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Conhecendo a Bíblia Sagrada História da Bíblia Sagrada 1. Prólogo 2. Inspiração 3. Origem e Formação da Bíblia 4. Hermenêutica 5. História das Formas e Gêneros Literários Resumo da Bíblia Sagrada 1. As Origens 2. Os Filhos dos Primeiros Homens 3. A História de Noé e seus Filhos 4. Os Descendentes de Noé 5. A História de Abraão 6. A História de Isaac e Jacó 7. A História de José 8. A História de Jó 9. A História de Moisés 10. A História de Saul 11. A História de Davi (Aprox. 1055-1015) 12. A História de Salomão (aprox. 1015-975 a.C.) 13. O Reino de Israel (aprox. 975-722 a.C.) 14. Os Profetas Elias e Eliseu 15. A História do Profeta Jonas 16. O Reino de Judá (aprox. 975-588 a.C.) 17. O Cativeiro da Babilônia 18. Após o Exílio da Babilônia 19. A Judéia no Tempo dos Macabeus (167-63 a.C.) 20. O Nascimento de Jesus (6 a.C.) 21. A Infância de Jesus
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Nov 16, 2020

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Conhecendo a Bíblia Sagrada

História da Bíblia Sagrada

1. Prólogo 2. Inspiração 3. Origem e Formação da Bíblia 4. Hermenêutica 5. História das Formas e Gêneros Literários

Resumo da Bíblia Sagrada

1. As Origens 2. Os Filhos dos Primeiros Homens 3. A História de Noé e seus Filhos 4. Os Descendentes de Noé 5. A História de Abraão 6. A História de Isaac e Jacó 7. A História de José 8. A História de Jó 9. A História de Moisés 10. A História de Saul 11. A História de Davi (Aprox. 1055-1015) 12. A História de Salomão (aprox. 1015-975 a.C.) 13. O Reino de Israel (aprox. 975-722 a.C.) 14. Os Profetas Elias e Eliseu 15. A História do Profeta Jonas 16. O Reino de Judá (aprox. 975-588 a.C.) 17. O Cativeiro da Babilônia 18. Após o Exílio da Babilônia 19. A Judéia no Tempo dos Macabeus (167-63 a.C.) 20. O Nascimento de Jesus (6 a.C.) 21. A Infância de Jesus 22. A Vida Pública de Jesus (30 d.C.) 23. Os Apóstolos de Jesus 24. Jesus, Nosso Divino Mestre

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25. As Parábolas do Reino de Deus 26. Os Milagres de Jesus 27. Jesus, o Bom Pastor 28. Os Últimos Dias de Jesus 29. A Paixão de Jesus 30. A Glorificação de Jesus

Artigos sobre a Bíblia Sagrada

1. O que é a Bíblia? 2. Introdução à Bíblia 3. Quem escreveu a Bíblia? 4. Como são feitas as citações bíblicas? 5. Como está dividida a Bíblia? Quais livros a compõem? 6. Como ler com proveito a Bíblia? 7. A Bíblia não erra 8. A Bíblia mal utilizada 9. A Bíblia é infalível? 10. A Bíblia ou a Tradição? 11. A Bíblia dispensa a Tradição oral da Igreja? 12. A necessidade da Tradição e do Sagrado Magistério da Igreja 13. A suficiência material e a suficiência formal das Escrituras 14. A interpretação da Bíblia 15. Sobre o Cânon Bíblico 16. Como está definido o Cânon Bíblico 17. Os livros deuterocanônicos fazem parte da Bíblia? 18. A versão da septuaginta 19. A aceitação do cânon amplo da LXX na Palestina do século I 20. Palavra de Deus = Bíblia + Tradição + Magistério 21. Defendendo os deuterocanônicos 22. Referências do Novo Testamento aos deuterocanônicos do A.T. 23. Cronologia da era apostólica e o desenvolvimento do cânon 24. Pequena concordância bíblica 25. Somente a Bíblia? - 21 razões para rejeitar a Sola Scriptura

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26. 27 livros perdidos citados pela Bíblia

27. A tarefa do exegeta católico

Prólogo

A Bíblia é um livro difícil. Difícil porque é antigo, foi escrito por orientais, que têm uma mentalidade bem diferente da greco-romana, da qual nós descendemos. Diversos foram os seus escritores, que viveram entre os anos 1200 a.C. a 100 d.C. Isso, sem contar que foi escrita em línguas hoje inexistentes ou totalmente modificadas, como o hebraico, o grego, o aramaico, fato este que dificulta enormemente uma tradução, pois muitas vezes não se encontram palavras adequadas.

Outra razão para se considerar a Bíblia um livro difícil é que ela foi escrita por muitas pessoas, ás vezes até desconhecidas e em situações concretas as mais diversas. Por isso, para bem entendê-la é necessário colocar-se dentro das situações vividas pelo escritor, o que é de todo impraticável. Quando muito, consegue-se uma aproximação metodológica deste entendimento.

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Além do mais, a Bíblia é um livro inspirado e é muito importante saber entender esta inspiração, para haurir com proveito a mensagem subjacente em suas palavras. Dizer que a Bíblia é inspirada não quer dizer que o escritor sagrado (ou hagiógrafo) foi um mero instrumento nas mãos de Deus, recebendo mensagens ao modo psicográfico. É necessário entender o significado mais próprio da 'inspiração' bíblica, assunto que será abordado na continuação.

Entre os católicos, o interesse por conhecer a Bíblia praticamente começou após o Concílio Vaticano II, ou seja, a partir dos anos '60, enquanto os Protestantes há muito se interessam por estudá-la. Não quero adentrar aqui na histórica polêmica religiosa que cerca a leitura e a interpretação da Bíblia, ressuscitando vetustas divergências. Apenas vale salientar que uma série de enganos podem advir de uma interpretação bíblica literal, porque uma interpretação ao "pé da letra" não revela o sentido mais adequado de todas as palavras.

Para que não aconteça conosco incidir neste equívoco, devemos aprender a nos colocar na situação histórica de cada escritor em cada livro, conhecer a situação social concreta da sociedade em que ele viveu, procurar entender o que aquilo significou no seu tempo e só então tentar aplicar a sua mensagem ás nossas circunstâncias atuais.

1. O que é a Bíblia?

Definição do Concilio Vaticano II:

"A Bíblia é o conjunto de livros que, tendo sido escritos sob a inspiração do Espirito Santo, têm Deus como autor, e como tais foram entregues à Igreja".

TESTAMENTO (novo ou antigo): é a tradução da palavra hebraica "berite" que significa a aliança de Deus com o povo por Moisés. Na tradução dos 70 a palavra "berite" foi traduzida por "diatheke", que em grego quer dizer aliança, contrato, testamento.

OBS: A 'tradução dos 70' é uma das versões mais antigas da Bíblia. Segundo a tradição, este trabalho teria sido realizado por 70 sábios da antiguidade.

2. Quais as partes que compõem a Bíblia?

A Bíblia se divide em duas partes principais: o Antigo Testamento e o Novo Testamento. O Antigo refere-se ao período anterior a Jesus Cristo e o Novo se refere ao período cristão. Cada uma destas partes se compõe de diversos 'livros', escritos em épocas históricas diferentes. A seguir, a relação dos livros com uma breve referência ao conteúdo deles.

LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO

1. Pentateuco (cinco primeiros livros: Gênesis, Êxodo, Levitico, Números, Deuteronômio)

2. Josué (narra a entrada do povo de Deus na Palestina) 3. Juizes (narra a conquista da Palestina) 4. I e II de Samuel (relatos da época de Saul e Davi, continuação da conquista) 5. I e II dos Reis (relatos sobre Salomão e seus sucessores)

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6. I e II das Crônicas (continuação dos relatos sobre os outros Reis) 7. I e II dos Macabeus (continuação do período dos Reis) 8. Livro de Rute (faz alusão ao universalismo. Noemi era pagã e se inseriu no

povo de Deus). 9. Livro de Tobias, Livro de Judite, Livro de Ester (pertencem ao gênero de

contos. São livros do tempo do exílio, quando se apresentavam exemplos de abnegação ao povo oprimido, convidando-os a suportar o sofrimento).

10. Livro de Isaías (cap.l a 39 são do próprio escritor; cap. 40 a 55 são de discípulos; cap.56 a 66 são de outros escritores posteriores)

11. Livro de Jeremias (ditado por este a Baruc, seu secretário) 12. Livro de Ezequiel (um dos profetas maiores) 13. Livro de Daniel (tem um conteúdo apocalíptico ) 14. Livro de Jó (do gênero conto, procura demonstrar que não só os bons

são felizes. Tem por objetivo combater uma idéia comum de que só os ricos eram os abençoados por Deus).

15. Livros Sapienciais (Eclesiastes ou Qohelet; Eclesiástico ou Siráside; Provérbios, Sabedoria e Cântico dos Cânticos). São reflexões de cunho acentuadamente humanístico, aproveitamento do saber oriental.

16. Livro dos Salmos (coleção de cantos litúrgicos). 17. Profetas Menores: Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum,

Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias (chamados menores não com relação à sua importância, mas ao tamanho de seus escritos).

LIVROS DO NOVO TESTAMENTO

1. Evangelhos sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas - têm muitas semelhanças entre si ).

2. Evangelho de João (maior desenvolvimento teórico, influência filosófica de época)

3. Atos dos Apóstolos (narram a missão dos apóstolos após a Ressurreição de Cristo)

4. Epístolas de Paulo (historicamente, os primeiros escritos do NT)5. Epístolas Católicas (Pedro, Tiago, Judas): dirigidas a todos os fiéis, por isso,

universais.6. Apocalipse (escrito por João, na base de códigos, símbolos).

Inspiração

Um dos principais conceitos a ser examinado para uma melhor compreensão da Bíblia é o de inspiração. O que significa dizer que os livros bíblicos são inspirados, de onde vem esta inspiração, até que ponto o que é escrito representa a mensagem de Deus ou do hagiógrafo (escritor sagrado)? Ao longo da história, os estudiosos procuraram esclarecer este conceito básico e, é claro, sempre houve

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divergências entre eles. Apresentamos aqui algumas reflexões sobre este importante conceito.

Na inspiração distinguimos dois aspectos: dogmático e especulativo.

O dogmático pode ser expresso como resposta à pergunta: por que acreditamos que a Bíblia é um livro inspirado? Isto não se pode provar pela própria Bíblia. Busca-se então provar pelo fundamento histórico. Os evangelhos, por exemplo, são históricos. Há uma tradição desde os tempos dos Apóstolos que cita a Escritura como autoridade divina ( Mt 1, 22; Mt 22, 31; Mc 7,10; Jo 10, 35; At 1,16; Lc 22, 37; Heb 3, 7; 10,15 ). Em 2Tim 3,16, aparece pela primeira vez a palavra 'theopneustos', ou seja, inspirada por Deus.

O especulativo pode ser expresso como resposta à pergunta: em que consiste a inspiração? Este é mais complicado e será exposto com mais detalhes.

a) Modo da inspiração

É muito discutido o modo como se dá a inspiração do escritor sagrado. Bañez afirmou que era um ditado. Mas em II Mac 2, 19-23, o autor se refere a um resumo de 5 livros em um só, cujo resumo lhe custou "suores e noites de vigília". Como é que foi um ditado se houve o esforço dele para elaborar a síntese? Do mesmo modo Lucas (Lc l,1) escreve: "depois de haver diligentemente investigado tudo desde o principio, resolvi escrever... ", logo não foi simplesmente um 'ditado' da parte de Deus.

Em reação à teoria do ditado veio outra que disse o contrário: a inspiração é a aprovação que a Igreja dá ao livro. O fato estar colocado no cânon é a garantia da própria inspiração. Esta tese foi defendida por poucos e não teve grande aceitação nos meios católicos.

O Cardeal Franzelin propôs uma nova fórmula: nem tudo é de Deus nem tudo é do homem, mas as idéias são de Deus e as palavras são do homem. Obteve um certo sucesso, mas ainda não explicou de todo. Sto. Tomás de Aquino propusera a teoria da "causa instrumental": são os dois ao mesmo tempo - Deus e o Homem. Ambos estão presentes em toda a obra, Um é o autor principal e o outro o autor secundário. A inspiração eleva, sublima as faculdades do autor. Pode até ser admitida esta teoria, entretanto, convém lembrar que tudo que está na Bíblia é inspirado, embora nem tudo seja revelado.

b) Funcionamento psicológico da inspiração

Em II Mac, conforme mencionado acima, o autor se refere a um resumo do livro que um certo Jazão escreveu. De 5 volumes ele reduziu a um só. Como dizer que isto é palavra inspirada por Deus, como se explica aí a inspiração divina?

Comecemos por analisar as operações do intelecto: apreensão, juízo e raciocínio. Elas seguem um grau de aprofundamento e refinamento do saber. Pode-se ter uma inspiração de Deus logo no primeiro momento (na apreensão), como se pode ter depois, no juízo ou também nos dois. Quando a inspiração é logo na apreensão, se diz 'revelação'. Quando, como no caso do II Mac, a apreensão é do autor, a inspiração se dá no segundo momento, ou seja, no juízo, enquanto na apreciação que ele faz da obra está sendo iluminado pelo Espírito Santo. Na confecção destes livros, a questão da inspiração é que o autor estava iluminado pelo Espirito Santo para dizer o fato corretamente, sem poder errar no julgamento. Embora ele não

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esteja consciente disso, a ação do Espírito Santo está sendo exercida no seu intelecto.

Mas, pode-se questionar: como se sabe se ele foi ou não inspirado quando nem ele mesmo pode perceber isso? Aí passa a ser uma questão de fé. Tenta-se explicar o fato, mas não se afirma que seja assim. 0 discernir se o livro é ou não inspirado, dado o que acontece com o autor, é alçada da Igreja, que também é inspirada pelo Espírito Santo. É uma questão fundamentalmente de fé.

Por isso, para a definição do livros autênticos, reconhecidos pela Igreja Católica, os Cânones foram aprovados em Concílios, nos quais se discutiram certas dúvidas a respeito de alguns livros, se eram ou não inspirados. Nas discussões, procurou-se ver na historia da Igreja, desde os cristãos primitivos até aquela época, quais os livros que durante os séculos sempre foram lidos nas Igrejas e, baseada no consenso, ela constituiu o cânon. Sem dúvida, a tradição antiga é mais fidedigna, pois está mais próxima dos tempos apostólicos.

Mas, voltando ao conceito do juízo, ele pode ser especulativo ou prático. Especulativo quando tem por fim o verdadeiro; prático guando tem por fim o bem. No caso de Jonas, por exemplo, o juízo do autor não foi especulativo, mas prático. Jonas teve o sonho em que Deus o mandava pregar em Nínive. Ora, raciocinou ele, Javé é Deus de Israel, e não deve ser falado aos pagãos. Então tomou o navio para outro lugar, e aí entra a história da baleia... A finalidade do autor era convencer a todos que Javé era o Deus universal, contra uma certa corrente judia que negava fato, ou melhor, não gostava da idéia.

Para se entender cada página da Bíblia deve-se ter em mente a finalidade, a intenção do autor ao escrever cada parte do livro. Não se pode abrir o livro em qualquer parte e ler tudo com o mesmo espirito. Na antiga concepção de inspiração (ditado) não se considerava este problema. Tudo que lá estava se acreditava "ao pé da letra". Não se podia duvidar. Mas esta é hoje uma prática mais comum em algumas igrejas protestantes, geralmente praticada por pessoas com conhecimentos teológicos limitados e reducionistas.

Uma conseqüência direta da inspiração é o dom da inerrância. Se o livro é inspirado, logo o que contém é verdade. Porém esta verdade não está ali imediatamente evidente, ela precisa ser alcançada pela reflexão animada pela fé, ou seja, a razão e a fé ajudando-se mutuamente.

Origem e Formação da Bíblia

1. Indícios e evidências históricas

O período histórico da formação da Bíblia situa-se entre 1100 a. C. ou 1200 a. C. a 100 d. C. Provavelmente, a mais antiga parte escrita da Bíblia é o Cântico de Débora, que se encontra no livro dos Juízes (Jz, 5).

Quando os hebreus chegaram a Canaã, já havia na terra um certo desenvolvimento literário, como por exemplo, o alfabeto fenício (do qual se derivou o hebraico), que já existia no século XIV a. C. Os judeus chegaram lá por volta do século XIII a.C. Outro documento desta época é o calendário de Gezér, que data mais ou menos do ano 1000 a.C. É uma indicação de datas para uso dos agricultores. É o documento mais antigo encontrado na Palestina. Outro documento também muito antigo é o sarcófago do Rei Airam, que contém uma inscrição e foi encontrado nos séculos XIV ou XV a. C., em Biblos. Há ainda umas

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tabuletas encontradas em Ugarit (em 1929), onde estão escritos uns poemas semelhantes aos salmos, datando dos séculos XIV ou XV a. C.

Além destes, há outros documentos provando que já havia uma escrita na Palestina, antes dos hebreus chegarem lá. A inscrição do túmulo de Siloé (700 a. C.), explicando como foi feito; os "óstracon", de Samaria, onde há uma espécie de carta diplomática, são documentos que provam a continuidade de uma atividade literária. Em Juizes 8,14, o autor descreve um acontecimento ocorrido mais ou menos em 1100 a.C. E em que língua foi escrito este fato pela primeira vez, na época em que aconteceu? Provavelmente no alfabeto fenício (pré-hebraico).

2. A tradição oral e a tradição escrita

A parte mais antiga da Bíblia remonta justamente deste tempo (1100 a.C.), quando a escrita ainda não estava bem definida, e é oral. Desde este tempo já se fora criando uma tradição, que existia oralmente e era transmitida aos novos pelos mais velhos nas reuniões que havia nos santuários. Por este tempo, só eram relatados os acontecimentos do deserto, do Sinai, da aliança de Deus com o povo. Mas os jovens queriam saber o que havia acontecido antes disto. Então foram sendo compostas as histórias dos Patriarcas. Mas, e antes deles, antes de Abraão? Passaram à história da criação do mundo. Por isso, se afirma que a parte mais antiga da Bíblia é o Cântico de Débora, no livro dos Juizes. A partir daí, fez-se um retrospecto didático-histórico.

Como dissemos, estas histórias iam sendo passadas oralmente de pai a filho, nos santuários. Acontece que nem todos iam para os mesmos santuários, o que motivou a existência de pequenas diferenças na catequese do norte e na do sul. A tradição do sul foi chamada de JAVISTA (J), pois Deus era tratado sempre por Javé; a do norte se chamou ELOISTA (E), porque Deus era tratado como Eloi.

A tradição oral existiu até os tempos de Daví, quando foi escrita a tradição javista; meio século depois, foi escrita também a eloista. Por volta de 721 a.C., na época, da divisão dos reinos, quando Samaria foi destruída pelos assírios, muitos sacerdotes do norte fugiram para o sul e levaram consigo a sua tradição. A partir de então, as duas foram compiladas num só escrito.

Falamos das duas tradições: uma do norte e outra do sul. Mas não existiam apenas estas duas, que são as principais. Há ainda a DEUTERONOMICA (D), encontrada casualmente em 622 a. C. por pedreiros, que trabalhavam num templo. Corresponde ao livro Deuteronômio da Bíblia atual. Após esta, surgiu a SACERDOTAL (P), nova compilação das catequeses antigas de Israel, datada do século VI a.C. Ao fim, estas quatro tradições foram combinadas entre si e compiladas em 5 volumes, dando origem ao Pentateuco da Bíblia atual. Na tradição Javista, Deus é antropomórfico. Na Sacerdotal, Deus é poderoso, está acima do tempo, o que significa um progresso no conceito de Deus que o povo tinha. A redação do Pentateuco se deu pelo ano 398 a.C. e compreendia a primeira parte da Bíblia judaica.

A partir de Josué, a tradição continuou oral, para ser escrita somente por volta de 550 a.C. E foram escritas do modo como o povo contava. Por isso não se pode dar a mesma importância histórica aos fatos descritos nestes livros em relação a outros posteriores, pois alguns fatos narrados foram baseados na tradição popular, enquanto que outros foram baseados em documentos de arquivos (anais do Reino). Este é um grande desafio para os estudiosos e também uma fonte de divergências.

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3. Os Intérpretes - Profetas e Sábios

Durante muito tempo, os profetas foram os orientadores do povo de Deus. Os livros proféticos resumem os seus ensinamentos, e na sua maioria foram escritos só mais tarde, por seus seguidores. Somente por volta do ano 200 a.C. é que foram redigidos os livros proféticos. Os livros Sapienciais foram o resultado de um estilo literário que esteve em moda durante muito tempo, na época posterior ao exílio. São umas reflexões humanistico-religiosas. Passados os profetas, surgiram os sábios que raciocinavam sobre as coisas da natureza, tirando delas ensinamentos para a vida. Foram acrescentados aos livros sagrados nos últimos séculos a.C., sendo os mais recentes livros do AT.

4. A nova tradição da era cristã

O NT não foi escrito com a finalidade de ser acrescentado à Bíblia. No tempo de Cristo e dos Apóstolos, o livro sagrado era apenas o AT. O próprio Jesus Cristo se baseava nele em suas pregações. E Ele mandou apenas pregar, e não escrever. Foi quando uma nova tradição oral foi se formando. E após a morte de Cristo, os apóstolos saíram pregando.

Mas veio a necessidade de congregar outras pessoas para o anúncio, em vista do grande número de comunidades existentes. Então, começaram a escrever. Mais tarde, com a aceitação também de cidadãos estrangeiros nas comunidades, a mensagem precisou ser traduzida e adaptada. Além disso, o próprio povo necessitava de uma escrita (doutrina escrita) para se conservar una, após a morte dos Apóstolos. Esta redação, no início, era apenas de alguns escritos esparsos, que só depois de algum tempo foram juntos em livros. Exemplo disso está em Mc 2, uma série de disputas de JC com os Judeus, onde se vê claramente que foi recolhida de escritos separados. Também em João se lê: "Muitas outras coisas Jesus fez que não foram escritas..." (Jo 21,24) Isto significa que só foram escritas aquelas mensagens que teriam utilidade, conforme as necessidades momentâneas.

O evangelho de Marcos, o primeiro a ser escrito, data dos anos 60 ou 70 d.C.; os de Lucas e Mateus, são de 70 ou 80, o que significa que somente após uns 40 anos da morte de JC sua palavra começou a ser escrita. 0 Evangelho de João só foi escrito em torno do ano 100 d.C. Antigamente, se acreditava ser Mateus o autor do primeiro Evangelho. Mas a critica histórica mostra que o de Marcos foi anterior. Aliás, a respeito deste evangelho de Mateus, não se sabe ao certo quem é o seu autor. Foi atribuído a Mateus, apenas por uma tradição e também por uma praxe da época de se atribuir um escrito a alguém mais conhecido e famoso, para que a obra tivesse mais autoridade.

5. Entendendo algumas dificuldades concretas

Durante o tempo anterior á escrita dos Evangelhos, havia apenas a pregação dos Apóstolos, recordando os fatos da vida de Cristo, todavia eram fatos esparsos, sem nenhuma preocupação com seqüência ou unidade. Por isso os Evangelhos, que foram esta pregação escrita, se contradizem em algumas datas, o que mostra a pouca importância dada à cronologia. Os fatos eram recordados e aplicados, conforme as necessidades. Assim, até entre os Evangelhos sinóticos, que seguiram a mesma fonte, há diversificações. Por exemplo, no Sermão da Montanha, em Lucas fala "bem aventurados os pobres"; e em Mateus, "bem aventurados os pobres de espírito". A diferença consiste no seguinte: Lucas deu um sentido social, mais importante para as comunidades gregas, para as quais escrevia. Mas o de

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Mateus destinava-se às comunidades judias e queria combater uma doutrina dos judeus que tinham uma idéia falsa de pobreza. Para eles, o próprio fato de a pessoa ser pobre, já lhe garantia a salvação, enquanto outra pessoa, pelo simples fato de ser rica, já estava condenada. Por causa disso ele escreveu "pobres de espírito".

Outro ponto de discordância é o caso da cura de um cego. Mateus diz "um cego, na saída de Jericó"; e Lucas "dois cegos, na entrada de Jericó". 0 fato da 'entrada' e 'saída' pode ser explicado pela existência de duas cidades chamadas Jericó. 0 fato de serem um ou mais cegos explica-se pelo seguinte: era comum naquele tempo os cegos formarem grupos em torno de um cego-lider; e o nome deste geralmente era o do grupo. No entanto, estes detalhes pouco importam ao evangelho. 0 seu interesse é a apresentação da mensagem (evangélion = boa nova).

6. A fonte comum

Os Evangelistas sinóticos se basearam no Evangelho de Marcos e noutra fonte, convencionada por fonte "Q", simbolizando os inúmeros escritos esparsos de que já tratamos. Espalharam cópias destes por outras partes do mundo. Lucas, Mateus, cada um em lugares diferentes, se inspiraram nos escritos disponíveis e inclusive no evangelho de Marcos, que na época já havia sido escrito. O fato do primeiro Evangelho ser atribuído anteriormente a Mateus se deve a uma afirmação de Eusébio de que Mateus escrevera a "logia" do Senhor em aramaico. Mas a crítica histórica provou que o Evangelho que conhecemos não traz apenas a "logia" do Senhor e não foi escrito em aramaico, e sim em grego. Portanto a noticia de Eusébio se refere a outro escrito, e não a este evangelho. Nada impede, porém, que tenha sido escrito por discípulos de Mateus e atribuído ao Mestre. Aliás, a respeito de "Evangelho", o primeiro a usar esta palavra para indicar as memórias dos Apóstolos foi S. Justino, em 130 d.C.

7. As Cartas

As cartas de Paulo foram enviadas para serem lidas em público. Em I Tes 5, 27 há uma alusão a isto. Havia também o intercâmbio das cartas, como se lê em Col 4,16: "mostrem esta carta para Laodicéia e tragam a de lá para vocês". Aos poucos as cartas foram colecionadas, e no fim do I século já se tem notícia delas, quando em II Ped 3,15 se lê: "...nosso irmão Paulo vos escreveu conforme o dom que lhe foi dado... " As cartas de Paulo foram os primeiros escritos do NT. Não se sabe quando os Evangelhos e elas foram acoplados, mas já no fim do I século estavam reunidos num só livro.

As Epistolas Católicas (universais) são chamadas assim por se destinarem à Igreja em geral, e não a tal ou qual comunidade, como fizera Paulo. Elas também se originaram da necessidade pastoral, e já no começo do II século estavam incorporadas aos outros escritos do NT. Os Atos dos Apóstolos podem ser considerados a continuação do terceiro Evangelho, pois também foi escrito por Lucas. E o Apocalipse de S.João, livro profético, foi acrescentado por último.

Nos escritos do NT, freqüentemente se encontram citações do AT. É que muitas vezes os Apóstolos queriam tirar dúvidas sobre certas passagens, que tinham falsa interpretação. Nas assembléias, eram lidos escritos do AT e do NT, para explicá-los. Exemplo disto temos em I Tes 4,15; I Cor 7,10.25.40; At 15, 28; I Tim 5,18; Lc 10,7.

8. O Cânon Sagrado

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No século IV, a Igreja se reuniu em Concilio em Nicéia, e uma das tarefas era organizar o "cânon", ou a lista de livros sagrados considerados autênticos. Neste Concilio, os livros foram estudados e se investigou quais os que sempre foram lidos nos cultos e sempre foram considerados legítimos. E se estabeleceu a ordem ainda hoje conservada. O motivo pelo qual alguns livros foram postos em dúvida era a grande quantidade de livros apócrifos, que fazia com que se duvidasse dos verdadeiros. Havia muitos livros que os judeus não aceitavam. Então os Ss. Padres ponderaram os prós e contras e definiram a lista que foi aprovada.

Hermenêutica

1. Conceito

A palavra 'hermenêutica' vem do verbo 'hermenêuein' (interpretar). E esta interpretação foi entendida diversamente através dos tempos. Por isso, temos três tipos de exegese: l. rabínica; 2. protestante; 3. católica.

2. Exegese Rabínica

Os judeus interpretavam a escritura ao pé da letra, por causa da noção de inspiração que tinham. Se uma palavra não tinha sentido perceptível imediatamente, eles usavam artifícios intelectuais, para lhes dar um sentido, porque todas as palavras da Bíblia tinham que ter uma explicação. O exemplo do paralítico é antológico: ele passara 38 anos doente. Por que 38? Ora, 40 é um número perfeito, usado várias vezes na vida de Cristo (antes da ressurreição, no jejum) ou também no AT (deserto, Sinai). Dois é outro número perfeito, porque os mandamentos (vontade) de Deus se resumem em "2": amar Deus e ao próximo. Portanto, tirando um número perfeito de outro, isto é, tirando 2 de 40 deve dar um número imperfeito (38) que é número de doença...

Alegoria pura: neste sentido se entende a condenação de certas teorias que apareceram e eram contrárias à Bíblia (caso de Galileu). Assim era a exegese antiga. No século XVIII, o racionalismo fez o extremo oposto desta doutrina: negaram tudo que tinha alguma aspecto de sobrenatural e mistério, e procuravam explicações naturais para os fatos incompreensíveis, assim por exemplo, dizendo que Cristo hipnotizava os ouvintes e os iludia dizendo que era milagre. JC não ressuscitou, mas ele apenas havia desmaiado na cruz, e quando tornou a si saiu do sepulcro... Talvez não o fizessem por maldade. Era por principio filosófico.

A Igreja primitiva herdou muito do rabinismo, no início, mas depois se libertou. Começaram por ver na Bíblia vários sentidos: literal, pleno e acomodatício. Literal: sentido inerente ás palavras, expressão pura e simples da idéia do autor; Pleno: fundado no literal, mas que tem um aprofundamento talvez nem previsto pelo autor. Deus pode ter colocado em certas palavras um significado mais profundo que o autor não percebeu, mas que depois se descobre. Deus, como autor, fez assim. A palavra do profeta se refere a uma situação histórica; a palavra de Deus se refere ao futuro. Acomodatício: é a acomodação a um sentido à parte que combina com as palavras. É a Bíblia aplicada à realidade apenas pela coincidência dos textos. Por exemplo, em Mt se lê "do Egito chamei meu filho"... para que se cumprisse a Escritura. Mas o sentido, ou seja, a aplicação original deste trecho não se referia à volta da Sagrada Família, mas sim à saída do Povo do Egito. Esta acomodação foi explorada demasiadamente pelos pregadores, que até abusaram disto. Outro exemplo de acomodação é a aplicação a Maria dos textos do livro da

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Sabedoria. Estes são mais literatura que Escritura. Todavia, crendo-se na inspiração, aceita-se que as palavras do autor podem ter uma significação mais profunda que a original.

3. Exegese Protestante

Surgiu do protesto de alguns cristãos contra a autoridade da Igreja como intérprete fiel da Bíblia. Lutero instituiu o princípio da "scritura sola" (traduzindo, a escritura sozinha), sem tradição, sem autoridade, sem outra prova que não a própria Bíblia. A partir daquele instante, os Protestantes se dedicaram a um estudo mais acentuado e profundo da Bíblia, antecipando-se mesmo aos católicos. Mas o princípio posto por Lutero contribuiu para um desastre hermenêutico, pois ele mesmo disse que cada um interpretasse a Bíblia como entendesse, isto é, como o Espirito Santo o iluminasse.

Isto fez surgir várias correntes de interpretação, que podem se resumir em duas: a conservadora e a racionalista. A conservadora parte daquele principio da inspiração = ditado, em que se consideram até os pontos massoréticos como inspirados. Não se deve aplicar qualquer método cientifico para entender o que está escrito. É só ler e, do modo que Deus quiser, se compreende. A racionalista foi influenciada pelo iluminismo e começou a negar os milagres. Daí passou à negação de certos fatos, como os referentes a Abraão. Afirmam que as narrações descritas, como provam o vocabulário, os costumes, são coisas de uma época posterior, atribuído àquela por ignorância. Esta, teoria teve muito sucesso e começaram a surgir várias 'vidas' de Jesus em que ele era apresentado como um pregador popular, frustrado, fracassado...

Outros ainda interpretavam o Cristianismo dentro da lógica hegeliana: São Paulo, entusiasmado, teria feito uma doutrina, que atribuiu a JC (tese); depois São João, com seu Evangelho constituiu a antítese; finalmente São Marcos fez a síntese. Hoje, porém, se sabe que Marcos é o mais antigo. Estes intérpretes se contradizem entre si, o que provocou uma certa desconfiança. Por fim, a própria arqueologia, em auxílio do Cristianismo, veio provar com a descoberta de vários documentos históricos que a Bíblia tinha razão: aqueles costumes, aquele vocabulário eram realmente daquela época, inclusive o uso dos nomes Abraão, Isaac também eram comuns no tempo. Isto e outras coisas serviram para desmentir tais idéias iluministas.

4. Exegese Católica

Inicialmente, apegou-se muito aos métodos tradicionais: usava mais a tradição e menos a Bíblia. Mesmo no século XIX, a tendência era ainda conservar a apologética, a defesa da fé. Foi o Padre Lagrange quem iniciou o movimento de restauração da exegese católica. Começou a comentar o AT com base na critica histórica. Mas foi alvo tantos protestos que não teve coragem de continuar. Em seguida, comentou o NT, e ainda hoje é autoridade no assunto. A Igreja Católica custou muito a perceber o seu atraso no estudo bíblico, e até bem pouco tempo ainda afirmava ser Moisés o autor do Pentateuco, quando os protestantes há mais de um século já descobriram que não.

O primeiro passo da nova exegese da Igreja Católica foi dado por Pio XII, em 1943, com a encíclica DIVINO AFFLANTE SPIRITU, na qual aprovou a teoria dos vários gêneros literários da Bíblia. Depois, em 1964, Paulo VI aprovou um estudo de uma comissão bíblica a respeito da história das formas (formgeschichte). E hoje em dia, tanto os exegetas católicos como os protestantes são a favor desta, e qualquer

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livro sério sobre o assunto traz este aspecto. Protestantes citam católicos e vice versa, sem nenhuma restrição.

História das Formas e Gêneros Literários

1. HISTÓRIA DAS FORMAS ("FORMGESCHICHTE")

É o padrão da exegese moderna. Em geral todo método exegético moderno aborda os seguintes tópicos:

a) critica textual - se os manuscritos originais desapareceram ou nunca foram encontrados, como se sabe se o texto atual corresponde ao original? Até que ponto é fiel? Em 1008, foi encontrado um manuscrito básico para a edição da melhor bíblia hebraica que se tem hoje. Está no museu de Leningrado. Mas, questiona-se: por quanto tempo o livro foi sendo recopiado, e foi adquirindo erros de escrita? Muitas vezes, vários manuscritos (cópias) de um mesmo livro trazem palavras diferentes. E por que tanta fé neste manuscrito?

O manuscrito mais antigo (até pouco tempo) do AT era composto de fragmentos de um papiro do I ou II século a.C. Os beduínos acharam às margens do Mar Morto vários manuscritos datando do II século a.C. e há alguns, como o livro de Isaías, cujo texto é quase completamente igual ao que temos. A Bíblia original (copiada) data do século II d.C. Os rabinos tinham muito cuidado em transmitir a doutrina, e procuravam unificar os textos. Os textos velhos eram colocados em lugares onde ninguém podia mais usá-los, chamados gezidas. Numa destas gezidas foi encontrado um documento do ano 800, aproximadamente, do qual aquele de 1008 é cópia. A diferença entre ambos é pouquíssima. Ora, se a nossa Bíblia é a tradução daquele manuscrito, considerado autentico, aquela Bíblia é a melhor.

b) 'sitz in leben'- Há livros que antes de serem escritos, foram passados oralmente por várias gerações. Cada manuscrito que serviu para a composição de um texto tem uma história diferente. Por isso eles dividem as perícopas e estudam as tradições e fontes delas. E como o manuscrito chegou a esta fonte? Deste estudo se deduz a 'sitz in leben' (situação na vida) deste manuscrito no gênero literário. A 'sitz in leben' que este gênero literário tem na comunidade; a 'sitz in leben' desta comunidade na história.

c) história da redação - Por que há certas palavras a mais ou a menos nos Evangelhos? Isto varia com a 'sitz in leben' do manuscrito. Quem determina isto é a critica literária. Tudo isto dentro do estudo da história das formas.

2. PRINCIPAIS GENEROS LITERÁRIOS DA BÍBLIA

Dividem-se assim os diversos gêneros literários encontrados na Bíblia:

a) Narrativo: histórico e didático

b) Legislativo

c) Sapiencial

d) Profético

e) Cânticos

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a) narrativo-didático: mito, saga, legenda, conto, fábula, alegoria, parábola

l. mito - conto que se passa com deuses, ou cujos personagens são os deuses. Têm tonalidade solene e são originários de círculos politeístas. A mitologia babilônica, por exemplo, muito influenciou no povo de Israel, que sempre foi monoteista. Isto se vê nos salmos 103, 6-9; 17, 8-16; 88, ll e nos proféticos: Job 26, l2. Nos livros históricos, a influência é mais velada. Mas a árvore da vida do Gênesis já existe num poema de Gilgames (de origem Babilônica): um herói perguntou a um seu antepassado que era deus, onde ficava a árvore da vida. Ele a encontrou no fundo do mar, e levou um ramo para plantar. Tendo sede, foi beber num poço e uma serpente levou o seu ramo. A história do dilúvio tem uma similar na cultura babilônica. É o caso de uma deusa que era amada ao mesmo tempo por um deus e por um homem. Então para matar o homem, o deus mandou o dilúvio.

O importante a se notar nisso tudo é que, ao ser transcrita para o livro sagrado, o autor purifica a lenda, tirando as características politeístas e servindo-se da cultura popular para levar uma mensagem. A árvore da vida, na bíblia, significa que o homem foi criado para não morrer. Na sabedoria babilônica, explicam que o mundo nasceu de uma briga dos deuses. O deus vencido foi partido ao meio. De uma metade fez o deus vencedor o céu; de outra fez a terra. Depois pediu a um deus artista que fizesse o homem com o sangue apodrecido do deus vencido. Por isso, o homem e o mundo são maus do principio. O autor sagrado aproveita-se destes elementos, mas purificando-os e adaptando-os. A tradicional briga dos anjos com Lucifer existe num mito fenício sob a forma de uma briga de deuses. A linguagem mítica da bíblia, o antropomorfismo de Deus... tudo isto tem origem desta inspiração na literatura exterior a Israel.

2. saga - contos que se ligam a lugares, pessoas, costumes, modos de vida dos quais se quer explicar a origem, o valor, o caráter sagrado de qualquer fenômeno que chama a atenção. A saga se chama etiológica quando procura a causa de um fenômeno. Por exemplo, para explicar a existencia de uma vegetação pobre e espinhosa na região sul ocidental do Mar Morto, surgiu a lenda de Sodoma e Gomorra, a chuva de enxofre... A origem de várias estátuas de pedra, formadas pela erosão é explicada pela história da mulher de Ló, que foi transformada em estátua. A narrativa de Caim e Abel é outra, para explicar a origem de uma tribo cujos integrantes tinham um sinal na testa. Explicavam que Deus colocara um sinal em Caim para que ninguém o matasse, e daí este sinal ficou para a descendência. O próprio nome de Caim é inventado, porque a tribo tinha o nome de cainitas e eles deduziram que seu fundador devia chamar-se Caim.

A saga se chama etimológica quando é para explicar um nome. Existe na Palestina uma Ramat Leqi (montanha da queixada). Para explicar a origem deste nome eles inventaram a estória de Sansão, um homem muito forte, que lutara contra muitos inimigos usando uma queixada, e os vencera. Depois ele jogou a queixada naquele monte, que ficou c conhecido como monte da queixada. 0 caso das filhas de Ló (Gen, 19) é uma história difamatória contra os amonitas e moabitas, tradicionais inimigos de Israel. (Amon e Moab significam 'do pai'). Outras sagas da Bíblia: a de Noé embriagado; a briga de Labão com Jacó (Gen 31). A saga se chama heróica quando tem por finalidade engrandecer a vida dos heróis do passado. O valor da saga está na riqueza popular (folclórica) que ela traz. Nem sempre há lição em cada uma. Mas a fartura de detalhes que ela traz mostra a mentalidade do povo. Seu valor é maior para a critica literária.

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3. legenda - distingue-se da saga porque se refere a pessoas ou objetos sagrados e querem demonstrar a santidade destes por meio de um fato maravilhoso. Legendas na Bíblia há em Num 16,1 - 17,15: histórias a respeito de Moisés; Dan l, 2, 3, 4: sonhos de Daniel; Os milagres de Elias contra os sacerdotes de Baal; Gen 28,10: Jacó sonha com os anjos (pedra de Betel). É comum nas legendas referir-se à lei ou objeto de culto. A imolação de Isaac, que não deu certo, é para reprimir um costume dos cananeus de imolar crianças, costume proibido pela lei de Moisés. A serpente de bronze (Num 21) se refere a uma serpente de bronze mandada fazer pelo rei Manassés, que foi destruída por Javé. A circuncisão (Gen 17) é explicada assim: Deus apareceu a Abraão para fazer aliança com ele e o pacto era a circuncisão de todos os meninos no oitavo dia. Jos 5, 9 e Ex 12 e 13 falam da origem da Páscoa.

4. parábolas, fábulas, alegorias - parábola é uma história comparativa, de sentido global (ex: II Sam 12, 1-4); fábula é a narrativa que faz os seres inanimados ou os animais falarem (ex: Juízes, 9,7); alegoria é uma história comparativa em que cada elemento tem um significado particular (ex: Is 5, 1-7). Há ainda o apólogo, quando se trata da animação de objetos.

b) narrativo-histórico

Difere do didático porque pretende contar um fato acontecido realmente. Há três tipos:

1. popular, onde ninguém sabe o fim da lenda e o começo da história. É uma história primitiva, baseada em histórias que corriam na boca do povo, um misto de elementos verídicos e legendários acrescentados. Os livros Josué e Juízes (550 a.C.) estão nesta categoria.

2. epopéia (nacional-religiosa) são histórias retiradas da catequese do povo. Se bem que tenham elementos acrescentados, todavia a mensagem pode ser considerada autêntica. O exemplo mais típico deste gênero é a narração epopéica da passagem do mar vermelho (Ex. 14 ). A fuga de Israel do Egito está ligada a um fato acontecido no tempo de Ramsés II. Ele foi um faraó que empreendeu grandes conquistas, principalmente à procura de escravos para trabalhar. Entre os povos submetidos havia um grupo de judeus. Mais tarde, fraquejou a vigilância, e muitos fugiram, inclusive muitos judeus. Então eles empreenderam a fuga pelo deserto e se aproveitaram de uma região onde havia um braço de mar que secava durante a maré baixa para sair do território egípcio.

Esta narrativa na Bíblia é contada com todos aqueles retoques conhecidos. Mas se analisarmos bem, veremos que na própria Bíblia, há duas citações do mesmo fato, e cada uma conta diferente. São as duas tradições: a javista, mais antiga e mais verdadeira, afirma que o vento soprou durante toda a noite e fez o mar recuar; a sacerdotal, mais recente, modificou a narração para a divisão das águas em duas muralhas por onde todos passaram em seco. Há uma certa contradição nestas duas. Mas o que se deve concluir daí é que os soldados os perseguiram na fuga e eles passaram na maré baixa. Quando os soldados chegaram, a maré já subira e não dava passagem. Enquanto isso, eles se adiantaram ainda mais. Ao transcrever isto na Bíblia, o autor sagrado quer mostrar o fato da presença de Deus em ajuda de seu povo, através dos elementos da natureza.

3. historiográfico - é o trabalho dos escribas encarregados de escrever as crônicas dos anais dos reis. A partir destas crônicas vários livros foram escritos. 0 I Reis, cap. 11, vers.41 cita os anais de Salomão; em 14, 19 afirma que o restante está

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nos livros das crônicas dos Reis de Israel. São documentos de maior credibilidade, porque são mais históricos. Somente a partir do livro dos Reis, é que são usados documentos escritos na época. Antes era apenas história popular.

c) Legislativo

É representado na Bíblia principalmente no Pentateuco. Tem muito em comum com os outros povos vizinhos e herdou muito deles. Há passagens na Bíblia que são repetições do código de Hamurábi. Os povos orientais são muito ricos neste tipo de literatura. Quanto aos tipos de leis, há três: 1. leis causídicas: pormenorizadas conforme as situações; 2. leis apodíticas: universais; 3. leis rituais.

d) Sapiencial

Originou-se também dos povos vizinhos, principalmente a partir do Exilio. São de origem profana e não religiosa, pois as suas fontes também não eram religiosas. 0 povo oriental é pensador por natureza e a sabedoria é uma virtude muito difundida e apreciada. A sabedoria bíblica não difere muito da sabedoria oriental em geral.

e) Profético

Também tem origem fora de Israel. Os povos da época tinham seus profetas. Eles moravam nos palácios dos reis e eram os que dialogavam com os deuses. É preciso notar que naquela época profeta não era sinônimo de adivinho, como às vezes se identifica. Eles·manifestavam ao povo a vontade de Deus com sermões, com sinais, exortações e oráculos.

f) Salmos

Também tem influência externa (fora de Israel). Não são todos de Davi. Apareceram conforme as necessidades. Foram compostos sem sequência ou cronologia. São cantos de louvor, de súplica.

PRINCIPAIS ETAPAS DA HISTÓRIA DE ISRAEL

O primeiro marco importante na história politica·de Israel foi o exílio. Sua finalidade politica era para evitar a rebelião. Em geral, quando era conquistado um povo muito numeroso, os conquistadores achavam perigoso deixá-los em suas terras de origem, porque isso lhes facilitava um trabalho oculto de rebelião para expulsar os invasores. Então, longe de suas terras e sem uma liderança, eles não podiam se movimentar. Os judeus foram assim exilados para a Babilônia. 0 exílio teve início no ano 587 e foi concluído com o edito de Ciro que, em 538 conquistou a Babilónia e libertou os judeus.

Dizem os historiadores que a rivalidade entre judeus e samaritanos começou na volta do exílio. O povo no exilio ficou muito tempo em contado com vários povos estrangeiros e adquiriu com isto um sincretismo religioso que levaram para a Pátria. Ao retornarem à patria, logo eles empreenderam a reconstrução de Jerusalém (casas, templo...), mas não se livraram completamente das influências politeístas, causando assim várias brigas internas.

O Sinédrio era a cúpula religiosa da nação, composta de 70 membros sob a presidencia do Sumo Sacerdote, que tinha autoridade suprema. Os fariseus e saduceus eram partidos politicos, mas com inspiração religiosa. Os primeiros eram

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da oposição e os outros, da situação. No ano 63 a.C, a Palestina foi conquistada pelos Romanos, iniciando outra era de dominação estrangeira, que perdurou até o tempo de Cristo.

CRONOLOGIA BÍBLICA

* séc.XIX (1850 a.C) - migração de Abraão.

* séc.XIII - libertação do Egito; êxodo (1225 a.C.); aliança no Sinai.

* séc X - (1013 a 973 a.C) - Tempo do Rei Davi. Foi escrita a tradição javista (sul); (970 a 930 a.C) - Tempo do Rei Salomão. Foi escrita a tradição eloista. (norte); (930 a.C) - divisão dos reinos.

* séc VIII (722 a.C) - queda de Samaria para o exército de Sargão II, Profetas escritores.

* séc VII (586 a.C) - queda de Jerusalem para Nabucodonosor, rei da Babilônia; (538 a.C) - edito de Ciro, volta do exílio.

* séc III (300) - tradução dos 70.

As Origens

1. DEUS CRIA O MUNDO A PARTIR DO NADANo princípio, Deus criou o céu e a terra. A terra era ainda informe e vazia; estava coberta de águas e havia trevas por toda a parte.Deus disse então: "Exista a luz" e a luz apareceu. Separou a luz das trevas e chamou à luz de "dia" e às trevas de "noite". Este foi o primeiro dia.E Deus disse: "Faça-se um firmamento que separe as águas umas das outras" e assim se fez. Deus chamou ao firmamento de "céu". Foi o segundo dia.E Deus disse: "Ajuntem-se as águas que estão debaixo do céu num só lugar e apareça o solo firme" e assim se fez. Deus chamou ao solo firme de "terra" e ao conjunto das águas de "mar". E Deus disse: "Que a terra produza ervas, plantas e árvores que dêem frutos, cada qual segundo sua espécie" e assim se fez. Foi o terceiro dia.E Deus disse: "Haja corpos luminosos no firmamento" e assim se fez. Deus criou então dois grandes astros: o maior para presidir ao dia e o menor para presidir a noite. Criou também as estrelas. Foi o quarto dia.E Deus disse: "Povoem-se as águas de seres vivos e voem aves sobre a terra, debaixo do firmamento do céu". Deus criou então os peixes nas águas e as aves nos ares. Abençoou-os e disse-lhes: "Crescei e multiplicai-vos". Foi o quinto dia.E Deus disse: "Produza a terra seres vivos de toda a espécie: animais domésticos, répteis e feras" e assim se fez.

2. DEUS CRIA O HOMEMEm seguida, Deus disse: "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança; que ele domine os peixes do mar, as aves do céu, os animais e toda a terra. Deus formou então o corpo do homem com o barro da terra e comunicou-lhe um sopro de vida. Ao primeiro homem deu o nome de "Adão". Foi o sexto dia.

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3. DEUS INSTITUI O SÁBADONo sétimo dia Deus descansou. Abençoou este dia e o santificou.[Deus também criou um mundo invisível, o dos espíritos inumeráveis chamados anjos. Eram bons e felizes, mas muitos deles pecaram por orgulho e foram precipitados no Inferno; são os espíritos maus ou demônios].

4. O HOMEM NO PARAÍSODeus plantara para o homem um jardim de delícias ou Paraíso, onde fez crescer árvores de todas as espécies, formosas à vista e carregadas de frutos deliciosos.No meio, erguia-se a árvore da ciência do bem e do mal.Deus colocou o homem neste jardim para o cultivar e guardar. E disse: "Podes comer dos frutos de todas as árvores do jardim, exceto da árvore da ciência do bem e do mal. Se comeres do fruto dessa árvore, morrerás".

5. DEUS CRIA EVAEm seguida Deus disse: "Não é bom que o homem esteja só. Façamos-lhe uma auxiliar semelhante a ele". Mandou então um sono profundo a Adão e, tirando uma das suas costelas, formou com ela uma mulher. Quando Adão acordou, Deus a apresentou. Assim que a viu, Adão exclamou: "Eis o osso dos meus ossos e a carne da minha carne". Adão chamou à mulher de "Eva", que significa mãe de todos os viventes.

6. EVA E ADÃO COMETEM O PECADOO demônio invejava a felicidade dos homens. Para os enganar, disfarçou-se em forma de serpente e disse à mulher: "Por que Deus vos mandou que não comesseis dos frutos destas árvores?". A mulher respondeu: "Nós podemos comer do fruto de todas as árvores. Só nos é proibido o fruto da árvore que está no meio [do jardim]. O Senhor mandou que nem a tocássemos, senão poderíamos morrer". A serpente replicou: "Nada disso, vós não morrereis. Assim que comerdes deste fruto, ficareis com os olhos abertos e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal".Então a mulher pensou que seria bom comer desse fruto, que tão formoso lhe parecia. Apanhou um e comeu e depois o deu a seu marido, que comeu também. Imediatamente se abriram os olhos de ambos e perceberam que estavam nús. Costuraram folhas de figueira e fizeram cintos para se cobrir. Mas sentindo que Deus se aproximava, esconderam-se debaixo das árvores do jardim.

7. ADÃO E EVA CONFESSAM A SUA FALTADeus chamou por Adão, dizendo: "Onde estás?". Adão respondeu: "Sentindo que vos aproximavas, tive medo porque estava nú e escondi-me".Disse-lhe Deus: "Como soubeste que estavas nú? Acaso comeste do fruto da árvore proibida?". Adão respondeu: "A mulher que me deste por companheira deu-me do fruto desta árvore e eu comi".Então o Senhor disse à mulher: "Por que fizeste isso?". Ela respondeu: "Foi a serpente que me enganou".

8. DEUS PROMETE O REDENTORDeus disse à serpente: "Já que fizeste isso, serás maldita entre todos os animais. Andarás rastejando sobre o teu peito e comerás terra todos os dias da tua vida. Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a sua raça e a tua; ela te pisará a cabeça e tu procurarás atingí-la no calcanhar".

9. DEUS CASTIGA O HOMEM PECADORÀ mulher [Deus] disse: "Terás grandes sofrimentos e muitos desgostos com teus filhos. Estarás sob o poder do marido e ele será o teu senhor".A Adão disse: "A terra será maldita por tua causa. Por si só não produzirá além de espinhos e cardos. Comerás o pão com o suor do teu rosto até que

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voltes à terra de que foste tirado, porque tu és pó e ao pó irás retornar".Depois Deus vestiu Adão e Eva com umas túnicas de peles e os expulsou do Paraíso. Pôs à entrada do Paraíso querubins armados com espada de fogo para guardar o caminho da árvore da vida.

Os Filhos dos Primeiros Homens

10. CAIM MATA SEU IRMÃO ABELAdão e Eva tiveram dois filhos: Caim e Abel. Abel era pastor de ovelhas e Caim lavrador. Aconteceu que ambos ofereceram sacrifícios ao Senhor. Caiu deu frutos das suas terras e Abel os melhores cordeiros do seu rebanho. O Senhor viu com prazer o sacrifício de Abel, mas não olhou para a oferenda de Caim. Este ficou muito irritado. O Senhor disse-lhe: "Por que estás irritado? Se praticares o bem serás recompensado, mas se fizeres o mal serás castigado. Domina as tuas paixões". Depois disto, Caim disse a seu irmão: "Saiamos". E, logo que estavam no campo, Caim lançou-se contra seu irmão Abel e o matou.

11. DEUS CASTIGA CAIMImediatamente o Senhor disse a Caim: "Onde está o teu irmão Abel?". Caim respondeu: "Não sei. Acaso sou o guarda de meu irmão?. Disse-lhe Deus: "O que fizeste? O sangue de teu irmão grita da terra por mim. Por isso serás maldito sobre a terra que bebeu o sangue de teu irmão".Então Caim disse ao Senhor: "O meu pecado é tamanho que não mereço perdão. Esconder-me-ei do vosso olhar e quem me encontrar me matará". Disse-lhe o Senhor: "Não será assim". E marcou-o com um sinal para que ninguém ousasse matá-lo. Caim afastou-se e andou errante pelo oriente do Éden. Os seus descendentes foram os maus filhos dos homens.

12. SET SUBSTITUI ABELAdão e Eva tiveram outro filho, ao qual chamaram Set. Os descendentes de Set foram os piedosos filhos de Deus. Mas, pouco a pouco, aliaram-se com os maus filhos dos homens e adotaram os seus perversos costumes.[Deus concedeu larga vida aos patriarcas: Adão viveu 930 anos; Set, 912; Matusalém, avô de Noé, 969; Henoc, pai de Matusalém, viveu com tanta piedade que o Senhor o levou deste mundo e ele não morreu].

A História de Noé e seus Filhos

13. DEUS ANUNCIA O DILÚVIODeus viu que os homens se pervertiam cada vez mais. Arrependeu-se de os ter criado e disse: "Exterminarei os homens da face da terra". Só um homem, chamado Noé, achou graça diante do Senhor porque era justo. Deus disse a Noé: Faze uma arca de madeira com 300 côvados de comprimento, 50 de largura e 30 de altura; reveste-a de betume por dentro e por fora. Mandarei o dilúvio sobre a terra; tudo o que nela vive perecerá. Mas farei uma aliança contigo. Entrarás na arca com teus filhos, tua mulher e as mulheres de teus filhos. Tomarás também animais de cada uma das espécies para que sobrevivam contigo e alimentos para o vosso sustento". E Noé fez tudo o que Deus lhe havia ordenado.

14. O DILÚVIO INUNDA A TERRAEntão Deus abriu todas as fontes do grande abismo e uma chuva torrencial caiu durante 40 dias e 40 noites. As águas aumentaram e passaram 15 côvados acima dos montes mais altos. A arca flutuava sobre as águas. Todos os homens e todos os animais morreram. Só sobreviveu Noé e os que

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estavam com ele na arca. As águas cobriram a terra durante 150 dias. Então Deus mandou um vento quente e as águas começaram a baixar. Por fim, a arca deteve-se sobre uma montanha da Armênia.

15. DEUS ESTABELECE UMA ALIANÇA COM NOÉ.Noé saiu da arca com toda a sua família e os animais. Levantou um altar e ofereceu um sacrifício ao Senhor. O Senhor aceitou o seu sacrifício e disse: "Nunca mais um dilúvio devastará a terra". Em seguida, abençoou Noé e os seus filhos e disse-lhes: "Eis que vou fazer a minha aliança convosco e com a vossa posterioridade. O meu arco nas nuvens é o sinal da minha aliança convosco".

Os Descendentes de Noé

16. CAM PECA CONTRA SEU PAIOs filhos de Noé que saíram com ele da arca chamavam-se: Sem, Cam e Jafet. Cam era pai de Canaan. Deles descenderam todos os homens que depois povoaram a terra.Noé, que era agricultor, começou a cultivar a vinha e fez vinho. Mas, como ainda não conhecia a sua força, foi surpreendido pela embriaguez e adormeceu nú na sua tenda. Cam, vendo o pai naquele estado, pôs-se a rir dele. Pelo contrário, Sem e Jafet entraram recuando na tenda para não verem o pai e o cobriram com o seu manto.

17. NOÉ JULGA OS FILHOSLogo que Noé soube o que tinham feito seus filhos, disse: "Maldito seja Canaan! Ele será escravo dos escravos de seus irmãos!". Em seguida, abençoou Sem e Jafet, dizendo-lhes: "Bendito seja o Senhor, Deus de Sem, e Canaan seja seu escravo! Alargue-se Jafet e habite nas tendas de Sem e Canaan seja seu escravo!".

18. DEUS DISPERSA OS DESCENDENTES DE NOÉOs descendentes de Noé foram muito numerosos. Partindo do Oriente, estabeleceram-se na planície de Senaar. Ali, disseram uns para os outros: "Construamos uma cidade e ergamos uma torre que chegue até o céu". Até então, todos os homens falavam a mesma língua. Deus disse: "Vou confundir-lhes a linguagem, de forma que não se entendam uns com os outros".Tiveram então de parar com os seus trabalhos. À cidade, chamou-se Babel, que quer dizer confusão, por lá ter sido confundida a linguagem dos homens.Noé morreu com 950 anos de idade, 350 após o dilúvio.[Pouco a pouco os homens esqueceram o Senhor e caíram na idolatria. Então Deus escolheu Abraão e a sua descendência, o povo de Israel, para guardar a verdadeira fé e a esperança na vinda do Redentor].

A História de Abraão

19. DEUS CHAMA ABRÃOTaré, descendente de Sem, teve três filhos: Abrão, Nacor e Aran. Tendo partido de Ur, na Caldéia, com seu filho Abrão, seu neto Lot e Sarai, esposa de Abrão, foi viver em Haran, na Mesopotâmia.Um dia, Deus disse a Abrão: "Sai da tua terra e da casa de teu pai e vai para a terra que eu te mostrar. Em ti serão benditas todas as nações da terra".Abrão obedeceu. Foi com Sarai, sua mulher, e seu sobrinho Lot para a terra de Canaan. Aí lhe apareceu o Senhor e lhe disse: "Darei esta terra aos teus descendentes".

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20. MELQUISEDEC ABENÇOA ABRÃOAconteceu que uns reis estrangeiros invadiram aquela terra, saquearam as cidades e levaram muitos cativos. Abrão reuniu 318 servos e, à frente deles, perseguiu os inimigos, venceu-os e retomou todo o saque. No regresso, passou pela cidade de Salém. Então Melquisedec, rei de Salém, trouxe pão e vinho para o sacrifício porque era sacerdote do Altíssimo. E abençoou Abrão, dizendo: "Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, Criador do céu e da terra!". Depois disto, Abrão deu-lhe o dízimo de todos os seus bens.

21. DEUS PROMETE DESCENDÊNCIA A ABRAÃOAbrão não tinha filhos. Uma noite, Deus disse-lhe: "Levanta os olhos e conta, se podes, as estrelas do céu! A tua descendência será tão numerosa como elas". Abrão acreditou em Deus e Deus imputou à justiça a sua fé.Aos 99 anos de idade, Abrão teve outra aparição em que o Senhor lhe disse: "Daqui em diante não te chamarás Abrão mas sim Abraão, porque te destinei oara pai de muitas gentes. Para o futuro, não chamarás a tua mulher de Sarai mas de Sara. Eu a abençoarei e ela terá um filho ao qual chamarás Isaac. Concluirei com ele uma aliança perpétua em favor da sua posterioridade".

22. DEUS EXPERIMENTA ABRAÃODeus cumpriu a sua promessa. Sara teve um filho na sua velhice e Abraão deu-lhe o nome de Isaac.Sendo este já crescido, Deus experimentou Abraão e disse-lhe: "Toma Isaac, teu filho único a quem amas, para me ofereceres em sacrifício na montanha que eu te desginar".Abraão levantou-se antes de amanhecer, preparou o jumentinho, cortou a lenha necessária para o sacrifício e pôs-se a caminho com Isaac e dois servos. Ao terceiro dia, avistou de longe a montanha do sacrifício. Disse então aos servos: "Esperai aqui com o jumento enquanto eu e meu filho vamos lá em cima adorar o Senhor". Pôs a lenha sobre os ombros de Isaac e ele mesmo levou o fogo e o cutelo.Enquanto subiam, Isaac disse: "Meu pai!". Abraão perguntou: "O que queres, meu filho?". Isaac respondeu: "Levamos o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o sacrifício?". Abraão disse: "Deus tratará disso, meu filho".Quando chegaram, Abraão levantou o altar, dispôs nele a lenha, amarrou o filho e o colocou em cima.Em seguida, agarrou no cutelo para imolar a criança.

23. DEUS POUPA ISAACEntão, do alto do céu, gritou o anjo do Senhor: "Abraão! Abraão! Não faças mal ao menino. Agora sei que temes a Deus pois não poupaste teu filho único para me obedeceres". Abraão levantou os olhos e viu um cordeiro preso num espinheiro. Foi buscá-lo e ofereceu-o em holocausto em lugar do filho. Então o anjo do Senhor disse pela segunda vez: "Já que para me obedeceres não poupaste o teu filho único, eu te abençoo. Dar-te-ei uma posterioridade tão numerosa como as estrelas do céu e a areia na praia marítima. Em um dos teus descendentes serão benditas todas as nações da terra".[Abraão viveu até a idade de 175 anos. Seu filho sepultou-o em Mambré, junto de Sara, sua esposa].

A História de Isaac e Jacó

24. ESAÚ VENDE O DIREITO DE PRIMOGENITURAIsaac casou com Rebeca, neta de Nacor, irmão de Abraão. Deus deu-lhe dois

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filhos gêmeos. O primeiro era muito peludo, chamou-se Esaú; o segundo recebeu o nome de Jacó. Esaú tornou-se hábil caçador; Jacó gostava de viver na sua tenda.Um dia, Jacó havia preparado um prato de lentilhas. Esaú chegou da caça, exausto de fadiga, e disse-lhe: "Dá-me desse legume vermelho porque estou muito cansado!". Jacó respondeu: "Primeiro dá-me o direito de primogenitura". Esaú disse: "Estou morrendo de fome. De que me serve o direito de primogênito?". Jacó continuou: "Jura que me cedes". Esaú fez o juramento e depois de ter comido e bebido, saiu.

25. JACÓ É ABENÇOADO EM VEZ DE ESAÚEstando velho e quase cego, Isaac disse a Esaú: "Toma o teu arco, vai à caça e traz-me o guizado de que eu gosto, para eu te abençoar antes de morrer". Logo que Esaú saiu, Rebeca disse a Jacó: "Meu filho, vai escolher no rebanho dois dos melhores cabritos; com eles farei para teu pai um prato como ele gosta e tu irás levá-lo para ele te abençoar antes de morrer".Depois de ter preparado o prato, Rebeca vestiu a Jacó com as roupas de seu irmão Esaú; cobriu-lhe o pescoço e as mãos com a pele dos cabritos e mandou-o a Isaac, seu pai. O velho mandou Jacó se aproximar, apalpou-lhe as mãos e o pescoço, mas não o reconheceu. Depois de ter comido, Isaac abençoou Jacó e disse: "Deus te dê do orvalho do céu e da ferilidade da terra. As nações hão de inclinar-se diante de ti e tu serás o senhor de teus irmãos. Maldito seja quem te amaldiçoar e bendito quem te abençoar!".Foi assim que Jacó se tornou herdeiro das promessas.

26. DEUS ABENÇOA JACÓEsaú ficou muito zangado com seu irmão Jacó e queria matá-lo. Jacó soube disso e fugiu para a Mesopotâmia.Durante a viagem, viu em sonhos uma escada que ligava a terra ao céu e os anjos de Deus subiam e desciam por ela. No alto estava o Senhor que lhe disse: "Eu sou o Senhor, o Deus de Abraão e Isaac. Dar-te-ei a ti e à tua descendência a terra em que repousas. A tua posterioridade será numerosa como os grãos de areia da praia e num dos teus descendentes serão abençoadas todas as nações".

27. JACÓ RECEBE O NOME GLORIOSO DE ISRAELJacó ficou 20 anos na Mesopotâmia, em casa de seu tio Labão. Por fim, Deus disse-lhe: "Volta para a terra de teus pais e eu estarei contigo".Jacó obedeceu.No caminho, um homem misterioso lutou com ele até pela manhã. E disse-lhe então:"Deixa-me porque já vem vindo a aurora". Jacó respondeu: "Não te deixarei partir enquanto não me abençoares". O homem misterioso disse-lhe "Daqui em diante não te chamarás Jacó, mas Israel - que quer dizer guerreiro de Deus - porque se lutaste com tanta valentia com Deus, muito mais forte serás contra os homens". E o abençoou.[Mais tarde, Esaú reconciliou-se com Jacó. Este teve doze filhos: Rúben, Simeão, Levi, Judá, Dan, Neftali, Gad, Aser, Issacar, Zabulon, José e Benjamim. Isaac morreu em Hebron, com 180 anos de idade].

A História de José

28. OS IRMÃOS TÊM INVEJA DE JOSÉJacó amava e preferia José do que os outros filhos e mandou-lhe fazer uma túnica de várias cores. Por isso, os mais velhos começaram a invejá-lo.Um dia praticaram uma ação muito má e José os acusou ao pai. Desde então seus irmãos tomaram-lhe ódio e começaram a falar-lhe com maus modos.

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Uma vez, José disse-lhes: "Ouçam um sonho que tive: estávamos no campo a atar feixes. O meu feixe ergueu-se de pé e os vossos puseram-se em volta e prostraram-se diante dele". Os irmãos replicaram-lhe: "Porventura serás nosso rei?". E o odiavam cada vem mais.José contou-lhes ainda outro sonho dizendo: "Vi em sonhos o sol, a lua e onze estrelas inclinarem-se diante de mim". O pai repreendeu-o: "O que significa esse sonho que tiveste? Acaso eu, tua mãe e teus irmãos haveremos de nos prostar diante de ti?". E a inveja e o ódio dos irmãos aumentava cada vez mais.

29. JOSÉ VENDIDO POR SEUS IRMÃOSUm dia, os irmãos de José tinham ido para muito longe com os rebanhos. E o pai disse a José: "Vai ver se os teus irmãos estão bem". Assim que eles o avistaram, disseram: "Lá vem o sonhador. Matemo-lo e depois diremos que uma fera o devorou".Logo que José chegou até eles, seus irmãos o despiram da túnica de várias cores e o lançaram numa cisterna velha. Por acaso passava por ali uma caravana de mercadores estrangeiros que seguia para o Egito. E eles, então, tiraram José da cisterna e o venderam por vinte moedas de prata. Em seguida, tingiram a túnica com o sangue de um cabrito e mandaram-na ao pai com este recado: "Encontramos esta túnica. Não será a de vosso filho?". O pai a reconheceu e disse: "A túnica é do meu filho! Uma fera devorou José". E nunca mais deixou de chorar pelo filho.

30. JOSÉ NA PRISÃOOs mercadores levaram José para o Egito e lá o venderam a um dos dignatários do faraó, chamado Putifar, que o fez administrador de seus bens. Um dia, a mulher de Putifar tentou arrastá-lo para o pecado, mas José disse-lhe: "Como eu poderia cometer tamanha injustiça e pecar contra o meu Deus?". Ela ficou muito irritada e disse ao marido: "José quis que eu cometesse o pecado". O egípcio acreditou na mulher e mandou prender José.

31. JOSÉ EXPLICA OS SONHOSDeus estava com José. O chefe da prisão gostava dele e confiou-lhe a vigilância dos outros presos.Aconteceu que o rei do Egito mandou prender o copeiro e o chefe dos padeiros como culpados de um crime contra sua pessoa. Uma manhã José, vendo-os muito tristes, perguntou-lhes: "Por que estais tão preocupados?". Eles responderam: "Tivemos um sonho e ninguém sabe interpretá-lo". José disse-lhes: "Só Deus dá a inteligência dos sonhos. Contai-me o sonho".O copeiro-mor disse: "Vi em sonho uma cêpa de videira que tinha três varas. Peguei em dois cachos, espremi-os numa taça e apresentei-a ao faraó". José disse-lhe: "As três varas significam três dias. Dentro de três dias o faraó te restituirá ao cargo. Lembra-te de mim quando fores feliz. Pede ao faraó que me tire deste cárcere porque eu não fiz mal algum".O padeiro disse por sua vez: "No meu sonho, parecia-me levar à cabeça três cestos de pão branco. No cesto que ia por cima havia muitas iguarias para o faraó, mas as aves vinham comê-las". José disse: "Os três cestos significam três dias, depois dos quais o faraó te mandará cortar a cabeça e as aves devorarão tua carne".Três dias depois, o faraó festejava o aniversário do seu nascimento. Durante o banquete, lembrou-se do copeiro-mor e restituiu-o ao seu cargo; ao padeiro, mandou enforcar, tudo como José lhes tinha predito. Mas o copeiro, retornando ao seu lugar, não se lembrou mais de José.

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32. ELEVAÇÃO DE JOSÉDois anos depois, o faraó teve também um sonho: viu sair do Nilo sete vacas, lindas e gordas, e depois outras sete, feias e magras, que devoravam as primeiras. Em seguida, viu sair do mesmo caule sete espigas cheias de grãos e formosas, e outras sete, delgadas e vazias, que engoliram as primeiras. Ninguém soube interpretar o sonho do faraó. Então ele mandou chamar José, que lhe disse: "As sete vacas formosas e as sete espigas cheias significam sete anos de abundância. As sete vacas magras e as sete espigas vazias significam sete anos de fome. Virão agora sete anos de grande fertilidade para todo o Egito, mas depois seguir-se-ão sete anos de penúria. Escolha, pois, o faraó um homem sábio e prudente para recolher o sobejo das colheitas e reservar provisões para os sete anos de miséria".O faraó aceitou este conselho e disse a José: "Quem haverá mais sábio e prudente do que tu? Faço-te senhor de todo o Egito". E, tirando o anel real, colocou-o no dedo de José. Vestiu-o ricamente, pôs-lhe no pescoço um colar de ouro e mandou-o passear em triunfo no seu côche real. Além disso, deu-lhe um nome egípcio que significa salvador do mundo. Todos deviam se prostrar diante de José.Chegaram os sete anos de fertilidade e José mandou recolher todo o excedente das colheitas. Seguiram-se os sete anos de miséria e o povo começou a pedir pão ao faraó. O faraó respondia: "Ide a José". Então José mandou abrir os celeiros. De toda a parte acorria gente ao Egito para comprar trigo.

33. JOSÉ TORNA A VER OS IRMÃOSJacó mandou também seus filhos ao Egito comprar trigo. Mas não deixou que Benjamim fosse, com receio de lhe acontecer algum mal.José reconheceu seus irmãos logo que os viu, mas eles não o reconheceram. Falou-lhes como a estrangeiros e disse-lhes: "Vós sois espiões!". Eles responderam: "Oh, não, senhor! Viemos de Canaan só para comprar trigo. Somos doze irmãos. O mais novo ficou em casa e o outro... desapareceu!". José fingiu não acreditar e mandou-os prender. Passados três dias, ordenou que viessem à sua presença e disse-lhes: "Se sois de paz, um de vós ficará como refém. Os outros podem voltar, mas devem trazer seu irmão mais novo. Dessa forma saberei que falais a verdade".Depois deu ordem para que lhes enchessem os sacos, mas teve o cuidado de mandar pôr em cada um o dinheiro da compra. Quando eles chegaram em casa e abriram os sacos, ficaram muito admirados por lá encontrarem o dinheiro.

34. JOSÉ DÁ-SE A CONHECERTendo acabado o trigo, Jacó disse a seus filhos: "Voltai ao Egito e comprai mantimentos para vivermos". Um dos irmãos respondeu: "Bem queremos ir, mas é preciso levar o nosso irmão mais novo!". Jacó respondeu: "Se assim é necessário, levai Benjamim convosco".Desceram eles ao Egito com Benjamim. Assim que chegaram à presença de José, ofereceram-lhe presentes e inclinaram-se diante dele até ao chão. Ele retribui-lhes a saudação e perguntou: "O vosso pai ainda é vivo?". Eles disseram: "O nosso pai, vosso servo, ainda é vivo e está com saúde". Então, vendo Benjamim, perguntou: "Este é o vosso irmão mais novo? Deus te abençoe, meu filho". E retirou-se apressadamente para ocultar as lágrimas.No dia seguinte, não podendo dominar por mais tempo a sua comoção, exclamou a soluçar: "Eu sou José, vosso irmão, a quem vendeste. Ide depressa ter com meu pai e o trazei-me. Eu tratarei de vós". Lançou-se então ao pescoço de Benjamim e , chorando, abraçou-o; abraçou também todos os irmãos. Estes saíram e puseram-se a caminho.

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35. JACÓ VAI PARA O EGITO (aprox. 1920 a.C.)Quando chegaram, os irmãos de José disseram a seu pai: "José, vosso filho, ainda vive e é ele quem governa todo o Egito". Jacó não queria acreditar, mas depois disse: "Vou ter com ele. Quero vê-lo antes de morrer". E pôs-se a caminho do Egito. José saiu ao encontro do pai. Chegando à sua presença, lançou-se ao seu pescoço e, chorando, abraçou-o.Em seguida, José apresentou seu pai e seus irmãos ao faraó. Este disse a José: "Dá-lhes a melhor parte da terra". José estabeleceu-os na região de Géssen.Jacó viveu ainda 17 anos no Egito. Antes de morrer, abençoou cada um de seus filhos. A Judá disse: "Judá, teus irmãos te louvarão e os filhos de teu pai prostrar-se-ão diante de ti. O cetro não se afastará de Judá até que venha aquele que deve ser enviado e que as nações esperam".[Depois da morte de seu pai, os irmãos de José recearam que ele quisesse se vingar e foram implorar o seu perdão. José disse-lhes, chorando:"Não temais. Eu cuidarei de vós e de vossos filhos". Prestes a morrer, disse ainda a seus irmãos: "Deus vos reconduzirá à terra que prometeu a nossos pais. Levai os meus ossos convosco". Morreu no Egito com 110 anos. Embalsamaram-no e depuseram-no num caixão.]

