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t; & * !;. ,h ;r s0cÍ0ríNGUrsïrcA Pnnru | Tânia Maria Alknint t. coNsrDERAçoes lulctnts Linguageme sociedade estão ligadas entre si de rlodo inquestionável. Mais do que isso, podemos afirmar que essarelação é a baseda constituição do ser humano. A história da humanidade é a históriade seres organizados em socie- dades e detentores de um sistema de comunicação oral, ou seja, de uma língua. Efetivamente, a relação entre linguagem e sociedade não é posta em dúvida por ninguém,e não deveriaestarausente, portanto, das reflexões sobreo fenômeno lingüístico. Por que se fala, então, em Sociolingürística? Ou melhor, por que existe uma área, dentro da Lingüística, para tratar,especificamente, das rela- ções entrelinguagem e sociedade - a Sociolingüística? A linguagern não seria, essencialmente, um fenômeno de natureza social? As respostas a questões como essas não são tão óbvias. Pararespondê-las, é preciso considerar razões de natu- rezahistórica, mais precisamente, o contexto social maisamplo em que se situam aqueles que se dedicama pensar o fenômenolingüístico. Assim, inicialmente, é necessário levar em conta que os estudiosos do fenômenolingüístico, corrìo homens de seutempo,assumiram posturas teóricas em consonância com o fazet
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Sociolinguística Tânia Alkmim

Jul 24, 2015

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Page 1: Sociolinguística Tânia Alkmim

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s0cÍ0ríNGUrsïrcA

Pnnru |Tânia Maria Alknint

t. coNsrDERAçoes lulctnts

Linguagem e sociedade estão l igadas entre si de rlodo inquestionável. Maisdo que isso, podemos afirmar que essa relação é a base da constituição do serhumano. A história da humanidade é a história de seres organizados em socie-dades e detentores de um sistema de comunicação oral, ou seja, de uma língua.Efetivamente, a relação entre l inguagem e sociedade não é posta em dúvida porninguém, e não deveria estar ausente, portanto, das reflexões sobre o fenômenol ingüíst ico. Por que se fa la, então, em Socio l ingür ís t ica? Ou melhor , por queexiste uma área, dentro da Lingüística, para tratar, especificamente, das rela-

ções entre l inguagem e sociedade - a Sociolingüística? A linguagern não seria,essencialmente, um fenômeno de natureza social? As respostas a questões comoessas não são tão óbvias. Para respondê-las, é preciso considerar razões de natu-reza histórica, mais precisamente, o contexto social mais amplo em que se situamaqueles que se dedicam a pensar o fenômeno lingüístico. Assim, inicialmente, énecessár io levar em conta que os estudiosos do fenômeno l ingüíst ico, corr ìohomens de seu tempo, assumiram posturas teóricas em consonância com o fazet

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v.I;:..rNïtoDUçÁo A LrNGÜisïrCA

científ ico da tradição cultural em que estavam inseridos. Nesse sentido, as teo-

r ias de l inguagem, do passado ou atuais, sempre ref le tem concepções par t icu la-

res de fenômeno l ingúíst ico e compreensões d is t in tas do papel deste na v ida

social. Mais concretamente, em cada época, as teorias l ingüísticas definem, a

seu modo, a natureza e aS características relevantes do fenômeno lingüístico. E,

evidentemente, a maneira de descrevê-lo e de analisá-lo.

Alguns manuais de história da Lingüística nos oferecem um panorama de

diversas abordagens no estudo do fenômeno lingüísticor. Observemos, a título

ilustrativo, alguns comentários de Câmara Jr., em História cla Líttgíiística, a

respeito do Iingüista alemão Augusto Schleicher, cujos trabalhos tiveram forte

impacto no século XIX:

Schleicher não era apenas um lingüista mas também um estudioso das ciênciasnaturais dedicando-se à botânica. Este fato dera-lhe uma orientação a favor dasciências da natuieza. Ademais, de acordo com a fi losofia de Hegel, que dominouo pensamento alemão dessa época, as ciências humanas, incluindo a história, sãoo produto do l ivre pensamento do homem e não podem ser colocadas sob a int-lu-

ência de leis imutáveis e gerais tais como o fenômeno da natureza.

Ora, Schleicher, como todos os l ingüistas anteíiores a ele' t inha a ambição de

elevar o estudo da l inguagem ao statLts de uma ciência rigorosa com rigorosas leis

de desenvolvimento2.

É assim que Schleicher se propõe a colocar a Lingüística no campo das

ciências naturais, dissociando-a da tradição fi lológica, vista por ele como um

ramo da História, ciência humana. Para o referido l ingüista alemão, o desenvo[-

vimerÌto da l inguagem era comparável ao de uma planta que llasce, cresce e

mone segundo leis físicas. A l inguagem é vista como um organismo natural ao

qual se aplica, portanto, o conceito de evolução, desenvolvido por Darwin. A

esse respeito câmara Jr. reÌata o que se segue:

De acordo com Schleicher, cada língua é o produto da ação de um complexo de

substâncias naturais no cérebro e no aparelho fonador. Estudar uma língua é, por-

tanto, uma abordagem indireta a este complexo de matérias. Desta maneira, foiele levado a adiantar que a diversidade das línguas depende da diversidade doscérebros e órgãos fonadores dos homens, de acordo com as suas raças. E associou

l. Ver Câmara Jr., J. M. H ìstória da Lingiìístü:a. Rio de Janeiro, Vozes,de la Linguistíque. De Suniner a.Sar.r.rure, Paris, PUF, l99l I Wartburg, W.

e nútodos da Ltugüística. São Paulo, Difel, 1975. (título original, 1943)

2. Câmara Jr . , J . M. Op. c i t . , p. 50.

1975; Malmberg, B. Histo i rcvon & Ulmann, S. Problenn"'

SocloLlNGúÍ5TlcÁ: porle I

a l íngua à raça de maneira indissolúvel . Advogou que a l íngua é o cr i tér io maisadequado para se proceder à classil icação racial da humanidader.

A or ientação b io logizante que schle icher impr imiu à L ingüíst ica da suaépoca afastou, evidentemente, toda consideração de ordem social e cultural notrato do fenômeno lingüístico.

A relação entre l inguagem e sociedade, reconhecida, mas nem sempre as-sumida como determinante, erìcontra-se diretamente l igada à questão da deter-minação do objeto de estudo da Lingüística. Isto é, embora admira-se que arelação linguagem-sociedade seja evidente por si só, é possível privilegiar umadeterminada óptica, e esta decisão repercute na visão que se tem clo fenômenolingüístico, de sua natureza e caracterização. Nesse sentido, a Lingüística doséculo XX teve um papel decisivo na questão da consideração da relação lin-guagem-sociedade: é esta que se encaÍrega de excluir toda consideração de na-tureza social, histórica e cultural na observação, descrição, análise e interpreta-ção do fenômeno lingtiístico. Referimo-nos, aqui, à constituição da tracliçãoestruturalista, iniciada por Saussure em seu Curso cle Lingíiística geral, em 19 16.E Saussure quem define a língua, por oposição à fala, como o objeto central daLingüística. Na visão do autor, a língua é o sistema subjacente à atividade dafala, mais concretanìente, é o sistema invariante que pode ser abstraído dasmúltiplas variações observáveis da fala. Da fala, se ocupará a Esti lística, ou,mais amplamente, a Lingüística Externa. A Lingüística, propriamente dita, terácomo tarefa descrever o sistema forma[, a língua. Inaugura-se, assim, a chama-da abordagem imanente da língua, que, em termos saussureanos, significa afas-tar "tudo o que lhe seja estranho ao organismo, ao seu sistema"a.

Interessantemente, para saussure, a língua é um fato social, no senticlo cleque é um s is tema convencional adquir ido pelos indiv íduos no convív io socia l .Mais precisamente, ele aponta a l inguagem com a faculdade natural que pcrmi-te ao homem constituir uma língua. Em conseqüência, a língua se caracterizapol' ser "um produto social da faculdade da Ìinguagem"5.

Saussure privilegia o caráter formal e estrutural do fenômeno lingüístico,embora reconheça a importância de considerações de natureza etnológica, his-tórica e polít ica. segundo ele, "o estudo dos fenômenos lingüísticos externos émuito frutífero; mas é falso dizer que sem estes não seria Dossível conhecer o

3 . Câmara J r . , J . M . Op . c i t . , p . 51 .4. Saussure, F. de. curso de Lfugí i ís t i ra geral . 3. ed. são paulo, Cul t r ix , Ì9g L ( t í tu lo orgincl , l9 lób)5 . Saussu re , F . de . Op . c i t . , p . 17 .

