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Reformador 2007-04

Nov 07, 2014

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Estudos Psicológicos
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Page 1: Reformador 2007-04
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Fundada em 21 de janeiro de 1883

Fundador: Augusto Elias da Silva

Revista de Espiritismo CristãoAno 125 / Abril, 2007 / N o 2.137

ISSN 1413-1749Propriedade e orientação daFEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRADiretor: NESTOR JOÃO MASOTTI

Diretor-substituto e Editor: ALTIVO FERREIRA

Redatores: AFFONSO BORGES GALLEGO SOARES, ANTONIO

CESAR PERRI DE CARVALHO, EVANDRO

NOLETO BEZERRA E LAURO DE OLIVEIRA SÃO THIAGO

Secretário: PAULO DE TARSO DOS REIS LYRA

Gerente: ILCIO BIANCHI

Gerente de Produção: GILBERTO ANDRADE

Equipe de Diagramação: SARAÍ AYRES TORRES, AGADYR

TORRES E CLAUDIO CARVALHO

Equipe de Revisão: MÔNICA DOS SANTOS E WAGNA

CARVALHO

REFORMADOR: Registro de publicação no 121.P.209/73 (DCDP do Departamento de Polí-cia Federal do Ministério da Justiça),CNPJ 33.644.857/0002-84 • I. E. 81.600.503

Direção e Redação:Av. L-2 Norte • Q. 603 • Conj. F (SGAN) 70830-030 • Brasília (DF)Tel.: (61) 2101-6150FAX: (61) 3322-0523

Departamento Editorial e Gráfico:Rua Souza Valente, 17 • 20941-040Rio de Janeiro (RJ) • BrasilTel.: (21) 2187-8282 • FAX: (21) 2187-8298E-mail: [email protected]

Home page: http://www.febnet.org.brE-mail: [email protected] e

[email protected]

Projeto gráfico da revista: JULIO MOREIRA

Capa: AGADYR TORRES E LUIS HU RIVAS

Editorial

A chegada do Consolador

Entrevista: Nestor João Masotti

Sesquicentenário e compromisso de difusão

do Espiritismo

Presença de Chico Xavier

O Primeiro Capítulo – Irmão X

Esflorando o Evangelho

Espiritismo na fé – Emmanuel

A FEB e o Esperanto

O Esperanto e O Livro dos Espíritos – Affonso Soares

Sombra e luz / Ombro kaj lumo – Casimiro Cunha

Seara Espírita

O Livro dos Espíritos – 150 anos – Juvanir Borges de Souza

Hosanas ao Sesquicentenário de O Livro dos Espíritos – Vianna de Carvalho

A força do Espiritismo – Allan Kardec

150 anos de pioneirismo científico – Marlene Nobre

Irmãos, lembremo-nos sempre de que o Espiritismo...– Emmanuel

A Era do Espírito – Zalmino Zimmermann

Seminário sobre o SAPSE na FEB-RioSobre a lógica do conhecimento de si mesmo –

Cosme D. B. Massi

Ante o Sesquicentenário – Inaldo Lacerda Lima

Considerações sobre o Progresso do Espiritismo –Foi dada a primeira palavra... – Marcelo Firmino Dias

Movimento Espírita de São Paulo comemora os 150 anos do Espiritismo

O Reino de Deus está dentro de nós –

Décio Iandoli Jr.

Homenagens – Richard Simonetti

Correios lançam novo selo sobre EspiritismoProcura-se Allan Kardec – Carlos Abranches

Lendo Kardec – Mário Frigéri

Homenagem de Emmanuel à Codificação –

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Na literatura, as obras-primas! – Kleber Halfeld

Primórdios do Espiritismo – Adilton Pugliese

150 anos de lançamento de O Livro dos Espíritos

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SumárioExpediente

PARA O BRASILAssinatura anual RR$$ 3399,,0000Número avulso RR$$ 55,,0000

PARA O EXTERIORAssinatura anual UUSS$$ 3355,,0000

AAssssiinnaattuurraa ddee RReeffoorrmmaaddoorr:: Tel.: (21) 2187-8264 • 2187-8274

EE--mmaaiill:: [email protected]

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Editorial

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esus marcou fortemente a sua presença junto aos homens.

Trouxe-nos as noções básicas da Lei de Amor que rege toda a obra da CriaçãoDivina, mostrando que Deus, nosso Pai, é justo e bom, e que tudo criou para

o bem e para a dinâmica do aprimoramento que a todos felicita.

Ensinou-nos a amar a Deus, amar ao próximo e a nós mesmos.

Deixou-nos um exemplo vivo da prática da caridade no seu sentido mais amploe profundo, cultivando a benevolência para com todos, a indulgência para com asimperfeições humanas e dando um marcante testemunho de perdão, quando, jácrucificado, pediu a Deus que perdoasse os homens.

Sabia, contudo, que seus exemplos e lições não seriam colocados em prática, deimediato, pelos seres humanos, os quais iriam deturpá-los e distorcê-los, adaptan-do-os às suas limitações.

Jesus também reconhecia não haver, na época, condições de passar aos homenstodos os ensinos. Era preciso aguardar o trabalho da evolução, preparando a Huma-nidade com dolorosas experiências, para a conquista de novos conhecimentos.

No período que se seguiu à sua presença na Terra, a Humanidade aprimorou-se:a Ciência rompeu barreiras e ampliou seus conhecimentos; a Filosofia aprofundouo raciocínio em busca da verdade; a Religião revisou seus conceitos com relação aoCriador e à Criação; e as Artes desenvolveram o sentimento no cultivo do belo e daharmonia universal.

À medida que avançava em novas conquistas, aumentavam as dúvidas dohomem: o que sou, de onde vim, para onde vou, qual a razão da dor e do sofrimen-to, qual o sentido da existência humana. Surgem condições para novos esclareci-mentos: mostra-se oportuna a chegada do Consolador Prometido.

No dia 18 de abril de 1857, em Paris, França, esse Consolador vem efetivamenteao mundo na forma de um singelo livro – O Livro dos Espíritos –, de autoria de umeducador, Allan Kardec, e com a mesma simplicidade da manjedoura que marcoua vinda do Messias Nazareno. Chega para ficar eternamente conosco, abrindo umanova era para a regeneração da Humanidade.

O Livro dos Espíritos – 150 anos de luz e paz, esclarecendo e consolando.

J

A chegada do Consolador“Se me amais, guardai os meus mandamentos; e eu rogarei a meu Pai e ele vos enviará outro

Consolador a fim de que fique eternamente convosco: – O Espírito de Verdade, que o mundo nãopode receber, porque o não vê e absolutamente o não conhece. Mas, quanto a vós, conhecê-lo-eis,porque ficará convosco e estará em vós. – Porém, o Consolador, que é o Santo Espírito, que meu Paienviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho dito.”

(S. João, 14:15 a 17 e 26.)*

*O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VI, item 3.

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omemora-se em 18 de abrildo corrente ano o Sesqui-centenário da publicação

da primeira edição de O Livro dosEspíritos.

Essa obra basilar da DoutrinaEspírita representa um marco in-delével de uma Nova Revelação,de uma Nova Era para a Humani-dade deste “mundo de expiações eprovas”.

