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Page 1: A Galáxia NGC 5866, uma pose de perfil para a foto. · primordial. Estes previam abundâncias deste elemento 2 a 3 vezes superiores às efectivamente observadas. Será que o problema

UMA PUBLICAÇÃO DO OBSERVATÓRIO ASTRONÓMICO DE LISBOA

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A Galáxia NGC 5866, uma pose de perfil para a foto.

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ENSINAR ASTRONOMIA

FICHA TÉCNICA

O Observatório é uma publicação do Observatório Astronómico de Lisboa, Tapada da Ajuda, 1349-018 Lisboa, Telefone: 213616739, Fax:213616752; Endereço electrónico: [email protected]; Página web: http://oal.ul.pt/oobservatorio. Edição: José Afonso,Nuno Santos, João Lin Yun, João Retrê. Composição Gráfica: Eugénia Carvalho. Impressão: Tecla 3, Artes Gráficas, Av. Almirante Reis, 45A,1150-010 Lisboa. Tiragem: 2000 exemplares. © Observatório Astronómico de Lisboa, 1995.

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João Lin Yun, Director do Boletim O Observató[email protected]

EM AGOSTO PASSADO, estive presente na XXVI Assembleia Geral da UniãoAstronómica Internacional (IAU). A IAU é o órgão internacional que representaos astrónomos de todo o mundo. Para além da muito mediática definiçãocientífica de planeta aí adoptada, esta Conferência incluiu dezenas de outroseventos, tais como Simpósios, Discussões Conjuntas, Sessões Especiais ereuniões de Grupos de Trabalho específicos. Quero aqui salientar a Sessão

Especial dedicada ao Ensino e Divulgação pública da Astronomia, dada a suaimportância e relevância para todos nós que ensinamos Astronomia e procuramoslevar ao público o conhecimento do Universo.

Foi salientada a resolução da IAU de 2003 respeitante ao valor da Educação daAstronomia. Nela se recomendava que: 1) a Astronomia deve ser ensinada como disciplinaseparada nos currículos escolares; 2) é preciso implementar um sistema de apoio etreino aos professores dos ensinos básico e secundário que ensinam Astronomia.

Outro aspecto de grande relevância, não só para o ensino da Astronomia mas para oensino de qualquer Ciência, consiste na ênfase a colocar na parte experimental (ensinomais “hands-on”). Aqui, contudo, foi interessante ver como se reconhece agora queapenas “hands-on” não basta para manter o interesse dos estudantes bem desperto(não esqueçamos que de acordo com as respostas de estudantes a inquéritos realizados,a maioria diz que “a ciência é aborrecida”). “Hands-on” pode servir para iniciar ointeresse. Mas mantê-lo desperto exige uma abordagem “minds-on”. Isto significamanter o estudante continuamente envolvido no que se passa, pedindo a sua participaçãocontínua, por exemplo pedindo-lhe que preveja o que vai acontecer numa dada experiência“hands-on”, ou numa experiência imaginada. Um exemplo deste procedimento é pedirao estudante que considere um automóvel de cor azul estacionado por baixo de umcandeeiro de luz amarela. Qual a cor que o automóvel exibe nessa situação a um transeunteque passa na rua? Hipóteses: A) cor preta; B) cor azul; C) cor amarela; D) cor verde; E)cor branca. Para os mais picuinhas, convém acrescentar que as cores aqui devem serconsideradas puras, isto é, monocromáticas. A resposta dos estudantes depende umpouco do nível etário (ou de ensino), mas a maioria dos estudantes parece escolher aopção D! E você?

Ao nível universitário, a recomendação principal desta Sessão Especial foi sobretudoque se faça uma ligação entre o ensino e a investigação, levando os estudantes aparticiparem desde muito cedo no processo de descoberta e construção científica, comênfase portanto não na Ciência já feita, mas sim na Ciência a fazer-se.