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?4 TNTRODUçÁO Á LrNGÚiSTrCA

organismo l ingüíst ico in terno"6. Saussure inst i tuc ional iza a d is t inção entre uma

Lingúíst ica Interna oposta a uma Lingüíst ica Externa. E essa d icotomia que

div id i rá, de maneira permanente, o campo dos estudos i ingüíst icos contemporâ-

neos, em que orientações formais se opõem a orientações contextuais, sencioque es tas ú l t imas se encon t ram f ragmen tadas sob o ró tu lo das mu i tasinterd isc ip l inas: Socio l ingüíst ica, Etnol ingüíst ica, Psicol ingüíst ica etc.

A tradição de relacionar l inguagem e sociedade, ou, mais precisamente,língua, cultura e sociedade, está inscrita na reflexão de vários autores do séculoXX. Integrados ou não à grande corrente estruturalista, que ocupou o centro dacena teórica, particularmente, a partir dos anos 1930, encontramos lingüistascujas obras são referências obrigatórias, quando se trata de pensar a questão do

social no campo dos estudos l ingüísticos. Não caberia, aqui, enumerar todosesses estudiosos, mas uma breve referência a alguns nomes, l igados ao contextoeuropeu, impõe-se: Anto ine Mei l le t , Mikhai l Bakht in, Marcel Cohen, Émi leBenveniste e Roman Jakobson.

Meillet, aluno de Saussure, f i l ia-se à orientação diacrônica dos estudoslingüísticos, mas, para ele, a história das línguas é inseparável da história dacultura e da sociedade: é essa abordagem que podemos ver em sua obra, sobre ahistória do latim, EsqtLisse cl 'utte lt istoire de la lcutgue latitrc. A propósito desselingüista francês, cabe destacar sua visão do fenômeno lingüístico, bem ilustra-da por um trecho de sua aula inaugural no Colège cle Fratrce, em 1906:

Ora, a l inguagem é, eminentemente, um fato social. Tem-se, freqüentemente, re-petido que as línguas não existem Íbra dos sujeitos que as falam, e, em conseqüên-cia disto, não há r'azões para lhes atribuir uma existência autônoma, um ser palti-cular. Esta é uma constatação óbvia, mas sem força, como a maior parte das pro-posições ev identes. Pois, se a re i i l idade de uma l íngua não é a lgo c le substancia l ,isto não significa que não seja real. Esta realidade é, ao mesmo tempo, l ingüísticae socia lT.

Bakhtin (1929), com sua crít ica radical à postura saussureana, traz para ocentro da cena dos estr.rdos l ingüísticos a noção de comunicação social:

6 , Saussu re , F . de . Op , c i t . , p . 3 l .7. O (exto or ig inal de MEILLET é o que se segue: "Or, le langage est énr inement un fa i t socia l . On a

souvcnt lepeté que les Ìangues n 'existent pas en dehors des sujets que les par lent , et que par sui te on n 'estpas fondé à leut at t r ibucr une existence autonome, un être proprc. C'est une constatal ion évidcntc, maissal ìs poÌ tée, comme la p lupart des proposir ions évidcntes. Car s i la réal i té d 'une langue n 'est . pas quelqucchose de substant ie l , eÌ le n 'en existe pas moins. Cette rer l i té est à la fo is l inguist ique et socia lc" . In:Mci l lc t , A. Est lu isse d 'wrc lúsío i re de la langua latürc. Pxis, Kl incksiek, 1977, p. 16. ( t í tu lo or ig inal ,I 928 )

SOCIOLINGUISï ICÁ; pcr lo Í 25

A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato deformas l ingüíst icas, nem pela enunciação monológica iso lada, nem pelo atopsicofisiológico de sua produção, mas pelc fenômeno social da itúeraçr1o verbalrealizada através da, enunciação ou das enunciações. A interação verbal constituiassim a realidade fundamental da líneua8.

De uma perspectiva diferente da de Bakhtin, Jakobson, outro l ingüistarusso, explicita sua visão sobre a relação entre l inguagem e contexto social, emque a noção de comunicação tem também um papel central. Para Jakobson, opr incíp io da homogeneidade do código l ingüíst ico, postu lado por Saussure(1916), e adotado pela Lingüística, "não passa de uma ficção desconcertante"e,já que todo indivíduo participa de diferentes comunidades l ingüísticas e todocódigo l ingüístico é "multiforme e compreende uma hierarquia de subcódigosdiversos, l ivremente escolhidos pelo sujeito faiante"r0, segundo a função da men-sagem, do interlocutor ao qual se dirige e da relação existente entre os falantesenvolvidos na situação comunicativa.

Para Jakobson (1960), o ponto de partida é o processo comunicativo âm-plo, e isso o leva a ultrapassar a óptica estreita de uma análise do fenômenolingüístico ancorada apenas em suas características estruturais. Ao privilegiar oprocesso comunicativo, o referido autor privilegia tambérn os aspectos funcio-nais da l inguagem. É o que podemos ver com clareza em seu célebre artigoLingüística e poética, em que Jakobson identifica os fatores constitutivos de

todo ato de comunicação verbal: o remetente, a mensageft4 o destinatário, o

contexto, o canal e o código. Cada um desses fatores determina uma diferentefunção de linguagem, seguindo-se, então, que "a estrutura verbal de uma men-sagem depende basicamente da função predominante"rt. Assim é que, por exem-plo, a predominância do fator remetente configura a função emotiva ou expres-

siva, que exprime "a atitude de quem fala em relação àquiÌo de que está falan-do"r2, e se evidencia, entre outros procedimentos, pelo uso de interjeições, pela

alteração de duração de vogais (por exemplo, em português, graande).

8. Bakhtin, M. Marxisnn e JiLosrfÍa da linguagent.5. ed. São Paulo, Hucitec, 1990, p. 123. (títuloo r i g i na l , 1929 )

9. Jakobson, R. Relações entre a ciôncid da linguagem e as outras riAtu:ìat. Lisboa, Bertrand, 1973,p.29.

10. Ib idem, p. 29.ll. Jakobson, R. Lingüística e poética. ln: Lüryuística e conturúcação. São Paulo, Cultrix, 1970,

p.123. ( t í tu lo or ig inal , 1960)1 2. Jakobson, R. Linguística e corttutticaçã.o. São PauÌo, Cultrix, p, 1 24

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rNïRoouçÁo À Lncúisrrcn

Em 1956, o francês Marcel Cohen publicou Pour u.ne sociologie du langage- republicado, em I'971, com o novo título de Mutériau.x pour rurc sociologiedu langage - em que advoga a necessidade de um diálogo entre as ciênciashumanas, afirmando que ' líos fenômenos lingüísticos se realizam no contextovariável dos acontecimentos sociais"r3. Mas, ao assumir o postulado saussureanode que é preciso separar aspectos internos e aspectos externos no estudo daslínguas, Cohen assume a questão das relações entre l inguagem e sociedade apartir da consideração de fatores externos. Nesse sentido, o referido auror esra-belece um repertório de tópicos de interesse para um estudo sociológico dalinguagem, como, por exemplo, o estudo das relações entre as divisões sociais eas variedades de l inguagem, que permite abordar temas como: a distinção entrevariedades rurais, urbanas e de classes sociais, os esti los de l inguagem (varieda-des formais e informais), as formas de tratamento, a linguagem de grupos segre-gados (argão de estudantes, de marginais, de profissionais etc.).

Finalmente, alguns rápidos comentários sobre Benveniste, l ingüista fran-cês, cuja reflexão marcou profundamente a Lingüística francesa contemporâ-nea em geral e, particularmente, o campo da Análise do Discursota. Exporemosaqui apenas alguns comentários que tematizam a questão das relações entrelinguagem e sociedade. Para Benveniste (1963), "é dentro da, e pela língua, queindivíduo e sociedade se determinam mutuamente"15, dado que ambos só ga-nham existência pela língua. É que a língua é a manifestação concreta da facul-dade humana da l inguagem, isto é, da faculdade humana de simbolizar. sendoassim, ó pelo exercício da l inguagem, peia uti l ização da língua, que o homemconstrói sua relação com a natureza e com os outros lromens. Em outros termos,"a linguagem sempre se realiza dentro de uma língua, de uma estrutura lingüís-tica definida e particular, inseparável de uma sociedade definida e pafticular"16.Logo, língua e sociedade não podem ser concebidas uma sem a outra.

