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Boletim Informativo da Faculdade de Medicina da UFMG Nº 15 - Ano II - Belo Horizonte, outubro de 2011 Página 3 E m novembro, o 2º Congresso Nacional de Saúde da Faculdade de Medicina da UFMG e a 10ª Conferência Internacional de Saúde Ur- bana abordam temas que interessam não só aos profissionais da área, mas que fazem parte do cotidiano de toda a população. A sociedade e a promoção da saúde 5 PESQUISA Uma avaliação da satisfação dos médicos com o SUS 4 ALERTA Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos INFÂNCIA Como identificar problemas de fala e audição nas crianças 7 Ilustração: Ana Cláudia Ferreira
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Saúde Informa Nº 15

Apr 03, 2016

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Page 1: Saúde Informa Nº 15

Boletim Informativo da Faculdade de Medicina da UFMGNº 15 - Ano II - Belo Horizonte, outubro de 2011

Página 3

Em novembro, o 2º Congresso Nacional de Saúde da Faculdade de Medicina da UFMG

e a 10ª Conferência Internacional de Saúde Ur-bana abordam temas que interessam não só aos profissionais da área, mas que fazem parte do cotidiano de toda a população.

A sociedade e a promoção da saúde

5PESQUISAUma avaliação da satisfação dos médicos com o SUS

4ALERTABrasil é o maior consumidor de agrotóxicos

INFÂNCIAComo identificar problemas de fala e audição nas crianças7

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Desafio de todosÉ hora de reforçar

o convite para que toda a sociedade participe do 2º Congresso Nacional de Saúde da Faculdade de Me-dicina da UFMG e da 10ª Conferência Internacional de Saúde Urbana, que mo-vimentam Belo Horizonte em novembro. Os even-tos, simultâneos, abordam temas do cotidiano de to-dos nós: como ter qualida-de de vida em meio a um ambiente urbano marcado pelo trânsito caótico, es-tresse, pela violência e por tantas outras mazelas que afetam as cidades? O desa-fio envolve não só a área da Saúde, mas pede o engaja-mento de vários setores, nas esferas sociais e gover-namentais. Esta edição traz um panorama geral dessas discussões, que serão apro-fundadas no Congresso e na Conferência.

Na seção de Divul-gação Científica, as pes-quisas apresentadas foram escolhidas para marcar o Dia do Médico e o Dia da Criança, comemorados em outubro. Uma delas revela o nível de satisfação dos médicos que trabalham no SUS. A outra aborda o pa-pel dos pais e da escola na identificação de distúrbios de comunicação na infân-cia.

Doação de cor-pos, a bandeira criada no ano do Centenário da Fa-culdade de Medicina e o acolhimento de estudantes estrangeiros são outros destaques deste jornal.

Boa leitura!

Editorial Saúde do português

O conteúdo desta coluna é de responsabi-lidade do autor. Contribua para a ‘Saúde do Português’. Envie sua sugestão ou opinião

para [email protected].

PublicaçõesO bebê e seus intérpre-tes: clínica e pesquisa

Organizado pe-los professores fran-ceses Marie Christine Laznik e David Cohen, o livro reúne capítulos de autores do Brasil e do mundo. As profes-soras do Departamen-

to de Fonoaudiologia, Sirley Alves da Silva Carvalho e Érika Maria Parlato Oliveira, es-creveram, respectivamente, os capítulos “De-senvolvimento da linguagem e da audição em crianças usuárias de aparelho de amplificação sonora individual: estudo de caso” e “A clinica de linguagem de bebê: um trabalho transdisci-plinar”. Instituto Langage.

Neurologia Cognitiva e do Comportamento

O livro aborda as alterações do funcio-namento mental, distúr-bios da memória e da linguagem, mudanças de comportamento, dis-funções e lesões cere-brais, dentre outros as-

suntos. Editado pelos neurologistas Antônio Lúcio Teixeira e Paulo Caramelli, professores do Departamento da Clínica Médica da Facul-dade de Medicina, o livro tem como público alvo pós-graduandos, residentes e profissio-nais. Ed. Revinter.

