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DAVID ROZA JOSÉ MATHEUS LUCHESE SGUISSARDI QUALITY FUNCTION DEPLOYMENT (QFD) Resumo do desdobramento da função qualidade na gestão de desenvolvimento de produtos. Professor: André Olah Neto Joinville, Santa Catarina Abril de 2011.
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Trabalho QFD

Jul 24, 2015

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Page 1: Trabalho QFD

DAVID ROZA JOSÉ

MATHEUS LUCHESE SGUISSARDI

QUALITY FUNCTION DEPLOYMENT (QFD)

Resumo do desdobramento da função qualidade na gestão de desenvolvimento de produtos.

Professor: André Olah Neto

Joinville, Santa Catarina Abril de 2011.

Page 2: Trabalho QFD

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 3

2. HISTÓRIA ............................................................................................................ 4

2.1. Histórico do QFD no Brasil............................................................................. 5

3. O QUE É QFD ....................................................................................................... 7

3.1. Definição ........................................................................................................ 8

3.2. Princípios ........................................................................................................ 9

3.3. Tipos de QFD ............................................................................................... 10

3.3.1. QFD das Quatro Fases ........................................................................... 10

3.3.2. QFD estendido ....................................................................................... 10

3.3.3. QFD das Quatro Ênfases ........................................................................ 11

3.3.4. A Matriz das Matrizes ............................................................................ 12

3.3.5. Desdobramento da qualidade (QD) ........................................................ 12

3.3.6. Casa da Qualidade ................................................................................. 12

3.3.6.1. Os Elementos da Casa da Qualidade ................................................... 15

3.3.6.2. Tabela das Características de Qualidade ............................................. 19

4. APLICAÇÃO ...................................................................................................... 27

4.1. Exemplo: Agregando Valor ao . Desenvolvimento de Embalagem Orientado pelo QFD .............................. 27

4.1.1. Introdução ao Projeto ............................................................................. 27

4.1.2. Objetivo ................................................................................................. 27

4.1.3. Aplicação do método QFD ..................................................................... 28

4.1.4. Principio das Tabelas de Função de Embalagem .................................... 28

4.1.5. Matrizes Elaboradas – Modelo Conceitual ............................................. 29

4.1.6. Definindo o Padrão Técnico de Processo de Embalagem (PTPE) ........... 30

4.1.7. Disseminando os Requisitos do Consumidor para o Processo Todo ........ 30

4.2 Resultados ................................................................................................. 32

4.2.1 Considerações Finais ............................................................................. 33

5. BENEFÍCIOS DO QFD ....................................................................................... 34

6. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 35

7. REFERÊNCIAS .................................................................................................. 36

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1. INTRODUÇÃO

O QFD teve inicio há mais de 20 anos no Japão como um sistema da qualidade voltado para a entrega de produtos e serviços que satisfizessem o cliente. Para agregar valor é necessário ouvir a ‘’Voz do Cliente’’ durante o processo de desenvolvimento do produto ou do serviço. O Dr. Yoji Akao e outros especialistas em qualidade no Japão desenvolveram as ferramentas técnicas do QFD e as organizaram em um estruturado sistema da Qualidade de fácil compreensão e aplicação de produtos e serviços garantindo assim a qualidade aos seus clientes.

QFD é mais que uma metodologia da qualidade baseada em matrizes; é uma

importante ferramenta de planejamento, comunicação e documentação do desenvolvimento de novos produtos e melhoria dos existentes, que auxilia a redução de custos e garante a melhoria da qualidade. A metodologia do Quality Function Deployment é um instrumento poderoso para a melhoria da qualidade. Uma de suas propriedades mais importantes é a visualização de dados e seus inter-relacionamentos. O QFD atualmente é parte essencial da Gestão da Qualidade Total para toda organização competitiva.

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2. HISTÓRIA

O surgimento e desenvolvimento do QFD situa-se no cenário do pós-Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando o paradigma taylorista-fordista de produção já não se mostrava capaz de dar respostas satisfatórias aos problemas que a nova ordem mundial acarretava para a indústria de bens e serviços. Diante do acelerado e globalizado crescimento da competição, das rápidas mudanças tecnológicas, da acentuada diminuição do ciclo de vida dos produtos e das crescentes demandas dos consumidores, as empresas começaram a desenvolver métodos e técnicas que lhes permitisse mais agilidade no tempo de resposta, incremento da produtividade, desenvolvimento de produtos com alta qualidade, total satisfação do cliente e menor custo.

Como esses atributos estão diretamente ligados ao grau de eficiência e eficácia do processo de desenvolvimento de produtos adotado em cada empresa, os formuladores do QFD focaram sua atenção no desenvolvimento de produtos, por considerá-lo a chave para a competitividade. Assim, observaram que em plena era da Gestão pela Qualidade Total - TQC, na década de 60, as ferramentas para a garantia da qualidade utilizadas pelas empresas japonesas no desenvolvimento de produtos, tais como Controle Estatístico de Processo - CEP e Padrão Técnico de Processo - QC Process Chart se concentravam apenas no estágio da produção e por isso mesmo já não conseguiam responder satisfatoriamente às necessidades das empresas.

Segundo Akao (1996), foi justamente nessa época que começou a se consolidar o conceito da Garantia da Qualidade - GQ no Japão, agora, estendido "desde o estágio de estabelecimento da qualidade do projeto, pois não bastava mais garantir a qualidade de fabricação". A qualidade passou a ser "assegurada como um sistema, envolvendo todos os processos: projeto da qualidade, o qual começa com a identificação do mercado, a preparação para a produção, as compras, a produção, a inspeção e, finalmente, vendas".

As primeiras tentativas do Desdobramento da Qualidade - QD foram iniciadas

pelo Prof. Yoji Akao, a partir de 1966, motivado segundo suas palavras "pela falta de clareza na determinação da qualidade de projeto, apesar de sua importância ser tão proclamada". Além disso, as linhas de produção não eram "instruídas quanto aos pontos prioritários que devem ser considerados para assegurar a qualidade do projeto" e o Padrão Técnico de Processo "continuava a ser elaborado após o início da produção". De 1966 a 1972 o Prof. Akao realizou pesquisas em conjunto com as empresas, resultando daí a publicação que contém toda a base do Desdobramento da Qualidade- QD, mas segundo o próprio autor as etapas desenvolvidas ainda não eram "suficientes quanto ao método e ao conceito de como estabelecer a qualidade do projeto." Com a divulgação, em 1972, da Matriz da Qualidade, elaborada pelo Estaleiro Kobe de Mitsubishi Heavy Industry, o conceito de Desdobramento da Função Qualidade se consolidou por meio da junção do Desdobramento da Função Qualidade no sentido restrito - QFD, definido pelo

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Dr. Shigeru Mizuno (1978), com o Desdobramento da Qualidade- QD, proposto por Akao (1972).

O Desdobramento da Qualidade oferece atividades que garantem a qualidade no

início do processo e o Desdobramento da Função Qualidade oferece métodos concretos para a “Garantia da Qualidade no Desenvolvimento de Novos Produtos”, assegurando a qualidade em todos os processos, desde o início do desenvolvimento até o projeto (AKAO, 1996).

A partir de 1978, as atividades que garantem a qualidade passaram a ser

praticadas desde o início do processo de desenvolvimento de produtos e sua implantação nas empresas começou a tomar maior impulso. Em 1983, o método desenvolvido pelos japoneses foi apresentado à Associação Americana de Controle da Qualidade, tendo sido realizado no mesmo ano, em Chicago, o Seminário de Desdobramento da Função Qualidade, após o qual passou a ser amplamente divulgada e aplicada nos Estados Unidos e países da Europa como Quality Function Depoyment - QFD.

2.1. Histórico do QFD no Brasil Boa parte da história do QFD - as causas que lhe deram origem, a construção do

conceito, suas primeiras aplicações e o contexto histórico em que surgiu e se firmou – é registrada pelo Dr. Yoji Akao, um de seus principais formuladores e divulgadores (CHENG, 1995).