Com enorme interesse, a abordagem multicultural da Astronomia revela bem comoesta é universal. Em todas as culturas aparecem interpretações dos fenómenosastronómicos vistos por pessoas de todo o mundo. Os estudantes podem analisar asdiferenças e semelhanças entre elas, muitas delas baseadas na organização dasactividades religiosas ou económicas. Pode-se concluir do impacto que fenómenosastronómicos (como fases da lua, eclipses, estações do ano, ciclos dia/noite) tiveramna organização das vidas das pessoas. Por exemplo, o estabelecimento de calendáriosfoi fortemente determinado pelas tradições culturais incluindo as observações celestesfeitas pelos nossos antepassados. Povos de diferentes latitudes organizam as suasvidas de forma a adaptarem-se ao movimento do Sol no céu. Na sociedade egípciaantiga, era crucial prever a altura do ano em que ocorriam as inundações do rio Nilo,do qual toda a vida dessa região ainda hoje depende. Os egípcios recorriam à estrelaSirius para fazer essa previsão. Por sua vez, o desaparecimento anual das Plêiadesera usado por algumas tribos índias da América do Norte como indicação de que tinhachegado o fim do Inverno e era pois seguro iniciar o cultivo de alimentos. Também aorientação de constelações como as Ursas em certos momentos durante a noite, erausada como indicação de mudança de estações. Com o auxílio de mapas e globoscelestes, planisférios, software astronómico, etc., os estudantes podem verificarestas observações e a sua utilidade para os povos de cada região da Terra.

O fascínio da Astronomia em acção!

NA CAPA:

Imagem de perfil da galáxiaNGC 5866, obtida com o auxíliodo Telescópio Espacial Hubble. Épossível observar uma faixa depoeira que rodeia o núcleobrilhante e divide o ténue bojo dagaláxia em dois. Esta faixa estáligeiramente distorcida compa-rativamente ao disco de estrelas,de tom azul, que se pode observarparalelamente a esta. "Pequenos"filamentos de gás e poeira sãovisíveis em tom avermelhadosaindo perpendicularmente àfaixa central de poeira. A presençadestes filamentos é um bomindicador da quantidade deestrelas que foram formadasrecentemente, pois estes sãooriginados pelos processosenergéticos de estrelas jovens ede grande massa.

A uma distância de 44 milhõesde anos-luz, a NGC 5866 estálocalizada na constelação doDragão e possui um diâmetro deaproximadamente 60 mil anos-luz.Cortesia: NASA, ESA e The HubbleHeritage Team (STScI/AURA).

Cortesia: J.P. Harrington e K.J. Borkowski(Universidade Maryland), e NASA.

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UM PROBLEMA COSMOLÓGICO RESOLVIDO? Nuno Santos CAAUL/OAL

O estudo de um conjunto de estrelas doenxame globular NGC6397 parece mostrar queas abundâncias dos vários elementos presentesna atmosfera de uma estrela pode diminuir aolongo do tempo devido a processos desedimentação. A confirmar-se, este resultadoresolve uma importante discrepância existenteentre a abundância de lítio observada emestrelas muito antigas e os valores previstospela teoria do Big-Bang.

Segundo os modelos actuais, o Big-Bang terádado origem a grandes quantidades dehidrogénio, um pouco de hélio, e algunspozinhos de outros elementos. Entre estesúltimos encontra-se o lítio. Se for possívelmedir a quantidade de lítio existente emestrelas muito antigas, que se formaram poucoapós o Big-Bang (ou seja, a partir de materialpouco ou nada contaminado pelo materialejectado por anteriores gerações de estrelas),podemos assim tentar comparar com os valores que os modelosprevêm, e testar as teorias actuais. Em particular, segundo osmodelos espera-se que a quantidade relativa de lítio produzidono Big-Bang esteja intimamente ligada à quantidade total dematéria produzida, algo que foi recentemente estimado usandoestudos da radiação cósmica de fundo.

No entanto, a medição das abundâncias de lítio em estrelasmuito velhas da nossa galáxia parecia mostrar um desacordo emrelação aos valores esperados pelos modelos de nucleossínteseprimordial. Estes previam abundâncias deste elemento 2 a 3 vezessuperiores às efectivamente observadas. Será que o problemapode estar na teoria do Big-Bang, ou será que os valores das

Observações detalhadas de estrelas, com oVery Large Telescope (VLT), do ESO, estãoa revelar a história da Via-Láctea, uma galáxiaem que a parte central se formou muitorapidamente e muito antes do próprio disco.

Este conjunto de (muitas) estrelas que incluio Sol, a Via-Láctea, é uma galáxia espiral,com um núcleo esferóide (bojo) de ondepartem braços ricos em estrelas, gás e poeira.Entre as estrelas dos braços espiraisencontram-se representantes de todas asidades, mas no bojo existem essencialmenteestrelas muito velhas, com mais de 10 milmilhões de anos, possivelmente rema-nescentes da formação da própria Galáxia.

