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Tipificação Dos Tweets

Mar 04, 2016

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(2014-Revista Sobre Jornalismo)
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Tipificao dos tweets jornalsticosMabel Teixeira[footnoteRef:0] [0: Mestre e doutoranda do Programa de Ps-Graduao em Letras da Universidade Catlica de Pelotas. Bolsista Fapergs/Capes. ]

Introduo

O presente artigo visa, sobretudo, contribuir aos estudos arrolados no campo do webjornalismo atravs da explorao de um objeto-textual pouco explorado, o tweet. O objetivo central apresentar uma proposta de tipificao dos tweets jornalsticos e, consequentemente, estabelecer uma discusso acerca de tais enunciados e dos processos que subjazem sua apario. A observao e descrio desse fenmeno mostra-se relevante no apenas por auxiliar compreenso das transformaes do texto jornalstico enquanto objeto-textual, mas, principalmente, por colaborar explorao das relaes discursivas estabelecidas no contexto do ciberespao que esto, em ltima instncia, (re)formatando muito mais que a forma do texto, mas a prpria relao do campo jornalstico com a notcia e com o pblico-leitor. Os critrios empregados anlise dos tweets jornalsticos so: inteno comunicativa, estrutura textual (elementos e recursos tcnicos) e tipo de linguagem empregada. Esclarecemos que sero entendidos como tweets jornalsticos os enunciados produzidos e veiculados no site rede social (SRS) Twitter por empresas jornalsticas e/ou profissionais do campo. Salientamos que os dados, anlises e os apontamentos expostos so parte de um estudo maior que trata do discurso jornalstico no Twitter e que desenvolvido desde 2010.Optamos por constituir o corpus com veculos que no pertencessem ao mesmo grupo empresarial e rea de cobertura. Sendo assim, decidimos trabalhar com os tweets publicados por: 1o) um veculo nacional, a Folha de So Paulo (FSP); 2o) jornal do estado do Rio Grande do Sul (RS), a Zero Hora (ZH); 3o) jornal da regio sul do RS, o Dirio Popular (DP). Os dados foram coletados no dia 16 de junho de 2011 diretamente dos perfis pblicos que representam as empresas jornalsticas dentro do Twitter. Aps delimitarmos os atores do estudo, aplicamos algumas sistematizaes que auxiliaram compreenso do corpus e suas caractersticas. Nossa primeira medida foi quantificar o nmero de tweets publicado por cada jornal: FSP (52); ZH (35); DP (47). Assim, o corpus deste estudo totaliza 134 tweets jornalsticos. Apresentado o corpus e seus dados mais gerais, passaremos s delimitaes dos elementos tcnicos. Para isso, realizaremos inmeros cruzamentos entre as descries das tcnicas de produo textual envolvidas (tcnica jornalstica padro, tcnica da web e tcnica do Twitter) e o material coletado. Essa busca pelos elementos tcnicos envolvidos , portanto, o ponto de partida de nossa explorao e a base de nossa proposta.

1. Apropriaes das funcionalidades tcnicas do jornalismo padro

Os primeiros apontamentos acerca dos procedimentos tcnicos observados na constituio de nosso corpus dizem respeito transposio de alguns elementos caractersticos do texto jornalstico padro (objetivo, referencial) e de suas tcnicas (pirmide invertida PI). O primeiro elemento que deve ser mencionado a incorporao da tcnica do lide na construo dos tweets, especialmente, daqueles que centram-se em noticiar um fato. Dos 134 tweets que constituem nosso corpus, 91% focam-se em informar. Nos detivemos nesses exemplares para identificarmos a presena dos elementos que compem o lide o resultado encontrado est expresso na Tabela 1:

Tabela 1 Elementos do lide nos tweets noticiososTOTAL

O qu?463046122

Quem?42263199

Quando?04020814

Onde?13211145

Como?03020813

Por qu?03060110

Os dados expostos deixam evidente que os tweets no poderiam ter sido originados pela mera transposio de um lide, j que alguns de seus elementos parecem ser negligenciados sistematicamente. Podemos afirmar, com base no corpus, que a incorporao do lide na construo dos tweets no se d de maneira indiscriminada. Parece bvio que, com a limitao de caracteres imposta pelo sistema[footnoteRef:1], a veiculao integral do lide seria uma tarefa quase impossvel. Dessa forma, em funo da apropriao social do Twitter como ferramenta distribuio noticiosa, deu-se um fenmeno ainda pouco explorado: o aparecimento de um novo ncleo informativo essencial, uma espcie de microlide. A limitao de caracteres fez nascer o que Santaella (2010) chamou de microssintaxe, uma forma de organizao especfica que pr-requisito comunicao na plataforma.Com base nos dados apresentados, percebemos que o que chamamos de microlide uma espcie de tcnica extrada da tcnica, uma subtcnica que apresenta certas regularidades adoo dos elementos informativos originrios do lide. O Grfico 1 auxilia a visualizao da ocorrncia de cada elemento. [1: Os tweets podem ter, no mximo, 140 caracteres. ]

