que a distinguem

    doutras populaes. Se falarmos de cultura portuguesa queremos referir um conjunto

    de elementos que caracteriza os portugueses, poderamos at dizer que cultura

    portuguesa aquilo que faz com os portugueses sejam portugueses. Hoje diz-se

    frequentemente que a cultura dum povo aquilo que constitui a sua identidade.

    Essa identidade, a cultura que a define, como refere o mesmo autor no

    fruto dum projecto racional, elaborado maneira como se pode projectar e realizar, de

    raiz, uma fbrica, um complexo industrial, uma urbanizao (idem).

  • 33

    Uma cultura o resultado dum processo histrico (homem - outros homens,

    homem ambiente), longo e lento, de acordo com condicionalismos de vria ordem:

    geofsicos, econmicos, delimitaes de espaos e fronteiras, tecnologias, produes,

    valores, etc (idem). Nesse processo vo-se integrando, afeioando, compondo, os

    vrios elementos at constituirem um todo coerente.

    Ao referirmos que uma cultura um todo relativamente corente, devemos dizer

    o seguinte:

    por um lado os seus elementos tm relaes mtuas e se explicam e

    completam uns aos outros, isto , os monumentos com os seus estilos,

    romnico, gtico, etc., tm a ver com o universo em que se inserem, com

    os costumes e aspiraes das terras e gentes contempotneas, com os

    seus modos de pensar e sentir, de trabalhar e comunicar.

    por outro lado a coerncia interna da cultura como um todo apenas

    relativa: no fixa nem imvel. Cultura realidade dinmica: um povo

    em movimento, em evoluo, nessa evoluo os elementos integrantes

    vo-se alterando: uns perdem significado e funes, outros aparecem e

    afirmam-se.

    A cultura tem por principal objetivo identificar o modo como em diferentes

    lugares e momentos uma determinada realidade social construda e pensada

    (Ribeiro, 1998):

    Cultura inanimada, que no envolve diretamente a atividade humana (ex:

    edifcios histricos);

    Cultura refletida na vida quotidiana, que constitui motivao habitual do

    indivduo que pretende observar as atividades habituais de lazer, sociais e

    econmicas dos habitantes;

    Cultura especialmente animada, que pode envolver acontecimentos

    especiais (ex: festivais de msica).

    II.3.2 - Identidade

    Considerando que hoje identidade um termo comum, vulgarmente invocado,

    mas raramente definido no plano conceptual.

    Etimologicamente, o termo provm do Iatim, cujo sentido semntico, pela

    significao conjugada que contm, apresenta-se polissmico, complexo, contraditrio

    e paradoxal, praticamente em oposio entre a semelhana e a diferenciao. O

    prefixo idem com entis remete para idntico a si prprio, semelhante; e identem com

  • 34

    o sufixo dade, remete para qualidade do que nico, prprio, singular. Identidade

    significa portanto que cada um se define por caractersticas comuns a todos aqueles

    que so semelhantes a si e por modos de ser e caracteristicas prprias que permitem

    distingui-lo de todos os outros.

    O mesmo sentido paradoxal reconhece-se tambm em outros termos com um

    signifcado prximo de identidade, tal como pessoa, que se refere a qualquer ser

    humano e a nenhum outro e o termo indivduo, considerado ao mesmo tempo exemplo

    de uma srie que possui traos comuns de membros da mesma espcie e a um corpo

    indivisvel, nico, sem outro igual a si mesmo. (Ribeiro, s/d, cit. por Lipiansky, 1992),

    refere que se torna mesmo necessrio que o paradoxo no se resolva, o que poderia

    assinalar a perda de identidade.

    A construo da identidade na sociedade contenpornea vincula-se a interao

    do sujeito com o meio social no qual est inserido, o que permite que este se localize

    socialmente.

    Os investigadores como Josep Ballart (1997; 2001); Jos Amado Mendes (1

    999), Elsa Silva (2000) ou Joo Ramos (2002) contribuem significativamente para a

    compreenso das relaes que se podem estabelecer entre patrimnio e identidade,

    na medida em que referem que o conceito de patrimnio s tem sentido quando os

    indivduos se identificam com os objectos que o compem. Neste sentido, estes

    objectos patrimonializados so aproprados pelo grupo, no sentido de tornar visvel o

    seu sentimento colectivo de pertena. Eles constituem, portanto, os elementos sob os

    quais se funda a identidade de um grupo e o diferencia dos demas.