Com o objectivo de estudar a formação daVia-Láctea, uma equipa de astrónomosutilizou o Very Large Telescope para obterespectros detalhados de 50 estrelas gigantessituadas no bojo da Galáxia. A análise destesdados permitiu-lhes determinar com grandeprecisão a composição química destasestrelas, o que revela o enriquecimento domaterial interestelar na altura da sua própriaformação. Ora, este enriquecimento dependeda formação estelar anterior, pelo que se torna possível distinguir

entre diferentes grupos de estrelas.A equipa de investigadores, comparando

as abundâncias de oxigénio - produzidoprincipalmente na explosão de estrelas degrande massa e de vida curta, em explosõesde supernova tipo II - com as abundânciasde ferro - produzido em grande parte emsupernovas tipo Ia, que nascem daacumulação de material em torno de umaanã branca, num processo muito maisdemorado - nas estrelas estudadas,conseguiram mostrar que, para uma mesmaquantidade de ferro, as estrelas do bojopossuem muito mais oxigénio que as estrelasno disco. Concluíram assim que as estrelasdo bojo não se formaram no disco, migrandodepois para a parte central da Galáxia, masque se formaram independentemente dasestrelas do disco e muito mais rapidamenteque estas últimas.

Os modelos teóricos apontam para umbojo que se terá formado em menos de milmilhões de anos, muito provavelmenteatravés de uma série de eventos de formaçãoestelar intensa, quando o Universo tinha

apenas uma fracção da sua idade actual.

abundâncias medidas nas estrelas podem nãoreflectir o valor da abundância de lítio inicial?

Um estudo realizado por uma equipaeuropeia de astrofísicos parece ter dado agoraa resposta a esta questão. Os astrofísicosutilizaram o espectrógrafo FLAMES acopladoa um dos grandes telescópios do VLT (ESO)para obter espectros de estrelas do velhoenxame globular NGC6397. As estrelasobservadas encontram-se em diferentes fasesde evolução.

A análise dos espectros mostrou que asabundâncias dos vários elementos estudadosvariam de estrela para estrela consoante a faseevolutiva em que esta se encontra. Nas estrelasda sequência principal (SP; estrelassemelhantes ao Sol) os valores são inferioresaos encontrados em estrelas gigantes, emestágios evolutivos mais avançados. Estavariação é interpretada como resultado da

sedimentação dos elementos pesados para o interior da estrelasob a acção da gravidade estelar, um processo que se dá duranteo longo período em que a estrela passa na SP. Quando a estrela saidessa fase e se transforma progressivamente numa estrela giganteo material volta a misturar-se, repondo as abundâncias iniciais.

Os modelos que explicam as abundâncias observadas nas estrelasdo NGC6397 indicam também que o mesmo processo se deve darcom o lítio. Assim, é provável que as abundâncias observadas emestrelas muito antigas nos dêm valores inferiores aos reais. Sedescontarmos o efeito da sedimentação, os valores observados nasestrelas parecem de facto coincidir com o esperado pela teoria doBig-Bang.

Imagem do enxame globular NGC6397.Este enxame encontra-se a cerca de7200 anos-luz da Terra na direcção daconstelação da Ara (Altar). Cortesiado ESO.

A GÉNESE DA VIA-LÁCTEA José Afonso CAAUL/OAL

Uma região do céu na direcção do bojoGaláctico, onde as estrelas se terão formadoindependentemente, e muito mais rapi-damente, que as estrelas do disco (onde sesitua o Sol). No canto inferior esquerdo évisível o enxame globular NGC 6528. Aimagem é uma composição de imagensobtidas com o instrumento FORS do VLT.Cortesia: Henri Boffin e ESO.

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O QUE SÃO AS “CHUVAS DE ESTRELAS”?