Mas não podemos esquecer queessa edição inicial seria ampliadapelos próprios autores espirituais,utilizando os mesmos métodos e omesmo missionário – Allan Kar-dec – dela resultando a segundaedição, publicada em março de1860, que se tornou definitiva.

O Livro dos Espíritos é, assim, aobra fundamental de uma Doutri-na, baseada na realidade dos fatos ena verdade que deles resulta, ensi-nada e interpretada por seres espi-rituais que se revelaram superioresaos homens, tanto em conheci-mentos quanto em sentimentos.

A Doutrina dos Espíritos, ou Es-piritismo, é extremamente abran-gente, revelando a existência demundos espirituais que se relacio-nam permanentemente com osmundos materiais, como esse emque vivemos.

Apesar da ampliação da Dou-

trina revelada pelos Espíritos,abrangendo aspectos teológicos,científicos, filosóficos, religiosos emorais, é ela perfeitamente com-preensível e perceptível pelas inte-ligências comuns, interessadas noaperfeiçoamento intelectual emoral e na realidade dos fatos.

A Nova Revelação, que dá umanova dimensão à vida com o co-nhecimento do que é verdadeira-mente o homem, sua origem e seudestino, desvenda seu futuro e suaimortalidade, subordinado às leiseternas, justas e perfeitas de Deus,o Criador de tudo o que existe noUniverso infinito.

Foi a novel Doutrina precedidapor uma vasta fenomenologia, apartir de 1848, em Hydesville, nosEstados Unidos, espalhando-sepela nação americana, pela Euro-pa e outras partes do mundo.

As denominadas “mesas giran-tes” ou “falantes” precederam aosestudos sérios de Allan Kardec,que resultaram na primeira edi-ção histórica de O Livro dos Es-píritos, um registro inicial eimportante de que chegara aoportunidade do cumpri-mento da promessa de Je-sus, o Cristo, de que pedi-ria ao Pai o envio de ou-tro Consolador, para re-

lembrar seus ensinos e trazer co-nhecimentos novos aos homens.

A edição inicial, que seria am-pliada posteriormente, em 1860,sempre sob a orientação da Espi-ritualidade Superior, à frente o Es-pírito Verdade, como se apresen-tava ao Codificador, desdobrou-seposteriormente em outras quatroobras, constituindo o denomina-do “Pentateuco Kardequiano”: OLivro dos Médiuns, O Evangelhosegundo o Espiritismo, O Céu e oInferno e A Gênese.

O Livro dos Espíritos, em sua pri-meira edição, publicado após afenomenologia variada, provocadapelas entidades

O Livro dos Espíritos– 150 anos –

CJU VA N I R B O RG E S D E SO U Z A

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espirituais, foi o impacto necessá-rio para chamar a atenção de quan-tos estivessem em condições de en-tender as manifestações dos seresespirituais, com as necessárias ex-plicações ao alcance das inteligên-cias encarnadas.

Entretanto, a Nova Revelação, deiniciativa da Espiritualidade Su-perior e apresentada pelo missio-nário Allan Kardec aos homens,iria provocar discussões e objeçõesde várias procedências, principal-mente da parte dos que não ti-nham condições de entendê-la eaceitá-la e daqueles cujos interessesimediatos eram afetados por umanova realidade posta em evidência.

As aceitações, as rejeições e asdiscussões foram intensas por to-da parte onde a questão transcen-dental tornou-se conhecida.

Estava lançada a idéia de umanova ordem e de uma nova reali-dade que afetava os interesses e asconcepções da vida por parte dasciências, das religiões, das filoso-fias e das simples opiniões do ho-mem comum, inclinado ou não, aconhecer a verdade dos fatos.

Despertou-se, assim, o interes-se geral para uma questão de ex-trema importância para toda aHumanidade.

Como todas as verdades que sur-gem na Terra, em todos os tempos,a Doutrina dos Espíritos, não só naépoca de seu aparecimento, há cen-to e cinqüenta anos, mas nos diasatuais e no futuro, contará semprecom adeptos e opositores, até queas condições do nosso mundo setransformem para melhor, atin-gindo o esperado mundo regene-rado, no qual deixarão de predomi-nar a ignorância das verdades eter-nas, o orgulho, as presunções per-sonalistas e os interesses egoístas.

Negar a realidade dos fatos épróprio dos habitantes de mundosatrasados, como o nosso. Mas co-mo tudo se subordina às leis natu-rais, ou divinas, entre as quais seinsere a lei do progresso, não restadúvida de que a verdade acabaprevalecendo sobre a ignorância,operando-se a transformação, emquestão de tempo, dentro da eter-nidade.

Não foi sem razão que o Cristo

de Deus, diante da ignorância doshomens de há dois mil anos, mi-nistrou-lhes ensinos e revelações,mesmo sabendo que muitos nãoos entendiam ou não os aceitavam.

Suas lições encerravam espe-rança em melhor compreensãodas leis divinas, no futuro, utili-zando linguagem figurada, alego-rias e pequenas histórias, lem-brando sempre que: “Eu sou oCaminho, a Verdade e a Vida”.

Canuto Abreu, em sua obra inti-tulada O Livro dos Espíritos e suaTradição Histórica e Lendária, cujaprimeira edição, em 18 de abril de1992, teve seus direitos reservadosao Lar da Família Universal, de SãoPaulo, faz relatos interessantes so-bre o que ocorreu no dia 18 deabril de 1857, um sábado.

Informa o referido autor que,no dia da publicação da primeiraedição de O Livro dos Espíritos, oprofessor Rivail e sua esposa Amé-lie Boudet receberam em sua resi-dência vários amigos, com o obje-tivo de agradecer-lhes a coopera-ção que ofereceram para a publi-cação da obra.

Em determinado momento dareunião, o professor Rivail (AllanKardec) pedindo a atenção dospresentes, refere-se a uma série defatos, que vamos sintetizar, valen-do-nos do que está relatado noreferido livro.

Começa o Codificador agrade-cendo às famílias Baudin, Roustane Japhet por lhe proporcionaremos ambientes necessários ao rece-bimento dos ensinos dos Espíritos.

Jesus prometeu a vindade outro Consolador a

seus discípulos

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Refere-se às jovens Caroline, Ju-lie e Ruth Celine, que muito contri-buíram com suas mediunidades narecepção das comunicações espiri-tuais, as duas primeiras como re-ceptoras das essências dos assuntostransmitidos, enquanto Ruth era amedianeira para os esclarecimen-tos necessários e complementares.

Esclareceu o Codificador que,além dessas três médiuns, recor-reu ele a cerca de dez outros mé-diuns, por sugestão dos Guias es-pirituais, com o objetivo de robus-tecer as teses e ensinos que pudes-sem oferecer quaisquer dúvidas,por suas inovações.

Continuando suas explicações,refere-se Kardec ao motivo peloqual resolveu afrontar sozinho aoposição que o livro iria provocar,pelos interesses contrariados, nãoachando justo que outras pessoasfossem envolvidas nas acusações.

Explica, então, que os Espíritoshaviam-no aconselhado a agirdessa forma, embora os autoresda obra fossem diversas entidadesespirituais.

Justifica por que julgou seu de-ver ocultar os nomes dos diversosmédiuns que colaboraram naobra, preservando-os, assim, dosataques que inevitavelmente lhesseriam desfechados pelos oposito-res e descontentes.