    Claude Cluzeau refere-se ao patrimnio como tudo o que merece ser

    conservado ou, mais precisamente, como os componentes materiais e imateriais de

    identidade de toda a sociedade humana constitutivos da sua identidade (Cluzeau,

    1998, p. 41).

    A questo da identidade passa por uma elaborao permanente, no esttica,

    nem correspondendo a uma viso conservadora e nostlgica. O patrimnio edificado

    um elemento de referncia na construo da identidade. A partir dele, como referncia

    simblica essencial, devemos poder ler o fluir da histria, o passado, o presente e o

    futuro em construo.

    Ora aqui importa referir o termo identidade cultural que segundo a conferncia

    Mundial sobre as Polticas Culturais (UNESCO, Mxico, 1982) a Identidade cultural

    parece propor-se hoje como um dos principais motores da histria: no se trata nem

  • 35

    de um patrimnio fossilizado nem de simples reportrio de tradies, mas de uma

    dinmica interna, do processo de criao permanente de uma sociedade.

    Assim, a identidade cultural representa a memria, a conscincia coletiva de

    um grupo, a respeito dos quais cada um extrai, espontaneamente, determinados

    comportamentos e atitudes que todos consideram significativos.5

    A Identidade Cultural de uma sociedade: pode ser captada, tanto do exterior

    como do interior da mesma, atravs da histria, dos seus costumes, da sua produo

    literria e artstica, da sua msica, dos seus monumentos, das suas tradies orais.

    Alm destas manifestaes tangveis, a identidade cultural o sentimento que

    experimentado pelos membros de uma coletividade que se reconhecem nessa cultura.

    II.3.3 - Memnia

    dificuldade na definio do objeto patrimonial, a qual advm das

    interferncias entre memria e histria, soma-se a complicao trazida pela crescente

    valorizao e progressivo alargamento do conceito de patrimnio cultural, que fazem

    da conservao um dogma e um culto do nosso tempo.

    Culto este, que se iniciou com o Renascimento italiano, quando surgiu um novo

    valor de rememorao e os objetos da antiguidade (mas tambm as curiosidades)

    comeou a ser apreciado pelo valor artstico e histrico, e quando surgiram um pouco

    por toda a Europa os tesouros de prncipes e magnatas, geralmente pequenos

    palcios especiais, onde se acumulavam preciosidades e raridades.

    O homem descobrira-se a si prprio, deslumbrado pela riqueza da sua

    natureza e pela variedade das suas virtualidades, e o ecletismo dessas primeiras

    colees traduziu, de certo modo, a prpria diversidade das possibilidades humanas.

    Este culto ganhou, no obstante, muitas e novas dimenses, mas o que o

    alimentou j no a hipertrofia da histria, mas a hipertrofia da memria. De facto, a

    memria tornou-se uma obsesso cultural de enormes propores e tornou-se uma

    chave fundamental para compreendermos a sensibilidade do nosso tempo.

    5 Vallbona e Costa (2003, p.11) identidade cultural um Sistema de contedos, crenas, de ideias e pensamentos, de valores, de normas, de conhecimentos, de intenes, de desejos explcitos e conscientes, de emoes e paixes, de iluses e motivos inconscientes presentes numa dada comunidade (local, regional ou nacional) e num momento histrico determinado. Ander-Egg (1999) Toda a identidade cultural como distintivo pessoal, grupal ou nacional configura-se a partir de cinco factores principais que constituem o ncleo vivente de uma cultura Ander-Egg (1999, p. 66) Vieira (2005) A identidade no igual nem a cultura material nem a cultura imaterial. A identidade serve-se da cultura para marcar a diferena; para distinguir os de aqui dos de fora, os que classificamos como outros [...] (Vieira, 2005, p. 28).

  • 36

    Esta febre mnemnica fez da poca em que vivemos a era das

    comemoraes, como afirmou Pierre Nora (1984). O que est em jogo, assim, na

    questo da memria, a negociao do passado, o uso (cultural, poltico, ideolgico)

    do passado no presente, o privilgio das representaes relativamente aos factos e s

    prticas.