Na edição de Abril, estas páginas centrais foramdedicadas à colisão de objectos provenientes do Espaçocom a Terra. Desta vez centramo-nos nos meteoros, ou,em linguagem popular, “estrelas cadentes”. Recorde-seque se atribui a designação de meteoro ao rasto luminosoque se pode observar no céu quando um meteoróide (umcorpo com dimensões entre 0.01 milímetros e 10 metros)se desintegra na atmosfera terrestre, tipicamente a cercade 90 quilómetros de altitude.Durante muito tempo, os meteoros foram considerados

como fenómenos puramente atmosféricos, daí que aindahoje se empregue o termo “meteorologia” para designaro estudo de tais fenómenos.Em média, num ano típico (isto é, sem impactos de

corpos de grandes dimensões), 75mil toneladas de material provenientedo Espaço atingem a atmosferaterrestre, pelo que os meteorosocorrem com bastante frequência(as taxas de meteoros esporádicossituam-se, tipicamente, entre 5 e 10por hora). No entanto, há certasépocas do ano em que não só seobserva um maior número demeteoros (até taxas de 100 porhora), como estes parecem serprovenientes de uma determinadaregião no céu. Trata-se dos enxamesde meteoróides, ou, na linguagempopular, “chuvas de estrelas”. Osmeteoróides são essencialmenteprodutos da desintegração decometas e asteróides, ainda que umapequena percentagem possa terorigem inter-estelar. No caso de um enxame demeteoróides, todos os objectos são provenientes de ummesmo corpo, geralmente um cometa. Os meteoróidesdistribuem-se ao longo da trajectória do seu corpo deorigem. Quando a Terra, no seu movimento anual emtorno do Sol, cruza essa trajectória, muitas partículasentram na atmosfera terrestre, daí que, por essa altura,sejam eventualmente visíveis numerosos meteoros.Sublinhe-se “eventualmente”, pois nem sempre uma chuvade meteoróides se traduz na espectacularidade que é,por vezes, anunciada na comunicação social (comoaconteceu em Agosto de 1993 em Portugal, a propósitodas Perseidas).No entanto, é certo que se têm verificado,

episodicamente, “tempestades de meteoros”. Tratam-se

de “chuvas” de especial intensidade, com grande númerode meteoros, que ocorrem poucas vezes por século eduram apenas algumas horas. Constituem bons exemplosas Leónidas de 1833, em relação às quais os cientistasconstataram, pela primeira vez, que o ponto de origemdos traços luminosos parecia estar fixo em relação àsestrelas. Com esta tempestade, que teve especial impactonos EUA, inaugurou-se a ciência dos meteoros. Maistarde, em 1867, o astrónomo italiano Giovanni Schiaparelli(1835-1910) desvendou a relação entre as Perseidas e ocometa Swift-Tuttle. Subsequentemente, foramestabelecidos os corpos de origem para muitos outrosenxames. Em 1966, as Leónidas manifestaram-se comuma tempestade que atingiu a taxa horária de 200 milmeteoros, por um período de 40 minutos. Em Portugal,causou especial impressão uma tempestade de meteoros

observada em 1933. Tratava-se dasDracónidas, que nesse anoproduziram uma chuva espectacular,com o número médio de meteorospor hora a atingir os 20 mil. Estastempestades devem-se à existênciade feixes de meteoróides muitocompactos e estão frequentementeassociadas à passagem recente docometa de origem. Foi o quesuscitou, em 1993, a grandeexpectativa em torno das Perseidas– gorada, diga-se, pelo menos parao grande público – pois o cometaSwift-Tuttle passara no periélio emDezembro de 1992. No entanto,como se viu, não só isto não garantea ocorrência de uma tempestade,como estas podem ocorrer quando ocorpo de origem dos meteoróides se

encontra muito afastado.Os rastos luminosos que se podem observar no céu por

altura de um enxame resultam da interacção dosmeteoróides com a atmosfera terrestre, na qual penetrama velocidades da ordem de várias dezenas de quilómetrospor segundo. A superfície do meteoróide começa por seraquecida pelo impacto das moléculas da atmosfera.Quando a sua temperatura superficial atinge valoressituados entre 2500 e 2900 ºC, o meteoróide começa aperder massa. Este fenómeno pode dar-se mediante trêsprocessos distintos, ainda que, eventualmente, simultâneos:fusão, volatilização e fragmentação. O material que seliberta do meteoróide forma, juntamente com o ar, uminvólucro gasoso que emite radiação. É esta a responsávelpelo fenómeno visível a que se dá a designação de

OBSERVAR “CHUVAS DE ESTRELAS”

Fig. 1 - As Leónidas de 1998, numa imagem de todo océu obtida no Observatório Modra (Eslováquia).Pode-se observar que os meteoros parecem serprovenientes de uma mesma região no céu.