Grfico 1 Ocorrncia dos elementos do lide nos tweets noticiosos

Os dados apontam para uma sistematizao em funo da constante apario de trs elementos, sendo eles: o qu, quem e onde. Tanto nos tweets da FSP, como nos da ZH, o elemento que ocupa o terceiro lugar nas ocorrncias o onde. J no DP, vemos que esse elemento no aparece tanto. A explicao disparidade parece estar na respectiva rea de abrangncia do jornal, que se concentra na cobertura de apenas duas cidades do interior do estado do RS: Pelotas e Rio Grande. Apesar da disparidade, o resultado total demonstra a concentrao dos jornalistas em atender s questes o qu?, quem? e onde? nos 140 caracteres disponveis redao. As notcias veiculadas no Twitter, portanto, tendem a ser estruturadas por meio da observncia de uma espcie de microlide. Esse novo ncleo informativo poderia ser caracterizado como uma tcnica de reestruturao do lide tradicional, atravs da supresso de alguns de seus elementos e, ao mesmo tempo, da incorporao de outros artifcios tcnicos, como o sinal @. Mesmo que a mudana parea pequena, um fenmeno de reestruturao da tcnica jornalstica padro algo incomum que costuma sugerir alteraes profundas nas relaes sociais. Outro aspecto relevante, que emerge de nossas primeiras observaes do corpus, a presena da cartola na estrutura de alguns dos tweets analisados. Dentro da linguagem jornalstica padro, o termo cartola designa uma ou mais palavras que so colocadas acima do ttulo para identificar o tema das matrias jornalsticas (Zero Hora, 1994:74). Assim como nos veculos impressos, no Twitter, a cartola costuma preceder o texto e pode funcionar como um elemento de indicao temtica. Percebemos, entretanto, que, alm de elemento temtico, no tweet a cartola pode atuar como termo contextualizador ou como indicador modal do link. Para explicarmos melhor essas apropriaes da cartola, iremos comentar brevemente alguns dos tweets:

Figura 1 Presena da cartola nos tweets jornalsticos

No primeiro tweet (Figura 1) vemos o uso tradicional da cartola, ou seja, o termo sade funciona como indicador temtico da informao que o sucede. Dentro dessa perspectiva, a cartola no tem carter informativo e, portanto, no necessria ao entendimento da notcia. No segundo tweet, entretanto, observamos que a cartola gripe A funciona como um elemento informativo contextualizador, participando ativamente da construo do sentido. A apropriao da cartola como tal, parece favorecer a conciso necessria construo de uma notcia capaz de informar em 140 caracteres. J no terceiro tweet h o uso da cartola udio que atua como indicador modal do material linkado, indicando de antemo a natureza do contedo que est disponvel atravs do link. A Tabela 2 demonstra o nmero de ocorrncias da cartola em suas diferentes funes:

Tabela 2 Uso da cartola nos tweets jornalsticosTOTAL

Indicao temtica02013235

Termo contextualizador--011314

Indicador modal do link0802--10

10044559

Com base no que vimos at aqui, podemos dizer que o tweet jornalstico utiliza elementos tpicos do jornalismo padro (cartola) e de sua tcnica (elementos do lide) sua constituio e estruturao. Percebemos, assim, que embora o tweet jornalstico seja um objeto-textual novo, a observncia de elementos tradicionais do texto jornalstico caracteriza a transposio de elementos lingusticos que acabam sendo ressignificados dentro do novo contexto. Nosso corpus indica que tais elementos so conjugados com outros que no parecem to familiares ao jornalismo e a seu pblico tradicional.

2 Apropriaes das funcionalidades tcnicas do Twitter

Ao observamos os tweets coletados, tornou-se clara a heterogeneidade presente linguagem empregada tessitura textual. Os enunciados jornalsticos produzidos no Twitter caracterizam-se, grosso modo, pelo hibridismo lingustico, pois recorrem no apenas aos elementos da linguagem jornalstica padro, mas absorvem e se apropriam de elementos tpicos do ambiente (ciberespao) e da plataforma que os suportam, o Twitter. Nosso corpus indicou que, entre todas as possibilidades tcnicas da plataforma, as mais solicitadas constituio dos tweets jornalsticos so: a veiculao de links; utilizao do retweet, uso de hashtags (#) e arroba (@). Se a tcnica jornalstica padro (PI) suscita uma linguagem prpria, nascida da cultura da escrita (Traquina, 2005), podemos afirmar que as tcnicas do Twitter tambm configuram um sistema de linguagem especfico (Santaella; Lemos, 2010) que apropriado por seus usurios. Sendo assim, o enunciado jornalstico passa a observar no apenas elementos da tcnica tradicional do jornalismo, mas tambm os elementos que fundamentam a linguagem da plataforma. Para demonstrarmos a apropriao da linguagem do Twitter, trataremos de cada um dos elementos mencionados ( #, @, link e RT) e de suas respectivas significaes.Podemos dizer, resumidamente, que o link o elemento bsico do hipertexto ele oferece um mtodo simples de passar de um ponto do documento para outro, interno ou externo. No Twitter, o link amplamente explorado, dos 134 tweets analisados, 122 continham links que remetiam s pginas dos veculos. Assim, podemos dizer que o link funciona, nos tweets jornalsticos, como o elo com o nvel de explicao (Canavilhas, 2006), a conexo entre o microlide e a ampliao da notcia presente nos websites. J a funcionalidade do retweet (RT) o mecanismo empregado para indicar que o contedo publicado proveniente de outro usurio. Para Santaella e Lemos (2010), o RT um dos exemplos de fluncia mnima dos enunciados produzidos no Twitter que precisam estar em consonncia com a linguagem da plataforma, firmada atravs de sua microssintaxe. O Twitter permite que os usurios faam RT de trs formas. A primeira ocorre com um clique no cone retweetar, presente logo abaixo de todos os tweets. Essa forma de retweetar garante total conservao do tweet original e de sua fonte, mantendo o avatar do autor e inviabilizando a edio do contedo. Nao houve nenhuma ocorrncia dessa primeira forma de retweet em nosso corpus, o que pode sugerir uma resistncia dos veculos a abrir espao para vinculao da imagem de outro perfil ou para uma referncia to explcita a um contedo estrangeiro.A segunda forma de retweet se d pela colocao da sigla RT no incio do tweet seguida pela identificao do autor. Essa forma de RT permite a edio do texto original e a insero de comentrios. Ao us-la, o usurio no abre mo de sua identificao visual e autoral, utilizando o RT como uma espcie de sinal citao direta da fala do outro que exposta aps o sinal :. Fazendo um paralelo com o texto jornalstico padro, o uso desse tipo de RT atua como a citao direta, expressa atravs do uso de aspas e dos verbos declarativos. Assim, a construo RT+@usurio: serve para indicar a exposio direta da fala do outro dentro de um tweet. A terceira possibilidade de RT a insero da slashtags obtida atravs da combinao do slasher / (barra delimitadora de metadados) e do pointer[footnoteRef:2] via. Essa forma muito parecida com a da insero da sigla RT, permitindo a edio do contedo e exigindo a identificao da fonte. De acordo com Santaella e Lemos (2010), essa forma de RT ainda no est muito popularizada, mas j encontrada nos tweets de usurios mais fluentes em microtexto (p.112). Em nosso corpus observamos a ocorrncia dessa forma de RT exclusivamente no contedo da FSP. H, entretanto, uma adaptao: a FSP utiliza o via sem a precedncia da /, entre parnteses e junto da identificao da fonte. [2: O termo pointer refere s pequenas palavras atribuidoras de significado no sistema Twitter. ]