A História de Jó

36. JÓ É EXPERIMENTADO NOS SEUS BENSEm Hus, terra da Arábia, vivia um homem chamado Jó, reto, justo, temente a Deus e afastado do mal. Tinha 7 filhos e 3 filhas; possuía grandes rebanhos de ovelhas, camelos, bois e jumentos, além de muitos criados. Era homem muito considerado em todo o Oriente.Deus experimentou-o, permitindo a Satanás que lhe fizesse muito mal. Um dia, chegou um mensageiro e disse a Jó: "Andavam os bois a lavrar e a jumentas a pastar junto deles e eis que surgiram os sabeus e os levaram. Passaram à espada os criados. Só escapei eu para vos trazer esta notícia"Falava ainda quando chegou outro mensageiro que disse: "Os caldeus lançaram-se sobre os camelos, levaram-nos e trucidaram todos os criados. Só escapei eu para vos trazer esta notícia".Enquanto este falava, entrou outro mensageiro dizendo: "Os vossos filhos e filhas estavam a comer e beber em casa do irmão mais velho. De repente desencadeou-se um violento furacão vindo do deserto. Sacudida de todos os lados, a casa desabou sobre eles e esmagou a todos. Só eu escapei para vos anunciar esta triste notícia".Então Jó levantou-se, rasgou as vestes e, raspada a cabeça, prostrou-se por terra e adorou o Senhor, dizendo: "O Senhor deu, o Senhor tirou. Como foi do agrado do Senhor, assim se sucedeu. Bendito seja o nome do Senhor!". Jó não pecou em nenhuma destas coisas, nem pronunciou nenhuma palavra insensata contra Deus.

37. JÓ É EXPERIMENTADO NA SUA SAÚDESatanás foi então ferir Jó com uma lepra horrível, que o cobriu desde a planta dos pés até ao alto da cabeça. E Jó tirava o pus de suas úlceras com um pedaço de telha. Dizia-lhe a mulher: " Ainda estás firme na tua piedade?". Ele respondia: "Falas como mulher insensata. Se recebemos os bens da mão de Deus, por que não receberemos também os males?".

38. JÓ PERMANECE FIEL A DEUSAlguns amigos de Jó ousaram afirmar que Deus o castigava por causa dos seus pecados. Mas Jó disse: "Ainda que Deus me matasse, confiaria sempre nele. Eu sei que o meu Redentor vive e que no último dia ressurgirei da

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terra; serei novamente revestido do meu corpo e na minha carne verei o meu Deus. Sim, eu mesmo o verei e os meus olhos o hão de contemplá-lo. Esta esperança repousa no meu coração".

39. DEUS DÁ A JÓ O DOBRO DOS BENS PERDIDOSDeus restituiu o dobro de tudo que ele possuía. Deu-lhe também sete filhas e três filhos. Jó viveu ainda 140 anos e viu os filhos dos seus filhos até a quarta geração.

A História de Moisés

PROSPECTO

Os hebreus estavam no Egito ha quase 400 anos e tinham-se tornado muito numerosos. O faraó resolveu aniquilá-los: mandou tratá-los severamente e ordenou que se lançassem ao Nilo todos os seus filhos recém-nascidos. Deus inspirou à filha do faraó que recolhesse uma destas crianças e ela chamou-lhe de Moisés e o educou. Com cerca de 40 anos de idade, Moisés teve que fugir porque tomara a defesa dos israelitas. Por ordem de Deus, voltou 40 anos depois e fez os israelitas saírem do Egito. Foi seu chefe no deserto durante 40 anos e conduziu-os até a fronteira da Terra Prometida.

40. MOISÉS SALVO DA MORTEOs descendentes de Jacó tornaram-se muito numerosos no Egito. Chamavam-se a si próprios de filhos de Israel ou israelitas porque Jacó recebera de Deus o nome de Israel. Os estrangeiros chamavam-lhes de hebreus.Passado muito tempo, houve no Egito um novo rei que não conhecia a história de José. Temendo que os filhos de Israel se tornassem demasiadamente poderosos, oprimiu-os com penosos trabalhos de construção e cultura. Por fim, prescreveu que se lançassem ao Nilo todos os seus filhos recém-nascidos.Uma mãe israelita teve um filho. Como era muito lindo, escondeu-o durante três meses. Porém, não podendo conservá-lo oculto por mais tempo, tomou um cesto de junco betumado com resina e pez, meteu dentro o menino e foi expô-lo nuns canaviais à margem do rio. A irmã do menino conservou-se escondida a alguma distância para ver o que acontecia.Chegou a filha do faraó e, vendo um cesto no meio do canavial, mandou uma criada buscá-lo. Abriu-o e viu o menino chorando. Ficou cheia de pena e disse: "É filho de hebreus". A irmã da criança aproximou-se e disse: "Quereis que vá chamar uma mulher israelita para amamentar esse menino". Ela respondeu: "Vai, sim". A menina foi chamar a própria mãe. Esta levou o menino e o educou. Quando já estava crescido, levou-o à filha do faraó, que o adotou e disse: "Chamar-se-á Moisés porque o tirei da água".

41. DEUS ENVIA MOISÉS PARA LIBERTAR O SEU POVOChegado aos 40 anos de idade, Moisés viu a aflição dos israelitas e tomou a sua defesa. O faraó ficou sabendo e mandou procurá-lo para lhe dar a morte. Então Moisés fugiu para a terra de Madian, onde ficou a guardar ovelhas.Em dia, chegou com o seu rebanho ao interior do deserto, perto do monte Horeb e ali o Senhor lhe apareceu no meio das chamas que se elevavam de uma sarça de espinhos. Embora toda em chamas, a sarça não se consumia. Moisés se aproximou e então o Senhor gritou-lhe do meio da sarça: "Moisés, Moisés!". Moisés cobriu o rosto para não ver a Deus.

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O Senhor disse-lhe: "Vi a aflição do meu povo. Por isso desci para o libertar e o conduzir a uma terra onde corre o leite e o mel. És tu quem fará sair o meu povo do Egito". Moisés partiu imediatamente para o Egito. Saiu-lhe ao encontro, por ordem de Deus, seu irmão Aarão e Moisés contou-lhe tudo.Moisés e Aarão foram procurar o faraó e disseram-lhe: "O Deus dos hebreus disse: 'Deixa partir o meu povo'". O faraó não consentiu e Deus o castigou, mandando-lhe grandes desgraças. Mas o faraó continuou endurecido. O Senhor disse a Moisés: "Ferirei o faraó e a sua gente com uma última praga, depois da qual ele vos deixará partir. À meia-noite passarei pelo Egito e todo o filho primogênito dos egípcios morrerá. Mas aos filhos de Israel não se sucederá mal algum".

42. MOISÉS MANDA CELEBRAR A PÁSCOA (aproximadamente 1500 a.C.)Por ordem de Deus, Moisés mandou aos filhos de Israel que celebrassem a Páscoa, dizendo-lhes: "No dia 14 deste mês, à tarde, cada chefe de família imolará um cordeiro sem defeito, com um ano de idade, sem lhe quebrar osso algum. Com um molhinho de hissôpo, aspergirá seu sangue nas umbreiras e na padieira da porta. Comereis a sua carne, assada no fogo, com pão sem fermento e ervas amargas. Tereis os rins cingidos, as sandálias nos pés e o bordão na mão. E comereis depressa porque é a Páscoa, isto é, a Passagem do Senhor. Nesta mesma noite, ferirei de morte todos os filhos primogênitos do Egito. Mas vendo o sangue nas vossas casas, passarei adiante e a praga destruidora não vos atingirá".Os filhos de Israel fizeram o que o Senhor lhes ordenou. Pela meia-noite, o Senhor feriu de morte os primogênitos de todas as famílias do Egito. Ouviu-se em todo o país um enorme grito de dor porque não havia casa onde não houvesse um morto.

43. OS ISRAELITAS SAEM DO EGITOO faraó chamou Moisés e disse-lhe: "Leva depressa o teu povo". Os egípcios também pediam para que os israelitas saíssem o quanto antes, "senão morreremos todos", diziam eles.Os filhos de Israel partiram em número de 600 mil, sem contar as mulheres e crianças. Moisés levou também os ossos de José.Guiados por Deus, que ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem, de noite numa coluna de fogo, chegaram todos ao Mar vermelho.Entretanto, o faraó arrependeu-se de ter deixado partir os israelitas. Perseguiu-os com os seus carros e todo o exército e foi alcançá-los junto ao Mar vermelho. Moisés disse ao seu povo: "Não temais, o Senhor combaterá por vós!". Por ordem de Deus, Moisés estendeu a mão sobre o mar; imediatamente as águas se dividiram, erguendo-se como muralha à direita e à esquerda, e os israelitas atravessaram sem molharem os pés. Os egípcios avançaram por sua vez até ao meio do mar. Mas o Senhor disse a Moisés: "Estende a mão sobre o mar". Moisés obedeceu e imediatamente as águas se juntaram e cobriram todo o exército do faraó, com os carros e cavaleiros. Ninguém escapou.Os filhos de Israel entoaram então um cântico de louvor e ação de graças ao Senhor, dizendo: "Cantemos ao Senhor porque fez brilhar a sua glória: precipitou no mar os cavalos e os cavaleiros".Em seguida, os israelitas conduzidos por Moisés dirigiram-se para o deserto.

44. DEUS PROTEGE O SEU POVONo deserto, os israelitas tiveram fome. Deus disse-lhes: "Esta tarde comereis carne e amanhã pela manhã tereis pão em abundância. E sabereis que eu sou o Senhor vosso Deus". Efetivamente, à tarde, pousaram cordonizes

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sobre os acampamentos e no dia seguinte apareceu a terra coberta de uma coisa miúda, parecida com a geada. Vendo isto, os filhos de Israel perguntaram: "Manhu?, que significa 'o que é isto?'. Moisés disse-lhes: "Este é o pão que o Senhor vos dá para comer". Daí vem o nome de maná.O maná tinha sabor de bolos de mel. Os israelitas comeram maná durante 40 anos até chegarem em Canaan.Doutra vez, faltou água e o povo queixou-se a Moisés: "Para que nos fizeste sair do Egito? Foi para morrermos de sede?". Moisés perguntou ao Senhor: "O que farei a este povo?". Deus disse-lhe: "Toma a tua vara e bate com ela no rochedo; jorrará água e o povo terá o que beber". E assim aconteceu.

45. DEUS PROMULGA O DECÁLOGONo terceiro mês depois da saída do Egito, os israelitas chegaram ao pé do Sinai. Armaram as tendas em frente do monte e Moisés subiu até junto de Deus. O Senhor disse-lhe: "Manda que lavem as vestes e estejam prontos para o terceiro dia. Nesse dia, quando soar a trombeta, que se aproximem do monte". Moisés obedeceu ao Senhor.Na madrugada do terceiro dia, houve trovões e relâmpagos e uma espêssa nuvem envolveu o Sinai. Ouviu-se então o som estridente das trombetas. Todos se atemorizaram. Moisés levou os israelitas para junto da montanha e o Senhor promulgou o decálogo:

Eu sou o Senhor, teu Deus:

I. Não terás outros deuses, nem farás imagens deles para as adorar.II. Não pronunciarás em vão o nome do Senhor, teu Deus.

III. Lembra-te de santificar o dia do sábado.IV. Honra teu pai e tua mãe para viveres muito tempo sobre a terra.

V. Não matarás.VI. Não cometerás adultério.

VII. Não furtarás.VIII. Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.

IX. Não cobiçarás a mulher do teu próximo.X. Não cobiçarás a casa do teu próximo, nem o seu campo, nem o seu servo

ou serva, nem o seu boi ou jumento, nem coisa alguma que lhe pertença.

O povo tremia de medo. Todos disseram: "Faremos o que o Senhor mandou e seremos fiéis". Por ordem de Deus, Moisés tornou a subir ao Sinai e lá ficou 40 dias e 40 noites.Então o Senhor deu-lhe os dez mandamentos, escritos por sua mão, em duas tábuas de pedra.

46. MOISÉS ORGANIZA O CULTO DIVINONo Sinai o Senhor disse a Moisés: "Haveis de fazer-me um santuário. Quero habitar no meio de vós". Moisés mandou então construir o Tabernáculo. Era feito de tábuas, com ricas coberturas. Quando os israelitas se punham em marcha, desmanchavam o Tabernáculo para o levarem com eles. O Tabernáculo tinha dois compartimentos: o santo e o santo dos santos. No santo dos santos, encontrava-se a arca da aliança. Na arca, guardavam-se as duas tábuas da Lei.[No santo, encontravam-se o altar dos perfumes, a mesa dos pães da proposição e o candieiro de sete braços. No átrio, estava o altar dos holocaustos. Deus disse também a Moisés: "Aarão e seus filhos exercerão funções sacerdotais". Moisés estabeleceu seu irmão Aarão como sumo-sacerdote e designou para sacerdotes os filhos de Aarão e os seus

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descendentes. Os sacerdotes deviam oferecer os sacrifícios. Geralmente ofereciam animais, que se imolavam, sendo a carne consumida pelo fogo sobre o altar. Havia também sacrifícios incruentos. Celebravam-se três grandes festas: a Páscoa, em memória da saída do Egito; o Pentecostes, comemorando a promulgação da Lei ao pé do Sinai; e a dos Tabernáculos, para relembrar a peregrinação do povo através do deserto. Em todas as semanas, o sétimo dia ou sábado devia ser consagrado unicamente ao culto do Senhor.]

47. EXPLORAÇÃO DA TERRA DE CANAANLogo que os israelitas chegaram à fronteira meridional de Canaan, Moisés enviou 12 homens, um por cada tribo, a explorar a terra. No regresso, trouxeram eles frutos deliciosos como romãs, figos e, numa vara, conduzida por dois homens, um enorme cacho de uvas. E disseram: "É na verdade uma terra onde corre o leite e o mel!".Porém, os israelitas já estavam cansados de vaguear através do deserto. E disseram a Moisés: "Por que nos mandaste sair do Egito? Foi para nos deixar morrer no deserto? Nós não temos pão, falta-nos a água e já estamos enjoados deste maná!".Para castigo, o Senhor mandou serpentes, cuja picada queimava como fogo. Muitos israelitas foram picados e morreram. Os outros reconheceram o seu pecado e arrependeram-se. Então Moisés intercedeu por eles.Deus disse-lhe: "Faze uma serpente de bronze e expõe-na num poste. Aqueles que, sendo feridos, olharem para ela, viverão". Moisés assim fez e todos os que, tendo sido picados, olhavam para a serpente de bronze, ficaram sãos.[Moisés morreu no topo do monte Nebo, à vista da Terra Prometida, com 120 anos de idade.]

A História de Saul

[Depois da morte de Moisés, Josué introduziu os israelitas na terra de Canaan (aprox. 1450 a.C.). Milagrosamente auxiliado por Deus, os fez atravessar o Jordão, tomou a cidade de Jericó, conquistou toda a terra em 7 anos e a dividiu pelas 12 tribos.Josué morreu com 110 anos de idade.Durante os 300 anos que se seguiram, os israelitas não tiveram nenhum chefe único reconhecido por todas as tribos. Cada tribo vivia sob um chefe particular e governava-se segundo os costumes do regime patriarcal.Muitas vezes os israelitas esqueciam do Deus de seus pais. Então o Senhor, para os castigar, abandonava-os aos seus inimigos. Mas, logo que se arrependiam, vinha em seu auxílio. Suscitava entre eles alguns homens, chamados juízes, que os livravam dos seus perseguidores. Houve 14 juízes em Israel; os principais foram: Gedeão, Sansão, Heli e Samuel (aprox. 1400 à 1095 a.C.).]

48. SAUL É PROCLAMADO REI DE ISRAELSamuel tinha envelhecido e seus filhos não lhe seguiam os conselhos. Por isso, os israelitas disseram-lhe: "Dá-nos um rei como têm as outras nações".Samuel não gostou desse pedido. Consultou o Senhor e este disse-lhe: "Faz o que eles pedem!"Passado algum tempo, estando Samuel em Ramá, viu chegar junto de si um filho de Cis, chamado Saul, da tribo de Benjamim. O Senhor disse-lhe: "Eis o homem destinado para reinar sobre o meu povo!".

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No dia seguinte, pela manhã, Samuel tomou um vaso de óleo, derramou-o sobre a cabeça de Saul, beijou-o e disse: "Por esta unção, o Senhor te faz príncipe da sua herança". Em seguida, convocou o povo para apresentar-lhe o eleito de Deus. Assim que Saul apareceu na assembléia, Samuel disse: "Olhai: foi aquele que Deus escolheu". Então todos exclamaram: "Viva o rei!"

49. SAUL DESOBEDECE A DEUS. DEUS REJEITA-OSaul reinou durante 40 anos. A princípio, foi fiel a Deus e Deus deu-lhe vitória sobre os amalecitas. Mas logo se tornou orgulhoso e deixou de obedecer as ordens do Senhor.Numa guerra contra os filisteus, Saul tinha a ordem de esperar a chegada de Samuel antes de travar a batalha. Samuel devia oferecer um sacrifício a Deus, para implorar a sua proteção. No sétimo dia, como Samuel não chegava e o exército, cansado de esperar, começava a dispersar-se, Saul ofereceu o sacrifício em vez do sumo-sacerdote. Apenas tinha acabado quando Samuel chegou e lhe disse: Procedeste insensatamente! Por isso, não serás rei por muito tempo!"

50. A ELEIÇÃO DE DAVIDeus disse a Samuel: "Enche de óleo o teu recipiente e vai à casa de Isaí, em Belém, porque escolhi um dos seus filhos para ser rei no lugar de Saul". Samuel foi a Belém. Isaí mostrou-lhe primeiro o seu filho mais velho, que era alto e elegante. Mas o Senhor disse-lhe: "Não repares para a sua elevada estatura. Não é esse quem escolhi". Isaí apresentou-lhe sucessivamente os outros seis filhos. Samuel disse-lhe: "O Senhor não escolheu nenhum deles. Não tens mais nenhum?". Isaí respondeu: "Ainda falta Davi, o mais novo, que anda a guardar as ovelhas". Disse-lhe Samuel: "Manda-o chamar".Quando Davi chegou, o Senhor disse a Samuel: "Unge-o! É esse!". Samuel tomou o vaso de óleo e ungiu Davi na presença de seus irmãos. Desde então, repousou sobre Davi o espírito do Senhor.

A História de Davi (Aprox. 1055-1015)

51. DAVI VENCE O GIGANTE GOLIASEstorou a guerra contra os filisteus e todos os irmãos de Davi tiveram de pegar em armas.Um dia, o pai de Davi mandou-o ao acampamento para obter notícias. Enquanto ele estava lá, saiu um gigante do campo dos filisteus, que tinha seis côvados e um palmo de altura. Usava capacete de metal, couraças e tornozeleiras de bronze. A haste de sua lança era como o órgão de um tear. Dirigindo-se ao exército de israel, Golias dizia: "Escolhei entre vós um homem que ouse lutar comigo. Se ele me matar, seremos vossos escravos; mas se eu o matar, sereis nossos escravos". E ninguém ousava lutar com ele.Então Davi apresentou-se e disse: "Irei combater com ele". Tomou o cajado e escolheu na torrente cinco pedras bem lisas, metendo-as numa sacola; depois com a funda na mão, avançou contra o filisteu. O gigante, vendo Davi tão pequeno, gritou-lhe: "Serei eu algum cão para vires contra mim armado com um pau?. Davi respondeu: "Tu vens contra mim com espada, lança e escudo e eu avanço em nome do Senhor. Hoje o Senhor vai entregar-te nas minhas mãos e toda a terra saberá que há um Deus em Israel". Então Davi tirou uma pedra da sacola e arremessou-a com a funda. A pedra foi cravar-se na fronte do filisteu e o gigante caiu por terra. Davi correu e, tirando-lhe a espada, cortou-lhe a cabeça. Os filisteus fugiram aterrorizados e os israelitas matou-os em grande quantidade.

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52. MAGNANIMIDADE DE DAVIDepois de ter matado o filisteu, Davi voltou com Saul. Por toda a parte as mulheres saíam ao seu encontro, cantando: "Saul matou mil e Davi matou dez mil". Essa preferência irritava o rei. Um dia, enquanto Davi tocava harpa na sua presença, Saul atirou por duas vezes a lança contra ele, para o matar, mas Davi esquivou-se ao golpe. Desde então Saul teve medo de Davi porque via que o Senhor estava com ele. Tendo Davi alcançado nova vitória na guerra contra os filisteus, aumentou a inveja de Saul. Davi pôs-se, então, em fuga e, com alguns de seus companheiros mais fiéis, refugiou-se no deserto.Saul perseguiu-o com 3 mil homens. Um dia, Davi entrou sem ruído na tenda de Saul enquanto este dormia. Abisai aconselhava-o a matar o rei naquela oportunidade, mas Davi recusou-se dizendo: "Quem poderá levantar a mão contra o ungido do Senhor sem cometer crime?". Contentou-se em levar a lança e a taça do rei. Em seguida, de uma colina vizinha, gritou a Abner, general de Saul: "Abner, por que não guardaste o teu rei e senhor? Vê agora onde está a lança e a taça do rei!". Saul reconheceu a voz de Davi e ficou muito arrependido.Algum tempo depois, Saul travou batalha com os filisteus nos montes de Gelboé. O seu exército foi derrotado e Saul ficou gravemente ferido. Então disse ao escudeiro: "Desembainha a espada e mata-me!". Como o escudeiro hesitasse, Saul deixou-se cair sobre a própria espada e morreu.

53. DAVI É PROCLAMADO REIEntão Davi consultou o Senhor, que lhe disse: "Sobe a Hebron". Os homens de Judá o acolheram bem e deram-lhe a unção real.Entretanto, Abner, general de Saul, elevou ao trono Isboset, filho de Saul. Só ao fim de sete anos e seis meses depois da morte de Abner e de Isboset os anciãos das tribos de Israel foram procurar Davi em Hebron e o reconheceram como rei. Logo que subiu ao trono, Davi pôs-se à frente de seus guerreiros e marchou sobre Jerusalém que estava então em poder dos jebuseus. Conquistou a fortaleza de Sião, estabeleceu nela a sua residência e chamou-lhe cidade de Davi.[Hábil e valente guerreiro, Davi venceu diversas guerras. Bateu os filisteus, submeteu os moabitas, os sírios, os idumeus e os amonitas. O seu reino estendia-se do Eufrates até o Egito.]

54. DAVI ORGANIZA O CULTO DIVINODavi mandou construir na colina de Sião uma tenda magnífica para a celebração do culto. Para lá foi transportada a arca da aliança no meio de um cortejo imponente. Os sacerdotes levaram a arca. Grande número de cantores e músicos abrilhantavam a cerimônia. O próprio Davi tocava harpa diante da arca.Depois de colocar a arca no novo tabernáculo, Davi organizou o culto divino. Distribuiu os sacerdotes em 24 classes encarregadas do serviço divino, por turnos, cada qual por uma semana. Escolheu também 4 mil levitas para executar os cânticos sagrados e acompanhá-los com instrumentos. Estes cânticos têm o nome de Salmos, isto é, cânticos de louvor.Davi também pensava em construir um templo ao Senhor. Mas Deus mandou-lhe dizer pelo profeta Natan: "Não serás tu que me construirás uma casa mas sim Salomão, teu filho. Eu firmarei para sempre o seu trono. Serei para ele um pai e ele será para mim um filho".

55. REVOLTA DE ABSALÃODavi tinha um filho, chamado Absalão, que organizou uma conspiração contra ele e, tendo-se proclamado rei em Hebron, marchou sobre Jerusalém.

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Davi só teve tempo de fugir. Acompanhado de seus servos fiéis, saiu da cidade, atravessou o Cedron e subiu o monte das Oliveiras, descalço e com a cabeça coberta. Depois, refugiou-se para além do Jordão.Absalão perseguiu o rei travou-se uma batalha. Davi disse a seu general: "Poupai o meu filho Absalão!". O exército de Absalão foi derrotado e ele fugiu num cavalo. Ao passar por baixo de um carvalho frondoso, seu cabelo prendeu-se nos ramos da árvore e ele ficou suspenso, enquanto o animal continuava a correr. Levaram a notícia a Joab. Este tomou três lanças e traspassou com elas o coração de Absalão. Depois vieram os escudeiros e acabaram de o matar.Quando lhe anunciaram o resultado da batalha, Davi perguntou: "Meu filho Absalão está vivo?". O mensageiro respondeu: "Oxalá tenham a mesma sorte todos os inimigos do rei!". Davi, cheio de tristeza, repetia a chorar: "Meu filho Absalão! Absalão filho meu! Quem me dera ter morrido por, Absalão meu filho, filho meu Absalão!".[Chegando ao término de sua vida, Davi mandou dar a unção real a seu filho Salomão. Morreu com 70 anos de idade, depois de ter reinado 40 anos em Israel (aprox. 1015 d.C.).]

A História de Salomão (aprox. 1015-975 a.C.)

56. SALOMÃO PEDE A DEUS A SABEDORIASalomão sucedeu a seu pai Davi no trono. Uma noite, o Senhor apareceu-lhe em sonhos e disse-lhe: "Pede-me o que quiseres e eu te darei". Salomão respondeu: "Senhor, meu Deus, fizeste-me rei, a mim vosso servo! Sou ainda muito novo e inexperiente e o vosso povo é numeroso. Dai-me um coração dócil para que eu saiba governar". O Senhor disse-lhe: "Não me pedes longos dias, nem riquezas, mas sabedoria para bem julgar. Vou atender o teu desejo. Dou-te sabedoria e inteligência como ninguém a teve, nem jamais terá. Dou-te também o que não me pediste: riquezas e glória. E se tu guardares os meus preceitos, como os guardou teu pai Davi, dar-te-ei longos anos de vida".

57. SALOMÃO JULGA SABIAMENTEPouco tempo depois, apresentaram-se duas mulheres a Salomão. Uma disse: "Senhor, eu e esta mulher habitávamos na mesma casa. Durante a noite, estando a dormir, sufocou o filho e, aproveitando-se do meu sono, pôs o meu filho adormecido junto de si e colocou aos meus pés o seu filho que estava morto. De manhã, olhando de perto para ele, vi que não era o meu filho". A outra mulher interrompeu: "Não, o meu filho é o que está vivo, o teu morreu". A primeira replicou: "Não, o teu é que morreu. O que está vivo é meu". E continuaram a disputar.Então o rei disse: Trazei uma espada, dividi em duas partes o menino que está vivo e dai metade a cada uma!". Cheia de amor ao seu filho, a mulher cujo filho estava vivo suplicou: "Senhor, peço-vos que lhes deis a ela o menino vivo e não o mateis!". A outra, pelo contrário, dizia: "Não seja para mim nem para ti, mas divida-se". Então Salomão disse: "Dai à primeira o menino vivo porque é ela a verdadeira mãe". E assim todo o povo de Israel soube que a sabedoria de Deus assistia ao rei para julgar com retidão.

58. A CONSTRUÇÃO DO TEMPLONo décimo ano do seu reinado, Salomão enviou embaixadores a Irã, rei de Tiro, para lhe dizer: "O Senhor deu-me paz com todos os meus vizinhos e penso em lhe edificar uma casa. Manda-me, pois, cortar no Líbano cedros e ciprestes!". Irã consentiu e fez-se uma convenção entre os dois reis. Salomão escolheu milhares de operários em todo o Israel e os mandou, por

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turnos, trabalhar no Líbano com a gente de Irã. Além disso, tinha milhares de carreteiros e cabouqueiros no monte; era lá que se aparelhavam as pedras. Terminada a construção, que levou 7 anos, Salomão convocou os príncipes do povo e ordenou que se transladasse a arca para o templo, com grandioso cortejo. Cento e vinte sacerdotes tocavam trombetas; os levitas cantavam salmos ao som de instrumentos musicais. Imolaram-se inúmeras ovelhas e bois. Colocada a arca no santo dos santos, uma nuvem encheu a casa do Senhor.Salomão prostrou-se diante do altar dos holocaustos e disse: "Senhor, Deus de Israel, se os céus não vos podem conter, muito menos esta casa que eu vos edifiquei. Todavia, dignai-vos a lançar sobre ela um olhar de misericórdia e ouvi a todos aqueles que orarem neste lugar". Então desceu o fogo do céu e consumiu as vítimas. Depois o Senhor apareceu a Salomão e disse: "Nesta casa estarão sempre os meus olhos e o meu coração".

59. DESCRIÇÃO DO TEMPLOO templo de Salomão reproduzia a planta do tabernáculo, mas em maiores dimensões. O edifício tinha 60 côvados de comprimento, 20 de largura e 30 de altura. Do lado do Oriente erguia-se um pórtico. Dos outros três lados, tinha encostada uma construção de 18 côvados, dividida em 3 andares, com compartimentos para guardar o mobiliário do templo. O interior compreendia o santo e o santo dos santos. O santo tinha 40 côvados de comprimento; o santo dos santos, que se prolongava do lado do Oriente, tinha 20 côvados de comprimeto, 20 de largura e 20 de altura. As paredes e os tetos do santuário eram guarnecidos de tábuas de cedro e ornados com flores, palmas e querubins esculpidos, tudo revestido de ouro. O próprio pavimento era de lâminas de ouro. Em volta das construções havia dois átrios: um no interior reservado aos sacerdotes e outro no exterior para o povo.

60. A RAINHA DE SABÁ VISITA SALOMÃOAcabada a construção do templo do Senhor, Salomão construiu também para si um esplêndido palácio. O trono era de ouro e marfim e a baixela era do mais fino ouro. Os seus navios iam buscar nos países mais longíquos ouro e objetos preciosos de toda a espécie, como dentes de elefante e pavões. Em riqueza, excedeu todos os reis da terra.De todos os países do mundo corria gente para ver Salomão e todos se honravam em lhe oferecer presentes. A rainha de Sabá, na Arábia, veio também a Jerusalém com grande comitiva para conhecer a sabedoria de Salomão. Quando o ouviu e viu toda a sua magnificência, ficou encantada e disse: "Na verdade, a tua sabedoria e a tua glória ultrapassam a fama que tinha chegado até mim. Bem-aventurados os servos que estão sempre contigo e ouvem as palavras da tua sabedoria! Bendito seja o Senhor, teu Deus, que te colocou sobre o trono de Israel". E ofereceu-lhe ricos presentes de ouro e pedras preciosas antes de voltar para o seu país.

61. PECADO DE SALOMÃOSalomão desposou mulheres pagãs que o levaram a cair na idolatria, quando já era velho. O Senhor mandou-lhe dizer: "Porque transgrediste os meus mandamentos, eu dividirei o teu reino. Contudo, em atenção ao meu servo Davi, deixarei uma parte dele a teu filho". Salomão reinou 40 anos em Jerusalém.

O Reino de Israel (aprox. 975-722 a.C.)

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62. DEZ TRIBOS SE SEPARAM DE ROBOÃODepois da morte de Salomão, os chefes das tribos foram ter com Roboão e disseram-lhe: "Teu pai impôs-nos um jugo duríssimo. Suaviza um pouco esse fardo e nós te serviremos". Roboão respondeu: "Voltai dentro de três dias". Depois foi se aconselhar com os anciãos que assistiam a seu pai. Estes disseram-lhe: "Se fores condescendente com o povo, ele te servirá sempre". Roboão desprezou este conselho para seguir o dos novos, do seu tempo, e respondeu ao povo: "Tornarei o vosso jugo ainda mais pesado! Meu pai bateu-vos com azorragues, mas eu vos flagelarei com escorpiões!".Então dez tribos escolheram Jeroboão para rei e constituíram o reino separado de Israel, que teve por primeira capital Siquém e mais tarde Samaria. As tribos de Judá e Benjamim permaneceram fiéis aos descendentes de Davi e formaram o reino de Judá, com capital em Jerusalém.

63. JEROBOÃO INTRODUZ O CULTO AOS ÍDOLOSJeroboão levantou dois bezerros de ouro, um em Betel, ao sul e outro em Dan, na parte setentrional. Ao mesmo tempo, proibiu ao povo que voltasse a Jerusalém para adorar o Senhor. Levantou templos e pôs neles sacerdotes que não pertenciam à tribo de Levi. E assim levou o povo ao culto dos ídolos. Deus disse-lhe pelo profeta Aías: "Exterminarei a tua casa porque me rejeitaste".

64. DEUS ENVIA PROFETASPara levar os reis e o povo a melhores sentimentos, Deus enviou-lhes os seus profetas, que pregavam a penitência pela palavra e pelo exemplo, anunciavam os castigos iminentes e prediziam muitos passos da vida do futuro Salvador. Deus concedia-lhes o dom de operarem muitos milagres em confirmação de suas palavras.

65. O REINO DE ISRAEL SUCUMBE (aprox. 975-722 a.C.)O reino de Israel durou 253 anos. Teve 19 reis: Jeroboão I, Nadab, Baasa, Ela, Zambri, Amri, Acab, Ocozias, Jorão, Jeú, Joacaz, Joás, Jeroboão II, Zacarias, Selum, Manaém, Faceia, Faceias e Oséias.Os israelitas não ouviram as advertências que Deus lhes fazia pelos profetas. Foi por isso que o Senhor, irritado, os abandonou. Salmanasar, rei da Assíria, tendo conhecimento de que Oséias, ultimo rei de Israel, preparava uma revolta, cercou a Samaria com um grande exército. Três anos depois, Sargon, seu sucessor, apoderou-se da cidade, destruiu-a completamente e levou a maior parte dos habitante cativos para a Assíria (aprox. 721 a.C).

66. OS SAMARITANOSO rei da Assíria mandou colonos pagãos para a terra devastada de Israel. Estes aliaram-se com os poucos israelitas que lá ficaram e desta aliança proveio a raça mista dos samaritanos. Ao culto dos ídolos pagãos, os samaritanos juntavam a adoração ao verdadeiro Deus, em honra do qual edificaram um templo no monte Garizim, perto de Siquém. Viveram sempre em inimizade com os judeus.[Entre os profetas que apareceram no reino de Israel, os mais célebres são Elias, Eliseu e Jonas.]

Os Profetas Elias e Eliseu

67. DEUS ENVIA O PROFETA ELIASAcab, sétimo rei de Israel, foi mais ímpio que todos os seus predecessores. Tomou por mulher uma pagã, Jezabel, filha do rei de Sidon; adorou o falso

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deus Baal, edificou-lhe um templo na Samaria servido por 450 sacerdotes idólatras e mandou matar os sacerdotes do Senhor.Então Deus mandou o profeta Elias, que se apresentou diante do rei e disse: "É tão certo como Deus vive que não haverá orvalho nem chuva em Israel enquanto eu não o disser!". Depois o Senhor disse a Elias: "Vai-te esconder nas margens da torrente de Carit. Beberás água da torrente e os corvos te alimentarão nesse lugar". Elias obedeceu. Todos os dias, de manhã e à tarde, os corvos lhe levavam pão e carne e ele bebia água da torrente.

68. ELIAS E A VIÚVA DE SAREPTAPassado algum tempo, a torrente secou. Então o Senhor disse a Elias: "Vai para Sarepta, na terra dos Sidônios, porque ordenei a uma viúva dessa cidade que te sustente". Elias foi. À porta da cidade, viu uma mulher que apanhava lenha e disse-lhe: "Busque-me um pouco de água e um pedaço de pão". Ela respondeu: "Só tenho um pouco de farinha numa panela e um pouco de azeite no recipiente. Cozinharei esses restos para mim e para meu filho, senão morremos de fome". Elias disse-lhe: "Não te preocupes. Com o punhado de farinha, faze-me um pãozinho cozido debaixo da cinza; depois farás outro para teu filho. Porque esta é a Palavra do Senhor: 'A farinha que está na panela não faltará nem diminuirá no recipiente o azeite até o dia em que o Senhor faça cair chuva sobre a terra'". A pobre viúva fez como Elias lhe tinha dito e não faltou a farinha na panela, nem diminuiu o azeite no recipiente.

69. ELIAS CONVOCA O POVODecorreram três anos e seis meses sem chover. A fome era extrema. Então o Senhor disse a Elias: "Vai apresentar-te diante de Acab para eu fazer cair chuva sobre a terra". Elias foi procurar Acab e disse-lhe: "Convoca todo o povo no monte Carmelo, incluindo os 450 sacerdotes de Baal". Acab assim o fez e foi também ao Carmelo. Então Elias disse: "Eu, o profeta do Senhor, estou só; os profetas de Baal são 450. Dêem-nos dois bois: eles escolherão um, cortá-lo-ão em pedaços e depois de os disporem sobre o altar, não lhes lançarão fogo. Eu farei o mesmo com o outro. Vós invocareis o vosso deus e eu invocarei o Senhor. O que acender a fogueira será o verdadeiro Deus". Eles disseram: "Que assim o seja".

70. ELIAS CONFUNDE OS SACERDOTES DE BAALOs sacerdotes de Baal fizeram os seus preparativos e puseram-se a gritar desde manhã até o meio-dia: "Baal, ouve-nos". Mas Baal não respondia. Elias disse-lhes: "Gritai mais alto. Naturalmente, o vosso Baal está a conversar ou talvez esteja na estalagem ou em viagem. Quem sabe se não está a dormir? Gritai mais alto para o acordar". Eles puseram-se a gritar cada vez mais, mas Baal nunca respondia.Então Elias tomou doze pedras, fez com elas um altar e cavou um buraco em volta. Depois cortou o boi em pedaços, colocou-os sobre a lenha e regou até que o buraco ficasse cheio de água. Em seguida, orou a Deus, dizendo: "Senhor, mostrai hoje que sois o verdadeiro Deus". Imediatamente o fogo caiu do céu e consumiu o holocausto, a lenha e até as pedras, além de absorver toda a água do buraco. O povo prostrou-se com o rosto por terra, gritando: "O Senhor é o verdadeiro Deus! O verdadeiro Deus é o Senhor!". O céu não tardou a escurecer e caiu uma chuva torrencial.

71. ELIAS PREDIZ A MORTE DE ACABUm homem, chamado Nabot, possuía uma vinha em Jezrael, junto ao palácio de Acab. Este disse-lhe: "Cede-me a tua vinha que em troca eu te dou outra melhor ou, se preferes, o seu valor em dinheiro". Nabot respondeu: "Deus

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me livrre de abandonar a herança de meus pais!". Acab foi embora muito zangado. Quando Jezabel, sua mulher, soube desta recusa, escreveu aos anciãos da cidade: "Arranjai duas testemunhas que digam que Nabot blasfemou. Depois levai-o para fora da cidade e apedrejai-o". Os anciãos executaram esta ordem. Nabot foi apedrejado e Acab tomou posse da vinha.Elias apresentou-se diante dele e disse: "Eis a Palavra do Senhor: 'Os cães lamberão o teu sangue onde lamberam o de Nabot e Jezabel será devorada pelos cães!".Três anos depois, Acab foi gravemente ferido numa batalha contra o rei da Síria. Levaram-no num carro e à tarde ele morreu. Ao lavarem o carro, os cães vieram lamber o seu sangue.Algum tempo depois, o novo rei Jeú entrou na cidade de Jezrael. Jezabel estava à janela toda pintada e enfeitada. Jeú viu-a e disse: "Precipitai-a daí abaixo". Assim fizeram. Jezabel foi esmagada pelos cavalos e devorada pelos cães.

72. ELISEU RECEBE A SUCESSÃO DE ELIASElias, sabendo que o Senhor queria levá-lo deste mundo, foi com seu discípulo Eliseu para a margem do Jordão. De repente, um carro de fogo, com cavalos também de fogo, separou-os um do outro e Elias foi arrebatado ao céu num turbilhão. Eliseu via-o e gritava: "Meu pai! Meu pai!". Mas logo tudo desapareceu.Eliseu tomou o manto que Elias deixara cair e retirou-se. Chegando ao Jordão, bateu com o manto nas águas e imediatamente elas se dividiram para o deixar passar. À vista deste prodígio, os discípulos do profeta disseram: "O espírito de Elias repousou sobre Eliseu".Eliseu foi para Betel. Enquanto subia para a cidade, uns rapazes seguiram-no e insultavam-no, dizendo: "Sobe, ó calvo! Sobe, ó calvo!". O profeta ameaçou-os em nome do Senhor. No mesmo instante, saíram da floresta dois ursos que devoraram 42 destes rapazes

A História do Profeta Jonas

73. JONAS NÃO QUER OBEDECER A DEUSJonas profetizou no reino de Israel depois da morte de Eliseu. O Senhor disse-lhe: "Vai pregar à grande cidade de Nínive porque a sua maldade chegou ao extremo".Jonas tentou fugir do Senhor. Chegou a Jope e encontrou um navio que partia para Társis. Pagou a passagem e embarcou.

74. JONAS É LANÇADO AO MARDeus permitiu que uma forte tempestade pusesse o navio em perigo de se fazer em pedaços. Os marinheiros tiveram medo e cada um invocava o seu deus. Entretanto, Jonas, deitado no porão, dormia profundamente. O capitão despertou-o e disse-lhe: "Como podes dormir? Levanta-te e invoca o teu Deus para que não pereçamos". Em seguida, lançaram sortes para saberem qual deles era o responsável por aquela desgraça. A sorte caiu em Jonas, que disse: "Sei que foi por minha causa que nos sobreveio esta tempestade!".Os marinheiros fizeram os maiores esforços para alcançar a terra, mas foi em vão. Então, invocando o Senhor, disseram: "Senhor, não nos deixeis morrer por causa deste homem". E atiraram Jonas ao mar. No mesmo instante, o mar serenou. O Senhor mandou um enorme peixe, que engoliu Jonas. Jonas esteve no ventre do peixe durante três dias e três noites e pedia ao Senhor seu Deus que o salvasse. O Senhor mandou então ao peixe que o vomitasse na praia.

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75. OS HABITANTES DE NÍNIVE FAZEM PENITÊNCIADe novo o Senhor disse a Jonas: "Vai a Nínive!". Desta vez, Jonas foi e andou pelas ruas da cidade um dia inteiro, clamando: "Daqui a 40 dias Nínive será destruída". Os ninivitas creram em Deus, fizeram jejum e vestiram-se de luto, desde o maior ao mais pequeno. Deus teve compaixão deles e perdoou-lhes.

76. O SENHOR REPREENDE JONASJonas saiu da cidade e sentou-se para ver o que aconteceria. E Deus fez crescer uma hera para lhe oferecer sombra. Vendo a planta, Jonas ficou cheio de alegria. Mas, na manhã seguinte, Deus enviou um bicho que roeu a raiz da hera e ela secou. O sol bateu em cheio na cabeça de Jonas e o profeta, cansado de sofrer, chamou a morte. Deus disse-lhe: "Tu reclamas por causa desta hera que não plantaste, que nasceu numa noite e numa noite morreu. E eu não hei de perdoar a grande cidade de Nínive, onde há mais de 120 mil pessoas que não sabem distinguir a mão direita da esquerda e onde vive grande número de animais?".

O Reino de Judá (aprox. 975-588 a.C.)

[Desde o ano 975 a.C., data da separação das dez tribos até o fim do reino em 588, vinte reis - todos descendentes de Davi - governaram o reino de Judá. Só alguns foram fiéis a Deus. Tais foram: Josafá (914-889), Joatam (753-738), Ezequias (723-693) e Josias (637-607). Por fim, tanto o rei como o povo tornaram-se infiéis e Deus deixou de os proteger. Nabucodonosor, rei da Babilônia, tomou e destrui Jerusalém e levou em cativeiro para a Babilônia o rei Sedecias e a população. Os maiores profetas que apareceram no reino de Judá foram Isaías e Jeremias.]

77. ISAÍAS ANUNCIA O MESSIASIsaías foi enviado por Deus no último ano de Osias (804-753) e ainda exerceu o ministério profético durante o reinado dos três sucessores deste rei. Com inteira liberdade e nos têrmos mais vivos, repreendeu o povo escolhido sobre suas graves prevaricações e a sua odiosa ingratidão para com Deus. Ameaçou-o com os severos castigos do Senhor e empregou todos os esforços para o reconduzir a Deus. Mas o povo não quis converter-se e, assim, foi correndo para a sua perdição.As professias messiânicas de Isaías têm especial importância. Ele prediz o nascimento virginal do Messias, a sua divindade, os seus milagres, a sua paixão e morte, seguidas da sua glorificação. Os vaticiínios são tão claros e precisos, que se diria ser ele um evangelista a contar a vida de Jesus:

"Uma virgem conceberá e dará à luz um filho e seu nome será Emanuel, isto é, Deus conosco" (Is 7,14)

"Nasceu para nós um menino e foi-nos dado um filho: foi posto o principado sobre o seu ombro e ele será chamado Admirável, Conselheiro, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da Paz" (Is 9,5)

"Dizei aos corações receosos: não temais, o próprio Deus virá para nos salvar. Então se abrirão os olhos dos cegos e se desempidirão os ouvidos dos surdos, o coxo saltará como um cervo e desatar-se-á a língua dos mudos" (Is 35,4.6)

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"Foi desprezado como o último dos homens, foi um homem de dores. Tomou sobre si as nossas fraquezas e dores. Foi ferido por causa de nossos pecados. Foi despedaçado por causa de nossos crimes. O castigo que nos era devido caiu sobre Ele. Fomos curados graças às suas feridas. Ofereceu-se como vítima em sacrifício voluntário, como ovelha que é levada ao matadouro e como cordeiro diante de quem o tosquia; guardou silêncio e nem sequer abriu sua boca" (Is 53,3.7)

"Será invocado pelas nações e será glorioso o seu sepulcro!" (Is 11,10)

78. ISAÍAS PREDIZ A RUÍNA DO REINONo 14º ano do seu reinado, o rei Ezequias caiu gravemente doente. Deus mandou-o avisar pelo profeta Isaías de que estava próximo o seu fim. Ezequias pediu a Deus que lhe prolongasse a vida. Comovido com esta súplica, Deus voltou atrás e mandou-lhe dizer por Isaías que lhe daria ainda quinze anos de vida.Para mostrar que era verdadeira a sua predição, Isaías fez retroceder a sombra do palácio em 10 graus no quadrante solar.O rei ficou curado mas cometeu o erro de receber uma embaixada do rei da Babilônia, então em guerra com Senaquerib, rei da Assíria.Deus mandou Isaías dizer ao rei: "Dias virão em que tudo o que teus pais juntaram até hoje se levará para a Babilônia e os teus descendentes ficarão cativos no palácio do rei da Babilônia".

79. JEREMIAS ASSISTE À RUÍNA DO REINOJeremias exerceu o ministério profético durante os últimos cinco reis de Judá, até o exílio da Babilônia. Inacessível ao temor, repreendia o povo pelos seus pecados e anunciava a próxima ruína da cidade santa. Mas ninguém o ouvia, por isso Deus disse ao povo pela sua boca: "Já que não escutastes as minhas palavras, mandarei procurar todos os povos do norte e irei junto de meu servo Nabucodonosor, rei da Babilônia. Mandá-los-ei vir contra esta terra e contra os seus habitantes! Toda esta terra ficará deserta e os seus habitantes ficarão sujeitos ao rei da Babilônia durante 70 anos".Pela primeira vez, no tempo do rei Joaquim, Nabucodonosor, rei da Babilônia, foi à frente de um numeroso exército cercar Jerusalém e apoderou-se da cidade (606 a.C.). Levou o rei cativo para a Babilônia com grande número de vassalos. Foi o princípio dos 70 anos do cativeiro da Babilônia (606-536 a.C.).Algum tempo depois, Joaquim conseguiu regressar ao seu reino, mas, três anos mais tarde, revoltou-se contra o rei da Babilônia. Então Nabucodonosor voltou a cercar Jerusalém e Joaquim morreu durante o cêrco. Jeconias, seu filho e sucessor, foi obrigado a render-se ao fim de três meses e foi deportado para a Babilônia com 10 mil vassalos (598 a.C.).Por sua vez, Sedecias tornou-se rei de Judá, mas desertou. O rei da Babilônia correu sobre Jerusalém, destruiu a cidade e o templo, e deportou o resto da população e o rei para a Babilônia. Deixou apenas o povo humilde dos campos, vinhateiros e lavradores. Assim acabou o reino de Judá (588 a.C.).

80. JEREMIAS ANUNCIA A VINDA DO MESSIASO profeta Jeremias ficou na sua terra. Foi sobre as ruínas da cidade santa que fez ouvir as suas Lamentações.O Senhor revelara-lhe, porém, que 70 anos depois o povo regressaria.E no longínquo futuro ele via o Redentor e anunciava-o nestes termos: "Eis que vêm os dias em que suscitarei a Davi um germe justo. Será rei e reinará. Será sábio e praticará a eqüidade e a justiça na terra. Eis o seu nome: O Senhor, nosso Justo!" (Jr 23,5-6).

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O Cativeiro da Babilônia

81. O PROFETA EZEQUIELO Senhor levou Ezequiel ao meio de um campo cheio de ossos e disse-lhe: "Dize aos ossos secos que voltem à vida". Ezequiel assim fez. Ouviu-se um ruído, os ossos aproximaram-se um dos outros, pondo-se cada um na sua juntura e revestiram-se de músculos e de carne. Mas faltava-lhes o espírito da vida. Então o Senhor disse: "Dize ao espírito: 'vem, ó espírito de vida, sopra sobre estes mortos para que eles revivam'". Ezequiel assim fez e o espírito de vida animou os ossos e levantou-se um exército inumerável.O Senhor disse: "Estes ossos são a casa de Israel. Eles dizem: 'secaram os nossos ossos, pereceu a nossa esperança, estamos perdidos!'. Mas eu declaro: abrirei os vossos túmulos e vos reconduzirei à terra de Israel. Infundirei em vós o meu espírito e vós vivereis; e então sabereis que eu sou o Senhor!" (Ez 37,1.14).O regresso de Israel à vida nacional prefigurava a futura ressurreição dos mortos.

82. DANIEL RECUSA-SE A TRANSGREDIR A LEIDaniel e seus companheiros Ananias, Mizael e Azarias eram do grupo dos jovens da linhagem de príncipes que o rei da Babilônia queria aproveitar para o seu serviço. Mandou ensinar-lhes a escrita e a língua dos caldeus e quis que lhes servissem iguarias da sua mesa e vinho que ele próprio bebia.Como não queria ofender a Deus, comendo alimentos proibidos, Daniel pediu ao mordomo que lhe desse de outros, assim como aos seus três amigos. O mordomo disse-lhe: "Tenho medo do rei, meu amo. Se ele vos vê mais magros que os outros jovens da vossa idade, isso custar-me-á a vida". Daniel respondeu: "Fazei uma experiência: durante dez dias dai-nos somente legumes como comida e água como bebida e depois vereis quem tem melhor aspecto: nós ou os outros jovens, e procedereis como entenderdes".O mordomo consentiu na experiência. Passados os dez dias, os quatro jovens tinham melhor aspecto que os outros. Por isso, continuou a dar-lhes somente legumes e água. Deus deu-lhe ainda mais inteligência e sabedoria.Ao fim dos três anos, foram à presença do rei e ele achou-os mais sábios e entendidos que os outros e admitiu-os ao seu serviço.

83. DANIEL INTERPRETA UM SONHONabucodonosor estava em seu segundo ano de reinado quando teve um sonho. Mas, ao acordar, foi-lhe impossível reconstituir a visão. Convocou os magos e adivinhos para lhe dizerem que sonho era e qual a sua explicação. Os adivinhos disseram-lhe: "Não há homem no mundo que possa dizer qual foi o sonho do rei". Muito irritado, o rei condenou-os à morte.Daniel e seus companheiros recorreram à oração. E, de noite, Deus deu-lhe a conhecer a visão misteriosa. Daniel disse ao rei: "Só Deus que está nos céus revela os segredos. Ele mostrou-vos o que vai acontecer. No vosso sonho, ó rei, vistes uma grande estátua que tinha a cabeça de ouro, o peito e os braços de prata, o ventre e as coxas de cobre, as pernas de ferro e os pés metade de ferro e metade de barro. De repente, uma pedra se desprendeu do monte e foi bater nos pés da estátua. E, enquanto esta ficava reduzida a pó, a pedra transformava-se num grande monte que encheu toda a terra. Eis a explicação do vosso sonho: vós sois o rei dos reis. O Deus do céu deu-vos o império universal - a cabeça de ouro sois vós. Depois de vós, levantar-se-á outro reino, menor que o vosso - que será de prata - e um terceiro - que será de cobre - e mandará em toda a terra. O quarto reino será como ferro: assim como o ferro quebra todas as coisas, assim ele esmagará todos os outros. Mas, ao mesmo tempo, será fraco pois vistes os pés metade

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de ferro e metade de barro. Enfim, o próprio Deus suscitará um reino que dominará todos os outros e que subsistirá eternamente". Então o rei disse: "O teu Deus é verdadeiramente o Deus supremo: é Ele quem revela os mistérios". E elevou Daniel às maiores honras e deu-lhe magníficos presentes.

84. DEUS PROTEGE OS TRÊS AMIGOS DE DANIELNabucodonosor mandou erigir uma estátua de ouro, com 66 côvados de altura e ordenou que todos a adorassem. Todos se prostraram, exceto Ananias, Mizael e Azarias.Disse-lhes o rei: "Se não prostrares, sereis lançados numa fornalha ardente!". Eles responderam: "O nosso Deus pode tirar-nos da fornalha e, mesmo que não o faça, ficai sabendo, ó rei, que nunca adoraremos a vossa estátua!". Então o rei ordenou que aquecessem a fornalha sete vezes mais que de costume e que lançassem nela os jovens hebreus, vestidos e amarrados. Mas um anjo desceu à fornalha para proteger os jovens. E eles passeavam por entre as chamas, cantando louvores ao Senhor.Ao ver isto, o rei ficou admirado e disse: "Não lançamos na fornalha três homens amarrados? Mas eu vejo quatro homens soltos passeando no meio das chamas e o quarto parece um anjo". Aproximou-se então da fornalha e gritou: "Saí, servos do Deus excelso!". E eles saíram com as vestes intactas e nem um só fio de cabelo se tinha queimado.Nabucodonosor exclamou: "Bendito seja o Deus deles, que enviou o seu anjo e livrou os seus servos! Quem blasfemar este Deus seja punido de morte porque não há outro que possa salvar assim".Então o rei cumulou de honras Daniel e os seus companheiros e mandou publicar este prodígio em todo o reino.

85. DEUS PROTEGE DANIEL NA COVA DOS LEÕESDario, rei da Babilônia, mandou publicar este edito: "Durante 30 dias é proibido rezar, seja a quem for, exceto ao rei. Quem não obedecer será lançado na cova dos leões".Daniel continuou a orar, como de costume, e os seus inimigos o denunciaram ao rei que, apesar de gostar de Daniel, teve de ceder. Daniel foi lançado na cova dos leões. De madrugada, o rei foi à cova dos leões e gritou: "Daniel, servo do Deus vivo, o teu Deus livrou-te dos leões?". Daniel respondeu: "Ó rei, vivei eternamente! O meu Deus enviou o seu anjo que fechou as bocas dos leões para que não me fizessem mal".Muito contente, o rei mandou retirar Daniel da cova dos leões e não se encontrou nele a mais pequena ferida porque confiara em Deus.Então, por ordem do rei, foram lançados na cova os denunciantes com suas mulheres e filhos. E ainda não tinham atingido o fundo do pavimento quando os leões se lançaram contra eles e os despedaçaram.Então o rei mandou que todos os povos do reino soubessem: "Respeite-se em todo o meu império o Deus de Israel porque ele é o Deus vivo, o Deus que subsistirá por todos os séculos e o seu reino jamais será destruído".

86. DANIEL PREDIZ A VINDA DO MESSIASO arcanjo Gabriel, protetor do povo escolhido, disse a Daniel da parte de Deus: "Presta atenção ao que vou te dizer: setenta semanas foram decretadas sobre o teu povo e sobre a cidade santa. Desde a publicação do decreto para se reconstruir Jerusalém até ao Rei Messias haverá sete semanas e 62 semanas (de anos). E passadas as 62 semanas, o Messias será morto e não será seu povo quem o negar. A cidade e o santuário serão destruídos pelo capitão de um povo que há de vir e o seu fim será a ruína total. Após o fim da guerra, virá a desolação decretada".

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Após o Exílio da Babilônia

87. REGRESSO DO CATIVEIRONo primeiro ano do seu reinado, Ciro, rei dos Persas, publicou um edito que permitia aos exilados regressar à Judéia. Então 42 mil judeus puseram-se a caminho, conduzidos por Zorobabel e pelo sumo-sacerdote Josué. Ciro restitui-lhes também os vasos de ouro e prata que Nabucodonosor tirara do templo.Voltando a Jerusalém, reconstruíram no seu antigo lugar o altar dos holocaustos e começaram a oferecer, de manhã e à noite, os sacrifícios prescritos pela Lei. Depois lançaram os fundamentos do novo templo. Para manter o zêlo do povo, Deus enviou os profetas Ageu e Zacarias. Cerca de vinte anos depois, estava terminada a reconstrução do edifício e celebrou-se a cerimônia de dedicação com o maior regozijo de todo o povo.Algum tempo depois, o sacerdote Esdras reconduziu uma segunda leva de exilados. Mais tarde, Neemias, copeiro de rei dos persas, também obteve autorização para voltar, com a missão de reerguer os muros de Jerusalém.Foi nesta época, sob o governo de Neemias, que apareceu Malaquias, o último dos profetas.

88. A JUDÉIA SOB O DOMÍNIO DA SÍRIAA Judéia passou para o domínio de Alexandre Magno ao mesmo tempo que o império persa, do qual era dependente.Depois da morte de Alexandre (323 a.C.), pertenceu sucessivamente aos reis do Egito e da Síria.Governados por sumos-sacerdotes, sob a suserania de soberanos estrangeiros, os judeus gozaram da maior liberdade religiosa sob os reis egípcios. Porém, não aconteceu o mesmo depois que Seleuco IV, rei da Síria, se apoderou da Palestina. Este ordenou ao seu ministro Heliodoro que fosse a Jerusalém roubar o tesouro do templo. Mas Deus evitou o sacrilégio milagrosamente. Sobre um cavalo magníficamente ajaezado, apareceu um cavaleiro que encheu de terror os companheiros do sacrílego. Heliodoro foi calcado pelas patas do cavalo e, ao mesmo tempo, apareceram dois jovens, de radiante beleza, que cercaram Heliodoro e começaram a açoitá-lo. Heliodoro ficou sem poder se mexer e foi preciso levá-lo para fora do templo.No tempo de Antíoco IV, sucessor de Seleuco, estalou-se uma violenta perseguição. Então grande número de judeus abandonaram a sua religião. Mas também houve exemplos de heróica fidelidade à lei de Deus.

89. O MARTÍRIO DO ANCIÃO ELEAZAREleazar era um velho de 90 anos e um dos mais considerados doutores da Lei. Quiseram obrigá-lo a comer carne de porco. Alguns amigos ofereciam-se para lhe trazer secretamente as carnes permitidas, suplicando-lhe que fingisse comer a carne de porco. Por este modo, desejavam salvar-lhe a vida.O velho respondeu: "Tal representação não é própria da minha idade. Muitos jovens poderiam pensar que Eleazar, aos 90 anos, adotara os costumes pagãos e assim se deixariam seduzir; e eu atrairia sobre a minha velhice a vergonha e a maldição. Ainda que me livrasse agora dos suplícios dos homens, não escaparia do castigo de Deus. Prefiro perder a vida e deixar aos jovens um exemplo de fortaleza".Arrastaram-no logo ao suplício e ele morreu, animosamente, pela sua fé.

90. O MARTÍRIO DE UMA MÃE COM SEUS SETE FILHOSAntíoco também mandou prender uma mãe e seus sete filhos e queria obrigá-los a comer carne de porco.

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O mais velho dos irmãos disse: "Preferimos morrer do que transgredir a lei de Deus". Enfurecido, o rei mandou-lhe cortar a língua, arrancar a pele da cabeça, cortar as mãos e os pés, e lançá-lo vivo numa frigideira.Durante esse horrível suplício, os outros irmãos exortavam-se a morrer corajosamente. Então os carrascos tomaram o segundo e, depois de lhe arrancarem a pele da cabeça, perguntaram-lhe se não preferia comer a carne. Ele respondeu: "Não farei isso!". Quando estava prestes a morrer, disse ainda: "Carrasco, podes arrancar-nos a vida presente, mas no dia da Ressurreição, o Rei do mundo nos despertará para a vida eterna".O terceiro estendeu corajosamente as mãos e disse: "Recebi-as do céu e tenho a firme esperança de que Deus as irá restabelecer-me um dia". O rei não pôde deixar de admirar o valor deste jovem que não temia tão grandes tormentos.Os três irmãos seguintes mostraram a mesma constância. Quando chegou a vez do mais novo, Antíoco prometeu fazê-lo rico e feliz se ele abandonasse a lei de seus pais. Como o jovem não se deixasse persuadir, o rei chamou a mãe, para a convencer de salvar-lhe a vida.A mãe disse-lhe: "Meu filho, suplico-te que não temas o algoz. Se morres, encontrar-te-ei com teus irmãos na vida eterna!". Enquanto a mãe assim falava, a criança dizia aos algozes: "O que esperais? Eu não obedeço a ordem do rei, mas à lei de Deus. E tu, ó rei, não escaparás ao castigo de Deus todo-poderoso". Louco de cólera, o rei o mandou torturar ainda mais cruelmente que os demais irmãos.Por fim, juntou-se na morte a mãe com os filhos.

A Judéia no Tempo dos Macabeus (167-63 a.C.)

91. MATATIAS DEFENDE A RELIGIÃOVivia na cidade de Modin um sacerdote chamado Matatias. Foi se encontrar com ele um enviado do rei para obrigar os judeus à apostasia. Matatias e seus cinco filhos permaneceram constantes. Vendo um judeu aproximar-se do altar para sacrificar aos ídolos, Matatias avançou contra ele e o matou. Fez o mesmo com o enviado de Antíoco. Depois percorreu a cidade gritando em alta voz:"Quem tiver o zêlo da lei, siga-me". E fugiu para os montes com seus filhos.Sob o seu comando, os judeus que permaneceram fiéis derrotaram as tropas do rei. Em seguida, percorreram o país e destruíram todos os altares erguidos aos ídolos.Sentindo a morte aproximar-se, Matatias disse a seus filhos: "Meus filhos, sede zeladores da Lei e dai o sangue pela aliança de vossos pais. Os que têm esperança em Deus, nunca desfalecem. Judas, vosso irmão, é valente: seja ele o vosso chefe". Depois abençoou-os e morreu. Toda Israel chorou amargamente.

92. JUDAS MACABEU DERROTA OS SÍRIOSDepois de Matatias, assumiu o comando seu filho Judas, chamado Macabeu, cuja valentia lhe conquistou grande fama. Antíoco, rei da Síria, enviou contra ele um grande exército. Judas disse à sua gente: "Não temais! O próprio Deus os esmagará à nossa vista". Cheio de fé, lançou-se sobre os inimigos e derrotou-os. Em seguida, conduziu o seu exército ao monte Sião. Desalojou os sírios da fortaleza, que ainda ocupavam, e restabeleceu no templo o culto do Senhor. Também mandou fortificar a montanha de Sião com altas muralhas e fortes torres.

93. JUDAS MANDA OFERECER SACRIFÍCIOS PELOS MORTOSDepois de ganhar a batalha contra os sírios, encontraram-se sob as túnicas

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dos soldados judeus mortos em combate, vários objetos oferecidos aos ídolos, que a Lei proibia. Judas pediu ao Senhor que lhes perdoasse este pecado.Depois mandou fazer uma coleta que rendeu 12 mil dracmas de prata, que foi mandada para Jerusalém a fim de se oferecer um sacrifício de expiação pelos mortos. É, pois, um santo e salutar pensamento orar pelos mortos, para que sejam livres dos seus pecados.Judas morreu como herói na batalha contra os sírios. Seus irmãos sepultaram-no em Modin e todo o povo de Israel o chorou e vestiu luto por ele durante muito tempo.

94. A JUDÉIA É REDUZIDA A PROVÍNCIA ROMANADepois da morte de Judas, passou o comando a seu irmão Jônatas e, na morte deste, ao seu outro irmão, Simão. Este conseguiu libertar completamente a sua pátria do domínio dos sírios. Tornou-se independente e mandou cunhar moeda sua. A Judéia esteve em paz durante a sua vida e ainda no reinado de seu filho e sucessor, João Hircano. Depois deste, começou a decadência.No ano 63 a.C., entrou na Judéia o general romano Pompeu, que se apoderou de Jerusalém. Um estrangeiro chamado Herodes, filho do idumeu Antípatro, obteve de Roma o título e a dignidade real (40 a.C.). Mandou reconstruir, em grandiosas proporções, o templo de Zorobabel.Foi neste terceiro templo que apareceu o Messias, nosso Senhor Jesus Cristo.

O Nascimento de Jesus (6 a.C.)

1. A SAUDAÇÃO DO ANJO GABRIEL À VIRGEM MARIANaquele tempo, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a Nazaré, à uma virgem chamada Maria, desposada com um homem que se chamava José. Entrando em sua casa, o anjo disse-lhe: "Ave Maria, cheia de graça; o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres".Ouvindo estas palavras, Maria ficou atemorizada e perguntava a si mesma o que queria dizer esta saudação. O anjo disse-lhe: "Não temais, Maria, pois achastes graça diante do Senhor. Eis que tereis um filho e lhe dareis o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo".Maria disse ao anjo: "Como poderá ser isso se não conheço varão?". O anjo respondeu: "O Espírito Santo descerá sobre vós e te cobrirá com sua sombra. A Deus nada é impossível".Então Maria disse: "Eis a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a vossa palavra!". E o anjo afastou-se dela.

2. MARIA VISITA SUA PRIMA ISABELMaria foi logo, apressadamente, a uma cidade de Judá onde habitava sua prima Isabel. Bastou Isabel receber a sua saudação para ficar cheia do Espírito Santo e exclamar em voz alta: "Bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre! De onde me vem ser visitada pela Mãe do meu Senhor? Bem-aventurada sois vós por ter crido porque se cumprirão todas as coisas que vos foram ditas da parte do Senhor".Maria ficou com Isabel cerca de três meses e depois voltou para sua casa.

3. JESUS NASCE EM BELÉMNaquele tempo, apareceu um edito de César Augusto para que se recenseasse todo o império. Todos iam registrar-se, cada um em sua cidade.José, que era descendente de Davi, teve de ir para Belém, chamada a Cidade de Davi, para lá se registrar junto com Maria. Enquanto estavam nesta

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cidade, Maria teve o seu Filho primogênito. Embrulhou-o em paninhos e deitou-o numa manjedoura pois não havia lugar para eles na hospedaria.

4. UM ANJO APARECE AOS PASTORESNos campos da vizinhança, andavam pastores a guardar os seus rebanhos. De repente, apareceu-lhes um anjo do Senhor e eles tiveram muito medo. Mas o anjo disse-lhes: "Não temais! Eu vos anuncio uma grande alegria: hoje, na cidade de Davi, nasceu o Salvador, Cristo nosso Senhor. Eis o sinal pelo qual o reconhecereis: achareis um menino envolto em paninhos e reclinado num presépio".No mesmo instante, juntou-se ao anjo uma multidão de espíritos celestes que cantavam louvores ao Senhor e diziam: "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade".

5. OS PASTORES VÃO AO PRESÉPIOQuando os anjos subiram ao céu, os pastores disseram uns aos outros: "Vamos a Belém para ver o que lá se sucedeu". Foram apressadamente e encontraram Maria, José e o Menino deitado no presépio. Contemplaram-no e contaram o que lhes tinha sido dito sobre este Menino. Depois voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto.

A Infância de Jesus

6. A APRESENTAÇÃO DO MENINO JESUS NO TEMPLOQuarenta dias após o nascimento do Menino, Maria e José levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor.Havia então em Jerusalém um velho, chamado Simeão, homem justo e temente a Deus, a quem o Espírito Santo tinha revelado que não morreria antes de ter visto o Salvador. Levado por inspiração divina, Simeão foi ao templo. Recebeu o Menino Jesus nos seus braços e louvou a Deus, dizendo: "Agora posso morrer em paz porque os meus olhos viram o Senhor".Também havia em Jerusalém uma piedosa viúva de 84 anos, chamada Ana. Servia a Deus, noite e dia, em jejuns e orações. Apareceu também nessa ocasião e pôs-se a louvar ao Senhor.

7. OS MAGOS ADORAM O MENINO JESUSDepois do nascimento de Jesus em Belém, vieram uns magos do Oriente a Jerusalém e perguntaram: "Onde está o Rei dos judeus que nasceu há pouco? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo".Ouvindo isto, o rei Herodes perturbou-se. Perguntou aos doutores da Lei onde devia nascer o Messias. Disseram-lhe: "Em Belém de Judá". Então Herodes mandou os magos a Belém e disse-lhes: "Quando encontrardes o Menino, venham me dizer para que também eu vá adorá-lo".Os magos partiram. A estrela ia sempre à frente deles até parar sobre a casa onde estava o Menino. Os magos entraram e encontraram o Menino com Maria, sua Mãe. Prosttraram-se logo para o adorar e ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra.De noite, Deus avisou-os de que não voltassem a Herodes. Por isso, retornaram para sua terra por outro caminho.

8. A SAGRADA FAMÍLIA FOGE PARA O EGITOQuando os magos partiram, um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse-lhe: "Levanta-te, toma o Menino e sua Mãe e foge para o Egito porque Herodes procura o Menino para o matar". José levantou-se e nessa mesma noite partiu para o Egito com o Menino e sua Mãe.Vendo que os magos não haviam retornado, Herodes ficou muito irritado e

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mandou matar todos os meninos de Belém e arredores, da idade de dois anos para baixo.Depois da morte de Herodes, o anjo do Senhor apareceu a José e disse-lhe: "Levanta-te, toma o Menino e sua Mãe e volta para a terra de Israel". José levantou-se, pôs-se a caminho para a terra de Israel e foi residir em Nazaré. Nesta cidade, Jesus foi crescendo, cheio de sabedoria e a graça de Deus estava com ele.

9. O MENINO JESUS FICA NO TEMPLOTodos os anos os pais de Jesus iam a Jerusalém por ocasião da festa da Páscoa. Quando Jesus chegou à idade de doze anos, foi também com eles.Depois da solenidade, Maria e José regressaram, mas o Menino ficou em Jerusalém sem que os pais percebessem. Julgando que ele estava em outro grupo, andaram um dia de caminho. Depois, procuraram-no entre os parentes e conhecidos.Não o tendo encontrado, voltaram a Jerusalém, em busca dele. Foram ao templo e lá o encontraram, sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os. Todos estavam admirados com a sua sabedoria e as suas respostas. A Mãe disse-lhe: "Meu filho, por que fizeste assim? Teu pai e eu estávamos aflitos procurando-te". Jesus respondeu: "Por que me procuráveis? Não sabíeis que estava na casa de meu Pai?".Jesus voltou a Nazaré com seus pais. Prestava-lhes obediência e crescia em sabedoria, em idade e em graça, diante de Deus e dos homens.

A Vida Pública de Jesus (30 d.C.)

10. JOÃO BATISTA ANUNCIA O SALVADORNaquele tempo, o Senhor falou a João, filho de Zacarias, no deserto.João vestia peles de camelo, usava uma cinta de couro em torno dos rins e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. Percorreu toda a região do Jordão, a pregar o batismo de penitência para a remissão dos pecados, dizendo: "Fazei penitência porque o reino dos céus está próximo!". Acorria gente de Jerusalém e de toda a Judéia, e todos eram batizados por ele no Jordão, confessando os seus pecados.Muitos perguntavam se João não seria o Cristo, mas ele disse a todos: "Eu vos batizo com água, para penitência. Mas virá alguém mais forte do que eu, de quem eu não sou digno de desamarrar as correias das sandálias. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo".

11. JESUS É BATIZADO POR JOÃOAos trinta anos de idade, Jesus foi de Nazaré da Galiléia para as margens do rio Jordão, para receber o batismo de João. Tendo sido batizado pelo precursor, Jesus saiu da água e pôs-se em oração. E eis que os céus se abriram e o Espírito de Deus desceu visivelmente sobre ele, em forma de pombo. Então ouviu-se uma voz do céu que dizia: "Este é o meu Filho amado no qual pus a minha complacência".

12. JESUS É TENTADO PELO DEMÔNIODepois, Jesus foi conduzido ao deserto pelo Espírito Santo, para ser tentado pelo demônio. E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, teve fome. Então Satanás se aproximou e disse-lhe: "Se és o Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães". Jesus respondeu: "Está escrito: 'nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus'".Então o demônio transportou-o à Cidade Santa e, pondo-o sobre o pináculo do templo, disse-lhe: "Se és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo pois está escrito: 'confiou aos seus anjos o cuidado de ti e eles te tomarão as mãos

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para que não tropeces o teu pé em alguma pedra'". Jesus disse-lhe: "Também está escrito: 'não tentarás o Senhor teu Deus'".Novamente o demônio o transportou, desta vez para um monte muito alto e, mostrando-lhe todos os reinos do mundo com a sua magnificência, disse-lhe: "Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares". Então Jesus disse-lhe: "Sai, Satanás, porque está escrito: 'somente ao Senhor adorarás e somente a ele servirás'". Finalmente o demônio se retirou e logo os anjos se aproximaram de Jesus para o servir.

Os Apóstolos de Jesus

13. JESUS CHAMA OS SEUS PRIMEIROS DISCÍPULOSNaquele tempo, João viu Jesus aproximar-se dele e disse: "Eis o Cordeiro de Deus, eis o que tira o pecado do mundo! Vi o Espírito descer do céu em forma de pomba e repousar sobre Ele. Eu não o conhecia, mas o que me mandou batizar em água disse-me: 'Aquele sobre quem vires descer e repousar o Espírito é o que batiza no Espírito Santo'. Eu o vi e dou testemunho de que ele é o Filho de Deus".Dois discípulos de João ouviram-no dizer de Jesus: "eis o Cordeiro de Deus" e logo resolveram segui-lo. Jesus voltou-se para eles e perguntou: "O que vós buscais?". Eles disseram-lhe: "Mestre, onde moras?". Jesus respondeu: "Vinde e vede". Foram e ficaram com ele durante todo aquele dia. Esses dois discípulos chamavam-se André e João.André encontrou seu irmão Simão e disse-lhe: "Encontramos o Messias, que é o Cristo". E levou-o a Jesus. Jesus olhou para ele e disse: "Tu és Simão, filho de Jonas; hás de chamar-te Cefas" que quer dizer Pedro (isto é, rochedo).No dia seguinte, Jesus encontrou Filipe e disse-lhe: "Segue-me". Filipe encontrou Natanael e disse-lhe: "Encontramos aquele que foi anunciado por Moisés e pelos profetas: Jesus de Nazaré, filho de José". Natanael respondeu-lhe: "Acaso poderá sair coisa boa de Nazaré?". Filipe disse-lhe: "Venha ver". Jesus viu Natanael aproximar-se e disse a seu respeito: "Cá está um verdadeiro israelita que não engana ninguém". Natanael perguntou-lhe: "De onde me conheces?". Jesus respondeu: "Antes de Filipe te chamar, eu já tinha te visto debaixo da figueira". Natanael disse-lhe: "Mestre, vós sois o Filho de Deus! Vós sois o Rei de Israel!".