Refere-se o Codificador tambémà primeira vez que assistiu ao fenô-meno da “mesa falante”, na resi-dência da senhora Plainemaison,médium que lhe proporcionou aprimeira oportunidade de assistir auma reunião de manifestações es-pirituais, no dia 8 de maio de 1855.

Esse dia, diante da mesa anima-da, falante, foi para ele, o Codifi-cador da Doutrina Espírita, o en-contro com a comprovação daimortalidade que, debalde, procu-rara na Filosofia e na Religião.

Complementa afirmando queaqueles fenômenos, além da imor-talidade da alma, preparavam oshomens para uma Nova Revelação.E foi com essa convicção que pro-curou expandir suas pesquisas erelacionamentos com o mundo es-piritual, do que resultou O Livrodos Espíritos, que foi revisado apósouvidos os Espíritos, através das jo-vens médiuns Caroline e Julie e demais de dez outros medianeiros,escolhidos por seu caráter e desin-teresse sobejamente reconhecidos.

À página 163 do livro de Canu-to Abreu, conta o professor Rivailque o primeiro encontro com oEspírito Verdade ocorreu no dia 25de março de 1856 e que a entidade,indagada como deveria ser chama-da, respondeu-lhe: “Para você eume denominarei – Verdade”.

Verdade é um nome simbólico,representando tudo o que foi re-velado aos homens, pela Espiri-tualidade Superior, através da me-diunidade e dos trabalhos metó-dicos do missionário Allan Kardec;é a realidade, os princípios certosque regem a tudo.

Torna-se interessante notar queos amigos do professor Rivail,aqueles com os quais trabalhoudesde que tomou conhecimentodas revelações dos Espíritos, em1855, através de diversos médiuns,todos tinham a convicção de queele era o missionário da Espiritua-

lidade para chefiar os trabalhosque se iniciavam e que iriam ca-racterizar uma nova fase de pro-fundo e extenso alcance na mar-cha evolutiva da Humanidade – aRevelação Espírita.

É o que se deduz das palavrasde Carlotti, de Baudin, de Rous-tan, de Japhet, de Fortier, de Cahagnet e de suas esposas e dosdiversos médiuns que se colocarama serviço das comunicações dosEspíritos, encaminhadas e exami-nadas com o rigor e o bom sensocaracterísticos de Allan Kardec – omissionário encarregado de siste-matizar a Doutrina Espírita.

Tinha Kardec a certeza de que aDoutrina, resumida na sua obrabásica, contaria com a simpatiados primeiros adeptos, aquelesque se renderiam à exposição dosfatos e às realidades decorrentesdas comunicações e esclarecimen-tos do mundo espiritual, atravésda mediunidade.

Mas estava o Codificador con-vencido também de que a Nova Re-velação encontraria muitos contra-ditores, especialmente os que se jul-gam donos absolutos e exclusivosda verdade e da luz que dela emana.

Por isso, sem a pretensão de con-vencer a todos, o Codificador, noitem III da “Introdução” de O Livrodos Espíritos, procura focalizar algu-mas das objeções opostas à noveldoutrina, objetivando responderantecipadamente aos de boa-fé eaos que buscam instruir-se, colo-cando de lado os juízos levianos eprecipitados e os decorrentes de in-teresses imediatistas, tendenciosos eos formados precipitadamente.

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pós o letargo em que mer-gulharam as inteligênciaspor longos séculos, proibi-

das pela intolerância clerical deraciocinar em torno da realidadeda Vida e das legítimas aspiraçõesdo ser humano, espocaram as rea-ções do pensamento filosófico eda experimentação científica, apouco e pouco vencendo as la-mentáveis imposições arbitráriase abrindo campo a novas con-quistas libertadoras.

Desalgemadas da tirania a queestiveram submetidas, consegui-ram penetrar nas incógnitas exis-tenciais, decifrando-as com a con-tribuição da lógica e da razão, aotempo em que as demonstraçõeslaboratoriais confirmavam-lhes asconquistas exuberantes.

As possibilidades de aprofun-damento das sondas da investi-gação nos variados campos doconhecimento ensejaram-lhes am-pliação de entendimento sobre omacro e o microcosmo, desve-lando realidades jamais imagina-das, graças às quais o progressopassou a multiplicar-se pelaspróprias conquistas, e não maislentamente sob as ameaças per-versas.

Sucede, porém, que esse fenô-meno é resultado da força da vidaque não permite seja impedido demaneira permanente o desenvolvi-mento intelecto-moral do espíritohumano, e toda vez que este se vêameaçado, mais vitalidade adquirepara superar os empecilhos, tra-balhando pela liberdade de pensa-mento, de expressão e de ação.

Era natural, no entanto, que aolado das incontáveis aquisiçõescientíficas e tecnológicas, dosavanços culturais e descobrimen-tos de toda ordem, surgissem asreações da mágoa, as necessidadesde desforços, as agressões a insti-tuições e lideranças caducas, assi-nalando o momento com pessi-mismo e amargura.

O materialismo que se instalousoberano nas academias, agora li-vres do imperialismo cruel das re-ligiões ultramontanas, comandan-do os seus aficionados, ergueu-se,tão arrogante quanto as crençasespiritualistas que o antecederam,travando inglórias batalhas de re-sultados nefastos para a cultura.

Homens e mulheres notáveisengalfinharam-se em contendasinjustificadas, enquanto cientistasrespeitáveis deixaram-se dominar

pela necessidade de, junto aospensadores, exterminar Deus e afé religiosa nas mentes e nos cora-ções humanos, dando lugar a umgrande vazio existencial.

O materialismo é uma chagano sentimento da criatura, porquelhe retira toda a esperança de felici-dade e de consolação após as acer-bas dores da existência física. Anulaa alegria de viver ante as vicissitu-des e os testemunhos inevitáveisem todas as experiências huma-nas da evolução. Perturba a mentee tortura o sentimento, empur-rando o homem e a mulher para osuicídio quando os recursos ime-diatos não podem resolver as ocor-rências angustiantes, as enfermida-des irreversíveis, os dissabores mo-rais, os sofrimentos espirituais...

Logo se espalhou uma onda dedescrença em tudo, inclusive nopróprio ser humano, estabelecen-do-se paradigmas utilitaristas eimediatistas para a conquista doprazer e da felicidade, enquantoutopias variadas convidavam aoexistencialismo e à libertinagem,como mecanismos de fuga da fra-gilidade orgânica e da temporali-dade do corpo.

Por outro lado, a precipitação

Hosanas aoSesquicentenário de

AO Livro dos Espíritos

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de alguns cientistas elaborou teo-rias fantasistas para explicar a vidae o ser, antes de comprovação la-boratorial que lhes servisse de fun-damento para aquisição de valor.

Escolas de pensamento multi-plicaram-se com e sem ética, pro-curando umas sobrepor-se às ou-tras, em aguerridos combates cul-turais nem sempre sustentadospelo bom senso e pelo altruísmodos seus defensores.

Teses formidandas surgiram danoite para o dia procurando ex-plicar tudo, inclusive o que nuncafora examinado, assim tudo redu-zindo praticamente ao nada, emorgia de liberdade intelectual, pre-judicando a respeitabilidade dobom-tom e da razão.

A euforia abriu portas a desca-labros culturais e comportamen-tais muito graves, tão prejudiciaisquanto as proibições anteriores eas suas perseguições insanas.