Outubro de 20112

Excepcionalmente, o número 16 do Saúde Informa circulará na segunda quinze-na de novembro, para trazer a cobertura do 2º Congresso Nacional de Saúde da Facul-dade de Medicina da UFMG, dentre outros assuntos.

Aviso

Alguns pecadinhos

Há dias atendi uma senhora porta-dora de doença grave que está sob o meu controle clínico ambulatorial. Após ava-liação, pedi alguns exames complementa-res de imagem e sangue.

Por coincidência, os colegas que realizaram os exames me ligaram devido a alterações encontradas. O patologista clí-nico: “quando colhi o hemograma de sua paciente...” - interrompi e questionei que aquilo não era possível! Silêncio no outro lado da ligação. “Alô, alô”. Após um pro-fundo suspiro ele continuou. “Logo, logo, te envio o resultado”. Tentei argumentar, mas já era tarde. A ligação “caiu”. Dias depois encontrei com o colega na porta da Faculdade. Após algumas lembranças sobre nossa antiga amizade, afirmei que a coleta do hemograma não era possível, pois trata-se de um laudo que contêm a avaliação dos elementos do sangue e o colhido fora o sangue. Sorrisos amarelos.

Em seguida, recebo a ligação do ultrassonografista, dizendo-se preocupa-do porque tinha encontrado, nessa mes-ma paciente, imagem que acreditava ser uma “metástase envolvendo o fígado”. Preocupado com a reação do amigo pa-tologista, fiquei na dúvida. Tentando ser brincalhão, comentei: não será o fígado que envolve a possível metástase? Para minha surpresa, gargalhadas do outro lado da linha. Agradeceu com uma voz “alegre” e desligou. Alívio. Vamos conti-nuar a batalha!

Washington Cançado de AmorimProfessor do Departamento de Ginecologia e

ObstetríciaSua participação é muito importante para o Saúde Informa. Envie críticas e

sugestões para

Opinião

Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – Diretor: Professor Francisco José Penna – Vice-Diretor: Professor Tarcizo Afonso Nunes – Coordenador da Assessoria de Comunicação Social: Gilberto Boaventura – Editora: Alessandra Ribeiro (Reg. Prof. 9945/JP) – Redação: Jornalistas: Larissa Nunes, Léo Rodrigues e Marcus Vinicius dos Santos – Estagiários: Fernanda Campos, Fernando Maximiano, Lucianna Furtado, Victor Rodrigues. Projeto Gráfico: Ana Cláudia Ferreira de Oliveira e Leonardo Lopes Braga. Diagramação: Ana Cláudia Ferreira de Oliveira - Atendimento Publicitário: Desirée Suzuki – Impressão: Imprensa Universitária – Tiragem: 3.000 exemplares – Circulação mensal – Endereço: Assessoria de Comunicação Social, Faculdade de Medicina da UFMG, Av. Prof. Alfredo Balena, 190 / sala 5 - térreo, CEP 30.130-100, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil – Telefone: (31) 3409-9651 – Internet: www.medicina.ufmg.br; www.twitter.com/medicinaufmg e [email protected]. É permitida a reprodução de textos, desde que seja citada a fonte.

Expediente

[email protected]

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3Outubro de 2011

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Centenário

Promoção da saúde para todos2º Congresso Nacional de Saúde da Faculdade de Medicina da UFMG promove discussões que

interessam a toda sociedade, como a saúde no ambiente urbano

Alessandra Ribeiromídia, esferas governamentais e sociedade, voltadas para fortalecer e disseminar o conceito de promoção de saúde e, assim, contribuir para a melhoria da saúde individual e coletiva. Para Maria Isabel Correia, o tema do Congresso, “Políticas de Promoção da Saúde”, é absolutamente ino-vador. “Os próprios convênios estão implantando clínicas de promoção da saúde, para, em vez de tratar, evitar a doença e os gastos com tratamento, hospitais e drogas”, exemplifica.