14. JESUS MANIFESTA SEU PODER EM CANÁEstava Jesus, com seus discípulos, a assistir a umas bodas em Caná da Galiléia. Faltando o vinho, Maria aproximou-se dele e disse-lhe: "Eles não têm mais vinho". Jesus respondeu: "Por que vos incomodais com isso? Ainda não chegou a minha hora". Então sua Mãe disse aos que serviam: "Fazei tudo o que Ele vos mandar".Ora, havia ali seis cântaros de pedra destinados às purificações dos judeus, cada um dos quais levava duas ou três medidas. Jesus disse: "Enchei esses cântaros de água". Encheram até o topo. Então Jesus disse-lhes: "Tirai o vinho e levai-o ao chefe da mesa". E assim fizeram.Quando o chefe provou a água mudada em vinho, sem saber de onde viera, embora os serventes o soubessem, dirigiu-se ao esposo e disse-lhe: "Todos costumam dar primeiro o vinho bom e, após os convidados já terem bebido bastante, servem o pior. Mas tu guardaste até agora o melhor vinho".Este foi o primeiro milagre de Jesus em Caná da Galiléia. Foi assim que ele manifestou a sua glória e os seus discípulos creram nele.

15. OS DISCÍPULOS SEGUEM A JESUSJesus estava à beira do lago de Genesaré, entrou no barco de Simão Pedro e

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começou a ensinar a multidão. Quando acabou de falar, disse a Simão: "Entre mar adentro e joga as redes para pescar". Simão respondeu: "Meste, trabalhamos a noite toda e não apanhamos nada. Mas em atenção à tua palavra, vamos lançar as redes". Assim fizeram e apanharam tanto peixe que a rede quase arrebentou. Acenaram aos companheiros que estavam na outra barca, para que viessem ajudá-los. Eles vieram e as duas barcas ficaram tão cheias de peixes que por pouco não afundaram.Vendo isto, Simão Pedro lançou-se aos pés de Jesus e disse: "Senhor, afastai-vos de mim, que sou um homem pecador". Jesus disse-lhe: "Não temais. De agora em diante serás pescador de homens".Levaram as barcas para terra e deixaram tudo para seguir a Jesus.

16. JESUS ESCOLHE OS 12 APÓSTOLOSNaquele tempo, Jesus retirou-se para um monte e passou toda a noite em oração. Quando raiou o dia, chamou os discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais chamou apóstolos.Eram: Simão (também chamado Pedro) e seu irmão André; Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João; Filipe e Bartolomeu; Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e seu irmão Judas Tadeu; Simão, chamado Zelota e Judas Iscariotes, que foi o traidor.Mais tarde escolheu 72 discípulos. Sem os igualar aos apóstolos, mandou-os também a pregar o Evangelho.

17. JESUS PROMETE O PRIMADO A PEDROAndando Jesus pelo território de Cesaréia de Filipe, perguntou aos seus discípulos: "Quem os homens dizem que eu sou?". Eles responderam: "Uns dizem que sois João Batista, outros Elias, outros Jeremias ou algum dos profetas". Então Jesus disse-lhes: "E vós, quem dizeis que eu sou?". Simão Pedro respondeu: "Vós sois o Cristo, o Filho do Deus vivo".Jesus disse-lhe: "Bem-aventurado és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne e o sangue que te revelevou isso, mas meu Pai que está nos céus. E eu digo-te: tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do reino dos céus: tudo o que ligares sobre a terra, será ligado também nos céus; tudo o que desligares sobre a terra, será desligado também nos céus".

Jesus, Nosso Divino Mestre

18. A TRANSFIGURAÇÃOUm dia, Jesus foi com três dos seus apóstolos, Pedro, Tiago e João, a um monte alto e transfigurou-se diante deles. A sua face resplandeceu como o sol e as suas vestes alvejaram como a neve. Ao mesmo tempo apareceram Moisés e Elias falando com ele.Tomando a palavra, Pedro disse a Jesus: "Senhor, é bom estarmos aqui. Se quiserdes, armaremos aqui três barracas, uma para vós, outra para Moisés e outra para Elias".Mas, de repente, uma nuvem luminosa os envolveu e do meio da nuvem ouviu-se uma voz: "Este é o meu filho dileto em quem pus toda a minha complacência. Escutai-o".Ouvindo estas palavras, os discípulos caíram por terra e ficaram com muito medo. Porém, Jesus se aproximou deles e os tocou, dizendo: "Levantai-vos e não temais". Então ergueram os olhos e não viram mais ninguém a não ser Jesus.

19. AS BEM-AVENTURANÇASDe toda a parte acorriam multidões para ouvir as palavras de Jesus. Certa

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vez, Jesus subiu a um monte, sentou-se e começou a ensinar, dizendo:"Bem-aventurados os pobres de espírito porque deles é o reino dos céus.Bem-aventurados os mansos porque possuirão a terra.Bem aventurados os que choram porque serão consolados.Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque serão saciados.Bem-aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia.Bem-aventurados os puros de coração porque verão a Deus.Bem-aventurados os pacíficos porque serão chamados filhos de Deus.Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça porque deles é o reino dos céus.Alegrai-vos e exultai porque grande é a vossa recompensa nos céus".

20. A LEI DO AMORCerto dia, um doutor da Lei perguntou a Jesus: "Mestre, qual o maior mandamento da Lei?".Jesus disse-lhe: "Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. Este é o maior e o primeiro dos mandamentos. O segundo é semelhante a este: amarás o teu próximo como a ti mesmo".Jesus também disse: "Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos perseguem e caluniam. Assim sereis filhos do vosso Pai que está nos céus e que faz nascer o sol para os bons e os maus, além de enviar a sua chuva aos justos e aos pecadores".

21. A ORAÇÃO DO SENHORCerto dia que Jesus voltava de orar num lugar solitário, disseram-lhe os discípulos: "Senhor, ensinai-nos a orar". Então Jesus disse: "Quando orardes, dizei assim: Pai nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém".Depois Jesus disse: "Pedi e recebereis; procurai e achareis; batei e abrir-se-vos-á!Se porventura algum de vós pedir pão a seu pai dar-lhe-á ele uma pedra? Ou se lhe pedir um peixe, dar-lhe-á ele uma serpente? Ou se lhe pedir um ovo, dar-lhe-á ele um escorpião? Se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celestial dará espírito bom aos que lhe pedirem?Digo-vos ainda que, se dois de vós se unirem na terra e pedir qualquer coisa, esta lhe será concedida por meu Pai que está nos céus. Porque, onde estiverem dois ou três pessoas reunidas em meu nome, eu estarei no meio delas".

22. DEVEMOS ORAR COM HUMILDADEJesus também propôs esta parábola: "Entraram dois homens no templo para orar: um era fariseu e o outro era cobrador de impostos. O fariseu, em pé, gritava: 'Graças te dou, ó Deus, porque não sou como os outros homens: ladrões, ímpios, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de tudo o que possuo'. Porém, o cobrador de impostos, conservando-se a distância, não ousava sequer levantar os olhos para o céu, mas batia no peito dizendo: 'Tende piedade de mim, ó Deus, porque sou pecador'. Digo-vos que este voltou justificado para sua casa e não o outro porque quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado".

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23. DEVEMOS PROCURAR OS BENS DO CÉUJesus ainda disse: "Não vos preocupeis demais com o vosso sustento. Vede as aves do céu: elas não semeiam, não colhem, nem juntam no celeiro; mas o vosso Pai celeste as sustentam. Acaso vós não valeis muito mais do que elas?Não vos inquieteis com o que haveis de vestir. Vede como crescem os lírios do campo: não trabalham, nem fiam; contudo eu vos digo: nem Salomão, em toda a sua magnificência, se vestiu como um deles.Não vos aflijais, dizendo: 'Que haveremos de comer ou de beber? Com que havemos de nos vestir?'. O vosso Pai do céu sabe que precisais de tudo isso. Mas, em primeiro lugar, buscai o reino de Deus e a sua justiça e tudo mais vos será dado por acréscimo".

24. JESUS ENSINA A PRATICAR BOAS OBRASDisse Jesus: "Nem todo aquele que me diz 'Senhor, Senhor!' entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse entrará no reino dos céus.Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homem com o fim de serdes vistos por eles; de outra sorte, não sereis remunerados pelo vosso Pai que está nos céus. Quando deres esmola, não façais tocar a trombeta diante de vós, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas para serem honrados pelos homens. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. Quando deres esmola, não saiba a vossa mão esquerda o que faz a direita para que a vossa esmola fique em segredo e o vosso Pai, que vê no segredo, vos pagará".Certo dia, Jesus estava no templo em frente da caixa de esmolas e observava o povo que ali deixava dinheiro. Alguns ricos davam muito, mas chegou também uma pobre viúva que colocou duas moedinhas. Jesus chamou os discípulos e disse-lhes: "Em verdade vos digo: esta pobre viúva deu mais que todos os outros porque os outros deram o que tinham de sobra enquanto que ela deu, em sua pobreza, tudo o que tinha".

25. JESUS MANDA OBEDECER AS AUTORIDADESCerta vez, os fariseus quiseram armar uma cilada para Jesus. Mandaram seus discípulos juntamente com os herodianos perguntarem-lhe: "Mestre, conhecemos a vossa retidão e sabemos que ensinais o caminho de Deus segundo a verdade, sem querer agradar ninguém pois não fazeis distinção de pessoas. Dizei-nos portanto: é lícito ou não pagar o tributo a César?".Jesus, percebendo a malícia, respondeu: "Por que me tentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo".Eles mostraram-lhe o dinheiro e Jesus disse-lhes: "De quem é esta imagem e esta inscrição?". Responderam: "De César". Disse-lhes então Jesus: "Pois dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus".

26. A VIDA PRESENTE PREPARA A ETERNIDADEJesus disse: "Havia um homem rico, que se vestia de púrpura e de linho fino e que todos os dias preparava um banquete esplêndido. Havia também um mendigo chamado Lázaro que jazia à sua porta, coberto de chagas. Este desejava saciar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico, mas ninguém as dava. E os cães vinham lamber-lhe as feridas.Ora, certo dia o mendigo morreu e os anjos o levaram para o seio de Abraão. O rico também morreu e foi levado para o inferno. Enquanto estava sendo atormentado, levantou os olhos e viu Abraão ao longe e Lázaro no seu seio. Gritando, disse: 'Pai Abraão, tende piedade de mim e mandai Lázaro molhar a ponta do dedo na água para me refrescar a língua porque sofro terrivelmente nestas chamas'. Abraão respondeu-lhe: 'Filho, lembra-te que

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recebeste os bens em vida e Lázaro, ao contrário, os males. Por isso, agora ele é consolado e tu és atormentado'. Disse o rico: 'Pai, peço-vos ao menos que o mandeis a minha casa para que avise os meus irmãos para que também eles não venham para este lugar de tormentos'. Abraão respondeu: 'Eles têm Moisés e os profetas. Que os ouçam'. Ele, porém, insistiu: 'Não, pai Abraão! Se algum dos mortos for até eles, farão penitência'. Abraão disse: 'Se não ouvem Moisés e os profetas, tão pouco acreditariam ainda que algum dos mortos ressuscitasse'".

27. NO FIM, TODOS SERÃO JULGADOSJesus ainda disse: "No fim do mundo, Deus voltará com todos os anjos. Assentar-se-á no seu trono de glória e todas as nações se reunirão diante dele. Os bons estarão à direita e os maus à esquerda.Dirá então aos da direita: 'Vinde, benditos de meu Pai. Possuí o reino que vos está preparado desde a criação do mundo'. Depois dirá aos da esquerda: 'Afastai-vos de mim, malditos. Ide para o fogo eterno preparado para o demônio e seus anjos'. Estes irão para o suplício eterno e os justos para a vida eterna".

As Parábolas do Reino de Deus

28. A PARÁBOLA DO SEMEADORNaquele tempo, juntara-se em torno de Jesus enorme multidão que viera das cidades vizinhas. E Jesus contou-lhes esta parábola: "O semeador saiu para semear as suas sementes. E, enquanto semeava, uma parte caiu ao longo do caminho e foi calcada pelos pés e comida pelas aves dos céus. Outra parte caiu entre as pedras e, quando germinou, secou por falta de umidade. Outra parte caiu entre os espinhos e estes a sufocaram. Outra parte, enfim, caiu em boa terra e, depois de crescer, produziu frutos em todas as unidades. Quem tem ouvido para ouvir, ouça!".

29. EXPLICAÇÃO DA PARÁBOLA DO SEMEADOROs discípulos perguntaram a Jesus o que significava esta parábola e ele disse: "Eis a explicação da parábola: a semente é a Palavra de Deus. A que caiu ao longo do caminho, são aqueles que a ouvem, mas depois vem o demônio e tira-lhes a palavra do coração para que não se salvem crendo. A que cai entre as pedras são os que ouvem a palavra e a recebem com gosto, mas como não têm raízes, crêem por certo tempo e depois voltam atrás com a tentação. A que caiu entre os espinhos são aqueles que ouviram a palavra, mas depois de sufocados pelas riquezas e prazeres deste mundo, não dão fruto. Enfim, a que cai em terra boa são aqueles que recebem a palavra com boas disposições e produzem fruto pela perseverança".

30. A PARÁBOLA DO JOIO E DO TRIGOJesus disse: "O reino dos céus é semelhante ao homem que semeou boa semente em seu campo. Enquanto os empregados dormiam, seu inimigo veio, semeou joio no meio do trigo e foi embora. Quando o trigo cresceu e espigou, apareceu também o joio. Então os empregados procuraram seu senhor e disseram-lhe: 'Senhor, não semeaste boa semente no teu campo?' De onde veio o joio?'. Ele respondeu: 'Foi algum inimigo meu'. Os criados perguntaram: 'Quereis que nós o arranquemos?'. Ele respondeu-lhes: 'Não pois se arrancardes o joio, arrancareis também o trigo. Deixai crescer tudo até a ceifa e então direi aos ceifadores: arrancai primeiro o joio, atai-o em feixes e queimem-no; colhei depois o trigo e guardai-o no celeiro'".

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31. EXPLICAÇÃO DA PARÁBOLA DO JOIO E DO TRIGOOs discípulos disseram-lhe: "Explicai-nos esta parábola". Jesus respondeu: "O que semeia a boa semente é o Filho do Homem. O campo é o mundo. A boa semente são os filhos do reino. O joio são os filhos da iniqüidade. O inimigo que o semeou é o demônio. O tempo da ceifa é o fim do mundo. Os ceifadores são os anjos. Assim como o joio é arrancado e queimado no fogo, assim também será no fim do mundo. O Filho do Homem enviará os seus anjos a arrancar do seu reino todos os que praticam o mal, para os lançar na fornalha ardente, onde haverá choro e ranger de dentes. Então os justos resplandecerão como o sol no reino de seu Pai".

32. A PARÁBOLA DO GRÃO DE MOSTARDAJesus disse ainda: "O reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda, que um homem tomou e semeou no seu campo. É a menor de todas as sementes, mas depois de crescer, torna-se a maior de todas as leguminosas e faz-se árvore, de sorte que as aves do céu vêm abrigar-se nos seus ramos".

Os Milagres de Jesus

33. JESUS ACALMA UMA TEMPESTADE NO MARCerto dia, Jesus estava na margem do lago de Genesaré e entrou numa barca juntamente com seus discípulos. E eis que formou-se uma violente tempestade no mar e as ondas cobriram a barca.Mas Jesus estava dormindo. Então os discípulos se aproximaram dele e despertaram-no, dizendo: "Senhor, salvai-nos pois afundaremos".Jesus disse-lhes: "Por que tendes medo, homens de pouca fé?". Levantando-se, mandou o vento e o mar se acalmarem e no mesmo instante tudo ficou em bonança.Admirados, os discípulos diziam: "Quem é este a quem até o vento e o mar obedecem?".

34. JESUS MULTIPLICA OS PÃESNum dia em que muita gente estava reunida à sua volta, Jesus disse aos discípulos: "Onde poderemos comprar comida para toda esta gente?". Um deles respondeu: "Temos aqui um menino que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas o que é isso para tamanha multidão?".Jesus disse: "Dizei ao povo para que se sente". Todos se sentaram. Eram quase cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças. Então Jesus tomou os cinco pães, deu graças e mandou-os distribuir à multidão. Fez o mesmo com os peixes. E todos comeram o quanto quiseram.Estando todos saciados, Jesus disse aos discípulos: "Recolham o que sobrou, para nada seja desperdiçado". Eles juntaram tudo e encheram doze cestos.

35. JESUS CURA O SERVO DO CENTURIÃOCerto dia, um centurião foi encontrar Jesus e disse-lhe: "Senhor, tenho em casa um criado com paralisia, que está com muitas dores".Jesus disse-lhe: "Eu vou lá curá-lo". O centurião respondeu: "Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha casa, mas dizei uma só palavra e meu servo ficará curado". Então Jesus disse: "Vai e faça-se como crês". Nessa mesma hora, o criado ficou curado.

36. JESUS CURA UM SURDO-MUDOCerto dia, levaram a Jesus um homem surdo-mudo e pediram a Jesus que lhe impusesse as mãos. Jesus colocou seus dedos nos ouvidos do surdo-mudo e

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também colocou saliva na língua dele. Depois, levantou os olhos ao céu e disse: "Abri-vos!". E logo o surdo-mudo ficou curado.

37. JESUS CURA UM LEPROSOCerta vez, um leproso prostrou-se diante de Jesus e disse-lhe: "Senhor, se vós quiserdes, podeis curar-me". Jesus, estendendo a mão, tocou-o e disse: "Quero! Sê curado". E logo ficou curado da sua lepra. Jesus disse-lhe então: "Vai agora mostrar-te ao sacerdote e apresenta a oferta prescrita por Moisés".

38. JESUS CURA UM CEGODoutra vez, chegando Jesus perto de uma cidade, um cego esta sentado à beira do caminho, pedindo esmola. Disseram-lhe que Jesus ia passar por ali e ele começou a gritar: "Jesus, tende piedade de mim". Jesus perguntou-lhe: "O que queres que eu faça?". O cego respondeu: "Fazei que eu venha a enxergar". Jesus disse-lhe: "Vê! A tua fé te salvou!". Imediatamente o cego passou a ver e acompanhou Jesus, glorificando a Deus.

39. JESUS RESSUSCITA UM JOVEMJesus chegou a uma cidade chamada Naím, acompanhado pelos discípulos e uma grande multidão. Às portas da cidade, encontrou um morto que era levado para o cemitério. Era o filho único de uma pobre viúva. Muitas pessoas da cidade acompanhavam o enterro.Ao ver a mãe, Jesus comoveu-se e disse-lhe: "Não chores". Depois, aproximou-se e tocou no caixão. Os que o carregavam pararam. Jesus disse ao morto: "Jovem, eu te ordeno: levanta-te". O morto levantou-se e começou a falar e Jesus o entregou à sua mãe.À vista deste espetáculo, todos ficaram cheios de temor e glorificaram a Deus, dizendo: "Grande profeta surgiu entre nós e Deus visitou o seu povo".

40. JESUS RESSUSCITA LÁZAROUm amigo de Jesus, chamado Lázaro, adoecera em Betânia. Suas irmãs, Marta e Maria, mandaram dizer a Jesus: "Senhor, aquele que amais está enfêrmo". Tendo recebido esta mensagem, Jesus ficou ainda dois dias no lugar onde estava. Depois, disse aos discípulos: "Nosso amigo Lázaro dorme, mas despertá-lo-ei do sono". Os discípulos disseram: "Senhor, se ele dorme, está salvo". Então Jesus disse-lhes claramente: "Lázaro morreu e eu, por amor a vós, alegro-me de não ter estado lá, para que acrediteis. Mas vamos encontrá-lo".Quando Jesus chegou, Lázaro estava no túmulo há quatro dias. Marta saiu-lhe ao encontro e disse: "Senhor, se tivésseis estado aqui antes, meu irmão não teria morrido". Respondeu-lhe Jesus: "Teu irmão ressuscitará". Disse-lhe Marta: "Eu sei que ele ressuscitará no último dia". Disse-lhe Jesus: "Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo o que vive e crê em mim, não morrerá eternamente. Crês nisto?". Ela respondeu: "Sim, Senhor. Eu creio que vós sois o Cristo, Filho do Deus Vivo que veio a este mundo".Então Jesus se dirigiu ao sepulcro: era uma gruta que tinha uma pedra fechando-lhe a abertura. Jesus disse: "Tirai a pedra". Marta observou: "Senhor, já tem mau cheiro porque ele está aí há quatro dias". Jesus respondeu: "Se creres, verás brilhar a glória de Deus". Tiraram a pedra e Jesus bradou em alta voz: "Lázaro, sai daí". E, imediatamente, o que estivera morto saiu, com os pés e mãos amarrados por ataduras e com o rosto envolto num sudário. Jesus disse então: "Desatai-o e deixai-o ir".Muitos judeus, testemunhas deste milagre, creram em Jesus.

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Jesus, o Bom Pastor

41. JESUS É O BOM PASTORNaquele tempo, Jesus disse: "Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas. Eu conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas me conhecem e eu dou a vida pelas minhas ovelhas. Tenha também outras ovelhas que não são deste aprisco e importa que eu as traga; e elas ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor".

42. JESUS E A CONVERSÃO DOS PECADORESOs fariseus murmuravam contra Jesus, dizendo: "Ele recebe os pecadores e come com eles". Então Jesus contou esta parábola: "Qual de vós, tendo cem ovelhas e perdendo uma, não deixa as noventa e nove no deserto para correr atrás daquela que se perdeu até encontrá-la? E quando a encontra, coloca-a com alegria sobre os ombros e, entrando em casa, reúne os amigos e vizinhos e diz-lhes: 'Alegrai-vos comigo porque encontrei a ovelhinha perdida'. Eu vos digo: assim também haverá alegria no céu por um só pecador que faça penitência".

43. PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGOJesus disse: "Um homem tinha dois filhos e o mais novo disse ao pai: 'Pai, dai-me a parte dos bens que me pertence'. E o pai repartiu os bens entre eles. Passados alguns dias, o mais novo juntou tudo o que era seu e partiu para uma terra distante onde dissipou seus bens.Houve então grande fome nessa terra. E o rapaz, como já não tinha nada, colocou-se a serviço de um homem que o mandou para os campos tomar conta dos porcos. E ele queria saciar sua fome com a lavagem dos porcos, mas ninguém a dava. Caindo em si, disse: 'Retornarei para meu pai e direi: Pai, pequei contra o céu e contra vós. Já não sou digno de ser chamado vosso filho. Tratai-me como um de vossos servos'.E pôs-se logo a caminho. Seu pai avistou-o ainda de longe e, cheio de compaixão, correu ao seu encontro para abraçar e beijar. Disse-lhe o filho: 'Pai, pequei contra o céu e contra vós. Já não sou digno de ser chamado vosso filho'. Mas o pai disse aos criados: 'Trazei depressa as vestes mais preciosas e dai-lhe; coloque-lhe um anel no dedos e sandálias nos pés. Matai um cordeiro gordo para fazermos um banquete porque este meu filho estava morto e reviveu, andava perdido e foi encontrado".

44. JESUS AMA AS CRIANÇASTraziam também a Jesus as criancinhas para que lhes impusesse as mãos e orasse sobre elas. Os discípulos queriam afastá-las, mas Jesus disse: "Deixai vir a mim os pequeninos e não os afasteis porque o reino dos céus é deles e dos que se parecem com eles". E pegava nelas ao colo, impunha-lhes as mãos e abençoava-as.Um dia os discípulos perguntaram-lhe: "Mestre, quem será o maior no reino dos céus?". Jesus chamou uma criancinha e, colocando-a no meio deles, disse-lhes: "Em verdade vos digo: se vós não vos converterdes e não vos tornares como crianças, não entrareis no reino dos céus"

Os Últimos Dias de Jesus

45. JESUS ENTRA TRIUNFALMENTE EM JERUSALÉMNaquele tempo, Jesus aproximou-se de Jerusalém e disse a dois dos seus discípulos: "Ide à aldeia que está a vossa frente e logo encontrareis uma jumenta e o seu jumentinho com ela. Desamarrai-os e me tragam. Se vos disserem alguma coisa, respondei que o Senhor precisa deles e logo os

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deixarão trazer".Os discípulos fizeram como Jesus lhes ordenou. Trouxeram a jumenta e o jumentinho, estenderam suas vestes sobre eles e montaram Jesus.Muita gente estendia no caminho suas vestes; outros cortavam ramos de árvores e punham sobre a estrada. E toda a multidão aclamava Jesus, dizendo: "Bendito o que vem em nome do Senhor".

46. JESUS CHORA SOBRE JERUSALÉMÀ vista da cidade, Jesus chorou sobre ela e disse: "Ai! Se ao menos neste dia soubesses reconhecer aquele que seria a tua salvação! Dias virão em que os teus inimigos hão de te cercar por todos os lados, te destruirão completamente junto com os que se abrigam dentro de teus muros e não deixarão pedra sobre pedra porque não soubeste aproveitar o tempo da salvação".No dia seguinte, mostrando o templo e suas construções aos discípulos, disse-lhes: "Vedes este grandioso edifício? Em verdade vos digo: não ficará pedra sobre pedra".

47. JESUS CELEBRA A ÚLTIMA PÁSCOANa véspera da sua paixão, à tarde, Jesus pôs-se à mesa com os discípulos para comer o cordeiro pascal. A certo momento, levantou-se, colocou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com uma toalha. Chegando a vez de Simão Pedro, este disse-lhe: "Senhor, vós irás lavar os meus pés?". Jesus respondeu: "O que eu faço tu não o sabes agora, mas irás saber depois". Disse-lhe Pedro: "Não permitirei que o faças". Jesus respondeu: "Neste caso, não terás parte comigo". Disse-lhe Simão Pedro: "Senhor, se é assim, então não me laveis só os pés, mas também as mãos e a cabeça".Tendo acabado de lavar os pés de todos os apóstolos, disse-lhes Jesus: "Compreendeis o que vos fiz? Dei-vos o exemplo para que o façais uns aos outros como eu vos fiz a vós".

48. JESUS INSTITUI A SAGRADA EUCARISTIADepois da refeição, Jesus tomou o pão, deu graças, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: "Tomai e comei. Isto é o meu Corpo que é dado por vós".Da mesma forma, tomou o cálice, deu graças e o entregou aos discípulos, dizendo: "Tomai e bebei todos vós. Isto é o meu Sangue, o Sangue da nova e eterna aliança que será derramado por vós e por todos os homens para a remissão dos pecados. Fazei isto em minha memória".Jesus cumpriu assim a promessa que fizera, quando disse: "Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. O pão que vos darei é a minha própria carne para a vida do mundo. A minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue está em mim e eu nele".

49. JESUS DECLARA A TRAIÇÃO DE JUDASDurante a ceia, Jesus disse: "Em verdade vos digo: um de vós há de entregar-me". Os discípulos começaram a olhar uns para os outros, perguntando entre si qual deles faria tal coisa. João, o discípulo predileto, estava encostado sobre o lado de Jesus. Simão Pedro perguntou-lhe por sinais: "De quem ele fala?". João reclinou-se sobre o peito de Jesus e perguntou-lhe: "Senhor, quem será?". Jesus respondeu: "Será aquele a quem eu der um pedaço de pão molhado". E, molhando o pão, entregou-o a Judas Iscariotes. Este disse: "Por ventura serei ei, Mestre?". Jesus respondeu-lhe: "Tu o disseste! O que tiverdes que fazer, faça-o depressa".Como Juda tinha uma bolsa, alguns julgaram que Jesus lhe dissera: "Compra

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o que for preciso para o dia da festa" ou "Dá algo aos pobres". Judas engoliu o pedaço de pão e Satanás tomou posse dele. Saiu imediatamente. Já era noite.

A Paixão de Jesus

50. JUDAS VENDE O SENHORO apóstolo Judas foi encontrar-se com os príncipes dos judeus e disse-lhes: "O que me dais se vos entregar Jesus". Ofereceram-lhe trinta moedas e ele aceitou.

51. JESUS NO JARDIM DAS OLIVEIRASSaindo do Cenáculo, Jesus atravessou a torrente do Cedron e dirigiu-se, com seus discípulos, para o monte das Oliveiras.Chegando a um lugar chamado Getsêmani, onde havia um jardim, entrou nele com os discípulos e disse-lhes: "Sentai-vos aqui enquanto eu vou orar".Levou consigo Pedro, Tiago e João e disse-lhes: "A minha alma está triste até à morte. Ficai aqui e vigiai comigo". Depois, andou um pouco, pôs-se de joelhos e orou, dizendo: "Pai, se for possível, afasta de mim este cálice! Mas seja feita a vossa vontade e não a minha".Depois de orar assim por três vezes, apareceu-lhe um anjo do céu para o consolar. Jesus, prolongando a sua oração, caiu em agonia e começou a suar sangue que escorria até o chão.Depois voltou para junto dos três apóstolos, que estavam dormindo. Jesus disse-lhes: "Vamos, levantai-vos! Já está perto aquele que me traiu".

52. A PRISÃO DE JESUSJesus ainda estava falando quando chegou Judas com um grupo de soldados e servos. Todos traziam lanternas e archotes, espadas e varapaus. O traidor tinha-lhes dito: "Será aquele que eu beijar. Prendei-o".Judas aproximou-se logo de Jesus e disse: "Mestre, eu vos saúdo". E deu-lhe um beijo na face. Jesus disse-lhe: "Meu amigo, que vieste fazer? Judas, é com um beijo que entregas o Filho do Homem?".Então Jesus disse aos que acompanhavam Judas: "A quem procurais?". Eles responderam: "A Jesus de Nazaré". Jesus disse-lhes: "Sou eu". E logo caíram por terra. Jesus perguntou-lhe outra vez: "A quem procurais?". Eles repetiram: "A Jesus de Nazaré". Jesus respondeu: "Já vos disse que sou eu. Se é a mim que buscais, deixai que estes se vão". Então puseram as mãos em Jesus e o prenderam.

53. JESUS PROÍBE A RESISTÊNCIAVendo isto, os discípulos perguntaram: "Senhor, e se os feríssimos à espada?". Sem esperar a resposta, Simão puxou a espada, feriu Malco, servo do sumo-sacerdote, e cortou-lhe a orelha direita. Jesus disse: "Basta!". E, dirigindo-se a Pedro, disse: "Coloca a espada na bainha porque quem com o ferro mata, com o ferro será morto. Julgas que eu não poderia pedir a meu Pai e ele não me enviaria mais de doze legiões de anjos? Mas como se cumpririam as Escrituras, que anunciam que assim deve acontecer? Não hei de beber o cálice que o Pai me deu?". E, tocando a orelha de Malco, a curou.Depois Jesus disse aos príncipes dos sacerdotes, aos magistrados do templo e aos anciãos: "Viestes armados de espadas e varapaus para me prender, como se faz a um ladrão. Todos os dias eu estava sentado entre vós, ensinando no templo e não me prendestes. Mas é esta a vossa hora, a hora do poder das trevas. Tudo isto aconteceu para que se cumprissem as palavras dos profetas".

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Então os discípulos o abandonaram e fugiram. Só Pedro e João o seguiram de longe.

54. O SINÉDRIO CONDENA JESUS À MORTEOs soldados levaram Jesus preso ao palácio do sumo-sacerdote Caifás, onde estava reunido o Sinédrio.Os príncipes dos sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam algum falso testemunho contra Jesus, para o entregarem à morte, mas nada encontravam, embora se apresentassem muitas falsas testemunhas. Por fim, apareceram duas que declararam: "Ouvimos ele dizer: 'Posso destruir o templo de Deus e reedificá-lo em três dias. Destruirei este templo, feito pela mão do homem e em três dias edificarei outro que não será feito pela mão do homem". Mas as testemunhas não eram concordes.Então o sumo-sacerdote levantou-se e, em pé, no meio do Sinédrio, disse a Jesus: "Nada respondes aos que depõem contra ti?". Mas Jesus permaneceu em silêncio e nada respondeu. Então o sumo-sacerdote disse: "Eu te conjuro pelo Deus vivo que nos digas se és o Cristo, o Filho do Deus Altíssimo". Jesus respondeu: "Sou eu". Então o sumo-sacerdote rasgou as vestes, dizendo: "Blasfemou! Que necessidade temos de mais testemunhas? Acabais de ouvir a blasfêmia! Que vos parece?". Responderam: "É réu de morte!".

55. PEDRO NEGA O SENHOR TRÊS VEZESSimão Pedro, que tinha seguido Jesus de longe, entrou no átrio do palácio e sentou-se com outros perto de uma fogueira, a aquecer-se. Então a criada que abriu-lhe a porta aproximou-se dele e disse: "Tu também andavas com Jesus da Galiléia". Pedro negou diante de todos, dizendo: "Não era eu, mulher. Eu não o conheço, nem sei do que falas". No mesmo instante o galo cantou.Pouco depois, enquanto se dirigia para a porta, outra criada reparou ele e disse aos que o cercavam: "Este também estava com Jesus de Nazaré". Pedro protestou pela segunda vez, jurando: "Não! Eu não conheço esse homem!".Passada quase uma hora, outro veio confirmar as suspeitas, afirmando: "Certamente este estava com ele pois é galileu!". Os assistentes se aproximaram e disseram-lhe: "Não há dúvidas! Também pertenceis a eles! Até se percebe pela fala!".Um dos servos do sumo-sacerdote, parente daquele a quem Pedro cortara a orelha, disse-lhe: "Então eu não te vi com ele no jardim?". Ainda desta vez Pedro negou, protestou e jurou: "Não conheço esse homem de quem falais".Ele ainda falava quando o galo cantou pela segunda vez. Nesse instante, Jesus virou-se e bateu o olhar em Pedro. Então o apóstolo lembrou-se da palavra que o Mestre lhe dissera: "Antes que o galo cante duas vezes, tu me negarás três vezes!". Pedro saiu do palácio e chorou amargamente.

56. JESUS É RIDICULARIZADO E MALTRATADOOs criados que estavam guardando Jesus começaram a ridicularizá-lo e a maltratá-lo. Uns cuspiam-lhe no rosto e o feriam a punhaladas; outros vendavam-lhe os olhos e davam-lhe bofetadas, dizendo: "Profetiza agora, Cristo: quem te bateu?". E acrescentavam muitos outros ultrajes.Logo ao raiar do dia, os anciãos do povo, os príncipes dos sacerdotes e os doutores da Lei se reuniram e decidiram entregar Jesus à morte.Então Judas sentiu o remorso de o haver traído e foi devolver as trinta moedas de prata ao Sinédrio, dizendo: "Pequei ao entregar sangue inocente". Eles responderam: "E o que isso nos importa?. Judas arremessou o dinheiro no templo e, retirando-se, enforcou-se numa árvore.

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57. JESUS NA PRESENÇA DE PILATOSOs judeus levaram Jesus da casa de Caifás ao Pretório para o entregarem a Pôncio Pilatos, governador romano da Judéia.Pilatos saiu do Pretório e perguntou aos judeus: "Que acusação apresentais contra este homem?". Eles responderam: "Estava sublevando a nossa nação, proibindo de pagar o tributo a César e dizendo que ele é o Cristo Rei".Pilatos tornou a entrar no Pretório, chamou Jesus e perguntou-lhe: "És tu o rei dos judeus?". Jesus respondeu: "Dizes isto por ti mesmo ou foram os outros que te falaram sobre mim?". Pilatos respondeu: "Acaso eu sou judeu? A tua nação e os príncipes dos sacerdotes é que te entregaram nas minhas mãos. O que fizeste?". Jesus respondeu: "O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, certamente os meus soldados se esforçariam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui". Então Pilato disse-lhe: "Logo, tu és rei". Respondeu Jesus: "Tu o dizes: eu sou rei". Então Pilatos foi ter com os judeus e disse-lhes: "Não encontro nele crime algum". Os príncipes dos sacerdotes e os anciãos apresentavam toda espécie de acusações contra ele, mas Jesus não repondeu nada.

58. PILATOS QUER LIBERTAR JESUSTendo chamado os príncipes dos sacerdotes, os magistrados e o povo, Pilatos disse-lhes: "Apresentaste-me este homem como perturbador. Interroguei-o na vossa presença e não encontrei nenhuma das culpa de que o acusais. Vou soltá-lo depois de o castigar".Havia um preso famoso chamado Barrabás. Era um ladrão e assassino, preso por ter cometido homicídio num motim. Quando a multidão se juntou, Pilatos perguntou: "A quem quereis que eu solte: Barrabás ou Jesus chamado o Cristo".Os príncipes dos sacerdotes incitaram o povo a pedir a libertação de Barrabás e pedir a morte de Jesus. O governador, falando outra vez, disse: "Qual dos dois quereis que eu solte?". O povo gritou: "Queremos Barrabás". Pilatos, que desejava libertar Jesus, disse: "O que farei com Jesus, chamado o Cristo?". Gritaram: "Crucifica-o! Crucifica-o!".Pilatos disse-lhes ainda: "Mas que mal ele fez? Não encontro nele causa alguma de morte". Mas os judeus gritavam cada vez mais: "Crucifica-o! Crucifica-o!".

59. JESUS É FLAGELADO E COROADO DE ESPINHOSPilatos, vendo que nada conseguia, mandou vir água e lavou as mãos diante da multidão, dizendo: "Estou inocente do sangue deste justo! A vós pertence toda a responsabilidade!". O povo gritou: "Que caia o seu sangue sobre nós e nossos filhos". Cedendo às exigências, Pilatos soltou Barrabás e mandou flagelar Jesus.Em seguida, os soldados levaram Jesus para o Pretório, despojaram-no de suas vestes e puseram-lhe sobre os ombros um manto escarlate; teceram uma coroa de espinhos e enterraram-na em sua cabeça; colocaram-lhe uma cana na mão direita e, dobrando o joelho, ridicularizavam-no, dizendo: "Salve, ó rei dos judeus". Cuspiam-lhe na face e, tirando-lhe a cana da mão, batiam-lhe com ela na cabeça. Depois, davam-lhe bofetadas.

60. JESUS É CONDENADO À MORTEEntão Pilatos mandou levar Jesus à presença do povo, com a coroa de espinhos e o manto púrpura. E disse aos judeus: "Eis aqui o homem". Mas logo que o viram, os judeus gritaram: "Crucifica-o! Crucifica-o". Disse-lhes Pilatos: "Tomai-o vós e crucifiquem-no porque eu não encontro nele crime algum". Responderam-lhe os judeus: "Se o soltas, não és amigo de César".

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Aterrado, Pilatos pronunciou a sentença de morte e entregou Jesus aos judeus, para que o crucificassem.

61. JESUS É CRUCIFICADODepois de tornarem a vesti-lo com suas vestes, os soldados levaram Jesus para ser crucificado. Carregando a sua cruz, Jesus saiu da cidade a caminho do monte Calvário, também chamado Gólgota.Com ele seguiam outros dois condenados, dois malfeitores, destinados ao suplício.Pelo caminho, encontraram um homem de Cirene, chamado Simão, que voltava do campo e o obrigaram a levar a cruz atrás de Jesus.No Calvário, Jesus foi crucificado, entre os dois ladrões, um à sua direita e o outro à sua esquerda. E Jesus orava: "Pai, perdoai-os pois não sabem o que fazem".Os soldados dividiram entre si as vestes de Jesus, tirando a sorte. Como a túnica era uma peça única, lançaram a sorte para ver a quem cabia.Junto à cruz do Senhor estava Maria, sua Mãe, e o apóstolo João. Jesus disse à Mãe: "Mulher, eis aí o teu filho". Depois disse ao discípulo: "Eis aí a tua Mãe". E a partir daquele momento o discípulo tomou Maria consigo.

62. JESUS MORRE NA CRUZDepois Jesus disse: "Tenho sede!". Um dos soldados molhou a esponja em vinagre, colocou-a na ponta de uma vara e chegou-a aos lábios de Jesus. Após provar o vinagre, Jesus disse: "Tudo está consumado!".Em seguida, exclamou em alta voz: "Pai! Nas vossas mãos entrego o meu espírito". Depois destas palavras, inclinou a cabeça e expirou.Imediatamente a terra tremeu, os rochedos racharam, os túmulos se abriram e muitos mortos ressuscitaram.O centurião e os soldados que estavam de guarda disseram: "Verdadeiramente este homem era o Filho de Deus!".

63. JESUS É SEPULTADOAo anoitecer, um dos soldados traspassou com a lança o lado de Jesus. E logo saiu sangue e água.Pouco depois, dois homens piedosos e estimados, José de Arimatéia e Nicodemos, desprenderam da cruz o corpo do Senhor. Envolveram-no em um lençol de linho fino e o colocaram em um sepulcro novo, aberto no rochedo. Rolaram uma grande pedra sobre a entrada do sepulcro.Os judeus selaram a pedra e puseram soldados a guardar o sepulcro.

A Glorificação de Jesus

64. JESUS SAI DO TÚMULONa aurora do terceiro dia, Jesus ressuscitou dentre os mortos e saiu glorioso do túmulo.De repente, sentiu-se um grande tremor de terra. Do céu desceu um anjo que rolou a pedra do túmulo para o lado e se sentou em cima dela. O seu rosto brilhava como um relâmpago e os seus vestidos eram brancos como a neve. À vista do anjo, os guardas foram tomados pelo medo e caíram como mortos.

65. JESUS APARECE ÀS SANTAS MULHERESAo raiar do sol, algumas mulheres piedosas foram ao sepulcro para embalsamar o corpo de Jesus. Quando lá chegaram, viram a pedra que o fechava afastada para o lado. O anjo disse-lhes: "Procurais a Jesus de Nazaré que foi crucificado? Ressuscitou! Não está mais aqui! Ide dizer aos

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discípulos".Quando regressavam, apareceu-lhes Jesus e disse: "Eu vos saúdo!". Cheias de alegria, prostraram-se para o adorar.

66. JESUS APARECE AOS DISCÍPULOS DE EMAÚSNesse mesmo dia, dois discípulos seguiam para uma aldeia chamada Emaús e iam falando sobre os acontecimentos dos três últimos dias. Jesus aproximou-se deles, mas não o reconheceram. Perguntou Jesus: "Que conversas são essas e por que estais tão tristes?". E eles contaram-lhe. Então Jesus começou a instruí-los nestas palavras: "Não era preciso que o Cristo sofresse tais coisas para entrar na sua glória?". E explicou-lhes o que dele havia sido dito em todas as Escrituras.Quando chegaram a Emaús, pareceu-lhes que Jesus ia para mais longe. Por isso disseram-lhe: "Ficai conosco porque já é tarde e o dia se encerra". Jesus entrou com eles na hospedaria e, estando com eles à mesa, tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e o deu. Então seus olhos se abriram e puderam reconhecê-lo. Mas Jesus desapareceu imediatamente.

67. JESUS APARECE AOS APÓSTOLOS NO CENÁCULOEstando os apóstolos e os discípulos reunidos em Jerusalém, numa sala à portas fechadas, Jesus entrou de repente e disse-lhes: "A paz esteja convosco! Assim como o Pai me enviou também eu vos envio". Depois destas palavras, soprou sobre eles, dizendo: "Recebam o Espírito Santo! Àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhe-ão retidos".

68. JESUS DESIGNA PEDRO PARA CHEFE DA IGREJAUm dia, Jesus manifestou-se a sete discípulos junto do lago de Genesaré. E disse a Pedro: "Simão, filho de Jonas, tu me amas mais do que estes?". Pedro respondeu: "Sim, Senhor, vós sabeis que eu vos amo". Jesus disse-lhe: "Apascenta os meus cordeiros".Jesus perguntou pela segunda vez: "Simão, filho de Jonas, tu me amas?". Pedro respondeu: "Sim, Senhor, vós sabeis que eu vos amo". Jesus disse-lhe: "Apascenta os meus cordeiros". Perguntou ainda pela terceira vez: "Simão, filho de Jonas, tu me amas?". Pedro ficou triste porque Jesus perguntara-lhe pela terceira vez: "Tu me amas?". E respondeu: "Senhor, vós sabeis tudo, bem sabes que eu te amo". Disse-lhe Jesus: "Apascenta as minhas ovelhas".

69. A ASCENÇÃO DE JESUSQuarenta dias depois da ressurreição, Jesus apareceu mais uma vez aos apóstolos no Cenáculo, em Jerusalém. E disse-lhes: "Ide pelo mundo inteiro e ensinai todas as nações. Batizai-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo". Depois levou-os ao monte das Oliveiras e, erguendo as mãos, abençoou-os. Enquanto os abençoava, subiu ao céu. Os apóstolos estavam a vê-lo subir quando dois anjos vestidos de branco apareceram e lhes disseram: "Este Jesus tornará a descer do céu da mesma forma como o vistes subir". Os apóstolos voltaram para Jerusalém repletos de alegria.

70. O ESPÍRITO SANTO DESCE SOBRE OS DISCÍPULOSReunidos no Cenáculo, em Jerusalém, os discípulos de Jesus passaram nove dias inteiros em oração. O décimo dia era o Pentecostes dos judeus.De repente, ouviu-se do céu um ruído semelhante ao de uma tempestade, que encheu toda a casa. Ao mesmo tempo, apareceram umas línguas de fogo que pousaram sobre cada um deles. E todos começaram a falar em línguas estrangeiras.Ouvindo o ruído, muita gente acorreu até aquela casa. Pedro começou a falar: "Homens de Israel, ouvi! Este Jesus de Nazaré, que vós crucificastes,

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ressuscitou dos mortos. E eis que nos enviou o Espírito Santo".Muitos dos judeus pediram então o batismo. Eram quase três mil.

71. A IGREJA ESPALHA-SE POR TODO O MUNDODepois do Pentecostes, os apóstolos pregaram o Evangelho, primeiro aos judeus, depois aos pagãos. Muitos acolheram a doutrina de Jesus e passaram a se chamar cristãos.[A Igreja de Jesus Cristo foi se espalhando diariamente pelo mundo. É assim que a Igreja Católica existe há vinte séculos. Aumentará cada vez mais e não terminará nunca. Esta foi a promessa feita por Jesus Cristo, seu divino fundador, aos apóstolos: "Eu estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos!".]

O que é a Bíblia?

72. Ao contrário do que parece à primeira vista, a Bíblia não é um livro único e independente, mas uma coleção de 73 livros, uma mini-biblioteca que destaca o a aliança e plano de salvação de Deus para com a humanidade. É interessante observar que alguns livros possuem poucas ou até mesmo uma única página escrita, mas mesmo assim são considerados como livros.

A própria palavra Bíblia provém do grego biblos e significa livros, o que bem demonstra não ser a Bíblia um livro único. Assim, quando usamos hoje a palavra "Bíblia" nos referimos a esse conjunto de 73 livros.

Às vezes, também a chamamos de Sagradas Escrituras ou tão somente Escrituras e tratam de diversos assuntos: orações, rituais, história, sabedoria, exortações e até mesmo poesia... tudo em grande harmonia - já que inspirada por Deus - relacionando o homem com o único e verdadeiro Deus, e vice-versa.

A Bíblia é muito antiga: sua redação começou por volta do séc. XV a.C. e somente se encerrou no final do séc. I d.C.. Esse é, aliás, o motivo pelo qual muitas passagens são difíceis de serem compreendidas, obrigando-nos, às vezes, a recorrer a cursos bíblicos ou outros livros de apoio.

Autor: Carlos Martins NabetoFonte: Agnus Dei

Introdução à Bíblia

1. - A BÍBLIA É ÚNICA

A Bíblia Sagrada, por tudo o que encerra, pela maneira como foi escrita, e da forma como tem sido preservada por tantos séculos, só pode ser definida numa palavra: "única"

O dicionário define "único", como: 1. Que é um só; 2. De cuja espécie não existe outro; 3. exclusivo; excepcional; 4. a que nada é comparável; 5. superior a todos os demais.

M. Monteiro Williams, antigo professor de sânscrito, que passou 42 anos

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estudando livros orientais e comparando-os com a Bíblia, afirmou: "Se você quiser, empilhe-os no lado esquerdo de sua escrivaninha; mas coloque a sua Bíblia do lado direito - apenas ela, só ela - e que haja uma boa distancia entre a pilha de Livros e a Bíblia. Pois existe uma grande distancia entre ela e os chamados livros sagrados do Oriente, de modo que estes se opõem àquela, total, completa e definitivamente; um abismo real que nenhuma ciência do pensamento religioso conseguirá transpor" (J.Mc Dowell, "Evidencia que Exige um Veredicto", pg.19,20).

2. ÚNICA NA SUA COERÊNCIA:

É livro "diferente de todos os demais" nos seguintes aspectos (além de muitos outros):

1. Escrito durante um período de aproximadamente 1600 anos;

2. Escrito durante mais de 40 gerações;3. Escrito por cerca de 40 autores, das mais diferentes atividades, tais como:

reis, camponeses, filósofos, pescadores, poetas, estadistas, estudiosos, etc.: Moisés, um líder político, que estudou nas universidades do Egito; Pedro, um pescador; Amós, um boiadeiro; Josué, um general; Neemias um copeiro; Daniel, um diplomata; Lucas, um médico; Salomão e Davi (reis e poetas); Mateus (cobrador de impostos); Paulo (rabino); Esdras (escriba e sacerdote).

4. Escrito em diferentes lugares: no deserto; numa masmorra; nos palácios de Susã, na Pérsia; nas prisões; em viagens; numa ilha, exilado;

5. Escrito em diferentes condições e circunstâncias: em tempos de paz e em tempos de guerra; em tempos de alegria, e em tempos de profunda tristeza; em tempos de liberdade, e sob o cativeiro;

6. Escrito em três continentes: Ásia, África e Europa;7. Escrito em três idiomas:

Hebraico (a língua do Antigo Testamento) Em 2Reis 18:26-28 essa língua é chamada de "judaica"; Em Is. 19:18 é chamada de "língua de Canaã"); Aramaico (a língua "franca" do Oriente Próximo até à época de Alexandre, o grande (século VI ao século IV a.C., tendo permanecido em uso, paralelamente ao grego, por judeus e palestinos até à época de Cristo);Grego, a língua do Novo Testamento. Era o idioma de uso internacional à época de Cristo.

8. A Bíblia trata de centenas de temas controversos (aqueles que podem gerar opiniões divergentes, quando mencionado ou discutido). Os autores bíblicos falaram de centenas de temas controversos, com harmonia e coerência, desde Gênesis a Apocalipse, revelando uma única história: - "A redenção do homem por parte de Deus". Assim, o "Paraíso Perdido" de Gênesis, se torna o "Paraíso Recuperado" do Livro de Apocalipse. Enquanto que o acesso à árvore da vida está fechado em Gênesis, encontra-se aberto para todo o sempre em Apocalipse. A grande diversidade dos escritos da Bíblia tratam de: lei (civil, criminal, ética, ritual, sanitária), história, poesia religiosa e lírica, textos didáticos, parábolas e alegorias, biografia correspondência pessoal, reminiscências pessoais, diários, alem de estilos caracteristicamente bíblicos de literaturas proféticas e apocalípticas". Por tudo isso a Bíblia não é uma simples antologia. Existe uma unidade que dá coesão ao todo. Uma

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antologia é compilada por um antologista, mas nenhum antologista compilou a Bíblia.

3. ÚNICA EM CIRCULAÇÃO

A Bíblia tem sido lida por mais pessoas e publicada em mais línguas do que qualquer outro livro. Existem mais cópias impressas de toda a Bíblia e mais porções e seleções dela do que de qualquer outro livro em toda a história. Em termos absolutos não existe qualquer livro que alcance, ou que mesmo comece a se igualar à Bíblia, em termos de circulação.

O primeiro grande livro a ser impresso foi a "Vulgata" (versão da Bíblia em latim), impressa por Gutemberg.

4. ÚNICA EM TRADUÇÃO

A Bíblia foi um dos primeiros livros importantes a ser traduzido (Septuaguinta: tradução em grego do Antigo Testamento hebraico, por volta de 250a.C.). A Bíblia tem sido traduzida, retraduzida e parafraseada mais do que qualquer outro livro existente. A Enciclopédia Britânica informa que " até 1966 a Bíblia completa havia aparecido em 240 línguas e dialetos; um ou mais livros da Bíblia em outros 739 idiomas, num total de 1280 línguas". Entre 1950 e 1960 3.000 tradutores da Bíblia estiveram trabalhando na tradução das Escrituras. Os fatos colocam a Bíblia numa condição única ("de cuja espécie não existe outra") em termos de tradução.

5. ÚNICA EM SOBREVIVENCIA

a. Através dos tempos. Ser escrita em material perecível, tendo que ser copiada e recopiada durante centenas de anos, antes da invenção da imprensa, não prejudicou seu estilo, exatidão ou existência. Comparada com outros escritos antigos, a Bíblia possui mais provas em termos de manuscritos do que, juntos, possuem os dez textos de literatura clássica com maior número de manuscritos. Os judeus a preservaram como nenhum outro manuscrito foi jamais preservado. Com a "massora"(parva, magna e finalis) eles verificavam atentamente cada letra, sílaba, palavra e parágrafo. Dentro de sua cultura, eles dispunham de grupos de homens com funções específicas, cuja única responsabilidade era preservar e transmitir esses documentos com uma fidelidade praticamente perfeita, eram "escribas, copistas e massoretas". Quem alguma vez contou as letras, sílabas e palavras dos textos de Aristóteles ou Platão? de Cícero ou de Sêneca?

b. Em meio a perseguições. Como nenhum outro livro, a Bíblia tem suportado os ataques malévolos de seus inimigos. Muitos tem procurado queimá-la, proibi-la e torná-la ilegal, desde os dias dos imperadores romanos até os dias de hoje, nos países dominados pelo comunismo, islamismo, ou pagãos radicais. Voltaire, o renomado francês, incrédulo, que morreu em 1778, afirmou que, cem anos depois dele o cristianismo estaria varrido da face da terra e teria passado à história. Mas aconteceu que, Voltaire passou à história, ao passo que a circulação da Bíblia continua a aumentar em quase todas as partes do mundo, levando bênçãos aonde quer que vá. Em 303 A.D. o imperador

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Diocleciano proclamou um edito para impedir os cristãos de adorarem Deus e para destruir as Escrituras. Eusébio registra o edito proclamado 25 anos após, por Constantino, sucessor de Diocleciano, para que se preparassem 50 cópias das Escrituras às expensas do governo.

c. Em meio às críticasDurante dezoito séculos os incrédulos tem refutado e atacado esse livro, e, no entanto, ele está hoje firme como uma rocha. Aumenta sua circulação, é mais amado, apreciado e lido do que em qualquer outra época. Por mais de mil vezes badalaram os "sinos" anunciando a morte da Bíblia, formou-se o cortejo fúnebre, talhou-se a inscrição na lápide e fez-se a leitura da elegia fúnebre. Mas por alguma maneira o cadáver nunca permaneceu sepultado. Nenhum outro livro tem sido tão atacado, retalhado, vasculhado, examinado e difamado. Que livro de filosofia, religião, psicologia ou literatura do período clássico ou moderno, sofreu um ataque tão maciço como a Bíblia? Apesar de todos os ataques, a Bíblia é amada por milhões, lida e estudada por milhões. Críticas, como por exemplo da "hipótese documental", que argumenta que o Pentateuco não poderia ter sido por Moisés, pois, segundo esses críticos, à época de Moisés não havia escrita, ruem por terra, pois a arqueologia descobriram o "obelisco negro". Tinha caracteres uniformes e continha as leis de Hamurabi. Era um texto pós-Mosaico? Não! era pré-Mosaico. E não apenas isso, mas era pelo menos três séculos anteriores a Moisés, o qual supunham que era um homem primitivo e não dispunha de alfabeto. Também falharam os defensores da "hipótese documental" quando asseveravam que não existiam heteus à época de Abraão, pois não existiam outros registros sobre esse povo. Deviam ser um mito. Estavam errados mais uma vez. Fruto da pesquisa arqueológica, hoje existem centenas de referencias se sobrepondo umas às outras e cobrindo mais de 1200 anos da civilização dos heteus.

6. Única nos Ensinos.

a. Profecia. Wilbor Smith, que formou uma biblioteca pessoal de 25.000 volumes, chegou à conclusão de que "não importa o que alguém pense sobre a autoridade do livro que chamamos de Bíblia e sobre a mensagem que ele apresenta; o fato é que existe uma aceitação generalizada de que, por inúmeras razões, esse é o livro mais notável que já foi produzido nestes aproximadamente cinco mil anos em que a raça humana domina a escrita". "É o único volume já produzido pelo homem, ou por um grupo de homens, em que se encontra um grande corpo de profecias a respeito de nações, em particular de Israel, de todos os povos da terra, de certas cidades e daquEle que viria e deveria ser o Messias. O mundo antigo possuía muitos e diferentes meios para determinar o futuro, o que é conhecido como "prognosticação", mas na totalidade da literatura grega e latina, muito embora empreguem as palavras "profetas" e "profecia", não conseguimos encontrar qualquer profecia real e especifica acerca de um grande acontecimento histórico que deveria ocorrer no futuro distante, nem qualquer profecia acerca de um Salvador que iria surgir no meio da raça humana". O Islamismo é incapaz de indicar qualquer profecia acerca da vinda de Maomé, e que tenha sido pronunciada centenas de anos antes de seu nascimento. De igual modo, os fundadores de quaisquer das seitas existentes no mundo são incapazes de identificar com precisão qualquer texto antigo que tenha predito o surgimento de tal ou tal seita.

b. História. Nos livros bíblicos de 1ª Samuel até 2ª Crônicas encontra-se a história de Israel, cobrindo cerca de cinco séculos. Certamente o povo de

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Israel manifesta uma capacidade excepcional para a interpretação da história, e o Antigo Testamento representa a descrição da história mais antiga que existe. "A tradição nacional hebraica supera todas as outras na maneira clara como descreve a origem tribal e familiar. No Egito e na Babilônia, na Assíria e na Fenícia, na Grécia e em Roma, procuramos em vão por qualquer coisa parecida. Nada há de semelhante na tradição dos povos germânicos.

A Índia e a China também não tem algo parecido para apresentar, visto que suas lembranças históricas mais antigas são registros literários de tradições dinásticas distorcidas, sem que haja menção a criadores de animais ou lavradores que tivessem antecedido o semideus ou rei, com quem esses registros iniciam. Nem nos mais antigos escritos históricos indianos (os Puranas) nem nos primeiros historiadores gregos existe qualquer alusão ao fato de que tanto os indo-arianos como os helenos outrora haviam sido nômades que, vindos do norte, imigraram para as regiões onde se instalaram. A bem da verdade, os assírios se lembravam vagamente de seus primeiros lideres, cujos nomes recordavam sem quaisquer detalhes sobre seus feitos, e que haviam habitado em tendas; mas já fazia muito tempo que os assírios tinham se esquecido de onde vieram.

A "Tabela das Nações", de Gênesis Cap.10, é um relato histórico surpreendentemente exato. "É algo absolutamente único na literatura antiga, sem qualquer paralelo mesmo entre os gregos... 'A Tabela das Nações' permanece sendo um documento surpreendentemente exato... Revela, apesar de toda a complexidade, uma compreensão tão notavelmente moderna da situação étnica e lingüística do mundo moderno, que os estudiosos jamais deixam de ficar impressionados com o conhecimento do autor sobre o assunto.

c. As pessoas descritas. "A Bíblia não é o tipo de livro que um homem escreveria caso pudesse, nem poderia escrever, caso quisesse". Ela trata com muita franqueza a respeito dos pecados de suas personagens. Leia as biografias escritas hoje em dia e repare como elas tentam esconder, deixar de lado ou ignorar o lado pouco recomendável das pessoas. Veja os maiores gênios da literatura: em sua maioria são descritos como santos. A Bíblia não procede dessa maneira. Ela simplesmente conta a verdade.

d. Denunciando os pecados do povo (Deut. 9:24); e os pecados dos patriarcas (Gen.12:11-13; 49:5-7); os evangelistas descrevem suas próprias faltas e as dos apóstolos (Mat.8:10-26; 26:31-56; Mc.6:52; 8:18; Luc. 8:24, 25; 9:40-45; João 10:6; 16:32) e a desordem nas igrejas (1Cor.1:11; 15:12; 2Cor. 2:4, etc.). Muitos indagarão: "Por que tinham que colocar aquele capítulo sobre Davi e Bate-Seba"? Bem, a Bíblia tem o costume de contar a verdade.

7. Única na influência sobre a literatura

"Se todas as Bíblias de uma cidade grande fossem destruídas, seria possível restaurar o Livro em suas partes essenciais, a partir das citações dele feitas existentes nos livros da biblioteca pública municipal. Existem livros cobrindo quase todos os grandes autores literários, escritos especificamente para mostrar o quanto a Bíblia os influenciou".

O historiador Philip Schaff descreve de maneira brilhante a singularidade da Bíblia ao apresentar a singularidade do Salvador: "Esse Jesus de Nazaré, sem dinheiro nem armas, conquistou milhões de pessoas em número muito maior do que

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Alexandre, César, Maomé e Napoleão; sem o conhecimento e a pesquisa científica ele despejou mais luz sobre assuntos materiais e espirituais do que todos os filósofos e cientistas reunidos; sem a eloqüência aprendida nos bancos escolares, ele pronunciou palavras de vida como nunca antes, nem depois foram ditas e provocou resultados que o orador e o poeta não conseguem alcançar; sem ter escrito uma linha, ele pôs em ação mais canetas, e forneceu temas para mais sermões, discursos, livros profundos, obras de arte e música de louvor do que todo o contingente de grandes homens da antigüidade e da atualidade".

"Existem questões complexas no estudo da Bíblia, que não tem paralelo com qualquer outra ciência ou ramo do conhecimento humano. A partir dos "pais apostólicos", em 95 A.D., até à época atual corre um largo rio literário, inspirado pela Bíblia. São dicionários bíblicos, enciclopédias bíblicas, léxicos bíblicos, atlas bíblicos e livros de geografia. Pode-se considerá-los como ponto de partida. Então, aleatoriamente, podemos mencionar as enormes bibliografias nos campos de teologia, educação religiosa, hinologia, missões, línguas bíblicas, história da Igreja, biografia religiosa, devocionários, comentários, filosofia da religião, provas do cristianismo, apologética, e assim por diante, parece ser um número interminável.

"É prova da importância dEle, do efeito que Ele tem causado na história e, presumivelmente, do mistério desconcertante, provocado por Ele, que nenhuma outra pessoa que viveu neste planeta tenha sido a razão de um volume tão grande de literatura entre tão grande número de povos e línguas e que, longe de terminar, o nível da inundação continua subindo".

A Conclusão é óbvia. "A Bíblia é única. A ela, nada é comparável. A Bíblia é o primeiro livro religioso a ser levado para o espaço sideral (ela foi em forma de microfilme). É o primeiro livro lido que descreve a origem da terra (os astronautas leram Gênesis 1:1 - "No princípio criou Deus os céus e a terra").

É também um dos livros mais caros (senão o mais caro) A Bíblia Vulgata Latina de Gutenberg custa 100.000 dólares. Os russos venderam o Códice Sinaítico (uma antiga cópia da Bíblia) à Inglaterra por 510.000 dólares (em 1933). E, finalmente, o mais longo telegrama do mundo foi o Novo Testamento na Edição Revista, enviado de New York a Chicago, duas cidades norte-americanas.

Quem escreveu a Bíblia?

Já dissemos em nosso artigo "O que é a Bíblia?", que ela foi totalmente inspirada por Deus. Para definirmos inspiração, preferimos seguir o conceito descrito por São Tomás de Aquino:

"É a ação de Deus, movendo e dirigindo o autor na produção do livro, preservando-o de erros, de forma que é Deus o autor e o homem mero instrumento usado para escrever" (2Quodlibetales, VII,14,5)

Vemos, assim, que os livros da Bíblia foram escritos por homens movidos pela ação direta de Deus, de forma a prevenir erros, fazendo que aceitemos Deus como autor principal e o homem como autor secundário. O homem é instrumento de Deus e é movido e dirigido por Ele.

Porém, não devemos confundir inspiração com revelação: a revelação ocorre quando Deus mostra ou descobre ao homem verdades de fé; a inspiração, como vimos, é o ato de Deus mover o homem a escrever verdades de fé, assistindo e preservando seus escritos do erro.

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O fato de Deus de ter inspirado homens, não significa, contudo, que tenha anulado a inteligência e a liberdade do ser humano. Sobre isso, ensina-nos o Magistério da Igreja:

"Na redação dos livros sagrados, Deus escolheu homens, dos quais se serviu fazendo-os usar suas próprias faculdades e capacidades a fim de que, agindo Ele próprio neles e por eles, escrevessem, como verdadeiros autores, tudo e só aquilo que Ele próprio quisesse" (Dei Verbum, 11).

Mas por que Deus inspiraria seres humanos para elaborar a Bíblia??

Ora, Deus é nosso Criador e nos criou por amor! Inspirando alguns santos homens a escrever tais livros, deu à religião uma base divina, absolutamente correta, já que, por serem inspirados, os livros da Bíblia são a própria Palavra de Deus, em toda a sua essência e força.

Já que foram escritos por homens, de forma que podemos entender seu conteúdo, foram usadas linguagens humanas. Quase todas as Bíblias modernas trazem logo na primeira folha as três linguagens que foram usadas para compô-la: o hebraico, o aramaico e o grego. O hebraico foi usado para a redação de quase todo o Antigo Testamento; o aramaico (língua falada na Palestina na época de Jesus) foi usado para alguns pequenos trechos do Antigo Testamento e, segundo alguns estudiosos, para o original do Evangelho de Mateus; o grego comum (koiné), por fim, foi utilizado para escrever alguns poucos livros do Antigo Testamento e para todo o Novo Testamento.

Autor: Carlos Martins NabetoFonte: Agnus Dei

Como são feitas as citações bíblicas?

É comum abreviarmos os nomes dos livros da Bíblia para facilitar a citação de certas passagens. Em geral, os católicos adotam o seguinte elenco de abreviaturas:

ANTIGO TESTAMENTO Pentateuco Gn Livro da Gênese

    Ex Livro do Êxodo

    Lv Livro do Levítico

    Nm Livro dos Números

    Dt Livro do Deuteronômio

  Históricos Js Livro de Josué

    Jz Livro dos Juízes

    Rt Livro de Rute

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    1Sm 1º Livro de Samuel

    2Sm 2º Livro de Samuel

    1Rs 1º Livro dos Reis

    2Rs 2º Livro dos Reis

    1Cr 1º Livro das Crônicas

    2Cr 2º Livro das Crônicas

    Esd Livro de Esdras

    Ne Livro de Neemias

    Tb Livro de Tobias

    Jud Livro de Judite

    Est Livro de Ester

    1Mc 1º Livro dos Macabeus

    2Mc 2º Livro dos Macabeus

  Sapienciais Jó Livro de Jó

    Sl Livro dos Salmos

    Pr Livro dos Provérbios

    Ecl Livro do Eclesiastes

    Ct Cântico dos Cânticos

    Sb Livro da Sabedoria

    Eclo Livro do Eclesiástico

  Proféticos Is Livro de Isaías

    Jr Livro de Jeremias

    Lm Livro das Lamentações

    Br Livro de Baruc

    Ez Livro de Ezequiel

    Dn Livro de Daniel

    Os Livro de Oséias

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    Jl Livro de Joel

    Am Livro de Amós

    Ab Livro de Abdias

    Jn Livro de Jonas

    Mq Livro de Miquéias

    Na Livro de Naum

    Hab Livro de Habacuc

    Sf Livro de Sofonias

    Ag Livro de Ageu

    Zc Livro de Zacarias

    Ml Livro de Malaquias

NOVO TESTAMENTO Evangelhos Mt Evangelho segundo

Mateus

    Mc Evangelho segundo Marcos

    Lc Evangelho segundo Lucas

    Jo Evangelho segundo João

  Atos At Atos dos Apóstolos

  Epístolas Rm Epístola aos Romanos

    1Cor 1ª Epístola aos Coríntios

    2Cor 2ª Epístola aos Coríntios

    Gl Epístola aos Gálatas

    Ef Epístola aos Efésios

    Fl Epístola aos Filipenses

    Cl Epístola aos Colossenses

    1Ts 1ª Epístola aos Tessalonicenses

    2Ts 2ª Epístola aos

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Tessalonicenses

    1Tm 1ª Epístola a Timóteo

    2Tm 2ª Epístola a Timóteo

    Tt Epístola a Tito

    Fm Epístola a Filemon

    Hb Epístola aos Hebreus

    Tg Epístola de Tiago

    1Pd 1ª Epístola de Pedro

    2Pd 2ª Epístola de Pedro

    1Jo 1ª Epístola de João

    2Jo 2ª Epístola de João

    3Jo 3ª Epístola de João

    Jd Epístola de Judas

  Profético Ap Apocalipse de João

Assim, quando quisermos citar a Primeira Epístola aos Tessalonicenses, basta escrever 1Ts.

A seguir, informamos o capítulo. Assim, 1Ts 2 significa Primeira Epístola aos Tessalonicenses, capítulo dois.

Para fazermos citações mais completas, usamos alguns sinais de pontuação:

A vírgula separa os versículos do capítulo. Ex.: Mt 16,18 significa Evangelho segundo Mateus, capítulo 16, versículo 18.

O hifen apresenta uma sequência de capítulos ou versículos. Ex.: At 1-2 significa Atos dos Apóstolos, capítulos 1 e 2 (integrais). Ex 15,2-5 significa Livro do Êxodo, capítulo 15, versículos 2 à 5.

O ponto apresenta capítulos e/ou versículos citados isoladamente.Ex.: 1Cr 1.3 significa Primeiro Livro das Crônicas, capítulos 1 e 3. Is 32,1.4.6 significa Livro do Profeta Isaías, capítulo 32, versículos 1, 4 e 6.

O ponto e vírgula dispõe capítulos e versículos isolados, mas pertencentes ao mesmo livro.Ex.: Jo 3,23-25; 6,1-4 significa Evangelho segundo João, capítulo 3, versículos de 23 à 25 e capítulo 6, versículos de 1 à 4.

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Algumas Bíblias podem usar "s" e "ss" a seguir do número do capítulo e/ou versículo. "s" significa seguinte e "ss", seguintes. São usados para simplificar - ainda mais - a citação, respectivamente, de dois ou três capítulos e/ou versículos.Ex.: Rm 2,5s significa Epístola aos Romanos, capítulo 2, versículos 5 e 6 (isto é, o versículo 5 e o seguinte).Ap 6,7ss significa Livro do Apocalipse, capítulo 6, versículos de 7 à 9 (isto é, o versículo 7 e os dois seguintes).Tg 1s significa Epístola de Tiago, capítulos 1 e 2 (isto é, o capítulo 1 e o seguinte).

Com todas essas abreviações e sinais podemos montar e citar, de forma bem resumida, qualquer passagem Bíblica. Ex.: Lv 1,12-15.20; 3,2s; Mc 1,3ss.10; 2Cor 3-5 significa, respectivamente:- Livro do Levítico, capítulo 1, versículos de 12 à 15 e o versículo 20; no mesmo Livro do Levítico, capítulo 3, versículos 2 e 3. - Evangelho segundo Marcos, capítulo 1, versículos de 3 à 5 e o versículo 10.- Segunda Epístola aos Coríntios, capítulos de 3 à 5.

Como está dividida a Bíblia? Quais livros a compõem?

A Bíblia está dividida em duas grandes partes:

1. Antigo Testamento: Que são todos os livros escritos a partir do séc. XV a.C. até o nascimento de Cristo. Contém a Lei de Deus dada a Moisés, a história do povo de Israel e suas reflexões, bem como a previsão da vinda do Messias, que se deu com a vinda de Jesus Cristo.

2. Novo Testamento: Que são todos os livros escritos após a vinda de Jesus até o final do séc. I d.C.. Traz a vida e as obras de Jesus, a criação e a expansão da Igreja, além de documentos de formação do povo cristão.

Essas duas grandes divisões estão, ainda, subdivididas de acordo com o conteúdo dos livros. Temos assim, para o Antigo Testamento:

1. Livros da Lei: também chamados de Pentateuco, isto é, os "cinco livros" de Moisés, que abrem a Bíblia, e falam da Criação de Deus e da formação de seu Povo Eleito: Israel.

2. Livros Históricos: são os livros que descrevem as guerras de Israel, bem como a história de seus reinos.

3. Livros Didáticos: ou sapienciais, apresentam a sabedoria e poesia dos hebreus.

4. Livros Proféticos: foram escritos por profetas que pregavam o arrependimento e preparavam o povo eleito para a chegada do Messias Salvador.

enquanto que, para o Novo Testamento, temos:

1. Livros do Evangelho: narram a vida, os ensinamentos, os milagres e a obras do Messias Jesus Cristo.

2. Livro Histórico: apresenta a instituição e expansão da Igreja Cristã, primeiro na Palestina e, a seguir, no mundo até então conhecido.

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3. Epístolas: são as doutrinas e exortações escritas por alguns Apóstolos de Cristo e encaminhadas a comunidades ou fiéis cristãos.

4. Livro Profético: traz a vitória de Cristo e sua Igreja sobre as forças do mal e o juízo final.

Os livros que compõem a Bíblia são 73, sendo 46 do Antigo Testamento e 27 do Novo Testamento. São eles:

1. Gênese 2. Êxodo 3. Levítico 4. Números 5. Deuteronômio 6. Josué 7. Juízes 8. Rute 9. Samuel - Livro I 10. Samuel - Livro II 11. Reis - Livro I 12. Reis - Livro II 13. Crônicas - Livro I 14. Crônicas - Livro II 15. Esdras 16. Neemias 17. Tobias 18. Judite 19. Ester 20. Macabeus - Livro I 21. Macabeus - Livro II 22. Jó 23. Salmos 24. Provérbios 25. Eclesiastes 26. Cântico dos Cânticos 27. Sabedoria 28. Eclesiástico

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29. Isaías 30. Jeremias 31. Lamentações de Jeremias 32. Baruc 33. Ezequiel 34. Daniel 35. Oséias 36. Joel 37. Amós 38. Abdias 39. Jonas 40. Miquéias 41. Naum 42. Habacuc 43. Sofonias 44. Ageu 45. Zacarias 46. Malaquias 47. Evangelho de Mateus 48. Evangelho de Marcos 49. Evangelho de Lucas 50. Evangelho de João 51. Atos dos Apóstolos 52. Epístola aos Romanos 53. 1ª Epístola aos Coríntios 54. 2ª Epístola aos Coríntios 55. Epístola aos Gálatas 56. Epístola aos Efésios 57. Epístola aos Filipenses 58. Epístola aos Colossenses 59. 1ª Epístola aos Tessalonicenses 60. 2ª Epístola aos Tessalonicenses

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61. 1ª Epístola a Timóteo 62. 2ª Epístola a Timóteo 63. Epístola a Tito 64. Epístola a Filemôn 65. Epístola aos Hebreus 66. Epístola de Tiago 67. 1ª Epístola de Pedro 68. 2ª Epístola de Pedro 69. 1ª Epístola de João 70. 2ª Epístola de João 71. 3ª Epístola de João 72. Epístola de Judas 73. Apocalipse de João

Como ler com proveito a Bíblia?