Particularmente, em "Estrutura da língua e estrutura da sociedacle",Benveniste (1968) discute a questão que nos interessa aqui. segundo ele, "aidéia de procurar entre estas duas entidades relações unívocas que fariam

13. O texto or ig inal de Cohen (1956) é o que se segue: "Les phénomènes l inguist iques se real izentdans le cadre changeant des événements sociaux". In: Cohen, M. Malériaux pour une srx ktlogie du langage.Par is, Maspcro, 1956, v. 2, p. 30.

14. Cf . part icularmente o famoso art igo de Benveniste, "O aparelho formal c la enunciação", inBenveniste, E., Problenus de lhgiií.ttica geral II, Sío Paulo, Cia. Editora Nacional/EDUSp, 1989. (títuloo r i g i na l , 1974 ; .

l5' Benveniste, E. Proltlenas de Lhgüístk:aGerat..São Paulo, Cia. Eclitora Nacional/EDUSp, 1976.D . Z t .

1 6 . I b i d e m . o . 3 1 .

SOCIOLINGUISTICAT por le I

corresponder tal estrutura social a tal estrutura língüística parece trair uma vi-

são mui to s impl is ta das coisas"rT. Is to porque sociedade e l íngua são grandezas

de ordem dist in ta, ou melhor , têm organizações estrutura is d iversas. Assim é

que a l íngua se organiza em unidades d is t in tas, que são em número f in i to ,

combináveis e hierarquizadas - o que não se observa na organização social.

Mas, segundo o autor, algumas propriedades aproximam língua e sociedade:

são realidades inconscientes, representam a natureza, são sempre herdadas e

não podern ser abolidas pela vontade dos homens. Há, no entanto, uma dimen-

são pr ivat iva da l íngua, que a coloca num plano especia l : seu poder coerc i t ivo,

que transforma um agregado de indivíduos em uma comunidade, criando a pos-

s ib i l idade da produção e da subsistência colet iva, Para Benveniste, a questão da

relação entre língua e sociedade se resolve pela consideração da língua como

instrumento de análise da sociedade. Ele afirma que a língua contérn a socieda-

de e por isto é o interpretante da sociedade. Esse papel de interpretante é garan-

tido pelo fato de que a língua é "o instrurnento de comunicação que é e deve ser

comum a todos os membros da sociedade", possibil i tando, assim, "a pr"odução

indefinida de mensagens em variedades il imitadas"rs. Mais exatamente: "a lín-

gua é necessariamente o instrumento próprio para descrever, para conceitualìzar,

para interpretar tanto a natureza quanto a experiência"re. Além disso, a língua

dá forma à sociedade ao exibir o semantismo social, que consiste, principal-

mente, de designações, de fatos de vocabulário. Particularmente, o vocabulário

se apresenta como uma fonte importante para os estudiosos da sociedade e da

cultura, pois retém informações sobre as formas e as fases da organização social,

sobre os regimes polít icos etc. Essa linha de reflexão é exemplarmente repre-

sentada na obra de Benveniste (1969/1970) Vocobulário das instituições Inclo'

européias.

Finalmente, cabe assinalar uma outra consideração relevante de Benveniste.

Para ele, a língua permite que o homem se situe na natureza e na sociedade; o

homem "se situa necessariamente em uma classe, seja uma classe de autoridade

ou classe da produção"20. Em conseqüência, a língua, sendo uma prática huma-

na, "revela o uso partìcular que grupos ou classes de homens fazem ldela] (...) e

as difelenciações que daí resultam no interior de uma língua comum"zr. Vemos,

17. Benveniste, E. Problenm.ç de Lingiií.ttica Ceral II. São Paulo, Cia. Editora Nacional/EDUSP,1989, p. 95. ( t í tu lo or ig inal , 1968)

18 . I b i dem, p . 98 ,19. Ib idcm, p. 99.20 . I b i dem, p . l 0 l .2 l . l b i dem, p . 102 .

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TNTRoDUçAo À uNoúÍsrrce

assim, que Benveniste ar t icu la a questão da re lação i íngua e sociedade no p lanogeral da construção do humano e, particularmente, no plano das relações con-cretas e contingentes estabelecidas na vida social.

O esboço feito até aqui pode ser reduzido a uma afirmação muito simples:a questão da relação é óbvia e complexa ao mesmo tempo. Sabemos que é ine-gável, mas também que a passagem do social ao l ingüístico - e do l ingüísticoao social - não é feita com tranqüil idade. Não há consenso sobre o modo detratar e de explicitar a questão da relação entre l inguagem e sociedade: o fato éque o lugar reservado a essa consideração constitui um dos grandes "divisoresde águas" no campo da reflexão da Lingúística contemporânea.

2. A SOC|OttNcÜíSrrCA: FIXAçÃO DE UM CAMPO DE EsÌUDOS

O termo Sociolingüística, relativo a uma área da Lingüística, f ixou-se em1964. Mais precisamente, surgiu em um congresso, organizado por Will iamBright, na Universidade da Califórnia emLos Angeles (UCLA), do qual partici-param vários estudiosos, que se constituíram, posteriormente, em referênciasclássicas na tradição dos estudos voltados para a questão da relação entre l in-guagem e sociedade: John Gumperz, EinarHaugen, Wili iam Labov, Dell Hymes,John Fisher, José Pedro Rona. Ao organizar e publicar, em 1966, os trabalhosapresentados no referido congresso sob o título Sociolinguisrics, Bright escreveo texto introdutório "As dimensões da Sociolingüística"22, em que define e ca-racteriza a nova área de estudo. A proposta de Bright para a Sociolingüística é ade que ela deve "demonstrar a covariação sistemática das variações i ingüísticae social. Ou seja, relacionar as variações l ingüísticas observáveis em uma co-munidade às diferenciações existentes na estrutura social desta mesma socieda-de"23. Segundo o referido autor, o objeto de estudo da Sociolingüística é a di-versidade lingüística. E, como que estabelecendo um roteiro para atividades depesquisa a serem desenvolvidas na área da Sociolingüística, Bright, na mesmaobra, identif ica um conjunto de fatores socialmente definidos, com os quais sesupõe que a diversidade lingüística esteja relacionada, como:

a) identidade social do emissor ou falante - relevante, por exemplo, noestudo dos dialetos de classes sociais e das diferenças entre falas femi-n inas e mascul inas:

22. Ver Br ight . W. As dimensões da Sociol ingüíst ica. InSot:hlüryliística. Rio de Janeiro, Eldorado, 1974.

23. Ib idem, p. 34.

SOCIOLINGUiSTiCÂ: porte I

identidade social do receptor ou ouvinte - relevante, por exemplo, noestudo das formas de tratamento, da baby taLk(fala uti l izada por adul-tos para se dirigirem aos bebês);

o contexto social - relevante, por exemplo, no estudo das diferençasentre a forma e a função dos esti los formal e informal, existentes nagrande maioria das línguas;

o julgamento social distinto que os falantes fazem do próprio compor-tamento l ingüístico e sobre o dos outros, isto é, as atitudes l ingüísticas.

A propósi to do nascimento da Socio l ingüíst ica, Bachmann et a l . (1981)tecem considerações interessantes. Segundo estes autores, o novo campo é olugar

onde vão se encontrar os herdeiros de tradições antigas como a da antropologialingüÍstica - caso de Hymes - ou da dialectologia social - como Labov - e deespecialistas da experimentação ou da intervenção social: psicólogos, sociólogos,e mesmo plani f icadores2a.