A coordenado-ra do eixo “Políticas Urbanas de Promoção de Saúde” e da ICUH 2011, professora Wa-leska Caiaffa, afirma que as características próprias do ambiente urbano também são um enfoque novo na área da Saúde. Ela destaca a desigualdade como uma das principais dis-cussões trazidas pela Conferência. “O pobre adoece mais, tem doen-ças mais graves e menor assistência. E os proble-mas da cidade revertem em danos maiores para as pessoas que são ali-jadas da sociedade no

sentido do direito à saúde”, explica. A pobreza nas áreas urbanas será apresentada em diferentes contextos, a partir das experiências do Brasil, da China e na Europa. As dire-trizes da agenda global de determinantes sociais em Saúde também serão discutidas, com a participação de represen-tantes da Organização Mundial da Saúde.

Em novembro, Belo Horizonte será o centro das discussões sobre saúde no Brasil e no mundo. Temas polê-micos, como descriminalização do aborto e uso da maco-nha para fins medicinais, terão espaço para debates no 2º Congresso Nacional de Saúde da Faculdade de Medicina da UFMG, de 2 a 5 de novembro, no Minascentro. Ou-tras questões atuais, como mobilidade, mudanças climáti-cas, poluição, violência e uso de drogas também estão na pauta, dentro da 10ª Conferência Internacional de Saúde Urbana (ICUH 2011), que ocorre simultanea-mente, como parte das comemorações do Cen-tenário da Faculdade de Medicina da UFMG. Inédita na América Latina, a ICUH 2011 recebeu mais de 800 trabalhos, originários de 50 países. Para o Congresso, pelo menos cem conferencistas têm presença confirmada. O ministro da Saúde, Ale-xandre Padilha, é espe-rado para a solenidade de abertura.

Em 2008, quan-do o 1º Congresso Nacional de Saúde foi realizado na própria Faculdade de Medicina, a expectativa era de 800 inscri-tos, mas o número total de participantes chegou a 1,3 mil, como lembra o diretor da unidade, Francisco Penna. “É um Congresso cujo interesse, diante das temáticas coloca-das, é muito abrangente, não se resume à Medicina”, diz. Por isso, ele espera o envolvimento de toda a Universidade e também da comunidade externa.

A proposta do Congresso é justamente reunir es-tudantes, profissionais e gestores de diversos setores, uma vez que as discussões contemplam assuntos que interes-sam à sociedade como um todo. “O evento contempla a interdisciplinaridade, não só os profissionais com forma-ção na área da Saúde, mas também pessoas que lidam com a saúde direta e indiretamente. Quando se pensa na saúde urbana, isso envolve, por exemplo, arquitetos e engenhei-ros”, explica a coordenadora executiva do Congresso, pro-fessora Maria Isabel Correia.

InovaçãoSão sete eixos de discussões, nos quais serão avalia-

das ações desenvolvidas por empresas, universidades, pela

“O evento contempla a interdisciplinaridade, não só os profissionais com formação na

área da Saúde, mas pessoas que lidam com a saúde direta e indiretamente”

InscriçõesAs inscrições para o 2º Congresso Nacional de Saúde da Faculdade de Medicina da UFMG podem ser feitas pelo www.medicina.ufmg.br/congressosaude.O Congresso tem como patrocinadores platinum Ministério da Saúde, Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, Prefeitura de Belo Horizonte, Sicoob Credi-com e Amil; como patrocinadora diamante, a Unimed. O evento também conta como apoiadores: Banco BMG, União Brasileira de Qualidade, Associação Médica de Minas Gerais, Editora Guanabara, Cemil, Fundep, Sinmed, Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais, Capes, Fapemig e Academia de Medicina de Nova Iorque.

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Alerta

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“A produção orgânica entra em choque com interesses de mercado”, afirma Magalhães

O mal dos agrotóxicosSubstâncias afetam saúde de trabalhadores rurais e consumidores

Larissa Nunes

Como a maioria dos “alimentos verdes”, o pimentão é rico em sais minerais e vitaminas. Já o morango é

indicado para ajudar na cicatrização de ferimentos e, as-sim, evitar hemorragias. Muito famosa por seus benefícios nutricionais, a uva é rica em carboidratos e oferece ainda potássio, cálcio, fósforo, magnésio, cobre e iodo. Em co-mum, além da contribuição positiva ao corpo humano, es-ses alimentos têm também as mais elevadas concentrações de agrotóxicos do país, segundo levantamento da Anvisa em 2010. O Brasil, terceiro maior exportador de produtos agrícolas do mundo, ostenta o título de principal consumi-dor dessas substâncias, que por falta de legislação adequa-da e controle fiscal, já são responsáveis por danos ao solo, à fauna, flora e, principalmente, à saúde da população.