Dedique um tempo diário para estudar e meditar a Bíblia: pode ser pela manhã, logo após acordar; ou, depois do almoço ou da janta; ou antes de dormir; ou, ainda, qualquer outro horário que se adapte ao seu tempo livre. A quantidade de tempo também pode ser livremente estabelecida: 10, 30, 60 minutos ou mais. Quanto mais tempo você tiver, melhor! Porém, divida o tempo total para as duas atividades que devem ser feitas: leitura e estudo. O ideal é dividir na ordem de 1/3 e 2/3, respectivamente. Assim, se você resolver dedicar 15 minutos diários, use 5 minutos para leitura e 10 minutos para o estudo.

Após estabelecer o horário que melhor o satisfaça, cumpra-o rigorosamente, não esquecendo nem adiando nenhum dia, mesmo que se sinta cansado. Lembre-se: devemos amar a Deus sobre todas as coisas!

Se você não tiver uma Bíblia, adquira uma. Compre, entretanto, em livrarias católicas pois as versões comercializadas por livrarias evangélicas são incompletas quanto ao Antigo Testamento (faltam 7 livros e alguns trechos de Ester e Daniel). Existem Bíblias com uma linguagem mais simples (ex.: "Bíblia Ave Maria") e outras mais técnicas (ex: "Bíblia de Jerusalém"); leve aquela que esteja dentro da sua linguagem e das suas condições. Além disso, compre um caderno e também um comentário bíblico. As editoras católicas disponibilizam diversos comentários, dos mais simples aos mais completos. Folheie-os com calma e encontre um que atenda seus requisitos de linguagem e complexidade.

Adquirido o material e chegada a hora do estudo, com a Bíblia nas mãos, inicie com uma oração ao Espírito Santo, pedindo para que o ilumine. Pode ser a seguinte ou uma outra semelhante e espontânea:"Espírito Santo: Tu inspiraste estas palavras. Ilumina a minha mente para que eu possa compreendê-las. Vem, Espírito Santo, ilumina o meu coração e

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o meu entendimento. Ajuda-me a reconhecer a Verdade eterna que preciso para agradar a Deus. Amém."

Selecione a leitura. Há várias formas de se fazer isto... Você pode seguir a sugestão da Igreja e ler as leituras selecionadas para o tempo litúrgico em que estiver (algumas Bíblias trazem essa seleção de textos em apêndice no final do volume; caso sua Bíblia não possua essa indicação, imprima as páginas das Leituras Dominicas e Semanais que disponibilizamos neste Site) ou ler a Bíblia na forma sequencial, a partir do primeiro livro (neste caso, particularmente sugiro que se inicie pelo Novo Testamento - por ser mais dinâmico - para só depois se passar para o Antigo Testamento).

Leia com atenção - sem pressa e meditativamente - cada versículo. Não se incomode de precisar voltar a ler alguma passagem não muito clara. Releia todo o texto mais uma ou duas vezes, pois sempre acabamos percebendo algo que deixamos escapar na leitura anterior...

Identifique-se com os personagens em cada cena. Se estiver lendo os Evangelhos, coloque-se no lugar do sofredor Lázaro, no lugar de Mateus convidando Jesus para uma refeição... Considere tudo o que Jesus fala como diretamente dirigido a você. Ao ler as epístolas, além da voz do Apóstolo e do Espírito Santo, reconheça a voz da Igreja, exortando-o a aumentar e amadurecer a fé.

Termine a leitura também com uma oração ao Espírito Santo, como, por exemplo: "Fala, Senhor: teu servo está te ouvindo. Aqui estou, Senhor!", ou "Senhor: aqui estamos, Tu e eu, juntos agora. Fala-me, pois eu te escuto!". Faça, então, um breve silêncio.

Inicie o estudo lendo com calma e atenção o comentário sobre o texto lido. Leia também todas as notas de rodapé existentes na sua Bíblia: elas são importantes principalmente para os pontos mais obscuros.

Prossiga o estudo tomando nota das passagens que mais o tocam. Neste ponto, sugiro que se utilize o método do pe. Jonas Abib, dividindo as citações em cinco pontos:

1. Promessas: é tudo aquilo que Deus promete àqueles que cumprem (ouvem e praticam) a Sua Palavra. São promessas em que podemos seguramente confiar. Ex.: "Onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou no meio deles" (Mt 18,20); v.tb.: Jo 1,12; Lc 11,13; Ef 6,8.

2. Ordens: são os mandamentos que devemos obedecer durante a nossa vida, onde demonstramos a nossa fidelidade a Deus. Ex.: "Amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado" (Jo 13,34); v.tb.: Mt 5,37; Mc 16,15; Lc 6,27-28.

3. Princípios Eternos: são as leis que regem o Reino de Deus e não devem ser confundidos com as ordens. São os segredos do funcionamento do Reino. Ex.: "Para os puros, todas as coisas são puras. Para os corruptos e descrentes, nada é puro; até sua mente e consciência são corrompidas" (Tt 1,15); v.tb.: Lc 6,36; 18,14; 1Tm 6,7.

4. Mensagem de Deus para Hoje: certamente Deus tem uma mensagem para você. Faça de maneira pessoal, com suas próprias palavras.

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5. Como Aplicar a Leitura na Vida: é a parte mais pessoal e mais concreta. Anote e coloque em prática tudo o que descobrir. É a maneira decisiva para mudar o comportamento (ser e agir) e o relacionamento com Deus.

Para terminar o estudo, releia o comentário bíblico e as suas anotações. Observe, então, a incrível unidade que existe entre eles. Se você quiser - e é altamente recomendado!! - tente relembrar a leitura do dia anterior; se possível, memorize o versículo principal, o núcleo da mensagem.

Termine o seu "dever de casa" com uma oração espontânea agradecendo a Deus pelas descobertas do dia e certo de ter aumentado a sua intimidade com Ele. Lembre-se sempre: Não caia no erro de querer ler somente a Bíblia sem a ajuda da Igreja, achando que pode interpretá-la de forma particular. Essa tese

é protestante e anti-bíblica. Foi por causa disso que o sectarismo se instalou no mundo cristão, existindo hoje mais de 20.000 denominações - todas elas com mensagens "muito particulares" e distintas umas das outras.

A Bíblia não erra

1. MENTALIDADE HEBRAICA E LINGUAGEM BÍBLICA

Vamos, pois estudar inícialmente um pouco da mentalidade dos judeus e do seu jeito de se exprimir.

No salmo 62, versículo 6, lemos: "Minha alma será saciada de gordura e de tutano, de meus lábios alegres ressoará o teu louvor". Nós poderíamos dizer: O que é isso? A alma não come! É verdade. Mas, para o judeu, um bom almoço era aquele com muita carne gorda. Um bom almoço alegra. Por isso o salmista, em vez de dizer: "Minha alma estará feliz junto de Deus", diz: "Junto de Deus minha alma será alimentada com carnes gordas e tutano". Pode não parecer piedoso. Mas assim é que rezavam.

No salmo 118,109, encontramos: "Minha vida está sempre em minhas mãos". Ter alguma coisa nas mãos, é estar pronto a entregar, a perder. "Ter a vida nas mãos" queria dizer: estou pronto a perder a minha vida, estou quase morrendo, estou em grande perigo.

Com a mão pegamos as coisas, tomamos posse. Em vez de dizer que alguém era rico, os judeus diziam: "ele tem a mão grande". Quem era pobre ou avarento "tinha as mãos pequenas".

Esses exemplos bastam para mostrar como os judeus usavam uma linguagem muito concreta, quase sem termos abstratos. Aliás, hoje ainda usamos linguagem semelhante. Se alguém nos diz que "está na fossa", "foi para o brejo", "foi para o buraco", entendemos logo o que quer dizer e não perguntamos qual a fundura do buraco nem onde é o brejo.

Como os orientais em geral, os judeus gostavam de falar de um modo teatral. Assim, sem muitas explicações, a idéia se tornava clara, quase palpável. Usavam expressões que, analisadas friamente, são exageros. Um rei, para dizer que seu

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exército era numeroso, dizia que a poeira da Samaria não seria bastante para encher as mãos de seus soldados (1º Livro dos Reis 20,10). Em vez de dizer: "houve fome em muitos países", diziam: "houve fome na terra inteira". Há uma passagem do Evangelho (Lc 14,26) em que Jesus diz: "Quem não odiar pai, mãe... não pode ser meu discípulo". Odiar, no caso, significa amar menos do que ao Cristo.

A língua hebraica não tinha os mesmos recursos das línguas modernas. Nós temos palavras que indicam claramente a comparação entre os termos. Nós dizemos claramente: "É maior o número dos chamados e menor o número dos escolhidos". "Deus quer mais a misericórdia do que o sacrifício". Os judeus diziam: "Muitos são os chamados e poucos os escolhidos" (Mt 22,14). "Quero a misericórdia e não o sacrifício" (Mt 9,13).

Usavam comparações e imaqens que não podem ser tomadas ao pé da letra. As idéias abstratas estavam ligadas a coisas materiais. Por exemplo:

Fraqueza: carne, cinza, poeira, flor que murcha, cera derretida. Força: montanha, rochedo, bronze, tempestade, exército. Glória: luz, brilho, relâmpago. Fartura: leite, mel, água, azeite.

Esse modo concreto de pensar e de falar é que levava os judeus a falarem das coisas e de Deus usando expressões que realmente só de aplicam aos homens. Por exemplo:

As cisternas, os montes, as árvores devem bater palmas e gritar de alegria; O sangue inocente pede vingança divina; Deus tem rosto, nariz, ouvidos, boca, lábios, olhos, voz, braços, mãos e pés.

Está revestido de um manto, senta-se num trono de rei. Tem desgosto, ódio, sentimentos de agrado, alegria, arrependimento. Tem até um nome próprio.

Na linguagem da Bíblia os números não têm a mesma importância nem o mesmo significado que têm para nós. Quando damos um número, procuramos ser matematicamente exatos; interessa-nos a quantidade real. Para os judeus os números tinham todo um significado simbólico, indicava o sentido dos acontecimentos ou as qualidades das pessoas. A idade dos patriarcas, cem ou mais anos, não era contada em razão dos anos realmente vividos, mas em razão da veneração que mereciam, do quanto eram queridos por Deus. No capítulo quinto do Gênesis encontramos uma série de dez gerações desde Adão até o patriarca Noé. Dez era apenas o número que indicava uma série completa e final. Falando de dez patriarcas, o hagiógrafo queria abarcar todos os acontecimentos, todas as gerações entre Adão e Noé, fossem lá quais e quantos fossem. Não estava, de modo algum, querendo ensinar que de fato tinha havido apenas uma série de dez gerações. De modo semelhante Jesus fala das "dez virgens"; S. Paulo menciona os "dez adversários" que nos tentam separar do Cristo (Rom 8,38s), e os "dez vícios" que nos podem excluir do Reino de Deus (1Cor 6,9s). Os meses do ano são doze. Por isso esse número também significava a perfeição, a totalidade.

Quando damos um número, estamos de fato excluindo qualquer quantidade maior ou menor, a não ser que digamos claramente o contrário. Os judeus indicavam o número que interessava no momento. Podemos dar alguns exemplos: Mc 11,2; Lc 19,30; Jo 12,14, dizem que Jesus entrou em Jerusalém montado em um jumento. Mt 21,2 fala, porém, de uma jumenta e de um jumentinho. Mc 10,46 diz que, ao

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sair de Jericó, Jesus curou um cego; Mt 20,30, diz que dois foram os cegos curados. Além do mais, precisamos ainda lembrar que muitas vezes houve engano dos copistas na transcrição dos números. Engano fácil de entender já que os números eram representados com letras do alfabeto, bastante parecidas entre si.

Bastam esses exemplos para percebermos o cuidado necessário para termos uma correta compreensão dos textos bíblicos.

2. GÊNEROS LITERÁRIOS

Há ainda um outro fator que devemos levar em conta: o gênero literário, isto é, o tipo de com posição que temos diante de nós. Isso vai determinar o sentido e o alcance que lhe podemos dar.

Se você ouve alguém contar uma história para crianças, uma dessas histórias em que os animais falam, aparecem fadas e bruxas, você não vai entender essa história do mesmo modo como entende as palavras de alguém que lhe está contando um fato real. Há muita diferença entre uma poesia, ou a letra de uma canção, e um trecho de um livro de ciências. Uma carta é bem diferente de uma reportagem ou uma notícia no jornal. Um discurso político não é a mesma coisa que um sermão. Aí estão exemplos de alguns "gêneros literários".

A poesia, a anedota, a narrativa histórica, cada gênero literário afinal tem suas regras próprias de composição. Tem a sua linguagem própria, suas palavras apropriadas, seu estilo. Escrevemos ou falamos de um jeito quando queremos ensinar; de outro, quando queremos divertir, ou agradar, ou informar, ou amedrontar, e assim por diante.

E mais. Cada "gênero literário" olha para a realidade de um lado diferente. Alguns, querem apresentar um fato real, enquanto outros falam de fatos imaginários. Alguns podem aprofundar o assunto até aos mínimos detalhes, outros ficam só em generalidades. E podemos ainda notar que essas formas de expressao variam conforme o povo, o tempo e o lugar.

Também na Bíblia podemos encontrar muitos gêneros literários bem característicos. Há narrativas, históricas ou não, há poesia, parábola, alegoria, profecia. apocalipse. E temos que levar isso em conta ou, então, vamos interpretar mal o que foi escrito. O que lemos no Apocalipse ou nos Profetas não pode ser compreendido do mesmo modo como se estivéssemos lendo os Evangelhos. Vamos entender mal as Epístolas de S. Paulo se esquecermos que são cartas, escritas em circunstâncias bem concretas. Precisamos conhecer e levar em conta as regras próprias de cada gênero literário para não lermos o que não foi pensado nem escrito pelos autores da Bíblia.

3. A BÍBLIA E A HISTÓRIA

Lendo a Bíblia encontramos narrativas que nos levam a perguntar: - Isso aconteceu mesmo? Tanto mais que, muitas vezes, os dados fornecidos parecem não coincidir com o que atualmente conhecemos da História do antigo oriente.

No livro de Daniel, por exemplo, está escrito que o rei Baltasar da Babilônia era filho de Nabucodonosor. Ora, pelos documentos babilônicos, conservados em tabuinhas de argila, sabemos que Baltasar era de fato filho de Nabonide, quarto sucessor de Nabucodonosor. E o livro de Jonas, será que quer apresentar um fato histórico, ou seria apenas uma narrativa com finalidade edificante? A mesma

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pergunta podemos levantar quanto aos livros de Jó, de Judite, de Tobias e outros.

Não vem ao caso um exame detalhado de todos os problemas que se apresentam. Vamos ver apenas alguns princípios que nos aludem a compreender o modelo literário de História usado em algumas partes da Escritura.

Em primeiro lugar é preciso saber que a Bíblia se interessa pela História na medida em que os acontecimentos têm uma importância religiosa. O que interessa ao hagiógrafo é apresentar o que Deus fez pela salvação dos homens e qual a resposta que os indivíduos, o povo e a humanidade deram à proposta divina. São mencionados, por isso, apenas os fatos realmente significativos sob esse aspecto. E mesmo esses fatos são narrados de forma a dar relevo ao seu significado religioso. Dados de menor importância são omitidos ou apresentados de um modo aproximativo, sem que se procure a exatidâo que estamos acostumados a encontrar na História cientificamente escrita.

Não podemos, porém, esquecer que a Bíblia se apresenta como o relato do que Deus realmente fez para a nossa salvação. Não quer apresentar lendas e mitos. Afirma fatos: e a fé cristã é possível somente se aceitamos a realidade desses fatos fundamentais.

Por outro lado, é bom lembrar que as descobertas arqueológicas dos últimos tempos vêm confirmando dados até agora conhecidos apenas através das informações bíblicas. O que nos dá, mesmo do ponto de vista da ciência histórica, uma garantia bastante grande pelo menos quando a exatidão dos fatos centrais.

Finalmente, há na Bíblia muitas narrativas que não precisam nem podem ser tomadas como apresentação de fatos realmente acontecidos. São "histórias" contadas com a finalidade de ensinar, exortar, animar.

Concluindo: A Bíblia não erra nem pode errar quando o hagiógrafo quer de fato apresentar o que realmente aconteceu. Nem tão pouco pode errar ao nos dar o sentido, a significação religiosa dos fatos.

4. A BÍBLIA E A CIÊNCIA

A nossa visão atual do mundo, dos seres vivos e da humanidade é muito diferente da que encontramos na Bíblia. Essa nossa visão é formada por conhecimentos certos, adquiridos através das descobertas científicas, ou se baseia em hipóteses, tentativas de explicação coerente para os fenómenos que ainda não chegamos a compreender perfeitamente. Na Bíblia, encontramos uma concepção do mundo bastante poética e ao mesmo tempo simplista. A terra era considerada como uma grande planície, cercada de altas montanhas (onde moravam o sol e a lua). Sobre essas montanhas, como se fossem imensos pilares, estaria apoiado o céu, imaginado como imensa cúpula de cristal onde estariam incrustadas as estrelas. A terra estaria flutuando sobre o mar imenso, sob o qual estava a habitação dos mortos. Acima dos céus, havia o grande mar superior, e mais alto ainda o céu, habitação de Deus. A origem do mundo e da humanidade era imaginada como acontecimento bem recente. A uma palavra de Deus a criação teria surgido como um todo perfeito e definitivo. Os fenômenos naturais (ventos, raios, chuvas) eram atribuidos a uma intervenção direta de Deus. As doenças, eram causadas por forças misteriosas. Baste isso para nos fazer compreender a dificuldade de alguns em conciliar as afirmações da Bíblia com os dados científicos agora conhecidos.

Houve tempo em que se tomaram atitudes extremas. Alguns, partindo dos

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conhecimentos atuais, viam a Bíblia cheia de erros e tentavam explicar tudo, até os milagres, de um modo natural. Outros tentavam colocar a Bíblia como critério para o nosso conhecimento científico da natureza; ou, então, queriam a todo o custo fazer uma acomodação entre suas afirmações e as da ciéncia. Tentativas que não serviam nem à verdade da Biblia nem à verdade da ciência.

Para evitar mal-entendidos podemos seguir estes princípios:

1. A Escritura não quer ensinar "ciência". Quer apresentar-nos Deus, suas obras e seus planos para a nossa salvação. Como dizia um escritor antigo: "A Escritura ensina-nos como ir ao céu e não como vai indo o céu". É claro, porém, que falando sobre Deus e suas obras, a Bíblia faz afirmaçôes que têm conseqüências para a ciência. Por exemplo, quando afirma que tudo quanto existe não surgiu por si mesmo mas foi criado por livre decisão de Deus.

2. A Bíblia, quando fala dos fenômenos e realidades da natureza, fala ao modo do povo, fala segundo as aparências: o sol que nasce e se põe etc. E muitas vezes os hagiógrafos usam uma linguagem poética que personifica as forças da natureza.

5. A BÍBLIA E A MORAL

Quem lê o Antigo Testamento poderia ficar chocado com certos costumes, mais ou menos tolerados, ou com certos episódios mais ou menos escabrosos. Como é possível isso num livro escrito sob a inspiração divina?

A Bíblia fala sobre o homem. Fala, pois, do que há de bom e mau, mesmo em homens que deviam desempenhar um importante papel nos planos de Deus. Não simplesmente para falar do mal, nem muito menos para o ensinar. Quer mostrar até que ponto pode chegar a fraqueza humana, quer ensinar-nos a evitar todo pecado. Justamente essa presença do mal nos mostra como Deus foi pacientemente educando a humanidade para que pudesse afinal aceitar e viver o Evangelho de Cristo. Não impunha exigências maiores do que as assimiláveis por homens ainda presos a uma situação precária. Não estava interessado apenas em fazer cumprir um código moral; queria levar as pessoas a um crescimento interior. Sabia esperar o momento de mandar o seu Cristo que, diante das tolerâncias da lei antiga, iria anunciar: "...eu, porém, vos digo...!"

Neste ponto podemos concluir:

A Biblia não erra nem pode errar em nenhuma das afirmações que Deus e o hagiágrafo quiseram de fato fazer e no sentido em que a fizeram.

A Bíblia mal utilizada

Conseqüências de um princípio funesto: a Sola Scriptura

"Então o Diabo lhe disse: 'Se és o filho de Deus, atira-te para baixo, porque está escrito..." (Mateus 4,5).

A Sagrada Escritura é uma lâmpada que ilumina o nosso caminho para a Casa do

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Pai (Salmo 119,105), porém, quando mal utilizada, pode nos levar a danos físicos e morais e até mesmo à perdição eterna. O próprio Diabo se valeu desta técnica para inutilmente tentar derrubar Jesus.

O profeta Amós anunciou (8,11): "Chegará o dia em que Deus mandará fome sobre a terra; não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir a Palavra de YHWH" . Como esta fome de ouvir a Palavra de Deus é inerente à natureza humana, que deseja conhecer o seu Criador, devemos, nesta busca, estar atentos às infinidades de doutrinas errôneas inventadas pelo homem, que tenta baseá-las na Bíblia mal-interpretada. Já o apóstolo Pedro advertia em 2Pedro 3,16, que haveria quem viesse a torcer o seu ensino para sua própria perdição.

Alguém disse: "Da Bíblia mal-intepretada pode se extrair até petróleo"...

Joseph Smith, fundador dos mórmons, baseando-se na ordem divina de Gênese 1,22 e 35,11 ("crescei e multiplicai-vos"), aprovou a poligamia.

Joseph F. Rutherford, 2º líder mundial dos Testemunhas de Jeová, apoiou a já conhecida recusa às transfusões de sangue, que tantas mortes causou entre eles, a partir do texto de Atos 15,20, quando a Igreja proclamou uma ordem transitória e circunstancial de vir a abster-se do sangue.

Os líderes dos Adventistas do 7º Dia, utilizando Êxodo-20,8 ("recorda-te do dia de sábado para santificá-lo"), obrigam os seus adeptos a observá-lo como faziam os judeus do Antigo Testamento e rejeitam o domingo, o "Dia do Senhor", próprio dos cristãos.

Os cristãos fundamentalistas (Igreja da Fé em Cristo Jesus e outras da mesma linha doutrinária), lendo Atos 8,16 ("unicamente tendo sido batizados em nome do Senhor Jesus"), dizem que os cristãos devem ser batizados apenas em nome de Jesus e não no nome das Três Pessoas da Santíssima Trindade, muito embora esta seja a ordem expressa de Cristo em Mateus 28,19.

A grande maioria das Igrejas Cristãs Evangélicas, citando Romanos 3,28 ("concluímos que o homem é justificado pela fé, sem as obras da Lei"), proclama que a justificação (salvação) é obtida somente pela fé sem obras, em oposição ao que diz Tiago 2,26.

Entre os pentecostais, têm surgido casos de pessoas virem à falecer - principalmente crianças - em razão de seus pais não recorrerem ao médico para tratar das suas doenças, já que crêem que, segundo Lucas 8,48, tudo pode ser curado apenas pela fé e as orações. No entanto, os judeus - o povo da Bíblia - recorriam aos médicos (Eclesiástico 39); e entre os apóstolos, havia um médico eminente: São Lucas (Colossenses 4,14).

Em San Luis Potosi, numa comunidade de pessoas que seguia esta linha doutrinária, algumas morreram ao inalar gas butano. O pastor lhes dizia que se tratava da ação do Espírito Santo (Heraldo de Chih, 1° de janeiro de 1992).

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Os seguidores da urinoterapia (=beber da própria urina), justificam esta prática no texto de Provérbios 5,15 ("toma a água da tua própria fonte")!

As práticas mais absurdas podem ter apoio na Bíblia mal-interpretada; citar todas seria interminável. Para evitarmos ser vítimas destes e de outros danos tão terríveis, leiamos a Sagrada Escritura sempre seguindo a interpretação do Magistério da Igreja Católica, a quem Jesus conferiu esse ministério (Lucas 10,16) e não o que é proclamado à margem deste.

A Bíblia é infalível?

O conceito de inspiração implica na inerrância bíblica, em sua infalibilidade. No entanto, devemos compreender a extensão dessa infalibilidade...

Todas as coisas possuem limites: não é diferente para a Bíblia!

Não poucas vezes, nos defrontamos com pessoas que querem "provar" a todo custo que a Bíblia está cheia de erros científicos, não possui harmonia entre seus vários livros, cai diversas vezes em contradição e tem diversas passagens lendárias. E chegam a exemplificar:

Ao abandonar seus pais, com quem Caim se casou, já que não havia mulheres filhas de Adão e Eva? (Gn 4,17);

Quantos soldados havia em Israel e em Judá? 800 mil e 500 mil, respectivamente, segundo 2Sm 24 ou 1100 e 470 mil, respectivamente, segundo 1Cr 21?;

Mateus atribui ao profeta Jeremias uma profecia de Zacarias (Mt 27,9); Judas se suicidou por enforcamento (Mt 27,5) ou por pular em um precipício

(At 1,18)?

e os exemplos se multiplicam...

Tais argumentos fazem aparecer pessoas "iluminadas" que, crendo na total infalibilidade da Bíblia, encontram respostas inúteis, tais como defender que Judas se enforcou numa árvore próxima de um abismo, tendo caído neste assim que a corda se rompeu!!! Da mesma forma, Galileu Galilei quase foi queimado pela Inquisição por defender que a terra girava em torno do sol e não o contrário, como todos até então acreditavam; isso porque parecia contradizer a passagem de Js 10,12-13, que afirma que o sol parou por ordem de Josué.

Vemos, assim, que tais discussões são inúteis e extremadas! Tudo por causa do conceito de inerrância ou infalibilidade da Bíblia que não é visto de acordo com a verdade. E qual é a verdade? É que a Bíblia é um livro de fé e não um livro de ciências! É infalível para doutrinas da religião, mas não o é para a ciência.

Deus, quando inspirou os homens que escreveram a Bíblia, esmerou-se por se fazer entender pela humanidade e, para isso, comunicou as verdades da fé usando a linguagem simples da época, que ainda era muito pobre em conhecimentos científicos. Mas não poderia ser diferente! Se Jesus falasse de computadores,

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aviões e televisão em suas parábolas seria entendido por aquele povo? Haveria o Cristianismo hoje se seus apóstolos pregassem algo que não conhecessem???

Para nós que cremos em Deus, não interessa saber se a ordem da Criação está certa ou errada, se a princípio foi criado somente um casal de cada espécie ou não... para nós, o que nos interessa mesmo é saber - e ter a certeza - de que Deus criou tudo no universo: os astros, as estrelas, a terra, os animais e o gênero humano; interessa-nos saber que Deus nos ama, apesar de termos pecado contra Ele (pouco importando se foi porque comemos o fruto de uma árvore, mas porque de alguma forma o desobedecemos). Devemos saber que, por Seu Amor, Deus nos mandou seu Filho único, verdadeiro Deus feito homem, que nos libertou de uma vez por todas do pecado e nos alcançou a salvação... e por aí vai.

Concluímos afirmando que a Bíblia é, portanto, infalível nos assuntos de fé, como sempre foi e sempre será, não devendo invadir o campo da ciência, da mesma forma como esta também não deve se intrometer nos assuntos de fé, para os quais permanece incompetente.

A Bíblia ou a Tradição?Um argumento pouco bíblico

Os reformadores protestantes diziam que a Bíblia era a única fonte das verdades da fé e que, para entender sua mensagem, dever-se-ia tão somente ler as palavras do texto. É o que se chama de "teoria protestante da sola scriptura" ou, em português, "somente a Bíblia". Segundo esta teoria, nenhuma autoridade fora da Bíblia pode impor uma interpretação e nenhuma instituição extrabíblica - por exemplo, a Igreja - foi estabelecida por Jesus Cristo para fazer as vezes de árbitra em caso de conflitos de interpretação.

Como bons herdeiros dos reformadores, as seitas fundamentalistas trabalham sobre a base desta teoria e não perdem oportunidade para demonstrar seu princípio que, por outro lado, pareceria ser sua arma mais poderosa, algo que eles aceitam como o fundamento indiscutível dos seus pontos de vista.

Contudo, não existe coisa mais difícil no diálogo com os fundamentalistas que fazê-los provar o porquê crêem no princípio do "somente a Bíblia", separada de qualquer outra fonte de autoridade, e que esta (a Bíblia) seja suficiente nas questões de fé. A questão se resume em saber qual o motivo que faz um fundamentalista crer que a Bíblia seja um livro inspirado, já que é óbvio que ela pode tornar-se regra de fé apenas no caso de se comprovar sua inspiração e, também, sua inerrância.

Claro que essa questão não preocupa por demais a maioria dos cristãos e, certamente, são poucos os que tenham se atentado para isto alguma vez. Em geral, se crê na Bíblia porque é o livro aceito por todos os cristãos, cuja autoridade não se discute, eis que ainda vivemos em tempos em que os princípios cristãos

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têm influência na cultura e no modo de vida da maioria das pessoas.

Um cristão humilde, que não daria a mínima credibilidade para o Alcorão, pensaria duas vezes antes de falar mal da Bíblia, já que esta goza de certo prestígio, mesmo quando não pudesse explicá-la ou entendê-la bem. Poderia dizer-se que essa pessoa aceita a Bíblia como inspirada - qualquer que seja seu entendimento quanto à inspiração - por razões de tipo cultural, razões que, sem dúvida, são de escasso ou nenhum valor, já que pelas mesmas razões o Alcorão é tido por inspirado em países de cultura muçulmana.

"PARA MIM, É MOTIVO SUFICIENTE"

Diga-se o mesmo perante quem sustenta que a família pela qual veio ao mundo sempre considerou a Bíblia como livro inspirado e "para mim, isso basta". Seria um bom motivo somente para aquele que não pode fazer um trabalho de reflexão sério (e não devemos nunca desprezar uma fé simples, sustentada sobre fundamentos bem mais débeis). Porém, seja como for, o mero costume familiar ou local não pode estabelecer-se como base para a crença na inspiração divina da Sagrada Escritura.

Alguns sectários dizem que a Bíblia é um livro inspirado porque "é um livro que inspira". Porém, a palavra "inspiração" é precisamente o que se quer provar e observemos que há muitos escritos religiosos antigos que certamente são muito mais "inspirativos" ou "emotivos" do que muitos textos e até livros inteiros do Antigo Testamento. Não é falta de respeito afirmar que certas passagens dos escritos sagrados são tão secos quanto as estatísticas militares... e algumas partes da Bíblia (Antigo Testamento) são compostas realmente por isso: estatísticas militares!

Por isso, concluímos que não é suficiente crer na Sagrada Escritura por motivos culturais ou de costume, nem tampouco por seus textos emotivos ou sua beleza espiritual: há outros livros, alguns totalmente mundanos, que ultrapassam em beleza poética muitas passagens da Escritura.

QUE DIZ A BÍBLIA DE SI MESMA?

E que dizer do que a própria Bíblia ensina sobre sua inspiração? Notemos que são muito poucas as passagens onde a própria Bíblia ensina sua inspiração - mesmo que de modo indireto - e a maioria dos livros do Antigo e do Novo Testamento não dizem absolutamente nada sobre sua particular inspiração. De fato, nenhum autor dos livros do Novo Testamento diz estar escrevendo sob o impulso do Espírito Santo, exceto São João, ao escrever o Apocalipse.

Ademais, ainda que cada livro da Bíblia começasse com a frase: "Este livro é inspirado por Deus", semelhante frase não provaria nada: o Alcorão diz ser inspirado, assim como o Livro do Mórmon e vários livros de algumas religiões orientais. Mais: os livros de Mary Baker Eddy (a fundadora da Ciência Cristã) e de Ellen G. White (fundadora do Adventismo do Sétimo Dia) se auto-proclamam

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inspirados. Pode-se concluir - com grande senso comum - que o fato de um escrito atribuir a si qualidades de inspiração divina não quer dizer que assim o seja na realidade.

Ao dizer estes argumentos, muitos fundamentalistas recuam e nos afirmam que "o Espírito Santo me diz claramente que a Bíblia é inspirada", uma noção bastante subjetiva - para se dizer o mínimo - muito semelhante com aquela outra, tão comum entre os sectários, de que "o Espírito Santo os guia para interpretar as Escrituras". É, assim, que o autor anônimo do artigo "Como posso compreender a Bíblia?", um folheto distribuído pela organização evangélica "Radio Bible Class", apresenta doze regras para o estudo da Bíblia. A primeira é: "Busca a ajuda do Espírito Santo. O Espírito Santo foi dado para iluminar as Escrituras e fazê-las reviver para ti quando a estudas; deixa Ele te guiar".

Se com esta regra se entende que qualquer pessoa que pedir a Deus para o guiar na interpretação da Bíblia receberá essa condução do alto - e neste sentido entendem a maioria dos fundamentalistas - então o imenso número de interpretações contrárias e contraditórias, mesmo entre os próprios fundamentalistas, nos apresentaria a preocupante sensação de que o Espírito Santo não tem trabalhado direito...

NÃO COM SILOGISMOS

Grande parte dos fundamentalistas não dizem diretamente que o Espírito Santo lhes falou, assegurando-lhes que a Bíblia é um livro inspirado. Ao menos, não falam desse modo. Melhor, agem assim: ao ler a Bíblia, o Espírito "os convencem" que essa é a Palavra de Deus, recebem certa sensação interior de que é uma palavra divina e ponto.

De qualquer modo que se veja, a postura fundamentalista não resiste a um raciocínio sério. Conta-se nos dedos de uma mão os fundamentalistas que num primeiro momento se aproximaram da Bíblia como um livro "neutro" e, após sua leitura, a reconheceram como inspirado, segundo um raciocínio lógico. De fato, os fundamentalistas começam pressupondo o fato da inspiração - tal como recebem outras doutrinas das suas seitas - sem raciocinar sobre elas e, então, encontram partes da Sagrada Escritura que parecem fundamentar a inspiração, caindo assim num círculo vicioso, confirmando com a Bíblia o que eles já acreditavam de antemão.

A pessoa que quer refletir seriamente sobre o tema se defraudará com a posição fundamentalista da inspiração bíblica, percebendo que esta não possui uma base sólida para manter tal teoria. A posição católica é a única que, no final, pode dar uma resposta intelectualmente satisfatória.

A maneira católica de raciocinar, para demonstrar que a Bíblia é inspirada, é a seguinte: em um primeiro passo, consideramos a Bíblia como qualquer outro livro histórico, sem presumir que seja inspirado. Estudando o texto bíblico com os instrumentos da ciência moderna, chegamos à conclusão de que se trata de uma

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obra confiável, de grande precisão histórica, sendo que referida precisão ultrapassa em muito a de qualquer outro texto histórico.

UM TEXTO PRECISO

Frederic Kenyon, em "A História da Bíblia", faz notar o seguinte: "Para todas as obras da antigüidade clássica, nos vemos obrigados a nos socorrer de manuscritos redigidos muito depois do original. O autor que leva vantagem neste sentido é Virgílio, visto que o manuscrito mais antigo que dele possuímos foi escrito 350 anos depois da sua morte. Para todas as demais obras clássicas, o intervalo que existe entre a data do escrito original e a do manuscrito mais antigo que dele se conserva é muito maior: para Lívio, é de uns 500 anos; para Horácio, 900; para a maioria das obras de Platão, 1300; para Eurípedes, 1600". Mesmo assim, ninguém pode seriamente duvidar de que realmente possuímos cópias fiéis das obras desses autores.

Não somente possuímos manuscritos bíblicos mais próximos aos originais que os da antigüidade clássica, como também possuímos um número muito maior que aqueles. Alguns destes manuscritos são livros inteiros; outros são fragmentos; outros, tão somente algumas palavras; mas todos eles juntos somam milhares de manuscritos em hebraico, grego, latim, copta, siríaco e outras línguas. Tudo isso significa que possuímos um texto rigorosamente fiel, que pode ser usado com toda confiança.

TOMADO HISTORICAMENTE

Em um segundo momento, dirigimos nossa atenção para o que a Bíblia - considerada somente como um livro histórico - nos ensina, particularmente no Novo Testamento e nos Evangelhos. Examinemos o relato da vida de Jesus, sua morte e sua ressurreição.

Usando o que nos transmitem os Evangelhos, o que lemos em outros escritos extrabíblicos dos primeiros séculos e o que nos ensina nossa própria natureza - e o que de Deus podemos conhecer pela luz da razão - concluímos que Jesus ou era o que dizia ser (Deus) ou era louco. (Sabemos que não pode ter sido apenas um bom homem e ao mesmo tempo não ser Deus, já que nenhum bom homem poderia atribuir para si a divindade se realmente não fosse Deus).

Também podemos negar que era um louco, não apenas pelo que disse e ensinou - nenhum louco jamais falou como ele, da mesma forma que nenhum homem sábio tampouco já tenha falado assim... - mas ainda pelo que seus discípulos fizeram após a sua morte. Uma fraude (o túmulo supostamente vazio) poderia ter ocorrido, mas ninguém daria a vida por uma fraude, ao menos por uma fraude sem perspectiva de proveito. Logo, devemos afirmar que Jesus verdadeiramente ressuscitou e, portanto, era Deus como dizia ser e cumpriu o que prometeu fazer.

Outra coisa que Ele disse que faria seria fundar a sua Igreja; e tanto a Bíblia (ainda que tomada como simples livro histórico e não como livro inspirado por Deus)

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como outras fontes históricas antigas nos fazem saber que Cristo estabeleceu uma Igreja com as características que vemos hoje na Igreja Católica: papado, hierarquia, sacerdócio, sacramentos, autoridade para ensinar e, como conseqüência desta última, infalibilidade. A Igreja de Cristo deveria gozar da infalibilidade de ensinamento se fosse cumprir aquilo para o qual Cristo a fundou.

Tomando material meramente histórico, concluímos que existe uma Igreja - a Igreja Católica - protegida pelo Espírito Santo para que possa ensinar, sem erro, até o fim dos tempos. Vejamos agora a última parte do argumento.

Essa Igreja nos diz que a Bíblia é inspirada e podemos confiar em seu ensino porque se trata de um ensinamento autorizado, infalível. Só após sermos ensinados por uma autoridade propriamente constituída por Deus para nos transmitir as verdades necessárias para a nossa fé - tal como a inspiração da Bíblia - só então é que podemos usar as Escrituras como um livro inspirado.

UM ARGUMENTO EM ESPIRAL

Há que se notar que o nosso argumento não cai em um círculo vicioso: não estamos baseando a inspiração da Bíblia na infalibilidade da Igreja e a infalibilidade da Igreja na palavra inspirada da Bíblia; isso seria precisamente um círculo vicioso. O que temos feito se chama "argumento em espiral": por um lado, argumentamos sobre a confiabilidade da Bíblia como texto meramente histórico; dali sabemos que Jesus fundou uma Igreja infalível e só então tomamos a palavra dessa Igreja infalível que nos ensina que a Palavra transmitida pela Bíblia é uma Palavra inspirada, Palavra de Deus. Não se trata de um círculo vicioso, já que a conclusão final (a Bíblia é a Palavra de Deus) não é o enunciado do qual partimos (a Bíblia é um livro historicamente confiável), e este enunciado inicial não está baseado, em absoluto, na conclusão final. O que demonstramos é que, se excluirmos a Igreja, não teremos suficientes motivos para afirmar que a Bíblia é a Palavra de Deus.

É certo que o que acabamos de discutir não é precisamente o raciocínio que a gente habitualmente faz ao se aproximar da Bíblia, mas é a única maneira razoável de fazê-lo na hora em que se nos perguntam por que cremos na Bíblia. Qualquer outro raciocínio é insuficiente; talvez haja argumentos mais próximos da gente sob o ponto de vista psicológico, porém, são estritamente argumentos não convincentes. Na matemática aceitamos "por fé" (não no sentido teológico do termo, é claro) que dois mais dois é igual a quatro. É uma verdade que nos parece evidente e satisfatória sem maiores argumentos, mas para quem quiser fazer um curso de matemática, deverá estudar um semestre inteiro visando provar essa verdade tão "óbvia".

RAZÕES INADEQUADAS

A questão aqui é a seguinte: os fundamentalistas têm muita razão em crer que a Bíblia é um livro inspirado por Deus, no entanto, suas razões para crer são inadequadas, insuficientes, já que a aceitação da inspiração divina das Escrituras

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pode se basear satisfatoriamente apenas numa autoridade estabelecida por Deus que nos assegure isso; e essa autoridade é a Igreja.

E precisamente aqui encontramos um problema mais sério: pode parecer a alguém que mesmo que eu creia na Bíblia como Palavra de Deus, pouco importa o motivo dessa minha crença; o importante seria aceitar a Bíblia como a Palavra de Deus. Porém, o motivo pelo qual uma pessoa crê na Bíblia afeta substancialmente a maneira de interpretar a Bíblia. O fiel católico crê na Bíblia porque a Igreja assim o ensina e essa mesma Igreja tem a autoridade de interpretar o texto inspirado. Os fundamentalistas, por sua vez, crêem na Bíblia - mesmo baseados em argumentos pouco convincentes - porém, não aceitam nenhuma outra autoridade para interpretar o texto bíblico a não ser os seus próprios pontos de vista.

O cardeal Newman expressava isso em 1884, da seguinte maneira: "Certamente que se as revelações e ensinamentos bíblicos do texto sagrado se dirigem a nós de uma maneira pessoal e prática, se faz obrigatória a presença formal, no meio de nós, de um juiz e expositor autorizado dessas revelações e ensinamentos. É antecedentemente irracional supor que um livro tão complexo, tão pouco sistemático, em partes tão obscuro, fruto de várias mentes tão distintas, lugares e épocas diferentes, fosse nos dado do alto sem uma autoridade interpretativa do mesmo, já que não podemos esperar que interprete a si mesmo. O fato de que seja um livro inspirado nos assegura a verdade do seu conteúdo, não a interpretação do mesmo. Como pode o simples leitor distinguir o que é didático e o que é histórico, o que é fato real e o que é uma visão, o que é alegórico e o que é literal, o que é um recurso idiomático e o que é gramatical, o que se enuncia formalmente e o que ocorre de passagem, quais são as obrigações que vigoram sempre e quais vigoram em certas circunstâncias? Os três últimos séculos têm provado, infelizmente, que em muitos países tem prevalecido a interpretação particular das Escrituras. O dom da inspiração divina das Escrituras requer como complemento obrigatório o dom da infalibilidade da sua interpretação".

As vantagens do raciocínio católico são duas: em primeiro lugar, a inspiração é estritamente demonstrada, não apenas "sentida". Segundo, o fato principal que pulsa atrás deste raciocínio - a existência de uma Igreja infalível, que nos conduz pela mão a dar uma resposta à pergunda do eunuco etíope (Atos 8,31): como saber se as interpretações do texto são mesmo as corretas? A mesma Igreja que autentica a Bíblia, que estabelece a sua inspiração, é a autoridade estabelecida por Jesus Cristo para interpretar a Sua Palavra.

A Bíblia dispensa a Tradição oral da Igreja?

A Tradição oral remonta ao próprio Cristo e aos Apóstolos. Ela é anterior à Escritura e se exprime nela. O ponto em que mais aparece a necessidade de algo anterior à Escritura, é a que se refere ao Cânon Bíblico: Como saber se um livro é ou não inspirado?

O próprio protestantismo, que afirma só reconhecer a Escritura, recorre necessariamente à Tradição Oral em 2 ocasiões:

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1. Sem a Tradição oral, não se pode definir o catálogo sagrado, pois em nenhuma parte da Escritura está escrito quais os livros que, inspirados por Deus, a devem integrar. É preciso procurar a definição dos livros sagrados fora da Escritura: na Tradição. Ora Lutero e o Protestantismo recorreram a tradição dos judeus da palestina, enquanto a Igreja Católica, seguindo o uso dos Apóstolos, optara pela tradição dos judeus de Alexandria.

2. Na sua maneira de interpretar a Biblia, os protestantes também recorrem a uma tradição. Pois embora o texto biblico seja o mesmo para todas as denominações evangélicas, estas não concordam entre si, por exemplo, no que toca ao Batismo de criança, à observância do sábado ou do domingo, etc. As divergências não provêm do texto biblico, mas da interpretação dada a este texto por cada fundador. Ou seja, dependem da tradição oral ou escrita que cada fundador quis iniciar na sua congregação. Assim, embora queiram rejeitar a Tradição Oral, o cristão a professa sempre: professa a Tradição oriunda de Cristo e dos Apóstolos, ou a tradição oriunda de Lutero, Calvino... Cada "profeta" protestante faz o que Lutero fez: rejeita a tradição protestante anterior e começa uma nova tradição: sim, lê a Bíblia ao seu modo e dela deduz proposições de fé e de moral que, segundo a sua intuição humana falível, lhe parecem mais acertada.

Assim, a Escritura, só, não pode ser, nem é no protestantismo, a única fonte de fé. Por outro lado, a Tradição Oral e o Magistério da Igreja só tem sentido se fazem eco à Sagrada Escritura.

A necessidade da Tradição e do Sagrado Magistério da Igreja

A Igreja Católica, desde os tempos apostólicos ensina que além da Sagrada Escritura, também é necessário para a formação doutrinal e moral da Igreja, a Sagrada Tradição (compreendendo aí os ensinamentos dos apóstolos e dos primeiros cristãos) e o Sagrado Magistério ( compreendendo o que os Concílios, o Bispo de Roma em particular, e em comunhão com ele todos os Bispos definem e ensinam como verdades de fé e moral ).

Tal tríade abençoada ( Sagrada Escritura, Sagrada Tradição e Sagrado Magistério) foram e são os responsáveis pelo desenvolvimento e manutenção de toda a doutrina católica nestes vinte séculos de história cristã.

O Protestantismo nega tanto a Tradição quanto o Magistério legitimamente instituído por Jesus Cristo. Para eles, a única regra é a Sola Scriptura (ou seja somente a Bíblia e nada mais do que ela é regra de fé e de moral) interpretada livremente por qualquer pessoa ( método do livre exame ). Eis Martinho Lutero a dize-lo sem rodeios: "a todos os cristãos e a cada um em particular pertence conhecer e julgar a doutrina. Anátema a quem lhe tocar um fio deste direito" ( Conforme D. M. Luthers, Werke, Kritische Gesamtausgabe. Weimar, X. 2 Abt., p. 217, 1883 ss). Como se dissesse a cada um de seus seguidores: Eia pois, valoroso cristão! Tu és mestre de ti mesmo. Despreza tudo o que os primeiros cristãos, os Bispos e os Concílios definiram como verdade. Toma tu a bíblia, senta em tua saleta e defina tu mesmo o teu cristianismo!

Procuraremos demonstrar - Se Deus o consentir - que ao abandonar tanto a

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Sagrada Tradição quanto o Sagrado Magistério, o protestantismo provocou inadvertidamente sua própria dissolução doutrinária e orgânica. E hoje, infelizmente, sob o elástico nome de "protestantismo" se abrigam milhares e milhares de seitas doutrinariamente e disciplinadamente discordantes entre si. Causando um fragrante escândalo à causa ecumênica e ao desejo expresso de Jesus Cristo: " Para que todos sejam um (...) e o mundo creia que tu me enviaste" ( Jo 17, 20-21).

Com efeito, sabemos, a própria Bíblia não caiu pronta dos céus. Quem definiu que cada um dos livros que compõem a Sagrada Escritura, era de inspiração Divina foi o Espirito Santo agindo através da Tradição e do Magistério Católico. Isto são fatos históricos! Quem definiu o cânon completo, tanto do antigo quanto do novo testamento, foi o Espirito Santo através da Tradição e do Magistério. Quem definiu que o Novo Testamento e o Velho fosse enfeixado em um único volume dando portanto igual valor entre os dois testamentos foi a Tradição e o Magistério. Do que viveu a Igreja católica primitiva, durante os primeiros anos de pregação? Quando o Novo testamento ainda não havia sido escrito? Sobreviveu pela Tradição e pelo Magistério.

A própria Bíblia dá testemunho interno da necessidade de uma Tradição e de um Magistério vivo, para interpretá-la e ensiná-la. Transcrevo sobre isto, o magnífico comentário de Pe. Leonel Franca: "(a própria Bíblia) inculca a necessidade do ensino vivo, a importância de conservar a tradição, a insuficiência das Escrituras, que segundo afirma São João, não encerra tudo o que ensinou o Salvador (Jo 21,25). Jesus Cristo nunca mandou aos seus discípulos que folheassem um livro para achar a sua doutrina, mandou pelo contrário aos fiéis, que ouvissem aos que Ele mandara pregar: quem vos ouve, a mim ouve; se alguém não ouvir a Igreja, seja considerado como infiel e publicano, isto é, não pertencente a minha Igreja: se alguém não vos receber nem ouvir vossas palavras, saindo da casa ou da cidade sacudi até o pó dos sapatos; Pai oro não só por estes (Apóstolos) mas por todos os que hão de crer em mim mediante a sua palavra a fim de que sejam todos uma coisa só. Foi Jesus ainda quem prometeu o seu Espírito de Verdade, a sua assistência espiritual, todos os dias, até a consumação dos séculos, para que os apóstolos vivendo moralmente em seus sucessores (os bispos ) continuassem até o final dos tempos a ensinar sempre tudo o que ele nos mandou. Eis meus caros leitores, o que diz a Bíblia" ( Franca, P. Leonel, I.R.C., 1958, pg.216-7).

Quando se fala de Magistério, evidentemente se fala do magistério legítimo, constituído por Jesus Cristo, o qual prometeu assistência especial e infalível até o final dos tempos: "Recebei o Espírito Santo (...) Eu estarei convosco até o final do tempos". Hoje, qualquer papalvo se atribui a si mesmo o título de "bispo" e sai por aí a fundar seitas e pregar doutrinas. Evidentemente este não é um magistério legítimo. O indivíduo que a si mesmo se premia com o título de "bispo", nada mais é que um mentiroso sacrílego.

Os próprios apóstolos ensinaram à exaustão a respeito da necessidade da Sagrada tradição e do Magistério legitimamente constituído. Vejamos S. João em suas últimas duas epístolas dizer expressamente que não quis confiar tudo por escrito,

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mas havia outras coisas que comunicaria à viva voz ( II Jo., 12 ; III Jo, 14). O apóstolo São Paulo, inculca fortemente a necessidade de uma tradição e um magistério vivo: "Estais firmes, irmãos e conservai as tradições que aprendestes ou de viva voz..." ( II Tes 2,15 ); "que vos aparteis de todos os que andam em desordens e não segundo a tradição que receberam de nós" (II Tes 3,6); "O que de mim ouvistes por muitas testemunhas, ensina-o a homens fiéis que se tornem idôneos para ensinar aos outros" (II Tm 2,2). A Igreja fundada por Cristo, portanto, seria ela "a coluna e o firmamento da verdade" ( I Tm 15). A Igreja fundada por Cristo portanto é maior que a Sagrada Escritura. Pois a Igreja é quem a escreveu, a definiu, a interpreta e a ensina. Os primeiros cristãos seguindo os ensinamentos dos apóstolos e já de posse da Sagrada Tradição e do Sagrado Magistério, nem pensam ser a Bíblia a única regra de fé. Aqui, por falta de espaço, vamos respigar apenas algumas citações da vasta seara dos testemunhos primitivos: "Advertia, antes de tudo, as igrejas das diversas cidades, evitassem, sobre todas as coisas, as heresias que começavam então a se alastrar e exortava-as a se aterem tenazmente à tradição dos apóstolos" ( Eusébio resumindo o ensino de S. Inácio de Antioquia, martirizado no ano 107 DC cf. Euséb., Hist. Eccles., III, 36 / MG, 20, 287); "Antes exortei-vos a vos conservardes unânimes na doutrina de Deus, pois Jesus Cristo nossa vida inseparável, é a doutrina do Pai, como a doutrina de Jesus Cristo são os bispos constituídos nas diversas regiões da terra" ( clara alusão ao Sagrado Magistério) ( S. Inácio, + 107 DC in Ad Ephesios, 3-4) ; "Sob Clemente, havendo nascido forte discórdia entre os irmãos de Corinto, a Igreja de Roma escreveu-lhes uma carta enérgica, exortando-os à paz, reparando-lhes a fé, e anunciando-lhes a tradição que havia pouco tinham recebido dos apóstolos" ( S. Irineu, martirizado em 202 DC in Contra as Heresias III, c.3,n.3) ; "Aí está claro, a quantos querem ver a verdade, a tradição dos apóstolos, manifesta em toda a Igreja disseminada pelo mundo inteiro..."( S. Irineu mártir in Contra as heresias III, 3, 1) ; "Não devemos buscar nos outros a verdade que é fácil receber da Igreja, pois os apóstolos a mãos cheias, versaram nela, como em riquíssimo depósito, toda a verdade... Este é o caminho da vida" (Idem, In Contra as heresias III, 4, 1); "E se os apóstolos não nos houvessem deixado as Escrituras, não cumpria seguir a ordem da Tradição por eles ensinada aos a quem confiavam à sua Igreja?" ( Idem, In Contra as heresias III, 4,1) ; "De nada vale as discussões das Escrituras. A heresia não aceita alguns de seus livros, e se os aceita, corrompe-lhes a integridade, adulterando-os com interpolações e mutilações ao sabor de suas idéias, e se, algumas vezes admitem a Escritura inteira, pervertem-lhe o sentido com interpretações fantásticas..." ( Tertuliano séc III In De Praescriptionibus., c. 19 / ML, II,31). Na mesma obra assevera que onde estiver a verdadeira Igreja, "aí se achará a verdade das Escrituras, da sua interpretação e de todas as tradições cristãs" ( Idem, De Praescript., c. 19 ML, II, 31).

Jesus Cristo, instituiu para sua Única Igreja, um Magistério verdadeiro, pois disse à Pedro: "Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus; tudo o que ligares na terra será ligado nos céus..." ( Mt 16, 18-19), e em outro lugar "Eu estarei convosco até o final dos tempos". Para os católicos, se Jesus prometeu ficar conosco até o final dos tempos ele irá cumprir literalmente esta promessa. Se ele disse que a sua Igreja iria se manter firme por todo o sempre porque as portas do

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inferno não iriam prevalecer, nós cremos que ele está cumprindo concretamente esta promessa.

Pois não é exatamente isto que constatamos na Igreja Católica? Dois mil anos de existência ininterrupta. E que constância doutrinária e moral admirável! Quantas perseguições e vicissitudes e no entanto "as portas do inferno não prevaleceram". Parte desta unidade e estabilidade maravilhosa devemos certamente à instituição da Sagrada Tradição e do Sagrado Magistério por Cristo e pelos apóstolos.

O protestantismo negando tanto a Tradição quanto o Magistério sofre desde os seus primórdios uma desintegração doutrinária assombrosa. Onde Cristo fundou a Igreja Católica sobre a Rocha, Lutero e Cia fundaram a Igreja Evangélica sobre a areia movediça da sola scriptura e do livre exame. E logo nas primeiras ventanias, pôs-se a casa dos reformadores a desabar fragorosamente: tábuas lançadas aqui e ali, telha lá e acolá, junturas e cacos em todas as direções.

As divisões e subdivisões do Protestantismo desafiam hoje a paciência dos mais abnegados dos estatísticos.

Vejamos como no princípio deste século, o Reverendíssimo Pe. Leonel Franca já chamava a atenção para este fato, descrevendo lucidamente o processo de desagregação doutrinária do protestantismo, baseado no método da sola scriptura e do livre exame: "Na nova seita (protestantismo) não há autoridade, não há unidade, não há magistério de fé. Cada sectário recebe um livro que o livreiro lhe diz ser inspirado e ele devotamente o crê sem o poder demonstrar; lê-o, entende-o como pode, enuncia um símbolo, formula uma moral e a toda esta mais ou menos indigesta elaboração individual chama cristianismo evangélico. O vizinho repete na mesma ordem as mesmas operações e chega a conclusões dogmáticas e morais diametralmente opostas. Não importa; são irmãos, são protestantes evangélicos, são cristãos, partiram ambos da Bíblia, ambos forjaram com o mesmo esforço o seu cristianismo" ( In I.R.C. Pg. 212 , 7ª ed.).

Vejamos alguns exemplos práticos: um fiel evangélico quer mudar de seita? Precisa-se rebatizar? Umas igrejas dizem sim, outras não. Umas admitem o batismo de crianças, outras só de adultos, umas admitem a aspersão, infusão e imersão. Aquela outra só imersão, e mesmo há grupelho que só admite batismo em água corrente e sem cloro! Aqui e ali as fórmulas de batismo são tão variadas como as cores do arco-íris. Quer o sincero evangélico participar da Santa Ceia? Há seitas que consideram o pão apenas pão (pentecostais) outras que o pão é realmente o corpo de Cristo (Luteranos, Episcopais e outros). Uns a praticam com pão ázimo, outras com pão comum, aqui com vinho, lá com vinho e água, acolá com suco de uva. A Santa Ceia pode ser praticada diariamente, mensalmente, trimestralmente, semestralmente, anualmente ou não ser praticada nunca. Trata-se de ministérios ordenados? Esta seita constitui Bispos, presbíteros e diáconos. Àquela só presbíteros e pastores, ali pastores e anciãos, lá Bispos e anciãos, acolá presbíteros e diáconos, outras não admitem ministro nenhum. Umas igrejas ordenam mulheres, outras não. E por aí, atiram os evangélicos em todas as solfas quando o assunto é ministério ordenado. Após a morte, o que espera o cristão ?

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Pode um crente questionar seu pastor sobre isto? E as respostas colhidas entre as denominações seria tão rica e variada quanto a fauna e a flora. Há Pastor que prega que todos estarão inconscientes até a vinda de Cristo quando serão julgados; outros pregam o "arrebatamento" sem julgamento; outros, uma vida bem-aventurada aqui mesmo na terra; aqueles lá doutrinam que após a morte já vem o céu e o inferno; no outro quarteirão, se ensina que o inferno é temporário; opinam alguns que ele não existe; e tantas são as doutrinas sobre os novíssimos quanto os pastores que as pregam. Está cansado o fiel da esposa da sua juventude? Não tem importância, sempre encontrará uma seita a lhe abrir risonhamente as portas para um novo matrimônio. E de vez em quando não aparece um maluco aqui e ali aprovando a poligamia? Lutero mesmo admitiu tal possibilidade: "Confesso, que não posso proibir tenha alguém muitas esposas; não repugna às Escrituras; não quisera porém ser o primeiro a introduzir este exemplo entre cristãos" ( Luthers M.., Briefe, Sendschreiben (...) De Wette, Berlin, 1825-1828, II. 259 ). Não há uma pesquisa nos Estados Unidos que demonstra que entre os critérios para um evangélico escolher sua nova igreja está o tamanho do estacionamento? Eis o que é hoje o protestantismo.

Vejamos neste passo a afirmação de Krogh Tonning famoso teólogo protestante norueguês, convertido ao catolicismo, que no século passado já afirmava: "Quem trará à nossa presença uma comunidade protestante que está de acordo sobre um corpo de doutrina bem determinado ? Portanto uma confusão (é a regra ) mesmo dentre as matérias mais essenciais" ( Le protest. Contemp., Ruine constitutionalle, p. 43 In I.R.C., Franca, L., pg 255. 7ª ed, 1953)

Mas o próprio Lutero que saiu-se no mundo com esta novidade da sola scriptura viveu o suficiente para testemunhar e confessar os malefícios que estas doutrinas iriam causar pelos séculos afora: "Este não quer o batismo, aquele nega os sacramentos; há quem admita outro mundo entre este e o juízo final, quem ensina que Cristo não é Deus; uns dizem isto, outros aquilo, em breve serão tantas as seitas e tantas as religiões quantas são as cabeças" ( Luthers M. In. Weimar, XVIII, 547 ; De Wett III, 6l ). Um outro trecho selecionado, prova que o Patriarca da Reforma tinha também de quando em quando uns momentos de bom senso: "Se o mundo durar mais tempo, será necessário receber de novo os decretos dos concílios (católicos) a fim de conservar a unidade da fé contra as diversas interpretações da Escritura que por aí correm" ( Carta de Lutero à Zwinglio In Bougard, Le Christianisme et les temps presents, tomo IV (7), p. 289).

Gostaríamos de terminar por aqui para não sermos enfadonhos. Quando o Pai do Protestantismo, diante da dissolução das seitas, já há quinhentos anos atrás, confessa ao outro "reformador" que seria necessário receber de novo o Sagrado Magistério ( Concílios ) para manter a unidade, a regra do livre exame e da sola scriptura já está julgada por si mesma.

A suficiência material e a suficiência formal das Escrituras

Por suficiência material entendemos que todas as informações necessárias para se formular uma doutrina estão presentes nas Escrituras. Entretanto, pelo fato de o significado das Escrituras não ser totalmente claro, e algumas

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vezes as doutrinas se encontram mais implícitas que explícitas, outros "meios", além da Bíblia somente, foram- nos deixados pelos apóstolos: A Sagrada Tradição (que é a ferramenta que extrai as informações e as dispõe da forma correta) e o Magistério da Igreja. Juntas, estas três formas - a Sagrada Escritura, a Sagrada Tradição e o Magistério da Igreja - são formalmente suficientes para que se reconheça a verdade revelada por Deus.

Aqueles que defendem a suficiência formal das Escrituras advertem que reunir a Tradição ao contexto bíblico inevitavelmente tornará a última inferior à primeira. Temem, com isso, que meras tradições humanas subjulgue a palavra de Deus.

(Mark Shea, in Not by Scripture Alone, Robert A. Sungenis, Santa Barbara, CA:

Queenship Pub. Co., 1997, cap 4)A Trindade pode ser provada pelas Escrituras, de fato (suficiência material), mas o uso somente das Escrituras não foi formalmente suficiente para evitar o aparecimento da heresia ariana. Em outras palavras, a decisão final da disputa ficou por conta da Sagrada Tradição, que demonstrou que a Igreja sempre foi trinitariana. Os arianos não podiam recorrer a nenhuma Tradição porque sua cristologia era uma inovação herética do século 4.

Os arianos, com isso, recorreram somente à Escritura. O princípio formal dos arianos era deficiente, por isso eles puderam recorrer à Bíblia e formular suas doutrinas (assim como vários grupos protestantes hoje em dia).

Os católicos alegam, então, que o conhecimento da Tradição apostólica é necessário juntamente ao conhecimento bíblico. Este é o princípio patrístico, e a forma como ele refuta os heréticos. Os argumentos bíblicos contribuíram com o centro de suas doutrinas, mas no fim deveriam consultar a Tradição do que "sempre foi aceito por todos e em todo lugar" (São Vicente de Lérins, Commonitorium).

Edwin Tait, anglicano, escreveu (em total acordo com o conceito católico):

Com certeza os Padres ensinaram que podiam provar suas conclusões a partir da Bíblia. Também ensinaram que a comunhão dos bispos sucessores dos apóstolos, reunidos em Concílio (com Roma tendo algum papel, o qual não pretendo abordar aqui), seriam os responsáveis pela correta interpretação da Bíblia. Todo este debate sobre a Sola Scriptura somente se tornou realidade quando um número considerável de cristãos começaram a afirmar que os bispos reunidos em Concílio haviam errado na interpretação bíblica durante vários séculos. Ambos os lados podem recorrer aos Pais, porque os Pais nunca ensinaram sobre a suficiência bíblica e a autoridade da Igreja/Tradição em discordância.

Concordo plenamente com o texto acima. Note que a última frase é importantíssima. Esta é a visão dos apóstolos, padres, do catolicismo, orientais e do anglicanismo histórico. Muitos protestantes, infelizmente, sentem não medem esforços - desnecessários - em separar estas duas autoridades. Livros inteiros já foram escritos sobre uma suposta defesa da Sola Scriptura pelos Pais da Igreja, quando na realidade estes defendem a suficiência material, a sua inspiração e suficiência em refutar os heréticos e falsas doutrinas em geral. É fácil pensar que os Pais foram defensores da Sola Scriptura se seus ensinamentos sobre a Tradição Apostólica e a Autoridade da Igreja forem suprimidos ou ignorados pelos

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protestantes. Uma "meia-verdade" às vezes pode ser pior que uma mentira completa, pois quem a ensina deveria conhecer melhor do assunto, ou pelo menos conhece "metade" dele...

Podemos dizer que a Trindade não é uma doutrina clara nas Escrituras. A verdade é que esta doutrina foi o resultado de uma discussão de cerca de 400 anos. Tal fato não pode ser ignorado. Se a Trindade fosse demonstrada nas Escrituras com a claridade que os protestantes alegam que possui, tal doutrina, definida em Calcedônia, já deveria ser seguida e transmitida muito antes.

As Escrituras, isoladas, são suficientes para refutar o arianismo? Creio que sim. Apesar disso, creio que também seja verdade que alguém, em uma situação hipotética, que não conheça nada sobre história da Igreja ou teologia, sem saber como se chegou à definição formal da doutrina da Trindade, começasse a ler uma Bíblia, a doutrina ariana parecia tão plausível para ele como também pareceria a doutrina da Trindade. Isso porque esta doutrina não é imediatamente acessível à razão humana. É uma revelação e um mistério que precisa ser aceito pelos olhos da fé (sem reduzir suas provas Bíblicas).

Eu conheço casos semelhantes devido a minha experiência em diálogos com Testemunhas de Jeová. Eles lêem a Bíblia de maneira liberal e racionalista, chegando a conclusões tais como "três não pode ser igual a um" (que é matematicamente verdadeiro, mas não em relação aos mistérios de Deus).

Um outro exemplo vem da minha vida pessoal. Fui criado como protestante metodista, e os metodistas são trinitarianos, mas eu não conhecia nada de teologia. Era tão ignorante nesse assunto que ao assistir a um filme sobre a vida de Jesus, aos 17 anos, com meu irmão mais velho, fiquei chocado quando ele disse que Jesus era Deus. Eu respondi "não, ele é o filho de Deus". Então meu irmão me ensinou um pouco do básico da cristologia cristã.

Em outras palavras, se alguém conhece muito pouco de teologia, ele pode facilmente abrir sua Bíblia, ler que Jesus é o filho de Deus, ou "meu Pai é maior que eu", e muitas outras passagens semelhantes, concluir que Jesus é menor que Deus. Arianismo. Ou como os TJs fazem, ao ler Ap 3,14 ("Eis o que diz o Amém...o Princípio da criação de Deus") e concluir que Jesus fora criado. Estes são exemplos de como nascem as heresias ao longo dos tempos.

Com relação aos Padres, tudo o que é preciso para demonstrar que eles não ensinavam a Sola Scriptura é verificar se as afirmações abaixo se aplicam a um Padre em particular.

1. A Bíblia possui autoridade2. A Tradição Apostólica possui autoridade3. A Igreja possui autoridade

Aceitando estes três itens, é impossível que alguém também aceite a Sola Scriptura, porque nesta doutrina, a Bíblia (e a consciência individual) possui a autoridade sobre a Tradição e a Igreja (Lutero, em Worms, foi o defensor deste mesmo princípio), com a garantia de que a Bíblia é sempre - supostamente - "clara" em seus ensinamentos.

Os protestantes, claro, não aceitam os itens 2 e 3, simplesmente. Os Padres afirmam que compõem um tripé, atuando juntas, não contradizendo uma à outra, porque Deus não permitiria tal confusão. É aqui que entra a fé.

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A Igreja Católica afirma a suficiência material das Escrituras (assim como os Padres). Porém rejeita a sua suficiência formal, que na realidade é o núcleo do dogma protestante Sola Scriptura.

A autoridade da Igreja é uma necessidade prática, dada a tendência do homem de subverter a Tradição Apostólica como está nas Escrituras, seja ela clara ou não. O fato é que quando uma controvérsia aparece, uma autoridade fora da Bíblia deve encerrar todas as dúvidas e confirmar a ortodoxia. Isto não quer dizer que a Bíblia, apropriadamente entendida, não seja suficiente para refutar erros. Ela apenas não é formalmente suficiente por si só.

Já escrevi livros e vários artigos onde cito extensivamente a Bíblia. Isto não significa que não respeito a autoridade da Igreja ou que eu seja um defensor da Sola Scriptura. Santo Atanásio escreveu extensos argumentos bíblicos. Ótimo, com isso, estudando a Bíblia, fazendo exegese, discutindo suas páginas, pregando, etc., etc., são atos maravilhosos e bons (e os católicos concordam plenamente), mas nenhum destes gestos nos reduz a uma necessidade lógica de adotar a Sola Scriptura como princípio formal.

Heiko Oberman, historiador protestante, afirma:

Em relação à Igreja pré-augustiniana, há recentemente uma tendência convergente entre os estudiosos da Bíblia de que a Escritura e a Tradição na Igreja Primitiva não eram excludentes: kerygma, Escritura e Tradição coincidiam perfeitamente.

A tradição não deve ser entendida como uma adição ao kerygma, mas como a sua pregação de forma viva: em outras palavras, tudo que é encontrado na Sagrada Escritura está presente na Tradição.

Ela está presente no corpo visível de Cristo, inspirado e vivificado pela obra do Espírito Santo...A Escritura e a Tradição derivam de uma única fonte: a Palavra de Deus. Somente na Igreja este kerygma pode ser transmitido sem falhas...

The Harvest of Medieval Theology, Grand Rapids, MI: Eerdmans, rev. ed., 1967, 366-367

Jaroslav Pelikan, historiador luterano, afirma:

Claramente há um anacronismo em supor que as discussões dos séculos 2 e 3 derivam das controvérsias do século 16 em relação à Escritura e Tradição, pois 'na Igreja ante-nicena não havia a noção de Sola Scriptura, como também não havia a Sola Traditio.'[1]

A Tradição apostólica era pública...tão palpável que mesmo se os apóstolos não estivessem com a Escritura em mãos para demonstrar uma norma de suas doutrinas, a igreja ainda assim seguiriam 'a estrutura da tradição que eles traziam a quem confiaram as igrejas'[2]. Isto foi, de fato, o que a igreja fez nos territórios bárbaros onde o material escrito não era disponível aos ouvintes, conservando o conteúdo da fé transmitida pelos apóstolos e sumarizada no credo...

O termo "regra de fé" ou "regra de verdade"...parece algumas vezes ter pertencido à Tradição, outras à Escritura, outras à mensagem do Evangelho...

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Na Reforma...os advogados da autoridade final das Escrituras ignoraram a função da Tradição em conservar o que se conhecia como correta exegese das Escrituras contras as alternativas heréticas.

The Christian Tradition: A History of the Development of Doctrine: Vol. 1 of 5: The Emergence of the Catholic Tradition (100-600), Chicago: Univ. of

Chicago Press, 1971, 115-117, 119; citações: [1]. In Cushman, Robert E. & Egil Grislis, eds., The Heritage of Christian Thought: Essays in Honor of

Robert Lowry Calhoun, New York: 1965, citado em Albert Outler, "The Sense of Tradition in the Ante-Nicene Church," 29. [2]. St. Irineu, Contra as

Heresias, 3:4:1

A interpretação da Bíblia

Muitos escritores não levam em conta o sentido original, o gênero literário e a intenção dos autores sagrados; interpréta-os como se fossem textos modernos, que podem ser entendidos segundo as categorias de pensamento do homem de hoje. Os autores parecem mesmo desconfiar da exegese dita "científica".

Eis, porém, que é regra de sadia exegese procurar, antes do mais, o significado preciso do texto original; é necessário entender o texto como o autor sagrado o entendia e daí depreender a mensagem que ele queria transmitir. A inspiração do texto bíblico por parte do Espírito Santo não equivale a ditado mecânico; supõe sempre as categorias de pensamento do escritor oriental, antigo. Estas, portanto, têm que ser, primeiramente, detectadas e reconhecidas para que se possa compreender genuinamente a página bíblica. Este procedimento exegético tem sido enfaticamente recomendado pela Igreja desde Pio XII (encíclica Divino Afflante Spiritu, 1943) até o Concílio do Vaticano li, que em sua Constituição Dei Verbum ditou as normas seguintes: `Já que Deus falou na Sagrada Escritura através de homens e de modo humano, deve o intérprete da Sagrada Escritura, para bem entender o que Deus nos quis transmitir, investigar atentamente o que os hagiógrafos de fato quiseram dar a entender e aprouve a Deus manifestar por suas palavras.

Para descobrir a intenção dos hagiógrafos, devem-se levar em conta, entre outras coisas, também os gêneros literários Pois a verdade é apresentada e expressa de maneiras diferentes nos textos históricos, proféticos ou poéticos ou nos demais gêneros de expressão. Ora é preciso que o Intérprete pesquise o sentido que, em determinadas circunstâncias, o hagiógrafo, conforme a situação de seu tempo e de sua cultura, quis exprimir e exprimiu por meio dos gêneros literários então em uso. Pois, para entender devidamente aquilo que o autor sagrado quis afirmar por escrito é necessário levarem conta sejam aquelas usuais maneiras nativas de sentir, de dizer e de narrar que eram vigentes nos tempos do hagiógrafo, sejam as que em tal época se costumavam empregar nas relações dos homens entre si".

Verdade é que muitos dos exegetas científicos desde o fim do século XVIII têm cedido ao racionalismo, a ponto de esvaziarem por completo o texto bíblico. É o que vem provocando a réplica do chamado "Fundamentalismo" que se apega à

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letra do texto como ele soa em suas versões vernáculas e se fecha aos estudos de lingüística, arqueologia, história antiga... Ora o Fundamentalismo é posição extremada, errônea, como o racionalismo, pois ignora o mistério da condescendência divina, que assume as modalidades da linguagem e da cultura dos homens antigos para falar à humanidade. Assim se lê num documento da Pontifícia Comissão Bíblica intitulado "A Interpretação da Bíblia na Igreja" e datado de 15/4/1993: "O problema de base da leitura fundamentalista é que, recusando levar em consideração o caráter histórico da revelação bíblica, ela se toma incapaz de aceitar plenamente a verdade da própria Encarnação. O Fundamentalismo foge da estreita relação do divino e do humano no relacionamento com Deus Ele se recusa a admitir que a Palavra de Deus inspirada foi expressa em linguagem humana e que ela foi redigida, sob a inspiração divina, por autores humanos cujas capacidades e recursos eram limitados. Por esta razão, ele tende a tratar o texto bíblico como se ele tivesse sido ditado, palavra por palavra, pelo Espírito e não chega a reconhecer que apalavra de Deus foi formulada numa linguagem e numa fraseologia condicionadas por uma ou outra época. Ele não dá atenção ás formas literárias e às maneiras humanas de pensar presentes nos textos bíblicos, muitos dos quais são fruto de uma elaboração que se estendeu por longos períodos de tempo e leva a marca de situações históricas muito diversas.