No Brasil, trabalhos acadêmicos de autores que têm se dedicado à compreensão

e transposição do QFD para a realidade brasileira, desenvolvendo aplicações desse método em diferentes áreas da atividade humana, têm enfatizado as vantagens e benefícios da aplicação desse método (CHENG, 1995; FIATES, 1995; GIANOTTI, 1996; VIEIRA, 1996; PEIXOTO, 1998; SANTOS, 1999; SILVA, 2001). O QFD chega ao Brasil por meio de organizações ligadas ao movimento nacional pela qualidade deflagrado a partir da década de oitenta e marcado pelo lançamento, em 1990, do Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade - PBQP. O PBQP foi uma iniciativa do Governo Federal para apoiar o esforço de modernização da indústria brasileira, por meio da promoção da qualidade e produtividade, com vistas a aumentar a competitividade de bens e serviços produzidos no País. Seu principal objetivo foi estimular a reestruturação competitiva das empresas, para o desafio do mercado global e para a atualização tecnológica de processos operacionais e de gestão. Este programa foi iniciado tendo como estratégia mobilizar os diferentes segmentos da sociedade para estas questões, com ênfase na atração do setor industrial. O Governo liderou o processo, articulando entidades governamentais e a sociedade civil (CHENG, 1995).

Pode-se considerar que esse movimento pela qualidade e produtividade foi bem

sucedido, no que diz respeito a uma parcela da indústria. A pressão da competição,

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aliada a uma maior consciência dos consumidores, fez com que o PBQP fosse reconhecido como um importante instrumento para a competitividade da indústria nacional. Vários indicadores, como o aumento da produtividade e do número de certificações pela ISO 9000, demonstram estes resultados.

A Fundação Christiano Ottoni - FCO, fundada em 1974 e vinculada à Escola de

Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais, é uma das instituições pioneiras na difusão do QFD, através da equipe de QFD do Projeto Gestão pela Qualidade Total, coordenada pelo Prof. Lin Chih Cheng. O livro publicado em 1995 por membros desta equipe e de empresas brasileiras conveniadas, além de descrever de forma ordenada como o método QFD auxilia o processo de tradução e transmissão de informações do mercado para os padrões de produção, apresenta uma nova forma de se estruturar o trabalho de desenvolvimento de produtos relatando como as empresas brasileiras estão assimilando este método (CHENG, 1995).

O intercâmbio da Fundação Christiano Ottoni com o Prof. Akao e a cooperação

firmada com sua equipe resultou na publicação de obras inéditas fora do Japão que se tornaram referência para os pesquisadores e para a Indústria brasileira. Trata-se da série Manual de Aplicação do Desdobramento da Função Qualidade (QFD), planejada para ser publicada em três volumes, reunindo o material didático utilizado pelos autores em cursos para empresas japonesas, promovidos pela Union of Japanese Scientists and Engineers - JUSE. O volume um, publicado em 1996, de autoria do próprio Prof. Yoji Akao, apresenta uma visão geral e o histórico do QFD. O volume dois, publicado em 1997, trata da elaboração da Matriz da Qualidade e é ilustrado com exemplos práticos. O volume três não chegou a ser publicado, pois o acordo de cooperação interinstitucional sofreu descontinuidade.

A Fundação Centro de Referência em Tecnologias Inovadoras - CERTI, de Florianópolis, empresa que atua na concepção e desenvolvimento do produto e na implementação dos processos produtivos apropriados para acelerar e assegurar maior êxito na colocação dos novos produtos no mercado, tem experimentado com sucesso a utilização do QFD em empresas do setor de serviços. O QFD também é pesquisado na Engenharia de Produção de Universidades Federais de São Paulo, Rio Grande do Sul e Unisinos e tende a se tornar objeto de estudo dos currículos universitários e uma prática cada vez mais assimilada e utilizada pelas empresas brasileiras.

Atualmente, pode-se afirmar que já se encontra generalizada a crença expressa

por Cheng e seus companheiros de equipe, de que o conhecimento do QFD, como um instrumento gerencial, é "fundamental para se aumentar a competitividade das empresas brasileiras na nova economia globalizada".

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3. O QUE É QFD

A metodologia de QFD é muito eficaz e eficiente aos seus imensos benefícios no desenvolvimento de produtos e serviços de excelência no mercado. A prática de QFD; prove um método para ‘projetar qualidade’ pró - ativamente; reduz modificações de produto/ processos em desenvolvimento; identifica modificações necessárias antes de se realizar maiores despesas; reduz riscos durante o tempo de desenvolvimento; resulta em menos problemas no início da produção; reduz custos iniciais de produção; reduz problemas de campo reduz custos da garantia; cria uma base de conhecimento de projeto; introduz a voz do cliente no processo de desenvolvimento.

QFD permite que uma grande quantidade de informações seja reunida de maneira concisa em um pequeno número de documentos (diagramas QFD). Seu formato gráfico é muito eficaz para simplificar conjuntos de informações complexas. A aplicabilidade de QFD no desenvolvimento de produtos e processos é quase ilimitada.

Todo e qualquer risco assumido, que vise a um produto ou serviço envolve ‘’clientes ‘’. Freqüentemente, estes clientes são diferentes em cada um dos inúmeros passos necessários para se levar um produto ou serviço para o mercado. Durante o desenvolvimento de um empreendimento existem expectativas e necessidades de clientes, internos e externos à organização, que devem ser satisfeitas. Um empreendimento somente terá sucesso se satisfizer ou exceder as necessidades de seus clientes. Caso possa satisfazer seus clientes, melhor e mais completamente do que seu competidor, então terá, inquestionavelmente, uma vantagem competitiva.

Dentro de uma organização, as expectativas e necessidades dos "clientes internos" devem ser atendidas. "Clientes internos" são as pessoas que trabalham na empresa, que estão envolvidas com o produto ou com o serviço até que chegue ao usuário final. Entre eles, estão os trabalhadores da linha de montagem, projetistas de embalagem, engenheiros, etc. Em uma grande organização, "clientes internos” podem ser divisões inteiras. A divisão de Engenharia pode ser o cliente interno da divisão de marketing. A divisão de Engenharia tem necessidades específicas que poderiam incluir, por exemplo, colher informações de marketing que definam como um produto será utilizado pelo usuário final. Da mesma maneira, o grupo de Engenharia de Projeto tem como um de seus "clientes internos" a Engenharia de Fabricação. O projeto do produto deve atender às necessidades do grupo encarregado de fabricá-lo.

A satisfação dos "clientes internos" funciona como apoio ao objetivo global de satisfazer às necessidades e expectativas dos usuários finais. Estes, externos à organização, fazem parte do ciclo de vida do empreendimento. São os "clientes externos" também chamados de “usuários finais" ou "clientes finais". Em uma organização poderiam ser chamados de "clientes externos" ou distribuidores, os vendedores independentes, os proprietários de lojas, etc.

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É evidente que o desenvolvimento da maioria dos produtos ou serviços não envolve apenas um cliente, mas um conjunto complexo de clientes, cada qual com um conjunto distinto de expectativas e necessidades e, conseqüentemente, de requisitos. Os empreendimentos mais prósperos são aqueles que compreendem as expectativas e necessidades traduzindo-as em requisitos destes clientes, em cada etapa do desenvolvimento, garantindo, assim, sucesso ao seu término.

Como visto anteriormente, esforços para desenvolver novos produtos e a melhoria dos produtos já existentes é crucial para a sobrevivência das empresas.

Apresenta-se, aqui, o QFD como uma ferramenta capaz de assegurar a qualidade requerida pelos consumidores em todas as fases do processo de desenvolvimento do produto, assim como na fase de pós venda do mesmo, como uma forma de garantir que a qualidade incorporada ao produto durante todas as fases de produção se garanta também na sua utilização pelo usuário.

Um importante aspecto que também se considera é que no serviço de pós-venda pode-se obter o retorno do mercado em relação ao produto. As informações que retornariam da assistência técnica e garantia do produto serviriam de realimentação para execução de um novo trabalho de QFD, num processo de melhoria contínua.

3.1. Definição

Segundo AKAO (1990), QFD é a conversão dos requisitos do consumidor em características de qualidade do produto e o desenvolvimento da qualidade de projeto para o produto acabado através de desdobramentos sistemáticos das relações entre os requisitos do consumidor e as características do produto. Esses desdobramentos iniciam-se com cada mecanismo e se estendem para cada componente ou processo. A qualidade global do produto será formada através desta rede de relações.