Embora as luzes da cultura seexpandissem, permaneceram mui-tas sombras e novos dogmas fo-ram estabelecidos pelos magisterdixit, substituindo aqueles que fo-ram ultrapassados...

A deusa razão, que fora entro-nizada em Notre Dame, por exem-plo, no fim do século XVIII, cedeulugar ao anarquismo e simultanea-mente ao autoritarismo de algunscientistas e pensadores do séculoXIX, mantendo o aturdimento nasmassas humanas nos seus diferen-tes segmentos sociais, nem sempreesclarecidas e bem orientadas.

Foi nesse báratro que surgiu OLivro dos Espíritos, apresentado porAllan Kardec, no dia 18 de abril de

1857, como débil claridade naimensidão das sombras...

Possuidor de incomparáveistesouros de lógica e de ética, deconhecimentos e de informa-ções que vieram dos Espíritosimortais, novas proposições fi-zeram-se conhecidas, esclarecen-do dúvidas e interrogações inquie-tadoras, fundamentando sempreos seus argumentos nas conquis-tas realizadas pela ciência de en-tão, com lucidez para enfrentar assuas futuras aquisições de formasempre atual e renovadora.

Antecipando Charles Darwin,Allan Kardec apresentou o evolu-cionismo vinculado ao criacionis-mo, única forma de compreender--se o processo antropossociopsico-lógico do ser humano, dando-lhedignidade e objetivo existencial.

Estabelecendo paradigmas dealta magnitude, libertou Deus doantropomorfismo em que O en-carceraram através dos milênios,explicando de forma profunda oque são o espírito e a matéria, acriação, a morte e a reencarnação,a justiça divina, os processos deinterferência espiritual na condu-ta humana, as leis morais da vida,as esperanças e as consolações.

Examinou a moral sob o pontode vista dos imortais, oferecendoluz à ciência e antecipando-a emmuitas explicações, porque, en-quanto a mesma estuda os efeitos,o Espiritismo remonta às causas detodas as ocorrências, dando-lhessentido lógico e ético, fundamen-tando os seus postulados no amorde Deus, Causa Primeira de todasas coisas.

À medida que foi examinado,conhecido e divulgado, tornou-semodelo de doutrina científica, fi-losófica e moral de conseqüênciasreligiosas, em razão dos paradig-mas que estatui, apresentando oEspiritismo com uma ciência queestuda a origem, a natureza, o des-tino dos Espíritos e as relações queexistem entre o mundo corporal e omundo espiritual. Ciência sui ge-neris, porque não se utiliza dos ele-mentos convencionais que são exa-minados pelas outras, mas estudao ser humano em sua estrutura ín-tima, como princípio inteligente doUniverso, acompanhando-o apósa disjunção molecular, pelo fenô-meno da morte biológica.

Ao mesmo tempo, oferece umafilosofia comportamental rica debênçãos, nos seus conteúdos ético--morais, que culminam com acrença em Deus, na imortalidadeda alma, nas comunicações dos Es-píritos, na pluralidade dos mundos

Charles Darwin: sua tese sobre aorigem comum e a evolução das

espécies foi antecipada pelosEspíritos reveladores em

O Livro dos Espíritos

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habitados, firmada nos postuladosensinados e vividos por Jesus e pe-los Seus primeiros discípulos...

Utilizando-se da mediunidade,o preclaro Codificador demons-trou à saciedade a sobrevivênciado Espírito à desencarnação, as-sim como as multifárias expe-riências reencarnatórias que lhesão facultadas, a fim de alcançara perfeição relativa que lhe estádestinada.

Graças a esse processo de evo-lução ficaram explicadas, desdeentão, as razões do sofrimento,dos destinos, das aspirações e dasocorrências felizes ou desditosasque assinalam incontáveis existên-cias corporais.

Proporcionou a visão otimistaem torno da jornada terrestre, as-sinalando que a responsabilidadepelo progresso ou o estaciona-mento na via de crescimento inte-lecto-moral é de cada um, quedesfruta da oportunidade de de-senvolver as aptidões que lhe dor-mem inatas, heranças que são daDivindade, ínsitas em todos.

Desfez a mitologia a respeitodos divinos castigos e das eternaspunições, assim como das benes-ses celestiais concedidas a passode mágica, distantes da justiça edo amor irrefragável do Criadorque vive no Cosmo.

Antecipou o conhecimento emtorno da consciência humana, ex-plicando que nela se encontra gra-vada a lei de Deus, do que resultamas alegrias existenciais, os confli-tos e as culpas, os procedimentosgeradores da felicidade e do desar.

Obra monolítica, desdobrou-senos incomparáveis O Livro dos Mé-diuns, O Evangelho segundo o Es-piritismo, O Céu e o Inferno e A Gê-

nese, abrangendo oconhecimento uni-versal e mantendovinculação comas mais diversasciências como a

Antropologia e a Psicologia, a Fi-siologia e a Psiquiatria, a Químicae a Física, a Biologia e a Astrono-mia, o Direito e as Artes...

Nestes dias, quando o conheci-mento atingiu patamares jamaissupostos de existir, facultando ascomunicações virtuais, as cirurgiascom transplantes de órgãos, a im-plantação de células-tronco tra-balhando pelo milagre da vida, astécnicas de regressão a existênciaspassadas, a convivência com asmicropartículas e com a biologiamolecular, com o genoma huma-no decodificado, penetrando-sena intimidade do DNA e nas suasestruturas, O Livro dos Espíritospermanece atual, oferecendo in-formações de alto significado aosseus pesquisadores.

Resistindo a um século e meiode evolução cultural, filosófica,científica e tecnológica, continuasendo a mais completa síntese deinformações contemporâneas deque se tem notícia.

Pelos milhões de vidas que vemiluminando e libertando do suicí-dio, da loucura, das aflições, tor-nando-as felizes, todos aqueles quenos deixamos penetrar pela suasabedoria cantamos hosanas, sau-dando-o pelo transcurso do seuSesquicentenário de surgimentoem Paris, simbolizando o inícioda Era Nova do Espírito imortal.

Vianna de Carvalho

(Página psicografada pelo médium Dival-

do Pereira Franco, no Centro Espírita Ca-

minho da Redenção, no dia 1o de feverei-

ro de 2007, em Salvador, Bahia.)

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Kardec com O Livro dosEspíritos: funda-mento, por exce-lência, da NovaEra, quandoestará consagra-da a definitivaaliança entre aCiência e aReligião

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Ao ensejo do Sesquicentenário da Doutrina Espírita, o presidente da FEB, Nestor João

Masotti, analisa o significado e as repercussões desta efeméride, e destaca que o agora é

a melhor oportunidade para se intensificar a difusão das obras da Codificação Kardequiana

NE S TO R JO Ã O MA S OT T IEntrevista

Reformador: Qual o significadodas Comemorações do Sesquicen-tenário da Doutrina Espírita?Nestor: Significa, basicamente, a

nosso ver, que a Doutrina Espírita,na condição de Consolador Pro-metido por Jesus, veio, no devidotempo, esclarecer ao homem que avida não termina com a morte docorpo, que ele é um Espírito imor-tal que já teve inúmeras reencar-nações através das quais desenvol-veu os seus valores intelectuais emorais, que a comunicação com omundo espiritual é um fato e quea Doutrina Espírita possui umroteiro de vida que lhe assegurapaz duradoura pela vivência doEvangelho. Nessa fase de transiçãoe instabilidade que o mundo atra-vessa, o conhecimento do Espi-ritismo e o esforço de colocar emprática os seus princípios repre-sentam uma bênção que pro-porciona ao homem a felicidade

relativa possível na Terra.