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Pedro Raposo

“meteoro” e que, tipicamente, tem uma duraçãocompreendida entre 0.1 e 10 segundos (a duração médiasitua-se nos 0.3 segundos).

Os meteoróides de um enxame descrevem trajectóriasparalelas (v. Fig 1), daí que, quando estas são traçadas numacarta celeste, se intersectem num ponto designado porradiante, do qual todosparecem ser prove-nientes. As chuvas deestrelas recebem onome da constelaçãona qual se encontra oradiante. Por exemplo,as Perseidas têm o seuradiante na conste-lação de Perseu,enquanto o radiante dasLeónidas se localiza,como imediatamente sedepreende, na conste-lação do Leão.

Os meteoróidesconstituem amostrasdos seus corpos deorigem (cometas easteróides) e são, porisso, “documentos”importantes para ahistória e evolução doSistema Solar. A abordagem científica dos meteoróidesvisa a caracterização das suas dimensões, propriedadesmecânicas e composição química, bem como adeterminação da sua abundância e distribuição no SistemaSolar. A observação anual da actividade dos enxames demeteoróides fornece informação relativa à sua distribuiçãonas órbitas dos cometas e, por conseguinte, aos processosde ejecção de material a partir destes corpos.

QUANDO SE DÃO AS PRINCIPAIS “CHUVAS DE ESTRELAS”?

No Quadro 1 (retirado da publicação do OAL “DadosAstronómicos para os Almanaques em Portugal em2006”, com versão on-line em www.oal.ul.pt), sãoapresentados os principais enxames de meteoróides. Osenxames com maior número médio de meteoros por horatêm o nome assinalado a negrito. De entre os enxamesdeste mês e do próximo, merecem destaque as Leónidas,que têm o seu máximo em 18 de Novembro.

COMO OBSERVAR E O QUE FAZER COM ASOBSERVAÇÕES?

Há alguns aspectos básicos que devem desde logo ser

tidos em consideração. Em primeiro lugar, o local deobservação. Este deve ser, tanto quanto possível,afastado dos grandes centros urbanos e livre de poluiçãoluminosa. Observadores que se iniciam e procuram oestímulo de uma sessão observacional compensadora,devem escolher a data do máximo do enxame respectivo.

Devido ao movimentoda Terra, as melhoreshoras para efectuar aobservação são asque precedem oamanhecer, já com anoite bem avançada.R e c o m e n d a - s eatenção ao conforto –uma cadeira reclinávelserá uma boa opção.Igualmente deve-seprestar atenção àescolha dos agasalhosadequados, mesmonos meses maisquentes, uma vez queas observações de-vem ser feitas antesdo amanhecer. Umregisto essencial paraa elaboração dequalquer relatório

observacional consiste nas horas a que se fazem asobservações. Quem pretenda submeter as suasobservações ou confrontá-las com as de observadoresestrangeiros deve, preferencialmente, indicar as horasem Tempo Universal (em Portugal Continental, subtrai--se uma hora no período da hora de Verão; a hora deInverno coincide com o TU). Também é útil oconhecimento das coordenadas geográficas (mesmo queaproximadas) do local de observação.

Uma actividade simples consiste em contar o númerode meteoros por hora. Observadores com algumaexperiência e conhecimento da posição das constelaçõese estrelas mais brilhantes podem munir-se de uma cartado céu e procurar traçar trajectórias de meteorosobservados, de modo a conferir a posição do radiante,isto é, o ponto em que as trajectórias se intersectam.

Quem pretenda contribuir com os seus dados paraprogramas observacionais mais avançados e amplosencontrará, no sítio da American Meteor Society(http://www.amsmeteors.org) váriosformulários de observação e respectivas instruções.

O autor agradece os elementos fornecidos pela Dr.ªAlfredina do Campo.

Quadro 1 - Principais enxames de meteoróides. Para mais informações consultar www.oal.ul.pt(secção Almanaques – Outros elementos).