As relações mencionadas por AKAO podem ser descritas como se segue:

Extração: a extração é o processo de criar uma tabela a partir de outra, ou seja, de utilizar os elementos de uma tabela como referência para se obter os elementos de outra tabela (CHENG et al., 1995). Segundo CHENG et al (1995), uma matriz de QFD é sempre constituída do cruzamento de duas matrizes. Por exemplo, a casa da qualidade, a mais famosa matriz de QFD, é composta do cruzamento da tabela dos requisitos dos clientes com a tabela das características de qualidade.

Relação: a relação é o processo de identificar a intensidade do relacionamento entre os dados das duas tabelas que compõem a matriz (CHENG et al., 1995).

Conversão: existem dois tipos de conversão. O primeiro, indicado por OHFUJI et al. (1997), significa a transformação (ou modificação) dos dados originais coletados em pesquisas de mercado para dados “trabalhados” e analisados que podem ser usados como requisitos dos clientes. É, portanto, um processo qualitativo. O segundo, descrito por CHENG et al. (1995) e por OHFUJI et al. (1997), se refere ao processo

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de transferir a importância relativa (peso) dos dados de uma tabela da matriz para os dados da outra tabela, em função da intensidade das relações existentes entre eles. É, portanto, um processo quantitativo.

É importante destacar que essa definição de QFD é particularmente

interessante porque:

1. Abrange todas as versões de QFD; 2. Akao é um dos principais criadores do QFD e o líder de um grupo empenhado no

constante aperfeiçoamento desta metodologia (CHENG et al, 1995). 3. Ela pode ser facilmente adaptada para definir QFD como uma metodologia que se

aplica a todos os tipos de produtos e serviços, bastando para isso substituir os termos mecanismos e componentes por subsistema e elementos, ou quaisquer outros que especifiquem os diversos níveis de agregação do produto/serviço em questão.

3.2. Princípios

Para CHENG et al (1995), o QFD se fundamenta sobre três princípios básicos, cada um expressando um par de idéias: subdivisão e unificação; pluralização e visibilidade; e totalização e parcelamento. Porém, SIVALOGANATHAN & EVBUOMWAN (1997) citam um quarto princípio, o princípio do desdobramento. Estes princípios estão descritos abaixo:

Princípio da Subdivisão e Unificação A subdivisão se refere aos desdobramentos dos objetos de análise da metodologia qualidade e trabalho, buscando um nível de detalhamento cada vez maior. A unificação se refere à necessidade de reunir as idéias detalhadas encontradas em grupos hierarquizados.

Princípio da Pluralização e Visibilidade A pluralização diz respeito à diversidade de pontos de vista que sempre permeiam as atividades do QFD. Convém lembrar que um dos pontos fortes dessa metodologia é a análise das questões considerando as perspectivas das “diversas partes interessadas” as áreas funcionais da empresa e os clientes.

A visibilidade, por sua vez, está presente através da utilização de métodos visuais (matrizes e tabelas) para explicitar todas as relações entre as diversas variáveis que envolvem o desenvolvimento do produto.

Princípio da Totalização e do Parcelamento É esse princípio que faz a equipe ter simultaneamente a visão do todo e do específico durante todo o trabalho do desenvolvimento do produto, buscando entender como cada parte influência o todo e é por ele influenciada. É o conceito de engenharia simultânea aplicada ao QFD. Escrevem CHENG et al. (1995): (...) em todo trabalho de QFD, é necessário ter a visão do todo, sem, entretanto, perder de vista as partes mais

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importantes, pois há limites de recursos e tempo o conceito da priorização. Uma vez identificadas as partes importantes, passa-se a ampliá-las de forma a conhecer profundamente seus detalhes, e assim sucessivamente. Entretanto, é bom lembrar que a soma das partes ótimas não constitui necessariamente um todo ótimo (...) portanto, é importante, quando possível, ponderar entre o ótimo do todo e o ótimo das partes.

Princípio do Desdobramento Segundo SIVALOGANATHAN & EVBUOMWAN (1997), desdobrar significa assegurar a qualidade do produto através da qualidade dos subsistemas; assegurar a qualidade dos subsistemas através da qualidade das partes; assegurar a qualidade das partes através da qualidade dos elementos dos processos de fabricação.

3.3. Tipos de QFD 3.3.1. QFD das Quatro Fases

Foi a primeira versão existente do QFD. Criado por Macabe e divulgado nos EUA por Don Clausing (CLAUSING, 1993) e pela American Supplier Institute (ASI). Definia uma sequência rígida de desdobramento da qualidade: planejamento do produto (características de qualidade com qualidade projetada com requisitos do produto); componentes, planejamento do processo e planejamento da produção.

Figura 1. QFD das Quatro Fases

3.3.2. QFD estendido

É uma evolução do anterior. Don Clausing no seu livro clássico Total Quality Development (TQD) propõe uma aplicação integrada do QFD (QD) ao processo de

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desenvolvimento de produtos (TQD), com ênfase no ensaio de experimentos com base no Robust Design. Suas matrizes representando o desdobramento de características de qualidade de sistemas, subsistemas, componentes e processos.

Figura 2. QFD Estendido

3.3.3. QFD das Quatro Ênfases

Criado pelos Professores Akao e Mizuno fomentados pela Union of Japanese Scientists and Engineers (JUSE). Adicionou ao conceito de qualidade total a necessidade de se considerar a qualidade durante o desenvolvimento de produtos. Na primeira casa (A casa da qualidade) faz-se o desdobramento dos requisitos do cliente transformando-os em especificações do produto. Em seguida na casa do Planejamento dos Componentes estes requisitos do produto são desdobrados em requisitos para os componentes do produto. Na casa do Planejamento dos Processos, os requisitos gerados na etapa anterior, requisitos dos componentes, são transformados em requisitos dos parâmetros de processo e estes, por sua vez, são desdobrados nos requisitos dos padrões de operação do processo. Garante-se com esta abordagem que toda a especificação de produto, componentes, processos e padrões de operação estejam orientadas à s necessidades dos clientes.

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Figura 3. QFD das quatro ênfases

3.3.4. A Matriz das Matrizes

Criado por Bob King e divulgado pela Goal/QPC. É uma extensão da versão das quatro ênfases (KING, 1989).

Todas as versões apresentadas anteriormente não possuíam o modelo conceitual. Este ferramental não funciona

3.3.5. Desdobramento da qualidade (QD)

É o método mais flexível e pragmático. O modelo conceitual mostra qual a melhor combinação de correlação entre as matrizes, focando no que é essencial. Foi descrito na seção Elementos, mecanismos e princípios.

3.3.6. Casa da Qualidade

Também conhecida como a primeira casa da qualidade. Apesar de não ser um método de QFD propriamente dito, pois ele pode acontecer no início de alguns métodos (como o QFD das quatro fases), ela é algumas vezes a única matriz empregada. A essa matriz foram agregadas várias tabelas que auxiliam a calcular o grau de importância de um requisito do cliente (qualidade exigida) a partir: (a) da análise da natureza do requisito segundo o grau de percepção do cliente (requisito óbvio, excitante etc.); (b) de uma avaliação comparativa com os principais concorrentes (benchmarking) e (c) de um fator que mede o impacto deste requisito na venda (argumento de venda).

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Mais importante ainda, essa matriz é a ferramenta básica de projeto do QFD (HAUSER & CLAUSING, 1988). Alguns autores, inclusive, descrevem apenas a casa da qualidade em seus trabalhos, muitas vezes (mas não obrigatoriamente) aplicada e adaptada a situações específicas. Entre esses autores pode-se citar AGOSTINHO & CASTRO (1997), BARNAD (1996), BERGQUIST & ABEYSEKERA (1996), GEIGER (1995), GHAHRAMANI (1996), GOPALAKRISHNAN et al. (1992), GLUSLKOVSKY et al.. (1995); HYBERT (1996), JACQUES et al. (1994), OHFUJI et al (1997), RADHARAMANAM & GODOY (1996), RAJALA & SAVOLAINEN (1996), SABINO et al.. (1997), SANTOS (1995); SEOW & MOODY (1996), SOMERTON & MLINAR (1996) e YEUNG & LAU (1997).

Na literatura, a descrição detalhada da casa da qualidade é freqüentemente utilizada como base para a descrição do QFD, porque todas as matrizes dessa metodologia apresentam grande similaridade. Essas versões, que serão brevemente descritas na segunda parte do capítulo, surgiram da evolução do trabalho original de Yoji Akao e são tema da literatura especializada, tanto nacional, quanto internacional.