O Fundamentalismo insiste também de maneira indevida sobre a inerrância dos pormenores nos textos bíblicos, especialmente em matéria de história ou de pretensas verdades científicas. Muitas vezes ele toma histórico aquilo que não tinha a pretensão de historicidade, pois ele considera como histórico tudo aquilo que é narrado ou contado com os verbos em tempo pretérito, sem a necessária atenção à possibilidade de um sentido simbólico ou figurativo". Por conseguinte, nem racionalismo nem fundamentalismo... Mas é necessário que o exegeta proceda sempre em duas etapas:

- procure, mediante os recursos da lingüística, da arqueologia, da história antiga... definir claramente o sentido do texto original ou aquilo que o autor humano queria dizer;

- a seguir, coloque esses resultados no conjunto das proposições da fé. A Sagrada Escritura é um longo discurso de Deus, homogêneo, que tem suas linhas centrais e seus acordes, que devem projetar luz sobre cada secção desse discurso. É o que São Paulo chamava "a analogia da fé ou a proporção da fé" (Rm 12,6). Esta fé é vivida e proclamada pela Igreja, cujo magistério recebeu de Cristo a garantia da autenticidade (cf. Jo 14, 26; 16,13-15). Assim o estudioso católico chega ao entendimento exato do texto sagrado. Não incute suas idéias ao texto (o que seria fazer in-egese), mas deduz do texto a mensagem objetiva (faz ex-egese). Quem assim não procede, corre o risco do subjetivismo ou de interpretações pessoais, semelhantes às que ocorrem no protestantismo.

As Revelações Particulares

Nenhuma revelação particular é endossada oficialmente pela Igreja. Esta não pode colocar no mesmo plano a revelação feita por Jesus Cristo e pelos autores bíblicos

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e qualquer revelação ocorrida em caráter particular após a era dos Apóstolos. A revelação oficial e pública termina com a geração dos Apóstolos; cf. Lumen Gentium n°- 25; Dei Verbum nº 4. Em conseqüência torna-se difícil crer que Deus queira continuar e explicitar a revelação outrora feita pelas Escrituras servindo-se de revelações não oficiais ou fazendo destas o complemento daquelas.

As revelações particulares, quando genuínas, geralmente corroboram o Evangelho, incutindo duas notas importantes: oração e penitência. Assim em La Salette, em Lourdes, em Fátima... Qualquer outra predição, principalmente se é muito minuciosa, torna-se suspeita. É não raro a satisfação que os "videntes" dão à sua própria curiosidade de saber o decurso do futuro; imaginam-no como se fosse revelado por Deus. Independentemente dessas minúcias, ficará sempre válida a exortação à conversão e à oração, tão recomendada pelo Evangelho e corroborada pelos sinais dos tempos atuais; estes pedem que os cristãos muito especialmente sejam o sal da terra, a luz do mundo (cf. Mt 5,13s), o fermento na massa (cf. Mt 13,33). A consideração dos nossos tempos, portanto, deve levar ao afervoramento da vida dos cristãos, abstração feita de predições sinistras.

Sobre o Cânon Bíblico

Quantas vezes você já ouviu de algum protestante a afirmação de que a Igreja Católica teria acrescentado vários livros apócrifos à Bíblia durante o Concílio de Trento, no séc. XVI? Quando eles falam isso, estão querendo se referir a sete livros do Antigo Testamento que não se encontram em suas bíblias: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc e os dois livros dos Macabeus (além de alguns trechos dos livros de Daniel e Ester). Porém, a própria História - que é imutável - desmente tal argumento, vistos os testemunhos abaixo:

"Cânon 36 - Parece-nos bom que, fora das Escrituras canônicas, nada deva ser lido na Igreja sob o nome 'Divinas Escrituras'. E as Escrituras canônicas são as seguintes: Gênese, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, quatro livros dos Reinos1, dois livros dos Paralipômenos2, Jó, Saltério de Davi, cinco livros de Salomão3, doze livros dos Profetas4, Isaías, Jeremias5, Daniel, Ezequiel, Tobias, Judite, Ester, dois livros de Esdras6 e dois [livros] dos Macabeus. E do Novo Testamento: quatro livros dos Evangelhos7, um [livro de] Atos dos Apóstolos, treze epístolas de Paulo8, uma do mesmo aos Hebreus9, duas de Pedro, três de João, uma de Tiago, uma de Judas e o Apocalipse de João.10 Sobre a confirmação deste cânon se consultará a Igreja do outro lado do mar11. É também permitida a leitura das Paixões dos mártires na celebração de seus respectivos aniversários12" (Concílio de Hipona, 08.Out.393).

"Parece-nos bom que, fora das Escrituras canônicas, nada deva ser lido na Igreja sob o nome 'Divinas Escrituras'. E as Escrituras canônicas são as seguintes: Gênese, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, quatro livros dos Reinos, dois livros dos Paralipômenos, Jó, Saltério de Davi, cinco livros de Salomão, doze livros dos Profetas, Isaías, Jeremias, Daniel, Ezequiel, Tobias, Judite, Ester, dois livros de Esdras e dois [livros] dos Macabeus. E do Novo Testamento: quatro livros dos Evangelhos, um [livro de] Atos dos Apóstolos, treze epístolas de Paulo, uma do mesmo aos Hebreus, duas de Pedro, três de João, uma de Tiago, uma de Judas e o

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Apocalipse de João. Isto se fará saber também ao nosso santo irmão e sacerdote, Bonifácio, bispo da cidade de Roma, ou a outros bispos daquela região, para que este cânon seja confirmado, pois foi isto que recebemos dos Padres como lícito para ler na Igreja" (Concílio de Cartago III (397) e Concílio de Cartago IV (419)).

"Tratemos agora sobre o que sente a Igreja Católica universal, bem como o que se dever ter como Sagradas Escrituras: um livro do Gênese, um livro do Êxodo, um livro do Levítico, um livro dos números, um livro do Deuteronômio; um livro de Josué, um livro dos Juízes, um livro de Rute; quatro livros dos Reis13, dois dos Paralipômenos; um livro do Saltério; três livros de Salomão: um dos Provérbios, um do Eclesiastes e um do Cântico dos Cânticos; outros: um da Sabedoria, um do Eclesiástico. Um de Isaías, um de Jeremias com um de Baruc e mais suas Lamentações, um de Ezequiel, um de Daniel; um de Joel, um de Abdias, um de Oséias, um de Amós, um de Miquéias, um de Jonas, um de Naum, um de Habacuc, um de Sofonias, um de Ageu, um de Zacarias, um de Malaquias. Um de Jó, um de Tobias, um de Judite, um de Ester, dois de Esdras, dois dos Macabeus. Um evangelho segundo Mateus, um segundo Marcos, um segundo Lucas, um segundo João. [Epístolas:] a dos Romanos, uma; a dos Coríntios, duas; a dos Efésios, uma; a dos Tessalonicenses, duas; a dos Gálatas, uma; a dos Filipenses, uma; a dos Colossences, uma; a Timóteo, duas; a Tito, uma; a Filemon, uma; aos Hebreus, uma. Apocalipse de João apóstolo; um, Atos dos Apóstolos, um. [Outras epístolas:] de Pedro apóstolo, duas; de Tiago apóstolo, uma; de João apóstolo, uma; do outro João presbítero, duas14; de Judas, o zelota, uma. (Catálogo dos livros sagrados, composto durante o pontificado de São Dâmaso [366-384], no Concílio de Roma de 382)

"Quais os livros aceitos no cânon das Escrituras, o breve apêndice o mostra: Cinco livros de Moisés, isto é, Gênese, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Um livro de Josué, filho de Num; um livro dos Juízes; quatro livros dos Reinos; e Rute. Dezesseis livros dos Profetas; cinco livros de Salomão; o Saltério. Livros históricos: um de Jó, um de Tobias, um de Ester, um de Judite, dois dos Macabeus, dois de Esdras, dois dos Paralipômenos. Do Novo Testamento: quatro livros dos Evangelhos; quatorze epístolas do apóstolo Paulo, três de João, duas de Pedro, uma de Judas, uma de Tiago; os Atos dos Apóstolos; e o Apocalipse de João" (papa Inocêncio I, 20.02.405; Carta "Consulenti Tibi" a Exupério, bispo de Tolosa).

"Devemos agora tratar das Escrituras Divinas. Vejamos o que a Igreja Católica universalmente aceita e o que deve ser evitado: (1) Começa a ordem do Antigo Testamento: um livro da Gênese, um do Êxodo, um do Levítico, um dos Números, um do Deuteronômio, um de Josué (filho de Nun), um dos Juízes, um de Rute, quatro livros dos Reis, dois dos Paralipômenos, um livro de 150 Salmos, três livros de Salomão (um dos Provérbios, um do Eclesiastes, e um do Cântico dos Cânticos). Ainda um livro da Sabedoria e um do Eclesiástico. (2) A ordem dos Profetas: um livro de Isaías, um de Jeremias com Cinoth (isto é, as suas Lamentações), um livro de Ezequiel, um de Daniel, um de Oséias, um de Amós, um de Miquéias, um de Joel, um de Abdias, um de Jonas, um de Naum, um de Habacuc, um de Sofonias, um de Ageu, um de Zacarias e um de Malaquias. (3) A ordem dos livros históricos: um de Jó, um de Tobias, dois de Esdras, um de Ester, um de Judite e dois dos Macabeus. (4)A ordem das escrituras do Novo Testamento, que a Santa e Católica Igreja Romana aceita e venera são: quatro livros dos Evangelhos (um segundo Mateus, um segundo Marcos, um segundo Lucas e um segundo João). Ainda um livro dos Atos dos Apóstolos. As 14 epístolas de Paulo

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Apóstolo: uma aos Romanos, duas aos Coríntios, uma aos Efésios, duas aos Tessalonicenses, uma aos Gálatas, uma aos Filipenses, uma aos Colossenses, duas a Timóteo, uma a Tito, uma a Filemon e uma aos Hebreus. Ainda um livro do Apocalipse de João. Ainda sete epístolas canônicas: duas do Apóstolo Pedro, uma do Apóstolo Tiago, uma de João Apóstolo, duas epístolas do outro João (presbítero) e uma de Judas Apóstolo (o zelota)" (papa S. Gelásio, ~495; Decreto Gelasiano; repetido em 520 pelo papa S. Hormisdas. Seguido também pelo Concílio Ecumênico de Florença15 [1438-1445], e novamente ratificado pelos Concílio de Trento16 [1546-1563] e Vaticano I [1870])).

Outras Fontes:Concílio Regional de Trulos, realizado no ano 692.

1 Trata-se dos dois livros de Samuel (1Rs/2Rs) e os dois livros de Reis (3Rs/4Rs).2 Isto é, os dois livros das Crônicas (1Cr/2Cr).3 Ou seja: Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria e Eclesiástico.4 A saber: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.5 Incluindo as "Lamentações" e "Baruc", segundo a Septuaginta.6 Isto é, o livro de Esdras e o livro de Neemias.7 Mateus, Marcos, Lucas e João.8 Aos Romanos, duas aos Coríntios, aos Gálatas, aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses, duas aos Tessalonicenses, duas a Timóteo, a Tito e a Filemon.9 Curiosa distinção resultada, provavelmente, dos escrúpulos que a Igreja Africana tinha a respeito da autenticidade literária paulina dessa epístola.10 Percebe-se, assim, que o cânon coincide perfeitamente com o cânon definido pelo Concílio de Trento.11 Trata-se da Igreja de Roma.12 Alusão ao culto dos santos mártires.13 Os Concílios regionais de Cartago simplesmente repetem, com as mesmas palavras, o conteúdo do cânon 36 do Concílio regional de Hipona. A diferença está somente na conclusão.14 Interessante distinção, já que antiquíssima tradição de Éfeso distinguia o João Apóstolo de um João Presbítero, da mesma região.15 cf. Decreto "Pro Iacobitis" (da Bula "Cantate Domino", de 04.02.1441): "...O Sacrossanto Concílio professa que um e o mesmo Deus é o autor do Antigo e do Novo Testamento, isto é, da Lei, dos Profetas e do Evangelho, pois os santos de ambos os Testamentos falaram sob a inspiração do mesmo Espírito Santo. Este Concílio aceita e venera os seus livros que vêm indicados pelos títulos seguintes: Cinco livros de Moisés (isto é, Gênese, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), Josué, Juízes, Rute, quatro livros dos Reis, dois dos Paralipômenos, Esdras, Neemias, Tobias, Judite, Ester, Jó, o Saltério de Davi, as Parábolas (Provérbios), Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria, Eclesiástico, Isaías, Jeremias, Baruc, Ezequiel, Daniel, os Doze Profetas menores (isto é, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias) e dois livros dos Macabeus. Quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), catorze epístolas de Paulo (uma aos Romanos, duas aos Coríntios, uma aos Gálatas, uma aos Efésios, uma aos Filipenses, uma aos Colossenses, duas aos Tessalonicenses, duas a Timóteo, uma a Tito, uma a Filemon, uma aos Hebreus), duas epístolas de

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Pedro, três de João, uma de Tiago, uma de Judas, os Atos dos Apóstolos e o Apocalipse de João".16 cf. Decreto sobre o Cânon (sessão IV, de 08.04.1546).

Como está definido o Cânon Bíblico

A Bíblia é formada pelos seguintes livros:

Antigo Testamento: Gênese, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, 1Samuel, 2Samuel, 1Reis, 2Reis, 1Crônicas, 2Crônicas, Esdras, Neemias, Tobias, Judite, Ester, 1Macabeus, 2Macabeus, Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes (ou Coélet), Cântico dos Cânticos, Sabedoria, Eclesiástico (ou Sirácida), Isaías, Jeremias, Lamentações, Baruc, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.

Novo Testamento: Mateus, Marcos, Lucas, João, Atos dos Apóstolos, Romanos, 1Coríntios, 2Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1Tessalonicenses, 2Tessalonicenses, 1Timóteo, 2Timóteo, Tito, Filêmon, Hebreus, Tiago, 1Pedro, 2Pedro, 1João, 2João, 3João, Judas e Apocalipse.

Portanto, o Antigo Testamento é formado por 46 livros e o Novo Testamento reúne 27 livros.

A Bíblia foi escrita em três línguas diferentes: o hebraico, o aramaico e o grego (Koiné). Quase a totalidade do Antigo Testamento foi redigida em hebraico, embora existam algumas palavras, trechos ou livros em aramaico e grego. Quanto ao Novo Testamento, este foi completamente redigido em grego - a única exceção parece ser o livro de Mateus, originariamente escrito em aramaico, contudo esse original foi perdido de maneira que resta-nos hoje a versão em grego.

Quanto ao Antigo Testamento, a Bíblia protestante possui sete livros a menos que a Bíblia católica. Ocorre que a Igreja Católica, desde o início, utilizou a tradução grega da Bíblia chamada Septuaginta ou Versão dos Setenta (LXX). Essa tradução para o grego foi feita no séc. III aC, em Alexandria (Egito), por setenta e dois sábios em virtude da existência de uma grande comunidade judaica nessa cidade que já não mais compreendia a língua hebraica. Na época em que foi feita essa tradução, a lista (cânon) dos livros sagrados ainda não estava concluída, de forma que essa versão acabou abrigando outros livros, ficando mais extensa. Essa foi a Bíblia adotada pelos Apóstolos de Jesus em suas pregações e textos: das 350 citações que o Novo Testamento faz dos livros do Antigo Testamento, 300 concordam perfeitamente com a versão dos Setenta, inclusive quanto às diferenças com o hebraico.

Por volta do ano 100 dC, os judeus da Palestina se reuniram em um sínodo na cidade de Jâmnia e estabeleceram alguns critérios para formarem o seu cânon bíblico. Esses critérios eram os seguintes:

1. O livro não poderia ter sido escrito fora do território de Israel.2. O livro não poderia conter passagens ou textos em aramaico ou grego, mas

apenas em hebraico.3. O livro não poderia ter sido redigido após a época de Esdras (458-428 aC).4. O livro não poderia contradizer a Lei de Moisés (Pentateuco).

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Assim, os livros escritos por aquela enorme comunidade judaica do Egito não foram reconhecidos pelo sínodo de Jâmnia, por causa de seus critérios ultranacionalistas. Também em virtude desses critérios, o livro de Ester - que em parte alguma cita o nome de Deus - foi reconhecido como inspirado mas somente a parte escrita em hebraico; os acréscimos gregos, que incluíam orações e demonstravam a real presença de Deus como condutor dos fatos narrados, foram completamente desprezados, deixando uma lacuna irreparável.

Os livros não reconhecidos pelo sínodo da Jâmnia e que aparecem na tradução dos Setenta são tecnicamente chamados de deuterocanônicos, em virtude de não terem sido unânimemente aceitos. São, portanto, deuterocanônicos no Antigo Testamento os seguintes livros: Tobias, Judite, Baruc, Eclesiástico, Sabedoria, 1Macabeus e 2Macabeus, além das seções gregas de Ester e Daniel.

Com a dúvida levantada pelo sínodo de Jâmnia, alguns cristãos passaram a questionar a inspiração divina dos livros deuterocanônicos. Os Concílios regionais de Hipona (393), Cartago III (397) e IV (419), e Trulos (692), bem como os Concílios Ecumênicos de Florença (1442), Trento (1546) e Vaticano I (1870), confirmaram a validade dos deuterocanônicos do Antigo Testamento, baseando-se na autoridade dos Apóstolos e da Sagrada Tradição.

Da mesma forma como existem livros deuterocanônicos no Antigo Testamento, também o Novo Testamento contém livros e extratos que causaram dúvidas até o séc. IV, quando a Igreja definiu, de uma vez por todas, o cânon do Novo Testamento. São deuterocanônicos no Novo Testamento os livros de Hebreus, Tiago, 2Pedro, Judas, 2João, 3João e Apocalipse, além de alguns trechos dos evangelhos de Marcos, Lucas e João.

Com o advento da Reforma Protestante, os evangélicos - a partir do séc. XVII1 - passaram a omitir os livros deuterocanônicos do Antigo Testamento. Alguns grupos mais radicais chegaram - sem sucesso - a tentar retirar também os livros deuterocanônicos do Novo Testamento. É de se observar, dessa forma, que caem em grande contradição por não aceitarem os deuterocanônicos do Antigo Testamento enquanto aceitam, incontestavelmente, os deuterocanônicos do Novo Testamento.

1 O próprio Lutero (fundador da Reforma) traduziu e publicou, para a língua alemã, os livros deuterocanônicos do Antigo Testamento.

Os livros deuterocanônicos fazem parte da Bíblia?O texto abaixo é um debate promovido pelo site "Agnus Dei", defendendo o canôn bíblico definido pela Igreja Católica. As partes escritas em azul mostram as argumentações de um irmão sobre a visão protestantes do canôn bíblico. As respostas à todas estas argumentações são mostradas logo abaixo, nos textos escritos em preto.

Caro, irmão:

Achei este texto de ataque ao cânon católico. Quando possível, gostaria de receber observações suas sobre o texto.

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Prezado Fabiano,

Vamos lá...

"No que diferem as Bíblias Católicas das Protestantes" De fato, existem diferenças entre as Bíblias Católicas e as Bíblias

Protestantes...

Nas Católicas há os livros chamados Apócrifos. Apócrifo antigamente no tempo dos Persas tinha um sentido esotérico, depois passou a significar Coisas Escondidas, Ocultas ou Secretas. Mais tarde esse termo foi sendo aplicado a livros de autenticidade incerta e hoje se aplica a livros religiosos não inspirados tais como esses que encontramos nas Bíblias Católicas;

Há uma meia verdade neste parágrafo. Realmente o termo "apócrifo" tem significado pejorativo, desde meados do séc IV dC, indicando autenticidade incerta. Porém, o termo não se aplica aos livros e acréscimos indicados pelo autor deste artigo no parágrafo seguinte, mas sim aos livros que não foram considerados inspirados pela Igreja primitiva (ex.: Evangelho de Tomé; Apocalipse de Paulo; 3Macabeus; etc.) - veja uma lista bem mais completa dos livros apócrifos no artigo "Quais são os livros apócrifos?"

São chamados mais apropriadamente de "deuterocanônicos" por se tratar de livros que não se encontram na Bíblia Palestinense (definida pelos judeus da Palestina em 90 dC), mas na Bíblia Alexandrina (dos judeus que habitavam nesta cidade do Egito). Os livros que coincidiam nas duas Bíblias são chamados de "protocanônicos".

Foi Lutero quem começou a chamar estes livros de apócrifos no séc XVI dC e, para complicar mais ainda, passaram a chamar de "pseudoepígrafos" aqueles livros de autenticidade evidentemente falsa, que nós, católicos (e também ortodoxos), chamamos de "apócrifos". O motivo disso é que os protestantes têm certas dificuldades teológicas se admitirem a autenticidade destes livros, pois apresentam de forma bem clara certas doutrinas refutadas por eles, como, por exemplo, o purgatório, a oração em favor dos mortos e a intercessão dos santos.

Os livros apócrifos são: Tobias, Judite, Sabedoria de Jesus ben Sirach ou Eclesiástico, Sabedoria de Salomão, Baruque, I Macabeus, II Macabeus, Acréscimos a Daniel, Acréscimos a Ester.

A informação aqui está correta com a única ressalva de que não são livros e acréscimos apócrifos, mas sim deuterocanônicos...

Qual a sua origem?

a) Ptolomeu Filadelfo rei do Egito ordenou que traduzissem os escritos dos hebreus para o Grego, língua oficial do mundo de então, para assim enriquecer a sua biblioteca;

A tradução dos livros dos hebreus para o grego se deu entre os anos 300 e 150 aC na Alexandria (Egito) e passou a ser chamada de Septuaginta (ou "LXX"), pois a tradição afirma de que foi realizada por 72 tradutores. A razão da tradução, entretanto, não foi simplesmente "enriquecer" a biblioteca do rei, mas tinha como principal propósito tornar acessível a Palavra de Deus aos judeus que viviam ali, numa enorme e próspera colônia, e que, com o passar dos anos, já não mais reconheciam a língua hebraica, embora

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guardassem plenamente a sua fé e identidade, como judeus que realmente eram.

O autor deste artigo reconhece isto - ainda que timidamente, pra variar - no item imediatamente a seguir...

b) O afrouxamento dos Judeus da grande colônia hebraica de Alexandria quanto ao estudo da sua própria língua;

Não se trata precisamente de um "afrouxamento" mas sim de um fator natural, que ocorre com qualquer língua minoritária em certa região onde a esmagadora maioria fala uma outra língua. Por exemplo, o português tem origem no latim, mas hoje, no Brasil (e até mesmo em Portugal), é muito difícil encontrar alguém que conheça plenamente a língua latina. Foi afrouxamento nosso? Certamente que não... trata-se de um processo de desenvolvimento lento e contínuo, estritamente natural e sem qualquer ligação com relaxamento...

c) A grande influência helenista nos judeus alexandrinos; Isto de modo algum "manchou" a fé dos judeus, bastando lembrar que Jesus

também era judeu e nunca fez ressalva alguma sobre tal questão; muito pelo contrário...

d) O grande desejo do mundo grego de conhecer os escritos dos judeus. Esta afirmação parece-me um tanto quanto esvaziada, porque o mundo

grego, na verdade, desprezava o conhecimento dos hebreus, pois não contavam com filósofos. É justamente por essa razão que São Paulo fala das vãs filosofias (Col 2,8) e diz que pregar a cruz de Cristo é escândalo para os judeus (já que o Messias seria o libertador de Israel) e loucura para os gregos (porque é contrário à filosofia); entretanto, o próprio São Paulo não abre mão da razão (=filosofia) para pregar o Evangelho pelo mundo grego (v. Atos dos Apóstolos)...

Em outras palavras: não eram os gregos que tinham interesse de conhecer os escritos judaicos, mas eram os judeus - e mais tarde também os cristãos - que tinham o interesse de propagar a Palavra de Deus; os judeus por puro proselitismo; os cristãos, pela Salvação de toda criatura humana.

Data 200 A.C. até 100 A.C. foram eles escritos. A crítica moderna (inclusive protestante) sugere as seguintes datas de

composição para os livros em debate:o Tobias: 200 aC (em hebraico ou aramaico)o Judite: 150 aC (em hebraico ou aramaico)o 1Macabeus: 100 aC (em hebraico ou aramaico)o 2Macabeus: 100 aC (em grego)o Eclesiástico: 200 (em hebraico) e 130 (tradução grega)o Sabedoria: 100 aC (em grego)o Baruc: 200 aC (em grego, talvez tradução do hebraico)o acréscimos a Ester: 160 aC (em grego)o acréscimos a Daniel: 100 aC (em grego)

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Entretanto, o fato de terem sido os últimos livros a serem escritos no Antigo Testamento, de forma alguma reduz-lhes o valor. Também o fato de alguns terem sido escritos fora do território da Palestina não significa que não sejam inspirados porque, ainda assim, foram escitos por representantes legítimos do Povo de Deus!

IV - Erros ensinados pelos apócrifos, que estão em contradição com o restante da Bíblia

Alguns desses "erros" foram com certeza retirados de um livretinho de autoria de Jaime Reda, chamado "Assim Diz a Bíblia". Embora não o afirme, o autor certamente é adventista e, como qualquer protestante, tem dificuldade em explicar doutrinas tão claras que se opõem ao que prega a sua seita...

Vamos analisar os "erros" e "refutar a refutação" do autor: primeiro, demonstrando que a Bíblia possui (nos livros que o autor aceita como inspirados, isto é, os "protocanônicos" do Antigo Testamento e todo o Novo Testamento) outros exemplos daquilo que o autor considera errado; segundo, apresentando a contradição do autor com o ensinamento bíblico...

A-1. Dar esmolas purifica o pecadoa) Tobias 12:9 - "Porque a esmola livra da morte e é a que apaga os pecados e faz encontrar a misericórdia e a vida eterna.";b) Tobias 4:10 - "Porque a esmola livra de todo o pecado e da morte e não deixará, cair a alma nas trevas.";c) Eclesiástico 3:33 - "As esmolas resgatam o pecado.";d) II Macabeus 12:43-46 - "E tendo feito uma coleta, mandou 12 mil dracmas de prata, a Jerusalém, para serem oferecidas em sacrifício pelos pecados dos mortos, sentindo bem e religiosamente da ressurreição... Se Judas não tivesse esperança de que se erguessem de novo os que caíram teria sido supérfluo orar pelos mortos... É pois um santo e salutar pensamento orar pelos mortos para que sejam livres de seus pecados".

"Porquanto qualquer um que vos der a beber um copo de água em meu nome, porque sois de Cristo, em verdade vos digo que de modo algum perderá a sua recompensa"(Mc 9,41).

"Dai, porém, de esmola o que está dentro do copo e do prato, e eis que todas as coisas vos serão limpas" (Lc 11,41)

"Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta" (Tg 2,26)

2. Refutação:a) Oferta em dinheiro para perdão do pecado não encontramos em nenhum lugar da Bíblia, isto é coisa diabólica, pois assim somente os ricos teriam o perdão dos pecados;b) I Pedro 1:18-19 - não foi com ouro ou prata que fomos comprados;c) Atos 10:4-6 - não somente dar esmolas mas conhecer e praticar a verdade;d) Efésios 2:8-9 - somos salvos pela graça de Deus e não por dinheiro;e) Isaías 55:1 - compra sem dinheiro.

O que importa não é se a esmola é oferecida em dinheiro ou em espécie, mas com a intenção de querer fazer o bem, por amor a Jesus. É dar a quem precisa, sem guardar o sentimento de retribuição. Isto agrada ao Senhor (até um pequeno e simples copo de água!!) e O levará a considerar tal feito no Dia do Juízo; portanto, não há dúvidas de que a esmola apaga pecados, não

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no sentido de torná-los inexistentes, mas compensados... Foi justamente por isso que a pobre viúva que deu tudo o que tinha foi elogiada por Cristo, em detrimento aos ricos (cf. Lc 21,3); mesmo assim, estes ricos, que deram do que tinha de sobra, também não foram condenados - a diferença é que estes terão uma recompensa menor do que aquela viúva (haverá, portanto, uma compensação). Jesus confirma também o valor da esmola juntamente com outras formas de piedade (Mt 6,2-18), que cobrem "uma multidão de pecados" (1Ped 4,8).

B-1. Ensino de Crueldade e do Egoísmoa) Eclesiástico 12:6 - "Não favoreças aos ímpios; retém o teu pão e não o dê a ele".

"Deste modo extirparás o mal do teu meio, para que os outros ouçam, fiquem com medo e nunca mais tornem a praticar o mal no meio de ti. Que teu olho não tenha piedade. Vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé" (Dt 19,19-20).

2. Refutação:a) Eclesiastes 11:1-2 - lança o teu pão;b) Provérbios 25:21-22 - dá-lhe pão para comer e água para beber;c) Romanos 12:20;d) Mateus 5:44-48 - amar os nossos inimigos.

É mais do que claro que o autor do Eclesiástico segue rigorosamente o ensino do Antigo Testamento (v. especialmente Êxodo e Deuteronômio). Se lermos Eclo 12,4-7, perceberemos que não se trata de esmola dada aos necessitados, mas sim de benefícios o que, certamente, é melhor concedê-los a gente honesta do que a pessoas malvadas. Santo Agostinho escreveu sobre esta passagem de Eclo: "Não dês ao pecador enquanto pecador, dá-lhe enquanto homem". Logo, a referida passagem não se refere à crueldade, muito menos se refere ao egoísmo.

C-1. Pecados perdoados pela oraçãoa) Eclesiástico 3:4 - "Quem amar a Deus receberá perdão de seus pecados pela oração".

2. Refutação: a) Os pecados não se perdoam pela oração, se fosse assim, não teríamos necessidade de Jesus. Todos os povos pagãos fazem orações, mas os pecados não se perdoam somente pela oração;b) Provérbios 28:13 - o que confessa e deixa alcançará misericórdia;c) I João 1:9 - renúncia do pecado;d) I João 2:1-2 - Cristo é quem perdoa.

Tal refutação é, no mínimo, ridícula. O livro do Eclesiástico - de onde foi tirado o exemplo dos pecados perdoados pela oração - pertence ao AT e, como todos os demais, são apenas um preparativo para a nova Aliança em Cristo. Além do mais, a confissão não deixa de ser uma oração - seja no ponto de vista católico, através do Ato de Contrição, seja no ponto de vista protestante, onde o pecador tentar obter seu perdão diretamente de Deus. Portanto, o autor cai em contradição consigo mesmo.

D-1. O Ensino do Purgatórioa) Sabedoria 3:1-4 - "Mas as almas dos justo estão nas mãos de Deus; e o tormento da morte não as tocará. Aos olhos dos ignorantes pareciam eles morrer e sua partida foi considerada desgraça. E, sua separação de nós, por uma extrema perda. Mas eles estão em paz. E embora aos olhos dos homens

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sofram tormentos, sua esperança está plenamente na imortalidade.";b) Isto é a doutrina do Purgatório.

"Em verdade te digo que de maneira nenhuma [sairás] dali enquanto não pagares o último ceitil" (Mt 5,26)

"Se alguém disser alguma palavra contra o Filho do homem, isso lhe será perdoado; mas se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste mundo, nem no vindouro" (Mt 12,32)

"Se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele prejuízo; mas o tal será salvo todavia como que pelo fogo" (1Cor 3,15).

2. Refutação:a) I João 1:7 - esse ensino aniquila completamente a expiação de Cristo. Se o pecado, pudesse ser extinguido pelo fogo, não teríamos necessidade de um Salvador;b) Eclesiastes 9:6 - os mortos não sabem coisa nenhuma - Isaías 38:18-19;c) I Tessalonissenses 4:13-16 - na ressurreição os justos serão galardoados.

A doutrina do Purgatório de forma alguma aniquila a obra de Cristo; muito pelo contrário... Sabemos muito bem que nada de impuro pode entrar no céu (Mt 5,8); por outro lado sabemos que aquele que disser que não tem pecados é um mentiroso (1Jo 1,10). No entanto, o Senhor é justo juiz (2Tim 4,8) e recompensa até um copo d'água que é dado em seu nome (Mt 9,41). Logo, embora o purgatório não seja mencionado com este nome na Escritura (a Santíssima Trindade também não é e todos os cristãos a professam como verdade revelada!), a sua realidade é incontestável. Observe-se, ainda, que o purgatório é somente para os que estão salvos mas ainda possuem pecados não expiados, tornando necessária a purificação para ver a Deus. Quem for julgado para a perdição, não tem como passar pelo purgatório para expiar seus pecados...

No site do Agnus Dei existem diversos artigos sobre o Purgatório, explicando-o com mais detalhes. Utilize a ferramenta de busca interna, existente no Índice de Assuntos, para localizá-los mais facilmente...

E-1. O Ensino da Vingançaa) Judite 9:2 - "O Senhor Deus, do meu pai Simeão, a quem deste a espada para executar vingança contra os gentios".

"Olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé..." (Ex 21,24) "Quebradura por quebradura, olho por olho, dente por dente; como ele tiver

desfigurado algum homem, assim lhe será feito." (Lv 24,20) "O teu olho não terá piedade dele; vida por vida, olho por olho, dente por

dente, mão por mão, pé por pé." (Dt 19,21)

2. Refutação:a) Gênesis 34:30 - o aborrecimento de Jacó pela vingança de Simeão contra os cananitas;b) Gênesis 49:5-7 - a maldição de Jacó porque eles usaram de vingança;c) Romanos 12:17-19 - minha é a vingança do Senhor.

Será que os exemplos que citei acima, tirados do Êxodo, Levítico e Deuterônimo são exemplos de amor ao próximo? Também não é necessário falar das mortes efetivadas pelos hebreus durante a Conquista da Terra Prometida... O autor do presente artigo não poderia ser mais infeliz para refutar alguma coisa dos deuterocanônicos...

F-1. Suicídio

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a) II Macabeus 12:41 - "... quando ele se viu a ponto de ser preso, feriu-se com a sua espada, preferindo morrer nobremente a ver-se sujeito a pecadores, e padecer ultrajes indignos de seu nascimento".

A citação acima é tirada de 2Mc 14,41-42 e não de 2Mc 12,41! "Sansão invocou a Javé e exclamou: 'Senhor Javé, eu te suplico, vem em

meu auxílio; dá-me forças ainda esta vez, ó Deus, para que, de um só golpe, eu me vingue dos filisteus por causa dos meus dois olhos'. E disse: 'Morra eu com os filisteus!'". (Jz 16,28.30).

2. Refutação:a) morrer nobremente é a frase perigosa. A Bíblia nos conta de alguns suicídios, mas nunca os qualifica de cousa ou ato nobre;b) a vida e morte dependem de Deus e nós, não podemos desertar da vida para nos livrar de dificuldades. Cristianismo quer dizer paciência, abnegação. Tudo sofre, tudo suporta;c) Transgressão do mandamento "Não matarás".

A Bíblia possui diversos casos de suicídio - principalmente entre guerreiros - além do registrado pelo autor deste artigo: Jz 9,54; 16,28-29; 1Sm 31,4-5; 2Sm 17,23; 1Rs 16,18. O suicídio de Sansão (Jz 16,28-29) embora não seja classificado explicitamente como "morte nobre", é tido como grandioso pelo autor do livro dos Juízes, pois ele deu a sua vida pelo seu povo, utilizando contra os seus inimigos a força final recebida de Deus. Poderíamos, por isto, dizer que o suicídio é algo grandioso?? Que Deus aprova? Ou estaria Sansão ardendo no Inferno?

Se fosse algo sempre nobre ou grandioso, a Igreja Católica, por conseguinte, não condenaria o suicídio como sempre o fez. Ensina o Catecismo da Igreja: "Cada um é responsável por sua vida diante de Deus que lha deu e que dela é sempre o único soberano Senhor. Devemos receber a vida com reconhecimento e preservá-la para sua honra e salvação das nossas almas. Somos os administradores e não os proprietários da vida que Deus nos confiou. Não podemos dispor dela". Entretanto, a Igreja reconhece: "Não se pode desesperar da salvação das pessoas que se mataram. Deus pode, por caminhos que só ele conhece, dar-lhes ocasião de um arrependimento salutar. A Igreja ora pelas pessoas que atentaram contra a própria vida".

G-1. O Ensino de Artes Mágicasa) Tobias 6:8 - "Se tu puseres um pedacinho do seu coração (do peixe que ele havia apanhado) sobre brasas acesas, o seu fumo afugenta toda a casta de demônios, tanto do homem como da mulher, de sorte que não tornam mais chegar a eles". Verso 9 - "E o fel é bom para untar os olhos que tem algumas névoas, e sararão.".

"Dito isto, cuspiu no chão e com a saliva fez lodo, e untou com lodo os olhos do cego e lhe disse: 'Vai lavar-te na piscina de Siloé' [...] O cego foi. lavou-se e voltou vendo" (Jo 9,6)

"Está doente algum de vós? Chame os anciãos da igreja, e estes orem sobre ele, ungido-o com óleo em nome do Senhor" (Tg 5,14)

2. Refutação:a) não encontramos tal coisa em nenhum lugar da Bíblia;b) não precisamos de truques para enfrentar o diabo;c) maneiras de enfrentar o diabo e os demônios: Mateus 4:4-10;d) Tiago 4:7 - resisti ao diabo e ele fugirá;e) maneiras de expulsar demônios: Marcos 16:17 e Atos 16:18.

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Também não encontramos em qualquer outro lugar da Bíblia que a lama oriunda do cuspe misturada com a terra cura os cegos. Seria então Jesus um feiticeiro? :)

Torna-se claro, portanto, que existe um interesse oculto na referida passagem de Tobias, que só será desvendado em 8,3, quando o próprio Anjo Rafael expulsa o demônio (e não Tobias através do coração, fel e fígado do peixe). O interesse, portanto, é ocultar a identidade do Anjo para Tobias até a efetiva expulsão do demônio...

H-1. Mentirasa) Judite 11:13-17 - Judite mentindo para Holofernes;b) Tobias 5:15-19 - o anjo Rafael mentindo.

"Abraão disse de sua mulher Sara: 'É minha irmã' e Abimelec, rei de Gerara, mandou buscar Sara (Gen 20,2)

"Jacó disse: 'eu sou o teu filho primogênito, Esaú, fiz como me ordenaste...' Disse [Isaac]: 'Tu és o meu filho Esaú?' Respondeu: 'Eu o sou'. E logo que sentiu a fragrância de seus vestidos, abençoou-o." (Gen 27,19)

2. Refutação:a) Deus nunca sancionou a mentira nem mesmo nos seus servos;b) O mal começou com a mentira no céu;c) Gênesis 3:4 - certamente morrerás;d) João 8:44 - quem é o originador e pai de todas as mentiras, portanto não pode um anjo de Deus mentir;e) João 14:6 - Jesus diz ser o caminho, a Verdade e a vida. Todos os seguidores, de Cristo devem ser verdadeiros.

Também os grandes patriarcas hebreus mentiram e não foram abandonados por Deus; muito pelo contrário... Abraão foi pai de muitas nações (Gen 17,5); Jacó manteve a bênção de Deus e teve seu nome mudado para Israel (Gen 35,10).

É certo que a mentira atenta contra a verdade e é sempre proposital; entretanto, não se pode igualar os graus de mentira (generalizando-a) ou desconhecer-lhe a intenção (para prejudicar ou beneficiar alguém com ou sem prejuízo de outrem).

I-1. Tolices

a) Tobias 2:10 - as fezes de uma andorinha, caindo nos olhos de Tobias que estava dormindo junto a um muro deixa-o cego;

Os médicos também afirmam que o esterco de andorinha pode queimar os olhos... A observação também é feita na Bíblia Sagrada versão de Matos Soares (ed. Paulinas), na pág. 484.

b) Judite 8:5-6 - uma mulher jejuando a vida inteira, menos aos sábados; A mulher em questão é a própria Judite.O fato de jejuar todos os dias não

significa que não bebesse água, que é o elemento fundamental para o corpo humano. Também Jesus jejuou por 40 dias e 40 noites seguidos e não morreu (Mt 4,2). Certamente aos sábados Judite se alimentava bem, pelo menos com o suficiente para se manter firme... Vários santos também impuseram sobre si rigorosa rotina de jejum, principalmente os ermitões que viviam no deserto. Não há, neste caso, nenhuma "tolice" em Judite...

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c) II Macabeus 15:40 - "beber sempre água é coisa prejudicial". A frase completa é: "Assim como é nocivo beber somente vinho ou somente

água, enquanto que é agradável beber água misturada com vinho...". A frase encerra, portanto, uma verdade, que é o abuso; tudo que é feito em excesso é prejudicial, rompendo um equilíbrio que deve ser mantido. Mesmo assim, o que o autor se refere neste versículo é quanto à agradabilidade da narração de sua obra, que deve encantar os ouvidos. Você já bebeu água sem vontade? É horrível, não? Já bebeu vinho sem gostar? É ruim também porque queima a garganta... Misturando os dois fica agradável, saboroso, porque alcança um equilíbrio ao gosto do degustador. Assim deve ser qualquer obra literária: deve agradar o leitor!

V - Razões interessantes

Roma não pode chamar as outras Bíblias de falsas por não conterem os Apócrifos, assim como não pode se chamar uma nota de falsa por não ter ela uns acréscimos que alguém julgue que ela deva ter;

Pode sim! Pode porque foi a Igreja que definiu o cânon bíblico no séc. IV, selecionando os livros do Novo Testamento e confirmando todos os livros do Antigo Testamento segundo a versão da Septuaginta, incluindo os 7 livros aqui debatidos, bem como os acréscimos a Ester e Daniel. E a autoridade da Igreja para estabelecer o cânon é indiscutível, pois ela é a "coluna e o fundamento da Verdade" (1Tim 3,15).

E pode também porque a Igreja Católica foi fundada sobre os Apóstolos, que usaram a Septuaginta para escrever o Novo Testamento: das 350 citações do AT, 300 obedecem a versão dos LXX! Se o autor segue a autoridade dos judeus de Jâmnia para definir o seu cânon, deve deixar de lado todos os livros do Novo Testamento; porém, se aceita a autoridade da Igreja, fundada por Cristo, não tem como deixar de lado os livros deuterocanônicos, pois estaria (como de fato está) em contradição.

Em II Macabeus encontramos o autor do livro pedindo perdão pelas suas falhas como escritor. Se crêssemos que estes livros estão no mesmo pé de igualdade com os inspirados, ficaríamos então admirados de ver agora o Espírito Santo pedindo desculpas por algumas falhas, o que é inconcebível;

Não tem nada a ver! Também São Paulo afirma em 1Cor 7,12: "Aos outros sou eu quem digo e não o Senhor: se algum irmão tem uma mulher sem fé e esta consente em habitar com ele, não a repudie". Será que esta passagem também não é inspirada? Se não é, por que ainda se encontra na Bíblia??? Por que não foi simplesmente riscada?? E se fosse riscada, o que impediria de riscar toda a 1Coríntios?

O Senhor Jesus e os Apóstolos fazem 205 citações do V.T. e mais 304 alusões ao mesmo e não dizem nenhuma palavra sequer a respeito de um dos livros Apócrifos;

Não é verdade. Veja-se, por exemplo, o seguinte caso: em Hebreus 11,35 lemos que "Algumas mulheres reencontraram os seus mortos pela ressurreição. Outros foram esquartejados, recusaram o resgate para chegar a uma ressurreição melhor". A quem o Apóstolo se refere ao falar de algumas mulheres? Certamente ao filho da viúva ressuscitado por Elias (1Rs 17,22-23) e ao filho da sunanita ressuscitado por Eliseu (2Rs 4,35-36). Até aí tudo bem... Porém pergunte a um protestante:

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Onde você encontra na Bíblia alguém que aceitou ser esquartejado crendo na esperança da ressurreição?

Ele poderá revirar todo o Antigo Testamento da sua Bíblia protestante, do Gênese ao profeta Malaquias, mas nada encontrará... O Apóstolo estaria mentindo? Não! Ele se refere ao martírio dos sete irmãos que lemos em 2Mac 7! Isto é indiscutível!!

Fora esta passagem, existem pelo menos mais 344 referências no NT aos livros deuterocanônicos... Veja a lista em "O Novo Testamento e os Deuterocanônicos", na área da Bíblia do site do Agnus Dei.

Jerônimo, o tradutor da Vulgata declarou que os Apócrifos não eram canônicos; Por volta do ano 90 dC, vários anos após a destruição de Jerusalém pelos

romanos, os judeus (fariseus) se reuniram em um sínodo na cidade de Jâmnia e definiram um cânon usando de critérios meramente nacionalistas (v. o artigo "Como está definido o cânon bíblico" na área de Apologética), deixando de fora os 7 livros em questão, pois não atendiam a tais requisitos.

São Jerônimo, até o ano 390 aceitava os livros deuterocanônicos como inspirados mas, indo para a Terra Santa e passando a traduzir a Bíblia para o latim diretamente do hebraico, foi influenciado pelos rabinos a considerar somente os livros aceitos pelos judeus da Jâmnia. Ainda assim, é possível encontrar mais de 200 referências aos deuterocanônicos nas obras do Santo. Fora isso, a questão do cânon bíblico para a Igreja cristã ainda não estava definida, o que torna compreensível e justificada a posição de Jerônimo.

Porém, a Igreja Católica resolveu a situação a partir dos Concílios regionais de Hipona (393), Cartago III (397) e Cartago IV (418). Em 450, o papa Inocêncio I reafirmou o cânon bíblico com todos os deuterocanônicos numa carta ao bispo Exupério de Tolosa. Para maiores detalhes, ler o artigo "Testemunhos Cristãos Primitivos - O Cânon Bíblico", na área de Patrística.

Somente em 8 de Abril de 1546 é que a Igreja Católica se lembrou que esses livros deveriam estar canonizados; Nesse concílio que declarou os Apócrifos como autorizados, não havia nenhuma autoridade entre eles. Havia somente 53 prelados italianos e espanhóis na sua maioria. Nenhum alemão. Era mais um concílio religioso do que ecumênico, portanto não tinha autoridade;

Papo furado! A Igreja Católica usa os deuterocanônicos desde a era apostólica. A definição de sua inspiração já se dera oficialmente em Hipona (393) e Cartago (397 e 418), como vimos acima. Também o concílio ecumênico de Florença (1441) professou solenemente o católogo completo dos livros sagrados, pelo menos 1 século antes de Trento. A Bíblia de Guttemberg, o primeiro livro a ser impresso no mundo por volta de 1450 , também continha os deuterocanônicos.

Foi o herege Martinho Lutero, apenas em 1534, que colocou os referidos livros em apêndice, com o título de apócrifos, em sua tradução alemã da Bíblia. Pelo menos teve a decência de deixá-los por considerá-los bons e de utilidade (segundo palavras usadas pelo próprio "rerformador" no prólogo).

A Igreja Católica Ortodoxa sempre fez restrições aos Apócrifos;

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Outra inverdade, que demonstra desconhecimento histórico e eclesiológico. O Concílio de Trulos, reunindo padres da Igreja Oriental em 692, também considerou os livros deuterocanônicos como inspirados. O mesmo ocorreu nos sínodos de Constantinopla (1638), de Yassi (1642) e de Jerusalém (1672) - após a Reforma Protestante.

Também a Sociedade Bíblica Unida (representada no Brasil pela Sociedade Bíblica do Brasil), instituição protestante que produz Bíblias, afirma em sua Agenda de Oração-1996, pág. 5: "Deuterocanônicos: As Bíblias para as Igrejas Católica Romana e Ortodoxa contêm livros extras, que não fazem parte da Bíblia usada pelas Igrejas Protestantes". A única exceção entre os ortodoxos trata-se da Igreja Ortodoxa Russa; ainda assim, é livre entre estes aceitar ou não os deuterocanônicos.

Católicos Scholars rejeitam os Apócrifos:a) Bede e John of Salisbury - 1180 A.D.;b) William Ockham - 1347;c) Cardeal Ximenes mandou editar na Espanha a Bíblia Poliglota e não continha os Apócrifos - 1514-17;d) Após o Concílio de Trento em 1546 ter pronunciado os livros Apócrifos canônicos Sixtus de Siena em 1566 insistiu em separar os livros Apócrifos da Bíblia."

"Scholars"? Acho que este artigo tem origem americana... Seria bom que o tradutor pelo menos disfarçasse, traduzindo o termo ou pelo menos indicando a fonte...

Não conheço a opinião destes senhores e sinceramente pouco me importa... São meras opiniões huimanas, sem a autoridade oficial da Igreja, "fundamento e coluna da verdade" (1Tim 3,15). Nem todo aquele que se diz "católico" é católico de verdade, infelizmente. Jesus deu autoridade aos seus Apóstolos, à sua Igreja... Os apóstolos usaram a Septuaginta com os deuterocanônicos; a Igreja sempre os reconheceu como inspirados, havendo aqui ou ali poucas vozes destoantes, quase sempre influenciadas por judeus... Eu aceito a autoridade da Igreja, dos Apóstolos e, por consequência, de Jesus - que prometeu estar com sua Igreja até a consumação dos séculos (Mt 28,20). Dizer que a Igreja errou ao definir o cânon é chamar Jesus de mentiroso, por não cumprir sua promessa de permanecer conosco. Tal proposição, entretanto, é absurda!

E, pelo que vimos até aqui, existem muito mais argumentos em favor da inspiração dos deuterocanônicos do que contra... Em outras palavras: quem é contra os deuterocanônicos ainda não conseguiu provar que estes não fazem parte da Bíblia... Estão em maus lençóis!

A versão da septuaginta

A Septuaginta foi a primeira tradução do Antigo Testamento hebraico, feita em grego popular antes da Era Cristã. Este artigo tratará do seguinte:

1. Sua importância; 2. Sua origem;

1. Segundo a Tradição; 2. Segundo o ponto de vista comumente aceito.

3. Sua história subseqüente, recensões, manuscritos e edições;

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4. Seu valor crítico e linguagem.

1. Importância Histórica da Septuaginta

A importância da versão da Septuaginta é representada pelas seguintes considerações:

1. A Septuaginta é a mais antiga tradução do Antigo Testamento e, consequentemente, de valor incalculável para os críticos compreenderem e corrigirem o texto hebraico (Massorético), que é posterior - aquele que chegou até nós - pois foi estabelecido pelos massoretas no séc. VI d.C.. Muitas corrupções textuais, adições, omissões ou transposições foram incorporadas ao texto hebraico entre os séculos III-II a.C. e VII d.C.; assim, os manuscritos da Septuaginta colocados à disposição dos críticos podem ser bem melhor compreendidos em alguns pontos que os manuscritos massoréticos.

2. A versão da Septuaginta - primeiramente aceita pelos judeus de Alexandria e, mais tarde, por todas as nações de língua grega - auxiliou na expansão, entre os gentios, da idéia e expectativa do Messias, e introduziu a terminologia teológica no grego, tornando-a o melhor instrumento para a propagação do Evangelho de Cristo.

3. Os judeus a usaram muito antes da Era Cristã e, no tempo de Cristo, foi reconhecida como texto legítimo, tendo sido inclusive empregada na Palestina pelos rabinos. Os apóstolos e evangelistas a usaram também e fizeram citações do Antigo Testamento a partir dela, especialmente no que diz respeito às profecias. Os padres e outros escritores eclesiásticos da Igreja primitiva citavam-na diretamente - no caso dos padres gregos - ou indiretamente - no caso dos padres e escritores latinos e outros que empregavam as versões latinas, siríacas, etíopes, árabes e góticas. Seguramente, era tida em grande estima por todos, chegando alguns a acreditar de que era inspirada. Consequentemente, o conhecimento da Septuaginta auxilia na perfeita compreensão dessas literaturas [da Igreja primitiva].

4. Atualmente, a Septuaginta é o texto oficial da Igreja grega e as antigas versões latinas usadas pela Igreja ocidental também foram feitas a partir dela; a mais antiga tradução adotada pela Igreja latina - a Vetus Ítala - foi preparada diretamente sobre a Septuaginta: as idéias adotadas nela, os nomes e palavras gregas empregadas (tais como: Gênese, Êxodo, Levítico, Números [Arithmoi], Deuteronômio) e, finalmente, a pronúncia dada ao texto hebraico, passaram freqüentemente para a Ítala e, a partir desta, às vezes, para a Vulgata, que não raramente, apresenta sinais da influência da Vetus Ítala (principalmente nos Salmos: a tradução da Vulgata é meramente o texto da Vetus Ítala corrigido por São Jerônimo conforme o texto da Septuaginta encontrado na Hexápla [de Orígenes]).

2. Origem da Septuaginta

1. Segundo a Tradição

A versão da Septuaginta é primeiramente mencionada na Carta de Aristéias a seu irmão Filócrates. Aqui está, substanciamente, o que lemos sobre a origem de tal versão: Ptolomeu II Filadélfo, rei do Egito (287-247 a.C.) tinha

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estabelecido recentemente uma valiosa biblioteca em Alexandria. Ele foi persuadido por Demétrio de Fálaro - responsável pela biblioteca - a enriquecê-la com uma cópia dos livros sagrados dos judeus. Para conquistar as boas graças deste povo, Ptolomeu, por conselho de Aristéias - oficial da guarda real, egípcio de nascimento e pagão por religião - emancipou 100 mil escravos de diversas regiões de seu reino. Ele, então, enviou representantes - entre os quais Aristéias - a Jerusalém e pediu a Eliazar - o sumo-sacerdote dos judeus - para que fornecesse uma cópia da Lei e judeus capazes de traduzi-la para o grego. A embaixada obteve sucesso: uma cópia da Lei ricamente ornamentada foi enviada para o Egito, acompanhada por 72 israelitas - seis de cada tribo - para atender o desejo do rei. Estes foram recebidos com grande honra e durante sete dias surpreenderam a todos pela sabedoria que possuíam, demonstrada em respostas que deram a 72 questões; então, eles foram levados para a isolada ilha de Faros e ali iniciaram os seus trabalhos, traduzindo a Lei, ajudando uns aos outros e comparando as traduções conforme iam terminando. Ao final de 72 dias, a tarefa estava concluída. A tradução foi lida na presença de sacerdotes judeus, príncipes e povo reunidos em Alexandria; a tradução foi reconhecida por todos e declarada em perfeita conformidade com o original hebraico. O rei ficou profundamente satisfeito com a obra e a depositou na sua biblioteca.

Ainda que possua características lendárias, a narrativa de Aristéias ganhou crédito: Aristóbulo (170-50 a.C.), em uma passagem preservada por Eusébio, afirma que "através dos esforços de Demétrios de Fálero, uma tradução completa da legislação judaica foi realizada nos dias de Ptolomeu"; o relato de Aristéias é repetido quase que literalmente por Flávio Josefo (Ant.Jud. XII,2) e substancialmente - com a omissão do nome de Aristéias - por Filo de Alexandria (De Vita Moysis II,6). A carta e o relato foram aceitos como genuínos por muitos padres e escritores eclesiásticos até o início do séc. XVI; outros detalhes que serviram para enfatizar a extraordinária origem da versão foram acrescentados ao relato de Aristéias: os 72 intérpretes foram inspirados por Deus (Tertuliano, Santo Agostinho, o autor de "Exortação aos Gregos" [Justino?], entre outros); durante a tradução eles não consultaram uns aos outros, pois foram mantidos em celas separadas - quer individuais, quer em duplas - e suas traduções, quando comparadas, estavam em perfeita concordância com o sentido e expressões empregadas no texto original e, inclusive, de umas com as outras ("Exortação aos Gregos", Santo Ireneu, São Clemente de Alexandria - São Jerônimo rejeitou o relato das celas isoladas afirmando que era fantasioso e falso (Praef. in Pentateuchum; Adv. Rufinum II, 25), bem como a alegada inspiração da Septuaginta); e, finalmente, de que os 72 intérpretes traduziram não apenas os cinco livros do Pentateuco mas todo o Antigo Testamento hebraico. A autenticidade da Carta, posta em dúvida primeiramente por Louis Vivès (1492-1540), professor em Louvain (Ad S. August. Civ. Dei XVIII, 42), e, depois, por Jos Scaliger (+1609) e, especialmente, por H. Hody (+1705) e Dupin (d. 1719), é atualmente negada por todos.

Críticas

1. A Carta de Aristéias é certamente apócrifa. O escritor, que chama a si mesmo de Aristéias e declara-se grego e pagão, mostra, no decorrer de toda a sua obra, que, na verdade, é um judeu piedoso e zeloso: ele reconhece o Deus dos judeus como o único Deus; ele declara que Deus é o autor da Lei Mosaica; ele é um admirador entusiástico do Templo

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de Jerusalém, da terra e do povo judeu e de suas leis sagradas e homens cultos.

2. A narrativa da Carta deve ser considerada como fantasiosa e lendária, no mínimo em várias partes. Alguns detalhes, como a intervenção oficial do rei ao sumo-sacerdote, o número de 72 tradutores, as 72 questões que tiveram que responder e os 72 dias que levaram para traduzir a Lei são, claramente, afirmativas arbitrárias; além disso, é difícil de se admitir que os judeus alexandrinos tenham adotado para o seu culto público uma tradução da Lei feita a pedido de um rei pagão; finalmente, a linguagem da versão da Septuaginta denuncia, em vários pontos, um conhecimento imperfeito do hebraico e da topografia da Palestina, correspondendo muito mais ao idioma vulgar da Alexandria. Já que não é certo que todo o conteúdo da Carta seja lendário, os estudiosos questionam se não existe algum fundamento histórico disfarçado sob os detalhes lendários. Realmente isso pode ser possível - como se depreende da natureza peculiar da linguagem bem como sobre o que sabemos a respeito da origem e história da versão - já que o Pentateuco foi mesmo traduzido em Alexandria. Também parece verdadeiro que a versão date do tempo de Ptolomeu Filadélfo, isto é, de meados do séc. III a.C.. Mas se, como comumente se acredita, a Carta de Aristéias foi escrita por volta de 200 a.C., 50 anos após a morte de Filadélfo, com vistas a aumentar a autoridade da versão grega da Lei, poderia ter sido aceita tão facilmente e rapidamente difundida caso fosse fictícia ou se o tempo de sua composição não correspondesse à realidade? E mais: é possível que Ptolomeu tenha realmente alguma espécie de relacionamento com a preparação ou publicação da tradução, embora como e porque não possa ser determinado agora. Teria sido com o objetivo de enriquecer sua biblioteca, como declara o pseudo-Aristéias? Isto é possível, mas não pode ser provado, como será demonstrado abaixo; mas podemos muito bem descrever a origem da versão independentemente do rei.

3. Os pequenos detalhes acrescidos durante o passar dos anos ao relato de Aristéias não podem ser aceitos; tais acréscimos são: a estória das celas (explicitamente rejeitada por São Jerônimo); a inspiração dos tradutores (uma opinião certamente baseada na lenda das celas); o número de tradutores (72 - v. abaixo); a afirmativa de que todos os livros hebraicos foram traduzidos ao mesmo tempo (Aristéias fala da tradução da Lei (nomos), da legislação (nomothesia), dos livros do legislador - estas expressões, especialmente as duas últimas, certamente se referem ao Pentateuco e excluem os outros livros do Antigo Testamento, e São Jerônimo (Comment. in Mich.) declara: "Josefo escreveu, e os hebreus nos informaram, que apenas os cinco livros de Moisés foram traduzidos por eles (os 72) e dados ao rei Ptolomeu". Por outro lado, as versões dos diversos livros do Antigo Testamento diferem muito no vocabulário, estilo, forma e características, às vezes seguem uma tradução livre, outras vezes, extremamente literal, o que demonstra que elas não seriam obra dos mesmos tradutores. Apesar disso e de todas as divergências, o nome de "versão da Septuaginta" é universalmente dado à coleção completa dos livros do Antigo Testamento existentes na Bíblia grega adotada pela Igreja oriental.

2. Origem segundo o ponto de vista comumente aceito Como para o Pentateuco o seguinte ponto de vista parece plausível, podemos também

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aceitar em linhas gerais: os judeus, nos dois últimos séculos antes de Cristo, eram tão numerosos no Egito, especialmente em Alexandria, que, em certo momento, passaram a constituir 2/5 da população total. Pouco a pouco a maioria deles deixou de usar ou esqueceu a língua hebraica em grande parte, caindo no perigo de esquecer a Lei. Consequentemente, tornou-se costumeiro interpretar na língua grega a Lei que era lida nas sinagogas e, naturalmente, após certo tempo, alguns homens zelosos pela Lei resolveram compilar uma tradução grega do Pentateuco. Isto ocorreu por volta de meados do séc. III a.C.. Para os demais livros hebraicos - os proféticos e históricos - foi natural que os judeus alexandrinos, fazendo uso do Pentateuco traduzido em suas reuniões litúrgicas, desejassem também a tradução destes; então, gradualmente, todos os livros foram sendo traduzidos para o grego, que se tornara a língua maternal destes judeus; tal exigência aumentava conforme o seu conhecimento de hebraico ia reduzindo dia a dia. Não é possível determinar com precisão o tempo ou os eventos que levaram a estas diferentes traduções; mas é certo que a Lei, os Profetas e, ao menos, parte dos outros livros (i.é, os Hagiógrafos) existiam antes do ano 130 a.C., como aparece no prólogo do Eclesiástico, que não data abaixo deste ano. É difícil determinar também onde as diversas traduções foram feitas pois as informações são muito escassas. A julgar pelas palavras e expressões egípcias que ocorrem na versão, a maioria dos livros deve ter sido traduzida no Egito, muito provavelmente na Alexandria. Ester, entretanto, foi traduzido em Jerusalém (XI, 1). Quem e quantos eram os tradutores? Existe algum fundamento para o número de 72, como declara a lenda (Brassac-Vigouroux, nº 105)? Parece impossível responder essas questões; os talmudistas dizem que o Pentateuco foi traduzido por cinco intérpretes (Sopherim, c.1.). A história não nos oferece outros detalhes, mas um exame do texto mostra que, em geral, os autores não eram judeus palestinenses enviados ao Egito; diferenças de terminologia, método etc. provam claramente que os tradutores não eram os mesmos para os diferentes livros. É impossível também dizer se a obra foi executada oficial ou privativamente, como parece ser o caso de Eclesiástico; contudo, os diferentes livros, após traduzidos e dispostos em conjunto (o autor de Eclesiástico conhecia a coleção), foi recebida como oficial pelos judeus de língua grega.

3. História Subseqüente

Recensões

A versão grega, conhecida como Septuaginta, foi bem acolhida pelos judeus alexandrinos, que logo a difundiu pelas nações onde o grego era falado; foi usada por diferentes escritores e suplantou o texto original nas cerimônias litúrgicas. Filo de Alexandria a utilizou em seus escritos e considerava os tradutores profetas inspirados; finalmente, ela foi acolhida pelos judeus da Palestina e foi notavelmente empregada por Josefo, historiador judeu palestinense. Sabemos também que os escritores do Novo Testamento fizeram uso dela, utilizando-a na maioria de suas citações. Ela tornou-se o Antigo Testamento da Igreja e foi altamente estimada pelos cristãos primitivos, de modo que muitos escritores e padres declararam-na inspirada. Os cristãos recorriam à ela constantemente em suas controvérsias com os judeus; estes logo reconheceram suas imperfeições e, finalmente, a rejeitaram em favor do texto hebraico ou de traduções mais literais (Áquila e Teodocião).

Correções críticas de Orígenes, Luciano e Hesíquio

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Em razão de sua difusão entre os judeus helenizantes e cristão primitivos, as cópias da Septuaginta passaram a se multiplicar e, como seria de se esperar, muitas alterações - algumas propositais, outras involutárias - foram surgindo. Logo sentiu-se a necessidade de restaurar o texto à sua pureza original. Eis um brevíssimo relato das tentativas de correção:

1. Orígenes reproduziu o texto da Septuaginta na quinta coluna de sua Hexápla. Marcou com obeli os textos que ocorriam na Septuaginta e que não se encontravam no original; adicionou de acordo com a versão de Teodocião e distinguiu com asteriscos e metobeli os textos do original que não se encontravam na Septuaginta; adotou das variantes da versão grega os textos que eram mais próximos ao hebraico; e, finalmente, transpôs o texto onde a ordem da Septuaginta não correspondia à ordem do texto hebraico. Sua recensão, copiada por Pânfilo e Eusébio, foi chamada de Hexápla para distingui-la da versão previamente empregada, chamada comum, vulgar, koiné ou antehexápla. Foi adotada na Palestina.

2. São Luciano, sacerdote de Antioquia e mártir, no início do séc. IV, publicou uma edição corrigida de acordo com o hebraico; tal edição reteve o nome de koiné, edição vulgar, e, às vezes, é chamada de Loukianos após o nome de seu autor. No tempo de São Jerônimo, estava sendo usada em Constantinopla e Antioquia.

3. Finalmente, Hesíquio, um bispo egípcio, publicou, quase que ao mesmo tempo, uma nova recensão, difundida principalmente no Egito.

Manuscritos

Os três manuscritos mais conhecidos da Septuaginta são: o Vaticano (Codex Vaticanus), do séc. IV; o Alexandrino (Codex Alexandrinus), do séc. V, atualmente no Museu Britânico de Londres; e o do Monte Sinai (Codex Sinaiticus), do séc. IV, descoberto por Tischendorf no convento de Santa Catarina, no Monte Sinai, em 1844 e 1849, sendo que parte se encontra em Leipzig e parte em São Petersburgo. Todos foram escritos em unciais. O Codex Vaticanus é o mais puro dos três; é geralmente tido como o texto mais antigo, embora o Codex Alexandrinus carregue consigo o texto da Hexápla e tenha sido alterado segundo o texto massorético. O Codex Vaticanus é referido pela letra B; o Codex Alexandrinus, pela letra A; e o Codex Sinaiticus, pela primeira letra do alfabeto hebraico (aleph) ou S. A Biblioteca Nacional de Paris possui também um importante palimpsesto manuscrito da Septuaginta, o Codex Ephraemirescriptus (designado pela letra C) e dois manuscritos de menor valor (64 e 114), em cursivas, um pertencente ao séc. X ou XI e o outro, ao séc. XIII (Bacuez e Vigouroux, 12ª ed., nº 109).

Edições Impressas

Todas as edições impressas da Septuaginta são derivadas das três recensões acima citadas.

A Editio Princeps é a da Complutensiana ou de Alcalá. Provém da Hexápla de Orígenes. Impressa em 1514-18, não foi publicada até aparecer na Poliglota do card. Ximenes, em 1520.

A edição Aldine (iniciada por Aldo Manúcio) apareceu em Veneza em 1518. O texto é mais puro que a edição Complutensiana e está mais próxima do

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Códice B. O editor diz que colecionou manuscritos antigos mais não os especifica. Foi reimpressa várias vezes.

A mais importante edição é a Romana ou Sixtina, que reproduz quase que exclusivamente o Codex Vaticanus. Foi publicada sob a direção do card. Caraffa, com o auxílio de vários sábios, em 1586, sob a autoridade de Sixto V, com o objetivo de socorrer os revisores que preparavam a nova edição da Vulgata latina ordenada pelo Concílio de Trento. Tornou-se, assim, o textus receptus do Antigo Testamento grego e teve diversas novas edições, tais como a de Holmes e Pearsons (Oxford, 1798-1827), as sete edições de Tischendorf, que apareceram em Leipzig entre 1850 e 1887 (as duas últimas publicadas após a morte do autor e revisadas por Nestle), as quatro edições de Swete (Cambridge, 1887-95, 1901, 1909), etc.

A edição de Grabe, publicada em Oxford de 1707 a 1720, reproduzindo, imperfeitamente, o Codex Alexandrinus de Londres.

Para edições parciais, v. Vigouroux, "Dicionário da Bíblia", pp. 1643ss.

4. Valor Crítico e Linguagem

Valor Crítico

A versão da Septuaginta, embora ofereça exatamente em forma e substância o verdadeiro sentido dos Livros Sagrados, difere consideravelmente do atual texto hebraico (Massorético). Essas discrepâncias, porém, não são de grande importância, mas apenas assunto de interpretação. Podem ser assim classificadas: algumas são oriundas dos tradutores que tiveram à sua disposição recensões hebraicas diferentes daquelas que são conhecidas como massoréticas; às vezes os textos variam, outras vezes, os textos são idênticos, mas lidos em ordem diferente. Outras discrepâncias devem-se à personalidade dos tradutores; para não se falar da influência exercida em suas obras em razão de seus métodos de interpretação, as dificuldades inerentes da tarefa, seus maiores ou menores conhecimentos de grego e hebraico: eles acabaram traduzindo diferentemente dos massoretas justamente porque liam os textos de forma diferente; é pois natural que o hebraico, escrito em caracteres quadrados, e certas consoantes bem similares na forma fossem vez ou outra confundidos, ocasionando erros de tradução; mais: o texto hebraico era escrito sem qualquer espaçamento entre as palavras e os tradutores facilmente poderiam confundir a separação das palavras; finalmente, como o texto hebraico não dispunha de vogais, eles poderiam suprir as palavras com vogais diversas daquelas que foram usadas mais tarde pelos massoretas. Novamente, não devemos achar que possuímos atualmente o exato texto grego como foi escrito pelos tradutores; as freqüentes transcrições feitas durante os primeiros séculos, assim como as correções e edições de Orígenes, Luciano e Hesíquio danificaram a pureza do texto: voluntária ou involuntariamente, os copistas permitiram a ocorrência de muitas corrupções textuais, transposições, adições e omissões no texto primitivo da Septuaginta. Em particular, podemos notar a adição de passagens paralelas, notas explanatórias ou traduções duvidosas causadas pelas notas marginais. A este respeito, v. "Dicionário da Bíblia" art. cit., e Swete, "Uma Introdu ção ao Antigo Testamento em Grego".

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Linguagem

Todos admitem que a versão da Septuaginta foi redigida em grego popular, a koine dislektos. Mas o grego do Antigo Testamento era um idioma especial? Muitas autoridade garantem que sim, embora discordem quanto à sua real característica. O "Dicionário da Bíblia", em seu verbete "Grego bíblico", assegura que era "o grego hebraizante falado pela comunidade judaica de Alexandria", o grego popular de Alexandria "com uma larga mistura de hebraísmos". O mesmo dicionário, no verbete "Septante", menciona a mais recente opinião de Deissmann de que o grego da Septuaginta é meramente o grego vernacular ordinário, a pura koine daquela época. Deissmann baseia sua teoria na semelhança perfeita da linguagem da Septuaginta com a dos papiros e inscrições do mesmo período; ele acredita que as peculiaridades sintáticas da Septuaginta, que a princípio parecem favorecer a teoria de uma linguagem especial (um grego hebraicizado), são suficientemente explicadas pelo fato da Septuaginta ser a tradução grega de livros hebraicos.

A aceitação do cânon amplo da LXX na Palestina do século I

Não é incomum ouvirmos o seguinte argumento protestante:

"A Septuaginta e os livros 'apócrifos' nunca foram aceitos ou usados pelos judeus na Judéia do primeiro século"

No entanto, partes da Septuaginta foram encontradas na Judéia, entre os manuscritos do Mar Morto, sendo anteriores ao ano 70 d.C.. Alguns exemplares foram encontrados na caverna 4 (119LXXLev.; 120papLXXLev.; 121 LXXNum.; 122LXXDeut.). Há também um texto não identificado da Septuaginta grega, encontrado na caverna 9 (Q9).

Em acréscimo a esses fragmentos, existe um fragmento de papiro, escrito em grego, encontrado na caverna 7 (LXXExod.). A caverna 7 produziu ainda muitos pequenos fragmentos em grego (da Septuaginta), cujas identificações permanecem em discussão ou sem classificação. O dr. Emanuel Tov sugere as seguintes identificações para alguns destes fragmentos gregos do primeiro século antes de Cristo:

7Q4. Números 14,23-24; 7Q5. Êxodo 36,10-11; Números 22,38;7Q6. 1 Salmo 34,28; Provérbios 7,12-13;7Q6. 2 Isaías 18,27Q8. Zacarias 8,8; Isaías 1,29-30; Salmo 18,14-15; Daniel 2,43; Eclesiastes 6,3.

No meio destas porções da Septuaginta, foram encontrados manuscritos parciais contendo alguns termos dos livros "apócrifos":

4Q478 [Tobias], 4Q383 e 7QLXXEpJer. [Epístola de Jeremias], para citar apenas alguns.

É importante notar que nas cavernas de Qumran (de onde provêm os "manuscritos do Mar Morto"), foi encontrada uma cópia do livro do "Eclesiástico" na língua

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hebraica [manuscrito 2QSir.], bem como um fragmento de "A História de Suzana" (correspondente ao capítulo 13 do livro de Daniel), também em hebraico [manuscrito 4Q551]. Já na caverna 4 de Qumran, foram encontrados fragmentos do livro "apócrifo" de Tobias, nas línguas aramaica [manuscrito 4Q196-9] e hebraica [manuscrito 4Q200].

Deve-se observar, também, que as cavernas de Qumran não são o único lugar na Judéia em que se encontraram livros "apócrifos". Outro exemplo é a cópia do livro do "Eclesiástico" (ou "A Sabedoria do Filho de Sirá"), em hebraico, encontrada nas ruínas de Massada. Este fragmento manuscrito data do início do século I a.C..

Alguns, porém, poderão argumentar que:

"Os ebionitas (ou seita de Qumran) eram um grupo estranho, que nunca veio a fazer parte do ramo principal do judaísmo"

Mas se lermos o Novo Testamento, verificaremos que naquele tempo não existia nenhum "ramo principal do judaísmo", como, ao contrário, existe hoje. Nesse sentido, explica o pesquisador protestante dr. Martin Abegg:

"Tanto no judaísmo moderno quanto no cristianismo, uma 'seita' é, geralmente, um ramo de um tronco religioso maior e é freqüentemente vista com excêntrica ou desviada nas suas crenças. Mas os pesquisadores e leigos deveriam recordar que durante todo o período de existência de Qumran, os fariseus e os saduceus eram 'seitas', assim como eram os essênios! Foi apenas a partir do século II d.C. que passou a se formar um tipo de judaísmo - aquele dos fariseus, dos rabis - que veio a se tornar padrão para o povo judeu como um todo.

Tais matérias são de menor importância se comparadas com os manuscritos bíblicos. Primeiro, porque todos os pesquisadores concordam que nenhum dos textos bíblicos (tais como Gênese ou Isaías) foi composto em Qumran; ao contrário, todos eles se originaram antes do período de Qumran. Também é aceito que muitos ou a maioria desses manuscritos foram trazidos de fora para Qumran e, depois, aí reproduzidos. Isto significa que o valor da maioria dos manuscritos bíblicos enganam, não em estabelecer precisamente onde foram escritos ou copiados, mas especificamente quanto ao estudo das formas textuais que encerram" [The Dead Sea Scrolls Bible (=A Bíblia nos Manuscritos do Mar Morto), (C) 1999, pg. XVI]

Encontramos um bom exemplo do uso da Septuaginta (a qual contém os "apócrifos") entre os judeus da Judéia quando lemos os capítulos 6 e 7 dos Atos dos Apóstolos. Aí lemos que Santo Estêvão, cheio do Espírito Santo (At. 6,10), foi levado ao Sinédrio pela multidão (At. 6,12); Estêvão, então, se dirigiu aos judeus e contou-lhes como Jacó trouxe seus 75 descendentes para o Egito:

Atos 7,14-15: "Então José mandou buscar Jacó, seu pai, e toda sua parentela, em número de setenta e cinco pessoas. Desceu Jacó para o Egito e aí morreu, ele e também nossos pais".