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João Retrê

Durante séculos a única ferramenta que a Humanidadepossuiu para observar o céu foi a sua visão. Desprovidos dequalquer instrumento tecnológico que os auxiliasse nacompreensão dos fenómenos que presenciavam, atribuíam acorpos celestes designações baseadas naquilo queobservavam. Numa noite de boa visibilidade e num local longede poluição luminosa, é possível observar sem o auxílio dequalquer instrumento, miríades de objectos celestes. Emborase possa claramente ver que os objectos que mais sobressaemsão as estrelas, existem no entanto outros corpos queaparentam mover-se no céu em relação ao “pano de fundo” deestrelas. Foram precisa-mente estes corpos quedespertaram a curiosidadenas pessoas da Antigui-dade, que observavam o seu“movimento” acabando poratribuir a estes objectos adesignação de “planetas”,expressão proveniente dapalavra grega “errantes”.

O desenvolvimento lado alado da Ciência e Tecnologiaveio proporcionar umacompreensão mais aprofun-dada do Universo que nosrodeia. Métodos de obser-vação e de análise conti-nuam a ser melhorados,fornecendo muitos maisdados acerca dos corpos celestes.

Será de esperar então, que este desenvolvimento da Ciência/Tecnologia venha consequentemente colocar em causa algunsconceitos centenários. No caso dos “planetas”, hoje possuímosmuito mais conhecimento acerca destes objectos do que osimples facto de estes se “moverem” em relação ao “pano defundo das estrelas”.

A descoberta de novos objectos, nas regiões exteriores doSistema Solar, com dimensões comparáveis e mesmo superioresàs de Plutão, vieram colocar em causa o significado da palavraque tantas vezes usamos no quotidiano – “planeta”.

Na 26ª Assembleia Geral da União Astronómica Internacional,realizada em Praga, na qual participaram mais de 2500astrónomos, foi votada uma resolução que visou a criação deuma definição científica de “planeta”. Tendo esta resoluçãosido aprovada, a palavra “planeta” passou a ter um novosignificado. Todos os corpos no nosso Sistema Solar, com aexcepção dos satélites naturais, foram integrados em trêscategorias: Planeta, Planeta Anão e Pequenos Corpos doSistema Solar. Para se enquadrarem em qualquer uma destastrês categorias, os corpos celestes têm de obedecer aosseguintes requisitos:

1- Um Planeta é um objecto celeste que:

a) se encontra em órbita em torno do Sol;b) possui massa suficiente para se manter em equilíbrio

hidrostático (possuindo assim uma forma aproximadamenteesférica);

c) tenha a vizinhança da sua órbita “livre” de outros objectos.

2- Um Planeta Anão é um objecto celeste que:

a) se encontra em órbita em torno do Sol;b) possui massa suficiente para se manter em equilíbrio

hidrostático (possuindo assim uma forma aproximadamenteesférica);

c) não tenha a vizinhança da sua órbita “livre” de outrosobjectos;

d) não seja um satélite.

3- Todos os outros objectos que não se enquadram nascategorias acima descritas,serão designados colec-tivamente como PequenosCorpos do Sistema Solar.

As definições acimareferidas são feitas nocontexto do Sistema Solar.Para generalizar asdefinições de Planeta e dePlaneta Anão, bastaacrescentar que estes doistipos de objectos orbitamuma estrela (no caso doSistema Solar, o Sol) semque eles próprios sejamestrelas. É que existem noUniverso muitos sistemasbinários, em que duas

estrelas se orbitam mutuamente e obviamente nem uma nemoutra é um planeta.

Segundo esta resolução, Plutão, historicamente reconhecidocomo o nono planeta do Sistema Solar, passou a ser um planetaanão. A sua despromoção tem origem no facto de a órbita destecorpo residir numa zona conhecida por albergar muitos outrosobjectos e designada como Cintura de Kuiper. Com este facto,a vizinhança da órbita de Plutão não se encontra “livre” deoutros corpos e consequentemente Plutão não obedece a umdos requisitos da nova definição de planeta. No entanto, Plutãonão se encontra sozinho na sua nova categoria. Em 2003, foidescoberto em órbita do Sol, também na Cintura de Kuiper, umcorpo com dimensões iguais ou mesmo superiores à do novoplaneta anão, ao qual foi atribuído o nome provisório de 2003UB 313. Devido ao facto de este se encontrar nas mesmascondições que Plutão, face aos requisitos da definição deplaneta anão, o 2003 UB 313, popularmente conhecido comoXena foi também enquadrado na categoria de Plutão, assimcomo Ceres – o maior asteróide da Cintura de Asteróides. Corposcomo os cometas e a maioria dos asteróides e objectos Trans--Neptunianos, passaram a ser classificados como PequenosCorpos do Sistema Solar.