“Existem leis, portarias, mas que, lamentavelmen-te, não têm conseguido controlar o uso dos agrotóxicos no nosso território”, afirma o professor da Faculdade de Medicina, Tarcísio Márcio Magalhães Pinheiro, que levou pesquisas do Grupo de Estudos de Saúde e Trabalho Rural de Minas Gerais da UFMG (Gestru) para alimentar as dis-cussões do Congresso Nacional sobre o emprego desses produtos na agropecuária. Com base em uma série de pes-

quisas e pareceres apresentados por especialistas, deputados fede-rais analisam propor um projeto de lei mais eficiente e completo para regulamentar a questão.

Desenvolvidos para exter-minar pragas na lavoura e pasta-gem, os agrotóxicos existem na forma de mais de 500 princípios ativos, e foram imprescindíveis para a expansão das fronteiras agrícolas. Seu uso inadequado e excessivo, no entanto, já está comprovadamente relacionado

ao desenvolvimento de uma série de doenças e alterações genéticas que afetam os trabalhadores rurais, os consumi-dores finais dos alimentos e seus descendentes.

“O glifosato, que é o mais vendido do Brasil, pro-duz efeitos crônicos e lentos no corpo humano”, aponta o professor. Estudos do Greenpeace realizados na Argentina entre 2000 e 2009 mostram que esse produto está vincu-lado à quadruplicação de nascimentos de bebês com má-formação, a um tipo de câncer e à doença de Parkinson.

Trabalhadores do campo, os mais prejudicados, po-dem ser acometidos por intoxicações agudas e crônicas, desenvolvimento de tumores, distúrbios neurológicos e

endócrinos, problemas respiratórios, entre vários outros. No solo, os agrotóxicos são capazes de afetar a biodiver-sidade por dezenas de anos após a interrupção de seu uso.

Proibição ou substituiçãoIronicamente, o Brasil é, ao mesmo tempo, o maior

produtor de agrotóxicos, mas também o quinto maior pro-dutor orgânico do mundo, ou seja, de alimentos que foram gerados sem o emprego de produtos químicos sintéticos. “Há evidências de que é possível produzir em grande es-cala sem os agrotóxicos. Já temos hortifrutigranjeiros, ce-reais e produção pecuária dessa forma”, afirma Tarcísio Magalhães.

Questões políticas e, prin-cipalmente, econômicas dificul-tam a ampliação desse modelo de produção. Segundo o professor da Medicina, aproximadamente 90% dos agrotóxicos produzidos no mundo estão nas mãos de 20 grandes empresas. “A produção orgânica entra em choque com interesses de mercado”, explica o professor.

Para ele, o Brasil precisa, combinado com o incentivo à produção orgânica, de um controle maior para evitar a en-trada de produtos ilegais no país, mas que ainda são usados clandestinamente. Nesse grupo, estão os organoclorados, que se acumulam nos tecidos adiposos dos animais e nos homens, e permanecem no meio ambiente por décadas.

Defende-se ainda uma legislação que possa banir do Brasil os agrotóxicos já proibidos em vários outros paí-ses, que aumente a taxação dos produtos mais perigosos e fiscalize a adequação do manuseio, depósito e transporte dessas substâncias.