Mas os manuscritos hebraicos nos dizem que Jacó trouxe 70 descendentes para o Egito (cf. Gên. 46,26-27; o texto hebraico também recorda "70" em Deut. 10,22 e Ex. 1,5). Ora, o Sinédrio judaico e os sacerdotes bem sabiam que Deut. 4,2; 12,32; Sal. 12,6-7 e Prov. 30,6 proíbem que se acrescente ou retire algo da Palavra de Deus. Com efeito, por que o Sinédrio e os sacerdotes não se escandalizaram com a

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afirmativa feita por Estêvão, de que Jacó trouxera 75 descendentes? Por que não o acusaram de "perverter a Escritura"? Quando lemos esses versículos, notamos que os judeus pareciam nem mesmo piscar. Em ponto algum desta passagem encontramos qualquer sugestão de que a raiva nutrida pelos judeus contra Estêvão havia se originado de uma possível "perversão das Escrituras". Ao contrário, eles mataram Estêvão porque foram por este confrontados com a pessoa do Senhor Jesus - que era realmente o Cristo, e, ao contrário de ser por eles recebido, foi assassinado do mesmo modo que seus predecessores, os profetas (At. 7,51-53)!

A explicação para a discrepância numérica na história de Jacó narrada por Estêvão é simples: ele está citando Gênese (46,26-27) a partir da versão grega da Septuaginta, a qual possui cinco nomes a mais (total de 75 nomes) que o texto massorético hebraico. Os cinco nomes que faltam no texto hebraico foram preservados na Septuaginta, em Gên. 46,20, onde Makir, filho de Manassés, e Makir, filho de Galaad (=Gilead, no hebraico), são apontados, posteriormente, como os dois filhos de Efraim, Taam (=Tahan, no hebraico) e Sutalaam (Shuthelah, no hebraico) e seu filho Edon (Eran, no hebraico).

O Sinédrio certamente teria contestado a afirmação de Estêvão se a Septuaginta não fosse usada ou aceita pelos judeus da Judéia. Com efeito, o fato de a Septuaginta ter sido encontrada entre os manuscritos do Mar Morto bem demonstra que esse era o caso.

Sendo, pois, uma realidade que ambas as versões (a Septuaginta e a hebraica) eram de uso comum na Judéia do primeiro século, o Sinédrio não se surpreendeu ou se escandalizou com a declaração de Estêvão. Afinal, o fato de serem 70 ou 75 o número de descendentes de Jacó não se revelava doutrina importante para os judeus e, ao que parece, também havia muitos judeus no outro lado da questão.

Eis alguns dos papiros e manuscritos primitivos da Septuaginta:

Século II a.C.:

1. 4QLXXDeut [#819] (rolo em pergaminho, Deut. 11)("couro"); 2. PRyl 458 [#957 = vh057] (rolo em papiro, Deut. 23-28).

Séculos II/I a.C.

3. 7QLXXEx [#805 = vh038] (rolo em papiro, Ex. 28); 4. 4QLXXLev\a [#801 = vh049] (rolo em pergaminho, Lev. 26) ("couro"); 5. 7QLXX EpJer [#804 = vh312] (rolo em papiro, EpJer/Bar6); 6. 7Q4, 7Q8, 7Q12 (rolo em pergaminho, Epístola de Enoque = "1Enoque" 103).

Século I a.C.

7. 4Q127 (rolo em papiro, paráfrase grega de Êxodo?); 8. PFouad266a [#942] (rolo em papiro, Gên.); 9. 4QLXXLev\b [#802 = vh046] (rolo em papiro, Lev. 2-5); 10. PFouad 266b [#848 = vh56] (rolo em papiro, Deut. 17-33);

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11. PFouad 266c [#847 = vh56] (fins do séc. I a.C., rolo em papiro, Deut. 10-33).

Entre Eras a.C. e d.C

12. 4QLXXNu [#803 = vh051] (rolo em pergaminho, Núm. 3-4).

Século I d.C.

13. POxy 3522 [#??] (rolo em papiro, Jó grego 42).

Séculos I/II d.C.

14. POxy 4443 [#??] (rolo em papiro, Ester grego, Est. 8-9); 15. PBodl 5 [#2082] (código em pergaminho, Salmo grego, Sal. 48-49).

Palavra de Deus = Bíblia + Tradição + Magistério

Desde o princípio, Deus fala com sua Igreja através da Bíblia e da Sagrada Tradição. Para garantir que sejam compreendidas por nós, Deus guia a autoridade de ensino da Igreja - o Magistério - para que esta possa interpretar perfeitamente a Bíblia e a Sagrada Tradição. Eis a dádivá da infalibilidade! Esses três elementos - a Bíblia, a Sagrada Tradição e o Magistério - são todos necessários para que haja a estabilidade da Igreja e para garantir a segurança da doutrina.

1. A Sagrada Tradição (Catec.Igr.Cat. 75-83)

A Sagrada Tradição não deve ser confundida com a simples tradição humana, geralmente chamada de costume ou disciplina. Algumas vezes Jesus condenou os costumes ou disciplinas, mas somente quando estes contradiziam os Mandamentos de Deus (cf. Mc 7,8). Jesus nunca condenou a Sagrada Tradição e nem todas as tradições humanas.

A Sagrada Tradição e a Bíblia não são diferentes, nem são revelações concorrentes. Na verdade, são dois modos de como a Igreja segue o Evangelho. Os ensinamentos apostólicos como a Santíssima Trindade, o batismo das crianças, a infalibilidade da Bíblia, o purgatório e a virgindade perpétua de Maria têm sido, de forma muito clara, demonstrada pela Sagrada Tradição, ainda que estejam implicitamente presentes (e não em contradição) na Bíblia. A própria Bíblia nos remete à Tradição, tanto na forma oral quanto escrita (cf. 2Ts 2,15; 1Cor 11,2).

Como dissemos, a Sagrada Tradição não deve ser confundida com os costumes e as disciplinas, como o rosário, o celibato sacerdotal e a proibição de comer carne nas sextas-feiras da Quaresma; tais costumes são bons e úteis, mas não doutrinas. A Sagrada Tradição preserva as doutrinas pregadas por Jesus primeiro aos seus Apóstolos e, mais tarde, repassadas aos sucessores dos Apóstolos, isto é, aos bispos.

2. As Sagradas Escrituras (Catec.Igr.Cat. 101-141)

As Sagradas Escrituras, que englobam o Antigo e o Novo Testamento, foram inspiradas por Deus (2Tm 3,16). Foi o Espírito Santo que guiou os autores bíblicos a escreverem aquilo que Ele desejava revelar. Já que Deus é o

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principal autor da Bíblia e Deus é Verdade (cf. Jo 14,6), não pode Ele ensinar algo errado e, assim, a Bíblia está isenta de qualquer erro, em tudo que ela defende como Verdade.

Alguns cristão dizem: "A Bíblia é tudo do que preciso", contudo, tal afirmativa não se encontra na própria Bíblia. Na verdade, a Bíblia ensina justamente o contrário, como lemos em 2Pd 1,20-21 e 2Pd 3,15-16). Além disso, a teoria de que "somente a Bíblia basta" nunca foi professada pela Igreja primitiva.

Trata-se, assim, de um conceito novo, surgido durante a Reforma Protestante do séc. XVI. Tal teoria é "tradição dos homens" que anula a Palavra de Deus, distorcendo a verdadeira regra bíblica e excluindo a autoridade da Igreja estabelecida por Jesus (cf. Mc 7,1-8).

Ainda que seja popular em muitas igrejas cristãs, a teoria de que "somente a Bíblia basta" simplesmente não funciona na prática. A experiência histórica desaprova essa idéia pois a cada ano vemos surgir mais e mais religiões, cada qual com uma interpretação bíblica diferente.

Existem hoje dezenas de milhares de denominações, cada qual afirmando que sua interpretação particular da Bíblia é a correta. As divisões que geram causam confusões indescritíveis entre milhões de cristãos sinceros, mas desorientados.

[Para se ter uma idéia,] basta abrir as páginas amarelas da lista telefônica para verificarmos quantas denominações diferentes estão catalogadas, cada uma dizendo que "somente a Bíblia basta", mas nenhuma concordando exatamente com a interpretação bíblica de todas as demais.

Porém, podemos ter a certeza de uma coisa: o Espírito Santo não pode ser o autor de toda essa confusão (cf. 1Cor 14,33). Deus não pode conduzir as pessoas através de crenças contraditórias já que a Verdade é uma só. Que conclusão podemos então tirar? De que a teoria que diz que "somente a Bíblia basta" [para o cristão] é falsa.

3. O Magistério (Catec.Igr.Cat. 85-87; 888-892)

Juntos, o papa e os bispos compõem a autoridade de ensino da Igreja, que é chamada de "Magistério" (do latim Magisterium que significa Mestre). O Magistério, guiado e protegido contra o erro pelo Espírito Santo, nos dá a certeza da doutrina. A Igreja defenda e proclama a mensagem da Bíblia fiel e precisamente. Trata-se de uma tarefa da Igreja, autorizada por Deus.

Devemos ter em mente que a Igreja nasceu antes da redação do Novo Testamento; e não o inverso! Os membros da Igreja, inspirados por Deus, escreveram os livros que formam o Novo Testamento da mesma maneira como os escritores do Antigo Testamento também eram divinamente inspirados; e é a Igreja que é guiada pelo Espírito Santo para guardar e interpretar toda a Bíblia, tanto o Novo quanto o Antigo Testamento.

Assim, torna-se absolutamente necessário um intérprete oficial quando precisamos compreender a Bíblia apropriadamente (ora, todos nós sabemos o que diz a Constituição Federal, porém, cabe ao Supremo Tribunal Federal interpretá-la realmente).

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O Magistério é infalível quando ensina oficialmente já que Jesus prometeu enviar o Espírito Santo para guiar os Apóstolos e seus sucessores no conhecimento de toda a Verdade (cf. Jo 16,12-13).

Defendendo os deuterocanônicos

Quando católicos e protestantes falam sobre a Bíblia, os dois grupos atualmente possuem dois livros diferentes

No século 16, os reformadores protestantes removeram uma parte do Antigo Testamento que não era compatível com a sua teologia. Diziam que estes livros não eram inspirados e os chamaram de "apócrifos".

Os católicos se referem a eles como "deuterocanônicos" (pois foram disputados por alguns autores e sua canonicidade foi estabelecida mais tarde que o resto), enquanto que os demais livros são chamados de "protocanônicos" (sua canonicidade foi estabelecida primeiro).

Seguindo o argumento protestante sobre a integridade da Bíblia, a Igreja Católica reafirmou a inspiração divina dos livros deuterocanônicos no Concílio de Trento em 1546. Fazendo isto, ela reafirmou o que já havia sendo crido desde os tempos primitivos.

Quem organizou o Antigo Testamento?

A Igreja não nega que aqui existem alguns livros que são realmente "apócrifos". Durante a era da igreja primitiva, existiam manuscritos que supunham ser inspirados, mas não eram. Muitos chegaram até nós, como o "Apocalipse de Pedro" e o "Evangelho de Tomé", cujas igrejas cristãs rejeitaram como não pertencendo às Escrituras.

Durante o primeiro século, os judeus discordavam sobre a constituição do cânon das Escrituras. De fato, havia muitos "cânons" sendo usados, incluindo livros usados por cristãos. Para combater a disseminação do rito cristão, os rabinos se encontraram na cidade de Jâmnia em 90 d.C. para determinar quais os livros que continham as verdadeiras palavras de Deus. Pronunciaram-se afirmando que muitos livros, incluindo os Evangelhos, eram impróprios para serem considerados Escritura Sagrada. Este cânon também excluiu 7 livros (Baruc, Sirácida, 1 e 2 Macabeus, Tobias, Judite, Sabedoria de Salomão, e algumas porções de Daniel e Esther) que os cristãos consideravam como parte do Antigo Testamento.

O grupo de judeus que estavam em Jâmnia tornou-se o grupo dominante no decorrer da história judaica, e hoje muitos judeus aceitam tal cânon. Entretanto, alguns judeus, como os da Etiópia, seguiam um cânon diferente, e idêntico ao cânon Católico do Antigo Testamento, pois incluíam os sete livros deuterocanônicos (cf. Enciclopédia Judaica, vol 6, p. 1147).

Não é necessário dizer que a Igreja não aderiu ao resultado de Jâmnia. Primeiro, um Concílio judaico após a época de Cristo não guarda ligações com os seguidores de Cristo. Segundo, Jâmnia rejeitou precisamente os documentos que constituíam a base da Igreja Cristã - os Evangelhos e outros documentos do Novo Testamento. Terceiro, rejeitando os deuterocanônicos, Jâmnia rejeitou livros que foram usados por Jesus e os apóstolos e que

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estavam contidos na edição da Bíblia que os apóstolos usaram no dia-a-dia - a Septuaginta.

Os apóstolos e os deuterocanônicos

A aceitação pelos cristãos dos deuterocanônicos era lógica porque estes estavam incluídos na Septuaginta, a versão grega do Antigo Testamento que os apóstolos usaram para evangelizar. Dois terços das citações do Antigo Testamento no Novo são oriundos da Septuaginta. Em nenhuma parte os apóstolos falaram aos seus discípulos ou convertidos para evitar estes sete livros ou alguma doutrina contida nele. Assim como os judeus pelo mundo que usam a versão da Septuaginta, os primeiros cristãos aceitaram os livros encontrados nela. Sabiam que os apóstolos não iriam engana-los ou arriscar suas almas colocando falsas Escrituras em suas mãos - especialmente não os avisando contra isto.

Mas os apóstolos não colocaram os deuterocanônicos nas mãos de seus convertidos simplesmente como parte da Septuaginta. Eles regularmente citavam-nos em seus escritos. Por exemplo, Hebreus 11 nos encoraja a imitar os heróis do Antigo Testamento e no Antigo Testamento "mulheres houve, até, que receberam ressuscitados os seus mortos. Alguns foram torturados, rejeitados, não querendo o seu resgate, para alcançarem melhor ressurreição" (Hb 11,35).

Existem alguns exemplos de mulheres recebendo de volta seus mortos pela ressurreição no Antigo Testamento protestante. Você pode achar Elias ressuscitando o filho da viúva de Sarepeta em 1 Reis 17, e você pode achar seu sucessor Eliseu ressuscitando o filho da mulher sunamita em 2 Reis 4, mas uma coisa não se poderá achar - em nenhum lugar no Antigo testamento protestante, do começo ao fim, de Gênesis a Malaquias - alguém é torturado e rejeita o seu resgate para alcançarem melhor ressurreição. Querendo achar tal fato, deve procurar no Antigo Testamento da Bíblia católica - justamente nos livros deuterocanônicos que Martinho Lutero Retirou de sua Bíblia.

Esta história é encontrada em 2 Mac 7, onde lemos que durante a perseguição dos Macabeus, "Aconteceu também que, tendo sido presos sete irmãos com sua mãe, o rei os queria obrigar a comer carne de porco contra a lei...os outros irmãos exortavam-se mutuamente com sua mãe, a morrerem corajosamente, dizendo: 'O Senhor Deus vê e consola-se em nós'...Morto deste modo o primeiro, levaram o segundo ao suplício...respondendo na língua dos seus pais, disse: Não! Pelo que este também padeceu os mesmos tormentos que o primeiro. Estando já para dar o último suspiro, disse desta maneira: 'tu ó malvado, faze-nos perder a vida presente, mas Deus, o Rei do universo, nos ressuscitará para a vida eterna, a nós que morremos, por fidelidade às suas leis" (2 Mac 7,1.5-9).

Os filhos morreram um por um, proclamando que eles serão recompensados pela ressurreição. "Entretanto a mãe deles, sobremaneira admirável e digna de memória, vendo morrer os seus sete filhos em um só dia, suportou heroicamente a sua morte, pela esperança que tinha no Senhor. Cheia de nobres sentimentos, exortava, na língua dos seus pais, a cada um deles em particular, dando firmeza... Dizia-lhes: 'não sei como fostes formados em meu ventre; não fui eu quem vos deu o espírito e a vida, ou que formei os membros do vosso corpo. O criador do mundo, que formou o homem no seu

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nascimento e deu a origem a todas as coisas, vos tornará a dar o espírito e a vida, por sua misericórdia, em recompensa do quanto agora vos desprezais a vós mesmos, por amor das suas leis", Diz o último irmão, "Não temas este algoz, mas sê digno de teus irmãos, aceita a morte, para que eu te encontre com eles no dia da misericórdia" (2 Mac 7,20-23.29).

Este é uma das referências do Novo Testamento aos deuterocanônicos. Os primeiros cristãs reconheciam amplamente estes livros como Escrituras Sagradas, não somente porque os apóstolos os colocaram em suas mãos, mas porque também se referiram a eles no próprio Novo Testamento, citando o que recordavam como exemplos a serem seguidos.

Os Pais falam

A aceitação dos deuterocanônicos é evidente ao longo da história da Igreja. O historiador protestante J.N.D. Kelly escreve:

"Deveria ser observado que o Antigo Testamento admitido como autoridade na Igreja era algo maior e mais compreensivo que o Antigo Testamento protestante...ela sempre incluiu, com alguns graus de reconhecimento, os chamados apócrifos ou deuterocanônicos. A razão para isso é que o Antigo Testamento que passou em primeira instância nas mãos dos cristãos era... a versão grega conhecida como Septuaginta... a maioria das citações nas Escrituras encontradas no Novo Testamento são baseadas nelas preferencialmente do que a versão hebraica... nos primeiros dois séculos... a Igreja parece ter aceitado a todos, ou a maioria destes livros adicionais, como inspirados e trataram-nos sem dúvida como Escritura Sagrada. Citações de Sabedoria, por exemplo, ocorrem em 1 Clemente e Barnabé... Policarpo cita Tobias, e o Didache cita Eclesiástico. Irineu se refere a Sabedoria, a história de Susana, Bel e o dragão (livro de Daniel), e Baruc. O uso dos deuterocanônicos por Tertuliano, Hipólito, Cipriano e Clemente de Alexandria é tão freqüente que referências detalhadas são necessárias" (Doutrina Cristã Antiga, 53-54).

O reconhecimento dos deuterocanônicos como parte da Bíblia dada pessoalmente pelos pais também foi conferida por esses mesmos pais como uma regra, quando se encontravam nos Concílios da Igreja. Os resultados dos Concílios são especialmente úteis porque não representam a visão de uma só pessoa, mas o que fora aceito pelos líderes da Igreja de todas as regiões.

O cânon das Escrituras, Antigo e Novo Testamento, foi fixado definitivamente no Concílio de Roma em 382, sob a autoridade do Papa Damaso I. E foi logo reconhecido por sucessivos Concílios, tanto regionais como gerais. O mesmo cânon foi firmado no Concílio de Hipona em 393 e no de Cartago em 397. O fato destes Concílios não serem "ecumênicos" não rejeita o fato de suas decisões não serem aceitos como baseadas em verdade de fé. Em 405 o Papa Inocêncio I reafirmou o cânon em uma carta ao bispo Exuperius de Toulouse. Outro Concílio de Cartago, este no ano de 419, reafirmou o cânon como os seus predecessores e pediu ao papa Bonifácio que "confirme este cânon, pois estas são as que recebemos de nossos pais para serem lidos na Igreja". Todos estes canos formavam a mesma Bíblia católica atual, todos eles incluindo os deuterocanônicos.

Este mesmo cânon foi implicitamente confirmado no sétimo Concílio Ecumênico, o de Nicéia II (787), que aprovou os resultados do Concílio de

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Cartago de 419, e explicitamente reafirmou nos Concílios Ecumênicos de Florença (1442), Trento (1546), Vaticano I (1870) e Vaticano II (1965).

As acusações protestantes

Os deuterocanônicos mostram doutrinas da Igreja Católica, e por esta razão eles foram retirados do Antigo Testamento por Lutero e colocados como apêndice sem números de páginas! Lutero também retirou livros do Novo Testamento - Hebreus, Tiago, Judas e Apocalipse - e os colocou como apêndice, sem páginas, da mesma forma que os outros. Estes foram mais tarde recolocados de volta no Novo Testamento por outros protestantes, mas os 7 livros do AT foram deixados. Em 1827, o British and Foreign Bible Society retirou também este apêndice, sendo este o motivo pelo qual não são encontrados nas Bíblias protestantes mais contemporâneas, apesar de ainda serem encontradas em traduções protestantes clássicas, como a King James Version.

A razão porque eles foram retirados é que ensinam doutrinas católicas que os protestantes rejeitam. Acima citamos um exemplo onde a carta aos Hebreus nos mostra um exemplo do Antigo Testamento contido em 2 Mac 7, um incidente não encontrado em nenhuma Bíblia protestante, mas facilmente localizada na Bíblia católica. Porque Lutero teria retirado este livro se ele claramente serviu de fonte para aquela parte do Novo Testamento? Simples: alguns capítulos mais adiante o livro apóia a prática da oração às almas dos mortos para que sejam purificados das conseqüências dos seus pecados (2 Mac 12,41-45); em outras palavras, a doutrina católica do purgatório. Desde que Lutero rejeitou o ensino histórico do purgatório (que data de antes de Cristo, como mostra o livro de Macabeus), ele teve que retirar este livro da Bíblia e coloca-lo como apêndice. (Note que ele também retirou Hebreus, o livro que cita 2 Macabeus, e o colocou também como apêndice)

Para justificar esta rejeição a livros que estavam na Bíblia desde tempos antes dos apóstolos (a Septuaginta foi escrita antes dos apóstolos), os primeiros protestantes recorreram ao fato de que os judeus daqueles dias não honraram tais livros, retornando assim ao Concílio de Jâmnia. Mas os reformadores estavam atentos apenas aos judeus europeus; não prestando a devida atenção aos judeus africanos, como os etíopes, que aceitavam os deuterocanônicos como parte de sua Bíblia. Eles censuraram as referências ao deuterocanônicos no Novo Testamento, assim como seu uso da Septuaginta. Ignoraram o fato de que existiam múltiplos cânnos judaicos circulando no primeiro século, apelando a um Concílio judaico pós-cristão que não possuía nenhuma autoridade para com os cristãos para se falar que "os judeus não aceitaram estes livros". Na verdade, foram longe tentar buscar algo que suportasse a rejeição a estes livros da Bíblia.

Reescrevendo a história da Igreja

Anos mais tarde eles até iniciaram a propagação do mito de que a Igreja Católica "adicionou" estes sete livros à Bíblia no Concílio de Trento.

Os protestantes também tentaram distorcer as evidências patrísticas em favor do deuterocanônicos. Alguns superficialmente afirmam que os Pais da Igreja não os aceitavam, enquanto outros fazem reivindicações comedidas que certos importantes pais, como Jerônimo, também não os aceitava.

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É verdade que Jerônimo, e poucos e isoladas escritores, não aceitavam alguns deuterocanônicos como inspirados. Entretanto, Jerônimo fora persuadido, contra sua convicção original, a incluir os deuterocanônicos em sua edição Vulgata pelo fato de que os livros eram comumente aceitos e era esperado que fossem incluídos em todas as edições da Bíblia.

Além do mais, deve ser documentado que em anos mais tarde Jerônimo de fato aceitou certos deuterocanônicos como inspirados. Em sua resposta a Rufino, ele defendeu bravamente as partes deuterocanônicas de Daniel mesmo que os judeus de seu tempo não o fizessem.

Ele escreveu, "Que pecado eu cometi se segui o julgamento da Igreja? Mas ele que traz acusações contra mim por relatar as objeções a que os judeus estavam acostumados a formar contra a história de Susana... e a história de Bel e o dragão, que não se acham nos volumes hebraicos, provam que ele é apenas um bajulador insensato. Eu não estava relatando minha própria visão, mas antes as questões que eles (os judeus) estavam acostumados a fazer contra nós" (Contra Rufinus 11,33 [402 d.C.]). Desta forma Jerônimo reconheceu o princípio pelo qual o cânon foi fixado - o julgamento da Igreja, não dos judeus.

Outros escritores protestantes citam como objeção aos deuterocanônicos, que Atanásio e Orígenes não os aceitavam. Ora, Atanásio aceitava o livro de Baruc (Festal Letter 39) e Orígenes aceitava todos os deuterocanônicos, mas simplesmente recomendava não os usar nos debates com os judeus.

Contudo, apesar de alguns disparates e hesitações de alguns escritores como Jerônimo, a Igreja permaneceu firme em sua afirmação histórica sobre os deuterocanônicos como inspirados e vindos com os apóstolos. O protestante J.N.D. Kelly afirma isto apesar da dúvida de Jerônimo:

"Pela grande maioria, porém, os escritos deuterocanônicos atingiram o grau de inspirados com o máximo de senso. Agostinho, por exemplo, cuja influência no ocidente foi decisiva, não fazia distinção entre eles e o resto do Antigo Testamento... a mesma atitude com os apócrifos foi demonstrada nos Sínodos de Hipona e Cartago em 393 e 397, respectivamente, e também na famosa carta do papa Inocêncio I ao bispo de Toulouse Exuperius, em 405" (Doutrina Cristã Antiga, 55-56).

Este é, portanto, um grande mito pelo qual os protestantes acusam os católicos de terem "adicionado" os deuterocanônicos à Bíblia no Concílio de Trento. Estes livros estavam na Bíblia antes de o cânon pretender ser definido, o que ocorreu só em 380 d.C. tudo o que Trento fez foi reafirmar, em face dos ataques protestantes à Bíblia católica, o que tem sido a histórica Bíblia da Igreja - a edição padrão seria a Vulgata de Jerônimo, incluindo os deuterocanônicos!

Os deuterocanônicos do Novo Testamento

É irônico que os protestantes rejeitem a inclusão dos deuterocanônicos pelos Concílios de Hipona e Cartago, porque nestes Concílios da Igreja antiga também foram definidos os livros do Novo Testamento. Principalmente pelo

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ano 300 havia uma ampla discussão sobre quais livros exatamente deveriam pertencer ao Novo Testamento. Alguns livros, como os Evangelhos, Atos e a maioria das cartas de Paulo foram rapidamente aceitos. Contudo alguns livros, mais notavelmente Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João, e Apocalipse permaneceram em ardente disputa até que o cânon foi fixado. São, de fato, "deuterocanônicos do Novo Testamento".

Enquanto os protestantes aceitam o testemunho dos Concílios de Hipona e Cartago (os Concílios que eles mesmos mais citam) para a canonicidade dos deuterocanônicos do Novo Testamento, não estão dispostos a aceitar o testemunho dos mesmos Concílios para a canonicidade dos deuterocanônicos do Antigo Testamento. Realmente irônico!

Referências do Novo Testamento aos deuterocanônicos do A.T.

1. REFERÊNCIAS POR ORDEM DO NOVO TESTAMENTO

Evangelho segundo Mateus

Mt 4,4 = Sb 16,26; Mt 4,15 = 1Mc 5,15; Mt 5,18 = Br 4,1; Mt 5,28 = Eclo 9,8; Mt 5,2-4 = Eclo 25,7-12; Mt 5,4 = Eclo 48,24; Mt 6,7 = Eclo 7,14; Mt 6,9 = Eclo 23,1.4; Mt 6,10 = 1Mc 3,60; Mt 6,12 = Eclo 28,2; Mt 6,13 = Eclo 33,1; Mt 6,20 = Eclo 29,10-11; Mt 6,23 = Eclo 14,10; Mt 6,33 = Sb 7,11; Mt 7,12 = Tb 4,15 / Eclo 31,15; Mt 7,16 = Eclo 27,6; Mt 8,11 = Br 4,37; Mt 8,21 = Tb 4,3; Mt 9,36 = Jdt 11,19; Mt 9,38 = 1Mc 12,17; Mt 10,16 = Eclo 13,17; Mt 11,14 = Eclo 48,10; Mt 11,22 = Jdt 16,17; Mt 11,25 = Tb 7,17 / Eclo 51,1; Mt 11,28 = Eclo 24,19 / Eclo 51,23; Mt 11,29 = Eclo 6,24-25 / Eclo 6,28-29 / Eclo 51,26-27; Mt 12,4 = 2Mc 10,3 ; Mt 12,5 = Eclo 40,15; Mt 13,44 = Eclo 20,30-31; Mt 16,18 = Sb 16,13; Mt 16,22 = 1Mc 2,21; Mt 16,27 = Eclo 35,22; Mt 17,1 = Eclo 48,10; Mt 18,10 = Tb 12,15; Mt 20,2 = Tb 5,15; Mt 22,13 = Sb 17,2; Mt 23,38 = Tb 14,4; Mt 24,15 = 1Mc 1,54 / 2Mc 8,17; Mt 24,16 = 1Mc 2,28; Mt 25,35 = Tb 4,17; Mt 25,36 = Eclo 7,32-35; Mt 26-38 = Eclo 37,2; Mt 27,24 = Dn 13,46; Mt 27,43 = Sb 2,13 / Sb 18-20.

Evangelho segundo Marcos

Mc 1,15 = Tb 14,5; Mc 4,5 = Eclo 40,15; Mc 4,11 = Sb 2,22; Mc 5,34 = Jdt 8,35; Mc 6,49 = Sb 17,15; Mc 8,37 = Eclo 26,14; Mc 9,31 = Eclo 2,18; Mc 9,48 = Jdt 16,17; Mc 10,18 = Eclo 4,1; Mc 14,34 = Eclo 37,2; Mc 15,29 = Sb 2,17.

Evangelho segundo Lucas

Lc 1,17 = Eclo 48,10; Lc 1,19 = Tb 12,15; Lc 1,19 = Tb 12,15; Lc 1,42 = Jdt 13,18; Lc 1,52 = Eclo 10,14; Lc 2,29 = Tb 11,9; Lc 2,37 = Jdt 8,6; Lc 6,35 = Sb 15,1; Lc 7,22 = Eclo 48,5; Lc 9,8 = Eclo 48,10; Lc 10,17 = Tb 7,17; Lc 10,19 = Eclo 11,19; Lc 10,21 = Eclo 51,1; Lc 12,19 = Tb 7,10; Lc 12,20 = Sb 15,8; Lc 13,25 = Tb 14,4; Lc 13,27 = 1Mc 3,6; Lc 13,29 = Br 4,37; Lc 14,13 = Tb 2,2; Lc 15,12 = 1Mc 10,29[30] / Tb 3,17; Lc 18,7 = Eclo 35,22; Lc 19,44 = Sb 3,7; Lc 21,24 = Tb 14,5; Lc 21,24 = Eclo 28,18; Lc 21,25 = Sb 5,22; Lc 24,4 = 2Mc 3,26; Lc 24,31 = 2Mc 3,34; Lc 24,50 = Eclo 50,20-21; Lc 24,53 = Eclo 50,22-23.

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Evangelho segundo João

Jo 1,3 = Sb 9,1; Jo 3,8 = Eclo 16,21; Jo 3,12 = Sb 9,16 / Sb 18,15-16; Jo 3,13 = Br 3,29; Jo 3,28 = 1Mc 9,39; Jo 3,32 = Tb 4,6; Jo 4,9 = Eclo 50,25-26; Jo 4,48 = Sb 8,8; Jo 5,18 = Sb 2,16; Jo 6,35 = Eclo 24,21; Jo 7,38 = Eclo 24,40 / Eclo 43,30-31; Jo 8,44 = Sb 2,24; Jo 8,53 = Eclo 44,19; Jo 10,20 = Sb 5,4; Jo 10,22 = 1Mc 4,59; Jo 14,15 = Sb 6,18; Jo 15,9-10 = Sb 3,9; Jo 17,3 = Sb 15,3; Jo 20,22 = Sb 15,11.

Atos dos Apóstolos

At 1,10 = 2Mc 3,26; At 1,18 = Sb 4,19; At 2,4 = Eclo 48,12; At 2,11 = Eclo 36,7; At 2,39 = Eclo 24,32; At 4,24 = Jdt 9,12; At 5,2 = 2Mc 4,32; At 5,12 = 1Mc 12,6; At 5,21 = 2Mc 1,10; At 5,39 = 2Mc 7,19; At 9,1-29 = 2Mc 3,24-40; At 9,2 = 1Mc 15,21; At 9,7 = Sb 18,1; At 10,2 = Tb 12,8; At 10,22 = 1Mc 10,25 / 1Mc 11,30.33 etc.; At 10,26 = Sb 7,1; At 10,30 = 2Mc 11,8; At 10,34 = Eclo 35,12-13; At 10,36 = Sb 6,7 / Sb 8,3 etc.; At 11,18 = Sb 12,19; At 12,5 = Jdt 4,9; At 12,10 = Eclo 19,26; At 12,23 = Jdt 16,17; At 12,23 = Eclo 48,21 / 1Mc 7,41 / 2Mc 9,9; At 13,10 = Eclo 1,30; At 13,17 = Sb 19,10; At 14,14 = Jdt 14,16-17; At 14,15 = Sb 7,3; At 15,4 = Jdt 8,26; At 16,14 = 2Mc 1,4; At 17,23 = Sb 14,20 / Sb 15,17; At 17,24 = Tb 7,17 / Sb 9,9; At 17,24-25 = Sb 9,1; At 17,26 = Sb 7,18; At 17,27 = Sb 13,6; At 17,29 = Sb 13,10; At 17,30 = Eclo 28,7; At 19,7 = Sb 3,17; At 19,28 = Dn 14,18.41; At 20,26 = Dn 13,46; At 20,32 = Sb 5,5; At 20,35 = Eclo 4,31; At 21,26 = 1Mc 3,49; At 22,9 = Sb 18,1; At 24,2 = 2Mc 4,6; At 26,18 = Sb 5,5; At 26,25 = Jdt 10,13.

Epístola aos Romanos

Rm 1,19-32 = Sb 13-15; Rm 1,21 = Sb 13,1; Rm 1,23 = Sb 11,15 / Sb 12,24; Rm 1,28 = 2Mc 6,4; Rm 2,4 = Sb 11,23; Rm 2,11 = Eclo 35,12-13; Rm 2,15 = Sb 17,11; Rm 4,13 = Eclo 44,21; Rm 4,17 = Eclo 44,19; Rm 5,5 = Eclo 18,11; Rm 5,12 = Sb 2,24; Rm 9,4 = Eclo 44,12 / 2Mc 6,23; Rm 9,19 = Sb 12,12; Rm 9,21 = Sb 15,7; Rm 9,31 = Eclo 27,8 / Sb 2,11; Rm 10,7 = Sb 16,13; Rm 10,6 = Br 3,29; Rm 11,4 = 2Mc 2,4; Rm 11,15 = Eclo 10,20-21; Rm 11,33 = Sb 17,1; Rm 12,15 = Eclo 7,34; Rm 13,1 = Eclo 4,27; Rm 13,1 = Sb 6,3-4; Rm 13,10 = Sb 6,18; Rm 15,4 = 1Mc 12,9; Rm 15,8 = Eclo 36,20.

1ª Epístola aos Coríntios

1Cor 1,24 = Sb 7,24-25; 1Cor 2,9 = Eclo 1,10; 1Cor 2,16 = Sb 9,13; 1Cor 4,13 = Tb 5,19; 1Cor 4,14 = Sb 11,10; 1Cor 6,2 = Sb 3,8; 1Cor 6,12 = Eclo 37,28; 1Cor 6,13 = Eclo 36,18; 1Cor 6,18 = Eclo 23,17; 1Cor 7,19 = Eclo 32,23; 1Cor 9,19 = Eclo 6,19; 1Cor 9,25 = Sb 4,2; 1Cor 10,1 = Sb 19,7-8; 1Cor 10,20 = Br 4,7; 1Cor 10,23 = Eclo 37,28; 1Cor 11,7 = Eclo 17,3 / Sb 2,23; 1Cor 11,24 = Sb 16,6; 1Cor 15,29 = 2Mc 12,43-44; 1Cor 15,32 = Sb 2,5-6; 1Cor 15,34 = Sb 13,1.

2º Epístola aos Coríntios

2Cor 5,1.4 = Sb 9,15; 2Cor 12,12 = Sb 10,16. Epístola aos Gálatas

Gl 2,6 = Eclo 35,13; Gl 4,4 = Tb 14,5; Gl 6,1 = Sb 17,17. Epístola aos Efésios

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Ef 1,6 = Eclo 45,1 / Eclo 46,13; Ef 1,17 = Sb 7,7; Ef 4,14 = Eclo 5,9; Ef 4,24 = Sb 9,3; Ef 6,12 = Sb 5,17; Ef 6,14 = Sb 5,18; Ef 6,16 = Sb 5,19.21.

Epístola aos Filipenses

Fl 4,5 = Sb 2,19; Fl 4,13 = Sb 7,23; Fl 4,18 = Eclo 35,6. Epístola aos Colossenses

Cl 2,3 = Eclo 1,24-25. 1ª Epístola aos Tessalonicenses

1Ts 3,11 = Jdt 12,8; 1Ts 4,6 = Eclo 5,3; 1Ts 4,13 = Sb 3,18; 1Ts 5,1 = Sb 8,8; 1Ts 5,2 = Sb 18,14-15; 1Ts 5,3 = Sb 17,14; 1Ts 5,8 = Sb 5,18.

2ª Epístola aos Tessalonicenses

2Ts 2,1 = 2Mc 2,7. 1ª Epístola a Timóteo

1Tm 1,17 = Tb 13,7.11; 1Tm 2,2 = 2Mc 3,11 / Br 1,11-12; 1Tm 6,15 = Eclo 46,5 / 2Mc 12,15 / 2Mc 13,4.

2ª Epístola a Timóteo

2Tm 2,19 = Eclo 17,26 / Eclo 23,10 (vl) / Eclo 35,3; 2Tm 4,8 = Sb 5,16; 2Tm 4,17 = 1Mc 2,60.

Epístola a Tito

Tt 2,11 = 2Mc 3,30; Tt 3,4 = Sb 1,6. Epístola aos Hebreus

Hb 1,3 = Sb 7,25-26; Hb 2,5 = Eclo 17,17; Hb 4,12 = Sb 18,15-16 / Sb 7,22-30; Hb 5,6 = 1Mc 14,41; Hb 7,22 = Eclo 29,14-16; Hb 11,5 = Eclo 44,16 / Sb 4,10; Hb 11,6 = Sb 10,17; Hb 11,10 = Sb 13,1 / 2Mc 4,1; Hb 11,17 = 1Mc 2,52 / Eclo 44,20; Hb 11,27 = Eclo 2,2; Hb 11,28 = Sb 18,25; Hb 11,35 = 2Mc 6,18-7,42; Hb 12,4 = 2Mc 13,14; Hb 12,9 = 2Mc 3,24; Hb 12,12 = Eclo 25,23; Hb 12,17 = Sb 12,10; Hb 12,21 = 1Mc 13,2; Hb 13,7 = Eclo 33,19 / Sb 2,17.

Epístola de Tiago

Tg 1,1 = 2Mc 1,27; Tg 1,2 = Eclo 2,1 / Sb 3,4-5; Tg 1,13 = Eclo 15,11-20; Tg 1,19 = Eclo 5,11; Tg 1,21 = Eclo 3,17; Tg 2,13 = Tb 4,10; Tg 2,23 = Sb 7,27; Tg 3,2 = Eclo 14,1; Tg 3,6 = Eclo 5,13; Tg 3,9 = Eclo 23,1.4; Tg 3,10 = Eclo 5,13 / Eclo 28,12; Tg 3,13 = Eclo 3,17; Tg 4,2 = 1Mc 8,16; Tg 4,11 = Sb 1,11; Tg 5,3 = Jdt 16,17 / Eclo 29,10; Tg 5,4 = Tb 4,14; Tg 5,6 = Sb 2,10 / Sb 2,12 / Sb 2,19.

1ª Epístola de Pedro

1Pd 1,3 = Eclo 16,12; 1Pd 1,7 = Eclo 2,5; 1Pd 2,25 = Sb 1,6; 1Pd 4,19 = 2Mc 1,24 etc.; 1Pd 5,7 = Sb 12,13.

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2ª Epístola de Pedro

2Pd 2,2 = Sb 5,6; 2Pd 2,7 = Sb 10,6; 2Pd 3,9 = Eclo 35,19; 2Pd 3,18 = Eclo 18,10.

1ª Epístola de João

1Jo 5,21 = Br 5,72. Epístola de Judas

Jd 1,13 = Sb 14,1. Livro do Apocalipse

Ap 1,18 = Eclo 18,1; Ap 2,10 = 2Mc 13,14; Ap 2,12 = Sb 18,16[15]; Ap 2,17 = 2Mc 2,4-8; Ap 4,11 = Eclo 18,1 / Sb 1,14; Ap 5,7 = Eclo 1,8; Ap 7,9 = 2Mc 10,7; Ap 8,1 = Sb 18,14; Ap 8,2 = Tb 12,15; Ap 8,3 = Tb 12,12; Ap 8,7 = Eclo 39,29 / Sb 16,22; Ap 9,3 = Sb 16,9; Ap 9,4 = Eclo 44,18 etc.; Ap 11,19 = 2Mc 2,4-8; Ap 17,14 = 2Mc 13,4; Ap 18,2 = Br 4,35; Ap 19,1 = Tb 13,18; Ap 19,11 = 2Mc 3,25 / 2Mc 11,8; Ap 19,16 = 2Mc 13,4; Ap 20,12-13 = Eclo 16,12; Ap 21,19-20 = Tb 13,17.

2. REFERÊNCIAS POR ORDEM DE DEUTEROCANÔNICOS

Acréscimos de Daniel

Dn 13,46 = Mt 27,24 / At 20,26; Dn 14,18.41 = At 19,28.

Profeta Baruc

Br 1,11-12 = 1Tm 2,2; Br 3,29 = Jo 3,13 / Rm 10,6; Br 4,1 = Mt 5,18; Br 4,7 = 1Cor 10,20; Br 4,35 = Ap 18,2; Br 4,37 = Mt 8,11 / Lc 13,29; Br 5,72 = 1Jo 5,21.

Eclesiástico (ou Sirácida)

Eclo 1,8 = Ap 5,7; Eclo 1,10 = 1Cor 2,9; Eclo 1,24-25 = Cl 2,3; Eclo 1,30 = At 13,10; Eclo 2,1 = Tg 1,2; Eclo 2,2 = Hb 11,27; Eclo 2,5 = 1Pd 1,7; Eclo 2,18 = Mc 9,31; Eclo 3,17 = Tg 1,21 / Tg 3,13; Eclo 4,1 = Mc 10,18; Eclo 4,27 = Rm 13,1; Eclo 4,31 = At 20,35; Eclo 5,3 = 1Ts 4,6; Eclo 5,9 = Ef 4,14; Eclo 5,11 = Tg 1,19; Eclo 5,13 = Tg 3,6 / Tg 3,10; Eclo 6,19 = 1Cor 9,19; Eclo 6,24-25 = Mt 11,29; Eclo 6,28-29 = Mt 11,29; Eclo 7,14 = Mt 6,7; Eclo 7,32-35 = Mt 25,36; Eclo 7,34 = Rm 12,15; Eclo 9,8 = Mt 5,28; Eclo 10,14 = Lc 1,52; Eclo 10,20-21 = Rm 11,15; Eclo 11,19 = Lc 10,19; Eclo 13,17 = Mt 10,16; Eclo 14,1 = Tg 3,2; Eclo 14,10 = Mt 6,23; Eclo 15,11-20 = Tg 1,13; Eclo 16,12 = 1Pd 1,3; Eclo 16,12 = Ap 20,12-13; Eclo 16,21 = Jo 3,8; Eclo 17,3 = 1Cor 11,7; Eclo 17,17 = Hb 2,5; Eclo 17,26 = 2Tm 2,19; Eclo 18,1 = Ap 1,18 / Ap 4,11; Eclo 18,10 = 2Pd 3,18; Eclo 18,11 = Rm 5,5; Eclo 19,26 = At 12,10; Eclo 20,30-31 = Mt 13,44; Eclo 23,1.4 = Mt 6,9 / Tg 3,9; Eclo 23,10 (vl) = 2Tm 2,19; Eclo 23,17 = 1Cor 6,18; Eclo 24,19 = Mt 11,28; Eclo 24,21 = Jo 6,35; Eclo 24,32 = At 2,39; Eclo 24,40; 43,30-31 = Jo 7,38; Eclo 25,7-12 = Mt 5,2-4; Eclo 25,23 = Hb 12,12; Eclo 26,14 = Mc 8,37; Eclo 27,6 = Mt 7,16; Eclo 27,8 = Rm 9,31; Eclo 28,2 = Mt 6,12; Eclo 28,7 = At 17,30; Eclo 28,12 = Tg 3,10; Eclo 28,18 = Lc 21,24; Eclo 29,10 = Tg 5,3; Eclo 29,10-11

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= Mt 6,20; Eclo 29,14-16 = Hb 7,22; Eclo 31,15 = Mt 7,12; Eclo 32,23 = 1Cor 7,19; Eclo 33,1 = Mt 6,13; Eclo 33,19 = Hb 13,7; Eclo 35,3 = 2Tm 2,19; Eclo 35,6 = Fl 4,18; Eclo 35,12-13 = At 10,34; Eclo 35,12-13 = Rm 2,11; Eclo 35,13 = Gl 2,6; Eclo 35,19 = 2Pd 3,9; Eclo 35,22 = Mt 16,27 / Lc 18,7; Eclo 36,7 = At 2,11; Eclo 36,18 = 1Cor 6,13; Eclo 36,20 = Rm 15,8; Eclo 37,2 = Mt 26,38; Eclo 37,2 = Mc 14,34; Eclo 37,28 = 1Cor 6,12 / 1Cor 10,23; Eclo 39,29 = Ap 8,7; Eclo 40,15 = Mt 12,5 / Mc 4,5; Eclo 44,12 = Rm 9,4; Eclo 44,16 = Hb 11,5; Eclo 44,18 etc. = Ap 9,4; Eclo 44,19 = Jo 8,53 / Rm 4,17; Eclo 44,20 = Hb 11,17; Eclo 44,21 = Rm 4,13; Eclo 45,1 = Ef 1,6; Eclo 46,5 = 1Tm 6,15; Eclo 46,13 = Ef 1,6; Eclo 48,5 = Lc 7,22; Eclo 48,10 = Mt 11,14 / Mt 17,11 / Lc 1,17 / Lc 9,8; Eclo 48,12 = At 2,4; Eclo 48,21 = At 12,23; Eclo 48,24 = Mt 5,4; Eclo 50,20-21 = Lc 24,50; Eclo 50,22 = Lc 24,53; Eclo 50,25-26 = Jo 4,9; Eclo 51,1 = Mt 11,25 / Lc 10,21; Eclo 51,23 = Mt 11,28; Eclo 51,26-27 = Mt 11,29.

Livro da Sabedoria

Sb 1,6 = Tt 3,4 / 1Pd 2,25; Sb 1,11 = Tg 4,11; Sb 1,14 = Ap 4,11; Sb 2,5-6 = 1Cor 15,32; Sb 2,10 = Tg 5,6; Sb 2,11 = Rm 9,31; Sb 2,12 = Tg 5,6; Sb 2,13 = Mt 27,43; Sb 2,16 = Jo 5,18; Sb 2,17 = Hb 13,7; Sb 17-18 = Mc 15,29; Sb 2,18-20 = Mt 27,43; Sb 2,19 = Fl 4,5 / Tg 5,6; Sb 2,22 = Mc 4,11; Sb 2,23 = 1Cor 11,7; Sb 2,24 = Jo 8,44 / Rm 5,12; Sb 3,4-5 = Tg 1,2; Sb 3,7 = Lc 19,44; Sb 3,8 = 1Cor 6,2; Sb 3,9 = Jo 15,9-10; Sb 3,17 = At 19,27; Sb 3,18 = 1Ts 4,13; Sb 4,2 = 1Cor 9,25; Sb 4,10 = Hb 11,5; Sb 4,19 = At 1,18; Sb 5,4 = Jo 10,20; Sb 5,5 = At 20,32 / At 26,18; Sb 5,6 = 2Pd 2,2; Sb 5,16 = 2Tm 4,8; Sb 5,17 = Ef 6,12; Sb 5,18 = Ef 6,14; Sb 5,18 = 1Ts 5,8; Sb 5,19.21 = Ef 6,16; Sb 5,22 = Lc 21,25; Sb 6,3-4 = Rm 13,1; Sb 6,7 = At 10,36; Sb 6,18 = Jo 14,15 / Rm 13,10; Sb 7,1 = At 10,26; Sb 7,3 = At 14,15; Sb 7,7 = Ef 1,17; Sb 7,11 = Mt 6,33; Sb 7,18 = At 17,26; Sb 7,22-30 = Hb 4,12; Sb 7,23 = Fl 4,13; Sb 7,24-25 = 1Cor 1,24; Sb 7,25-26 = Hb 1,3; Sb 7,27 = Tg 2,23; Sb 8,3 etc. = At 10,36; Sb 8,8 = Jo 4,48 / 1Ts 5,1; Sb 9,1 = Jo 1,3 / At 17,24-25; Sb 9,3 = Ef 4,24; Sb 9,9 = At 17,24; Sb 9,13 = 1Cor 2,16; Sb 9,15 = 2Cor 5,1.4; Sb 9,16 = Jo 3,12; Sb 10,6 = 2Pd 2,7; Sb 10,16 = 2Cor 12,12; Sb 10,17 = Hb 11,6; Sb 11,10 = 1Cor 4,14; Sb 11,15 = Rm 1,23; Sb 11,23 = Rm 2,4; Sb 12,10 = Hb 12,17; Sb 12,12 = Rm 9,19; Sb 12,13 = 1Pd 5,7; Sb 12,19 = At 11,18; Sb 12,24 = Rm 1,23; Sb 13-15 = Rm 1,19-32; Sb 13,1 = Rm 1,21 / 1Cor 15,34 / Hb 11,10; Sb 13,6 = At 17,27; Sb 13,10 = At 17,29; Sb 14,1 = Jd 1,13; Sb 14,20 = At 17,23; Sb 15,1 = Lc 6,35; Sb 15,3 = Jo 17,3; Sb 15,6 = Rm 9,21; Sb 15,8 = Lc 12,20; Sb 15,11 = Jo 20,22; Sb 15,17 = At 17,23; Sb 16,6 = 1Cor 11,24; Sb 16,9 = Ap 9,3; Sb 16,13 = Mt 16,18 / Rm 10,7; Sb 16,22 = Ap 8,7; Sb 16,26 = Mt 4,4; Sb 17,1 = Rm 11,33; Sb 17,2 = Mt 22,13; Sb 17,11 = Rm 2,15; Sb 17,14 = 1Ts 5,3; Sb 17,15 = Mc 6,49; Sb 17,17 = Gl 6,1; Sb 18,1 = At 9,7 / At 22,9; Sb 18,14 = Ap 8,1; Sb 18,14-15 = 1Ts 5,2; Sb 18,15-16 = Jo 3,12 / Hb 4,12; Sb 18,16[15] = Ap 2,12; Sb 18,25 = Hb 11,28; Sb 19,7-8 = 1Cor 10,1; Sb 19,10 = At 13,17.

Tobias

Tb 2,2 = Lc 14,13; Tb 3,17 = Lc 15,12; Tb 4,3 = Mt 8,21; Tb 4,6 = Jo 3,32; Tb 4,10 = Tg 2,13; Tb 4,14 = Tg 5,4; Tb 4,15 = Mt 7,12; Tb 4,17 = Mt 25,35; Tb 5,15 = Mt 20,2; Tb 5,19 = 1Cor 4,13; Tb 7,10 = Lc 12,19; Tb 7,17 = Mt 11,25 / Lc 10,17 / At 17,24; Tb 11,9 = Lc 2,29; Tb 12,8 = At 10,2; Tb 12,12 = Ap 8,3; Tb 12,15 = Mt 18,10 / Lc 1,19 / Ap 8,2; Tb 13,7.11 = 1Tm 1,17; Tb 13,17 = Ap 21,19-20; Tb 13,18 = Ap 19,1; Tb 14,4 = Mt 23,38 / Lc 13,25; Tb 14,5 = Mc 1,15 / Lc 21,24 / Gl 4,4.

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Judite

Jdt 4,9 = At 12,5; Jdt 8,6 = Lc 2,37; Jdt 8,26 = At 15,4; Jdt 8,35 = Mc 5,34; Jd 9,12 = At 4,24; Jdt 10,13 = At 26,25; Jdt 11,19 = Mt 9,36; Jdt 12,8 = 1Ts 3,11; Jdt 13,18 = Lc 1,42; Jdt 14,16-17 = At 14,14; Jdt 16,17 = Mt 11,22 / Mc 9,48 / At 12,23 / Tg 5,3.

1º Livro dos Macabeus

1Mc 1,54 = Mt 24,15; 1Mc 2,21 = Mt 16,22; 1Mc 2,28 = Mt 24,16; 1Mc 2,52 = Hb 11,17; 1Mc 2,60 = 2Tm 4,17; 1Mc 3,6 = Lc 13,27; 1Mc 3,49 = At 21,26; 1Mc 3,60 = Mt 6,10; 1Mc 4,59 = Jo 10,22; 1Mc 5,15 = Mt 4,15; 1Mc 7,41 = At 12,23; 1Mc 8,16 = Tg 4,2; 1Mc 9,39 = Jo 3,28; 1Mc 10,25 = At 10,22; 1Mc 10,29[30] = Lc 15,12; 1Mc 11,30.33 etc. = At 10,22; 1Mc 12,6 = At 5,12; 1Mc 12,9 = Rm 15,4; 1Mc 12,17 = Mt 9,38; 1Mc 13,2 = Hb 12,21; 1Mc 14,41 = Hb 5,6; 1Mc 15,21 = At 9,2.

2º Livro dos Macabeus

2Mc 1,4 = At 16,14; 2Mc 1,10 = At 5,21; 2Mc 1,24 etc. = 1Pd 4,19; 2Mc 1,27 = Tg 1,1; 2Mc 2,4 = Rm 11,4; 2Mc 2,4-8 = Ap 2,17 / Ap 11,19; 2Mc 2,7 = 2Ts 2,1; 2Mc 3,11 = 1Tm 2,2; 2Mc 3,24 = Hb 12,9; 2Mc 3,24-40 = At 9,1-29; 2Mc 3,25 = Ap 19,11; 2Mc 3,26 = Lc 24,4; 2Mc 3,26 = At 1,10; 2Mc 3,30 = Tt 2,11; 2Mc 3,34 = Lc 24,31; 2Mc 4,1 = Hb 11,10; 2Mc 4,6 = At 24,2; 2Mc 4,32 = At 5,2; 2Mc 6,4 = Rm 1,28; 2Mc 6,18-7,42 = Hb 11,35; 2Mc 6,23 = Rm 9,4; 2Mc 7,19 = At 5,39; 2Mc 8,17 = Mt 24,15; 2Mc 9,9 = At 12,23; 2Mc 10,3 = Mt 12,4; 2Mc 10,7 = Ap 7,9; 2Mc 11,8 = At 10,30 / Ap 19,11; 2Mc 12,15 = 1Tm 6,15; 2Mc 12,43-44 = 1Cor 15,29; 2Mc 13,4 = 1Tm 6,15 / Ap 17,14 / Ap 19,16; 2Mc 13,14 = Hb 12,4 / Ap 2,10.

Cronologia da era apostólica e o desenvolvimento do cânon

Esta cronologia apresenta uma seqüência dos eventos bíblicos e extrabíblicos que refletiram sobre a formação do cânon da Bíblia, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento. Afirma-se por aí que dois pesquisadores da Bíblia não conseguem concordar sobre uma cronologia apostólica... Com efeito, a cronologia que apresentamos aqui é aceitável para alguns, mas não pode ser considerada "universal". Serve apenas para fornecer pontos de referência para os eventos que se sucederam e suas conseqüências [sobre o cânon das Escrituras].

EVENTO DATA OBRA

Pregação de João Batista 27  

Vinda do Espírito Santo sobre a Igreja 30  

Estêvão é martirizado por lapidação 36/37  

Conversão de Paulo e sua primeira viagem missionária 45/49  

Concílio [Apostólico] de Jerusalém 50  

Segunda viagem missionária de Paulo 50/52  

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  51 1ª e 2ª Epístolas aos Tessalonicenses

Terceira viagem missionária de Paulo 53/58  

  54-57 Epístola aos Gálatas

  57 1ª e 2ª Epístolas aos Coríntios

  58 Epístola aos Romanos

Viagem [de Paulo] a Roma 59/60  

1ª prisão de Paulo em Roma 61-63  

    Epístola a Filemon

    Epístola aos Colossenses

    Epístola aos Efésios

    Epístola aos Filipenses

    Epístola de Tiago

  65 Evangelho de Marcos

    1ª Epístola a Timóteo

    Epístola a Tito

O apóstolo Tiago é martirizado. Paulo é levado para Roma 63/64  

Pedro em Roma (Pedro é o primeiro Bispo de Roma) 64 1ª Epístola de Pedro

2ª prisão de Paulo e martírio 67 2ª Epístola a Timóteo

Morte de Pedro. Lino é Bispo de Roma   Epístola aos Hebreus

Destruição de Jerusalém 68-70  

  70s Evangelho de Mateus

    Evangelho de Lucas e Atos dos Apóstolos

Anacleto é Bispo de Roma 78  

  70s/90s Epístola de Judas

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  90s Evangelho de João

    1ª, 2ª e 3ª Epístolas de João

    Livro do Apocalipse

Clemente é Bispo de Roma 92-101 1ª Epístola de Clemente

Morte do [apóstolo] João em Éfeso 98  

Sínodo dos rabinos/judeus em Jâmnia

99-100 Cânon palestinense em hebraico

1º Cânon Cristão do Antigo Testamento c. 100 Cânon alexandrino em grego

  100-125 2ª Epístola de Pedro

    Didaqué

Melitão, bispo de Sardes c. 170

Primeira tentativa cristã conhecida de relacionar o cânon do Antigo Testamento. Melitão lista os livros do AT segundo a ordem da Septuaginta, mas apresenta apenas os protocanônicos do AT, com exceção de Ester.

Ireneu, bispo de Lião 185Apresenta um cânon do Novo Testamento (sem 3João, Tiago e 2Pedro)

  c. 200Fragmento de Muratori apresenta um cânon semelhante ao do [Concílio de] Trento

Eusébio, bispo de Cesaréia c. 325Escreve a "História Eclesiástica"; refere-se a Tiago, Judas, 2Pedro e 2-3João como "controversos, ainda que aceitos pela maioria"

Concílio [Regional] de Laodicéia c. 360 Apresenta um cânon de livros semelhante ao de Trento

Papa Dâmaso 382Decreto listando os livros canônicos, da mesma forma que em Trento

Concílio [Regional] de Roma 382 Aceitação do decreto de Dâmaso

Concílio [Regional] de Hipona (norte da África)

393 Aprovado um cânon do Antigo e do Novo Testamento (igual ao de

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Trento)

Concílio [Regional] de Cartago (norte da África) 397

Aprovado um cânon do Antigo e do Novo Testamento (igual ao de Trento)

Exupério, bispo de Toulouse 405

Escreve ao papa Inocêncio I pedindo uma lista dos livros canônicos. Papa Inocêncio oferece uma lista idêntica ao cânon de Trento

Pequena concordância bíblica

Baseada na "Catholic Doctrinal Concordance" SOBRE DEUS SOBRE AS CRIATURAS DE DEUS SOBRE OS INSTRUMENTOS DE DEUS SOBRE OS DONS DE DEUS SOBRE AS ÚLTIMAS COISAS SOBRE ALGUMAS QUESTÕES APOLOGÉTICAS

SOBRE DEUS A Natureza de Deus

o É Amor: 1Jo 4,8. o É Espírito: Jo 4,24. o É fonte de vida e santidade: Rm 6,23; Gl 6,8; Ef 1,4-5; 1Ts 4,3; 2Ts

2,13-17. o É ilimitado: 1Rs 8,27; Jr 23,24; At 7,48-49. o É misericordioso: Ex 34,6; 2Cr 30,9; Sl 25,6; 51;1; Is 63,7; Lc 6,36; Rm

11,32; Ef 2,4; Tg 5,11. o É o Criador: Gn 1,1; Jó 26,13; Sl 33,6; 148,5; Pv 8,22-31; Eclo 24,8; 2Mc

7,28; Jo 1,3; Cl 1,16; Hb 11,3. o É o Juiz do universo: 1Sm 2,10; 1Cr 16,33; Ez 18,30; Mt 16,27; At

17,31; Rm 2,16; 2Tm 4,1; 1Pd 4,5. o É o único Deus: Dt 32,39; Is 43,10; 44,6-8; Os 13,4; Ml 2,10; 1Cor 8,6;

Ef 4,6. o É onipotente: Gn 17,1; 28,3; 35,11; 43,14; Ex 6,3; Ap 1,8; 4,8; 11,17;

16,14; 21,22. o É onipresente: Sl 139,7; Sb 1,7; Eclo 16,17-18; Jr 23,24; Am 9,2-3; Ef

1,23. o É todo-poderoso: Gn 39,24; Sl 24,8; 50,1; Is 10,21; Jr 32,18; 2Mc 11,13.

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A Santíssima Trindade o Batismo ministrado em nome da Trindade: Mt 28.19. o Bênção dada em nome da Trindade: 2Cor 13,14. o Manifestação da Trindade no NT: Mt 3,16-17; Lc 1,35; 3,21-22. o Pluralidade de Pessoas mencionada no NT: Jo 14,15.26; 15,26; At 1,6-

8; Rm 8,9; 1Cor 6,10-11; Ef 4,4-6; 1Pd 1,2; 1Jo 5,6-7; Jd 20,21. o Prefiguração da pluralidade de Pessoas no AT: Gn 1,26; 3,22; 11,7;

18,1-5.9-10.16. Jesus Cristo

o É a glória de Deus: 1Cor 2,8; Hb 1,3; Tg 2,1; Ap 21,23. o É chamado "o alfa e o ômega": Ap 1,8; 21,6; (Cf.) Ap 22,13-16. o É chamado "o primeiro e o último": Is 41,4; 44,6; (Cf.) Ap 1,17; 2,8. o É eterno: Mq 5,2; Jo 1,1; Cl 1,17; Hb 1,10. o É imutável: Ml 3,6; (Cf.) Hb 1,12; 13,8. o É o Filho de Deus: Mt 16,16; 26,63-64; 1Jo 4,15. o É o Messias (Cristo [gr.]): Is 7,14; 9,6; Jr 23,5; 30,9; Ez 34,23; Mq 5,2;

Zc 9,9; (Cf.) Jo 1,41; 4,25-26. o É o poder e a sabedoria de Deus: 1Cor 1,24. o É o Rei dos reis: Ap 1,5; (Cf.) Ap 17,14; 1Tm 1,17; (Cf.) Ap 15,3. o É o Senhor de todos: At 10,36; Rm 10,12. o É onisciente: Sl 139; (Cf.) Lc 6,8; Jo 6,64; 13,11; 16,13; 21,17. o É verdadeiro Deus: Jo 1,1; 5,18; 8,58; 20,28; Fl 2,6; Cl 1,15-19; 2,9; Tt

2,13. o É verdadeiro Homem (provado por seu sofrimento): Mt 26,38; 27,50;

Mc 15,37; Lc 23,46; Jo 1,14; 19,30; At 2,22; 3,22; Fl 2,7; 1Tm 2,5; Hb 2,17; 1Jo 1,2.

o Provém do Pai: Jo 1,14; 3,16.18; 1Jo 4,9. A Morte de Cristo

o Morreu para a nossa Salvação: Is 53,4-10; Mt 20,28; Lc 24,46; Jo 12,24; Rm 5; Ef 5,2; 1Pd 1,18; 2,24; 1Jo 2,2; 1Ts 5,10.

o Prevista no AT: Sl 22,69; Sb 2,10-20; Is 1,5-6.53; Jr 11,19; Lm 1,12; Zc 1,12-13; (Cf.) Lc 24,46.

A Ressurreição de Cristo o É a certeza da nossa própria ressurreição: Rm 6,5; 1Cor 15,49; 2Cor

4,14; Fl 3,21. o Garantia da nossa Fé: 1Cor 15,17.

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o Prevista no AT: Sl 16,10; (Cf.) At 13,35. o Prevista por Jesus: Mt 17,23; 20,19; Mc 9,9; 14,28; Lc 9,22; 18,33; Jo

2,19; 10,18. o Provada pelas manifestações aos seus discípulos: Mt 28,9; Mc 16,9; Lc

24,13-35; Jo 20,26; 21,1; At 1,3; 1Cor 15,6. o Significa nosso novo nascimento: Rm 6,4; Cl 2,12; 1Pd 1,3.

Outros Dados sobre Jesus o Jesus ascendeu aos céus: Mc 16,19; Lc 24,50; Jo 20,17; At 1,3-9; Ef

4,10; 1Tm 3,16; 1Pd 3,22. o Jesus completará a salvação dos justos: Rm 2,7; 1Cor 1,8; Fl 3,21; Hb

9,28; 1Pd 1,5. o Jesus foi exaltado na glória: Jo 12,16; At 2,32-33; 4,10-11; 7,55; Rm

8,34; Ef 1,20; Fl 2,9; Cl 3,1. o Jesus julgará os vivos e os mortos: At 10,42; Rm 2,16; 2Tm 4,1; 1Pd

4,5. o Jesus retornará na glória: Dn 7,13; Mt 24,30; 25,31; 26,64; 1Ts 4,16;

Ap 1,7. o Jesus retornará como Juiz: Jo 5,22; At 10,42; 17,31; 2Tm 4,1;1 Pd 4,5;

Ap 20,12-13. o Ninguém sabe o dia e a hora em que Jesus retornará: Mt 24,44; 25,13;

Mc 13,35; Lc 12,40-46; 1Ts 5,2; 2Pd 3,10; Ap 3,3; 16,15. o Nós devemos ficar atentos para o seu retorno: Rm 8,23; 1Cor 1,7; Fl

3,20; Cl 3,1-4; 1Tm 1,1; Hb 10,37; 2Pd 3,12. O Espírito Santo

o Concede vários dons: Is 11,1-3; 61,1-2; Lc 4,18-19. o É chamado Espírito da Verdade: Jo 15,26; 1Jo 5,7. o É chamado Paráclito, Consolador ou Conselheiro: Jo 14,16.26; 15,26;

16,7. o É dado durante o Batismo: Mt 3,11-16; Lc 3,16; Jo 1,33; At 1,5; 2,38;

11,16. o É dado durante o Crisma (separado do batismo): At 1,8; 8,15; 10,44;

19,6. o É dado pelo Pai: Lc 11,13; Jo 3,34; 15,26; 1Ts 4,8; 1Jo 3,24. o É o Mestre e o Revelador da Verdade: Jo 14,26; 16;13; At 5,32; 9,31;

1Cor 2,10; Ef 3,5. o É transmitido pela imposição das mãos: At 8,17; 9,17; 13,2-4; 19,6. o Inspira os homens: At 4,8; 6,10; 7,55. o Inspirou as Sagradas Escrituras: At 3,21; 2Tm 3,16; Pd 1,21.

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o Habita em nós: Jo 14,17; At 2,33; Rm 5,5; 1Cor 3,16; 6,19; Gl 3,14; Ef 1,13; 2Tm 1,14.

o Procede do Pai e do Filho: Jo 15,26; 16,7; 16,13.

SOBRE AS CRIATURAS DE DEUS Os Anjos

o Acompanharão Cristo no seu retorno (Parusia): Mt 16,27; 25,31; Mc 8,38; 1Ts 4,16.

o Anjos da guarda: Tb 12,12; Mt 18,10; At 12,11.15. o Deus se manifestou como Anjo do Senhor: Gn 16,7.13; 18,1-33; 21,17-

18; 22,11; 31,11-13; Ex 3,2; Jz 2,1; 6,11-24; 13,21-22. o Foram criados por Deus: Ne 9,6; Jo 1,3; Rm 11,36; Cl 1,16; 1Cor 8,6. o O homem é pouca coisa inferior aos anjos: Gn 1,26.28; 3,5; Sl 8,5-6; Sb

2,23; Eclo 17,1-14. o Preanunciarão o retorno de Cristo: Mt 24,31; Mc 13,27; 1Cor 15,52. o São chamados "Filhos de Deus": Dt 32,8; Jó 1,6; 2,1; 38,7; Sl 29,1;

82,1; 89,6. o São chamados "Santos de Deus": Jó 5,1; 15,15; Sl 89,7; Dn 4,13; 8,13. o São espíritos confortadores: Sl 91,11; Dn 7,10; Mt 4,11; Mc 1,13; Lc

22,43; Hb 1,14. o São mensageiros de Deus: Gn 24,7; Nm 20,16; 1Cr 21,15; 2Cr 32,21;

Dn 3,28; 6,22; Lc 1,19.26; At 12,11. o São servos de Deus: Jó 4,18; Sl 103,20. o Três deles têm seus nomes expressamente citados: Rafael - Tb 3,16-

17; 5,4; 12,11-15; Gabriel - Dn 8,16; 9,21; Lc 1,19.26; e Miguel - Dn 10,13.21; 12,1; Jd 1,9; Ap 12,7.

Satanás e os Demônios o Alguns podem ser exorcizados por oração e jejum: Mt 17,21; Mc 9,20. o Costumam a tentar os homens: Gn 3; 1Rs 22,19-23; Jó 1,6-8; Sb 2,24;

Zc 3,1-2. o É chamado de "Senhor deste mundo": Jo 12,31; 14;30; 16,11; 2Cor 4,4;

Ef 2,2; 6,12; 1Jo 5,19. o Os demônios são anjos caídos: Is 14,12; Lc 10,18; Jd 1,6; Ap 12,7-9. o Podem aparecer como anjos de luz: 2Cor 11,14; Ap 2,2; 16,14. o Podem se apossar de nossos corpos: Mt 8,28; 9,32; 12,43-45; 15,22;

Mc 5,1-13; 9,14; Lc 4,33; 8,2; 11,24-26; At 8,7. o Podem ser exorcizados pelos poder de Deus: Mt 8,29; 9,33; 10,1; Mc

1,25-26; 6,7.13; 9,38; 16,17; Lc 8,2; 9,1; 9,49; At 5,16; 10,38; Tg 2,19. o Ronda como um leão: Sl 22,13; 1Pd 5,8.

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o Será solto da prisão: Ap 20,7. o Seus poderes foram quebrados pelo sacrifício de Cristo: Mt 12,28; Lc

8,31; 10,17; Jo 3,35; 12,31; Ef 6,11; Cl 1,13; 1Jo 3,8; Ap 12,11. o Sofrerão tormentos eternos: Mt 25,41; Ap 14,10-11; 19,20; 20,10. o Têm liberdade para tentar os homens: 1Rs 22,22; Jó 1,12; Mt 4,1; Mc

1,13; Lc 4,2; Jo 13,2; At 5,3; 1Cor 7,5; 2Cor 2,11. o Temem o Evangelho: Mt 8,29; Tg 2,19. o Tentam nos afastar de Deus: Ef 4,27-6,11; 1Tm 5,15; Tg 4,7.

O Homem o Está inclinado à tentação: Rm 7,15-23; 1Cor 7,5; Ef 6,11; 1Ts 3,5; 2Tm

3,12; Tg 4,2; 1Pd 2,11; 5,8. o Está sujeito à morte: 2Sm 14,14; Jó 14,5; Sb 2,24; Eclo 25,24; Rm 5,12-

14; 6,23; 1Cor 15,21-22; Hb 9,27. o Foi castigado por ter pecado:Gen 3; Sb 2,24; Eclo 25,24; Ez 28,12-17;

Rm 5,12; 1Cor 15,21; 1Tm 2,14. o Foi criado homem e mulher: Gn 1,27; Mt 19,4; Mc 10,6; 1Cor 11,8. o Foi criado por Deus: Gn 1,26-27; 2,7; Jó 33,4; Sl 8,5; Ecl 12,7; Sb 2,23;

10,1; Eclo 17,1; 2Mc 7,28; Mt 19,4; Mc 10,6. o Já foi exaltado anteriormente: Gn 1,26; 2,8. o Ofendeu a Deus pelo pecado: 2Sm 12,13; Sl 32,5; Is 1,2; Jr 2,29; Os

7,13; Rm 1,18-32; 6,1; Gl 5,17; Ef 4,30; 5,3; Cl 3,5. o Será julgado pelos seus méritos: At 17,31; Rm 2,6.11; 14,10; 2Cor

5,10; 11,15; Cl 3,25; Hb 11,6; 1Pd 1,17; Ap 20,13. o Tem a promessa da ressurreição: Jo 6,54; 2Cor 4,13-14; Fl 3,11; 1Ts

4,14; 2Tm 2,1. o Tem o paraíso como recompensa por sua justiça: Mt 5,12; Cl 1,5; Hb

10,34. o Teve sua dignidade resgatada por Cristo: Rm 5,8; 8,9-11; Ef 2,6; Cl

2,12; 3,1. A Alma e sua Imortalidade

o A salvação: Tg 1,21; 5,20; 1Pd 1,9. o A tentação durante a vida sujeita a alma: 1Pd 2,11; 2Pd 2,14. o As almas dos justos herdam os céus: Sb 3,1; Ap 6,9; 8,3; 20,4. o Confiada aos cuidados de Deus após a morte: Sl 31,5; At 7,59; 1Pd

4,19. o É distinta do corpo material: Mt 10,28; At 2,27; 1Ts 5,23; Hb 4,12. o Foi criada à imagem de Deus: Gn 1,26-27; 1Cor 11,7; Cl 3,10.

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o Foi criada por Deus: Gn 2,7; Ecl 12,7; Is 57,16; Zc 12,1. o Nada compensa a perda da alma: Mt 16,26; Mc 8,36. o Se separa do corpo na hora da morte: Gn 35,18; Ecl 12,7; Lc 12,20. o Sobrevive à morte do corpo: Gn 35,18; 1Sm 28,19; 1Rs 17,22; Mt

10,28; Lc 8,55. Maria Santíssima

o Anunciação: Lc 1,28. o Bendita entre as mulheres: Lc 1,42-48. o Cheia de Graça: Lc 1,28.48. o Concebida sem pecado: Gn 3,15; Lc 1,28. o Devotava-se à oração: At 1,14. o Foi nos dada como mãe: Jo 19,25-27. o Guardava as palavras de Jesus: Lc 2,19. o Mãe de Deus: Is 9,6; Mt 1,23; Lc 1,32.35.43; 2,11; Gl 4,4. o Meditava sobre as palavras de Jesus: Lc 2,51. o Permaneceu sempre virgem: (tipificado em) Ez 44,2; Lc 1,34. o Possibilidade da assunção aos céus, como Enoque e Elias: Gn 5,24; Hb

11,5; 2Rs 2,1-13. o Prevista no AT: Is 7,14; Mq 5,2-3. o Responsável pelo 1º milagre de Jesus: Jo 2,1-12. o Sofreu muita tristeza: Lm 1,12; Lc 2,34-35.48; Jo 19,25. o Virgem: Is 7,14; Mt 1,18-25; Lc 1,27.34.

Filhos o A falta de filhos é considerada uma reprovação: Gn 16,4; 30,1; 1Sm

1,6.11; Is 4,1; Lc 1,25. o As crianças são abençoadas por Jesus: Mt 19,13; Mc 10,13.16; Lc

18.15. o Devem honrar os seus pais: Ex 20,12; Lv 19,3; Dt 5,16; Eclo 3,1-16; Mt

15,4; Mc 7,10; 10,19; Lc 18,20; Ef 6,2-3. o Devem ser disciplinados: Dt 8,5; Pv 3,12; 13,24; 22,15; 23,13-14;

29,15.17; Sb 11,9-10; Eclo 30,1-3; Ef 6,4. o Jesus era obediente aos seus pais: Lc 2,51. o Não devem ser escandalizadas: Mt 18,6; Mc 9,42; Lc 17,2. o Os cristãos devem ser inocentes como as crianças: Sl 131,1-2; Mt 18,3;

Mc 10,15; Lc 18,17; 1Jo 2,1.12; 4,4.5-21. / Mas adultos em seus pensamentos: 1Cor 3,1-3; 13,11; Hb 5,11-14; 1Pd 2,2.