Os referidos autores observam, tarnbém, que a Sociolingüística se consti-tui e floresce no momento em que o formalismo, representado pela gramática deChornsky25, alcança enorme repercussão, em rota para o seu percurso vitorioso.Vemos, assim, que, de um lado, a preocupação com as relações entre l inguageme sociedade tinha raízes históricas no contexto acadêmico nofie-ameficano, etambém que a oposição entre uma abordagem imanente da língua versus a con-sideração do contexto social é posta com grande vitalidade no campo dos estu-dos l ingüísticos. De fato, a constituição da Sociolingüística se fez, cleramente,a partir da atividade de vários estudiosos e pesquisadores que deram continui-dade à tradição, inaugurada no começo do século XX por F. Boas ( 191 l) e seusdiscípulos mais conhecidos - Edward Sapir (1921) e Benjamin L. Whorf ( l94l):a chamada Antropologia Lingüística. Nessa vertente, em que linguagem, cultu-ra e sociedade são considerados fenômenos inseparáveis, l ingüistas e antropó-logos trabalham lado a lado e, mesmo, de modo integlado. Nesse sentido, o quehá de novo é a definição de uma área explicitamente voltada para o tratamentodo fenômeno lingüístico no contexto social no interior da Lingüística, animadapela atuação de l ingüistas e, particularmente, de estudiosos formados em cam-pos das ciências sociais. A Sociolingüística nasce marcada por uma origem

24. Bachmann, C. et al. Language et cotrununü:atìorts striales. P:rrìs, Hatier, 1914, p.11 .25. Remetemos o lc i tor ao capí tu lo de "Sintaxe" neste mesmo volume.

b)

c )

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Fonseca. M. S. & Ncves, M. F. (orgs.)

Page 6: Sociolinguística Tânia Alkmim

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TNTRODUçAO A LrNGUl5ÌrCA

in terc l isc ip l inar . É oportuno assinalar que o estabelec imento da Socio l ingüíst ica,em 1964, é precedido pela atuação de vários pesquisadores, que buscavam arti-cu lar a l inguagem com aspectos de ordem socia l e cul tura l . Destacaremos, aqui .dois desses pesquisadores. Ern 1962, Hymes publ ica um ar t igoem que propõeum novo domínio de pesquisa, a Etnografia da Fala, rebatizada mais tarde comoEtnografia da Comunicação?6. De caráter ìnterdisciplinar, buscando a contri-buição de áreas como a Etnologia, a Psicologia e a Lingüística, o novo domíniopretende descrever e interpretar o comportamento l ingüístico no contexto cultu-ral e, deslocando o enfoque tradicional sobre o código l ingúístico, procura defi-nir as funções da l inguagem a partir da observação da fala e das regras sociaispróprias a cada comunidade. Questões como Qual o cotnportantento Lingiiísticoacleclttaclo para lrcttrens, mulheres e crianças na conwniclade X? ou Que nw-ftrcntos são adecluaclos para o exercícìo dafala na conturúdade Y? podem sertomadas como ponto de partida para pesquisas em Etnografia da Comunicação.Mais tarde, Hymes (1912) publicou um artigo de grande impacto - "Models ofthe interaction of language and social l i fe" - no qual estabelece os princípiosteóricos e metodológicos da Etnografia da Comunicação.

Em 1963, Labov publica seu célebre trabalho sobre a comunidade da ithade Martha's Vineyard, no l itoral de Massachusetts, em que sublinha o papeldecisivo dos fatores sociais na explicação da variação lingüística, isto é, dadiversidade lingüística observada. Nesse texto, o autor relaciona fatores comoidade, sexo, ocupação, origem étnica e atítucle ao comportamento l ingüísticomanifesto dos vineyardenses, mais concretamente, à pronúncia de determina-dos fones do inglês. Logo em 1964, Labov finaliza sua pesquisa sobre aestratif icação social do inglês em New Yolk, em que fixa um modelo de descri-

ção e interpretação do fenômeno Ìingüístico no contexto social de comunidadesurbanas - conhecido como Sociolingüística Variacionista ou Teoria da Varia-

ção, de grande impacto na Lingüística contemporãnea27 . A segunda parte dessecapítulo tratará especificamente dessa vertente da Sociolingüística.

Assim, o rótulo "sociolingüística", como foi possível observar, reuniu eagregou, no seu início, pesquisadores marcados pela formação acadêmica emdiferentes campos do saber e marcados também pela preocupação com as impli-cações teóricas e práticas do fenômeno lingüístico na sociedade norte-america-

26. Hymes, D. The ethnography of speaking, In; Gladwin, T. & Stutervant , W.C. (orgs.) Ant l r roytktgvand lur.nmn baltavior. Washington, D.C., The Anthropological Society of Washington, l9ó4. (título origi-nal , Ì962)

2l . Lrbov. W. The stratiJícation of Ettglish in New York city. Washrngton, D.C., Center for AppliedLìnsuist ics. l9ó6.

SOCIOLINGUISTICA: porie I

na. Surgem, assim, pesquisas voltadas para as minorias l ingüísticas (imigrantesporto-riquenhos, poloneses, italianos etc.)r8, e para a quesÌão do insucesso esco-Iar de crianças oriundas de grupos sociais desfavorecidos (negros e imigrantes,par t icu larmente) . Em suma, a real idade d ivers i f icada, tanto l ingüíst ica comocultural dos Estados Unidos, torna-se um ponto de reflexão básico para umcontingente significativo de estudiosos. A propósito, vale lembrar que, tambémem 1964, houve um congresso em Bloomington, Indiana, em que lingüistas ecientistas sociais debateram questões relativas às relações interdisciplinares, aocampo da dialectologia social, à escolarìzação de crianças provenientes de meiosocial pobre e de origem estrangeira. Três obras referenciais foram organizadasa paftir dos trabalhos apresentados nesse congresso: Ferguson ( I 965 ) Directiortsin Sociolinguìstics: report on a interdisciplìnary senúner, Lieberson ( 1966) (ed.)Exploratiotts in Sociolinguistics, e Schuy (1964) (ed.) Social dialects artclLanguage learníng.

3. A SOCIOLTNGÚiSrtCl, OBJETO, CONCETTOS, PRESSUPOSTOS

Pondo de maneira simples e direta, podemos dizer que o objeto da Sociolin-güística é o estudo da língua falada, observada, descrita e analisada em seucontexto social, isto é, em situações reais de uso. Seu ponto de partida é a conu-nidade lingüística, um conjunto de pessoas que interagem verbalmente e quecomparti iham um conjunto de normas com respeito aos usos l ingüísticos. Emoutras palavras, uma comunidade de fala se caracteriza não pelo fato de se cons-tituir por pessoas que falam do mesmo modo, mas por indivíduos que se relacio-nam, por meio de redes cornunicativas diversas, e que orientam seu comporta-mento verbal por um mesmo conjunto de regras. Tomemos, como exemplo, ouso do modo imperativo em português. Para os falantes do português, o impera-tivo denota ordem, exortação, conselho, solicitação, segundo o significado doverbo e o tom de voz uti l izado, como em: "Vai-te embora"l "Ouve este conse-lho!"; "Vem cá!"; "Desce daí!". Consideremos, agora, as seguintes observaçõesde Cunha & Cintra:

Atenuação.Por dever social e moral, geralmente evitamos ferir a suscetibil idade de nossointerlocutor com a rudeza de uma ordem. Entre os numerosos meios de oue nos

I

'i

28. Ver Fishman. Jtambém Fishman, J. A .d.ontünnr:e in bìtin guals.

A . et al. Lntryuaga ktyalty in tlw UtLited States. Mouton, The Hague, 196ó. Verel ^1. Bìlitlsualisttt itt tlrc Barrio; tlu nfta.\urenwnl and des< rìptkttt of languagcWashington, D.C., Dept. of Heal th. Educat ion and Welfare. l9í r8.

Page 7: Sociolinguística Tânia Alkmim

32 |NÌRODUçAO Á LlNGUlSÌlCA

servimos para enfraquecer a noção de comando, devemos ressaitar (além dos já

estudados), pela sua eficiência, o emprego de fõrmulas de pol idez ou de civi l ida-

de, tais como'. por favor, por gentilezo, cligne-se de, tenlw a botrclude etc.:- Fale mais alto, por favorl (F. Botelho, X, 177).-Entrem. porfavor, que não ocupam lugar - exclamou Seu Pio. ( A . F. Schmidt,

GB, r65)- Tenham a bondade de sentar e esperar um momento. [= Sentem-se e esperemum momento.l (R. Braga, CCE,272)E claro que tambérn aqui o tom de voz é de uma suma importância. Qualquerdessas frases pode, não obstante as fÓrmulas de cortesia empregadas, tornar-serude e seca, ou mesmo insolente, com a simples mudança de entoação?e.