Trabalhadores do campo podem ser acometidos por intoxicações, problemas respiratórios, tumores, dentre outros distúrbios

Estudos relacionam o glifosato,

agrotóxico mais vendido no

Brasil, a câncer, má-formação

e doença de Parkinson

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Outubro de 2011 5

Divulgação Científica

65% dos médicos do SUS-BH afirmam estar satisfeitos com o exercício profissional

Pesquisa avalia satisfação dos médicos no SUS-BH

Profissionais das unidades de urgência são os mais descontentes com o ambiente de trabalho

Léo Rodrigues

Você está satisfeito com o seu trabalho? Essa foi a per-gunta que Rafael Brito Nery Ribeiro fez a diversos

médicos do Sistema Único de Saúde de Belo Horizonte (SUS-BH). Em sua dissertação de mestrado, realizada junto ao programa de pós-graduação em Saúde Pública da Faculdade de Medicina da UFMG, ele decidiu utilizar uma metodologia científica para investigar até que ponto frequentes reclamações de colegas representavam, de fato, uma insatisfação com a profissão. A pesquisa selecionou por amostragem 266 médicos, sendo que 232 responde-ram ao questionário. Destes, 65% afirmaram estar satisfei-tos com o exercício profissional.

Rafael Ribeiro explica que o resultado, se compara-do com a realidade de outros países, traz um índice mode-rado. Na Índia, pesquisas indicam que 44,8% dos médicos estão satisfeitos. No Japão, o percentual é de 55%. Por

outro lado, um quadro mais po-sitivo é observado nos EUA, com 75% de satistação, e na Austrália, que alcança 85,7%. “O resultado que encontrei é mais ou menos o que eu esperava. Eu achava que a situação fosse um pouco pior, devido às conversas informais de alguns colegas. De toda forma, o ideal seria que 100% dos pro-fissionais estivessem satisfeitos.

Nesse sentido, nosso quadro carece de melhora”, opina o pesquisador.

Foram avaliados diversos aspectos que poderiam ter impacto na satisfação dos médicos, tais como carac-terísticas do ambiente de trabalho, volume das demandas, estrutura organizacional, carga horária, infraestrutura, re-lações sociais, estilo de vida, dentre outros. A pes-quisa constatou que a frequência de insatisfação aumenta significativamente em três circunstâncias. A primeira delas é quando os médicos trabalham em unidades de urgência (UPAs). O índice tam-bém cresce entre os entrevistados com risco de desenvolver algum transtorno mental comum, tais como ansiedade, estresse, insônia e sintomas de-pressivos.

Uma terceira circunstância que eleva a fre-quência de insatisfação é quando o médico julga não estar sendo devidamente recompensado finan-ceiramente. “É importante ressaltar que o valor do salário em si não teve relevância. Não interessa se o médico recebe 5 ou 10 mil reais. O que importa é a opinião dele sobre se essa quantia corresponde ao trabalho desempenhado. Por isso, o aumento da renda pode não ser uma estratégia suficiente

para aumentar o índice de satisfação. É preciso observar as condições de trabalho”, explica Rafael Ribeiro.

Segundo o pesquisador, nenhuma característica pessoal ou de estilo de vida foi significante para a satisfa-ção com o trabalho. “Não importa, por exemplo, o estado civil ou a quantidade de filhos que o médico possui. Os hábitos e costumes também não tiveram relevância. Nes-se estudo, não foram detectadas diferenças significativas entre os médicos sedentários e os que praticam atividades físicas, os que fumam e bebem e os que não fazem nada disso”, relata Rafael Ribeiro.

OrientaçõesEmbora a pesquisa não tenha sido realizada com

o objetivo de avaliar estratégias para melhorar o índice de satisfação dos médicos do SUS-BH, Rafael Ribeiro acredi-ta que há algumas sinalizações e orientações. “No Brasil, há poucas pesquisas exploratórias como essa e é preciso aprofundar mais no assunto. Nós fizemos um diagnóstico inicial da situação municipal. Os resultados encontrados trazem, por exemplo, uma preocupação quanto ao traba-lho nas UPAs e quanto ao estado de saúde mental dos médicos”, sugere ele.

O pesquisador enfatiza que uma alta frequência de sa-tisfação dos médicos com o tra-balho pode ser um indicador de bom funcionamento do sistema de saúde, além de favorecer a fi-xação de profissionais no serviço. E ganha também o usuário, que passa a desfrutar de um melhor atendimento.