A utilizao feita pela FSP demonstra a apropriao de uma possibilidade tcnica da plataforma sistematizao e padronizao dos RT do veculo. Essa busca pela padronizao do texto uma constante da atividade jornalstica os manuais de redao so a prova material de tal afirmao. A cada nova mdia ou ferramenta, a tcnica e a linguagem jornalstica precisam ser remodeladas para melhor dialogarem com o meio. O processo de adaptao gradual e costuma apresentar muitas variaes de um veculo a outro. Dizemos, com isso, que novos recursos (elementos) sofrem apropriaes e experimentaes distintas. Vimos, por exemplo, que enquanto a ZH utiliza a sigla RT @usurio para indicar a fonte de uma informao que est sendo repassada integralmente, a FSP no utiliza o RT e faz a indicao da fonte aps dar a informao atravs do via @usurio posto entre parnteses.

Figura 2 Uso do RT

Apesar das duas construes terem um propsito comum, a diferente forma de faz-lo pode refletir em sentidos distintos. A construo da ZH, RT+@usurio+:, causa um efeito parecido com o das citaes diretas. J a construo da FSP, (via @usurio), nos parece mais prxima de uma citao indireta, em que a fala da fonte trabalhada pelo veculo/jornalista, tornando-a uma construo hbrida entre a fonte da informao e o enunciador.Outro elemento tcnico caracterstico do Twitter e encontrado nos tweets jornalsticos a hashtag (#). Conceitualmente, as tags so indexadores de temas, tpicos e/ou palavras-chave que renem todos os contedos relacionados em um nico fluxo, isso possibilita aos usurios acompanhar a discusso de um tema e/ou divulgar informaes pertinentes em tempo real (Santaella; Lemos, 2010:108). No Twitter, as tags passaram a ser precedidas pelo smbolo # (hash), originando as hashtags. Como tratam dos mais diversos tpicos, as hashtags podem ser comparadas ora com as prprias cartolas que delimitam a temtica de uma pgina ou com os marcadores e palavras-chave em um website, ora com os cadernos especiais de jornais impressos ou com as pginas temticas que compem alguns sites. Apesar desse possvel paralelo, as hashtags se diferenciam de qualquer outro mecanismo de indexao utilizado pelo jornalismo por publicar, igualitariamente, os contedos de todos os usurios em um mesmo espao. Quando veicula uma hashtag em um tweet, o jornal est abrindo um espao externo ao seu perfil onde outras pessoas iro interferir sem que haja qualquer mecanismo de restrio disponvel ao veculo. Em nosso corpus, encontramos cinco hashtags, todas do DP.Outro elemento importante na construo dos tweets a arroba. Uma boa definio dada por Tagil Ramos (2010:38) ao afirmar que no Twitter, @ sinnimo de gente. Tem fora magntica na linguagem, principalmente em sua sintaxe. A arroba o smbolo que precede o TwitterNome, ou seja, a identificao nominal de cada usurio dentro do Twitter. Assim, podemos dizer que a arroba marca a presena de um twitteiro.

Figura 3 Tweets com a presena da arroba

Os enunciados apresentados acima utilizam a @ para remeter a outro usurio. No primeiro exemplo, da FSP, o tweet apresenta os personagens da notcia fazendo referncia tanto aos nomes pelos quais so reconhecidos no mundo offline, como tambm a seus TwitterNomes. J no segundo exemplo, da ZH, o tweet apresenta, atravs do @andersonpereira, a identificao do enunciatrio[footnoteRef:3]. Percebemos nesse tweet o carter conversacional que permeia o contedo vinculado e a referncia direta que a ZH faz a seu leitor, explorando o carter de SRS do Twitter. Nesse e em outros tweets similares, vemos que, ao buscar o contato direto com algum @seguidor/leitor, o veculo abandona a impessoalidade exigida pela linguagem jornalstica padro e a fria rigidez caracterstica do enunciado noticioso de referncia chegando a explorar o uso de emoticons[footnoteRef:4] em seus enunciados. [3: Aquele a quem o enunciado expresso se destina. ] [4: Os emoticons (do ingls emotion + icon) so formados por sequncia de caracteres tipogrficos - tais como: :) e :(. A sequncia ou uma pequena figura originada dela, como esta , serve para transmitir de forma no-verbal o estado psicolgico, emotivo de quem os emprega. ]

As ltimas trs funcionalidades que acabamos de explorar (RT, @ e #) caracterizam, como mencionado, um sistema de microssintaxe especfico do Twitter. Esse sistema reflexo da restrio de caracteres imposta produo textual, seus elementos so exemplos da fluncia mnima em microssintaxe que requisito bsico para a navegao e insero bem-sucedida (Santaella; Lemos, 2010:111) no Twitter.

A microssintaxe torna evidente que um novo tipo de linguagem emerge em resposta s caractersticas das micromdias, exigindo dos novos participantes nveis gradativos de alfabetizao em microssintaxe [...] Nesse contexto, o uso efetivo da linguagem especfica e apropriada se torna um requisito fundamental para a insero de um usurio em cada ambiente miditico (ibdem, 111-112).