A depender do alcance e dos objetos de um trabalho de natureza socioiin-güística, podemos selecionar e descrever cornunidades de fala como a cidade deNew York ou a cidade do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Belém. Ou o povo

iartontânú, que vive no Estado do Amapá. Ou, ainda, âs comunidades dos pes-cadores do l itoral do Estado do Rio de Janeiro, da iÌha de Marajó, dos estudan-tes de Direito, dos rappers etc.

Ao estudar qualquer comunidade lingúística, a constatação mais imediataé a existência de diversidade ou da variação. Isto é, toda comunidade se caracte-riza pelo emprego de diferentes modos de falar. A essas diferentes maneiras defalar, a Sociolingüística reserva o nome de variedades lingiiísticas. O conjuntode variedades lingüísticas utiÌ izado por uma comunidade é chamado repertórioverbal. Assim é que, a propósito da cidade de Bruxelas, na Bélgica - país

caracter-izado pelo bilingüismo francês-flamengo (variedade do holandês) -

Fishman aponta:

Os funcionários administrativos do Governo, em Bruxelas, que são de origemflamenga, nem sempre falam holandês ente sl, mesmo quando todos sabem ho-landès muito bem e igualntente bem. Não só há ocasiões em que falam francêsente si, em vez de holandês, como também há algumas ocasiões em que falamentre si o holandês standard enquanto em outras usam esta ou aquela variedaderegional do holandês. De fato, alguns da mesma forma usam diferentes variedadesde francês: uma variedade particularmente carregada de termos administrativosoficiais, outra correspondendo ao francês não técnico falado nos círculos de edu-cação superior e refinados da Bélgica, e, ainda outra, que não é apenas um "fran-cês mais coloquial" mas o francês coloquial dos que são flamengos. Em suma,

29. Cunha, C. & Cintra, LFrontei ra, 1985.

socloLlNGüÍsÏlcA: porle I

essas diversas variedades de holandês e de Íiancês constituem o repenório lingíìís-tico de certos complexos sociais flamengos em Bruxelas3o.

Caso consideremos uma comunidade como a de Salvador, observaremosque o seu repertório l ingüístico se constitui de variedades lingüísticas distintas,dado que os habitantes da cidade falam de modo diferente em função, por exem-plo. de sua origem regional, de sua classe social, de suas ocupações, de suaescolaridade e também da situação em que se encontram. Assim é que um falan-te que pronuncia a palavra "doido" como ['dojd3u] revela sua proveniência daregião iuteriorana, assim como a pronúncia da palavra "cozinha" como [cú4'ãe]indica, alérn da origem social, a sua pouca escolaridade. Um mesmo habitantede Salvador, segundo a situação em que se encolìtrar, poderá optar entÍe usar asexpressões "Fiquei retado" ou "Fiquei aborrecido", assim como entre "Joãoconvidou ele" ou "João o convidou".

Qualquer língua, falada por qualquer comunidade, exibe sempre varia-

ções. Pode-se afirmar mesmo que nenhuma língua se apresenta como uma enti-dade homogênea. Isso significa dizer que qualquer lín-qua é representada por umconjunto de variedades. Concretamente: o que chamamos de "língua portugue-sa" engloba os diferentes modos de falar uti l izado pelo conjunto de seus falan-tes do Brasil, em Poftugal, em Angola, Moçambique, Cabo Verde, Timor etc.

Língua e variação são inseparáveis: a Socìolingüística encara a diversida-de l ingüística não como um problema, mas como uma qualidade constitutiva dofenômeno lingúístico. Nesse sentido, qualquer tentativa de buscar apreenderapenas o invariável, o sistema subjacente * 56 vnlel de oposições como "iínguae fala", ou competênciae perfornrtat'Lce - significa uma redução na compreen-são do fenômeno lingüístico. O aspecto formal e estruturado do fenômenolingüístico é apenas parte do fenômeno total.

3.Ì. A vorioçóo lingüísficd: um recorte

Todas as línguas do mundo são sempre continuações históricas. Em outraspalavras, as gerações sucessivas de indivíduos legam a seus descendentes odomínio de uma língua particular. As mudanças temporais são parte da históriadas línguas. Dois exemplos de mudança histórica no português são ilustrativos:

30. Fishman, J. A. A socio logia da l inguagem.Sociolingiií.ttica. Rio de Janeiro, Eldorado, 1974, p.28

s

tr:ï,,lÌrri!\

F. L. Nova granútk'a do porlugu1s contemporâneo. Rio de Janeiro, Nova In : Fonseca , M . S . V , & Neves , M . F . ( o rgs . )

Page 8: Sociolinguística Tânia Alkmim

34 1NTRO0UçAO A tlN6U15ÌlCA

a) no português arcaico (entre os séculos XII e XVI), ocorriam constru-

ções impessoais em que a inc leterminação do suje i to era indicada pclo

vocábulo , ,homern", co l l o meslro sent ido que, atualmenle, usamos o

pronome ,,se". Por exempÌo: "E pode lrornem hyr de Santarem a Beia

IBeja] em quatro dias"3r, que conesponde, modenrâmente, a "E pode-

se i r de Santarém a Beja em quatro d ias" ;

b) a forma de tratamento "Vossa Senhoria" é ateStada nos meados do sé-

culo XV como expressão reservada ao rei. Já no finaì do século XVI,

esta percle Seu estatuto de realeza, sendo empregada no trato com arce-

bispos, bispos, duques, marqueses, condes, além de uma gama de altos

funcionários lcomã, por exemplo, vice-rei ou governador da Ínclia)12.

No plano sincrônico, as variações observacias nas línguas são relacionáveis

a fatores diversos: dentro de uma mesma comunidade de fala, pessoas de origem

geográfica, de idacle, de sexo diferentes falam distintamente. E bom frisar que não

ãxisie nenhuma relação de causalidade entre o fato de nascer em uma determina-

da r.egião, ser de uma classe social determinada etc., e falar de uma cefta maneira.

os falantes adquirem as variedades lingüísticas próprias a sua região, a

Sua classe social etc. De uma perspectiva geral, podemos descrevet' as varieda-

cles l ingiiísticas a partir de dois parâmetros básicos: a variação geográfica (ou

diatópica) e a variação social (ou diastrática).

A variação geográfica ou diatópica está relacionada às diferenças l ingüís-

ticas distribuídas no espaço físico, observáveis entre falantes de origens geográ-

ficas distintas. Alguns exemPlos:

a) brasileiros e poüugueses se distinguem em vários aspectos de sua fala.

No plano lexical, apenas um exemplo: "combóio" em Poftugal, "trem"

no Brasil. No plano fonético: a pronúncia aberta da vogal anterior mé-

dia como em "prémio" ['premju], em contraste com a pronúncia fechada

no Brasil, , 'prêmio" [ 'premju]. No plano gramatical: derivações diver-

sas de uma raiz comum, como em ficheiro, paragem, bolseiro, que no

Brasil correspondem a fichário, parada e bolsista; a colocação de ad-

vérbios como em "Lá não vou" (Portugal) e "Não vou Ìá" (Brasil);3i

31, Dias. A. E. S. Sürra.re l t is tór ìcaporütgt t tsa.4. er l . L isboa, Clássica, 1959,p '22. ( t í tu loor ig inal .

r 884)32. Cintra, L. F. L, Origens do sistema cle formas de tratamento do português actual ln: Sobrc as

".1 'or tnas de i latatnei l to" na l íngua por[ t ]St tera. L isboa, Hor izonte, 1972 ( t í tu lo or ig inal ' 1965)

33. Ver Câmara i r . , J . M, Línguas européias c le u i t ramar: o português do Brasi Ì . In: Dirpersos. l ì io r lc

Janeiro, Fun<. lação Getúl io Vargas, 1975, ( t í tu lo or ig inal , 1963). Ver também Boléo. M. P. Bresi ìe i r ismo.

Bra:ília, v. 3, pp. 3-42, 1943.