A casa da qualidade é obtida pelo cruzamento da tabela dos requisitos do cliente (ou da qualidade exigida) com a tabela das características de qualidade (AKAO, 1990), como ilustrado na Figura 4. O resultado obtido deste cruzamento é, portanto, conforme a Figura 5. O triângulo “A” e a aba “C” compõem a tabela dos requisitos dos clientes. O triângulo “B” e a aba “D” compõem a tabela das características de qualidade. O quadrado “Q”, interseção das duas tabelas, é denominado ”matriz de relações”.

Figura 4. As tabelas que formam a casa da qualidade

Tabela dos Requisitosdos Clientes Tabela das

Característicasde Qualidade

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Figura 5. Representação gráfica do cruzamento da tabela dos requisitos dos clientes com a tabela das características de qualidade (adaptada de CHENG et al.,

1995)

A casa da qualidade pode ser definida como a matriz que tem a finalidade de executar o projeto da qualidade, sistematizando as qualidades verdadeiras exigidas pelos clientes por meio de expressões lingüísticas, convertendo-as em características substitutas e mostrando a correlação entre essas características substitutas (características de qualidade) e aquelas qualidades verdadeiras (AKAO, 1996). Pela definição dada acima, percebe-se que a casa da qualidade (Figura 6) funciona como um sistema. A entrada desse sistema é a voz do cliente, na forma de expressões lingüísticas. O processo pode ser claramente visto como o conjunto das três atividades relacionadas a seguir: a sistematização das qualidades verdadeiras exigidas pelos clientes; a transformação das qualidades exigidas pelos clientes em características de qualidade (características técnicas ou características substitutas); e a identificação das relações entre as qualidades verdadeiras e as características de qualidade. A saída do sistema consiste nas especificações do produto, ou seja, no conjunto de características técnicas do produto com suas respectivas qualidades projetadas (valores de especificações). Dessa forma, pode-se entender que a tabela dos requisitos dos clientes (horizontal) é a entrada da casa da qualidade e a tabela das características de qualidade (vertical) é a saída do sistema.

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Qualidade Projetada

AvaliaçãoTécnica

Figura 6. A casa da qualidade e seus elementos ou áreas

3.3.6.1. Os Elementos da Casa da Qualidade

Essa tabela (Figura 7) é a parte da casa da qualidade pela qual a voz do cliente é introduzida no desenvolvimento de produto. Também é a tabela onde se planeja como o produto irá atender às solicitações dessa voz.

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Figura 7. A tabela dos requisitos dos clientes

A tabela dos requisitos dos clientes é constituída pelos elementos (ou áreas) descritos a seguir:

A. Requisitos dos clientes. Os requisitos dos clientes são as expressões lingüísticas dos clientes convertidas (qualitativamente) em necessidades reais (AKAO, 1996; AKAO, 1990, CHENG et al. (1995) e OHFUJI et al. (1997). Devem ser obtidos, segundo AKAO (1996) e OHFUJI et al. (1997), em pesquisas de mercado e em publicações técnicas. CLAUSING (1993) acrescenta as observações diretas e as normas governamentais às fontes citadas anteriormente. Porém, LOCKAMY III & KHURANA (1995), bem como AKAO (1990), alertam que nem sempre os

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requisitos são obtidos diretamente dos clientes, podendo ser gerados dentro da própria empresa, através da experiência mercadológica dos seus colaboradores. Os requisitos devem ser organizados em níveis hierárquicos, através da técnica de diagrama de afinidades, e dispostos em uma tabela, em formato de diagrama em árvore. A elaboração do diagrama de afinidades e do diagrama em árvore é detalhada em MOURA (1994).

B. Identificação do grau de importância - Cliente. Consiste na identificação do grau de importância que os clientes dão a cada requisito. Normalmente é obtido diretamente com os clientes, que atribuem uma “nota” a cada requisito. Essa nota obedece uma escala numérica pré-determinada, que segundo AKAO (1996), pode ser relativa ou absoluta. A escala é relativa quando o cliente indica a importância de cada requisito em comparação aos demais (este requisito é mais importante que aquele). A escala é absoluta quando o cliente analisa a influência de cada requisito em sua decisão de compra do produto, sem compará-lo com os demais. A pesquisa com escala relativa é mais fácil para o cliente quando há poucos requisitos a serem comparados, mas torna-se complicada quando o número de requisitos é maior. Nesse caso, é melhor optar por uma escala absoluta.

Ainda segundo AKAO (1996), quando o número de clientes é pequeno, e estatisticamente não permite a pesquisa por enquete, a equipe de QFD deve usar o Analytical Hierarchy Process (AHP) para determinar, ela própria, a importância dos requisitos dos clientes. Essa técnica sistematiza a comparação entre os requisitos, estabelecendo um meio eficaz para determinar a importância relativa destes. O AHP é descrito, de forma sucinta, em OHFUJI et al (1997). BARBAROSOGLU & YAZGAÇ (1997), por sua vez, descrevem uma aplicação prática dessa metodologia.

C. Identificação do grau de importância - Interno da Empresa. Traduz em escala numérica o enquadramento dos requisitos dos clientes em um dos cinco tipos de qualidade descritos pela classificação de KANO (ver seção 2.1.3). Esse enquadramento é necessário porque os requisitos dos clientes expressam as qualidades verdadeiras e, portanto, obedecem a uma hierarquia. A qualidade excitante só satisfaz os clientes se estes já estiverem satisfeitos com a qualidade linear, e a satisfação com a qualidade linear depende da satisfação com a qualidade óbvia. Por causa dessa hierarquia, a empresa deve saber a classificação de cada requisito. E, durante o planejamento do produto, considerar que: (1) a comparação entre produtos se dá fundamentalmente na avaliação das qualidades lineares. (2) As qualidades óbvias só são percebidas quando ausentes. (3) As qualidades excitantes seduzem os clientes, permitindo ao produto “escapar” da comparação racional, ou pelo menos diminuindo o poder dessa comparação.

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Por fim, deve se citar que CLAUSING (1993) e AKAO (1996) sugerem um método simples para fazer essa classificação dos requisitos dos clientes.

D. Identificação do grau de importância - Necessidades Futuras. Corresponde à antevisão da importância dos requisitos quando o produto for lançado no mercado (AKAO, 1996). Com o decorrer do tempo as pessoas mudam suas necessidades e valores. No lançamento do produto, se este tiver longo período de desenvolvimento, os requisitos podem não ter mais o grau de importância levantado nas pesquisas de mercado. Para prevenir esse tipo de obsoletismo, a empresa deve estimar a importância que os clientes darão, no futuro, a cada requisito.

E. Identificação do grau de importância - Geral. É o valor final do grau de importância de cada requisito, definido em função da análise dos três itens anteriores. É importante ressaltar que seu cálculo não deve ser feito através de média aritmética ou ponderada, mas através de uma análise qualitativa. Por fim, deve-se esclarecer que somente o grau de importância geral será considerado para efeito cálculo dos pesos relativo e absoluto.

F. Avaliação competitiva do cliente (Nossa Empresa, Concorrente X e Concorrente Y). A Avaliação competitiva do Cliente é uma pesquisa de mercado quantitativa que busca identificar como os clientes percebem o desempenho do produto atual da empresa, em comparação com os principais concorrentes. A utilização do produto atual da empresa se justifica pelo alto grau de conhecimento que a equipe deve ter sobre aquele produto. A equipe deve saber exatamente qual é o seu desempenho e quais são suas características que determinam esse desempenho. A partir desse conhecimento, e da avaliação do cliente para o produto atual da empresa, a equipe pode estabelecer uma referência de características versus satisfação do cliente. Esta servirá de base para a análise das “notas” dos produtos concorrentes e para a projeção da qualidade do produto em desenvolvimento. Para AKAO (1990), assim como a importância dos requisitos (item B), essa pesquisa pode usar uma escala relativa ou absoluta. Aqui a escala relativa é mais fácil para o cliente, principalmente quando há uma clara diferença de importância ou de desempenho. Mas quando as importâncias (ou desempenhos) são percebidas como iguais há uma dificuldade de se determinar a “nota” adequada (os dois são iguais, mas são bons ou ruins?). Mais importante ainda, a avaliação relativa não torna explícitos os requisitos que são prioridades para a melhoria. Isso porque esse tipo de avaliação demonstra apenas como o cliente percebe a atual competitividade do produto, em face a seus concorrentes, mas não permite a clara identificação do nível de satisfação do cliente com o desempenho do produto. E nem sempre o cliente está satisfeito com o desempenho do produto que ele considera o melhor do mercado. WHITELEY (1992) cita o caso dos produtos da Motorola cuja qualidade,

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em certa época, não satisfazia seus clientes apesar de serem considerados por eles os melhores produtos do mercado. Assim, a avaliação absoluta é mais adequada.