Ora, se o aparecimento dessa microssintaxe origina uma nova linguagem que emerge, grosso modo, em parceria s possibilidades tcnicas do Twitter e em funo das apropriaes sociais as quais so submetidas, lgico que, ao fazer uso da ferramenta, o jornalismo tambm passa a participar das trocas e a ser influenciado e, concomitantemente, influenciar o contexto negociado pela rede, apropriando-se e atuando no processo de significao dessa nova linguagem.

Tabela 3 Uso dos elementos tcnicos do Twitter TOTAL

Uso de links503240122

Uso de @1204--16

Hashtags----0505

Retweets0802--10

A Tabela 3 indica que a apropriao (Santaella; Lemos, 2010) dos elementos de microssintaxe est ocorrendo paulatinamente. Dizemos isso porque a ampla utilizao do link em contraposio a escassa presena de hashtags, por exemplo, evidencia a maior apropriao dos elementos mais familiares produo jornalstica na web. O primeiro elemento da tabela, o link, utilizado com mais frequncia provavelmente por j fazer parte das composies textuais dos sites; por outro lado, a pouca adeso hashtag sugere algum estranhamento entre o texto jornalstico e este o novo elemento. Em nosso corpus, houve prevalncia do emprego do link e da @. No Twitter, a presena desses elementos especficos de codificao to intensa e arraigada ao seu funcionamento que sua no observncia pode inviabilizar a comunicao e a troca entre usurios. Sendo o jornalismo uma atividade voltada transmisso de mensagens (Traquina, 2005, 2009), ele no poderia explorar o potencial miditico do Twitter seno atravs da compreenso de sua sintaxe, de sua linguagem, de sua organizao e de uma integrao ao sistema cultural formatado pelos usurios. Assim, para comunicar em tal ambiente, os jornais iniciaram um processo de apropriao[footnoteRef:5] de novos signos, adaptando e explorando as possibilidades e rituais dessa nova linguagem sua atividade. Esse processo de consolidao da linguagem e do espao de fala estabelecido no Twitter est se dando de forma to expressa que j podemos observ-lo alm das fronteiras da ferramenta, no sendo raro encontrar em outras mdias menes ao TwitterNome de um personagem da notcia veiculada ou adoo de termos do idioleto caracterstico da rede. [5: Este processo de apropriao no mecnico ou funcional, mas um fenmeno complexo. Reflete uma srie de transformaes scio-culturais que, pela limitao de espao, no podem tratadas com a necessria profundidade neste artigo.]

A observncia de certos elementos textuais, apontada at aqui, serve como smbolo um material de um processo que est modificando as formas de comunicao e as relaes scio-culturais na sociedade contempornea uma vez que toda linguagem traz consigo novos modos de pensar, agir, sentir (Santaella, 2007:320). Com a apropriao tcnica dos novos elementos lingusticos advindos com o Twitter, o jornalismo passa a atuar em um novo universo cultural que refletido na prpria construo de seus enunciados/tweets. Assim, partiremos, com base no exposto, apresentao e discusso de nossa proposta de tipificao dos tweets jornalsticos, apontando seus fundamentos e possveis significaes. Ressaltamos que a anlise dos dados e nossas observaes estaro postas, aqui, de forma muito sintetizada, representando uma pequena parcela de um estudo voltado compreenso dos enunciados jornalsticos no Twitter (Teixeira, 2011, 2012) e dos gneros discursivos no contexto comunicacional da era da informao (Castells, 2010).

3. Proposta de tipificao dos Tweets

Aps observarmos e analisarmos a estrutura e os elementos tcnicos empregados na constituio dos 134 tweets coletados, pudemos ir alm das marcas expressas no objeto-textual. Assim, notamos que nem todos os tweets selecionados estavam centrados na apresentao ou no repasse de um fato jornalstico, ou seja, em uma notcia nos moldes do jornalismo padro. Diante do que encontramos em nosso corpus, podemos identificar trs tipos diferentes de tweets jornalsticos:

Tabela 4 Tipificao dos tweets jornalsticos e suas ocorrncias TOTAL

Tweets noticiosos463046122

Tweets chamadas04030108

Tweets conversacionais0202--04

Apesar da variao existente, a maioria dos tweets (mais de 90%) est destinada divulgao de algum contedo noticioso. Esse dado sugere que os veculos analisados buscam, de fato, explorar a capacidade do Twitter como ferramenta miditica eficiente publicizao noticiosa. Para estabelecermos os pormenores da diferenciao (baseada na apropriao dos elementos tcnicos apresentados e na aparente intencionalidade de cada enunciado) iremos partir discusso de cada uma das tipificaes citadas.

3.1 O Tweet Noticioso

Constituindo 91% do material analisado, o tweet noticioso foi assim denominado por centrar-se na divulgao de informaes ou dados voltados explorao de um fato jornalstico, ou seja, uma notcia. Esses tweets mesclam elementos oriundos da tcnica jornalstica, do SRS Twitter e do ambiente hipertextual da web. Dessa forma, o tweet noticioso se coloca como um objeto-textual hbrido, uma espcie de bricolagem de elementos signcos que convergem construo de textos hipercondensadas, informacionais e elementares.

Esquema 1 Apropriao dos elementos do lide constituio do microlide

O Esquema 1 mostra a observada estrutura textual caracterstica dos tweets noticiosos. Primeiro vemos que os elementos tradicionais do lide passam por uma filtragem que garanta a economia de caracteres e dados, originando o microlide. Em seguida, observamos a presena de um elemento contextualizador (que ocorre atravs do uso de cartolas ou de indicao dos demais elementos do lide quando?, como? ou por qu?). Por fim, notamos a recorrente presena do link[footnoteRef:6] como elo entre o tweet e a notcia veiculada no site do jornal, caracterizando a participao do tweet como unidade base na macroestrutura hipertextual da notcia (Canavilhas, 2006). [6: Destacamos, mais uma vez, que a forma no-linear dos contedos fludos do ciberespao possibilitada, principalmente, pela presena do link. Para Santaella (2007), o link a chave mestra para as sintaxes da descontinuidade que surgem como linguagens dentro do prprio sistema lingustico do hipertexto.]