    O investimento que a sociedade local faz no que define como seu patrimnio,

    sendo substancial, demonstra como aquele se tomou basilar na definio da

    identidade local, regional, nacional, e, mais recentemente, global. Neste sentido, o

    patrimnio encerrado ou no, remete-nos automaticamente para a questo da

    memria, e esta a ncora que d substncia ao sentimento subjectivo de pertena. A

    memria do passado permite o presente e projecta o futuro da sociedade local. Assim,

    o patrimnio tomou-se, ao longo de uma modernidade caracterizada pelo efmero,

    pela produo e destruio acelerada de bens de consumo (cf. Casal, 1999), num

    veculo de transmisso, conservao e reproduo da memria social, a qual , como

    refere Paul Connerton (1993), fundamental para Iegitimar a ordem social presente.

    Neste sentido, por intermdio dos artefactos, podemos observar como uma

    comunidade constri e reconstri a sua memria cultural (cf. Branco e Oliveira, 1993;

    Branco, 2003).

    Da que existam inumeros estudos que procuram compreender os lugares

    como meios de acesso a uma memria, que no memria, histria, porque est

    reconstituda atravs de vestgios. Essa memria no mais construda na

    comunidade, mas para a comunidade pela histria, para que esta possa encontrar

    nela, elementos que legitimem a sua aco poltica no presente (Arevalo, 2007).

    Devido importncia da preservao da memria, da necessidade de

    reconstituio de si mesma, encarada como algo do passado para o presente e por

    isso preservar vestgios. Nesse ponto, observamos a importncia que adquire o

    patrimnio como materializao de uma identidade, que , acima de tudo, imaterial,

    pois deve estar constituda na memria das pessoas.

    II.4 Patrimnio, territrios rurais e turismo

    II.4.1 Patrimnio e territrios rurais

    O conceito de patrimnio tem tido, ao longo dos tempos, vrios significados.

    Comeou por estar ligado sua origem etimolgica do(do romano patrimonium) e dizia

    respeito apenas herana material e sua transmisso legal de gerao em gerao

  • 37

    (Carvalho, 2005). O patrimnio no s aquilo que herdamos, mas tambm aquilo

    que determinada gerao pretende deixar no futuro.

    Podemos dizer que o patrimnio a herana do passado, com que vivemos

    hoje, e que passamos s geraes vindouras.

    Como escreve Yves Champetir (1998), () quer seja natural ou cultural,

    paisagstico ou arquitectnico, histrico ou artstico, o rico patrimnio dos territrios

    rurais europeus representa efectivamente, um recurso a valorizar e a colocar ao

    servio de um novo desenvolvimento (Yves Champetir (1998, p.47).

    Se, tomando letra a expresso habitual nos meios de comunicao social e

    na opinio pblica, o passado uma reinterpretao para o presente, ou dito de outra

    maneira, segundo Micoud (1995, p.65), () as sociedades modernas reinterpretam a

    tradio (), o sentido de ambas as expresses conduz-nos ao reconhecimento de

    que, por exemplo, as regies e as comunidades rurais, aparentemente inertes, so na

    realidade sistemas em equilbrio, complexos mas tambm instveis.

    Os significados de patrimnio rural so variados e assumem diferentes

    modalidades. Porm, tende a prevalecer uma ideia base: a de que o mesmo

    patrimnio rural tende a ser equacionado, cada vez mais, enquanto varivel

    importante, seno mesmo determinante em alguns espaos rurais, sobretudo no

    mbito de processos de revitalizao econmica e social.

    Para falar de patrimnio rural temos que referir que este um importante

    repositrio da cultura material e imaterial do interior do Pas. Trata-se normalmente de

    patrimnio no monumental, relacionado com o trabalho pr-industrial e com os

    valores das sociedades tradicionais, por isso a sua identificao e interpretao

    complexa dado o sincretismo nas realizaes populares entre forma, funo,

    mentalidade e imaginrio.

    Alm de ser imperativo o seu conhecimento e inventariao, este patrimnio

    constitui um valor incontornvel de qualificao dos territrios e de afirmao de

    identidades, possuindo um aprecivel potencial diferenciador e aumentando a

    atractividade e competitividade regional. pois cada vez mais um desafio a sua

    integrao adequada nos instrumentos de planeamento local e regional e nas

    consequentes polticas de desenvolvimento.