Para Rafael Ribeiro, o ideal seria que 100% dos profissionais estivessem satisfeitos

Título: Satisfação dos médicos com o trabalho no SUS-BHAutor: Rafael Brito Nery RibeiroNível: MestradoPrograma: Saúde PúblicaOrientadora: Profª Ada Ávila Assunção Defesa: 09/09/ 2011

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Seja um BenvindoFernando Maximiano

Estudantes

Foto: Fernando Maximiano

Outubro de 20116

Congregação aprova bandeira para Medicina

Fernanda Campos

O passeio inaugural do Projeto Benvindo começou na Praça da Estação, no Museu de Artes e Ofícios, e terminou no Espaço TIM UFMG do Conhecimento, na Praça da Liberdade.

O projeto Benvindo inicia sua segunda fase no dia 29 de outubro, quando duplas de estudantes estrangeiros

começam a ser recebidas nas casas de professores e funcio-nários da Faculdade de Medicina. A tarefa dos anfitriões, voluntários, será preparar atividades como um almoço ou sessões de cinema, teatro, dentre outras, que possibilitem a interação do aluno estrangeiro com a cultura belo-hori-zontina.

“Ainda não sei o que vai acontecer, será realmente uma experiência. Espero que seja maravilhosa como foi na primeira etapa”, afirma a idealizadora da iniciativa, Eugênia Ribeiro Valadares, professora do departamento de Prope-dêutica. Ela se refere ao passeio pelos pontos turísticos da capital, realizado no dia 17 de setembro, que reuniu 24 alu-nos estrangeiros do campus Saúde e de outras unidades da universidade.

Eugênia Valadares reforça que o projeto, realizado por meio de uma parceria entre a Medicina e o Instituto de Geociências, está aberto a todos os acadêmicos estrangei-ros da UFMG. “Existe a possibilidade de ampliar para toda a comunidade universitária no futuro”, prevê. “Vamos dar oportunidade para todos que queiram participar”, garante.

Interessados em receber estudantes estrangeiros em suas casas podem se cadastrar pelo

[email protected].

No ano de seu Centenário, a Faculdade de Medicina da UFMG ganhou uma bandeira, que será hasteada

em datas especiais, comemorativas e durante solenidades promovidas pela instituição. A resolução que criou o novo símbolo foi aprovada pela Congregação da unidade, em reunião no último dia 31 de agosto. O órgão tem represen-tantes de professores, alunos, funcionários e dos diretores da Medicina e do Hospital das Clínicas.

Para o diretor da Faculdade, professor Francisco Penna, o momento não poderia ser mais oportuno. “Nes-te ano as questões históricas e simbólicas relacionadas à Faculdade de Medicina estão sendo pensadas com maior ênfase. A bandeira reforça este processo de afirmação da identidade da escola”, destaca.

O modelo foi desenvolvido pela equipe de Criação da Assessoria de Comunicação Social (ACS) com base em elementos que identificam a Faculdade. De acordo com a designer responsável pela bandeira escolhida, Ana Lúcia Chagas, a cor verde nas bordas representa equilíbrio e har-monia e é muito utilizada nas peças gráficas institucionais. Segundo ela, a logomarca, colocada no centro, ganha des-taque e permite identificação imediata. “A disposição dos elementos é simétrica e a faixa branca ilumina a identidade visual”, explica.

O processo de elaboração começou no primeiro se-mestre, quando a equipe da ACS desenvolveu, inicialmente, 42 modelos. Seis deles foram selecionados e encaminhados para a avaliação da Diretoria que, por sua vez, elegeu duas opções para levar à Congregação.

MedalhaA Faculdade também criou uma condecoração para

os profissionais que se destacaram pela dedicação e con-tribuição à instituição. A Medalha Cícero Ferreira será en-tregue sempre em março, com exceção de 2011, quando a medalha será entregue na abertura do 2º Congresso Nacio-nal da Faculdade de Medicina da UFMG.