A presena massiva do tweet noticioso indica a concentrao dos veculos explorao do carter miditico assumido pelo Twitter. Ao que parece, a plataforma tornou-se o ambiente ideal veiculao de notcias (Zago, 2008) voltadas aos crescente nmero de leitores[footnoteRef:7] que desejam doses homeopticas de informao variada. Ao oferecer os tweets noticiosos como micro-cpsulas de informao, o veculo convida e estimula o leitor a explorar abordagens ampliadas do que est sendo reportado atravs do link. Todo esse processo ampliado pelo carter de SRS da ferramenta, ou seja, ao atingir um usurio no Twitter, o veculo est potencialmente atingindo uma rede social muito maior. [7: Dados publicados, em 2014, pela Twitter.Inc indicam que o SRS possui cerca de 280 milhes de usurios ativos.]

Cabe destacarmos que, apesar dos tweets noticiosos observarem alguns elementos da tcnica jornalstica padro e tambm focarem na explorao do factual, a especificidade do ambiente e de sua linguagem modifica os efeitos do enunciado noticioso. Se pensarmos, por exemplo, na caracterstica de SRS da plataforma, vemos que os tweets noticiosos, ao contrrio da notcia padro, tiram a nfase da autoria em favor de mensagens em circuito que tomam formas fixas, mas efervescentes e continuamente variveis [...] A mensagem em circuito tanto dirigida quanto dirigvel por ns; o modo fundamentalmente interativo ou dialgico (Nichols apud Santaella, 2007:316). A linguagem empregada no tweet noticioso , portanto, fruto do hibridismo dos elementos da linguagem jornalstica, da linguagem hipertextual da web e da linguagem do Twitter. Acreditamos, com base na anlise dos dados, que essa mistura que conversa com a cultura de velocidade, mobilidade, colaborao e informao always on[footnoteRef:8] da sociedade contempornea origina enunciados com as seguintes caractersticas gerais: [8: O Twitter considerado uma ferramenta always on por permitir e por estimular a conexo permanente e mvel dos sujeitos.]

a) hiperconcisos - se a notcia padro considerada como um enunciado muito conciso (frases curtas, sintaxe direta, lide), o tweet noticioso (nica frase em 140 caracteres, microssintaxe) s pode ser considerado como o representante da exacerbao dessa caracterstica, simbolizada pelo microlide; b) impessoais - os tweets noticiosos seguem a impessoalidade da linguagem jornalstica padro os fatos de um terceiro so contados em terceira pessoa (ele/eles), apagando as marcas do autor;c) objetivos os tweets mantm uma linguagem que busca creditar objetividade ao relato atravs de construes impessoais e constatativas todavia, notamos que a interao com outros usurios, a presena de certos sinais grficos (!) e o uso de links[footnoteRef:9] interferem, em algum grau, na articulao simblica que visa gerar a iluso referencial obtida pela linguagem que vela os signos dos sujeitos da enunciao; [9: No estamos sugerindo que a presena do link mine a objetividade da linguagem utilizada no relato - nossa observao apenas indica que, ao contrrio da notcia padro que no faz nenhuma meno ao produtor do relato, nos tweets a presena expressa do link sugere uma espcie de fonte intermediria entre o enunciado e a realidade. ]

d) efmeros - a observncia dessa caracterstica, comum a todos enunciados jornalsticos, parece ganhar especial destaque nos tweets noticiosos pois no se liga apenas ao fato de ser um relato de um estado/algo transitrio, mas tambm por ele prprio ser uma construo muito breve que logo se altera no fluxo informativo, tornando-se inacessvel rapidamente essa caracterstica fica muito evidente pela falta de referncias temporais na constituio textual dos tweets que se voltam sempre aos leitores e ao presente imediatos. e) hipertextuais - a presena constante de links nos tweets torna evidente seu carter hipertextual participando da macroestrutura do webjornalismo como unidade base da construo noticiosa. f) elementares - ao contrrio da redao padro do jornalismo, o tweet noticioso no possui uma distribuio hierarquizada dos dados, atuando como uma clula elementar que apresenta apenas o essencial. Apesar de contemplarem as caractersticas gerais expostas, os tweets noticiosos encontrados tambm apresentaram distines sistemticas entre eles. Sendo assim, optamos por subdivid-los com base nas diferenas encontradas tanto ao que diz respeito linguagem, permeada pela apropriao de diferentes elementos tcnicos, quanto no que diz respeito aparente inteno dos enunciados. Assim, dividimos os tweets noticiosos de nosso corpus em: a) tweets informacionais e b) tweets cobertura.O termo informacional foi empregado para remeter a ideia de Castells (2010) que liga o termo ao aparecimento da sociedade em rede e da cultura da virtualidade real. O cerne de toda discusso proposta pelo autor est nas implicaes das transformaes tecnolgicas da cultura miditica que originam os espaos de fluxo e de produo contnua do conhecimento atravs do conhecimento. Assim, colocamos como tweets informacionais os enunciados noticiosos que se originam de outras notcias e, ao mesmo tempo, as divulgam. Em nosso corpus, encontramos 109 ocorrncias de tweets voltados divulgao de notcias externas, ou seja, os veculos utilizam os tweets para estimular os leitores explorao das notcias veiculadas em seus sites. Assim, a estrutura dos tweets informacionais sempre conta com a presena de um link.