    A necessidade de defender o patrimnio6 legado por geraes dos pequenos

    aglomerados rurais de construes despojadas e frgeis de cariz simplista mas

    6 Segundo, Yves Champetier (1998, p.65), () para certos territrios o patrimnio constitui o recurso em torno do qual

    podero articular-se a estratgia de(re)desenvolvimento e a vontade de forjar uma nova identidade local ().

  • 38

    extremamente eficaz no que se refere a singularidade, originalidade e genuinidade,

    como na forma criativa de gerar formas e volumes definindo espaos nicos, que

    podemos denominar por arquitetura feita pelos no arquitetos.

    A freguesia de Maceira possui todo um variadssimo patrimnio, quer

    construdo, natural e mesmo, se no o mais importante, recursos humanos, em

    quantidade e qualidade para se tornar possvel uma reinveno, ou seja, dar vida

    quilo que se julga estar num estado adormecido.

    Maceira , sem dvida, uma aldeia detentora de um vasto patrimnio,

    potenciador de inmeras aes de carcter ldico-pedaggica integradas tambmno

    mbito do patrimnio rural que pode ser potencializado atravs da animao. no

    mbito da Animao

    II.4.2 Patrimnio Cultural

    Ao longo dos tempos, tm sido vrios os conceitos para definir patrimnio

    cultural, sendo que alguns conceitos sero mais amplos que outros, e at mais

    complexos comparativamente a outros.

    A proposta de definio de Pierre-Laurent Frier diz que o patrimnio um: ...

    conjunto de marcas ou vestgios da actividade humana que uma dada comunidade

    considera essenciais para a sua identidade e memria colectivas, a preservar e

    transmitir s geraes vindouras. (Frier, 1997, p.23).

    Por outro lado o Instituto Internacional para a Unificao do Direito Privado

    (UNIDROIT) define o patrimnio cultural como: ... os bens que, por motivos religiosos

    ou profanos possuem importante valor arqueolgico, pr-histrico, literrio, artstico ou

    cientfico e que integram uma das categorias enumeradas em anexo presente

    Conveno. (Conveno UNIDROIT, 1995, Art. 2)

    Ora, esta definio aparentemente bastante rgida, inflexvel e limitada

    quanto abrangncia daquilo que se poder considerar como patrimnio cultural, no

    obstante, a Conveno para a Salvaguarda do Patrimnio Cultural Imaterial da

    UNESCO, em 2003, propem uma viso bastante mais ampla desta noo admitindo

    a existncia de patrimnio cultural imaterial7

    7 (...) prticas, representaes, expresses, conhecimentos e aptides bem como os instrumentos, objectos, artefactos e espaos culturais que lhes esto associados que as comunidades, os grupos e, sendo o caso, os indivduos reconhecem como fazendo parte integrante do seu patrimnio cultural. Esse patrimnio cultural imaterial, transmitido de gerao em gerao, constantemente recriado pelas comunidades e grupos em funo do seu meio, da sua interaco com a natureza e da sua histria, incutindo-lhes um sentimento de identidade e de continuidade, contribuindo, desse modo, para a promoo do respeito pela diversidade cultural e pela criatividade humana. (Conveno para a Salvaguarda do Patrimnio Cultural Imaterial, 2003, Art. 2, n. 1)

  • 39

    Deste modo, a partir desta noo de patrimnio cultural, pode entender-se que

    todos os bens (a nvel histrico, arqueolgico, arquitetnico e lingustico), sejam eles

    herdados ou criados, so testemunhas civilizacionais e, por isso, so portadores de

    interesse cultural.

    A perceo que as sociedades modernas tm do patrimnio cultural o

    resultado de uma evoluo rpida de conceitos, motivaes e prticas. O patrimnio

    cultural sai de uma esfera elitista para comear a interessar e a motivar os cidados

    que procuram, nos vestgios do passado, explicaes e respostas para o presente e

    para o futuro.

    H cada vez mais a conscincia e preocupao com a efemeridade do

    patrimnio, da a gnese de polticas e iniciativas que visam a preservao e a

    valorizao do patrimnio.

    Ao longo do sculo XX assistiu-se a uma progressiva mudana de atitude das

    comunidades face ao patrimnio.