SOCIOUNGUISÌ lCA. por tc I

b) entre fa lantes brasi le i ros or ig inár ios das regiões nordeste ( inc luída aBahia) e sudeste, percebemos diferenças fonéticas, como, por exem-plo, a pronúncia de vogais médias pretônicas - como ocorre na pala-v ra "me lado" _ - p ronunc iadas como voga i s abe r tas no no rdes te

[me' ladu] e fechadas no sudeste Inrc ' ladul . Percebemos também di fe-renças gramat ica is , como. por exenrplo. a preferência pela posposiçãoverbal da negação, colrìo etrÌ "sei não" (nordeste) e "não sei" (ou, "nãosei , não", no sudeste) ; o uso do ar t igo def in ido antes de nomes pró-pr ios corno err r "Fale i com Joana" (nordeste) e "Fale i cor Ì ì a Joana"(sudeste) ;

c) no Estado da Bahia, por exemplo, a or igem urbana ou rura l pode serevidenciada pelo uso da expressão "de pr imeiro" [d i pr i rnero l . ern lu-gar de "antigamente", "anteriormente".

Tomando-se a comunidade de fala de lírrgua portuguesa como um todo,podemo-nos referir às variedades brasile ira, portuguesa, baiana. curit ibana, ru-ra l paul is ta (ou caip i ra) etc .

A var iação socia l ou d iast rát ica, por sua vez, re lac iona-se a um conjuntode fatores que têm a ver com a iderrtidade dos faÌantes e também com a or-qrni-zação sociocultural da comunidade de fala. Neste sentido, podernos apontar osseguintes fatores relacionados às variações de natureza social: a) classe social;b) idade; c) sexo; d) s i tuação ou contexto socia l . Em re lação aos t rês pr imeirosfatores, nos l imitalemos a fornecer exemplos, rerneteudo, para um tratamentovariacionista dos fatores ern questão, à segunda parte deste capítulo. No que dizrespeito ao fator situação ou contexto social, faremos uma exposição um poucomais aprofundada.

a) Classe socia l : observemos a lguns exemplos indicat ivos de per tencenteà fa la de grupos s i tuados abaixo na escala socìa l :

de dupla negação, como em "n inguém não v iu" , "eu nem nuÌr Ìgosto" ;

- n r ' È c ê n . r r r l e Í r l o m l ' , o ' ' . ' 1 a f l l a -, , . ì grupos cor ' Ìsonanters. como em"brusa" (b lusa) c "grobo" (g lobo) ;

-_ na Índia, existem as castas brâmane (superior), não brâmane (médie) eintocável ( in fer ior) , que correspondem à h ierarquia socia l v ìgente. Naárea de Bangalore, a língua Kannada apfeserìta dados lelativos a cstadiferenciação social: a palavra "nome" teÍn as fonnas /hesru/, "hesru",

na variedade coloquial dos brâmanes, e /yesru/, "yesru", na variedadenão brâmane; a expressão "com l icença" é real izada como /k lamisu/ ,

Page 9: Sociolinguística Tânia Alkmim

rNÍRoDuçÁo À trNoúísrrcr

"k5antisu", na variedade coloquial dos brâmanes e /cemsu/, "cemsu",

na var iedade coloquia l dos não brâmanes (Br ight , i960) .

b) Idade:

- o uso de léxico particular, como presente em certas gírias ("maneiro","esperto" , com o sent ido de aval iação posi t iva sobre coisas, pessoas e

situações), denota faixa etária jovem;

- uso de pronome Írr em situações de interação entre iguais no Rio deJaneiro, como em "Tu viu só?", tarnbém sugere que os falantes sãojovens;

- a pronúncia fechada da vogal tônica posterior da palavra "senhora"

[seloce] , em lugar de [sclrrce], é característica de alguns falantes maisvelhos.

c) Sexo:

- a duração de vogais como recurso expressivo, como em "maaravilhoso",

costuma ocoÍrer na fala de mulheres (Camacho, 1978), assim como ouso freqüente de diminutivos, como "bonitinho", "gostosinho", "verme-

lh inho";

- na língua Zuã| falada por um grupo indígena da América do Norte, osfones [ty] e lcl falados por pessoas do sexo feminino conespondem a

Iky] na fa la mascul ina;

- no japonês, para o pronolne de primeira pessoa eu, aIém de uma formautil izável por todos os falantes, existem as formas "atashi", usada ex-cÌusivamente por mulheres, e "boku", própria aos homens.

d) Situação ou contexto social: é um fato muito conhecido que qualquerpessoa muda sua fala, de acordo com o(s) seu(s) interlocutor(es) - seeste é mais velho ou hierarquicamente superior, por exemplo -, se-gundo o lugar em que se encontra - em um bar, em uma conferência- e até mesmo segundo o tema da conversa - fofoca, assunto cientí-f ico. Ou seja, todo falante varia sua faÍa segundo a sìtuação em que seencontra.

Fishman (1972) assim se pronuncia: "uma situação é definida pela co-ocorrência de dois (ou mais) interlocutores mutuamente relacionados de umamaneira determinada, comunicando sobre um determinado tópico. num contex-

soctoLtt,tcüísTtcA, porr" t

to determinado"3r. Uma definíção desse tipo possibil i ta descrever os padrões deuma determinada sociedade com respeito ao uso das variedades lingüísticas.Isto é, qual o comportamento l ingüístico adequado às situações em que se en-contram os falantes. Consideremos, por exemplo. a situação de uma defesa detese e a comemoração que se segue à aprovação desta tese, que envolve as mes-mas pessoas. As d i ferenças ex is tentes entre as duas s i tuações - tema das con-versas, local etc. * podem fazer com que uma sociedade considere adequadoutil izar variedades lingüísticas diferentes ou a mesma. Segue-se, então, que cadagrupo social estabelece um contínuo de situações cujos pólos extremos e opos-tos são representados pelafonrrctl idade e irtfornnliclctde. Em nossa sociedade,conferências, entrevistas para obtenção de emprego, solicitação de informaçãoa um desconhecido, contato entre vendedores e clientes são, ern geral, vistoscomo situações formais. Já situações como passeatas, mesas redondas sobreesporte, bate-papo em bar, festas de Natal nas empresas são definidas comoinformais. As variedades lingüísticas uti l izadas pelos participantes das situa-

ções devem corresponder às expectativas sociais convencionais: o falante quenão atender às convenções pode receber algum tipo de "punição", representada,por exemplo, por um franzft de sobrancelhas.

Há um tipo de interação social particular ern que urn falante decide mudarde variedade lingüística sem que tenha ocorrido mudança de situação: é o queFishman (L972) chama de mudança ntetafórica. Um bom exemplo é uma con-versa em que o pai interroga a fi lha nos seguintes termos: "Aonde a senhorapensa que vai?" - em que o uso da forma de tratamento "senhora" está obvia-rnente cxrregado de ironia.

Aprende-se a faìar na convivência. Mas, maís do que isso, aprendemosquando devemos falar de um certo modo e quando devemos falar de outro. Osindivíduos que integram uma comunidade precisam saber quando devem mudarde uma variedade para outra. Segundo Fishman (1,972), os membros de qual-quer comunidade "adquirem lenta e inconscientemente as cotnpetências conur-nicativa e sociolingiiísrica, com respeito ao uso apropriado da língua"35. Emtermos collcretos, é possível afirmar que os falantes aprendem quando podemfalar e quando devem permanecer em silêncio, se podem uti l izar a forma impe-rativa para dar uma ordem ou se devem se valer de uma expressão modalizada,como em "saiam daqui, já" ou "por favor, diri jam-se à saída"; se é oportuno

34 . F i shman , J . A . A soc io l og ia da l i nguagcm. I n : Fonscca , M . S . V . & Ncvcs , N í . F . ( o rgs . )Sor io lütg i i ís t ì rc. Rio de Janeiro, Eldorado, 1974. p.29. ( t í tu lo or ig inal , 1972)

35. lb idem.

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TNTRoDUçÃo Á LtNçúísrtcn

dizer " tô fora" ou "não vai ser possível" ; ou, a inda, "a gente não sabia" ou "não

sabíamos", ou ainda "desconhecíamos".