Figura 4 Tweet informacional

Esse tipo de enunciado possui ocorrncia majoritria. Sua criao sempre secundria produo de uma clula informativa mais ampla, conectada a ele atravs de um link. Os tweets informacionais so as construes mais prximas da linguagem padro do jornalismo, apresentando a notcia por meio de enunciados assertivos, impessoais e objetivos. Apesar disso, os tweets informacionais apresentam o carter hipertextual da web e o carter dialgico da ferramenta, caracterizando-se pela hiperconciso, efemeridade acentuada, estrutura elementar e participao no fluxo informacional heterogneo e interativo do Twitter.Os tweets cobertura, por sua vez, esto voltados a noticiar o desenrolar de um acontecimento em tempo real, fazendo algo semelhante s notcias minuto a minuto presentes em alguns sites. Zago (2008) considera esse tipo de prtica como uma das mais promissoras apropriaes do Twitter produo jornalstica. A utilizao do Twitter na cobertura dinmica de um acontecimento favorecida pelas caractersticas da plataforma que, combinadas tecnologia mvel e s redes wireless, permitem que o jornalista divulgue informaes com enorme conciso e dinamicidade. Alm disso, o ambiente hipertextual favorece a explorao gradativa e a contnua atualizao dos dados, que podem ser alterados a qualquer momento ou ampliados atravs de novas clulas informativas conectadas por links. Durante a observao do corpus, identificamos a ocorrncia de 13 tweets cobertura, todos do DP e ligados a dois eventos esportivos distintos. A cobertura do primeiro evento (evento A), com cinco tweets, relatou o desenrolar de uma partida de futebol entre as equipes do Brasil de Pelotas (Xavante) e do Brasil de Farroupilha (Farroupilha). J o segundo (evento B), relatou, em oito tweets, o jogo entre o So Paulo e o Avenida.Os tweets do evento A participam de um fluxo informacional que visa narrar um fato em tempo real. Cada enunciado usado para acrescentar uma nova informao que expe o desenrolar do evento, relacionando-o dialogicamente com o anterior. Ao mesmo tempo, h uma constante repetio de dados que serve para contextualizar a nova informao que est sendo anexada ao relato e/ou ampliada por meio de um novo nodo informativo linkado ao tweet. Iremos, atravs do quadro abaixo, observar os tweets das duas coberturas.

Quadro 1 Tweets cobertura e a gradativa explorao da informaoTweet com a explorao imediata de uma informao nova sobre o acontecimento narradoTweet indicando mais explorao da informao em um novo nodo expresso pela presena do link

Percebemos que os tweets da primeira coluna concentram-se no imediatismo, ou seja, aparecem como uma construo textual primria e original acerca da informao veiculada diretamente no Twitter, ficando restrita aos usurios da ferramenta. J os tweets da segunda coluna retomam a informao original e ampliam a sua explorao atravs da insero de um link que leva a um nodo secundrio, caracterizando esses tweets como unidades base de uma macroestrutura noticiosa (Canavilhas, 2006). Reafirmamos que a observncia do link nos tweets indica no apenas a hipertextualidade do relato, mas tambm a posterioridade da construo em relao ao material linkado. Sendo assim, os tweets cobertura postos como unidades base aproximam-se muito dos tweets considerados informacionais. Todavia, observamos que o uso da forma nominal do verbo no particpio (precedida por verbo auxiliar de tempo) serve para marcar a instantaneidade do que est sendo relatado e, ao mesmo tempo, o carter de assertividade/constatividade do enunciado. Essa indicao de instantaneidade entre a ocorrncia e a materializao do enunciado que reporta o fato a principal caracterstica dos tweets cobertura e tambm a sua principal diferena em relao aos tweets informacionais. A construo indicada (uso da forma nominal do verbo no particpio) abandonada em apenas alguns tweets que passam a apresentar o verbo no presente do indicativo e sem a insero de link favorecendo o efeito de instantaneidade (supresso do tempo entre a ao e a enunciao) do que est sendo noticiado. J vimos que os tweets no costumam apresentar uma indicao precisa de quando foram publicados (salientando sua efemeridade). Somando esse fato ausncia de links, temos o efeito de simultaneidade entre o fato e o relato, o qual se coloca como cobertura jornalstica para consumo imediato. Assim, a narrativa textual dos tweets cobertura , potencialmente, to imediata quanto aquela feita pelos narradores esportivos no rdio e/ou na televiso. As especficas coberturas do evento A e do evento B acabam interconectadas pela recorrente apario da cartola segundona que funciona como indicao e ligao temtica do contedo explorado nos tweets dos dois eventos. Outro dado comum s duas coberturas a posterior apario de um tweet informacional que se conecta com as coberturas, atravs da cartola, e noticia o resultado final dos eventos narrados. Veja os respectivos exemplos ligados ao evento A e ao evento B:

Figura 5 Tweets informacionais que retomam a cobertura dos eventos A e B

A ltima observao acerca dos tweets cobertura a apario do ponto de exclamao (!) em dois dos enunciados. A utilizao de sinais grficos que indicam emoo e/ou nfase contraria a tcnica jornalstica padro o uso desse tipo de pontuao s costuma ser aceito quando inserido em citaes ou em casos muito especficos, onde a emoo expressa est ligada coletividade social ou ainda em espaos determinados voltados opinio e crtica. O uso do ponto de exclamao marca a presena do sujeito enunciador sua ocorrncia em enunciados jornalsticos (notcias) marca o aparecimento de uma linguagem muito especfica do jornalismo dentro do Twitter, onde a impessoalidade e a objetividade da linguagem tradicional, caractersticas antes inegociveis no jornalismo, comeam a ceder espao a elementos de uma linguagem menos burocrtica e mais interativa. Podemos observar as marcas dessa linguagem jornalstica menos burocrtica, principalmente, atravs da observao dos enunciados (tweets) jornalsticos que no esto centrados publicao ou divulgao de notcias, mas, sim, interao dos veculos/jornalistas com os demais usurios. As prximas tipificaes a serem apresentadas evidenciam as caractersticas denunciantes do aparecimento dessa linguagem idiossincrtica que nega muitos aspectos da linguagem padro.