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o Receber bem a uma criança é receber bem o próprio Jesus: Mt 18,5.10; Mc 9,37; Lc 9,48.

o São uma bênção de Deus: Sl 115,14; 127,3-5; 128,3-6; 144,17; Pv 17,6.

O Pecado o A blasfêmia contra o Espírito Santo (atribuir a obra de Deus ao diabo) é

um pecado imperdoável: Mt 12,31-32; Lc 12,10. o Alguns pecados nos exclui do reino de Deus: 1Cor 6,9-10; Gl 5,19-21;

Ef 5,3-5; Cl 3,5-10; Hb 13,4-5; Ap 21,8-9.27. o Apenas Deus pode perdoar o pecado: Mc 2,7; Lc 5,21. o Cristo perdoa os pecados: Mt 9,2-6; Mc 2.10; Lc 5,24; 7,48; Jo 5,14. o Deus deseja a conversão do pecador: Is 49,14-16; Jr 3,12; 31,20; Ez

18,23; 33,11; Lc 15,20-24.32; 18,13; 19,10; Jo 8,11; Rm 11,32; 2Pd 3,9.

o É delegado o poder de perdoar aos Apóstolos: jo 20,23; 2Cor 5,18. o É causa da morte: Gn 3,17-19; Sb 1,12; 2,24; Eclo 25,24; Rm 5,12;

6,11; 1Cor 15,21. o É prejudicial para obtermos a glória de Deus: Rm 3,23; (Cf.) Rm 5,2. o É uma rebelião contra Deus: Nm 15,30; Dt 32,5; 2Sm 12,9; Jó 35,6; Is

1,2; 48,8; Br 4,8. o Pode ser mortal ou venial (grau): 1Jo 5,16-17. o Nos afasta de Deus: Rm 1,18-32; Ef 4,18; Cl 1,21; 1Pd 1,18. o Provém do diabo: Jo 8,44; At 13,10; 1Jo 3,8-10. o Torna-nos escravos: Jo 8,34; Rm 6,16-19; 2Pd 2,19.

SOBRE OS INSTRUMENTOS DE DEUS A Graça

o A graça de Deus é inexaustível: Rm 5,17, 2Cor 4,15; 9,8; Ef 1,7; 2,7; 1Tm 1,14.

o Demanda um efeito: 1Cor 15,10; 2Cor 11,23; Ef 2,10; Fl 2,12-13. o É concedida através de Cristo: Jo 1,17; Rm 1,5; Gl 1,6; Ef 2,7; 1Tm

1,14; 2Tm 1,9. o É concedida por Deus ao humilde: Pv 3,34; Tg 4,6; 1Pd 5,5. o É desejada com a paz nas saudações: Rm 1,7; 1Cor 1,3; 2Cor 1,2; Gl

1,3; Ef 1,2; Fl 1,2; Cl 1,2; 1Ts 1,1; 2Ts 1,2; Fm 3,1; 1Tm 1,2; 2Tm 1,2; Tt 1,4; Hb 13,25.

o É mais abundante que o pecado: Rm 5,15.20; 6,1; 2Cor 12,9. o É oferta gratuita de Deus: Sl 84,11; Zc 12,10; Jo 1,16; 3,27; Rm 3,24;

4,2-5.16; 5,15-17; 9,14-18; 11,6; 1Cor 4,7; 1Pd 5,10.

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o Jesus é graça de Deus: Mt 21,37; Jo 3,16-17; Rm 3,24; 2Cor 8,9; Gl 4,4; Tt 2,11; Hb 2,11.

o Maria é cheia de graça: Lc 1,28.42. o Necessária para difundir a fé: At 18,27; Rm 1,5. o Nos prepara para a vida eterna: Rm 5,2; 6,23; Tt 1,2; 1Pd 1,13. o Nos torna fortes na fé: At 4,22; 6,8; 14,3; 20,32; Rm 1,11; 16,25; 1`Cor

1,7-8; 2Ts 2,16-17; 3,3. o O trono da graça: Ef 3,12; Hb 4,16. o Pode ser perdida: Hb 12,15; Jd 1,4. o Por ela, crescemos no conhecimento de Cristo: 2Pd 3,18.

A Igreja o Chamada "Igreja de Deus": 1Tm 3,15. o Comprada pelo sangue de Cristo: At 20,28; Ef 5,25; Hb 9,12. o Cristo amou a Igreja: Ef 5,25-26. o Cristo é a cabeça da Igreja: Ef 1,22; 5,23; Cl 1,18. o Cristo é a pedra angular: Sl 118,22; Mt 21,42; Mc 12,10; Lc 20,17; At

4,11; Ef 2,20; 1Pd 2,4.7. o Cristo protege a Igeja: Mt 16,18; 20,20. o Doutrina, comunidade e rito sagrado (pão): At 2,42. o É a coluna e fundamento da verdade: 1Tm 3,15. o É infalível: Mt 16,18; 28,20; Mc 16,16; Lc 10,16; 1Tm 3,15. o É o Corpo de Cristo: Rm 12,4; 1Cor 12,12; Ef 1,22-23; 5,22; Cl 1,18. o É perpétua: Mt 16,18; 28,20. o É visível: Mt 5,14; Mc 4,30-32; Ef 2,19-22. o Edificada sobre os Apóstolos: 1Cor 3,10; Ef 2,20; Ap 21,14. o Expansão no mundo: At 2,41; 2,47; 5,14; 6,7; 11,24. o Fundada por Cristo: Mt 16,18; 28,19; Mc 16,15; 1Cor 3,11; Ef 2,20; 1Pd

2,4-6. o Presbíteros são ordenados, cuidam do rebanho e administram os

sacramentos: At 15,6.23; 1Tm 4,14; 5,22; 1Tm 5,17; Tg 5,13-15; Rm 15,16.

o Prevista no AT: Tb 13,11-18; Is 2,2-3; Br 5,3; Os 2,14-24; Mq 4,1-3. o Seus membros são chamados à santidade: 1Cor 1,2; Cl 3,12. o Sucessão apostólica: At 1,15-26; 2Tm 2,2; Tt 1,5. o Tem autoridade: Mt 16,18-19; 18,18; Jo 20,23.

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o Tem bons e maus membros: Mt 13,41-48; 22,10. A Comunhão dos Santos

o Intercessão dos Santos: Tb 12,12; 2Mc 15,14; Ap 5,8; 8,4. o Milagres operados por intermédio de relíquias: At 5,15; 19,11-12. o Orar uns pelos outros: Jr 15,1; At 12,5; Rm 15,30; 2Cor 13,7; Ef 6,18; Cl

4,3; 1Ts 5,25; 2Ts 3,1; Hb 13,18; Tg 5,16. o Os Santos estão nos céus: 1Ts 3,13; Hb 11,40; 12,23; 1Pd 3,19; Ap 6,9. o Somos rodeados pelos Santos: Hb 12,1. o Todos são chamados a serem santos: Ef 1,4-6.12.14. o Unidade de todos os cristãos: Jo 15,5; Rm 12,4; 1Cor 6,12-20; 10,17;

12,4-27; Ef 2,19; 5,30; Cl 1,18.24; 2,19; 3,15. O Batismo

o A preparação do batismo de João: Mc 1,4.8; At 1,5; 11,16; 19,4. o Abrange todo gênero humano: Mt 28,19; Mc 16,15-16; Lc 24,47; At

2,38. o Administrado em nome da Santíssima Trindade: Mt 28,19. o Administrado em nome de Jesus: At 2,38; 8,16; 10,48; 19,5; Ap 14,1;

22,4. o Batizado em Cristo: 1Cor 12,13; Gl 3,27. o Batizado na morte de Cristo: Rm 6,3. o Batizado para uma nova vida: Rm 6,4; Tt 3,5. o Com água e o Espírito Santo: Jo 3,5; Ef 5,26; Tt 3,5. o É administrado pelos discípulos de Cristo: Jo 4,2. o É necessário: Mc 16,16; Jo 3,5. o É nossa garantia de ressurreição: Rm 6,3-5; 1Cor 15,29. o É para nossa justificação: 1Cor 6,11. o É para nossa redenção: 1Jo 5,6. o É para nossa santificação: 1Cor 6,11; Ef 5,26. o É um presente gratuito de Deus: Tt 3,5. o Há um só batismo: Ef 4,5. o Perdoa o pecado: At 2,38; 22,16; 1Pd 3,21. o Prefigurado no AT: Ez 36,25; 1Pd 3,20-21.

Confirmação o É conferido pela imposição das mãos: At 8,17; 19,6.

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o É distinto do Batismo: At 8,15. o Envolve o Espírito Santo: Jo 14,17; At 2,4; 10,44. o Foi prometido por Cristo: Jo 14,16.26; 15,26. o Recebido antes do Batismo: At 10,44. o Recebido após o Batismo: At 2,38; 8,14-17; 19,5-6.

Reconciliação (Confissão e Penitência) o A Penitência reconcilia o pecador com a comunidade de crentes: 2Cor

2,5-8. o A Reconciliação foi instituída por Cristo: Jo 20,22-23. o A Reconciliação provém de Cristo Rm 5,11; Cl 1,20; Hb 1,3. o Cristo tem o poder de perdoar os pecados: Mt 9,6; Mc 2,10; Lc 5,24; Cl

3,13. o Deus perdoa os pecados: Mc 2,7; Lc 5,21. o Há graus de pecado (mortal e venial): 1Jo 5,16. o Liga/desliga no céu e na terra: Mt 18,18. o Ministério da Reconciliação: 2Cor 5,18. o O perdão é dado através de Cristo: 2Cor 2,10. o O poder de perdoar é delegado por Cristo: Jo 20,23; 2Cor 5,18. o Perdão dos pecados, unção dos enfermos e confissão: Tg 5,14-16. o Reconcilia com Cristo: 2Cor 5,18. o "Se vocês perdoarem os pecados... serão perdoados": Jo 20,22-23.

A Eucaristia o Apenas as espécies do pão e do vinho podem ser consagradas: Lc

24,30; Jo 6,51.57-58; At 20,7; 1Cor 10,17; 11,27. o Chamada "a Ceia do Senhor": 1Cor 11,20. o Chamada "ágape" (=festa do amor): Jd 1,12. o Chamada "Fração do Pão": At 2,42. o Comemoração do Calvário: Mt 26,28; Lc 22,19-20; 1Cor 10,16; 11,25-

26. o Cristo está realmente presente nela: Mt 26,26; Lc 22,19-20; Jo

6,35.41.51-58; 1Cor 11,27-29. o Discurso sobre a Eucaristia: Jo 6,32-58. o Fonte de vida divina: Jo 6,27.33.50-51.58; 1Cor 11,30. o Instituída por Cristo: Mt 26,26-29; Mc 14,22; Lc 22,15-20; 1Cor 11,23-

25.

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o "Isto É o meu Corpo... Isto É o meu Sangue": Mt 26,26-27; Mc 14,22.24; Lc 22,19-20; 1Cor 10,24-25.

o Jesus é o Pão da Vida: Jo 6,35.41.48.51. o Nos une a Cristo: At 2,42; Rm 12,5; 1Cor 10,17. o Prometida por Cristo: Jo 6,27-59. o Sérias consequências de pecar contra a eucaristia: 1Cor 11,26-30.

Unção dos Enfermos o Administrado em nome do Senhor: Tg 5,14. o Recebido com oração de fé: Tg 5,15. o Restaura a saúde do doente: Mc 6,13; Tg 5,15. o Também perdoa os pecados: Tg 5,15. o Uso de óleo: Mc 6,13; Tg 5,14.

Sagradas Ordens o Consagração dos Apóstolos: Jo 20,22. o Deveres e funções dos sacerdotes no AT: Dt 33,7-11. o Funções dos sacerdotes: Ml 1,11; Mt 28,19; Jo 20,23; 1Cor 11,24; Tg

5,14. o É o chamado dos Apóstolos: Mt 10,1; 16,16-19; Lc 6,13; 22,32; Jo

21,15-17. o Graus de autoridade: 1Cor 12,28; Ef 4,11; 1Ts 5,12; Tg 3,1. o Melquisedec se aproximava de Cristo: Sl 110,4; Hb 5,6.10; 6,20. o O sacerdócio de Cristo foi perfeito: Hb 3,1-4; 7,27; 8,4-6; 9,12-14.25;

10,5. o O sacerdócio de Melquisedec foi superior ao de Aarão: Hb 7,1-17; 8,1-

13. o Orar para despertar vocações sacerdotais: Mt 9,37-38; Lc 10,2. o Os Apóstolos são enviados: Mt 28,19; Mc 16,15; Lc 24,47; Jo 20,21. o Sacerdócio dos fiéis: Ef 2,19-20; 1Pd 2,5.9. o Sacerdócio no NT: Rm 15,16. o Transmissão do sacerdócio: 1Tm 4,14; 5,22; 2Tm 1,6; Tt 1,5.

Matrimônio o A continência é aconselhada para curtos períodos: 1Cor 7,1-5. o A morte dissolve o matrimônio: Rm 7,2; 1Cor 7,39. o A união é sagrada: 1Cor 7,13-14; Ef 5,25-26.

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o Duas pessoas em uma só carne: Gn 2,23-24; Mt 19,3-6; Ef 5,31. o É para a procriação de filhos: Gn 1,28. o O casamento é como Cristo e sua Igreja: Ef 5,21-23. o O celibato é superior: Mt 19,12; 1Cor 7,8.25.38. o O divórcio não é permitido: Mt 5,32; 19,9; Mc 10,2-12; Lc 16,18; 1Cor

7,10. o Ordenado por Deus: Gn 1,28; 2,18; Tb 8,5-7; Mt 19,6. o Os filhos são a bênção de Deus: Gn 24,60; 30,1-3; Sl 127,3: 1Sm 1,6;

Lc 1,25. o Respeito mútuo: 1Cor 7,4; Ef 5,21-25.33; Cl 3,18-19.

A Bíblia o Bênção por crer na Palavra de Deus: Lc 11,28; Ap 22,7. o É aprendida desde a infância: Dt 6,7; 11,19; 31,12-13; 2Tm 3,15. o É chamada espada de dois gumes: Sl 149,6; Hb 4,12; Ap 1,16. o É chamada "Palavra de Deus": 1Ts 2,13; Hb 4,12. o É inspirada por Deus: At 1,16; Rm 1,2; 2Tm 3,16; 1Pd 1,10; 2Pd 1,21. o Não está sujeita a particular interpretação: 2Pd 1,20-21. o Necessita de um intérprete: At 8,30-31; 2Pd 3,16. o Propósito e usos das Escrituras: Rm 15,4; 16,26; 1Cor 10,11; 2Tm

3,15-17. o Tem coisas difíceis de se compreender: 2Pd 3,16.

Os Apóstolos o A Igreja foi erguida sobre os Apóstolos: Mt 16,18; Ef 2,20; Ap 21,14. o A primazia foi dada a Pedro: Mt 16,18; Lc 22,31-32; Jo 1,42; 21,15-17. o Chamados por Cristo: Mt 10,2-4; Mc 3,13-19; Lc 6,12-16; At 1,13. o Funções dos Apóstolos: At 2,42; 4,35; 6,2; 15,6; 1Cor 3,9; 4,1; 11,23;

15,1; 2Cor 5,20; 6,1. o O Espírito Santo pousou sobre os Apóstolos: At 1,8; 2,3-4. o Paulo apóstolo dos gentios: At 9,15; 22,15; Rm 11,13; Gl 2,8; 1Tm 2,7. o Paulo foi chamado a ser Apóstolo: At 9,15; Rm 1,1; 1Cor 9,1; 15,8-10;

2Cor 5,20; Gl 1,15.17. o São aqueles que foram enviados: Mt 28,19; Mc 6,7; 16,15; Lc 24,47; Jc

4,38; 17,18; 20,21. o São testemunhas de Cristo: Lc 24,48; Jo 15,27; At 1,8; 21-28; 2,32;

3,15; 4,33; 5,32; 10,39; 13,31; 22,15.

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o Também julgarão o mundo: Mt 19,28; Lc 22,30; 1Cor 6,2; Ap 20,4.

SOBRE OS DONS DE DEUS Fé

o A caridade é superior à fé: 1Cor 13,13. o A fé é confirmada com o batismo: At 2,41; 8,12-13; 10,44-48; 16,14-

15.31-33; 18,8; 19,2-5; 1Cor 1,14-17; Hb 10,22. o A fé é confirmada com o batismo e nos tornamos filhos de Deus: Jo

1,12; Gl 3,26; 4,5-7. o A fé é exigida por Cristo: Mt 9,28; Mc 4,40; Lc 8,25; Jo 6,35; 8,24; 9,35. o A fé é garantia das coisas esperadas: Rm 1,16; 4,20; 2Cor 4,13; Hb

11,1. o A fé pede obediência: At 6,7; Rm 1,5; 6,16-17; 15,18; 16,19.26; 2Cor

10,6; 2Ts 1,8; Hb 5,9; 11,8; 1Pd 1,22. o A fé vem pela pregação: At 4,1-4; 8,5-6.31.; 17,11; Rm 10,14-17; 2Cor

1,19; Cl 1,23; 1Tm 3,16; Hb 4,2-3. o Alguns heróis da fé: Eclo 44,1-15.21; Hb 11,1-40. o Deus é fiel e verdadeiro: Sl 89,33-37; Rm 3,3-4; 1Cor 1,9; 1Ts 5,24; 2Ts

3,3; 2Tm 2,13; Hb 10,23; 11,11; Ap 19,11. o Fé e boas obras são mutuamente complementares: Gl 5,6; 1Ts 1,3; 2Ts

1,1; Tg 2,17.20.26. o O justo vive pela fé: Hab 2,4; Rm 1,17; 3,21-22.26; Gl 3,11; Hb 2,4;

10,38. o Os cristãos são chamados "crentes" (=homens de fé): At 5,14; 9,42;

14,1; 15,7; Rm 4,24; 1Cor 1,21; 1Tm 4,12. o Sem fé não podemos agradar a Deus: Rm 2,7-8; Hb 11,6. o Tem poder para cumprir as promessas: Jr 32,17; Mt 19,26; Lc 1,37;

18,27; Rm 4,21; Hb 6,17; 11,19. o Vida para todos que crêem com fé: Rm 6,8; 10,10; 2Cor 4,13-14; Ef

1,19; Cl 2,12; 1Ts 4,14; 2Tm 1,10; 1Pd 1,5. Esperança

o A esperança conduz à santidade: 1Jo 3,3. o A esperança vem de Deus: Rm 15,13; 2Ts 2,16. o A esperança vem do Espírito Santo: At 1,8; 2,33; Rm 5,5; Gl 5,5. o Abraão é modelo de esperança: Rm 4,18. o Cristo é a nossa esperança de glória: Rm 5,1-2; Ef 2,13-17; Cl 1,27; Tt

3,7; 1Pd 1,3. o Deus clamou pela fé de Israel: Sl 130,7; 131,3; Jr 14,8; 17,13; 50,7; At

28,20.

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o Devemos esperar com paciência: Rm 8,25; 12,12; 15,4; 1Ts 1,3. o Devemos perseverar na esperança: Hb 3,6; 6,11. o Israel procurou uma esperança futura: Is 61,1-11; Jr 29,11; 31,17; Os

2,21-23. o Não há esperança para os incrédulos: 1Cor 15,14.19; Ef 2,12; 1Ts 4,13. o Os cristãos esperam em Deus: 1Tm 5,5; 6,17; 1Pd 1,21; 3,5. o Os cristãos esperam em Cristo: Gl 5,4-5; Cl 1,5; 1Ts 1,3; 1Tm 1,1; Tt

2,13; Hb 6,18-20. o Os cristãos esperam pela ressurreição: At 2,26; 23,6; 24,15; 26,6; Rm

8,23-24; Hb 11,1. o Os cristãos são salvos pela esperança: Rm 8,24; 1Ts 5,8. o Somos chamados para a esperança: Rm 5,2; Ef 1,18; 4,4; Cl 1,23; Hb

3,1. Caridade (Amor)

o Amar Jesus é seguir sua palavra: Dt 11,1; Jo 14,15.21.23; 1Jo 2,5; 3,24; 5,3.

o Cristo se ofereceu à morte por amor a nós: Jo 15,13; 2Cor 5,14; Gl 2,20; Ef 5,2.25.

o Deus é Amor: 1Jo 4,8.16. o Deus nos amou primeiro: Ef 5,2; 1Jo 3,16; 4,9-10.19. o Devemos amar a Deus de todo o coração: Dt 6,5; Mt 22,37; Mc

12,30.33; Lc 10,27; 1Jo 5,2. o Devemos amar uns aos outros: Lv 19,18.34; Dt 10,19; Mt 19,19.22-39;

Mc 12,31.33; Lc 10,27; Jo 13,34-35; At 4,32; Rm 13,9; Gl 5,14; Tg 2,8; 1Jo 4,20-21.

o Devemos amar também aos inimigos: Jó 31,29-30; Mt 5,43-47; Lc 6,27-36; 10,29-37; Rm 12,14-21.

o O amor de Deus é incomparável: Mt 6,24; Lc 16,13; 1Jo 2,15. o O amor perfeito não sente receio: Rm 8,15; 2Tm 1,7; 1Jo 2,28; 4,18. o O amor é a maior virtude: Rm 13,8-10; 1Cor 13,13; Gl 5,6. o O amor se manifesta na caridade: Dt 15,7.11; Mt 25,34-45; Mc 12,41-

44; Lc 21,1-4; 1Cor 13,3; 2Cor 8,1-8; 9,7; Tg 2,16; 1Jo 3,17-18. o O Espírito Santo é canal de amor: Rm 5,5; 8,16; 15,30; Gl 4,6. o O marido e a mulher devem se amar: Ef 5,25; Cl 3,19; 1Pd 3,7. o Por ter nos amado tanto, Deus enviou seu Filho: Zc 12,10; Mt 21,37; Jo

3,16; Rm 8,32; 1Jo 4,9-10.14. o Sem o amor, nenhuma virtude ou dom tem valor: 1Cor 13,1-10; Gl 5,6.

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A Oração o A oração é a glorificação de Deus: 1Cr 29,13; 2Cr 20,21-22; Sl 21,13;

22,23; 89,5; 113,1; 148; 149; 150; Lc 19,37; Ap 19,5. o A oração desenvolve a vida espiritual: Ef 3,14-19; Fl 1,9-11. o A oração deve ser feita com fé: Lc 11,9; 18,1-8; Jo 14,13; 15,7. o A oração deve ser feita com fé no nome de Jesus: Jo 14,13; 15,7; At

3,16; 1Jo 3,22; 5,14. o A oração deve ser feita com perseverança: Mt 15,22-28; Lc 11,5-8;

18,1-8; Rm 12,12; Ef 6,18; Cl 4,2. o A oração pode ser oferecida por um ministro especial: At 13,3; 14,23. o A oração pode ser rezada de joelhos: 2Cr 6,13; Sl 95,6; Dn 6,10; Lc

22,41; At 9,40; 20,36. o A oração pode ser rezada de pé: 1Cr 23,30; Ne 9,5; Mc 11,25; Lc

18,11. o A oração pode ser rezada em comunidade: Sl 42,4; 122,1; Mt 18,19; Lc

24,53; At 1,14; 3,1; 4,24; 6,4; 20,36; 1Tm 2,8. o A oração pode ser rezada em particular: 2Rs 4,33; Tb 3,11; Is 26,20;

Dn 6,11; Mt 6,6; At 9,11.40; 10,9. o Agradecimento a Deus: Ne 12,8; 46; Tb 13,1ss; Jd 16,1ss; Sl 35,18;

109,30; Eclo 51,1ss; 2Cor 4,15; Fl 4,4-6; Ap 7,12. o O Pai-Nosso (Oração do Senhor): Mt 6,9; Lc 11,2. o O templo é chamado "casa de oração": Is 56,7; Mt 21,13; Mc 11,17. o Oração pelos mortos: 2Mc 12,42-45. o Oração pelos outros: At 12,5; Rm 15,30; 2Cor 1,11; Ef 6,18; Cl 4,3; 1Ts

5,25; 2Ts 3,1; 1Tm 2,1; Hb 13,18. o Pedido a Deus: Ex 32,11-13; 33,17; 34,9; Js 7,6; Mt 7,7-11; Mc 11,24.

SOBRE AS ÚLTIMAS COISAS Morte

o A morte deve ser temida: 2Rs 20,2; Is 38,2; Mc 14,33; Lc 22,44; Jo 11,33.38; 12,27; 13,21; Hb 5,7.

o A morte é o destino comum do homem: 2Sm 12,23; 14,14; 1Rs 2,2; Sl 49,8-9; Ecl 3.

o A morte encerra a nossa existência mortal: Jó 7,8-9.21; 14,10; Sl 39,13; 88,5; 102,23-24; Ecl 3,19-22; 6,1-12; Lc 12,20.

o A morte física é conseqüência do pecado: Gn 3; Sb 1,13; 2,24; Eclo 25-24; Rm 5,12; 1Cor 15,22.

o A morte traz sofrimento: Gn 23,2; 50,1; 2Sm 19,1; 2Rs 13,14; Lc 7,12,13; Jo 11,19.35.

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o Cristo venceu a morte: At 13,34; Rm 6,9; 1Cor 15,25-27; 2Tm 1,10; Hb 2,14; Ap 1,18.

o Todos aqueles que morrem em Cristo viverão com Ele: Rm 6,5.8; 8,17; 2Tm 2,11.

Purgatório o A oração pode ajudar: 2Mc 12,45. o A purificação é necessária para adentrar ao céu: Hb 12,14; Ap 21,27. o Agonia temporária: 1Cor 3,15; Mt 5,25-26. o Cristo pregou para seres espirituais: 1Pd 3,19. o É um estado intermediário de purificação: Mt 5,26; Lc 12,58-59. o É uma realidade entre o céu e a terra: Mt 18,23-25; Lc 23,42; 2Cor

5,10; Fl 2,10; Ap 5,2-3.23. o Graus de expiação dos pecados: Lc 12,47-48. o Não será perdoado nem aqui nem no mundo vindouro: Mt 12,32. o Nada de impuro pode entrar no céu: Ap 21,27. o Sacrifício para os mortos: 2Mc 12,43-46. o Salvação, mas como pelo fogo: 1Cor 3,15. o Sofrimento extra: 2Sm 12,14; Cl 1,24.

Inferno (Geena) o Chamado de abismo: Jó 26,5-6; Sl 88,6; 2Pd 2,4. o Chamado de prisão: Jó 38,17; Is 24,22. o Exclusão da presença de Deus: Mt 5,20; 7,21-23; Lc 13,24-25; 1Cor

6,9-11; Gl 5,21; 2Ts 1,9. o Lugar de fogo: Mt 5,22; 18,9; 25,41; Mc 9,43; Lc 3,17; Tg 3,6; Jd 1,7;

Ap 19,20; 20,10; 21,8. o Lugar de miséria e tormento: Dn 12,2; Mt 8,11-12; 13,42; 22,13; Lc

13,24-28; Rm 2,8; Ap 14,9-11; 19,20. o Lugar de trevas e silêncio: Sl 88,6; 115,17; Mt 8,12; 22,13; 25,30; 2Pd

2,17; Jd 1,13. o Neste lugar não há chance para arrependimento: Hb 12,17. o O inferno é o salário do pecado: Is 3,11; Rm 2,6; 6,21-23; 1Cor 6,9-10;

Gl 6,7; Tg 1,15; Ap 21,8. o Preparado para o diabo e seus anjos: Mt 25,41; Ap 14,9-11. o Punição para a rejeição voluntária da graça de Deus: Jo 12,48; Rm 2,5;

2Ts 1,8; Hb 2,2-3; 6,4-6; 10,26-29. Céu

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o Cristo nos levará ao céu: Mt 24,31; Jo 14,2-3; 1Ts 4,16-17; 2Ts 2,1. o Devemos tentar ir para o céu: Cl 3,1; Hb 13,14. o É o local de residência de Deus: Gn 19,24; Dt 10,14; 1Rs 22,19; Sl

11,4; Mt 5,16.45; 6,1. o Graus de alegria no céu: Mt 20,21; Jo 14,1-3. o Jesus ascendeu ao céu: Mc 16,19; Lc 24,50; Jo 20,17; At 1,3-9; Ef 4,10;

1Pd 3,22. o Jesus desceu do céu: Jo 3,13.31; 6.38; 1Cor 15,47. o Jesus voltará do céu: Mt 10,23; 16,27; 19;28; 35,31; At 1,11; 1Ts 4,13-

18; 2Ts 1,7; 2Pd 1,16; Ap 1,7; 20,11; 22,20. o Não é fácil entrar no céu: Pr 11,28; Mc 10,23-25; 1Cor 6,9; 1Pd 4,18. o Nosso corpo deve primeiro ser transformado: 1Cor 15,50-51; 1Ts 4,13-

17. o O céu é o nosso lar: Mt 5,12; 2Cor 5,1-5; Fl 3,20; Cl 1,5; 1Pd 1,4. o O céu é para todos os homens: 1Tm 2,4. o São Paulo foi levado ao terceiro céu: 2Cor 12,2.

SOBRE ALGUMAS QUESTÕES APOLOGÉTICAS Sola Scriptura (Somente a Bíblia)

A idéia fundamental da reforma protestante é a de que apenas a Bíblia é a única regra de fé. Entretanto, a própria Bíblia não suporta essa crença...

o Jesus fala ou revela verdades que não se encontram na Escritura: Mt 2,23; At 20,35; Tg 4,5.

o Nem tudo está na Bíblia: Jo 21,25. o O grande mandamento de Cristo é pregar e não escrever: Mt 28,19-20. o Os cristãos primitivos seguiam a tradição apostólica: At 2,42. o São Paulo reconhece autoridade à tradição oral: 1Ts 2,13; 2Ts 2,15;

2Tm 2,2; 1Cor 11,2. Sola Fide (Somente a Fé)

Martinho Lutero, querendo evitar a importância de se fazer boas obras, promoveu a idéia de que apenas a fé é responsável pela salvação. A Igreja, porém, sempre ensinou que a fé, a esperança e o amor (caridade) são necessários para a salvação. O único lugar em que a expressão "apenas a fé" aparece na Bíblia está em Tg 2,24, onde o autor declara que Abraão não foi salvo apenas por sua fé.

o As obras têm méritos: Fl 2,12; 2Cor 5,10; Rm 2,6; Mt 25,32-46; Gl 6,6-10.

o Devemos evitar o pecado: Hb 10,26. o Devemos fazer o desejo de Deus: Lc 6,46; Mt 7,21; 19,16-21; 1Tm 5,8. o Devemos guardar os mandamentos: 1Jo 2,3-4; 3,24; 5,3.

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o Obtém o perdão dos pecados: Tg 5,20. o Que proveito tem a fé sem as obras?: Tg 2,14-26. o São Paulo se auto-disciplina para evitar perder a salvação: 1Cor 9,27.

Livros Deuterocanônicos (chamados de "Apócrifos" pelos protestantes)

o Os deuterocanônicos foram usados no Novo Testamento: 2Mc 6,18-7,42 : Hb 11,35; Sb 3,5-6 : 1Pd 1,6-7; Sb 13,1-9 : Rm 1,18-32.

o A versão da Septuaginta (Antigo Testamento grego com os deuterocanônicos) é citada em partes onde difere da versão hebraica: Is 7,14 : Mt 1,23; Is 40,3 : Mt 3,3; Jl 2,30-31 : At 2,19-29; Sl 95,7-9 : Hb 3,7-9.

Batismo de Crianças o A Bíblia sugere o batismo de toda uma casa, o que inclui as crianças:

At 2,38-39; 16,15.33; 1Cor 1,16. o A circuncisão (normalmente feita em crianças) foi substituída pelo

batismo: Cl 2,11-12. o O batismo é necessário para a salvação: Jo 3,5.

Papado/Infalibilidade o A cátedra de Moisés como autoridade de ensino: Mt 23,2. o A igreja edificada sobre os apóstolos e profetas: Ef 2,20. o As chaves são símbolo de autoridade: Is 22,22; Ap 1,18. o Pedro é sempre mencionado em primeiro, antes dos dos demais

apóstolos: Mt 10,1-4; Mc 3,16-19; Lc 6,14-16; At 1,13; Lc 9,32. o Pedro fala pelos apóstolos: Mt 18,21; Mc 8,29; Lc 12,41; Jo 6,69. o Pedro foi o primeiro a pregar durante o Pentecostes: At 2,14-40. o Pedro realizou a primeira cura: At 3,6-7. o Pedro recebeu a revelação de que os gentios deveriam ser batizados:

At 10,46-48. o Simão é chamado de Cefas (aramaico: Kepha = Pedra): Jo 1,42. o Vicário de Cristo: Lc 10,1-2.16; Jo 13,20; 2Cor 5,20; Gl 4,14; At 5,1-5. o "Apascenta as minhas ovelhas": Jo 21,17. o "Simão, confirma os teus irmãos": Lc 22,31-32. o "Sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja; [...] Te darei as chaves do

céu; [...] Tudo que ligares e desligares: Mt 16,18-19. Irmãos de Jesus?

O Cristianismo tradicional afirma que Jesus é o único filho de Maria. As citações aos "irmãos do Senhor" se referem a outros membros da família e, em alguns casos, aos seus próprios discípulos.

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o Maria, esposa de Cléofas e irmã da Virgem Maria (Jo 19,25) é a mãe de Tiago e José (Mc 15,47; Mt 27,56), que são chamados de "irmãos do Senhor" (Mc 6,3).

o Em At 1,12-15, vemos que os Apóstolos, Maria, algumas mulheres e os irmãos de Jesus totalizam aproximadamente 120 pessoas, o que é um número muito alto de irmãos.

o Gn 14,14: Lot, sobrinho de Abraão (cf. Gn 11,26-28), é chamado de irmão de Abraão.

o Gn 29,15: Labão, tio de Jacó, chama Jacó de seu irmão. o Jo 19-26-27: Jesus entrega Maria aos cuidados de seu discípulo João e

não a um de seus supostos irmãos. Os Santos

o A transfiguração - onde está descrita a morte de Moisés e Elias?: Mt 17; Mc 9.

o Corpo de Cristo: 1Cor 12,25-27; Rm 12,4-5. o Deus não é o Deus dos mortos, mas dos vivos: Mc 12,26-27. o Intercessão de Moisés e Samuel: Jr 15,1. o O aviso é para não evocar os mortos, mas os santos podem ser

invocados pois estão vivos para Deus: Dt 18,10. o Oração intercessória: Ef 6,18; Rm 15,30; Cl 4,3; 1Ts 1,11. o Os falecidos Onias e Jeremias intercedem pelos judeus: 2Mc 15,11-16. o Os santos estão unidos com Deus: 1Cor 13,12; 1Jo 3,2. o Os santos são reerguidos na ressurreição e circulam por Jerusalém: Mt

27,52; Ef 2,19. o Veneração de anjos unidos com Deus: Js 5,14; Dn 8,17; Tb 12,16; Mt

18,10.

As Imagens o Deus ordena a confecção de imagens: Ex 25,18-22; Nm 21,8-9. o Salomão constrói o Templo com estátuas e imagens: 1Rs 6,23-29.35;

7,29. Você já está salvo?

o 1Cor 10,12 - "Assim, pois, aquele que julga estar de pé, tome cuidado para não cair".

o Mt 19,16-17 - "Aí alguém se aproximou dele e disse: 'Mestre, que farei de bom para ter a vida eterna?' Respondeu [Jesus]: 'Por que me perguntas sobre o que é bom? O Bom é um só. Mas se queres entrar para a Vida, guarda os mandamentos'".

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o Lc 10,25-28 - "E eis que um doutor da lei se levantou e disse para experimentá-lo: 'Mestre, que farei para herdar a vida eterna?' Ele disse: 'Que está escrito na Lei? Como lês?'. Ele então respondeu: 'Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, com toda a tua força e de todo o teu entendimento; e a teu próximo como a ti mesmo'. Jesus disse: 'Respondeste corretamente; faze isso e viverás'".

o Jo 5,24 - "Em verdade, em verdade vos digo: quem escuta a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não vem a julgamento, mas passou da morte à vida".

o Jo 6,54 - "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia".

o Mt 10,22 - "E sereis odiados por todos por causa do meu nome. Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo".

o Mc 16,16 - "Aquele que crer e for batizado será salvo; o que não crer será condenado".

o Jo 3,5 - "Respondeu-lhe Jesus: 'Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus".

Somente a Bíblia? - 21 razões para rejeitar a Sola Scriptura

1. O que é Sola Scriptura ? 2. Não é ensinada em parte alguma da Bíblia 3. A Bíblia indica que devemos aceitar a Tradição Oral 4. A Bíblia qualifica a Igreja coluna e fundamento da verdade 5. Cristo nos fala para submetermo-nos à autoridade da Igreja 6. A Escritura afirma que é insuficiente como orientadora 7. Os primeiros cristãos não tinham uma Bíblia completa 8. A Igreja produziu a Bíblia, e não o contrário 9. É completamente estranha à Igreja Primitiva 10. Os heresiarcas baseiam-se na interpretação sem o Magistério 11. O cânon da Bíblia não estava formado até o século 4 12. O cânon foi definido por uma autoridade "extra-bíblica" 13. Crer que a Bíblia é "auto-autenticável" não tem bases 14. Nenhum dos escritos bíblicos originais existe mais 15. Os manuscritos bíblicos possuem milhares de variações 16. Existem centenas de versões Bíblicas 17. A Bíblia não estava disponível a todos até o século 15 18. A Sola Scriptura não existia antes do século 14

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19. Produz maus frutos, como divisões e disputas 20. Não permite a interpretação definitiva da Bíblia 21. Faltam sete livros na Bíblia protestante 22. Se originou dos problemas emocionais de Lutero 23. Considerações finais 24. Referências

O QUE É Sola Scriptura?

"Eu não creria no Evangelho, se a isto não me levasse a autoridade da Igreja Católica"

(St. Agostinho - Contr. Epist. Manichaei. v, 6)

Nós cremos somente na Bíblia, e a Bíblia inteira é a única regra de fé para o cristão.

Talvez você já tenha ouvido esta frase ou algo parecido de um protestante evangélico. Ela é, em essência, o significado da doutrina da Sola Scriptura, ou Somente a Escritura, que alega que a Bíblia - interpretada individualmente pelo crente - é a única fonte de autoridade religiosa e é a única regra ou o único critério em quê o crente deve acreditar. Por esta doutrina, que é uma das fundamentais doutrinas do protestantismo, o protestante nega que exista qualquer outra fonte de autoridade religiosa ou revelação divina à humanidade.

A Igreja Católica, por outro lado, afirma que a regra imediata ou direta de fé é o ensino da Igreja. Este, por sua vez, tem suas Fontes da Revelação Divina - A Palavra Escrita, a Sagrada Escritura, e a Palavra não-Escrita, conhecida como Tradição. A autoridade do Magistério da Igreja Católica (chefiado pelo Papa), apesar de não ser ela própria uma fonte de revelação divina, possui a missão de interpretar e ensinar tanto a Escritura como a Tradição. Estas duas formas são as fontes da doutrina cristã, a regra de fé cristã remota ou indireta.

Obviamente, estas duas visões apresentadas são opostas, e aquele que busca seguir Cristo deve ter a certeza de que está seguindo a verdadeira.

A doutrina da Sola Scriptura se originou com Martinho Lutero, um monge alemão do século 16 que quebrou sua união com a Igreja Católica Romana e iniciou a Reforma Protestante [1]. Em resposta a alguns abusos que ocorriam na Igreja, Lutero tornou-se um grande oponente de certas práticas. Como tais abusos de fato ocorriam, Lutero estava correto em se revoltar. Contudo, houve uma série de confrontos entre ele e a hierarquia católica. E à medida que foram evoluindo, as disputas foram se centrando na questão da autoridade da Igreja e - pelo ponto de vista de Lutero - se o ensino da Igreja deveria ser considerado regra de fé legitima para os cristãos.

Crescendo as disputas entre Lutero e a hierarquia da Igreja, ele a acusava de haver corrompido a doutrina cristã e distorcido as verdades bíblicas, e cada vez, mais e mais, ele acreditava que a Bíblia, interpretada por cada indivíduo, era a

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única regra de fé religiosa para o cristão. Rejeitou a Tradição assim como a autoridade do ensino da Igreja Católica (com o Papa como sua cabeça) como tendo legítima autoridade religiosa.

Um observador honesto poderia perguntar, portanto, se a doutrina de Lutero sobre a Sola Scriptura seria uma restauração genuína das verdades bíblicas ou a promulgação de uma visão pessoal acerca da autoridade da Igreja. Lutero era um apaixonado pelas suas crenças, e foi bem-sucedido em divulgá-las, mas estes fatos por si só não são garantia alguma de que o que ensinou esteja correto. Pelo fato de o bem-estar, e mesmo o destino eterno das pessoas, ser uma aposta de confiança, o fiel cristão precisa estar precisamente seguro neste assunto.

Nos parágrafos seguintes declaramos vinte e uma considerações que ajudarão você, leitor católico ou protestante, a analisar cuidadosamente a doutrina luterana da Sola Scriptura de um ponto de vista bíblico, histórico e lógico, e que mostrará que de fato esta não é uma doutrina bíblica genuína, mas somente uma doutrina de homens.

[Topo]

NÃO É ENSINADA EM PARTE ALGUMA DA BÍBLIA

Talvez a razão que mais chame a atenção para rejeitar esta doutrina é que não existe nem mesmo um só versículo onde esta seja ensinada, e isto, portanto, torna esta doutrina auto-refutada.

Os protestantes comumente citam versículos tais como 2 Tm 3,16-17 ou Ap 22,18-19 em defesa da Sola Scriptura, mas um exame minucioso destas duas passagens facilmente irá demonstrar que na verdade estas não suportam tal doutrina.

Em 2 Tm 3,16-17 lemos: Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, refutar, corrigir, educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, qualificado para qualquer boa obra. Existem aqui cinco considerações que enfraquecem a interpretação protestante desta passagem:

1. A palavra grega ophelimus utilizado no v.16 significa útil e não suficiente. Um exemplo desta diferença seria dizer que a água é útil para nossa existência - mesmo necessária - mas não é suficiente; isto é, ela não é o único componente que nos manteria vivos. Também precisamos de alimentos, medicamentos, etc. Da mesma forma, a Escritura é útil na vida do cristão, mas isto nunca quis dizer que ela é a única fonte de ensino cristão e a única coisa que cada o necessita.

2. A palavra grega pasa, que geralmente é traduzida como toda, na realidade significa qualquer, e seu sentido se refere a cada uma ou qualquer uma das classes denotadas pelo substantivo a que está conectado [2]. Em outras palavras, a forma grega indica que toda e qualquer Escritura é útil. Se a doutrina da Sola Scriptura fosse verdadeira, baseada no verso grego 16, todo e qualquer livro da Bíblia poderia, isoladamente, ser considerado a única regra de fé, uma posição que é obviamente absurda.

3. A Escritura a que Paulo se refere é o Antigo Testamento, um fato que é claramente referido pelo fato de as Escrituras serem conhecidas desde a tenra infância (v.15) por Timóteo. O Novo Testamento como conhecemos ainda nem mesmo existia, ou na melhor das hipóteses estava incompleto,

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então não poderia estar incluído no que Paulo quis dizer com o termo Escritura. Se aceitarmos as palavras de Paulo sem analisarmos o que realmente significam, a Sola Scriptura, então, significaria que a única regra de fé do cristão é o Antigo Testamento. Esta é uma conclusão que todos os cristãos rejeitariam. Os protestantes responderiam a este argumento dizendo que Paulo não está tratando do cânon da Bíblia (os livros inspirados que constituem a Bíblia), mas sim da natureza da Escritura. Ainda que haja alguma validade nesta afirmação, a questão do cânon também é relevante aqui, pelas seguintes razões: antes que falemos da natureza das Escrituras como sendo theopneustos, ou seja, inspirados (literalmente "soprados por Deus"), é imperativo que identifiquemos com segurança os livros que queremos listar como Escritura; de outra forma, livros errados poderia ser chamados de inspirados. Obviamente, as palavras de São Paulo aqui tomaram uma nova dimensão quando o Novo Testamento foi completado, e os cristãos eventualmente as consideravam, também, como sendo Escritura. Deve ser dito, então, que o cânon bíblico também entra na questão, pois Paulo - escrevendo sob a inspiração do Espírito Santo - enfatiza o fato de que toda (e não somente alguma) Escritura é inspirada. A questão que deve ser discutida, entretanto, é esta: como podemos ter a certeza de que temos todos os livros corretos? Obviamente, somente poderemos conhecer a resposta se soubermos qual é o cânon da Bíblia. Tal questão guarda um problema para os protestantes, mas não para os católicos, pois estes possuem uma autoridade infalível que pode responder.

4. A palavra grega artios, aqui traduzida como perfeito, à primeira vista pode fazer crer que a Escritura é de fato tudo o que é necessário. "Logo", alguém poderia perguntar, "se as Escrituras tornam o homem de Deus perfeito, que mais seria preciso? Por acaso a palavra 'perfeito' não significa que nada mais é necessário?". Bem, a dificuldade com esta interpretação é que o texto não diz que somente pelos meios da Escritura o homem de Deus é tornado perfeito. O texto indica precisamente o oposto, pois é verdadeiro que a Escritura opera em conjunção com outras coisas. Note que não é qualquer um que se torna perfeito, mas o homem de Deus - que significa um ministro de Deus (cf. 1 Tm 6,11), um sacerdote. O fato deste indivíduo ser um ministro de Cristo pressupõe que ele já estava acompanhando um estudo que o prepararia para exercer tal ofício. Sendo assim, a Escritura poderia ser mais um instrumento dentro de uma série de outros que tornam o homem de Deus perfeito. As Escrituras poderiam complementar sua lista de itens necessários ou poderiam ser o item mais proeminente da lista, mas seguramente não eram a única ferramenta de sua lista nem pretendia ser tudo o que necessitaria. Por analogia, considere um médico. Neste contexto, poderíamos dizer algo como "O Tratado de Medicina Interna do Harrison (livro texto de referência na prática médica mundial) torna nossa prática médica perfeita, logo estamos aptos a qualquer procedimento médico". Obviamente tal afirmativa não pode significar que tudo o que o médico precisa seja o TMIH. Este é um item entre vários outros, ou o mais proeminente. O médico também necessita de um estetoscópio, um tensiômetro, um otoscópio, um oftalmoscópio, técnicas cirúrgicas, etc. Estes outros itens são pressupostos pelo fato de estarmos falando de um médico, e não de um leigo. Logo, seria incorreto presumir que somente o TMIH torna o médico perfeito, a única ferramenta necessária.

Além disso, considerar que a palavra perfeito significa o único item necessário resulta em contradição bíblica, pois em Tg 1,4 lemos que a paciência - sem citar as Escrituras - torna os homens perfeitos e íntegros,

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livres de todo defeito. É verdade que aqui uma palavra grega diferente - teleios - é usada para perfeitos, mas permanece o fato de que o entendimento básico é o mesmo. Então, se alguém certamente entende que a paciência não é a única ferramenta que o cristão precisa para ser perfeito, um método interpretativo consistente levaria-nos a reconhecer da mesma forma que as Escrituras não são a única coisa que o homem de Deus necessita para ser perfeito.

5. A palavra grega exartio no v.17, traduzida por qualificado (outras Bíblias trazem algo como equipado ou plenamente qualificado) é tida como uma prova pelos protestantes da Sola Scriptura pois esta palavra - novamente - implica em dizer que nada mais é necessário ao homem de Deus. Contudo, ainda que o homem de Deus seja qualificado ou plenamente equipado, este fato por si mesmo não garante que este homem saiba interpretar e aplicar corretamente uma passagem bíblica. O sacerdote deve também aprender como usar corretamente as Escrituras, mesmo que ele já esteja equipado com elas. Considere de novo a analogia do médico. Pense num estudante de medicina no início de seu internato. Ele deve dispor de todo seu arsenal necessário para os procedimentos cirúrgicos, ou seja, ele deve estar qualificado, plenamente equipado para qualquer procedimento de emergência, mas a menos que ele passe boa parte do tempo junto a médicos mais experientes, observe suas técnicas, aprenda suas habilidades, e pratique algum procedimento ele próprio, os instrumentos cirúrgicos que possui são completamente inúteis. Sem dúvida, se não aprender a usar tais instrumentos apropriadamente, estes mesmos podem se tornar armas perigosas em suas mãos. Quem se habilitaria a submeter-se a um cirurgião que aprendeu cirurgias por cursos de correspondência?

Da mesma forma ocorre entre o homem de Deus e a Escritura. Estas, como os instrumentos cirúrgicos, são preciosos apenas quando bem manipulados. Do contrário, os resultados são o oposto do esperado. Mal usados, um pode trazer a dor e a morte física, a outra, a dor e a morte espiritual. Devido a Escritura nos advertir a mantermos a retidão da palavra da verdade ( cf. 2 Tm 2,15), é óbvio, portanto, que a palavra da verdade pode ser desviada de seu correto caminho - da mesma forma que um estudante de medicina destreinado que usa incorretamente seu instrumental.

Com relação ao Ap 22,18-19, há duas considerações que desqualificam a Sola Scriptura. A passagem - quase a última da Bíblia - diz: Eu atesto a todo o que ouvir as palavras proféticas deste livro: Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhes acrescentará as pragas escritas nesse livro. E se alguém tirar qualquer coisa das palavras deste livro profético, Deus lhe retirará a sua parte da árvore da vida e da cidade santa, que estão descritas neste livro.

1. Quando os versos desta passagem afirmam que nada deve ser acrescentado ou retirado das palavras deste livro profético, não estão se referindo à Sagrada Tradição sendo acrescentada à Sagrada Escritura. É óbvio pelo contexto que o livro aqui referido é o do Apocalipse, e não a Bíblia inteira. Sabemos disso porque São João diz que o que for culpado por acrescentar a este livro será penalizado com as pragas escritas neste livro, as pragas que ele mesmo descreveu em seu próprio livro, o Apocalipse. Afirmar algo diverso disso é atentar contra o texto e distorcer seu claro significado, especialmente devido a Bíblia que conhecemos ainda não existir quando

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esta passagem foi escrita, sendo assim não poderia significar o compêndio cristão [3].

Na defensiva de sua interpretação, os protestantes trarão o argumento de que Deus vê adiante, vê qual seria o cânon da Bíblia, sendo o Apocalipse o último livro da Bíblia, e portanto Ele definiu o cânon com as palavras dos vv.18-19. Mas esta interpretação necessita que busquemos o significado do texto. Além do mais, se tal afirmação for correta, como o cristão pode saber inquestionavelmente que Ap 22,18-19 está selando o cânon a menos que um intérprete infalível lhe confirme que este é, inquestionavelmente, o único sentido deste verso? Porém, se tal autoridade existe, então a doutrina da Sola Scriptura - ipso facto - torna-se nula e a ser evitada.

2. A mesma advertência de não acrescentar ou subtrair palavras é vista em Dt 4,2, que diz: Nada acrescentareis às palavras dos mandamentos que vos dou, e nada tirareis; assim guardareis os mandamentos do SENHOR, vosso Deus, que eu vos dou. Se aplicarmos uma interpretação paralela com este verso, logo tudo o que está na Bíblia além dos decretos das leis do Antigo Testamento deveria ser considerado apócrifo ou não-canônico - incluindo o Novo Testamento! Mais uma vez, todos os cristãos rejeitam, imediatamente, esta conclusão. A proibição de Ap 22,18-19 contra a adição, portanto, não pode significar que os cristãos estão proibidos de buscar algum guia fora da Bíblia.

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A BÍBLIA INDICA QUE DEVEMOS ACEITAR A TRADIÇÃO ORAL

São Paulo recomenda e ordena a manutenção da Tradição Oral. Em 1 Cor 11,2, por exemplo, lemos: Eu vos felicito por vos lembrardes de mim em toda ocasião e conservardes as tradições tais como eu vo-las transmiti [4]. São Paulo está claramente recomendando que mantenham a tradição oral, e deve ser notado em particular que ele congratula os fiéis por fazê-lo (Eu vos felicito...). Também é explícito no texto o fato de que a integridade desta Tradição oral apostólica era claramente mantida, da mesma forma como Nosso Senhor havia prometido, sob o auxílio do Espírito Santo (cf. Jo 16,13).

Talvez o mais claro apoio bíblico para a Tradição oral seja 2 Ts 2,15, onde os cristãos são enfaticamente advertidos: Assim, pois, irmãos, ficai inabaláveis e guardai firmemente as tradições que vos ensinamos, de viva voz ou por carta. Esta passagem é significante porque: a) mostra uma tradição oral apostólica vivente, b) diz que os cristãos estarão firmemente fundamentados na fé se aderirem a estas tradições e c) claramente afirma que estas tradições eram tanto escritas como orais. A Bíblia distintamente mostra aqui que as tradições orais - autênticas e apostólicas em sua origem - deveriam ser seguidas como componente válido do Depósito da Fé, então por quais razões ou desculpas os protestantes a rejeitam? Com qual autoridade podem rejeitar uma exortação clara de Paulo?

Além do mais, devemos considerar o texto desta passagem. A palavra grega krateite, traduzida aqui como guardar, significa estar firme, forte, prevalecer [5]. Esta linguagem é enfática, e demonstra a importância da manutenção destas tradições. Obviamente, devemos diferenciar o que seja Tradição (com T maiúsculo), que é parte da revelação divina, das tradições da Igreja (com t minúsculo) que, mesmo que sejam boas, desenvolveram-se tardiamente na Igreja

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e não fazem parte do Depósito da Fé. Um exemplo de algo que seja parte da Tradição seria o batismo infantil; um exemplo de tradições da Igreja seria o calendário das festas dos santos. Tudo que venha da Sagrada Tradição é de origem divina e são imutáveis, enquanto que as tradições da Igreja são cambiáveis pela Igreja. A Sagrada Tradição serve-nos como regra de fé por mostrar no quê a Igreja tem consistentemente crido através dos séculos e como ela sempre entendeu uma determinada parte Bíblica. Uma das principais formas pelo qual a Sagrada Tradição foi transmitida a nós está nas doutrinas dos textos litúrgicos antigos, o serviço divino da Igreja.

Todos já notaram que os protestantes acusam os católicos de promoverem doutrinas novas e anti-bíblicas baseadas na Tradição, por afirmarem que tal Tradição contém doutrinas que são estranhas à Bíblia. Entretanto, esta acusação é profundamente falsa. A Igreja Católica ensina que a Tradição Oral não contém nada que seja contrário à Tradição Escrita. Alguns pensadores católicos afirmam, inclusive, que não há nada na Tradição Oral que não seja encontrado na Bíblia, mesmo que implicitamente ou em formas seminais. Certamente as duas estão em perfeita harmonia e complementam uma à outra. Para algumas doutrinas, a Igreja faz uso da Tradição mais que pelas Escrituras para seu entendimento, mas mesmo estas doutrinas estão incluídas nas Sagradas Escrituras. Por exemplo, as doutrinas seguintes são preferencialmente baseadas na Sagrada Tradição: batismo infantil, o cânon das Escrituras, o domingo como Dia do Senhor, a virgindade perpétua de Maria e a assunção de Maria.

A Sagrada Tradição complementa nossa compreensão da Bíblia ao mesmo tempo que não constitui uma fonte extra-bíblica de revelação, com doutrinas novas ou estranhas a ela. Muito pelo contrário: a Sagrada Tradição age como a memória viva da Igreja, relembrando-a constantemente o que criam os cristãos antigos, como entendiam e interpretavam as passagens bíblicas [6]. De certa forma, é a Sagrada Tradição que diz ao leitor da Bíblia: Você está lendo um livro muito importante, que contém a revelação de Deus aos homens. Agora deixe-me explicá-lo como ela sempre foi entendida e praticada pelos cristãos desde o início dos tempos.

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A BÍBLIA QUALIFICA A IGREJA COLUNA E FUNDAMENTO DA VERDADE

É muito interessante que em 1 Tm 3,15 vemos não a Bíblia, mas a Igreja - isto é, a comunidade viva de crentes fundada sob Pedro e os apóstolos e mantida pelos seus sucessores - sendo chamada de coluna e fundamento da verdade. Claramente esta passagem de modo algum significa diminuir a importância da Bíblia, mas sua intenção é de mostrar que Jesus Cristo de fato estabeleceu um magistério autorizado que foi enviado a ensinar todas as nações (cf. Mt 28,19) Em outro lugar esta mesma Igreja recebeu de Cristo a promessa de que os portões do inferno não prevaleceriam contra ela (cf. Mt 16,18), pois Ele sempre estaria presente (cf. Mt 28,20) e enviaria o Espírito Santo para ensiná-la todas as verdades (cf. Jo 16,13). Ao chefe visível de sua Igreja, São Pedro, Nosso Senhor disse: Te darei as chaves do Reino dos Céus. Tudo que ligares na terra será ligado no céu; e tudo que desligares na terra será desligado no céu (Mt 16,19). É evidente a partir destas passagens que Nosso Senhor enfatiza a autoridade de Sua Igreja e a norma que deveria seguir para salvaguardar e definir o Depósito da Fé.

Também é evidente destas passagens que esta mesma Igreja seria infalível, pois

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se em algum lugar de sua história a Igreja ensinou o erro em matéria de fé e moral - ainda que temporariamente - cessaria de ser esta coluna e fundamento da verdade. Pelo fato de todo fundamento existir para ser firme e permanente, e de que as passagens acima não permitem a possibilidade da Igreja ensinar algo contrário à reta fé e moral, a única conclusão plausível é que Nosso Senhor foi muito preciso em estabelecer a sua infalibilidade quando chamou-a de coluna e fundamento da verdade.

O protestante, entretanto, vê aqui um dilema quando afirma que a Bíblia é a única regra de fé para seus crentes. Qual a capacidade, então, da Igreja - coluna e fundamento da verdade - se não deve servir para estabelecer autoridade alguma? Como a Igreja pode ser coluna e fundamento da verdade se não é palpável, habitualmente prática para servir como autoridade na vida do cristão? O protestante efetivamente nega que a Igreja seja o fundamento da verdade por negar que ela possua qualquer autoridade para ensinar.

Além disso, os protestantes entendem o termo Igreja como sendo algo diferente do que entende a Igreja Católica. Os protestantes vêem a igreja como uma entidade invisível, e para eles ela é a coletividade de todos os cristãos ao redor do mundo unidos na fé em Cristo, apesar das grandes variações nas doutrinas e alianças denominacionais. Os católicos, por outro lado, entendem que não somente os cristãos unidos na fé em Cristo formam seu corpo místico, mas entendemos simultaneamente que esta seja - e somente uma - a única organização que possa traçar uma linha ininterrupta até os próprios apóstolos: a Igreja Católica. É esta Igreja e somente esta Igreja que foi estabelecida por Cristo e que tem mantido uma consistência absoluta em doutrina através de sua existência, e, portanto, é somente esta Igreja que pode requerer ser a coluna e fundamento da verdade.

O protestantismo, por comparação, tem conhecido história de fortes vacilos e mudanças doutrinárias, e nem mesmo duas denominações concordam entre si completamente - mesmo quanto a doutrinas importantes. Tais mudanças e alterações não permitem que sejam consideradas fundamento da verdade. Quando os fundamentos de uma estrutura alteram-se ou são dispostos inapropriadamente, este mesmo fundamento é fraco e sem suporte firme (Mt 7,26-27). Pelo fato de o protestantismo ter experimentado mudanças tanto intradenominacional quanto entre as diversas denominações que surgem continuamente, estas crenças são como uma fundação que muda constantemente. Tais credos então cessam de prover o suporte necessário para manter a estrutura que sustentam, e a integridade dessa estrutura fica comprometida. Nosso Senhor claramente não pretendeu que seus discípulos e seguidores construíssem suas casas espirituais em tal fundamento instável.

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CRISTO NOS FALA PARA SUBMETERMO-NOS À AUTORIDADE DA IGREJA

Em Mt 18,15-18 vemos Cristo orientar seus discípulos em como corrigir um companheiro. É dito neste exemplo que Nosso Senhor identifica melhor a Igreja que as Escrituras como sendo a autoridade final a se apelar. Ele mesmo diz que se o irmão pecador não ouvir a própria Igreja, seja para ti como o pagão e o coletor de impostos (v.17) - isto é, como um excluído. Além do mais, Nosso Senhor re-enfatiza solenemente a autoridade infalível da Igreja no v.18 repetindo Seu pronunciamento anterior sobre o poder de ligar e desligar (Mt 16,18-19), dirigido

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desta vez aos apóstolos como um colégio, um grupo, e não somente a Pedro: Em verdade eu vos declaro: tudo o que ligares na terra será ligado no céu, e tudo o que desligares na terra será desligado no céu (Mt 18,18).

Claro que existem exemplos na Bíblia onde Nosso Senhor apela às Escrituras, mas nestes casos Ele, como aquele que possui a autoridade, estava ensinando as Escrituras; Ele não estava permitindo que as Escrituras ensinassem a si mesmas. Por exemplo, Ele preferiu responder aos escribas e fariseus usando as Escrituras precisamente porque estes tentavam apanhá-lo usando as mesmas Escrituras. Nestes exemplos, Jesus geralmente demonstra como os escribas e fariseus tinham más interpretações, então corrigia-os mediante uma melhor interpretação escriturística.

Suas ações não servem de argumento para que a Escritura seja Sola, ou uma autoridade por si mesma e, de fato, a única autoridade do cristão. Muito pelo contrário: em todo lugar que Jesus leva seus ouvintes às Escrituras, Ele também fornece o Seu entendimento infalível, uma interpretação com autoridade, demonstrando que as Escrituras não podem interpretar a si mesmas.

A Igreja Católica prontamente reconhece a inerrância e autoridade da Escritura. Porém a doutrina católica diz que a regra imediata de fé dos cristãos é a autoridade do ensino da Igreja - uma autoridade para ensinar e interpretar a Escritura e a Tradição, como mostra Mt 18,17-18.

Também deve-se notar que está implícita (ou talvez até explícita) nesta passagem de Mateus o fato de que a Igreja deve ser visível, uma entidade palpável estabelecida sob uma linha hierárquica. De outro modo, como alguém saberia a quem encaminhar o pecador? Se a definição protestante de igreja fosse correta, então o pecador deveria escutar todos os cristãos que existem, desejando que haja uma unanimidade entre eles acerca do objeto da discussão. Transborda aos olhos o absurdo que esta interpretação causaria. O único modo de tornar a afirmação de Nosso Senhor plausível é reconhecendo que lá havia uma organização definida, com ofícios hierárquicos definidos, a quem um apelo poderia ser feito e de onde um julgamento decisivo poderia ser dado.

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A ESCRITURA AFIRMA QUE É INSUFICIENTE COMO ORIENTADORA

A Bíblia mostra em 2 Tm 3,17 que o homem de Deus é perfeito, qualificado para qualquer boa obra. Como percebemos acima, este versículo prova somente que o homem de Deus é plenamente suprido com as Escrituras; isto não é garantia de que ele automaticamente saiba como interpretá-la da maneira correta. Este versículo chama a atenção à suficiência material das Escrituras, uma opinião que alguns pensadores católicos sustentam atualmente.

Suficiência material significaria que a Bíblia de certo modo contém todas as verdades que o cristão precisa saber; em outras palavras, os materiais estão todos presentes ou no mínimo implícitos. Suficiência formal, por outro lado, significaria que a Bíblia não somente contém todas as verdades que são necessárias, mas que ela também apresenta estas mesmas verdades e um sentido perfeitamente claro e de pronto entendimento. Em outras palavras, estas verdades estariam em uma forma prática tamanha que não haveria necessidade de uma Sagrada Tradição para clarificar e complementar o entendimento da Palavra de Deus com uma

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interpretação infalível.

Devido a Igreja Católica afirmar que a Bíblia não é suficiente por si mesma, naturalmente ensina que esta necessita de um intérprete. São duas as razões pelas quais a Igreja ensina tal coisa: primeiro, porque Cristo estabeleceu uma Igreja viva para ensinar com Sua autoridade. Ele simplesmente não deu uma Bíblia aos seus discípulos, completa e encadernada, e lhes disse para ir e fazer cópias para a multidão, para distribuir, e deixar que cada um interprete-a do seu jeito. Segundo, a própria Bíblia afirma que precisa de um intérprete.

Sobre a segunda assertiva, lemos em 2 Pd 3,16 que São Paulo escreveu passagens difíceis, cujo sentido pessoas ignorantes e sem formação deturpam, como também fazem para as demais Escrituras, para a própria condenação.

Neste único versículo podemos ver três pontos muito importantes sobre a Bíblia e sua interpretação: a) A Bíblia contém passagens que não são facilmente compreendidas ou suficientemente claras, um fato que demonstra a necessidade de um orientador infalível e com autoridade suficiente para tornar as passagens claras e compreensíveis [8], b) não é somente possível que algumas pessoas deturpem o significado da Escritura, mas isto, de fato, já estava sendo feito desde o começo da era da Igreja, c) distorcer o significado da Escritura pode resultar na condenação de um indivíduo, realmente um destino desastroso. É óbvio destas considerações que Pedro não acredita que a Bíblia deva ser a única regra de fé. Mas há mais.

Em At 8,26-40 lemos o encontro do diácono Felipe com o eunuco etíope. Neste cenário, o Espírito Santo leva Felipe a se aproximar do etíope. Quando Felipe percebe que o etíope está lendo o profeta Isaías, faz uma importante pergunta: será que compreendes verdadeiramente o que está lendo? Mais importante é a resposta dada pelo eunuco: e como poderia eu compreender, respondeu ele, se não tenho guia?

Mesmo que este Felipe (conhecido como o Evangelista) não seja um dos apóstolos, ele fora comissionado pelos apóstolos (cf. At 6,6) e pregou o Evangelho com autoridade (cf. At 8,4-8). Conseqüentemente, sua pregação refletiria o legítimo ensino dos apóstolos. A questão aqui é que as declarações do etíope verificam o fato de que a Bíblia não é suficiente por si mesma como orientadora de doutrina cristã, e as pessoas que ouvem a Palavra precisam de uma autoridade que as oriente corretamente para que possam entender o que a Bíblia quer dizer. Se a Bíblia fosse de fato suficiente por si mesma, então o eunuco compreenderia claramente a passagem de Isaías.

Também há 2 Pd 1,20, que afirma: nenhuma profecia da Escritura é objeto de interpretação pessoal. Aqui vemos a própria Bíblia afirmar de forma inequívoca que suas profecias não são objeto pelos quais o indivíduo deva compreender pelos seus próprios meios. Também é de grande importância que este verso seja precedido por uma seção sobre o testemunho apostólico (vv.12-18) e seguido por uma seção sobre falsos mestres (2,1-10). Pedro está contrastando o ensino apostólico genuíno com os falsos profetas e falsos mestres, e faz a referência à interpretação pessoal como o pivô entre os dois. A implicação imediata e clara é que a interpretação pessoal é um caminho por onde o indivíduo perde-se do autêntico ensino dos apóstolos e passa a seguir falsos mestres.

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OS PRIMEIROS CRISTÃOS NÃO TINHAM UMA BÍBLIA COMPLETA

Estudiosos bíblicos nos revelam que o último livro da Bíblia não havia sido escrito até o final do primeiro século, isto é, até meados do ano 100 d.C. [9]. Este fato demonstra um intervalo inexato de cerca de 65 anos entre a ascensão de Cristo aos céus e o término da redação da Bíblia como a conhecemos. A pergunta que deve ser feita é a seguinte: Quem ou o quê serviu como autoridade final e infalível durante este tempo?

Se a doutrina protestante da Sola Scriptura fosse verdade, então houveram disputas e discussões dentro das comunidades que não tiveram a oportunidade de ser resolvidas definitivamente, até que os livros do Novo Testamento fossem escritos, mesmo já existindo uma Igreja antes que a Bíblia estivesse completa. O barco ficou sem comandante, por assim dizer, pelo menos por um determinado tempo. Porém isto vai de encontro às afirmações e promessas que Jesus fez à sua Igreja: Eis que estarei convosco todos os dias, até a consumação dos tempos (Mt 28,20), sem mencionar que Ele garantiu a seus discípulos: não vos deixarei órfãos (Jo 14,18)

Este é um assunto de particular importância, pois as primeiras décadas da existência da Igreja foram repletos de tumultos. As perseguições já haviam começado, cristãos estavam sendo martirizados, a nova fé estava lutando para crescer, e alguns falsos mestres já haviam aparecido (cf. Gl 1,6-9). Se a Bíblia fosse a única regra de fé dos cristãos, sendo que ela ainda não havia tomado forma - muito menos definido seu cânon - durante pelo menos 65 anos depois da ascenção de Jesus, como a Igreja primitiva poderia resolver questões doutrinárias sem uma autoridade que a conduzisse?

Neste momento os protestantes buscam oferecer duas possíveis respostas: 1) Os apóstolos eram temporariamente a última autoridade enquanto o Novo Testamento estava sendo escrito, e 2) que o Espírito Santo foi dado à Igreja e que a sua direta orientação foi o que preencheu o lacuna entre a ascenção e a definição do Novo Testamento.

Sobre a primeira resposta, é verdadeiro que Jesus revestiu aos apóstolos da Sua autoridade; contudo, a Bíblia em local algum indica que esta autoridade dentro da Igreja iria cessar com a morte dos apóstolos. Pelo contrário, a Bíblia é bastante clara quando: 1) em lugar algum diz que uma vez morto o último apóstolo, a Palavra de Deus escrita tornaria-se a autoridade final e; 2) os apóstolos claramente escolheram sucessores que, por sua vez, possuíram a mesma autoridade de ligar e desligar. A substituição de Judas Iscariotes por Matias (cf. At 1,15-26) e a transmissão da autoridade apostólica de Paulo a Timóteo e Tito (cf. 2 Tm 1,6; Tt 1,5) são exemplos de sucessão apostólica.

Sobre a segunda resposta - que o auxílio direto do Espírito Santo preencheu a lacuna - o problema com este entendimento é que o auxílio direto do próprio Espírito Santo é uma conclusão extra-bíblica. Naturalmente, a Bíblia nos fala da clara presença do Espírito Santo entre os cristãos e sua missão de ensinar aos apóstolos toda a verdade, porém se a direção direta do Espírito Santo foi, de fato, a autoridade final durante estes 65 anos, então a história da Igreja conheceu duas autoridades finais sucessivas: primeiro, o Espírito Santo, sendo que esta autoridade foi substituída pela Escritura, que então tornaria-se sola, ou a única autoridade final. E se esta situação de uma autoridade final extra-bíblica é permissiva pelos protestantes, não o é pelos católicos, que afirma que a

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autoridade do ensino da Igreja é a autoridade final direta - derivando sua autoridade de Cristo e seu ensino da Escritura e da Tradição, guiada pelo Espírito Santo.

O Espírito Santo foi dado à Igreja por Jesus Cristo, e é exatamente este mesmo Espírito que protege o chefe visível da Igreja, o Papa, e a autoridade do ensino da Igreja jamais permitindo que ele ou ela caiam em erro. O católico acredita que Cristo de fato enviou seu Espírito Santo à Igreja e que este Espírito esteve sempre presente na Igreja, ensinando toda a verdade (Jo 16,13) e continuamente protegendo sua integridade doutrinal, particularmente pelo ofício do Papa. Com isso o Evangelho pode continuar sendo pregado - com autoridade e infalivelmente - mesmo sem um só versículo do Novo Testamento.

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A IGREJA PRODUZIU A BÍBLIA, E NÃO O CONTRÁRIO

A doutrina da Sola Scriptura não dá importância - ou pelo menos grosseiramente desmerece - ao fato de que a Igreja surgiu antes da Bíblia, e não o contrário. Foi a Igreja, com efeito, que escreveu a Bíblia sob a inspiração do Deus todo-poderoso: os israelitas como a Igreja do Antigo Testamento (ou pré-católicos) e os católicos da Igreja do Novo Testamento.

Nas passagens do Novo Testamento notamos que Nosso Senhor dá certa primazia à autoridade do ensino de Sua Igreja e sua proclamação em Seu nome. Por exemplo, em Mateus 28,20 vemos Jesus ordenando os apóstolos a ir e ensinar em Seu nome, fazendo discípulos em todas as nações. Em Marcos 16,15 vemos que os apóstolos são enviados a pregar a todo o mundo. E em Lucas 10,16 vemos que aquele que escuta os setenta e dois escuta o Senhor. Estes fatos são muito importantes, pois em lugar algum vemos Nosso Senhor ordenando que seus apóstolos evangelizem o mundo escrevendo em Seu nome. A ênfase está sempre na pregação do Evangelho, não na sua impressão e distribuição escrita.

Então segue que o comando e a autoridade do ensino da Igreja são elementos indispensáveis como meios pelos quais a mensagem do Evangelho deve alcançar os confins do mundo. Pelo fato de a Igreja ter escrito a Bíblia, é lógico e racional dizer que somente a Igreja detém a autoridade para interpretá-la e aplicá-la. E sendo assim, por causa de sua natureza e origem, a Bíblia não pode servir como única regra de fé para os fiéis cristãos. Em outras palavras, por ter produzido a Escritura, a Igreja não elimina a necessidade de ela mesma servir como mestre e intérprete destas Escrituras.

Além do mais, não é errado dizer que somente por colocar a autoridade apostólica no papel, a Igreja de alguma forma faz com que esta mesma autoridade seja superior ao ensino oral? Semelhantemente à organização que Nosso Senhor estabeleceu, Sua palavra é autoridade, mas porque esta palavra está posta em uma forma diferente da outra não significa que uma forma seja superior à outra. Pelo fato de a única Palavra de Deus ser dimórfica em sua organização, negar a autoridade de uma é negar a autoridade da outra. As formas da Palavra de Deus são complementares, não excludentes. Portanto, se há necessidade das Escrituras, também há necessidade da autoridade que a produziu.

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É COMPLETAMENTE ESTRANHA À IGREJA PRIMITIVA

A idéia da autoridade da Escritura existindo separada da autoridade do ensino da Igreja é completamente estranha à Igreja Primitiva

Se buscarmos os escritos dos Pais da Igreja Primitiva, encontraremos referências à Sucessão Apostólica [10], aos bispos como guardiões do Depósito da Fé [11], e ao primado e autoridade de Roma [12]. O precioso valor destas referências torna claro o fato de que a igreja primitiva entendeu a si própria como uma hierarquia necessária para proteger a integridade da fé. Em lugar algum encontramos alguma indicação de que os primeiros fiéis cristãos discordavam da autoridade da Igreja e a consideravam inválida como regra de fé. Do contrário, vemos nestes escritos que a Igreja, desde a sua mais longínqua origem, entendeu sua autoridade para ensinar como uma combinação inseparável entre Escritura e Tradição Apostólica - sendo ambas ensinados e interpretados com autoridade pelo Magistério da Igreja, cuja cabeça é o bispo de Roma.