Reformador: E as ex-pectativas quanto à re-percussão do 2o Con-gresso Espírita Brasi-leiro?

Nestor: Será, sem dúvida, umaexcelente oportunidade, para osespíritas, de nos encontrarmos;de convivermos fraternalmentecultivando a alegria das come-morações de 150 anos de luz epaz que a Doutrina Espírita nosproporciona; de aprofundarmoso nosso conhecimento a respeitodos princípios espíritas; de tro-carmos experiências em tornodas atividades, do estudo, divulga-ção e prática do Espiritismo, e departiciparmos da tarefa de colo-car a Doutrina ao alcance e a ser-viço de todas as pessoas, para quetambém se beneficiem de seu co-nhecimento. Estamos confiantesem que os resultados serão alta-mente positivos para todos.

Reformador: Os Correios lançamo quinto selo sobre Kardec. Comoanalisa este fato histórico?Nestor: De certa forma, repre-senta o reconhecimento pelo tra-balho que os espíritas brasileirostêm realizado desde o final do

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Sesquicentenário e

do Espiritismocompromisso de difusão

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século XIX, voltado, sempre, àassistência desinteressada a todosos que buscam orientação, escla-recimento e amparo junto aosnúcleos espíritas. É também, anosso ver, o reconhecimento pe-lo número crescente de pessoasque têm encontrado na Doutri-na Espírita as respostas seguraspara suas dúvidas e o roteiro devida de que necessitam para nor-tear suas existências.

Reformador: Qual a estimativade tiragem e de edições pela FEB,até nossos dias, de O Livro dosEspíritos?Nestor: A Federação EspíritaBrasileira, desde o início de suasatividades editoriais, já publicoucerca de 2 milhões de exemplaresde O Livro dos Espíritos.

Reformador: O que balizou o lan-çamento da recente Edição Come-morativa de O Livro dos Espíritos?Nestor: Em 1998, a FederaçãoEspírita Brasileira (FEB), junta-mente com o Conselho EspíritaInternacional (CEI), a União Es-pírita Francesa e Francofônica(UEFF) e o Instituto de DifusãoEspírita (IDE), publicou umaedição fotocopiada da segunda edi-ção francesa de O Livro dos Espí-ritos, revista e ampliada, lançadaem 1860, em substituição à sua1a edição, de 18 de abril de 1857.No trabalho preparatório dessaedição fotocopiada, constatou-sea existência de alguns acrésci-mos, supressões e modificaçõesfeitos por Allan Kardec até a 12a

edição francesa que passou a ser

considerada definitiva, uma vezque não se observou qualquer ou-tra alteração posterior. Algumasdestas partes não constavam nasedições em língua portuguesa quetomaram por base originais publi-cados posteriormente. Com isto,achou-se conveniente prepararuma edição – organizada e tra-duzida com muito critério pelonosso confrade Evandro NoletoBezerra –, que incluísse essestextos anteriormente não publi-cados, desse modo proporcio-nando a todos os leitores a opor-tunidade de se aprofundarem noconhecimento, inclusive históri-co, da Doutrina Espírita.

Reformador: A FEB e o CEI têmeditado O Livro dos Espíritos emoutros idiomas?Nestor: Além das edições na lín-gua portuguesa, a FEB vem edi-tando, também, O Livro dos Espí-ritos em esperanto. Já o ConselhoEspírita Internacional editou estelivro em inglês, em húngaro e es-tá lançando em francês a EdiçãoComemorativa do seu Sesqui-centenário.

Reformador: Como avalia a difu-são do pensamento espírita em nos-so país?Nestor: A lógica dos princípiosespíritas, a liberdade na análise ena aceitação dos seus conceitos,os fatos que não colocam em dú-vida a imortalidade do homemcomo Espírito reencarnado, umamelhor compreensão da bonda-de e da justiça que norteiam asleis de Deus e um melhor enten-

dimento dos ensinos do Evange-lho de Jesus – tudo isso dá ao ho-mem um sentido para a vida euma grande motivação para o seuaprimoramento intelectual e mo-ral. Isto vai contagiando positi-vamente todas as pessoas quemantêm contato com o trabalhoespírita, aumentando gradativa-mente o número dos que se be-neficiam com o seu conhecimen-to e com as oportunidades derealização que ele proporciona.

Reformador: O que recomendaaos espíritas brasileiros ao ensejodo Sesquicentenário da publicaçãode O Livro dos Espíritos?Nestor: Em “Prolegômenos” deO Livro dos Espíritos, os Orienta-dores espirituais, incumbidos detrazer os ensinamentos contidosnas obras da Codificação queAllan Kardec elaborou, tornaramclaro que vieram lançar as basesde um novo edifício que se elevae que um dia há de reunir todosos homens num mesmo senti-mento de amor e caridade, abrin-do uma nova era para a regenera-ção da Humanidade. Natural-mente, esse trabalho de edifica-ção depende dos homens, espe-cialmente dos espíritas, conhece-dores desses ensinos e que se sen-tem conscientemente convocadospara a tarefa, a qual implica noestudo, na divulgação e na práticadessa mensagem consoladora.

Não há oportunidade melhorpara a realização dessa tarefa doque agora. Este é o momento detransição em que se constroem asbases do mundo novo, de Regene-

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ração, o qual será regido pela con-vicção da imortalidade espiritual epelo propósito da vivência da mo-ral contida no Evangelho de Jesus.

Todos, indistintamente, esta-

mos convidadospara esse trabalho.Que cada um con-tribua de confor-midade com as suasaptidões e as suaspossibilidades, comdedicação, corageme perseverança. Masque não deixem departicipar, para não

lamentarem, no futuro, a opor-tunidade perdida.

O Espírito de Verdade, elevadoOrientador espiritual, que partici-pou dos trabalhos da CodificaçãoEspírita, nos convida: “[...] Dito-sos serão os que houverem traba-lhado no campo do Senhor, com

desinteresse e sem outro móvel,senão a caridade! Seus dias de tra-balho serão pagos pelo cêntuplodo que tiverem esperado. Ditososos que hajam dito a seus irmãos:‘Trabalhemos juntos e unamos osnossos esforços, a fim de que o Se-nhor, ao chegar, encontre acabadaa obra’, porquanto o Senhor lhesdirá: ‘Vinde a mim, vós que soisbons servidores, vós que soubestesimpor silêncio aos vossos ciúmes eàs vossas discórdias, a fim de que daínão viesse dano para a obra!’[...]”*

Atendamos, pois, ao convitedesse nobre amigo e orientador.

Capa das edições em húngaro einglês de O Livro dos Espíritos

* KARDEC, Allan. O Evangelho segundo oEspiritismo, cap. XX, item 5.