G. Plano de qualidade dos requisitos. É o planejamento do desempenho do produto em desenvolvimento, para cada requisito dos clientes. Segundo AKAO (1996) é no plano de qualidade que a estratégia da empresa é inserida no planejamento do produto. Para AKAO (1990), o plano de qualidade deve ser definido após a análise dos três itens enumerados a seguir: avaliação competitiva do cliente, argumento de vendas e importância do requisito. Obviamente, nesse caso, o argumento de vendas deve ser determinado antes do plano de qualidade. Para outros autores, como CHENG et al. (1995), CLAUSIG (1993), OHFUJI et al. (1997), o plano de qualidade deve ser determinado na ordem indicada na casa da qualidade, ou seja, logo depois de completada a avaliação competitiva do cliente. Nesse caso, utiliza-se o grau de importância dos requisitos e a própria avaliação dos clientes como orientação para a tomada de decisão. É conveniente informar que AKAO (1996) e, principalmente, CHENG et al. (1995) dão algumas orientações práticas de como fixar o plano de qualidade.

H. Índice de melhoria. Para AKAO (1996), o grau de melhoria é a forma de inserir na importância final dos requisitos (peso absoluto e relativo) a intenção da empresa, ou seja, o plano estratégico da empresa. Esse índice é determinado pela divisão do desempenho desejado para o produto em desenvolvimento (que na Figura 3.4 corresponde ao “Plano de Qualidade”) pelas ”notas” obtidas para o desempenho efetivo do produto atual (que na Figura 7 corresponde à “Nossa Empresa”). Reflete quantas vezes o produto precisa melhorar seu desempenho, em relação ao produto atual, para alcançar a situação planejada.

I. Argumento de vendas ou pontos de vendas. Os argumentos de vendas são os benefícios-chave que o produto fornecerá aos clientes visando o atendimento de suas necessidades (CHENG et al.., 1995) e, por isso, significam o grau de consonância dos requisitos dos clientes com a política da empresa para o mercado alvo (AKAO, 1996). Porém, AKAO (1990) apresenta, tanto um caso no qual os argumentos de vendas foram definidos antes do plano de qualidade, quanto um caso no qual essa definição ocorreu depois de determinado o plano de qualidade. Porém se os argumentos de vendas significam o grau de consonância dos requisitos com a política da empresa, e se o atendimento a esses requisitos deve “obedecer” a política da empresa, os primeiros devem ser determinados antes do segundo. Aliás, nesse caso os argumentos não são uma decisão, mas apenas a identificação da consonância de fato existente entre cada requisito dos clientes e a política da empresa.

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Alguns autores porém, definem os argumentos de vendas após o plano de qualidade. Nesse caso, eles não representam a política da empresa. Pode-se, então, interpretar que os argumentos de vendas especiais (peso 1,5) são as qualidades excitantes e os argumentos de vendas comuns (peso 1,2) são as qualidades lineares mais “valorizados” pelos clientes, cujo desempenho planejado deverá “sobrepujar” enormemente o desempenho dos concorrentes. Nesse caso, deve-se lembrar que nem todos “requisitos excitantes” serão atendidos pelo produto. Dessa forma, nem todos eles serão considerados argumentos de venda. É preciso escolher os requisitos excitantes que serão atendidos e considerá-los benefícios-chave, classificando-os como argumentos de venda especiais.

J. Peso absoluto dos requisitos. Esse peso é determinado pela multiplicação do ”grau de importância” pela “taxa de melhoria” e pelo “argumento de vendas”.. Representa a prioridade de atendimento de cada requisito sob a lógica de que os esforços de melhoria devem ser concentrados em três pontos: nos requisitos mais importantes, nos requisitos que estão em consonância com a estratégia da empresa e nos requisitos que a empresa precisa melhorar bastante.

K. Peso relativo dos requisitos. Esse peso é determinado pela conversão do peso absoluto em percentagem, através da divisão do peso absoluto de cada requisito pelo resultado da soma de todos os pesos absolutos. Os pesos relativos tem por objetivo facilitar a rápida percepção da importância relativa dos requisitos.

3.3.6.2. Tabela das Características de Qualidade

A tabela das características de qualidade (Figura 8) é também chamada de Tabela das Características do produto. Sua função é traduzir a “voz dos clientes” para “voz dos engenheiros”, ou seja, transformar os requisitos dos clientes em características de projeto que sejam capazes de compor um hardware e estabelecer a qualidade projetada (AKAO, 1996).

Já AKAO (1990) define a tabela das características de qualidade como um arranjo sistemático, baseado em um diagrama de árvore lógico, das características de qualidade que constituem um produto ou serviço.

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Figura 8. A tabela das características de qualidade

A tabela das características de qualidade é constituída pelos elementos (ou áreas) descritos abaixo.

A. Características de qualidade. Segundo CHENG et al. (1995), a voz dos clientes deve ser transformada em características de qualidade. As características de qualidade são características técnicas, ou características substitutas, para o produto final (AKAO, 1996). A análise dessas duas afirmações leva a percepção que as características de qualidade são os requisitos dos clientes (ou qualidades verdadeiras) transformadas em características de projeto (características substitutas). Tais características de projeto, segundo CLAUSING (1993), têm que ser mensuráveis por definição. Porém, CHENG et al (1995) explicam que as características técnicas do produto podem ser divididas em elementos da qualidade e características de qualidade. Os elementos da qualidade são definidos como itens não quantificáveis, capazes de avaliar a qualidade do produto (itens intermediários entre a qualidade exigida e as características de qualidade). Já as características de qualidade são definidas como itens que devem ser medidos no produto para verificar se a qualidade exigida está sendo cumprida. AKAO (1990), por sua vez, diz que os elementos da qualidade são as características de projeto que devem ser medidas, enquanto as características de qualidade são os aspectos individuais mensuráveis dos elementos da qualidade.

Pode-se utilizar dois métodos para fazer a identificação das características de qualidade. O primeiro é desdobrar de modo independente e o segundo é extrair as características (OHFUJI et al., 1997). No desdobramento pelo método independente pode-se utilizar o “brainstorming”. Nesse caso, as características de qualidade e os elementos da qualidade seriam identificados simultaneamente. Deve-se, então, separar as “idéias” objetivamente mensuráveis daquelas não objetivamente

Matriz deRelações

Metas-Alvo

CaracterísticasQualidade

MatrizCorrelações

Peso AbsolutoPeso Relativo

Nossa EmpresaConcorrente XConcorrente Y

Dificuldade Técnica

Peso Corrigido AbsolutoPeso Corrigido Relativo

Qualidade Projetada

AvaliaçãoTécnica

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mensuráveis. As mensuráveis são características de qualidade e as não mensuráveis são os elementos de qualidade. Na extração (segundo método), deve-se utilizar tabelas de extração, conforme proposto por AKAO (1996) e CHENG et al. (1995).

Extraídas as características de qualidade, deve-se organizá-las em formato de diagrama em árvore. Para isso, deve-se utilizar a técnica do diagrama de afinidades (AKAO, 1996; AKAO, 1990; CHENG et al (1995); CLAUSING, 1993, OHFUJI et al, 1997, entre outros).