Centenário

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Prevalência de alterações fonoaudiológicas (n=539)

Linguagem oral

Sem alteração

Motricidade Orofacial

Processamento Auditivo

Alterações Fonoaudiológicas*

Dentre os distúrbios mais frequentes, 33,6% das crianças apresentavam algum tipo de alteração de linguagem oral e 17,1% apresentavam algum problema na motricidade das estruturas orofaciais, fundamental para a articulação dos sons e adequação da fala. Mais de um quarto das crianças (27,3%) apresentava alterações no processamen-to auditivo, relacionado à detecção e interpretação dos estímulos sonoros.

* as categorias não são excludentes. A criança pode apresentar mais de um distúrbio.

Com alteração

33,6%66,4%

17,1%82,9%

27,3%72,7%

49,9%50,1%

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7Outubro de 2011

Divulgação Científica

Diagnóstico de problemas de comunicação envolve pais e professores

Dificuldades para falar e escutar afetam desenvolvimento infantil, mas podem ser contornadas se percebidas na fase inicial

Amanda Jurno e Victor Rodrigues

Dificuldades de comunicação, relacionamento ou aprendizagem são algumas das consequências que

alterações fonoaudiológicas podem causar na vida de uma pessoa. O problema foi identificado em metade das 539 crianças de quatro a dez anos de idade, estudantes de es-colas públicas da região Nordeste de Belo Horizonte, ava-liadas em três pesquisas realizadas junto ao programa de pós-graduação em Saúde da Criança e do Adolescente da Faculdade de Medicina da UFMG.

As fonoaudiólogas Alessandra Rabelo, Clarice Fri-che e Fernanda Campos, autoras dos trabalhos, destacam a importância de observar a criança em seu dia a dia, para o diagnóstico precoce: quanto mais cedo a alteração for detectada, maior a chance de que suas consequências sejam minimizadas.

Clarice Friche encontrou forte relação entre a per-cepção dos pais de que o filho tem dificuldade para ouvir ou falar e a existência de algum problema. “Isso mostra a importância de os profissionais de saúde levarem em consideração as observações dos pais na hora de realizar o diagnóstico”, orienta Clarice. “Na prática isso muitas vezes não acontece, especialmente quando os pais são das cama-das sociais menos favorecidas”, relata.

A ajuda também pode vir da sala de aula. As pesqui-sadoras ressaltam a necessidade de preparo e maior aten-ção dos professores para perceber sinais de que a criança pode apresentar alguma alteração fonoaudiológica. O con-tato constante com as crianças torna os docentes capazes de identificar aquelas com alguma dificuldade, e intervir de maneira a ajudá-las.

Clarice Friche, Alessandra Rabelo, a coorientadora Cláudia Lindgren, a orientadora Lúcia Goulart, a bolsista Bárbara e Fernanda Campos

Faixa etáriaAs pesquisas indicaram um maior número de crian-

ças entre quatro e seis anos com alterações fonoaudiológi-cas, idade em que a criança entra na fase final de aquisição da linguagem oral. Segundo Fernanda Campos, o dado su-gere que essa é uma boa idade para identificar as alterações e prevenir desvios futuros. “O trabalho com essas crian-ças pode ocorrer da maneira mais eficaz possível, antes do problema se agravar e comprometer o desenvolvimento cognitivo”, defende.

Título: Prevalência de alterações fonoaudiológi-cas em crianças de 4 a 10 anos de idade de escolas públicas da área de abran-gência do Centro de Saúde São MarcosAutoras: Alessandra Rabelo, Clarice Friche e Fernanda CamposNível: MestradoPrograma: Saúde da Crian-ça e do AdolescenteOrientadora: Lúcia Maria Horta Figueiredo Goulart (Dep. Pediatria)Coorientadoras: Claudia Lindgren Alves (Dep. Pe-diatria) e Amélia Augusta Lima Friche (Dep. Fonoau-diologia)

Page 8: Saúde Informa Nº 15

Estudantes

Herança que pode salvar vidasPrograma Vida após Vida cadastra doadores de corpos para o ensino na UFMG

Alessandra Ribeiro

Outubro de 20118

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Você sabe de onde vêm os corpos estuda-dos nas aulas de anatomia dos cursos de

Medicina, Odontologia e de vários outros da área da Saúde? As escolas contam principal-mente com pessoas que manifestam o dese-jo de doar seus corpos após a morte para as instituições de ensi-no. “O doador não verá o benefício de seu gesto. Mas mi-lhares de pessoas serão favorecidas, já que o corpo leva à boa formação de centenas de médi-cos”, afirma o professor Geraldo Brasileiro Filho, idealizador do Programa de Doação de Corpos “Vida após vida”, criado em 1999, na Faculdade de Medicina da UFMG.