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Espiritismo progrediu principalmentedepois que foi sendo mais bem compreen-dido na sua essência íntima, depois que

lhe perceberam o alcance, porque toca nas fibrasmais sensíveis do homem: as da sua felicidade,mesmo neste mundo. Aí está a causa da sua pro-pagação, o segredo da força que o fará triunfar.Enquanto aguarda que sua influência se estendasobre as massas, ele já torna felizes os que o com-preendem. Mesmo os que não tenham presen-ciado qualquer fenômeno material, dizem: foradesses fenômenos, há a filosofia, que me explicao que nenhuma outra me havia explicado; nelaencontro, tão-somente pelo raciocínio, umademonstração racional dos problemas que inte-ressam no mais alto grau ao meu futuro; ela medá calma, firmeza, confiança e me livra do tor-mento da incerteza. Ao lado de tudo isso, a ques-tão dos fatos materiais se torna secundária.

............................................................................O Espiritismo é forte porque se apóia sobre

as próprias bases da religião: Deus, a alma, aspenas e as recompensas futuras; é forte, sobre-tudo, porque mostra essas penas e recompen-sas como conseqüências naturais da vida ter-restre e também porque, no quadro que apre-senta do futuro, nada há que a razão mais exi-gente possa recusar. Vós, cuja doutrina consis-te na negação do futuro, que compensaçãoofereceis aos sofrimentos deste mundo? En-quanto vos apoiais na incredulidade, ele seapóia na confiança em Deus; ao passo queconvida os homens à felicidade, à esperança, àverdadeira fraternidade, vós lhe ofereceis onada por perspectiva e o egoísmo por consola-ção. Ele prova pelos fatos, vós nada provais.Como quereis que o homem vacile entre essasduas doutrinas?

Allan Kardec

A força do Espiritismo

O

Fonte: O livro dos espíritos. Ed. Comemorativa do Sesquicentenário. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Conclusão, item V, p. 565-566.

Título atribuído pela Redação.

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aturalmente, os 150 anosde O Livro dos Espíritos,suscitam em nós, seus be-

neficiários, justas homenagens ecomemorações; não devemos es-quecer, todavia, de enfatizar a im-portância da contribuição desselegado à renovação de todas asáreas do conhecimento humano.De nossa parte, gostaríamos derememorar, sobretudo, algumasquestões ligadas ao campo dopioneirismo científico.

Antes de tudo, é preciso relem-brar que Kardec situou toda suapesquisa em bases experimentais,procurando não somente estabe-lecer a veracidade fática, mas tam-bém submeter a controle os ensi-nos coletados pelos Espíritos, des-de que pôde observar, entre eles,divergência de opiniões, debitávelàs diferenças de conhecimento in-telectual e estado moral.

A primeira edição de O Livrodos Espíritos foi lançada em 1857,com 501 questões. Em março de1860, Kardec já publicava a 2a edi-ção, consideravelmente aumenta-da, com 1019 questões, além denotas, abrangendo questões cien-tíficas, filosóficas e religiosas.

O Livro dos Espíritos não é uma

obra científica, mas nele encontra-mos referências a distintos ramosdo saber. Anotemos algumas: na 2a

edição, há revelações sobre a evo-lução que possuem uma amplidãomaior que a suscitada pela obra deDarwin – A Origem das Espécies,de 1859, na qual confirmou os da-dos expostos na Royal Society, jun-tamente com Wallace, em 1858.Darwin não incluiu, porém, o ho-mem na teoria evolucionista; so-mente em 1871 veio a fazê-lo (ve-ja-se Sobre a Descendência do Ho-mem), estimulado pelas publica-ções de Haeckel em 1866 e 1868.

O conceito exposto em O Livrodos Espíritos é mais amplo: nasquestões 540, 560, 604, 606 e 607,Kardec colecionou referências àevolução, abrangendo os reinos domineral ao hominal bem como opróprio espírito, demarcando as-sim uma evolução biológica e espi-ritual dos seres, todos eles emer-gentes do mundo atômico. Isto in-dica a necessidade de se levar emconta o espírito humano numadescrição do Universo pela Física,como postulava Teilhard de Char-din, posicionamento que vai ad-quirindo seguidores como se podeverificar pelos trabalhos do físico

francês Jean Charon, no qual ohomem é visto como um partici-pante ativo no processo de Criação.

Como se vê, desde1860, os espíritasnão são criacionis-tas, pelo menosnão no sentido li-teral dado a estetermo, e quetanta polêmi-ca tem cau-sado entrecientistas ere l ig iososem geral.S o m o sevolucio-nistas daprimei-ra hora,emborade uma maneira muito es-pecial, porque colocamosDeus no princípio de tudoe o princípio espiritual co-mo uma de suas criações,evoluindo do “átomo aoarcanjo”, através de encar-nações sucessivas.

Na questão 36, negamos Espíritos a existênciade um vácuo absoluto,

NMA R L E N E NO B R E*

pioneirismo científico150 anos de

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por estar o espaço ocupado poruma “substância invisível”, algocomo um campo quantizado dosfísicos, do qual surge a matéria vi-sível, sempre que ocorrem con-densações no meio. Na questão 39,ensinam os Espíritos que a forma-ção das partículas nucleares, quedão lugar ao surgimento do Uni-verso, resultaria da condensaçãoda matéria cósmica primitiva, dis-seminada no espaço. As questões39 e 41 referem-se ao nascimento,envelhecimento e dissolução dos

astros com a dissemina-ção da matéria pelo es-paço. O sentido daunidade de todas ascoisas encontra-senas questões 23 e

33: “[...] tudo estáem tudo”.

Do conceitode que a subs-tância cósmi-ca é impon-derável, Kar-

dec dedu-ziu que a

g r a v i -d a d e

era umapropriedade relativa eque, fora da ação dosmundos, não haveriapeso, conforme se temcomprovado pelas pes-quisas espaciais. A afir-mativa de John Grib-bin de que “a gravida-

de é a força que man-tém unido o univer-so” corresponde àidéia enunciada na

questão 27: o fluido cósmico seria“[...] o princípio sem o qual a ma-téria estaria em perpétuo estadode divisão e jamais adquiriria aspropriedades que a gravidade lhedá”. Em última análise, é o fluidocósmico que mantém unido oUniverso.

Na questão 35, que reproduz ade no 16 da 1a edição, os Espíritosafirmaram que “o mesmo se dácom o infinito em todas as coisas”.Ressalta da assertiva o princípiode não-separabilidade, isto é, aunidade de todos os seres e coisasa partir de uma origem única: elesestão de tal modo relacionadosentre si que podem ser ditos infi-nitos, sem separações, ao contrá-rio do que se apresenta à nossapercepção.

Essas idéias científicas pionei-ras terão, este ano, pelo menosem parte, excelente oportunida-de de serem comprovadas, umavez que, no 2o semestre, entraráem funcionamento o superacele-rador de partículas do CERN, fa-moso centro de pesquisas cientí-ficas no campo da Física, emGenebra, Suíça, quando será tes-tado pelo menos um dos funda-mentos da Teoria das Supercor-das – a supersimetria. Esta teo-ria, além da supersimetria – exis-tência de uma família de partí-culas desconhecidas – prevê aexistência de 11 dimensões, alémdas conhecidas, como também aexistência de uma quinta forçano Universo, com a qual somen-te entraríamos em conexão atra-vés da gravidade. Para nós, seriao nosso conhecido e decantado

fluido cósmico universal ou ma-téria cósmica primitiva.

É preciso ressaltar ainda que OLivro dos Espíritos foi um marcona difusão da reencarnação noOcidente. E foi graças ao estudoda reencarnação que se abriramportas para múltiplas investiga-ções, inclusive terapêuticas.