B. Metas-alvo. As metas-alvo tem dois objetivos. O primeiro é determinar se as características de qualidade são mensuráveis. O segundo é indicar qual tipo de raciocínio leva à fixação do valor ideal para cada característica de qualidade. Existem características de qualidade cujos valores de desempenho podem ser raciocinados na base do “quanto maior, melhor” (potência de um carro esportivo, por exemplo). Para outras deve-se pensar em termos de “quanto menor, melhor” (por exemplo, peso de uma televisão portátil). E existe um terceiro tipo de características que nem o maior, nem o menor são melhores. Para estas, o melhor é atingir um valor específico, um valor nominal ou um valor alvo (como exemplo tem-se a voltagem de um aparelho elétrico). É importante ressaltar que, nesse momento, não se está ainda buscando definir o valor ideal, mas apenas descobrir como raciocinar para se determinar esse valor ideal. Caso não seja possível definir a meta-alvo para uma determinada característica, essa característica não é quantificável. E, por definição, ainda é considerada um elemento de qualidade. Deve-se, então, retomar o desdobramento desse elemento de qualidade para transformá-lo em uma verdadeira característica de qualidade.

Se a característica de qualidade for mensurável, deve-se definir a unidade de medida a ser utilizada para tal. CLAUSING (1993) destaca que é preciso encontrar unidades de medidas de variáveis contínuas, mesmo que isso represente um desafio para a equipe de QFD. Isso porque medidas que verificam apenas a presença ou ausência de um atributo não permitem melhorias contínuas.

C. Matriz de correlações. A matriz de correlações é o teto da casa da qualidade. Esta matriz cruza as características de qualidade entre si, sempre duas a duas, permitindo identificar como elas se relacionam. Estas relações podem ser de apoio mútuo quando o desempenho favorável de uma característica ajuda o desempenho favorável da outra característica, ou de conflito quando o desempenho favorável de uma característica prejudica o desempenho favorável da outra característica. A maioria dos autores estudados entendem que este relacionamento pode variar apenas de intensidade (se é forte ou fraco) e de sentido (se é de apoio ou conflito), porém JACQUES et al. (1994) adicionam a direção (qual característica influencia e qual característica sofre a influência) a essas análises.

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Para considerar também a direção das correlações pode-se utilizar os procedimento de elaboração da matriz de priorização pelo método de causa e efeito, conforme descritos por MOURA (1994).

Por fim, convém destacar que a matriz de correlações também pode ser usada para identificar as correlações entre os requisitos dos clientes, como demonstrado por GEIGER (1995) e por KHOO & HO (1996).

D. Matriz de relações. Esta matriz é a interseção da tabela dos requisitos dos clientes com a tabela das características de qualidade, não sendo, portanto, um dos elementos da segunda. Ainda assim, é preciso explicá-la nesse momento, porque sua compreensão é imprescindível para o entendimento dos demais elementos da tabela das características de qualidade. A matriz de relações é composta de células formadas pela interseção de cada requisito dos clientes com cada característica de qualidade. Sua função é permitir a identificação de como e (quanto) cada característica da qualidade influencia no atendimento de cada requisito dos clientes. Tais relações, que devem ser indicadas na parte superior das células, tanto podem ser positivas, quanto negativas. No entanto, autores como CLAUSING (1993), CHENG et al (1995), ABREU (1997), entre outros, só consideram as relações positivas. JACQUES et al (1994) e HAUSER & CLAUSING (1988), no entanto, afirmam que as relações negativas também devem ser indicadas na matriz.

Para a maioria dos autores, a intensidade das relações deve ser indicada em quatro níveis: forte, média, fraca e inexistente. Porém, HAUSER & CLAUSING (1988) consideram apenas três níveis forte, médio e inexistente. Já KHOO & HO (1996) prescrevem uma escala de cinco níveis: forte, moderado, fraco, muito fraco e inexistente.

Tanto CLAUSING (1993), quanto CHENG et al (1995), são enfáticos ao afirmar que a matriz de relações deve ser preenchida com a participação de todos os membros da equipe de QFD, que devem obter consenso sobre a intensidade das relações. HAUSER & CLAUSING (1988), porém, prescrevem que as relações podem ser identificadas não só pelo consenso da equipe, baseado na experiência dos seus membros, como também por respostas de clientes, por análise de dados estatísticos e por experimentos controlados. AKAO (1990), por sua vez, propõe que as relações devem ser identificadas (ou checadas posteriormente) por estatísticas e dados reais, obtidos em testes técnicos.

Cada nível de intensidade das relações corresponde a um valor. Estes são utilizados para distribuir os pesos dos requisitos dos clientes para as características de qualidade. Segundo AKAO (1996) e AKAO (1990), existem dois métodos para fazer essa distribuição. O primeiro método é a distribuição independente de pontos, que é o mais utilizado pelos autores consultados e descrito por quase todos eles. O

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segundo método é a distribuição proporcional de pontos, descrito por AKAO (1996) e AKAO (1990), onde aliás, pode-se encontrar algumas comparações que ajudam escolher o mais adequado para cada aplicação de QFD. Porém, independentemente do método utilizado, deve-se anotar na parte inferior de cada célula da matriz o valor a ela atribuído pela distribuição dos pesos dos requisitos.

Por fim identificadas as relações e preenchida a matriz, é preciso verificar sua consistência. Para tal, OHFUJI et al. (1997) e CHENG et al (1995) listam uma série de recomendações.

E. Peso absoluto. O peso absoluto é o resultado da soma vertical dos valores anotados na parte inferior das células de cada característica de qualidade (coluna). Indica a importância de cada característica de qualidade no atendimento do conjunto de requisitos dos clientes

F. Peso relativo. É a transformação do peso absoluto das características de qualidade em percentual. Calcula-se dividindo o peso absoluto de cada característica de qualidade pelo resultado da soma dos pesos absolutos de todas as características de qualidade. É importante porque facilita a visualização do peso de cada característica de qualidade.

G. Avaliação competitiva técnica: Aqui o desempenho dos produtos é avaliado sob a ótica da engenharia, com o objetivo de orientar, à luz da avaliação competitiva dos clientes, quais são os valores ideais para as características técnicas do produto em desenvolvimento. Por isso, a avaliação competitiva técnica consiste em medir, em cada produto que foi submetido à avaliação competitiva dos clientes, o valor real de cada característica de qualidade. Para permitir a comparação do desempenho dos protótipos com os produtos já existentes, segundo CLAUSING (1993), os testes e procedimentos utilizados nesse momento devem ser os mesmos que serão usados nos testes do produto em desenvolvimento. Por este mesmo motivo, as unidades de medidas devem ser aquelas definidas nas metas-alvo, que também servirão para medir o produto em desenvolvimento.

Após testar os produtos, determinando comparativamente o nível de desempenho técnico de cada um deles, a equipe de QFD deve verificar se a avaliação competitiva técnica está coerente com a avaliação competitiva dos clientes. As avaliações são coerentes entre si quando o desempenho técnico “explica” as notas atribuídas pelos clientes para o desempenho relativo de cada produto.

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H. Fator de dificuldade técnica. De modo geral, este fator é uma nota que expressa a dificuldade tecnológica que a empresa terá para obter o valor determinado para a qualidade projetada das características de qualidade, com a confiabilidade projetada e com o custo objetivado (AKAO, 1996 e AKAO, 1990). Por isso, ele determina quais são as características que provavelmente exigirão maior comprometimento de esforços e recursos na obtenção da sua qualidade projetada (CLAUSING, 1993). O fator de dificuldade técnica é usado na matriz da qualidade para corrigir o peso das características de qualidade. Entretanto, essa correção do peso de cada característica de qualidade pode ser feita de duas maneiras: ou se atribui maior importância àquelas características que implicam em uma menor dificuldade técnica, ou se atribui maior importância àquelas características que, para a obtenção da sua qualidade projetada, implicam em uma maior dificuldade técnica.

No primeiro caso, a escala do fator é inversamente proporcional à dificuldade de se obter os valores projetados para a característica de qualidade. Desse modo, ao se fazer a multiplicação dos pesos relativos das características de qualidade pelos fatores de dificuldade técnica, obtém-se um peso corrigido menor para aquelas características com menores probabilidades de serem alcançadas. Esse tipo de escala é aplicável a situações onde: (1) o ciclo de vida do produto (não a vida útil do produto) é breve, em função de melhoria contínua que determine lançamentos sucessivos de versões melhoradas do produto, com curto espaço de tempo entre as versões; e concomitantemente (2) trabalhem com desenvolvimento de tecnologia durante o desenvolvimento do produto para solucionar gargalos de engenharia.