3.2 O Tweet Chamada

Denominamos de tweets chamada os enunciados jornalsticos voltados divulgao de materiais exteriores ao ambiente do ciberespao ou exteriores ao Twitter. Tais enunciados visam convidar ou chamar o leitor para explorar outro objeto-textual. Assim, podemos dizer que o enunciado jornalstico funciona como tweet chamada quando busca referenciar ou indicar outro enunciado assumindo, por vezes, um carter mais prximo da linguagem publicitria do que da jornalstica.

Figura 6 Tweet chamada

Observamos no tweet exposto um hibridismo entre elementos lingusticos. Notamos tambm a presena do verbo no modo imperativo, a recorrncia a esse modo verbal muito utilizada em enunciados que servem ao discurso publicitrio pois busca, grosso modo, influenciar o enunciatrio a realizar uma ao (ex.: beba coca-cola). No caso do tweet dado, temos um enunciado que utilizado para repassar um material institucional do Grupo RBS (@grupo_rbs). A precedncia da abreviatura RT j explicita a incorporao de um contedo exterior que est sendo repassado pelo perfil da ZH. Assim, consideramos que o enunciado serve para chamar o leitor do jornal explorar um contedo institucional do Grupo empresarial ao qual jornal pertence. O uso do termo conhea evidencia o carter convidativo do tweet, demonstrando o apelo direto para que o leitor realize a ao. Outra caracterstica incomum linguagem jornalstica e, estruturalmente, externa a sua tcnica de redao a presena do pronome possessivo nosso na materialidade lingustica do tweet. O uso do pronome marca a presena do veculo/jornalista no enunciado, negligenciado o carter impessoal e objetivo orientado desejado pela linguagem padro.

Figura 7 Tweets chamada

Nos tweets chamada expostos acima, percebemos que o carter convidativo se mantm, em contrapartida, a impessoalidade volta a marcar a linguagem utilizada constituio dos tweets. Aqui os enunciados ganham caractersticas e funcionalidade muito semelhantes s chamadas encontradas nas capas dos jornais e revistas, utilizadas para convidar e introduzir a leitura de uma dada matria. Se observarmos esses tweets sob a perspectiva da macroestrutura do enunciado jornalstico na web, podemos dizer que, assim como os tweets informacionais, eles atuam como uma espcie de paratexto (Genette, 1997) que se liga ao texto principal atravs do link. Ao trabalhar com o hipertexto e com o papel do link na construo das notcias online, Luciana Mielniczuk (2001:9) se apropria das ideias de Genette e de autores como Mouillaud (1997), Gouaz (1999), Landow (1997) e Lvy (1995), para apresentar o link como elemento paratextual da escrita em hipertexto, talvez no o nico, mas o que se apresenta com maior evidncia na atual fase do jornalismo desenvolvido para a Web. O critrio utilizado pela autora para definir o que seria um elemento paratextual foram a observncia das seguintes funes: a) fazer apresentao do texto principal; b) atuar como elemento de negociao (transao) entre leitor e texto; c) ter a funo de realizar a transio entre o mundo do leitor e o mundo do texto e, por fim, d) estar situado nas fronteiras do texto, estabelecendo-lhe os limites. Sendo assim, tomamos a liberdade de considerar que, quando inserido em um tweet, o link expande o seu carter paratextual ao enunciado jornalstico que o precede, uma vez que esse exerce todas as funes apontadas por Mielniczuk (2001) como fundantes aos elementos paratextuais. Em nosso corpus encontramos oito tweets chamada FSP (4), ZH (3) e DP (1) , todos possuam a caracterstica de funcionar como convite e estavam acompanhados de um link.

3.3 O Tweet Conversacional A ltima tipificao que extrada do corpus a dos tweets conversacionais. Se estivssemos voltados a uma pesquisa puramente quantitativa, certamente esses tweets seriam ignorados por sua inexpressividade numrica. Do total de 134 tweets apenas quatro se apresentaram como tal ZH (2) e FSP (2). Apesar disso, nosso interesse acerca de tais objetos foi imediato e saliente. Se nos prendssemos apenas materialidade textual desses tweets j teramos muito o que destacar como, por exemplo, o uso recorrente de sinais grficos que extrapolam as determinaes da linguagem jornalstica padro. No sendo esse nosso foco, a observao dos tweets conversacionais parece ainda mais interessante. Sabe-se que a linguagem jornalstica serve produo de enunciados capazes de reforar e estabelecer certos efeitos de sentido que, em ltima anlise, reforam o discurso jornalstico tradicional, referencial. Todo esse processo passa pela observncia de tcnicas muito especficas de narrao, construo e reconhecimento, capazes de materializar os enunciados jornalsticos, ou seja, a notcia objetiva, impessoal, assertiva, excludente, concisa e descritiva (Gomes, 2000; Traquina, 2005, 2008). Percebemos, principalmente, atravs da observao dos tweets informacionais que os veculos/jornalistas, como sujeitos da enunciao, permanecem buscando estratgias para se apagarem de suas construes e produzirem os efeitos discursivos desejados, ou seja, os efeitos de um discurso referencial que fala por si e sugere uma verdade absoluta. Cabe relembramos que a linguagem jornalstica padro obedece a lgica de uma comunicao linear, hierarquizada, exclusiva e unilateral, caracterstica de uma dada sociedade e, por extenso, de seus meios/ veculos de comunicao (Castells, 2010; Lvy, 1995, 1999). Todavia, com as mudanas sociais inerentes a insero dos meios de comunicao mediada por computador (CMC), os veculos jornalsticos mudaram e, independentemente da ordem dessas alteraes, a forma de comunicar tambm foi alterada. Assim, podemos dizer que os tweets representam uma singela materialidade dessa ampla mudana que se constri atravs de inmeros processos histricos e sociais (Castells, 2010; Lvy, 1993, 1995, 1999; Lemos, 2004, Harvey, 1992). O jornalismo, apesar do reconhecido conservadorismo, teve que adaptar sua linguagem para conseguir informar em um contexto fludo, interativo e polissmico. Acreditamos que isso pode ser muito bem representado atravs dos tweets, principalmente, atravs dos tweets conversacionais.