    A recuperao de patrimnio deixou de ser simplesmente a recuperao de um

    determinado bem material, passou a ser a recuperao de uma identidade, que pelo

    seu valor representa um testemunho de geraes anteriores que necessita ser

    preservado. A sua preservao como valor de capacidade humana, deve ser uma

    preocupao contgua de todas as geraes (Aires-Barros, 2003).

    Segundo Costa (2003), a partir do patrimnio devemos poder ler o fluir da

    histria, o passado, o presente e o futuro em construo (Costa, 2003, p. 54)

    Porm, em 2003 que teve lugar, pela UNESCO, a Conveno para a

    Salvaguarda do Patrimnio Cultural Imaterial onde se reconheceu que o patrimnio

    apenas existe como tal se houver o reconhecimento pblico do valor de determinado

    objeto material ou imaterial, sendo importante a existncia desses mesmos objetos

    para a identidade de um determinado grupo de pessoas, contribuindo para o

    reconhecimento da importncia da defesa da diversidade cultural. Ou seja,

    reconheceu-se que este patrimnio cultural imaterial manifesta-se atravs de tradies

    e expresses orais, usos sociais, rituais e atos festivos, tcnicas tradicionais, artes e

    espetculos, conhecimentos e usos, sendo que o ser humano o centro de toda esta

    atividade e atravs destes elementos consolida a diversidade cultural que auxilia na

    distino dos povos e das suas identidades prprias.

    Todos estes aspetos apenas detm algum valor pela presena do elemento

    humano.

  • 40

    E a presena do elemento humano e toda a diversidade cultural a base para

    a prossecuo de um projeto de desenvolvimento comunitrio assente num territrio

    rural, onde recuperar patrimnio produzi-lo para o turismo. Assim, os espaos

    culturais devem ser vividos e incorporados na experincia da populao local como

    espaos sociais, funcionar como elementos unificadores e de divulgao da identidade

    desse territrio no sentido do seu prprio desenvolvimento.

    O patrimnio cultural o espelho de valores de memria, de autenticidade e

    singularidade, integrando neste contexto os bens intangveis que representam partes

    da identidade e memria de uma comunidade. Em suma, inclui-se no patrimnio

    cultural todos os bens tangveis ou intangveis, dotados de valor prprio, relevantes

    para o testemunho da identidade, cultura e histria de cada comunidade.

    II.4.3 O patrimnio ao servio do turismo

    O mundo rural detentor de todo um patrimnio cultural vivo, diversificado e

    dinmico e que so afinal as suas tradies, memrias e objetos que, por vezes, no

    so reconhecidos como cultura. Mas como nos refere Alosio Magalhes, citado por

    Maria Clia Santos, a partir deles que se afere o potencial, se reconhece a vocao

    e se descobrem os valores mais autnticos de uma nacionalidade. Alm disso, deles

    e de sua reiterada presena que surgem expresses de sntese de valor criativo que

    constitui o objeto de arte. (Santos, 1994, p.79).

    O patrimnio necessita de ser entendido em todas as suas transversalidades.

    Podendo, assim, entender toda a cultura de uma comunidade, e dos elementos que

    so parte integrante do seu patrimnio vivo e imaterial, afinal, a sua grande riqueza.

    Neste sentido, h que recolher esses elementos para os estudar, valorizar e

    preservar para finalmente os divulgar s geraes vindouras, pois a gradual e

    paulatina modernizao das comunidades rurais contribuir, inevitavelmente, para o

    desaparecimento das tradies, dos saberes e do saber-fazer da cultura local,

    contribuindo para a consequente diminuio da diversidade cultural e a diluio das

    populaes nas massas uniformizadas.

    Num mundo onde a globalizao tem trazido graves problemas na perda das

    identidades locais, a revitalizao dos espaos rurais adquirem uma importncia vital

    para a sua preservao, contribuindo em simultneo para que essas mesmas

    identidades possam permitir aos cidados refletirem sobre a sua comunidade, a sua

    identidade e os problemas quotidianos vividos por eles mesmos.

  • 41

    O patrimnio, sendo um recurso endgeno, poder ser considerado como um

    produto exclusivo das comunidades rurais e locais. Pode, por isso, ser encarado

    como um produto competitivo pela sua exclusividade.

    Ao ser preservado tanto o seu patrimnio tangvel como intangvel, est-se a

    contribuir com produtos que, postos ao


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