Às variações l ingüísticas relacionadas ao contexto chamamos de vu'irt-

ções estíLísticrÍ.r ou registros. Nesse sentido, os falantes diversif icam sua fala -

isto é, usam esti los ou registros distintos - em íunção das circunstâncias em

que ocorrem suas interações verbais. Segundo Camacho, os falantes adequam

suas formas de expressão às finalidades específicas de seu ato enunciativo, sen-

do que tal adequação "decorre de uma seleção dentre o conjunto de formas que

const i tu i o saber l ingüíst ico indiv idual , de um modo mais ou menos conscien-

te"36. A seleção de formas envolve, naturalmente, um grau maior ou menor de

reflexão, por parte do falante: o uso do esti lo formal, em relação ao informal,

requer uma atuação mais consciente. Assim é que observamos esti los distintos

quando um falante conversa com um amigo ou colrl vizinhos recém-conheci-

dos, ou com um rnédico, durante uma consulta, bem como ao escrever um bilhe-

te a um colega de faculdade, uma carta à seção de leitores de utn jomal ou ao

elaborar um relatório dirigido a um superior no trabalho. A terminologia pal'a se

referir aos diferentes esti los de fala não é nada ptecisa. Util izamos, muito generi-

camente, expressões como estilos forutal, infornnl, coloquial, .faniliar, pessoal.

A noção de situação - tal como foi definida - tem um alcance restrito,

reduzindo-se, praticamente, à consideração da cena em que ocorrem as interações

verbais. É,it it e proclutivo entender situação de uma perspectiva mais abrangente,

a saber, como o contexto social global de uma comunidade, com suas marcas

históricas e culturais próplias. Pensamos aqui, particularmente, nos contextos

ritualísticos e religiosos que, tomados como ponto de partida, sugerem o estudo

de variedades e usos l ir igüísticos especiais. Assim, por exemplo, o contexto das

tradições religiosas sugere o estudo das l inguagens esotéricas, das fórmulas e

invocações plopiciatórias às práticas da relação com o mundo do sagtado' O

contexto da ordenação jur'ídica, por sua vez, sugere o estudo das variedades

lingüísticas particulares uti l izadas pelos tabeliães, advogados, juízes e promo-

tores nos julgamentos.

No campo dos usos religiosos, cabe citar o fascinaute trabalho de Michel

Leiris (1948), La larryue secrèïe des Dogort cle Scutga, que se ocupa da língua

iniciática do povo Dogon que habita uma região do atual Mali (antigo Sudão

Francôs). Sobre a comunidade brasileira, há um interessante estudo de Maria

36. Camacho, R. A variação lingüística. lt'. Subsídios à proposta currbular tle líttgua portusutsQpara o sagundo grzrr. São PaLrlo, CENP, Secretaria do Estado da Educação, v. lV, I 978, p. | 7.

SOCiOt lNGUISï |CAr por le I

Izabel S. Magalhães (1985), Tlrc rezas uttl benzeçrles: healüry spccch activit iesirt Brazil, que focaliza a prática l ingüística de benzedores, a partir de dadoscoletados ern c idades-sató l i tes de Brasí l ia .

W. M. O'Barr & J. F. O'Barr (1976) organizaram um volume, de extremointeresse - Lrntgu.age atd politícs - em que analisam a questão das relaçõesentre l inguagem e o funcionamento do sistema cie ordenações legais na Ínclia ena Tanzânia, dois países que comparti lham algumas características marcantes:são ex-colônias inglesas, sociedades p lur i l íngües e p lec isam pensar a questãoda re lação entre a herança h is tór ica t radic ional e a recente, produzida pelocolonia l ismo inglês.

Os parâmetros da variação lingüística são diversos, como se pode inferirda exposição feita até aqui. Para efeito de apresentação, isolamos os fatores aque a variação lingüística, como um todo, está relacionada. Não podernos dei-xar de apontar, no entanto, que, na realidade das relações sociais, os fatores devariação se encontram imbricados. No ato de interagir verbalmente, um falanteuti l izará a variedade lingüística relativa a sua região de origem, classe social,idade, escolaridade, sexo etc. e segundo a situação em que se encontrâr. Porexemplo: um brasi le i ro, nascido em Reci fe, apresentará, sempre, vogaispretônicas abertas coltlo ern [reau] "real", mas ainda a depender de sua escola-ridade, da origem rural ou urbana, utllizará, o verbo "assuntar" ou "prestar aten-

ção" e, a depender da situação, dirá "Fui nada" ou "Fui não".

3.2. As voriedqdes lingüísticos e o estruturo sociql

Como já foi dito, em qualquer comunidade de fala, podemos observar acoexistência de um conjunto de variedades lingüístìcas. Essa coexistência, en-tretanto, não se dá no vácuo, mas no contexto das relações sociais estabelecidaspela estrutura sociopolítica de cada comunidade. Na realidade objetiva da vidasociai, há sempre uma ordenação valorativa das variedades lingüísticas em uso,que reflete a hierarquia dos grupos sociais. Isto é, em todas as comunidadesexistem variedades que são consideradas superiores e outras inferiores. Em ou-tras palavras, como afirma Gnerre, "uma variedade lingüística 'vale' o que 'va-

lem' na sociedade os seus falantes, isto é, vale como reflexo do poder e daautoridade que eles têm nas relações econômicas e sociais"rT. Constata-se, de

37. Cnerre, M. Lhguagetn, escr i ta e poder. Sr 'o Paulo. Mart ins Fontes, 1985, p. 4. (câpí tu lo Iguagem, poder e discrimrnação)

L in -

Page 11: Sociolinguística Tânia Alkmim

40 lNrRoDUçÂo À LtlcÚÍsrtcr

modo muito evidente, a existência de variedacles de prestígio e de varieclatles

rtão prestigiadas nas sociedades em geral. As sociedades de tradição ocidental

oferecem um caso particular de variedade prestigiada: a variedade paclrão. A

variedade padrão é a variedade lingüística socialmente mais valorizada, de re-

conhecido prestígio dentro de uma comunidade, cujo uso é, normalmente, reque-

rido em situações de interação determinadas, defl inidas pela comunidade comopróprias, em função da formalidade da situação, do assunto tratado, da relaçãoentre os interlocutores etc. A questão da língua padrão tem uma enoÍrne impor-tância em sociedades como a nossa. Algumas considerações a seu respeito se

impõem.

A variedade padrão de uma comunidade - também chamada norma culta,ou língua culta - não é, como o senso comum fazcrer, a língua por excelência,

a iíngua original, posta em circulação, da qual os falantes se apropriam comopodem ou são capazes. O que chamamos de variedade padrão é o resultado de

uma atitude social ante a língua, que se traduz, de um lado, pela seleção de umdos modos de falar entre os vários existentes na comunidade e, de outro, pelo

estabelecimento de um conjunto de normas que definem o modo "cometo" defalar. Tradicionalmente, o melhor modo de falar e as regras do bom usocorrespondem aos hábitos l ingüísticos dos grupos socialmente dominantes. Emnossas sociedades de tradição ocidental, a variedade padrão, historicamente,coincide com a variedade falada pelas classes sociais altas, de determinadasregiões geográficas. Ou melhor, coincide com a variedade lingüística faladapela nobreza, pela burguesia, pelo habitante de núcleos urbanos, que são cen-tros do poder econômico e do sistema cultural predominante.

Fishman (1970) define a padronização, isto é, o estabelecimento da varie-dade padrão, como um tratamento social caracteístico da língua, que se verifi-ca quando há diversidade social suficiente e necessidade de elaboração simbó-lica. Em outras palavras, a definição de uma variedade padrão representa o idealda homogeneidade em meio à realidade concreta da variação lingüística - algoque, por estar acima do corpo social, representa o conjunto de suas diversidadese contradições. A variedade alçada à condição de padrão não detém proprieda-des intrínsecas que garantem uma qualidade "naturalmente" superior às demaisvariedades. Na verdade, a padronização é sempre historicamente definida. Istoé, cada época determina o que considera como forma padrão: determinadas pro-núncias, construções gramaticais e expressões lexicais. Segue-se, então, quecertas formas podem ser consideradas como pertencentes à variedade padrãoem uma época e deixar de sê-lo em outra. As línguas mudam incessantemente, ea definição do "certo", do "agradável" e do "adequado" também. Na prática,podemos concordar com Fishman, o que é padrão pode tornar-se não padrão, e

soclOtlNGÜÍSTICA: porte | 4r

o que é considerado não padrão pode ser estabelecido como padrão. A históriada língua portuguesa, como a de tantas outras, oferece-nos inumeráveis exem-plos dessa ordem de fatos. Consideremos, a propósito, os seguintes exemplosdo século XVI:

- as formas "dereito", "despois", "frecha", "frito", "premeìramente", hojedesabonadas, são encontradas no texto da carta de Pero Vaz de Cami-nha. de 1500;

- as formas "frauta", "escuitar", "intonce", assim como as construçõessintáticas do tipo "deseja de comprar" (com a presença da preposiçãocle) e "se esta gente, cuja valia e obra tanto amaste/não queres quepadeçam vi tupór io" (concordância do suje i to gente com o verboflexionado no plural) - hoje consideradas incorretas - são encontra-das em Os Lusíadas, de Camões (1572).

como se vô, representações de pronúncias e construções gramaticais ates-tadas em textos legitimados não são mais consideradas como "bom uso". comoentender, então, que ocorrências equivalentes, tão vivas em variedades não pa-drões contemporâneas, como por exemplo "Framengo", "ele deve de sair, ago-ra" e "a gente fomos lá", sejam consideradas como "erradas", "flruto de ignorân-cia"? A fala das classes altas mudou e a de outros grupos sociais reteve essesusos: esse foi o "erro".