Ainda como decorrência natu-ral de O Livro dos Espíritos, Kardeccontinuou suas pesquisas, lançan-do, em seguida, O Livro dos Mé-diuns, um verdadeiro tratado paraa prática do paranormal. Neste li-vro, ao pesquisar os estados altera-dos de consciência, o Codificadordefrontou-se, antes de Freud, como inconsciente, no estudo dos fenô-menos mediúnicos: sujeitos exis-tiam capazes de recepcionar cam-pos informacionais extrafísicossem terem consciência do fato; ou-tros, dotados de energia singular,eram capazes de, por eles mesmos,produzir efeitos físicos (pessoas elé-tricas, torpedos humanos).

Com os inquéritos a que sub-meteu os Espíritos comunicantes,a partir da elaboração do livro ba-silar que ora completa 150 anos,Kardec credenciou-se como o cria-dor de uma sociologia do mundoespiritual.

Certamente, ainda existem mui-tos outros avanços a serem respiga-dos nessa obra renovadora: as idéiasde responsabilidade social, previ-denciárias, educacionais, etc. Semdúvida, um campo aberto a maisamplos estudos e pesquisas.

*Marlene Nobre é presidente da Associa-

ção Médico-Espírita do Brasil (AME-Brasil).

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Presença de Chico Xavier

llan Kardec, o respeitável professor DenizardRivail, já havia organizado extensa porçãodas páginas reveladoras que lhe constitui-

riam O Livro dos Espíritos.Devotado observador, aliara inteligência e cari-

nho, método e bom senso na formação da primeiraobra que lançaria os fundamentos da DoutrinaEspírita.

Não desconhecia que a sobrevivência da alma eratema empolgante no século. Entretanto, apontamen-tos e experimentações, em torno do assunto, alinha-vam-se desordenados e nebulosos. Os fenômenos dointercâmbio pareciam ameaçados pela hipertrofia deespetaculosidade.

Saindo de humilde vilarejo da América do Norte,a comunicação com os Espíritos desencarnados atin-gira os mais cultos ambientes da Europa, originandoinfrutífero sensacionalismo. Era necessário surgissealguém com bastante coragem para extrair do labi-rinto a linha básica da filosofia consoladora que osfatos consubstanciavam, irrefutáveis e abundantes.

Advertido por amigos da Espiritualidade de que aele se atribuía, em nome do Senhor, a elevada missãode codificar os princípios espíritas, destinados à maisampla reforma religiosa, pusera mãos ao trabalho,sem cogitar de sacrifícios. E adotando o sistema deperguntas e respostas, conseguira vasta colheitade esclarecimento e de luz.

Guardava consigo preciosas anotações acerca daconstituição geral do Universo, surpreendentesinformes sobre a vida de além-túmulo e belas as-serções definindo as leis morais que orientam aHumanidade.

O material esparso equivalia quase que pratica-mente ao livro pronto. Contudo, era preciso estabe-lecer um ponto de partida. O primeiro compêndio

do Espiritismo, endereçado ao presente e ao futuro,não podia prescindir de sólidos alicerces.

E, debruçado sobre a mesa de trabalho, em nevadanoite do inverno de 1856, o Codificador interrogava asi mesmo: – Por onde começar? Pelas conclusões cien-tíficas ou pelas indagações filosóficas? Seria justo des-ligar a Doutrina, que vinha consagrar o antigo ensina-mento do Cristo, de todo e qualquer apoio da fé, naconstrução das bases que lhe diziam respeito?

O conhecimento humano!... – pensava ele – nãose modificava o conhecimento humano todos osdias?.. As ilações filosófico-científicas não eram asmesmas em todos os séculos... E valeria escravizar oEspiritismo à exaltação do cérebro, em prejuízo dosentimento?

Atormentado, viu mentalmente os homens de seutempo e de sua pátria, extraviados na sombra domaterialismo demolidor...

A grande revolução que pretendera entronizar osdireitos do Homem ainda estava presente no ar queele respirava. Desde 2 de dezembro de 1851, o gover-no de Luís Napoleão, que retomava as linhas doImpério, permitia prisões em massa, com deliberadaperseguição aos elementos de todas as classes sociaisque não aplaudissem os planos do poder. Muitosmembros da Assembléia haviam sofrido banimentoe mais de vinte mil franceses jaziam deportados,muitos deles sem qualquer razão justa. Homens dig-nos eram enviados a regiões inóspitas, quando nãoeram confiados, no cárcere, à morte lenta.

O pensamento do missionário foi mais longe...Recordou-se de Voltaire e Rousseau, admiráveis con-dutores da inteligência, mas também precursores daironia e do terror. Lembrou Condorcet, o filósofo ematemático, envenenando-se para escapar à guilho-tina, e Marat, o médico e publicista, assassinado num

A

O Primeiro Capítulo

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banho de sangue, quando instigava a matança e adestruição.

Valeria a cultura da inteligência, só por si, quando,a par dos bens que espalhava, podia desmandar-seem sarcasmo arrasador e loucura furiosa?

Com o respeito que ele consagrava incondicional-mente à Ciência e à Filosofia, Kardec orou com todoo coração, suplicando a inspiração do Alto. Erguia--se-lhe a prece comovente, quando raios de amor lheenvolveram o espírito inquieto e ele ouviu, na acús-tica da própria alma, vigoroso apelo íntimo: – “Nãomenosprezes a fé!... Não comeces a obra redentorasem a Bênção Divina!...”

E o Codificador, nimbado de luz, com a emotivi-dade jubilosa de quem por fim encontrara solução aterrível problema, longamente sofrido, consagrou oprimeiro capítulo de O Livro dos Espíritos à existên-cia de Deus.

(Mensagem recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier.)

Fonte: Reformador de abril de 1957. Edição do 1o Centenário da

Codificação do Espiritismo, p. 25(95).

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(Mensagem recebida em reunião de três pessoas, entre as quais um diretor da FEB, para comemorar o aniversário do apare-cimento de O Livro dos Espíritos, em Pedro Leopoldo, a 18/4/1943.)Fonte: Reformador de abril de 1957. Edição do 1o Centenário da Codificação do Espiritismo, p. 19(89).

Emmanuel

Irmãos, lembremo-nos sempre de que o Espiritismovisto, pode ser somente fenômeno;ouvido, pode ser apenas consolação;vitorioso, pode ser somente festividade;estudado, pode ser apenas escola;

discutido, pode ser somente sectarismo;interpretado, pode ser apenas teoria;propagado, pode ser somente movimentação;sistematizado, pode ser apenas filosofia;

observado, pode ser somente ciência;meditado, pode ser apenas doutrina;sentido, pode ser somente crença.

Não nos esqueçamos, porém, de que Espiritismo aplicado é VIDA ETERNA com Eterna Libertação.

A Codificação trouxe ao mundo uma chave gloriosa, cuja utilidade se adapta a numerosas portas.Escolhamos com o Apóstolo, que hoje recordamos, o caminho da aplicação:

TRABALHO, SOLIDARIEDADE, TOLERÂNCIA.

De coração elevado a Jesus, não temos por agora divisa mais nobre a recordar.Vivei-a na fé consoladora.Espiritismo é sol.Brilhai na sua luz.