O raciocínio que determina a utilização da escala inversamente proporcional é a priorização das características técnicas que, concomitantemente, são importantes sob o ponto de vista do atendimento do cliente e que não comprometem demasiadamente o tempo de desenvolvimento e os recursos disponíveis (não exigem o desenvolvimento de uma tecnologia muito diferente da atualmente utilizada). As características com baixo peso corrigido (as pouco importantes para o atendimento dos requisitos dos clientes ou muito difíceis de ser obtidas) são descartadas no atual processo de desenvolvimento do produto.

O segundo caso se refere à dois tipos de empresas: (1) aquelas que desenvolvem produtos com longos ciclos de vida, os quais ficam muito tempo “disputando” o mercado com os novos produtos lançados pelos concorrentes. Quando isso acontece, é necessário que o produto incorpore imediatamente todas as características de qualidade prioritárias para o atendimento dos principais requisitos dos clientes. Torna-se, então, importante que se despenda maiores recursos para a obtenção imediata de tecnologia que viabilize essa incorporação. Isso é conseguido utilizando, conforme prescrevem AKAO (1996) e AKAO (1990), uma escala do fator de dificuldade técnica diretamente proporcional à dificuldade de se obter a qualidade projetada, onde o número maior significa a maior dificuldade técnica e o número menor significa a menor dificuldade de sucesso. (2) Empresas que, mesmo tendo produtos de curto ciclo de vida, trabalhem com desenvolvimento de tecnologia paralelo ao desenvolvimento de produtos, conforme proposto por

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CLAUSING (1993). Essas empresas devem sempre ter o cuidado de fixar valores de qualidade projetada para as características de qualidade possíveis de ser obtidos com a tecnologia já disponível na empresa. Dessa forma, não há motivo para “descartar” características de qualidade de grande dificuldade técnica. Por isso, a escala desse fator deve ser diretamente proporcional à dificuldade de se obter os valores projetados, fazendo com o peso técnico corrigido reflita a necessidade de recursos como no item 1.

I. Qualidade projetada. Projetar a qualidade é projetar os valores das características de qualidade do produto em desenvolvimento. No QFD, tais valores são denominados valores-meta ou valores objetivo. Os valores-meta devem ser capazes de atender satisfatoriamente as necessidades dos clientes, melhorando a posição competitiva do produto no mercado. Isso significa que esses valores devem refletir o planejamento estratégico para o produto que, por sua vez, é representado pelo índice de melhoria dos requisitos dos clientes. AKAO (1996) lembra a seus leitores que a qualidade planejada deve orientar a definição dos valores da qualidade projetada. Assim, pode-se concluir que a qualidade projetada é extraída da qualidade planejada. Porém, autores como CLAUSING (1993) e CHENG et al (1995) sugerem que a qualidade projetada seja fixada apenas considerando a avaliação competitiva técnica. Porém, nenhum dos autores estudados ensinam explicitamente como o processo de determinar a qualidade projetada, a partir da casa da qualidade, pode ser apoiada por ferramentas computacionais e cálculos de engenharia. Deduz-se, porém, que tais ferramentas devem ser utilizadas para determinar uma range de valores possíveis, que posteriormente serão avaliados pela equipe multifuncional para escolher aqueles valores melhor “suportados” por todas as funções da empresa.

J. Peso corrigido absoluto. Este peso é o resultado da multiplicação do peso absoluto de cada característica de qualidade pelo fator de dificuldade técnica (E X I) (AKAO, 1996). Na verdade, dependendo do sentido da dificuldade técnica, o peso corrigido absoluto pode ter dois significados distintos e mutuamente excludentes. O primeiro significado, caso o fator de dificuldade técnica tenha escala inversamente proporcional à dificuldade de incorporação da característica técnica ao produto, determina quais são as características que devem ser incorporadas prioritariamente ao produto e quais deverão ser descartadas. O descarte é devido, ou a pouca importância dessas características de qualidade para o atendimento aos requisitos dos clientes, ou porque estas características são tecnicamente de difícil incorporação ao produto. O segundo significado, caso o fator de dificuldade técnica tenha escala diretamente proporcional à dificuldade de incorporação da característica técnica ao produto, determina as características de qualidade para as quais devem ser alocados maiores recursos para sua incorporação ao produto,

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considerando que os maiores pesos corrigidos serão obtidos pelas características de qualidade importantes para o atendimento ao cliente e tecnicamente difíceis de serem obtidas.

K. Peso corrigido relativo. É a conversão do peso corrigido absoluto em percentual (AKAO, 1996). Este peso é calculado de modo semelhante ao peso relativo das características de qualidade.

Após descrita a casa da qualidade, deve-se considerar a sua análise. CHENG et al (1995) prescrevem que essa análise deve objetivar a garantia da consistência da matriz. Porém, CLAUSING (1993) e ABREU (1997) determinam uma análise que visa identificar as características de qualidade priorizadas no desenvolvimento do novo produto.

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4. APLICAÇÃO

QFD é aplicado em uma larga variedade de serviços, produtos de consumo, necessidades militares e produtos tecnológicos que estão surgindo no mercado. A técnica é também usada para identificar táticas e documentar estratégias de mercado competitivas. QFD é considerada uma prática fundamental do Design para o Seis-Sigma. É também implicada na nova Norma ISO 9000:2000, a qual foca na satisfação do consumidor.

Resultados do QFD tem sido aplicados no Japão e em países que estão implementando o alto impacto de fatores controláveis no Planejamento Estratégico e na Gestão Estratégica (conhecida também como Hoshin Kanri, Hoshin Planning ou Implementação da Política).

Aquisição das necessidades de Mercado escutando a voz do consumidor, classificando as necessidades e priorizando-as numericamente são as tarefas iniciais no QFD.

4.1. Exemplo: Agregando Valor ao Desenvolvimento de Embalagem Orientado pelo QFD

4.1.1. Introdução ao Projeto

Este projeto foi realizado na SADIA, no departamento de desenvolvimento de embalagem, uma área complexa dos departamentos que trabalham juntos em novos projetos de desenvolvimento. No inicio da década de 90 a empresa decidiu expandir o seu programa de Qualidade Total para as atividades de desenvolvimento de novos produtos, desde seu desenvolvimento até o momento de consumo pelo cliente. Desde então, muitos produtos foram desenvolvidos e lançados no mercado usando o QFD como um "meio" e a satisfação do consumidor como o "fim". Naquele momento, os dirigentes da empresa perceberam que disseminar o conceito de garantia da qualidade durante o desenvolvimento de embalagem seria crucial para agregar valores aos produtos finais por meio de um bom projeto, que levasse em consideração a percepção do consumidor e a melhoria de sua satisfação. Assim, desenvolveu-se este projeto que se caracterizou pela aplicação do método QFD no desenvolvimento de embalagem.

4.1.2. Objetivo

Agregar valor à embalagem de um produto por meio do uso do método QFD.

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4.1.3. Aplicação do método QFD

O desenvolvimento da embalagem iniciou com um conjunto de tabelas das funções da embalagem. Em primeiro lugar, essas tabelas relacionam informações estratégicas da atividade de empacotamento e mostram os principais conceitos desse assunto. A partir desse ponto e em conformidade com o grupo de materiais de embalagem a ser considerado em cada projeto, novas funções específicas de embalagem são incluídas. Esses itens novos são relativos a novas técnicas materiais, os mais atualizados sistemas de embalagem, recursos de mercado, informações de outros projetos já finalizados e da base de conhecimento dos engenheiros de embalagem. Todos esses dados foram adicionados a um banco de dados existente no departamento de embalagem que era permanentemente atualizado, como parte do corpo de conhecimento organizacional da empresa. A Figura 9 representa o caminho de obtenção das tabelas de Funções de Embalagem.

Figura 9 - Tabelas de Funções de Embalagem.