A avaliação social das variedades lingüísticas é um fato observável emqualquer comunidade da fala. Freqüentemente, ouvimos falar em línguas "sim-ples", "inferiores", "primitivas". Para a Lingi.iística, esse tipo de afirmação ca-rece de qualquer fundamento científ ico. Toda língua é adequada à comunicladeque a uti l iza, é um sistema compÌeto que permite a um povo exprirnir o mundofísico e simbólico em que vive. É absolutamente impróprio dizer que há línguaspobres em vocabulário. Não existem também sistemas gramaticais imperfeitos.seria um contra-senso imaginar seres humanos com uma "meia língua". A faltade léxico específico para descrever, por exemplo, a astronomia na língua de urnpovo corresponde ao desinteresse por este assunto: a sociedade não tem neces-sidade de dominar este dado do real. caso a sociedade necessite, basta fazerempréstimos lingüísticos: o contato cuItural com outros povos. o conhecimentode novos conteúdos ou a descoberta de realidades até então desconhecidas são omotor da elaboração de novos conceitos e da produção de novas palavras. euantoao aspecto gramatica[, o estudo das mais distintas línguas tem revelado que elese apresenta sempre como um sistema organizado e coerente de regras. As lín-guas diferem entre si em numerosos aspectos, e essas diferenças correspondemao patrimônio expressivo da humanidade.

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42 rNïRoDUçÃo À uNcüisrrce

Assim como não exis tem l ínguas " in fer iores" , não exis tem var iedades l in-güíst icas " in fer iores" . Como v imos, as l ínguas não são homogêneas e a var ia-

ção observável em todas elas é produto de sua história e do seu presente. Enrque se baseiam, então, as avaliações sociais? Podemos afirmar, com toda tran-qüi l idade, que os ju lgamentos socia is ante a l íngua - ou melhor as at i tudessociais - se baseiam em critérios não [ingüísticos: são julgamentos de naturezapol í t ica e socia l . Não é casual , por tanto, que se ju lgue " f ,e ia" a var iedade dosfalantes de origem rural, de classe social baixa, com pouca escolaridade, deregiões culturalmente desvalorizadas. Por que se considera "desagradável" o rretroflexo, o chamado r ccLipira, presente em realizações como ['pc4tu] "por-ta"? Afinal, a mesma articulação retroflexa ocorre ern palavl'as do inglês como[kafl "car" (carro), que ninguém sente como "feia". Em resumo: julgamos nãoa fala, mas o falante, e o fazemos em função de sua inserção na estrutura social.

Para a Sociolingüística, a natureza variável da língua é um pressupostofundamental, que orienta e sustenta a observação, a descrição e a interpretaçãodo comportamento l ingüístico. As diferenças l ingüísticas, observáveis nas co-munidades em geral, são vistas como um dado inerente ao fenômeno lingüístico.A não aceitação da diferença é responsável por numerosos e nefastos precon-ceitos sociais e, neste aspecto, o preconceito l ingüístico teÌÌì um efeito particular-mente negativo. A sociedade reage de maneira particulârmente consensual quan-do se trata de questões l ingüísticas: f icamos unanimemente chocados diante dapaÌavra inadequada, da concordância verbal não realizada, do esti lo impróprio àsituação de fala. A intolerância l ingüística é um dos comportamentos sociaismais facilmente observáveis, seja na mídia, nas relações sociais cotidianas, nosespaços instìtucionais etc. A rejeição a certas variedades lingüísticas, concreti-zada na desqualif icação de pronúncias, de construções gramaticais e de usosvocabulares, é comparti lhada sem maiores conflitos pelos não especialistas emlinguagem. O senso comum opera com a idéia de que existe uma língua - obem social à disposição de todos - que é adquirida distintamente, em funçãode condições diversas, pelos falantes. Na realidade, existe sempre um conjuntode variedades lingüísticas em circulação no meio social. Aprende-se a varieda-de a que se é exposto, e não há nada de errado com essas variedades. Os grupossociais dão continuidade à herança lingüística recebida. Nesse sentido, é preci-so ter cìaro que os grupos situados embaixo na escala social não adquirem alíngua de modo imperfeito, não deturpam a língua "comum". A homogeneidadelingüística é um mito, que pode ter conseqüências graves na vida social. Pensarque a diferença lingüística é um mal a ser eruadicado justif ica a prática da exclu-são e do bloqueio ao acesso a bens sociais. Trata-se sempre de impor a culturados grupos detentores do poder (ou a eles l igados) aos outros grupos - e a

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l íngua é unr dos componentes do s is tema cul tura l . A ex is tência de uma var ieda-de padrão, que desloca todas as outras var iedades l ingúíst icas e cr ia um contex-to de relações assimétrìcas entre falantes de uma comunidade, é um exemploobjetivo dessa questão. Cabe aos usuários das variedades não-paclrões adotar avar iedade socia lmente acei tável - pelo merÌos, em cer tas c i rcunstâncias, comoern s i tuação de fa la públ ica ou durante urr ra entrev is ta em uma agência de em-prego. Por que aprender um outro modo de falar? Onde adquirir este outro n'ìodode falar? A motivação para falar um outro rnodo de falar é sempre social, e issopode ser produzido pela escola. ou pela exper iência socia l . De qualquer manei-ra, a decisão de falar de um modo distinto daquele que aprendemos não se con-cretiza facilmente: há sempre um longo caminho a percorrer, tanto mais longoquanto mais distante se encontra o falante dos padrões l ingüísticos e culturaislegitimados.

4. CONSTDERAçótS rrHatS

Marcada por uma heterogeneidade original, a Sociolingüística dos anos1960 pode ser vista como o ponto de partida de novas correl' l tes e orientações depesquisas, centradas no trato do fenômeno lingúístico relacionado ao contextosocial e cultural, que se distinguem, de forma mais evidente, pela vinculaçãoexplícita a algum campo das ciências humanas. De uma perspectiva bem gelal,podemos apontar a Antropologia e a Sociologia como áreas relevantes. Dentreestas cofferìtes, destacaremos apenas algumas:

- a Sociologia da Linguagem, representada por J. Fishman;- a Sociolingüística Interacional, l igada ao nome de J. Gumperz;

- a Dialectologia Social, associada ao trabalho de estudiosos como R.Shuy e P. Trudgi l ;

- a Etnografia da Comunicação, inseparável do nome de D. Hymes, refe-rida anteriormente. Caberia, também, uma referência, nesta vertente,aos trabalhos de R. Bauman e J. Sherzer, voltados, particularmente,para a questão da arte verbal e da poética dos gêneros de fala.

Algumas antologias, bastante citadas, oferecem uma visão da produção nocampo da Sociolingüística e permitem observar a diversidade de ternas estuda-dos e de abordagens praticadas, como, por exemplo: Pride, J. B. & Holms, J.(1972) (orgs.), SociolirryLristlcs; Giglioli, P. P. (1974) (org.), Lcuryuage aru! so-cìal context;Coupland, N. & Jaworski, A. (1997) (orgs.), Sociolinguistics. Duasoutras referências merecem ser feitas: a coletânea de trabalhos reoresentativos

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da Socio l inguíst ica prat icada no mundo românico - Di t tmar, N. & schl ieben-Lange, B. (1982) (orgs.), La Sociolinguisticlu.e dans les pays de langue rou&tc- e o número B9 do periódico Irúenmtiottctl Jottrnal of socíologv of Langttoge(1989), dedicado à produção brasi le i ra.

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