No momento da morte, a autorização da família é indispensável. O processo deve ser o mais breve possível, para que o corpo chegue em condições de ser aproveitado. “Por isso é importante que a família também esteja de acordo”, enfatiza Brasileiro.

Ele conta que, antigamente, muitos corpos não reclamados eram encaminhados para as escolas médicas. Felizmente, o quadro mudou, sobretudo após a promulgação da Constituição de 1988, que acabou com os in-digentes, muitos dos quais, quando morriam, tinham os corpos encaminhados às faculda-des. Além disso, hoje há maior facilidade de comunicação e localização das famílias dos pacientes que falecem nos hospitais.

Paralelamente a esse avanço, o número de faculdades de Medicina aumentou muito no Brasil – hoje são 181, o que fez crescer também a demanda pelos cadáveres. Segun-do a regra, eles são encaminhados para uma faculdade da região onde ocorreu o óbito. A Medicina da UFMG, por exemplo, só recebe corpos de Belo Horizonte e encaminha os de outras cidades para as instituições mais pró-ximas.

Acontece

Campanha I

O projeto de extensão Creche das Rosinhas recolhe produtos de hi-giene para crianças: es-covas de dente, creme dental, sabonete, pente fino e creme de pente-ar. As doações são re-colhidas em cestos na entrada da Faculdade de Medicina, na Biblio-teca do campus Saúde e na secretaria do de-partamento de Pedia-tria (sala 267).

Campanha II

Com o objetivo de cons-cientizar as mulheres sobre como prevenir o câncer do colo do úte-ro, a Liga Acadêmica de Patologia (Lapa) criou uma página no Face-book com o nome Pro-grama de Controle do Câncer do Colo do Útero – UFMG. A ideia é que as pessoas compartilhem o link e ajudem a di-vulgar as informações.

Jabuti

O professor do Depar-tamento de Cirurgia, Andy Petroianu, é fina-lista do 53º Prêmio Ja-buti, o mais tradicional da literatura brasileira. A obra Clínica Cirúrgica do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, organizada por ele e com vários ar-tigos de sua autoria, foi classificada em primei-ro lugar entre as dez melhores na categoria Ciências da Saúde.

Ilustração: Ana Lúcia Chagas

Atualmente, o “Vida após vida” con-ta com 295 doadores cadastrados, dos quais 38 já morreram. Pode parecer muito, mas, como explica Geraldo Brasileiro Filho, o nú-mero está bem aquém do ideal. “Há 30 anos, a Faculdade recebia, em média, 25 corpos

por ano. Era um cadáver para cer-ca de 12 alunos.Hoje, temos pou-cos corpos para a turma toda”, compara.

“O doador não verá o benefício. Mas milhares de pessoas serão beneficiadas, já que o corpo leva à boa formação de centenas de

médicos”.

Como se tornar um futuro doador

Os professores responsáveis irão explicar detalhadamente ao

doador todo o processo, tirar dúvidas e esclarecer todos os

passos da doação.

Quando ocorre o falecimento, alguém responsável pelo falecido deve contactar

a Faculdade imediatamente, para as providências necessárias,

inclusive legais.

O futuro doador assina um termo e recebe instruções. Tudo é feito sob sigilo, respeitando-se, sempre, as leis que tratam do processo e os princípios éticos e morais.

Ao decidir se tornar um doador, a pessoa deve agendar uma entre-vista pelo telefone 3409-9632 ou procurar, pessoalmente, a Diretoria da Faculdade de Medicina da UFMG, no andar térreo da unidade.