Dizer que a Igreja primitiva acreditava na noção de somente a Bíblia, seria o mesmo que dizer que homens e mulheres poderiam alegar que as leis civis não necessitam de um Congresso que as legisle, ou de uma corte que as interprete e de polícia alguma que as execute. Tudo que seria necessário seria o livro de Direito Civil em todas as casas para que cada cidadão possa determinar por si mesmo como entender e aplicar as leis. Tal afirmação, claro, é absurda, pois ninguém esperaria que as leis civis funcionassem bem deste modo. A conseqüência de tal escândalo inadvertidamente levaria à anarquia total.

Quão mais absurdo, então, é pretender que a Bíblia pode funcionar por si mesma sem a Igreja que a organizou? É somente esta Igreja - e não somente qualquer cristão - que possui a autoridade divinamente transmitida para a interpretar corretamente, assim como legislar sobre os problemas decorrentes da conduta de seus membros. Se este não fosse o caso, qualquer nível de situação - local, regional ou global - rapidamente desenvolver-se-ia em anarquia espiritual, onde cada cristão pode formular um sistema teológico e desenvolver uma moral simplesmente baseadas em sua própria interpretação da Bíblia.

E desde a tão chamada Reforma não é isto que estamos vendo? De fato, um exame do escândalo na Europa que imediatamente seguiu a gênese da reforma - particularmente na Alemanha - irá demonstrar que o resultado das doutrinas da reforma são uma desordem tanto espiritual quanto social [13]. Mesmo Lutero se mostrou desapontado pelo fato de que infelizmente, é de nossa costumeira observação que agora sob o Evangelho o povo está mais amargo, invejoso e avarento que antes sob o papado [14].

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OS HERESIARCAS BASEIAM-SE NA INTERPRETAÇÃO SEM O MAGISTÉRIO

Os heresiarcas e os movimentos heréticos baseiam suas doutrinas na interpretação da Bíblia separada do Magistério e da Tradição.

Ao longo da história da Igreja primitiva, vemos que ela lutou continuamente contra as heresias e contra quem as promovia. Vários foram os concílios que responderam aos desafios dos detratores [15] e recorreram à Roma para dar um

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fim às disputas doutrinárias e disciplinares. Por exemplo, o Papa Clemente interveio em uma discussão na comunidade de Corinto no fim do primeiro século e acabou com um cisma por lá. No segundo século, o Papa Vitor excomungou uma grande parte da Igreja no Oriente por motivos de divisões sobre quando a páscoa deveria ser celebrada. No início do século três, o Papa Calixto condenou a heresia sabeliana.

Nestes casos, quando estas heresias ou conflitos disciplinares ocorrem, as pessoas envolvidas defendem seus erros através de sua própria interpretação das Escrituras, excluindo a participação da Tradição e do Magistério da Igreja. Um bom exemplo disto é o caso de Ário, sacerdote do quarto século que declarou que o Filho de Deus era uma criatura e não co-substancial ao Pai.

Ário e todos os seus seguidores citavam versículos da Bíblia para provar seus argumentos [15]. Os debates que chegaram por causa desta doutrina tornaram-se tão volumosos que foi convocado o primeiro Concílio Ecumênico, em Nicéia, em 325 d.C. O Concílio, sob a autoridade do Papa, declarou serem as doutrinas arianas heréticas e elaborou declarações definitivas quanto à pessoa de Jesus, e fez isso baseada no que a Sagrada Tradição tinha a dizer sobre os versículos bíblicos em questão.

Aqui vemos a autoridade da Igreja sendo utilizada como última e extremamente importante palavra em matéria doutrinária. Caso não existisse autoridade alguma a quem apelar, a heresia de Ário poderia ter se apossado da Igreja. A maioria dos bispos daquela época foi seduzida pela heresia ariana [17]. Apesar de Ário ter fundamentado sua doutrina nas Escrituras - e provavelmente comparou a Escritura pela Escritura - o fato é que chegou a uma conclusão herética. Foi somente a autoridade do ensino da Igreja - hierarquicamente constituída - que o freou e declarou que estava errado.

A implicação é óbvia. Se você perguntar a algum protestante se Ário estava ou não correto em sua doutrina de que o Filho fora criado, ele irá, claro, responder que não. Enfatize, então, que mesmo que ele tenha utilizado as Escrituras pelas Escrituras, mesmo assim ele chegou a uma conclusão errada. Se isto foi verdadeiro para Ário, o que garante ao protestante que este não é o caso acerca de sua interpretação de uma dada passagem bíblica? O fato de os protestantes reconhecerem que a interpretação de Ário estava errada implica dizer que de fato houve uma base bíblica para seus argumentos. Este fato, portanto, transforma-se em um questionamento acerca do que seja uma verdadeira interpretação bíblica. A única explicação possível é que deve haver, por necessidade, uma autoridade infalível que no-la diga. Esta autoridade infalível, a Igreja Católica, declarou Ário um herege. Se a Igreja Católica jamais foi infalível ou possuiu alguma autoridade em suas declarações, então os cristãos não teriam razão alguma em rejeitar Ário e aceitar a autoridade da Igreja, e a maioria do cristianismo atual seria baseado nos ensinamentos de Ário.

É evidente, portanto, que usar somente a Bíblia não é garantia de se chegar a uma doutrina verdadeira. O resultado acima descrito é o que acontece quando a falsa doutrina da Sola Scriptura é utilizada como princípio guia, e a história da Igreja e das inúmeras heresias que teve de combater são testemunhas inegáveis deste fato.

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O CÂNON DA BÍBLIA NÃO ESTAVA FORMADO ATÉ O SÉCULO 4

Um dos fatos históricos que é um extremo inconveniente aos protestantes é o fato de que o cânon da Bíblia - a lista sagrada dos livros que fazem parte das Escrituras inspiradas - não fora definido até o final do século 4. Até esta data, havia larga discórdia sobre quais seriam os livros considerados inspirados e de origem apostólica. O cânon bíblico antigo variava de local a local: algumas listas continham livros que mais tarde foram reconhecidos como apócrifos, enquanto outras listas não traziam livros que hoje constam entre os livros canônicos. Por exemplo, existiam livros cristãos que eram considerados por alguns inspirados e apostólicos e que eram lidos nos cultos públicos, mas que foram mais tarde omitidos do Novo Testamento, entre eles, O Pastor de Hermas, Epístola de Barnabé, Didaché [18].

Somente nos Concílio de Roma (382), Hipona (393) e Cartago (397) podemos encontrar uma lista definitiva dos livros canônicos sendo descrita, e cada um destes concílios reconheceu a mesma lista do anterior [19]. A partir de então, não houveram mais disputas sobre o cânon bíblico, a única exceção ficando a cargo dos reformadores protestantes, que entraram em cena em 1517, inacreditáveis 11 séculos depois.

Mais uma vez, mais duas questões fundamentais porque alguém não deve buscar respostas que sejam consoantes com a Sola Scriptura: a) Quem ou o quê serviu como autoridade cristão final durante o tempo em que o Novo Testamento não tomou forma? b) E se havia alguma autoridade final que os protestantes reconhecem antes da definição do cânon, com que bases esta autoridade desapareceu uma vez que o cânon bíblico tenha sido fechado?

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O CÂNON FOI DEFINIDO POR UMA AUTORIDADE "EXTRA-BÍBLICA"

Devido a Bíblia não vir com um índice inspirado, a doutrina da Sola Scriptura criou um outro dilema: como alguém pode saber quais são os livros que pertencem à Bíblia - principalmente, ao Novo Testamento? Um fato inquestionável é que ninguém pode saber disso, a menos que alguma coisa fora da Bíblia mostre a resposta. E sem dúvida, este detalhe a mais deve ser, por necessidade, infalível, pois a possibilidade haver erro na definição dos livros inspirados [20] significa que todos os cristãos estariam correndo o risco de estar lendo livros não-inspirados, uma situação que tornaria a Sola Scriptura defeituosa. Porém, se houve tal autoridade "extra-bíblica", a doutrina da Sola Scriptura desaba da mesma forma.

Outro fato histórico que dificulta ainda mais a aceitação desta doutrina é que não houve qualquer outra instituição que tenha identificado e ratificado o cânon da Bíblia. Os três Concílios mencionados anteriormente, todos, eram concílios católicos. A Igreja Católica deu a sua definição final do cânon da Bíblia no Concílio de Trento em 1546 - nomeando os mesmos 73 livros que já haviam sido incluídos desde o século 4. Se a Igreja Católica é capaz, então, de conceder uma definição autoritária e infalível de tão importante assunto sobre quais livros deve conter a Bíblia, logo com que bases alguém pode questionar sua autoridade em outros assuntos acerca de fé e moral?

Os protestantes, no mínimo, devem, assim como o seu fundador, Martinho Lutero,

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reconhecer que a Igreja Católica protegeu e organizou a Bíblia: Somos obrigados a reconhecer muitas coisas aos católicos - (como por exemplo), que eles possuem a Palavra de Deus, que nós recebemos deles; de outro modo, não saberíamos nada sobre ela [21].

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CRER QUE A BÍBLIA É "AUTO-AUTENTICÁVEL" NÃO TEM BASES

Procurando uma resposta satisfatória ao problema de como fora determinado o cânon bíblico, os protestantes costumeiramente apelam para o fato de que a Bíblia é auto-autenticável, ou seja, os próprios livros da Bíblia testemunham que eles são inspirados. O grande problema com esta afirmação é que uma boa excursão pela história da Igreja demonstra que esta teoria é falha.

Por exemplo, vários livros do Novo Testamento - Tiago, Judas, 2 Pedro, 3 João e Apocalipse - receberam questionamentos acerca de seu status canônico por algum tempo. Em alguns lugares eram aceitos, enquanto simultaneamente em outros eram rejeitados. Mesmo grandes pensadores, como Santo Atanásio (297-373), São Jerônimo (342-420) e Santo Agostinho (354-430) apresentaram listas de livros do Novo Testamento que refletiam o que era reconhecido como inspirado em seus tempos e lugares, porém nenhuma destas listas correspondia ao Novo Testamento que fora identificado pela Igreja Católica no fim do século 4 e que até hoje corresponde à Bíblia que os católicos possuem [22].

Se a Bíblia é auto-autenticável, porque, então, havia tamanha discórdia e incerteza sobre tantos livros? Porque a disputa? Porque o cânon não foi identificado logo do início, já que os livros são prontamente discerníveis? A única resposta a estes questionamentos é que o cristão deve aceitar que a Bíblia não seja auto-autenticável.

Mais interessante também é o fato de que alguns livros da Bíblia não identificam seu próprio autor. A idéia de auto-autenticação - se fosse verdade - seria mais plausível se cada um dos autores bíblicos identificassem a si mesmos, pois examinaríamos mais facilmente suas credenciais, ou, no mínimo, quem era que alegava falar em nome de Deus. Mas quanto a isso a Bíblia nos deixa ignorantes, com poucos exemplos.

Tome o Evangelho de Mateus como exemplo: não há indicação de que fora Mateus, o cobrador de impostos, quem o escreveu. Há duas possibilidades, então, para conhecermos o autor deste livros: 1) através da Tradição; 2) por estudiosos bíblicos. Em ambos os casos, a fonte da conclusão é "extra-bíblica", e, portanto, condena a doutrina da Sola Scriptura à completa incompetência e fracasso.

Mas os protestantes respondem a este argumento dizendo que não é necessário conhecer se Mateus escreveu ou não este Evangelho, pois a salvação não depende de conhecer se foi ele ou outro quem o escreveu. Porém, tal ponto de vista guarda uma dificuldade. O que os protestantes estão dizendo é que, enquanto um Evangelho autêntico é a Palavra de Deus e é o meio pelo qual o cristão adquire um conhecimento salvífico de Jesus Cristo, o mesmo cristão não tem como saber com certeza, no caso do Evangelho de Mateus, se este é de origem apostólica e, conseqüentemente, não possui meios para saber se este Evangelho é autêntico (ou seja, a Palavra de Deus) ou não. E se a autenticidade deste Evangelho é questionável, então porque está incluído na Bíblia? Se sua autenticidade é certa,

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como se pôde saber com a ausência do autógrafo de Mateus? A única saída coerente é admitir que a Bíblia não é auto-autenticável.

O protestante então recorrerá à asserção bíblica de auto-inspiração, citando a passagem de 2 Tm 3,16 - Toda Escritura é inspirada por Deus, e útil... - Contudo, a alegação de inspiração não é por si só garantia de inspiração. Considere o fato de que os escritos de Mary Baker Eddy, a fundadora da seita Ciência Cristã, aleguem ser inspirados. Os escritos de Joseph Smith, o fundador da seita Mórmon, afirmem ser inspirados. São apenas dois exemplos, entre muitos, que demonstram que qualquer escrito particular pode reclamar a autoridade sobre qualquer coisa. Obviamente, para reconhecermos se um escrito é inspirado de verdade ou não necessitamos mais do que tal afirmação escrita no papel. A garantia de inspiração de algum escrito deve vir de fora deste escrito, senão será um eterno argumento circular. No caso da Bíblia, a garantia deve vir de uma fonte fora da Bíblia. Porém a autenticação extra-bíblica é uma possibilidade excluída pela Sola Scriptura.

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NENHUM DOS ESCRITOS BÍBLICOS ORIGINAIS EXISTE MAIS

Uma importante consideração - talvez uma das mais fatais à doutrina da Sola Scriptura - é a de que não possuímos ao menos um manuscrito original de nenhum livro da Bíblia. Claro que existem milhares de manuscritos que são cópias dos originais - e mais provável é que sejam cópias das cópias -, e este fato em nada auxilia a Sola Scriptura pela simples razão de que sem os originais, ninguém pode garantir que possuímos atualmente a Bíblia real, completa e sem corrupções [23]. Os autógrafos originais são inspirados, as cópias não...

Os protestantes argumentam que não há problema em não ter os escritos originais, pois Deus protegeu a Bíblia protegendo sua duplicação ao longo dos séculos [24]. Entretanto, existem dois problemas com esta linha de pensamento. Primeiro, que afirmar que a providência de Deus manteve a integridade das cópias é afirmar algo que não encontra nem de longe suporte nas Escrituras, logo não pode ser tomada como regra de fé, pela própria definição de Sola Scriptura. Em outras palavras, não se encontra versículo algum que demonstre que Deus protegeria a transmissão dos manuscritos, logo esta conclusão está excluída. A Bíblia nada diz a respeito.

Segundo, se você afirmar que Deus protegeu a transmissão da Sua Palavra escrita, então podemos concluir que também protegeu a transmissão de Sua Palavra oralmente (releia 2 Ts 2,15 e a dimórfica estrutura da Palavra de Deus). Até porque a pregação do Evangelho começou pela Tradição Oral (cf. Lc 1,1-4 e Rm 10,17). Somente muito tempo depois uma parte da Tradição oral fora posta na forma Escrita - tornando-se a Sagrada Escritura - e somente muito tempo após este mesmo evento os escritos foram reconhecidos e definidos com canônicos. Uma vez que você possa reconhecer que Deus protegeu a transmissão oral de Sua mensagem, você automaticamente admite as bases da Sagrada Tradição e já começou a compreender a posição católica.

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OS MANUSCRITOS BÍBLICOS POSSUEM MILHARES DE VARIAÇÕES

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Percebeu-se que, existindo milhares de manuscritos da Bíblia, estes manuscritos continham milhares de variações textuais; um autor estima que devam existir mais de 200.000 variações [25]. Apesar de muitas destas variações referirem-se a temas menores - tais como escrita, ordem das palavras e etc. - também existem variações das mais importantes naturezas: a) os manuscritos demonstram que algumas vezes os escribas modificavam o texto para harmonizar passagens, acomodá-las a fatos históricos, e para estabelecer uma correta conduta doutrinária [26]; b) existem partes de versículos (isto é, mais que simples palavras) que possuem leitura diferente em diferentes manuscritos, como Jo 7,39, At 6,8, Cl 2,2 e 1 Ts 3,2 [27]. Estes fatos levam o protestante a não saber se a Bíblia que possui é a mesma Bíblia que foi escrita pelo autor inspirado. E se este é o caso, então como o protestante pode professar a base de sua crença somente na Bíblia quando ele não consegue determinar com certeza a autenticidade textual desta mesma Bíblia? [28].

Mais importante, existem muito mais variações entre os manuscritos do Novo Testamento. Os dois exemplos seguintes ilustrarão este ponto:

Primeiro, de acordo com os manuscritos que possuímos, existem quatro possíveis finais para o Evangelho de Marcos: o menor, que inclui os vv.1-8 do capítulo 16, o longo, que inclui os vv.1-8 mais os vv.9-20; o intermediário, que inclui duas ou três linhas entre o v.8 e o final longo, e o final longo expandido, que inclui vários versículos após o v.14 do final longo [29]. O melhor que podemos concluir sobre estas diferenças é que não podemos saber, apenas pela Bíblia, onde termina o Evangelho de Marcos, e, dependendo de qual final está (ou estão) incluído(s) na Bíblia protestante, o publicador corre o risco de estar distribuindo Bíblias acrescentando ou omitindo versículos do texto original - portanto violando a doutrina da Sola Scriptura, que requer que somente a Bíblia, e a Bíblia inteira seja a única regra de fé. Mesmo se uma Bíblia protestante incluir todos os quatro finais com notas de rodapé e comentários, mesmo assim não terão a certeza de qual final é o genuíno.

Segundo, há algumas evidências para leituras alternadas de alguns textos centrais da Bíblia, tal como Jo 1,18, onde ocorrem dois possíveis significados [30]. Algumas Bíblias (como a King James Version) trazem este versículo como está na Douay-Rheims: Nenhum homem viu a Deus em qualquer tempo, o filho único que está no seio do Pai o revelou. Outras acompanham a New Internacional Version: Ninguém jamais viu Deus. O Filho único, que está à direita do Pai, foi quem o revelou. Ambas as formas estão sustentadas por manuscritos, e você encontrará exegetas bíblicos debruçarem seus mais preciosos julgamentos à que crêem seja a "correta". Uma situação similar ocorre em At 20,28, onde os manuscritos mostram que Paulo poderia estar se referindo tanto à Igreja do Senhor (gr. Kurion) ou à Igreja de Deus (gr. Theou) [31].

Este assunto pode parecer simplório à primeira vista, mas suponha que você esteja tentando evangelizar um membro de uma seita que nega a divindade de Jesus Cristo. Ainda que Jo 1,18 e At 20,28 não sejam as únicas passagens que possam defender a divindade de Nosso Senhor, você ficará incapacitado de utilizá-los com esta pessoa, dependendo de qual manuscrito sua Bíblia foi reproduzida. Isto levaria-o a uma possibilidade reduzida de defender uma doutrina bíblica fundamental, e este fato tornaria problemática a perspectiva da doutrina da Sola Scriptura.

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EXISTEM CENTENAS DE VERSÕES BÍBLICAS

Como mencionado no tópico anterior, existem milhares e milhares de variações nos manuscritos bíblicos. Acrescentado a isto o fato de histórico de que existiram centenas de versões bíblicas, variando cada uma tanto em tradução quanto em fontes textuais. A questão é: qual é a versão correta? ou qual é a versão mais fidedigna ao original? A possível resposta dependerá de qual lado você estiver, ou de católicos ou de protestantes. Outra saída dependerá de qual especialista bíblico você depositará sua confiança e credibilidade.

É fato que algumas versões são inferiores a outras. Os avanços nos campos arqueológicos possibilitaram descobertas (como os manuscritos do Mar Morto) que alteraram nosso conhecimento sobre locais e linguagens bíblicas antigas. Sabemos mais hoje pelos avanços dos estudos bíblicos que nossos antepassados de 100, 200, 1000 anos atrás. Deste ponto de vista, versões bíblicas contemporâneas provavelmente possuem certa superioridade em relação às suas versões mais antigas. Por outro lado, Bíblias transcritas a partir da Vulgata latina de São Jerônimo (quarto século) - em língua inglesa, a Douay-Rheims - são baseadas em textos originais que não existem mais, portanto estas versões passaram por dezesseis séculos de possíveis corrupções.

Isto causa um problema considerável aos protestantes, pois significa que os protestantes modernos possuem, por assim dizer, uma versão bíblica melhor ou mais acurada que a Bíblia de seus antecessores, que, portanto, possuíram Bíblias de menor qualidade - que por sua vez leva a concluir que os protestantes modernos possuem uma bíblia "mais completa" como autoridade final que a bíblia "menos completa" que dos antigos protestantes. Só que esta discrepância entre autoridades começa a diminuir a doutrina da Sola Scriptura, pois esta significa que uma bíblia não é mais ou menos autoritária que outra, e se uma não é autêntica e completa, a probabilidade de produzir doutrinas erradas é imensa, logo a função particular da bíblia como autoridade final falha, pois não pode mais ser uma autoridade final.

Outro ponto a considerar é que traduções bíblicas, como produtos humanos, não são completamente objetivas e imparciais. Um pode se sentir mais à vontade de incluir notas a uma passagem de uma maneira que corresponda melhor à doutrina que deseja transmitir. Um exemplo disto é a ocorrência da palavra grega paradoseis nas bíblias protestantes. Como negam a existência da Sagrada Tradição, algumas traduções trazem esta palavra como ensinamentos ou costumes e não tradições, sendo que esta última é a que mais se encaixa na tradução correta e à posição católica.

Ainda outra consideração é que algumas versões são corrupções bíblicas notáveis, como é o caso da Bíblia dos Testemunhas de Jeová, a New World Translation. Nela os "tradutores" manusearam passagens bíblicas para propagar doutrinas erradas [32]. Agora, a menos que haja uma autoridade fora da Bíblia para declarar tais traduções como falsas e perigosas, com qual autoridade e revelação divina os protestantes podem considerar esta ou aquela tradução como falsa? Com qual autoridade os protestantes podem impedir os Testemunhas de usar esta tradução para difundir suas doutrinas? Os protestantes responderiam que este caso pode ser encontrado na Bíblia, através dos estudos de pesquisadores bíblicos. Contudo isto ignora o fato dos Testemunhas também basearem sua tradução em estudos "especialistas". Forma-se um jogo de vai-e-volta, colocando as conclusões de um especialista contra outro, uma autoridade humana contra outra.

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Este problema somente pode ser resolvido pela intervenção de um magistério infalível e com autoridade de falar por Cristo. O católica sabe que esta autoridade é a Igreja Católica e a autoridade de seu magistério. No exercício desta autoridade, os bispos católicos conferem o imprimatur ("Imprima-se") que deve constar nas primeiras páginas de certas versões bíblicas e outros tipos de literatura religiosa para alertar os leitores que aquele livro não contém nada contrário ao ensinamento de Cristo ou dos apóstolos [33].

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A BÍBLIA NÃO ESTAVA DISPONÍVEL A TODOS ATÉ O SÉCULO 15

Essencial à doutrina da Sola Scriptura é a idéia de que o Espírito Santo guia cada crente na interpretação infalível de qualquer passagem bíblica. Esta idéia, no mínimo, requer que todos possuam Bíblias ou acesso a ela. A dificuldade de tal pensamento está no fato de que a Bíblia não era um produto de massas disponível para todo mundo até o advento da imprensa no século 15 [34]. Mesmo depois disso, custava certo tempo até que um número ideal de Bíblias fosse impressa para suprir a população.

A difícil situação que esta idéia coloca é que milhões e milhões de cristãos ficaram sem uma autoridade final até o século 15, na total confusão espiritual, a menos que eles pudessem possuir uma Bíblia manuscrita. Qualquer um consideraria Deus um tanto cruel por causa disto, pois teria revelado sua mensagem de salvação para a humanidade por Cristo, mesmo sabendo que esta mensagem não estaria disponível a esta mesma humanidade por quinze séculos.

Porém sabemos que Deus não é cruel, mas tem um amor infinito por nós. Por esta razão não nos deixaria na escuridão. Nos enviou Seu único Filho para nos mostrar o Reino de Deus, como deveríamos agir e crer, e este Filho estabeleceu uma Igreja para promover esses ensinos através da pregação aos letrados e iletrados: assim a fé vem da pregação, e a pregação é o anuncio da Palavra de Cristo (Rm 10,17). Cristo também deu à Sua Igreja a garantia de que Ele sempre estaria com ela, nunca permitindo que ensine o erro. Deus, por essa razão, não abandonou Seu povo e fez com que antes da invenção da imprensa estes chegassem ao conhecimento de Seu Filho. De fato, deu-nos um mestre infalível, obra divina, a Igreja Católica, para nos dar toda a informação necessária sobre a Boa Nova - e da forma certa.

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A Sola Scriptura NÃO EXISTIA ANTES DO SÉCULO 14

É uma realidade dura, mas deve ser encarada pelos protestantes, o fato de que esta doutrina não surgiu antes do século 14 e não se difundiu antes do século 16 - um tempo longo, muito longo, desde a era dos apóstolos e da fundação da Igreja de Cristo. Este fato, claro, é simplesmente ignorado pelos protestantes, mas sozinho é razão para refutar a Sola Scriptura. Esta doutrina não existia antes de John Huss (precursor do protestantismo) no século 14 e somente ganhou difusão quando Martinho Lutero, no século 16, veio trazer suas "tradições de homens" para por no lugar da autêntica doutrina cristã. Esta doutrina, portanto, não somente surgiu do nada, mas também representa uma mudança abrupta e radical

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no ensino dos apóstolos.

Claro, os protestantes afirmam que a própria Bíblia ensina a Sola Scriptura e por isso esta doutrina é tão antiga quanto a Igreja. Contudo, como mostramos nos primeiros tópicos, a Bíblia não ensina esta doutrina em lugar algum. A insistência nesta afirmação é uma tentativa de forçar um contexto bíblico que mais se adeque ao que se pretende. Um exame acurado da história revela se uma crença foi ou não originada por Jesus e pelos apóstolos ou se apareceu em algum outro lugar no tempo. O fato é que, apesar dos esforços protestantes, os registros históricos são silenciosos quanto à doutrina da Sola Scriptura antes do 14º século.

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PRODUZ MAUS FRUTOS, COMO DIVISÕES E DISPUTAS

Se esta doutrina fosse correta e santa, então todos os protestantes deveriam concordar em todos os pontos doutrinários, pois a Bíblia não pode ensinar doutrinas contraditórias simultaneamente. Mas a realidade é que existem milhares [35] de seitas protestantes, cada uma proclamando ser a Bíblia sua única regra de fé, cada uma garantindo que está pregando a verdade do Evangelho, embora muitas preguem assuntos totalmente diferentes umas das outras. Os protestantes, mestres da fuga, dizem que tais doutrinas discordantes não são essenciais, são secundárias, porém é realidade também que em assuntos, então, centrais, mesmo estes, os protestantes discordam. A salvação do homem, os sacramentos e a justificação são somente alguns exemplos.

Exemplificando: algumas seitas pregam que Jesus está simbolicamente presente na Eucaristia. Outros, como os luteranos, crêem o contrário, que Jesus está realmente presente na Eucaristia. Algumas denominações pregam que uma vez salvo, o crente não poderá jamais perder a sua salvação, não importa se faça o bem ou o mal. Outros pregam que o pecado pode causar a condenação do homem, mesmo após justificado. Algumas seitas afirmam que o ser justificado é apenas declarado justo, enquanto outras afirmam que o ser justificado é tornado justo.

Jesus jamais quis que seus discípulos estivessem divididos, desunidos, mergulhados num caos doutrinário como está o protestantismo desde a sua origem [36]. Jesus, pelo contrário, pediu a união de seus seguidores: para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que também eles estejam em nós (Jo 17,21). E São Paulo exorta aos cristãos a unidade doutrinária com estas palavras: um só corpo e um só Espírito...um só Senhor, uma só fé, um só batismo (Ef 4,4-5). Como, então, as milhares de seitas protestantes podem ser denominadas de "Igrejas verdadeiras" quando as suas simples existências já refutam tal presunção? Como doutrinas tão heterodoxas e contraditórias podem servir de instrumento divino de união, desejada por Jesus? Sobre isto, o leitor deve lembrar das palavras de Jesus: pela árvore se conhece os frutos (Mt 12,33). Por este versículo, vemos que a árvore da história do protestantismo e da Sola Scriptura está recheada de maus frutos.

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NÃO PERMITE A INTERPRETAÇÃO DEFINITIVA DA BÍBLIA

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A doutrina da Sola Scriptura não permite a interpretação definitiva de nenhuma passagem bíblica

Como temos visto, a Sola Scriptura supõe que basta uma Bíblia como regra de fé para se obter a verdadeira interpretação de qualquer passagem bíblica simplesmente comparando este verso com o restante da Bíblia. Na prática, contudo, o remendo saiu pior que a fratura, pois acaba por impedir que o crente possa chegar a uma certa e definitiva interpretação de qualquer passagem bíblica.

O protestante, na verdade, interpreta a Bíblia mais a partir de uma opinião subjetiva que de uma verdade objetiva. Por exemplo, digamos que o protestante A estudou a determinada passagem bíblica e chegou à conclusão X. O protestante B estudou a mesma passagem, mas concluiu Y. Então, o protestante C estudou a mesma passagem dos outros dois, mas chegou a uma interpretação Z [37]. As interpretações X, Y e Z são contraditórias, entretanto cada um acha que chegou à verdadeira interpretação bíblica porque cada um estudou e comparou a Bíblia pela Bíblia.

Existem, agora, somente duas saídas para estes três protestantes: 1) todos estão errados; 2) somente um está correto. Três interpretações contraditórias jamais podem estar simultaneamente corretas [38]. O problema aqui é que, sem haver uma autoridade infalível que diga qual das três interpretações é a verdadeira (objetivamente verdadeira), não há meios para se saber qual das três é a correta seguramente. Cada protestante está, portanto, em meio a uma interpretação pessoal baseada meramente em opinião pessoal. Estudos e mais estudos são vãos. Cada protestante torna-se, com isso, sua própria autoridade final, ou seja, seu próprio Papa.

Na prática o próprio protestantismo nos mostra que este raciocínio é verdadeiro. Pelo fato de somente a Bíblia não ser suficiente como regra de fé (se fosse, todos os protestantes concordariam em interpretação), cada denominação têm que se render e aderir fixamente às suas próprias interpretações bíblicas. Logo, se existem várias possíveis interpretações da Bíblia, nenhuma é de fato definitiva. E se não há interpretação definitiva da Bíblia o protestante não têm como saber se sua interpretação é verdadeira ou falsa.

Uma boa comparação seria com a lei moral. Se cada um pudesse determinar por sua própria opinião o que é certo e errado, não restaria nada mais que um relativismo moral, e cada uma fixaria seus próprio padrões morais. Entretanto, Deus definiu leis morais absolutas para nós (em adição às que conhecemos pelas leis naturais), e por isso podemos analisar cada ato e reconhecer se é moralmente bom ou mal. O mundo seria impraticável sem moral absoluta.

Cada denominação protestante afirma, lógico, que possui a verdadeira interpretação bíblica. Todas fazem isso. Se não fizessem, perderiam membros. Entretanto, se afirmam que possuem a verdadeira interpretação bíblica, em detrimento às demais, então está se auto-proclamando autoridade final. O problema aqui, se os leitores ainda não notaram, é que este detalhe viola o princípio da Sola Scriptura, que rejeita qualquer autoridade final que não seja a própria Bíblia. Cheque-mate.

Por outro lado, se uma denominação reconhece que sua interpretação bíblica não é mais correta que a de outra, então voltamos ao eterno dilema: qual interpretação está correta? existe alguma, então, que está correta? e se todas são

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falsas?. Nosso Senhor disse: Eu sou o caminho, a verdade e a vida (Jo 14,6). O problema aqui é que cada denominação, na prática, afirma possuir a única interpretação correta. Conclusão, milhares de interpretações corretas diferentes, que resultam em uma total impossibilidade de se conhecer a real e definitiva interpretação a uma passagem bíblica qualquer. Em outras palavras, nenhum seita protestante pode dizer a autoridade está aqui em relação a uma interpretação bíblica.

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FALTAM SETE LIVROS NA BÍBLIA PROTESTANTE

Para sua decepção, os protestantes são culpados de violar sua própria doutrina. A Sola Scriptura proíbe que algo seja acrescentado ou subtraído das Escrituras, porém os protestantes retiraram sete livros das Escrituras do Antigo Testamento, assim como porões de outros dois. Estes são erroneamente chamados de Apócrifos (não-autênticos) pelos protestantes, e de deuterocanônicos (segundo cânon) pelos católicos: Tobias, Judite, 1 e 2 Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, partes de Daniel e Ester.

Defendendo seu cânon incompleto, os protestantes apresentam alguns argumentos, tais como: 1) O cânon menor, chamado cânon farisaico ou palestinense do Antigo Testamento, foi aceito por Jesus e seus apóstolos, pois eles nunca citaram nenhuma fonte dos livros deuterocanônicos; 2) O Antigo Testamento foi fechado no tempo de Jesus, e este era composto pelo cânon menor; 3) Os próprios judeus aceitaram o cânon menor no sínodo de Jâmnia (ou Javneh) em 90 d.C.; 4) Os livros deuterocanônicos contém doutrinas anti-bíblicas.

Vejamos cada um destes argumentos:

1) Sobre este, que Jesus e seus apóstolos aceitaram o cânon menor, um exame das citações neotestamentárias do Antigo Testamento demonstrará a falácia. O Novo Testamento cita o Antigo cerca de 350 vezes, e em aproximadamente 300 destas (86%!) foram retiradas da septuaginta, a tradução grega do Antigo Testamento, largamente usada no tempo de Cristo. Esta versão, a septuaginta, continha os deuterocanônicos. Não há razão para dizer que Jesus e os seus discípulos aceitaram o cânon menor, quando na maioria das vezes utilizaram fontes do Antigo Testamento que continham os deuterocanônicos.

Tomemos o exemplo de Paulo, cujas cartas missionárias eram dirigidas a regiões fora da palestina. Deve-se notar, por exemplo, que seu sermão em Antioquia na Pisídia presumiu um conhecimento, entre seus ouvintes, da Septuaginta e uma vez que a comunidade fora formada, o conteúdo de suas cartas a estas era baseado na Septuaginta [40] Obviamente, Paulo assim não rejeitava, mas se utilizava do cânon maior, com os livros deuterocanônicos.

Além do mais, é errado dizer que estes livros não foram citados no Novo Testamento [41] e que tal citação deve ser pré-requisito para a canonicidade de um livro bíblico. Algumas fontes dizem que os deuterocanônicos são citados no Novo Testamento, no mínimo, 150 vezes [42]. Acrescido a isto, livros do cânon menor, como Eclesiastes, Abdias e Ester não são citados por Jesus ou seus apóstolos, e nem por isso os protestantes retiraram-nos do seu cânon. Obviamente este argumento não serve para determinar a canonicidade de um livro.

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2) A evidência histórica mostrará que o argumento protestante de que o cânon do Antigo Testamento foi fechado no tempo de Jesus é falso. Primeiro que não havia nenhum cânon palestino oficial, pois existia neste tempo três cânons em circulação [43], além da Septuaginta. Segundo, as evidências mostram que o judaísmo durante os últimos dois séculos antes de Cristo e o primeiro século depois de Cristo não era uniforme em seu entendimento sobre quais livros deveriam ser considerados sagrados. Existiam muitas opiniões dentro e fora de Israel sobre esta questão [44].

3) Usar o sínodo de Jâmnia para justificar o cânon menor é problemático por algumas razões: a) tal decisão, tomada cerca de 50 anos após a morte de Cristo, não tem relação alguma com o cânon dos livros cristãos, pois os rituais veterotestamentários (como não comer carne de porco) não têm relação com o cristianismo; b) é questionável se de fato este sínodo possuiu uma visão definitiva e autoritária sobre o cânon do Antigo Testamento das Escrituras, pois a lista continuou a variar dentro judaísmo até o século 4 d.C. [45]; c) o sínodo foi, de certo modo, formado devido a polêmica contra a seita dos cristãos, portanto em total oposição ao cristianismo. Estes judeus aceitaram o cânon menor porque os cristãos aceitavam o cânon maior da Septuaginta; d) as decisões deste sínodo representaram a decisão de apenas um ramo do judaísmo farisaico, o da palestina, e não do judaísmo como um todo.

4) Por fim, para os protestantes afirmarem que os deuterocanônicos possuem doutrinas anti-bíblicas é decididamente um caso de insegurança dogmática. Esta conclusão foi tomada porque os reformadores, claramente em antagonismo com a Igreja Católica, tomavam a Bíblia a priori como um livro de doutrinas protestantes. Descartaram os deuterocanônicos porque continham doutrinas católicas, como 2 Mac 12,42-46, que claramente baseia a oração pelas almas do purgatório: santo foi e piedoso o seu pensamento, e foi essa a razão por que mandou que se celebrasse pelos mortos um sacrifício expiatório, para que fossem absolvidos de seus pecados. Lutero, claramente, quis retirar também do Novo Testamento livros como Apocalipse, Hebreus e Tiago, este merecendo o nome de epístola de palha, onde nada de evangélico é encontrado [46], isso devido, sem dúvidas, o fato de que Tiago afirmava que somos salvos pela fé e pelas boas obras (Tg 2,14-26), refutando a doutrina recém-criada por Lutero de que somos salvos somente pela fé, sem participação das obras. Lutero foi convencido por seus correligionários a não retirar mais este livro da Bíblia.

Além deste fato acima, existe o testemunho histórico da continuidade do cânon bíblico. enquanto vimos que existiam disputas em relação ao cânon bíblico, duas considerações são evidentemente verdadeiras: a) com certeza os deuterocanônicos eram usados pelos cristãos do primeiro século, a começar por Jesus e seus apóstolos; b) desde que foi definido o cânon no século 4, não vemos mudança alguma em relação ao conteúdo da Bíblia. Na prática, a única disputa que surgiu após este evento veio com a reforma protestante, somente no século 16, que decidiram que poderiam simplesmente lançar no lixo a continuidade de 11 séculos do cânon bíblico em sua existência formal, e 15 séculos de existência prática.

O fato de que qualquer pessoa possa vir e simplesmente alterar a continuidade de um tema tão central como o conteúdo dos livros da Escritura deveria levar o cristão a pensar seriamente sobre um detalhe. Este cristão deveria se perguntar: com que autoridade esta pessoa pôde fazer esta alteração? Tanto a história como os próprios escritos de Lutero mostram que suas ações foram baseadas em nada mais que sua opinião pessoal. Certamente, tal "autoridade final" falha

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grosseiramente no que se requer para que alguma alteração canônica seja feita, especialmente quando se considera que o processo de identificar o cânon bíblico envolveu um processo guiado pelo Espírito Santo, levou séculos, e envolveu algumas das maiores mentes do cristianismo assim como alguns Concílios da Igreja. Mais interessante é o fato de que outros chamados reformadores - e desde então todos os protestantes - aceitaram a alteração do cânon de Lutero, mesmo que todos dissessem que eram fiéis à Bíblia e insistiam que nada deveria ser acrescentado ou retirado de suas páginas

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SE ORIGINOU DOS PROBLEMAS EMOCIONAIS DE LUTERO

Se algo deve ser dito com relação a Martinho Lutero é o fato de que ele era cronicamente assolado por uma combinação de dúvidas e inseguranças quanto a sua própria salvação e uma sensação de extrema impotência em face as tentações do pecado. Ele próprio escreveu: meu espírito está completamente partido e estou em eterno estado de melancolia; pois, faça o que fizer, minha retidão e minhas boas obras não me trazem ajuda ou consolação alguma [47].

À luz desta realidade, pode-se acessar o perfil emocional e psicológico do pensamento de Lutero e seu impacto na origem de sua Sola Scriptura. Uma pequena análise pode mostrar que esta doutrina nasceu da necessidade que Lutero tinha de se ver livre de seus sentimentos de culpa, insegurança e tentação que o "torturavam".

Considerando que o próprio Lutero admite uma tendência obsessiva ao pecado, assim como uma inabilidade de resistir a ele, fica claro que ele sofreu de "escrupulosidade", e todos os estudiosos luteranos admitem isso [48]. Escrupulosidade significa que uma pessoa fica extremamente ansiosa quanto a ter cometido um pecado quando na verdade não há razão para tal, e uma pessoa escrupulosa é aquela que geralmente supervaloriza seu pecado, com uma correspondente confiança em Deus. Também é relevante notar que a escrupulosidade parece ser baseada em alguma disfunção psicológica [49].

Em outras palavras, Lutero provavelmente nunca desfrutou de paz espiritual e psicológica, pois a voz de sua "consciência" sempre o alcançava sobre qualquer assunto, real ou imaginário. É natural que alguém tão atordoado busque refúgio nesta voz, e para Lutero este refúgio foi encontrado na doutrina da Sola Fide, ou a salvação somente pela fé.

Mas desde que resistir ao pecado e praticar boas obras são componentes essenciais para nossa salvação, e desde que estes fatos são satisfatoriamente componentes e defendidos pela Igreja Católica, Lutero se encontrou diametricamente oposto à doutrina da Igreja. Pelo fato de a Igreja ensinar a necessidade de algo que ele exatamente não podia fazer, tomou uma decisão drástica - uma que "resolveria" sua escrupulosidade: rejeitou a autoridade da Igreja, contida no seu Magistério cujo Papa é o chefe, e afirmou que era algo contrário à Bíblia. Em outras palavras, por dizer que a Sola Scriptura deveria ser a verdadeira doutrina cristã, Lutero repugnou a autoridade que o fazia reconhecer que sua própria espiritualidade era disfuncional.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por todas estas razões, então, é evidente que a doutrina protestante da Sola Scriptura é uma extremamente anti-bíblica, humana e errônea crença que deve ser desacreditada e rejeitada completamente. Todos os que são genuinamente cristãos e seguem as verdades que Jesus ensinou - mesmo que contradiga o seu sistema religioso atual - devem reconhecer a falha desta doutrina, falha esta óbvia pelas Escrituras, pela história e pela lógica.

A plenitude da verdade cristã, sem erro, é encontrada somente na Igreja Católica, a mesma Igreja que o próprio Cristo estabeleceu sobre a terra. De acordo com esta Igreja, a Sola Scriptura é uma distorção da autoridade cristã. Na realidade, a verdadeira e direta regra de fé do cristão é a Igreja, que por sua vez absorve o que ensina da Revelação Divina - a Tradição Escrita e a Tradição Oral, que juntas formam a regra indireta de fé.

A Escritura e a Tradição são as fontes inspiradas da doutrina cristã, enquanto que a Igreja - entidade histórica e visível em sucessão ininterrupta desde Pedro e os demais apóstolos - é a intérprete infalível da doutrina cristã. Somente aceitando completamente esta regra de fé que os seguidores de Cristo podem aderir a todas as coisas que Ele ordenou aos seus apóstolos ensinar (Mt 28,20). Somente aceitando completamente esta regra de fé o cristão pode conhecer a verdadeira doutrina pregada por Cristo, e nada além da verdade.

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REFERÊNCIAS

Nota: entre as referências estão citados alguns autores protestantes. Seus trabalhos não são obras recomendadas, porém mostram que os pontos apresentados neste trabalho são verdadeiros e válidos mesmo entre os protestantes.

1. A reforma protestante não foi uma reforma no sentido verdadeiro da palavra, mas sim uma revolução - uma alteração violenta da legítima religiosidade e ordem civil.

2. W.E. Vine [protestante], Vine's Expository Dictionary of New Testament Words (McLean, VA: McDonald Publishing House, n.d.), p. 387. Cf. St. Afonso de Liguóri, Exposição e defesa de todos os assuntos de fé discutidos e definidos pelo Santo Concílio de Trento; com a refutação dos erros dos pretensos reformadores, etc. (Dublin: James Duffy, 1846), p. 50.

3. Apesar de todos os livros do Novo Testamento já terem sido escritos enquanto João finalizava o Apocalipse, ainda não estavam organizados como Sagrada Escritura.

4. A palavra traduzida como ordenança é também traduzida como ensinamento ou tradição, por exemplo, a NIV traz ensinamento com uma nota dizendo: "ou tradição".

5. Vine, op. cit., p. 564 6. Um exemplo desta forma interpretativa envolve Ap 12. Os Padres da Igreja

entenderam a mulher vestida de sol como referência à Assunção da Virgem Maria. Alguém afirmar que esta doutrina não existia até 1950 (o ano em que

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o Papa Pio XII definiu-o como dogma de fé) corresponde a uma grande ignorância de história eclesial. Essencialmente, a crença surgiu desde o início, mas não fora formalmente definida até o século 20. Deve-se saber que a Igreja geralmente não costuma definir uma doutrina formalmente a não ser que esta seja questionada por correntes heréticas perigosas. Tais ocasiões requerem uma necessidade oficial de definir parâmetros sobre a doutrina em questão.

7. A Igreja Católica afirma que "o corpo dos bispos", os sucessores dos apóstolos, também goza de infalibilidade, quando, em união com o Papa, "exerce seu magistério supremo, sobretudo em um Concílio Ecumênico" (cf. CCE #891). "Ligar e desligar" é uma terminologia rabínica, e se refere à autoridade de seus ensinamentos e interpretações. Cristo claramente pretendeu, portanto, que seus apóstolos, sob a liderança de Simão Pedro (contudo somente Pedro recebeu o poder das chaves), possuíssem a autoridade para ensinar a correta interpretação.

8. A afirmação protestante de que a Bíblia interpreta a si mesma nada mais é do que uma futilidade. Afirmam que cada pessoa pode chegar a uma correta interpretação bíblica comparando seus versículos com outros da Bíblia. O problema com este argumento pode ser assim demonstrado: peça a dez pessoas para darem sua interpretação sobre um certo versículo bíblico, e é provável que encontre dez interpretações diferentes. Se a Bíblia pudesse interpretar a si mesma, sempre se chegaria à mesma conclusão, independente da época em que se estuda, mesmo pelas mais diferentes pessoas. E se tal diferença de interpretações pode ser verdadeira para apenas dez pessoas, imagine então o resultado quando se multiplica este número por milhares ou milhões? A história já demonstrou tal resultado, e seu nome é Protestantismo.

9. Existem alguns estudiosos que afirmam que 2 Pd foi o último livro escrito do Novo Testamento, datando do início do século dois. Pelo fato de não haver consenso entre os especialistas sobre a data acurada, é suficiente para nosso propósito aceitar a visão geral de que ao fim do século um todos os livros do Novo Testamento já haviam sido escritos.

10. Veja, por exemplo, Santo Irineu, Contra as Heresias 3,3; Tertuliano, Prescrição contra os hereges 32, Orígenes, Primeiros princípios, 1, prefácio.

11. Veja, por exemplo, Santo Inácio, Carta aos Esmirnenses 8-9; Carta aos Filadélfos, introdução e cap.1-4; Carta aos Magnésios, 7.

12. Veja, por exemplo, 1 Clemente 1,56,58,59; Santo Inácio, Carta aos Romanos, introdução e cap.3; Santo Irineu, Contra as Heresias 3,3; Tertuliano, Prescrição contra os hereges 22; Eusébio, História Eclesiástica 5,24,9.

13. Msr. Patrick F. O'Hare, LL.D, The Facts about Luther (Cincinnati: Pustet, 1916; Rockford, IL; TAN, 1987), pp. 215-255.

14. Walch, XIII, 2195, citado em The Facts about Luther, p. 15. 15. É relevante que os decretos de um Concílio Ecumênico não porta

autoridade a menos que seja ratificados pelo Papa. 16. Dois versículos favoritos dos arianos para respaldar sua crença são Pv

8,22 e Jo 14,28.

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17. John Henry Newman, Os arianos do quarto século. 18. Henry G. Graham, Where we got the Bible: our debt to the Catholic

Church (St Louis: B. Herder, 1911; Rockford, IL: TAN, 1977, 17th edição), pp. 34-35.

19. É a mesma lista dada pela declaração final, explícita e infalível da Igreja sobre quais os livros a serem incluídos na Bíblia, feita pelo Concílio de Trento, na sessão IV, em 1546. Listas iniciais dos livros canônicos eram as listas do "Decreto Gelasiano", dado pela autoridade do Papa Dâmaso em 382, e o cânon do Papa Inocêncio I, enviada a um bispo franco em 405. Nenhum dos dois documentos pretendia compor uma afirmação infalível a toda a Igreja, mas ambos incluíam os mesmos 73 livros da lista de Trento 11 séculos antes. (The Catholic Encyclopedia [New York: The Encyclopedia Press, 1913], vol. 3, p. 272).

20. O leitor deve notar que a Igreja Católica não afirma que a identificação dos livros da Bíblia não os tornaram canônicos. Deus é quem é o autor da canonicidade. A Igreja Católica afirma, isto sim, que somente ela detém a autoridade e responsabilidade por identificar infalivelmente quais são os livros canonizados por Deus que devem compor a Bíblia cristã.

21. Commentary on John, cap. 16, como citado em Paul Stenhouse, Catholic Ansewrs to "Bible" Christians (Kensington: Chevalier Press, 1993), p. 31.

22. Graham, op. cit, p. 31. 23. Nem as primeiras cópias da Bíblia, o Codex Vaticanus e o Codex

Sinaiticus, ambos datados do quarto século d.C., nem qualquer outra cópia contém a Bíblia inteira, pois partes dos manuscritos foram perdidos ou destruídos. A grande maioria dos manuscritos que existem atualmente são apenas fragmentos da Bíblia.

24. A ironia é que foi pelos esforços incansáveis e laboriosos dos monges católicos em suas clausuras que a Palavra de Deus escrita sobreviveu através dos séculos. A acusação de que os católicos fizeram de tudo para suprimir a Bíblia é uma das mais perniciosas falsidades, e é facilmente refutada pelo atento exame nas pesquisas da história da Igreja. Muito pelo contrário, a Igreja Católica, cuja única função é ser a guardiã do Depósito da Fé, protegeu a Bíblia das traduções falsas e espúrias, e foram estas versões que foram destruídas ou queimadas para evitar que falsos evangelhos circulasse.

25. Raymond F. Collins, Introduction to the New Testament (Garden City, NY: Doubleday & Company, Inc., 1983), p. 77.

26. Ibid., pp. 100-102. 27. Bruce M. Matzger [protestante], The Text of the New Testament: its

transmission, corruption and restoration (Oxford University Press, 1992), pp. 221-225, 234-242.

28. Os protestantes argumentam que mesmo com as variações nos manuscritos bíblicos, nenhum aborda as doutrinas principais. Mesmo que fosse verdadeira esta afirmação, não altera o fato de que os protestantes estão verdadeiramente admitindo, ao menos indiretamente, que aceitam

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algumas doutrinas que são diferentes da Bíblia "real". E se isto é verdadeiro, então o próprio protestante começa a desmerecer a Sola Scriptura.

29. Metzger, op. cit., pp. 226-228. 30. Collins, op. cit., p. 102. 31. Metzger, op. cit., p. 234. 32. Entre os vários exemplos que poderiam ser citados, por motivos de

espaço, vamos considerar somente algumas ilustrações sobre este assunto. Em Jo 1,1, a NWT traz, "...e a Palavra era um deus" e não "e a Palavra era Deus", isto porque os Testemunhas rejeitam a divindade de Cristo. Em Cl 1,15-20, a NWT acrescenta a palavra outro no texto quatro vezes porque crêem que Jesus era uma criatura. Em Mt 26,26 a NWT traz, "...isto significa meu corpo..." e não "...isto é o meu corpo", porque os Testemunhas negam a Real Presença de Jesus na Eucaristia.

33. Além do mais, a versão latina Vulgata recebeu uma aprovação particular pelo Concílio de Trento entre todas as demais versões latinas existentes na época. O Concílio declarou: ...esse mesmo sacrossanto Concílio determina e declara: que nas preleções públicas, nas discussões, pregações e exposições seja tida por legítima a antiga edição da Vulgata, que pelo longo uso de tantos séculos se comprovou na Igreja; e que ninguém, sob qualquer pretexto, se atreva ou presuma rejeitá-la. (Sessão IV [8-4-1546], A edição da Vulgata da Bíblia e o modo de interpretação, 785). Desde então, como afirmou o Papa Pio XII na Carta Encíclica Divino Afflante Spiritu ("Sobre a promoção dos estudos bíblicos"), a Vulgata, "quando interpretada no sentido que a Igreja sempre entendeu" é " livre de erro em matéria de fé e moral". Em 1970 o Papa Pio IX (1903-1914) iniciou a revisão da Vulgata para uma maior acurácia textual. Após sua morte, este enorme projeto está sendo continuado por outros. Em 1979 João Paulo II promulgou a "Nova Vulgata" como Editio typica ou "edição normativa".

34. Notemos que o inventor da imprensa - Johannes Gutenberg - era católico, e que o primeiro livro impresso foi a Bíblia (circa 1455). Também deve ser notado que esta primeira Bíblia continha os 73 livros que até hoje compõem a Bíblia católica. Portanto, os protestantes retiraram os 7 livros da Bíblia quando esta já existia em formato impresso.

35. Alguns estimam que existam cerca de 25 mil denominações protestantes diferentes. Contando-se a partir de 500 anos de história protestante, desde Lutero (1517), este número significa uma média de uma nova denominação protestante nova por dia! Sabemos, contudo, que estes dados são desatualizados, e existem muito mais de 25 mil denominações/seitas protestantes diferentes.

36. Mesmo os primeiros reformadores - Martinho Lutero, João Calvino e Ulrich Zwingli - não concordavam em assuntos doutrinários e classificaram as doutrinas uns dos outros como heréticas.

37. Três aqui é usado apenas como ilustração. A quantidade histórica (isto é, o número das variações nas interpretações de várias passagens) é imensamente maior.

38. Não é negado que uma passagem da Escritura possa ter diferentes níveis de interpretação ou que possa ter diferentes níveis de significado em termos de sua aplicação na vida do cristão. O que é negado aqui, contudo, é

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o fato de uma passagem possuir mais de um significado doutrinário ou teológico oposto a outro. Por exemplo, se duas pessoas afirmam, respectivamente, "X" e "não-X" para uma determinada interpretação, ambos não podem estar corretos. Tome a doutrina da Real Presença na Eucaristia. Se o primeiro afirma que Jesus está presente no pão e no vinho, mas a segunda pessoa afirma que Cristo não está presente no pão e no vinho, é impossível que ambas as doutrinas estejam corretas ao mesmo tempo.

39. O cânon farisaico, usado pelos judeus da Palestina, não continha os livros deuterocanônicos. O cânon alexandrino ou Septuaginta, usado largamente pelos judeus da diáspora (regiões helenísticas fora da Palestina), continha os livros deuterocanônicos.

40. W.H.C. Frend [protestante], The Rise of the Christianity (Philadelphia, PA: Fortress Press, 1984), pp. 99-100.

41. Para alguns exemplos, compare as seguintes passagens: Mt 6,14-15 e Eclo 28,2; Mt 6,7 e Eclo 7,15; Mt 7,12 e Tb 4,15-16; Lc 12,18-20 e Eclo 11,19; At 10,34 e Eclo 35,15; At 10,26 e Sb 7,1; Mt 8,11 e Br 4,37.

42. Lee Martin McDonald [protestante], The Formation of the Biblical Canon, Apêndice A (Nashville, TN: The Parthenon Press, 1988) (Lista entitulada "New Testament citations and allusions to apocryphal and pseudoeptgraphal writtings", adaptado de The Text of the New Testament, de Kurt Aland e Barbara Aland, dois famosos biblistas).

43. Incluem a) o cânon de Qumram, conhecido pelos Manuscritos do Mar Morto; b) o cânon farisaico e c) o cânon saduceu/samaritano, que inclui somente o Torah (os primeiros livros do Antigo Testamento).

44. McDonald, op. cit., p. 53. 45. Ibid, p. 60. 46. Hartmann Grisar, SJ, Marthin Luther: His life and work (B. Herder, 1930:

Westminster, MD: The Newman Press, 1961), p. 426. 47. Jansen, Vol III, p. 84, como citado em O'Hare, op. cit., p. 51. 48. Cf. Fr William Most, "Somos salvos somente pela fé?" fita cassete da

Catholic Answers, PO Box 174900, San Diego, CA 92177. 49. Fr. Peter Stravinskas, ed., Catholic Encyclopedia (Huntington, Indiana:

Our Sunday Visitor, Inc. 1991), p. 873.)

27 livros perdidos citados pela Bíblia

No Antigo Testamento:

1. Livro das Guerras de Javé: "Por isso se diz no Livro das Guerras de Javé: 'Assim como fez no Mar Vermelho, assim fará nas torrentes do Arnon. Os rochedos das torrentes se inclinaram, para descansar em Ar, e repousarem sobre os confins dos moabitas" (Num. 21,14-15) .

2. Livro do Justo: "Foi então que Josué falou ao Senhor, no dia em que o Senhor entregou os amorreus aos filhos de Israel. Disse Josué na presença de Israel: 'Sol, detém-te em Gabaão, e tu, lua, no vale de Ajalão!' E o sol e a lua pararam até que o povo se vingou de seus inimigos. Não está isto escrito no

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Livro do Justo? Parou pois o sol no meio do céu, e não se apressou a pôr-se durante o espaço de um dia" (Jos. 10,12-13).

"E (Davi) ordenou que ensinassem aos filhos de Judá o (cântico chamado do) arco, conforme está escrito no Livro do Justo. E disse: 'Considera, ó Israel, os que morreram sobre os teus altos, cobertos de feridas'" (2Sam. 1,18).

3. Provérbios e Cânticos de Salomão: "Proferiu ele (Salomão) três mil provérbios, e foram os seus cânticos mil e cinco. Discorreu acerca das plantas, desde o cedro que está no Líbano até o hissopo que brota da parede. Também falou dos animais e das aves, e dos répteis, e dos peixes" (1Rs. 4,32-33).

4. Livro dos Atos de Salomão: "Quanto aos demais atos de Salomão, e a tudo quanto fez, e à sua sabedoria, porventura não está escrito no Livro dos Atos de Salomão?" (1Rs. 11,41).

5. Livro das Crônicas dos Reis de Israel: "Quanto ao restante dos atos de Jeroboão, como guerreou e como reinou, está escrito no Livro das Crônicas dos Reis de Israel" (1Rs. 14,19).

6. Livro das Crônicas dos Reis de Judá: "Quanto ao restante dos atos de Roboão, e a tudo quanto fez, porventura não está escrito no Livro das Crônicas dos Reis de Judá?" (1Rs. 14,29).

7. Livro do Profeta Natã: "Os atos do rei Davi, tanto os primeiros quanto os últimos, estão escritos no livro de Samuel, o vidente, no Livro de Natã, o profeta, e no Livro de Gade, o vidente" (1Cr. 29,29). "Quanto ao resto dos atos de Salomão, dos primeiros aos últimos, porventura não estão escritos no livro da história de Natã, o profeta, e nos livros de Aías, o silonita, e nas visões de Ado, o vidente, acerca de Jeroboão, filho de Nebate?" (2Cr. 9,29).

8. Livro de Samuel, o Vidente: "Os atos do rei Davi, tanto os primeiros quanto os últimos, estão escritos no livro de Samuel, o vidente, no Livro de Natã, o profeta, e no Livro de Gade, o vidente" (1Cr. 29,29).

9. Livro de Aías, o Silonita: "Quanto ao resto dos atos de Salomão, dos primeiros aos últimos, porventura não estão escritos no livro da história de Natã, o profeta, e nos livros de Aías, o silonita, e nas visões de Ado, o vidente, acerca de Jeroboão, filho de Nebate?" (2Cr. 9,29).

10. Livro de Ado, o Vidente: "Quanto ao resto dos atos de Salomão, dos primeiros aos últimos, porventura não estão escritos no livro da história de Natã, o profeta, e nos livros de Aías, o silonita, e nas visões de Ado, o vidente, acerca de Jeroboão, filho de Nebate?" (2Cr. 9,29).

"Quanto ao resto dos atos de Roboão, dos primeiros aos últimos, está escrito nos livros de Semaias, o profeta, e de Ado, o vidente, e diligentemente registrado: 'houve guerra entre Roboão e Jeroboão durante todos os seus dias'" (2Cr. 12,15).

"Quanto ao resto dos atos de Abias, seu caráter e obras, está diligentemente escrito no Livro de Ado, o profeta" (2Cr. 13,22).

11. Livros de Semaias, o profeta: "Quanto ao resto dos atos de Roboão, dos primeiros aos últimos, está escrito nos livros de Semaias, o profeta, e de Ado, o vidente, e diligentemente registrado: 'houve guerra entre Roboão e Jeroboão durante todos os seus dias'" (2Cr. 12,15).

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12. Livro dos Reis de Judá e Israel: "Mas os feitos de Asa, dos primeiros aos últimos, estão escritos no Livro dos Reis de Judá e Israel" (2Cr. 16,11).

13. Livro dos Reis de Israel e Judá: "Quanto ao resto dos atos de Joatão, e todas as suas guerras e obras, estão escritos no Livro dos Reis de Israel e Judá" (2Cr. 27,7).

14. Livro dos Reis: "O relato dos seus filhos, as muitas sentenças proferidas contra ele e o registro da restauração da casa de Deus, estão escritos diligentemente no Livro dos Reis. E Amasias, seu filho, reinou em seu lugar" (2Cr. 24,27).

15. Anais dos Reis de Israel: "Mas o resto dos atos de Manassés, sua oração ao seu Deus e as palavras dos videntes que falaram-lhe em nome do Senhor Deus de Israel, estão contidas nos Anais dos Reis de Israel" (2Cr. 33,18).

16. Comentários de Jeú, filho de Hanani: "Mas o resto dos atos de Josafá, dos primeiros aos últimos, estão escritos nos comentários de Jeú, filho de Hanani, que observou nos Livros dos Reis de Israel" (2Cr. 20,34).

17. A História de Osias, por Isaías, filho de Amós, o profeta: "Mas o resto dos atos de Ozias, dos primeiros aos últimos, foi escrito por Isaías, filho de Amós, o profeta" (2Cr. 26,22).

18. Palavras de Hozai: "A oração que ele (Manassés) fez, como foi ouvido, todos os seus pecados e o desprezo (de Deus), os lugares também em que mandou edificar altos, em que mandou plantar bosques, e colocar estátuas, antes de fazer penitência, encontra-se tudo escrito no Livro de Hozai" (2Cr. 33,19).

19. Livros dos Medos e dos Persas: "Ora, o rei Assuero tinha imposto tributo a toda terra e todas ilhas do mar. Nos Livros dos Medos e dos Persas se acha escrito qual foi o seu podere o seu domínio, a dignidade e a grandeza a que ele exaltou Mardoqueu" (Est. 10,1-2).

20. Anais do Pontificado de João: "O resto dos atos de João, das suas guerras, das empresas que valorosamente se portou, da reedificação dos muros que construiu e de todas as suas ações, tudo está escrito no Livro dos Anais do seu pontificado, começando desde o tempo em que foi constituído sumo-pontífice em lugar de seu pai" (1Mac. 16,23-24).

21. Descrições de Jeremias, o profeta: "Nos documentos referentes ao profeta Jeremias, lê-se que ele ordenou aos que eram levados para o cativeiro que tomassem o fogo, como já foi referido, e que lhe faz recomendações (...) Lia-se também nos mesmos escritos, que este profeta, por uma ordem particular recebida de Deus, mandou que se levassem com ele o tabernáculo e a arca, quando escalou o monte a que Moisés tinha subido para ver a herança de Deus. Tendo ali chegado, Jeremias achou uma caverna; pôs nela o tabernáculo, a arca e o altar dos perfumes, e tapou a entrada. Alguns dos que o seguiam voltaram de novo para marcar o caminho com sinais, mas não puderam encontrá-lo" (2Mac. 2,1.4-6).

22. Memórias e Comentários de Neemias: "Estas mesmas coisas se achavam nos comentários e memórias de Neemias, onde se lia que ele formou uma biblioteca, recolhendo os livros referentes aos reis e profetas, os de Davi e as cartas dos reis respeitantes às oferendas" (2Mac. 2,13).

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23. Os Cinco Livros de Jasão de Cirene: "A história de Judas Macabeu e seus irmãos, a purificação do grande templo e a dedicação do altar, as guerras contra Antíoco Epífanes e seu filho Êupator, as manifestações do céu a favor dos que pelejaram pelo judaísmo com valentia e zelo, os quais, sendo poucos, se tornaram senhores de todo o país e puseram em fuga um grande número de bárbaros, recobraram o templo famoso em todo o mundo, livraram a cidade da escravidão, restabeleceram as leis que iam ser abolidas, graças ao Senhor que lhes foi propício com evidentes provas da sua bondade, tudo isto, que Jasão de Cirene escreveu em cinco livros, procuramos nós resumir num só volume".

No Novo Testamento:

1. A Epístola Prévia de Paulo aos Coríntios: "Por carta vos escrevi que não tivésseis comunicação com os fornicadores; não certamente com os fornicadores deste mundo, ou com os avarentos, ou ladrões, ou com os idólatras; doutra sorte deveríeis sair deste mundo." (1Cor. 5,9-10).

2. Epístola de Paulo aos Laodicenses: "Saudai os irmãos que estão em Laodicéia, e Ninfas e a igreja que se reúne em sua casa. Lida que for esta carta entre vós, fazei que seja lida também na Igreja dos Laodicenses; e vós, lede a dos laodicenses" (Col. 4,15-16).

3. A Profecia de Enoque: "Também Enoque, o sétimo patriarca depois de Adão, profetizou destes, dizendo: 'Eis que vem o Senhor, entre milhares dos seus santos, a fazer juízo contra todos, e a argüir todos os ímpios de todas as obras da sua impiedade, que impiamente fizeram, e de todas as palavras injuriosas, que os pecadores ímpios têm proferido contra Deus'" (Jd. 1,14-15).

4. A Disputa pelo Corpo de Moisés: "Quando o arcanjo Miguel, disputando com o demônio, altercava sobre o corpo de Moisés, não se atreveu a proferir contra ele a sentença da maldição, mas disse somente: 'Reprima-te o Senhor'" (Jd. 1,9)].

A tarefa do exegeta católico

A tarefa dos exegetas católicos comporta vários aspectos. É uma tarefa de Igreja, pois ela consiste em estudar e explicar a Sagrada Escritura, de maneira a colocar todas as riquezas à disposição dos pastores e dos fiéis. Mas é ao mesmo tempo uma tarefa científica que coloca o exegeta católico em relação com seus colegas não-católicos e com vários setores da pesquisa científica. De outro lado, esta tarefa compreende ao mesmo tempo o trabalho de pesquisa e o de ensino. Tanto um como outro concluem-se normalmente em publicações.

1. ORIENTAÇÕES PRINCIPAIS

Aplicando-se às suas tarefas, os exegetas católicos devem levar em séria consideração o caráter histórico da revelação bíblica. Pois os dois Testamentos exprimem em palavras humanas, que levam a marca do tempo delas, a revelação histórica que Deus fez, por diversos meios, dele mesmo e de seu plano de salvação. Conseqüentemente, os exegetas devem se servir do método histórico-

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crítico. Eles não podem, no entanto, atribuir-lhe a exclusividade. Todos os métodos pertinentes de interpretação dos textos são habilitados a dar sua contribuição à exegese da Bíblia.

No trabalho de interpretação que fazem, os exegetas católicos não devem nunca esquecer que o que eles interpretam é a Palavra de Deus. A tarefa comum que têm não está terminada após terem distinguido as fontes, definido as formas ou explicado os procedimentos literários. A finalidade do trabalho deles só é atingida quando tiverem esclarecido o sentido do texto bíblico como palavra atual de Deus. A esse efeito devem levar em consideração as diversas perspectivas hermenêuticas que ajudam a perceber a atualidade da mensagem bíblica e lhes permitem responder às necessidades dos leitores modernos das Escrituras.

Os exegetas têm também de explicar o alcance cristológico, canônico e eclesial dos escritos bíblicos.

O alcance cristológico dos textos bíblicos não é sempre evidente; deve ser posto em evidência cada vez que seja possível. Se bem que o Cristo tenha estabelecido a Nova Aliança em seu sangue, os livros da Primeira Aliança não perderam seu valor. Assumidos na proclamação do Evangelho, adquirem e manifestam seu pleno significado no "mistério do Cristo" Ef 3,4), do qual eles iluminam os múltiplos aspectos ao mesmo tempo que são iluminados por ele. Esses livros, efetivamente, preparavam o povo de Deus para sua vinda (cf. Dei Verbum, 14-16).

Se bem que cada livro da Bíblia tenha sido escrito com uma finalidade distinta e que tenha o seu significado específico, ele se manifesta portador de um sentido ulterior quando se torna uma parte do conjunto canônico. A tarefa dos exegetas inclui, então, a explicação da afirmação agostiniana: "Novum Testamentum in Vetere latet, et in Novo Vestus patet" (cf. S. Agostinho, Quaest in Hept., 2, 73: CSEL 28, III, 3, p. 141).

Os exegetas devem explicar também a relação que existe entre a Bíblia e a Igreja. A Bíblia veio à luz em comunidades de fiéis. Ela exprime a fé de Israel e a das comunidades cristãs primitivas. Unida à Tradição viva que a precedeu, a acompanha e da qual se alimenta (cf. Dei Verbum, 21), ela é o meio privilegiado do qual Deus se serve para guiar, ainda hoje, a construção e o crescimento da Igreja enquanto Povo de Deus. Inseparável da dimensão eclesial está a abertura ecumênica.

Pelo fato de que a Bíblia exprime uma oferta de salvação apresentada por Deus a todos os homens, a tarefa dos exegetas comporta uma dimensão universal, que requer uma atenção às outras religiões e aos anseios do mundo atual.

2. PESQUISA

A tarefa exegética é vasta demais para poder ser bem conduzida por um único indivíduo. Impõe-se uma divisão de trabalho, especialmente para a pesquisa, que requer especialistas em diferentes domínios. Os inconvenientes possíveis da

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especialização serão evitados graças a esforços interdisciplinares.

É muito importante para o bem da Igreja inteira e para sua irradiação no mundo moderno que um número suficiente de pessoas bem formadas consagrem-se à pesquisa em diferentes setores da ciência exegética. Preocupados com as necessidades mais imediatas do ministério, os bispos e os superiores religiosos são muitas vezes tentados a não levar suficientemente a sério a responsabilidade que lhes incumbe de prover a esta necessidade fundamental. Mas uma carência neste ponto expõe a Igreja a graves inconvenientes, pois pastores e fiéis arriscam-se a ficar à mercê de uma ciência exegética estranha à Igreja e privada de relações com a vida da fé. Declarando que "o estudo da Sagrada Escritura" deve ser "como a alma da teologia" (Dei Verbum 24), o II Concílio do Vaticano mostrou toda a importância da pesquisa exegética. Ao mesmo tempo também lembrou implicitamente aos exegetas católicos que suas pesquisas têm uma relação essencial com a teologia, da qual eles devem se mostrar conscientes.

3. ENSINAMENTO

A declaração do Concílio faz igualmente compreender o papel fundamental que é dado ao ensinamento da exegese nas Faculdades de Teologia, Seminários e Escolasticados. É evidente que o nível dos estudos não será uniforme nestes diferentes casos. É desejável que o ensinamento da exegese seja dado por homens e por mulheres. Mais técnico nas Faculdades, esse ensinamento terá uma orientação mais diretamente pastoral nos Seminários. Mas ele não poderá nunca esquecer uma dimensão intelectual séria. Proceder de outra maneira seria falta de respeito com a Palavra de Deus.

Os professores de exegese devem comunicar aos estudantes uma profunda estima pela Sagrada Escritura, mostrando o quanto ela merece um estudo atento e objetivo que permita apreciar melhor seu valor literário, histórico, social e teológico. Eles não podem se contentar em transmitir uma série de conhecimentos a ser registrados passivamente, mas devem dar iniciação aos métodos exegéticos, explicando suas principais operações para tornar os estudantes capazes de julgamento pessoal. Visto o tempo limitado de que se dispõe, convém utilizar alternativamente duas maneiras de ensinar: de um lado, por meio de exposições sintéticas, que introduzem o estudo de livros bíblicos inteiros e não deixam de lado nenhum setor importante do Antigo Testamento nem do Novo; de outro lado, por meio de análises aprofundadas de alguns textos bem escolhidos, que sejam ao mesmo tempo uma iniciação à prática da exegese. Tanto em um como em outro caso é preciso cuidar para não ser unilateral, isto é, não se limitar nem a um comentário espiritual desprovido de base histórico-crítica nem a um comentário histórico-crítico desprovido de conteúdo doutrinal e espiritual (cf. Divino Afflante Spiritu; E.B., 551-552; PC, De Sacra Scriptura recte docenda, E.B., 598). O ensinamento deve mostrar ao mesmo tempo as raízes históricas dos escritos bíblicos, o aspecto deles enquanto palavra pessoal do Pai celeste que se dirige com amor a seus filhos (cf. Dei Verbum, 21) e o papel indispensável que tem no ministério pastoral (cf. 2Tm 3,16).

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4. PUBLICAÇÕES

Como fruto da pesquisa e complemento do ensino, as publicações tem uma função de grande importância para o progresso e a difusão da exegese. Em nossos dias, a publicação não se realiza mais somente pelos textos impressos, mas também por outros meios, mais rápidos e mais potentes (rádio, televisão, técnicas eletrônicas), dos quais convém aprender a se servir.

As publicaçôes de alto nível científico são o instrumento principal de diálogo, de discussão e de cooperação entre os pesquisadores. Graças a elas a exegese católica pode se manter em relação recíproca com outros ambientes da pesquisa exegética e também com o mundo dos estudiosos em geral.

A curto prazo, são as outras publicações que prestam grandes serviço pois se adaptam a diversas categorias de leitores, desde o público cultivado até as crianças dos catecismos, passando pelos grupos bíblicos, os movimentos apostólicos e as congregações religiosas. Os exegetas dotados para a divulgação fazem uma obra extremamente útil e fecunda, indispensável para assegurar aos estudos exegéticos a irradiação que devem ter. Neste setor, a necessidade de atualização da mensagem bíblica faz-se sentir de maneira mais premente. Isso significa que os exegetas levem em consideração as legítimas exigências das pessoas instruídas e cultas de nosso tempo e distingam claramente, para o bem delas, o que deve ser olhado como detalhe secundário condicionado pela época, o que é preciso interpretar como linguagem mítica e o que é preciso apreciar como sentido próprio, histórico e inspirado. Os escritos bíblicos não foram compostos em linguagem moderna nem em estilo do século XX. As formas de expressão e os gêneros literários que eles utilizam no texto hebraico, aramaico ou grego devem ser tornados inteligíveis aos homens e mulheres de hoje que, de outra maneira, seriam tentados ou a perder o interesse pela Bíblia ou a interpretá-la de maneira simplista: literalista ou fantasiosa.

Em toda a diversidade de suas tarefas, o exegeta católico não tem outra finalidade senão o serviço da Palavra de Deus. Sua ambição não é substituir aos textos bíblicos os resultados de seu trabalho, quer se trate de reconstituição de documentos antigos utilizados pelos autores inspirados ou de uma apresentação moderna das últimas conclusões da ciência exegética. Sua ambição é, ao contrário, pôr em maior evidência os próprios textos bíblicos, ajudando a apreciá-los melhor e a compreende-los com sempre mais exatidão histórica e profundidade espiritual.

Autor: Pontifícia Comissão BíblicaFonte: Livro "A Interpretação da Bíblia na Igreja", ed.Loyola, p.65-69.