4.1.4. Principio das Tabelas de Função de Embalagem

Essas tabelas de função dão aos engenheiros de embalagem uma excelente maneira de iniciar o desenvolvimento, economizando o tempo graças a uma base estruturada e organizada. As funções descritas no primeiro nível são mais básicas e estruturais; algumas são compulsórias e relacionadas a metas que toda embalagem tem que alcançar. Indo mais a fundo e com maior especificidade, as funções no segundo, terceiro

Principais Funções de Embalagem

• Proteger• Dar boa aparência• Informar • Facilitar o uso• Ser amigável ao meio

ambiente• Estar disponível para

fornecimento• Ter custo adequado

Principal Grupo de Funções de Materiais de

Embalagem

• Embalagens flexíveis• Embalagens de

celulose• Embalagens rígidas

Desdobramento da Função de Materiais de

Embalagem

• Manter o produto fresco

• Evitar falsificação• Facilitar abertura• Facilitar fechamento

após abertura• Facilitar

acondicionamento na geladeira

• Informar o modo de preparo

• Informar o modo de conservação

• Facilitar o descarte

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e até no quarto nível são mais focalizadas e relacionadas a componentes específicos de embalagem ou funções adicionais para exigências especificas de um projeto.

4.1.5. Matrizes Elaboradas – Modelo Conceitual

A partir da Tabela de Qualidade Exigida extraíram-se as Funções de Embalagem (Matriz 1). Posteriormente, foi criada uma Matriz (2) de Funções de Embalagem vs. Alternativas de Embalagem. Nesse ponto, foi obtida a melhor opção em termos de sistema de embalagem para atingir as metas do projeto (ver Figura 2).

O próximo passo foi agregar à matriz (2) algumas funções compulsórias e qualitativas comuns aos sistemas de embalagem e, às vezes, não tão visíveis ao cliente e ao consumidor. Esses complementos vieram das tabelas dos principais sistemas de embalagem, elaboradas anteriormente e atualizadas frequentemente. O preenchimento da matriz formada pelas tabelas Alternativas de Embalagem VS. Características de Qualidade da Embalagem (3) ajudou na definição das Características de Qualidade do sistema de embalagem escolhido (Figura 3).

Figura 10 O Modelo Conceitual ou Metas do Projeto

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4.1.6. Definindo o Padrão Técnico de Processo de Embalagem (PTPE)

Para obter o PTPE, duas matrizes foram confeccionadas. A primeira foi a de Características de Qualidade de Processos Intermediários de Embalagem com Características de Qualidade da Embalagem (4). A segunda foi a de Características de Qualidade dos Produtos dos Processos Intermediários da Embalagem com Parâmetros de Controle (5). A última matriz elaborada foi das Funções dos Componentes da Embalagem com Características de Qualidade de Embalagem (6). A informação obtida aqui foi usada pelo fornecedor de embalagem para produzir itens de embalagens.

Figura 11 Matriz 6: Funções de Componentes de Embalagem vs. Características de Qualidade de Embalagem.

4.1.7. Disseminando os Requisitos do Consumidor para o Processo Todo

O trabalho todo descrito acima poderia ser considerado pontual (restrito aos processos da Sadia). Ele esta relacionado aos requisitos de desenvolvimento dentro da empresa,

Page 31: Trabalho QFD

considerando em primeiro lugar as necessidades do consumidor, os requisitos de produção, custos, logística, etc. No entanto, essas informações foram estendidas a outras conexões dessa cadeia, externas à empresa, como uma forma de garantir que todas essas ações fossem executadas conforme planejado durante o desenvolvimento do produto e da embalagem.

O diagrama seguinte Figura 12 e o modelo conceitual da Figura 13 representam o conceito mencionado.

Figura 12 Diagrama representativo do processo de conexão do fornecedor à empresa.

Produto

Processo do fornecedor Fabricação da matéria-

prima

Processo da Sadia

Processo do fornecedor Fabricação da embalagem

Distribuição

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Figura 13 - O Modelo Conceitual Estendido à Cadeia de Fornecimento.

4.2 Resultados

O Método QFD aplicado ao desenvolvimento de embalagens tem se consolidado como um rápido caminho para implementar projetos e criar condições boas e sinérgicas para o sucesso desses projetos. É importante mencionar que esse método trouxe à equipe de desenvolvimento de embalagem uma ampla visão do processo de desenvolvimento como um todo. Ele também criou sinergia entre vários processos envolvidos nessa cadeia de agregação de valor.

Os resultados desse trabalho tem sido reconhecidos e confirmados pela preferência que os consumidores têm dado às novas embalagens e produtos desde a implementação dessa metodologia na Sadia. Mais de 70 novos produtos foram lançados no mercado nacional brasileiro num período de dois anos, na segunda metade da década de 90, contribuindo para consolidar a grande mudança de uma Indústria de Agronegócios para uma moderna Empresa de Alimentos.

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4.2.1 Considerações Finais

Considerações apresentadas pelo líder do projeto (final dos anos 90):

"Temos trabalhado fortemente nos processos internos de desenvolvimento, criando compromisso multifuncional e coesão departamental. O novo desafio é expandir a aplicação do QFD para além da fronteira da empresa. Adotamos ações nesse sentido, formando novas equipes de trabalho nas empresas fornecedoras de embalagem, que tem correspondido com entusiasmo e disposição, conectando dessa forma, definitivamente, a cadeia de fornecimento ao desenvolvimento de produto e de embalagem. Trabalhando dessa maneira, através de uma rede de excelência, todos os esforços têm sido feitos no sentido de superar as expectativas do consumidor, o qual é o nosso principal alvo e o método QFD é o guia".

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5. BENEFÍCIOS DO QFD

Existem muitos benefícios para ser realizado o QFD, incluindo os listados abaixo:

Centrado no consumidor: O foco está no que o consumidor quer e não no que a Empresa pensa que o consumidor quer. A "Voz do Consumidor" dirige o desenvolvimento do processo;

Análise competitiva: Outros produtos no mercado são examinados, e os produtos da empresa são avaliados em relação à concorrência;

Redução do tempo de desenvolvimento: a probabilidade de mudanças de projeto é reduzida, pois o processo de QFD concentra em melhorias a serem feitas para satisfazer as necessidades dos clientes. A atenção cuidadosa às necessidades dos clientes reduz o risco de mudanças que serão necessárias no final do ciclo de vida do projeto. O tempo não é gasto desenvolvendo funções insignificantes e características;

Custos reduzidos de desenvolvimento: A identificação das mudanças necessárias ocorre no início do ciclo de vida do projeto, minimizando as seguintes alterações de produção, reduzindo os custos de garantia e os custos de suporte ao produto;

Documentação: Uma base de conhecimento é construída quando o processo QFD é aplicado, ou seja, um registro histórico do processo é desenvolvido e arquivado, podendo ser usado no futuro para outros projetos;

Identificação dos gargalos de engenharia; Fortalecimento da prática da engenharia simultânea.

A literatura também relata as principais dificuldades no uso do QFD, como por exemplo, a falta de suporte gerencial e de comprometimento dos membros da equipe do QFD, falta de recursos financeiros e de tempo para conduzir a consulta aos clientes, falta de experiência com o uso do método, longo tempo consumido com a aplicação e dificuldades em trabalhar com matrizes muito grandes.

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6. CONCLUSÃO

O QFD tem se destacado pela sua grande utilidade no planejamento das atividades que afetam a qualidade do produto na empresa. No aspecto de multidisciplinaridade do projeto e a necessidade de interface eficiente entre projeto e outros departamentos, se destaca por oferecer uma ferramenta de planejamento da qualidade do produto, dentro dos parâmetros estabelecidos pelo consumidor, gerando um processo suave das atividades de projeto e desenvolvimento do produto. A fase de projeto resulta num processo de comunicação eficiente do que o consumidor quer do produto a todos os que afetam a qualidade do produto de uma ou de outra maneira. Chama-se a atenção que, principalmente, o projeto é a fase chave para obter sucesso com o QFD numa organização.

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7. REFERÊNCIAS

http://en.wikipedia.org/wiki/Quality_Function_Deployment

acessado em 31/03/2011

http://www.eps.ufsc.br/teses98/glaucia/cap2.html

acessado em 31/03/2011

http://redalyc.uaemex.mx/pdf/470/47013204.pdf

acessado em 31/03/2011

http://www.scielo.br/pdf/prod/v10n1/v10n1a04.pdf

acessado em 31/03/2011

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-30X2004000100004&script=sci_arttext

acessado em 31/03/2011

ZHENG, Linzhi; MELO FILHO, Leonel Del Rey de. QFD: desdobramento da função qualidade na gestão de desenvolvimento de produtos. São Paulo: E. Blucher 2007.

KAMRANI, Ali K; SALHIEH, Sa'ed M. Product design for modularity. 2nd ed. Boston: Kluwer Academic Publishers, c2002.