É provável que sejam anunciados mais planetas anões nospróximos meses, como é o caso de alguns dos maioresasteróides, e talvez hajam ainda dezenas à espera de seremdescobertos.

O Sistema Solar pode ter “perdido” um planeta, mas “ganhou”três novos planetas anões.

PLUTÃO, O PLANETA ANÃO

Ilustração artística dos oito planetas e três planetas anões do Sistema Solar. Créditos:União Internacional de Astronomia / Martin Kornmesser.

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PARA OBSERVAR EM OUTUBROVISIBILIDADE DOS PLANETASMercúrio: Este planeta será visível após o ocaso do Sol na direcção Oeste. Entre os dias 25 e 28, Mercúrio encontrar--se-á no céu bastante próximo de Júpiter.Vénus: Não será visível durante todo o mês devido a estar bastante próximo do Sol.Marte: Durante o mês de Outubro, Marte continuará na constelação de Virgem passando bastante próximo da estrelaEspiga no dia 13. Com o seu ocaso a ocorrer cada vez mais cedo, este planeta deixará de ser visível em finais deOutubro. Estará em conjunção no dia 23 às 8h.Júpiter: Será visível nas primeiras horas após o ocaso do Sol. A duração da sua presença no céu nocturno irá diminuircom o avançar do mês.Saturno: Com o seu nascimento a ocorrer cada vez mais cedo, este planeta será visível durante a segunda metade danoite até ao nascer do Sol.Urano e Neptuno: Estes dois planetas serão observáveis durante quase toda a noite. Urano passará bastante próximoda Lua no dia 5 de Outubro por volta da 1h. Será necessário o auxílio de um telescópio para poder observar estesplanetas.

Maarten Roos SeroteCatarina Fernandes

Carla Natário

ASTRO S

UDOKUA

STRO SUDOKU

Complete a grelha de modo a que cada linha, coluna e grelha 3x3contenha as letras ACEMNRSTX. Depois da grelha totalmente preenchida,descubra o nome de dois planetas e de dois planetas anões do Sistema Solar,

que poderão estar escritos segundo qualquer direcção e sentido.Nota: O nome de um dos planetas anões é o nome pelo qual ele é mais

conhecido.

28-29 de Outubro - Na noite de 28 para 29 entramos na Hora deInverno. A hora legal de Portugal Continental irá coincidir como Tempo Universal coordenado a partir da 1h deste dia. Assim, nodia 29, quando o seu relógio marcar 2h não se esqueça que o teráde atrasar para a 1h.

ALGUNS FENÓMENOS ASTRONÓMICOS FASES DA LUA

Quarto Crescente 29 Out - 21hLua Cheia 07 Out - 04hQuarto Minguante 14 Out - 01hLua Nova 22 Out - 06h

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1 de Outubro às 0h16 de Outubro às 23h

O CÉU DE OUTUBRO

Sol Mercúrio Vénus Marte Júpiter Saturno Urano Neptuno

Dia Nasc./Ocaso Ocaso Ocaso Ocaso Ocaso Nasc. Pass. Ocaso Pass. Ocaso

01112131

07h 32m/19h 20m

07h 42m/19h 05m

07h 52m/18h 50m

07h 02m/17h 38m

20h 05m

19h 56m

19h 43m

18h 14m

19h 09m

18h 59m

18h 50m

17h 43m

19h 38m

19h 15m

18h 52m

17h 30m

21h 09m

20h 35m

20h 02m

18h 30m

03h 41m

03h 06m

02h 31m

00h 55m

23h 49m

23h 08m

22h 28m

20h 48m

05h 29m

04h 48m

04h 07m

02h 27m

22h 14m

21h 34m

20h 55m

19h 15m

03h 27m

02h 48m

02h 08m

00h 28m

(para Lisboa; são necessárias pequenas correcções para outros locais do país. Veja em www.oal.ul.pt para outros dias)NASCIMENTO, PASSAGEM MERIDIANA E OCASO DOS PLANETAS

O mapa mostra o céu como pode ser observado em Portugal (latitude 38º N) nos dias e horas (legais) indicados. Orienteo mapa com a direcção para onde olha virada para si, p.e. se estiver a olhar para o Norte, vire esta página ao contrário.Este mapa pode ser usado igualmente noutros dias e horas de Outubro, apresentando-se o céu um pouco diferente.


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