Figura 8 Tweet conversacional

O contedo do tweet apresentado no possui nenhum carter informativo ou noticioso, tambm no expressa nenhuma opinio ou crtica (funes do jornalismo opinativo), mas divide o mesmo espao ou, melhor dizendo, ganha o mesmo espao de uma notcia no fluxo informacional. Para que o jornalismo utilize o Twitter como ferramenta de publicao informativa, ele precisa, necessariamente, interagir com a rede e compartilhar de seus rituais para no ficar isolado. Como o Twitter , antes de tudo, um SRS, comunicar na Twittosfera significa interagir. No tweet dado, h o estabelecimento expresso de um dilogo entre a FSP e outro usurio. Nesse enunciado, a linguagem jornalstica cede espao linguagem dialgica, h a referncia direta a um enunciatrio determinado que est inserido e expresso no dizer. Mais que isso, o contedo do enunciado da FSP expressa um carter no apenas interativo, mas colaborativo. Figura 9 Tweets conversacionais

Observamos que em todos os enunciados apresentados nas figuras 8 e 9, h a representao tipogrfica do enunciador atravs da insero de emoticons que expressam satisfao e, ao mesmo tempo, a informalidade de suas falas. Se tentssemos traar um paralelo dos enunciados de carter (mais) conversacional veiculados em um jornal impresso, por exemplo, teramos que pensar em sees especficas que so, propositalmente, separadas do contedo jornalstico. Mesmo no webjornalismo h o cuidado de estabelecer espaos restritos interao com o leitor e suas contribuies. No Twitter, entretanto, essa arquitetura liquefeita, o fluxo informacional contnuo e oferece possibilidades iguais a todos usurios. Se nos detivssemos explorar os espaos de interao dos jornais impressos, perceberamos a manuteno da impessoalidade e distanciamento na textualidade dos enunciados. Espaos como carta do leitor e erramos aparecem sempre em pequenos espaos e temporalmente distantes da fala que buscam retomar. Outra interessante observao acerca dos tweets expostos a indicao material do gnero do enunciador atravs do uso do adjetivo obrigado, presente nos dois enunciados.No Twitter, portanto, a interao e a colaborao entre usurios dinmica, instantnea e indispensvel. A localizao temporal o presente imediato e, por isso, exige uma percepo fina e atenciosa do que est sendo dito e para quem est sendo dito. No exemplo abaixo notamos no apenas a interao e colaborao entre a ZH e outro twitteiro, mas tambm a agilidade que permeou esse processo: Figura 10 Tweet conversacional

O texto ao qual o tweet se refere , necessariamente, uma publicao recente a qual o @riicardo_souza pde ter acesso em sua timeline. No h como referir a um tweet muito antigo, pois assim que publicado ele logo se perde no fluxo informacional. Como todo enunciado, o tweet pressupe um dilogo, mas, para que se materialize, esse processo precisa ser gil, quase simultneo. Finalizando nossas observaes, destacamos a perceptvel interferncia que o comentrio do @riicardo_souza gerou em algum dos contedos publicados pela ZH. Apontamos, portanto, que a caracterstica interativa e dialgica do Twitter atua na construo potencial dos enunciados jornalsticos interferindo, corrigindo, comentando os relatos, os usurios colaboram e, ao mesmo tempo, fiscalizam os contedos. A igualdade de espaos entre usurios do Twitter coage o jornalismo a se corrigir publicamente e em tempo real podemos dizer, com isso, que os enunciados aparentemente inabalveis e indiscutveis do jornalismo tornam-se mais frgeis.

4. Consideraes Finais

A tipificao proposta no visa nada mais do que estimular a explorao dos novos formatos que a notcia tem assumido no ciberespao e, consequentemente, dos processos scio-histricos que formatam o novo contexto no qual o campo jornalstico transita. Com o aparecimento das ferramentas de CMC, vimos surgir um novo espao de interao no qual as relaes entre a sociedade e as diversas atividades que compem a vida social esto sendo reestruturadas. O jornalismo e seus produtos esto, assim, compartilhando das mudanas desta nova sociedade organizada em rede.Dito isso e com base em todo exposto, evidenciamos que nossa proposta de tipificao , naturalmente, limitada pelo corpus e, portanto, se posta como uma ideia em aberto. No pretendemos impor, com ela, qualquer tipo de sistematizao generalista que possa ser considerada como modelo de observao dos enunciados jornalsticos no Twitter. Ao contrrio, nossas observaes ao longo das descries de cada tipo sugerido de tweet buscaram sublinhar o contexto dinmico, horizontalizado e dialgico no qual os textos jornalsticos esto inseridos e pelo qual esto sendo afetados. Quando falamos em tweet noticioso, chamada e conversacional, portanto, estamos falando de uma proposta que est limitada s observaes extradas dos tweets analisados, mas que transbordam indcios de mudanas nos processos scio-culturais que formatam as relaes contemporneas. Destacamos, por fim, que a apropriao dos recursos tcnicos do Twitter construo de enunciados jornalsticos no significa uma mera adaptao do texto padro a uma espcie de nova lngua e a sua microssintaxe, mas sim um envolvimento profundo do campo jornalstico com a linguagem colaborativa e interativa que emana das redes de troca e com os novos valores so refletidos. Cremos, portanto, que a linguagem jornalstica comea a ser permeada por novos elementos que indicam mais do que mudanas na materialidade textual, mas alteraes profundas na maneira do jornalismo interagir com seus produtos, com a sociedade e com a prpria imagem.

5. Referncias Bibliogrficas

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