Pelo Espírito Irmão X

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18 Reformador • Abr i l 2007 113366

s espíritas de todo o mun-do festejam este ano o Ses-quicentenário do surgi-

mento de O Livro dos Espíritos.Sua importância é tal, que tem si-do apontado como o grande bali-zador do advento da chamada Erado Espírito.

Publicado em Paris, em 18de abril de 1857 (a Lei no 9.471, de7/12/96, do Estado de São Paulo,presta homenagem a esse aconteci-mento), graças ao trabalho e à cul-tura enciclopédica do sábio profes-sor e pesquisador Allan Kardec(1804-1869), Le Livre des Espritstornou-se a obra fundamental do

Espiritismo, com seu conteúdo decaracterísticas únicas, revelando anatureza espiritual do ser humano,sua realidade interexistencial e oprocesso de sua evolução.

Em suas páginas, mestres espi-rituais, nobres representantes de-sencarnados do pensamento filo-sófico e científico de todos os tem-pos, por meio de um seleto corpomediúnico, trazem suas respostase esclarecimentos a questões orga-nizadas por Kardec (501, na edi-ção inaugural e 1019, na segunda edefinitiva, em 18/3/1860), mos-trando, com a densidade que ca-racteriza as coisas eternas, a intei-ra realidade espiritual.

A obra compõe-se de qua-tro partes. A primeira trata

das Causas Primeiras, eseus quatro capítulos

versam, respectiva-mente, sobre “Deus”,os “Elementos Ge-rais do Universo”, a“Criação”, o “Prin-cípio Vital”. Na se-gunda parte, Mun-do Espiritual ou dosEspíritos, é ampla-mente examinada,

por meio de onzecapítulos, a realidade

espiritual em face darealidade física. Na ter-

ceira, Leis Morais, comdoze capítulos, são estuda-

dos os princípios que regem ocaminhar humano em direção àplenitude espiritual. A última par-te, Esperanças e Consolações, com-posta de dois capítulos, refere-se auma série de temas que dizem, es-pecialmente, com a questão dasconseqüências espirituais de nos-sos atos.

Com O Livro dos Espíritos, fun-dado no processo dinâmico dodiálogo (a lembrar a maiêuticasocrática), surge todo um novo emonumental edifício cultural, as-sentado em bases epistemológicasinéditas e estabelecendo os funda-mentos de uma ética superior,condizente com o futuro da civili-zação (uma “Civilização do Espí-rito”), cujos sinais, aliás, já se fa-zem bem claros. Estabelecendo asligações históricas das diversas fa-ses da evolução humana, em vá-rios aspectos, revela, entretanto,um pensamento que não se movi-menta, apenas, entre o passado e opresente, mas, ultrapassando asconcepções filosóficas tradicionais,abrange o futuro.

O conhecimento que inaugurafoi, com muita propriedade, con-siderado por Oliver Lodge como“uma nova revolução copérnica”(A Imortalidade Pessoal). Seu con-teúdo, no dizer de J. HerculanoPires (“Introdução” à edição daLAKE, 1957, p. 23), “se relacionacom todos os aspectos fundamen-

A Era do Espírito

OZA L M I N O ZI M M E R M A N N*

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tais do conhecimento. Sua simpli-cidade aparente é tão ilusória co-mo a da superfície tranqüila deum grande rio.

Como no “Discurso do Méto-do”, de Descartes, a clareza do tex-to pode enganar o leitor despreve-nido. As coisas mais profundas ecomplexas aparecem na linguagemmais direta e simples, e a com-preensão geral do livro só pode seralcançada por aquele que for capazde apreender todos os nexos entreos diversos assuntos nele tratados”.

Instaurando um processo siste-mático de intercomunicação en-tre o mundo espiritual e o físico,O Livro dos Espíritos mostra, defato, um conteúdo que requisita,para a inteira apreensão de seusignificado, detida análise e pro-funda meditação.

Trata-se, em verdade, de umguia de aperfeiçoamento humano.Sua construção é clara e bem defi-nida. A partir da questão da exis-tência de Deus, examina o proble-ma da Criação, situa o ser humanono contexto universal, mostrandosua natureza espiritual e sua nãosujeição à destruição da morte. In-vestiga o mundo espiritual e revelaa lei da reencarnação, num contex-to evolutivo, progressivo e teleoló-gico. Estuda a interação entre as di-mensões física e espiritual, exami-na a lei da causalidade espiritual,manifestação na dimensão espiri-tual da lei de causa e efeito, expres-são magna da Ordem Cósmica, eaponta Jesus de Nazaré como omodelo da perfeição humana,mostrando que o desenvolvimentoda bondade, muito mais que um

simples dever, corresponde a umaverdadeira necessidade evolutiva.

É, pois, um manual de EducaçãoIntegral oferecido ao ser humanopara que amplie seus horizontesem direção a um sistema de convi-vência mais lúcida, marcada porum maior desenvolvimento de suaspotencialidades espirituais, semtanta dor e com mais fraternidade.

Com O Livro dos Espíritos restasuperada a dicotomia sustentadapela tradição teológica, que pre-tende o mundo dividido entre onatural e o sobrenatural. Inexisteo sobrenatural. O sobrenatural éapenas o natural ainda não co-nhecido, provisoriamente não ex-plicado. Leis morais ou físicas sãotodas leis de Deus, e tudo se enca-deia na Criação, de tão imensos ecomplexos sistemas.

Em seus cento e cinqüenta anosde existência, esse livro têm susci-tado as mais diversas reações, nãotendo escapado, inclusive, às fo-gueiras inquisitoriais. Agora, coma Biologia derrubando os obstácu-los erguidos pelas concepções me-canicistas da vida, a Física revelan-do a natureza ilusória da matéria,a Astronomia, a Astrofísica e a As-trobiologia abrindo as cortinas doUniverso para mostrar a possibili-dade da existência de outras hu-manidades, a Psicologia Transpes-soal abrindo perspectivas parauma Psicologia Interexistencial,agora que se admite cada vez maisa necessidade de uma reformula-ção das construções teológicas decaráter antropomórfico e feiçõesmitológicas, buscando-se, inclusi-ve, uma visão mais racional da

realidade evolutiva, é chegada ahora de se prestar mais atenção aoconteúdo desta obra e das demaisque se lhe seguiram, em desdobra-mento, fruto do extraordinário la-bor missionário de Allan Kardec.

Esse conjunto notável de textos,que deu origem aos milhares detítulos expostos nas bibliotecas elivrarias de todo o mundo, e quemarca o surgimento de um neo--saber, com influência decisiva eunificadora sobre todo o saber es-tabelecido, repercutindo cada vezmais na Ciência, projetando-se so-bre a Filosofia, iluminando as reli-giões e renovando a Arte, insere-seharmoniosamente no contexto his-tórico-evolutivo da Humanidade,rumo a um novo e esplendorosotempo de sabedoria e fraternidade.

Não é pois, sem razão, que otrabalho de Kardec atrai, hoje, o in-teresse e o respeito de pensadoresde todos os quadrantes. E, lem-brando Humberto Mariotti, pode--se admitir que, à luz da análise quecientistas e filósofos fazem da obrakardequiana, um dia a Humanida-de, como falou do Renascimento,se recordará de uma nova época doprocesso histórico, a Idade da Co-dificação, em que foi dado ao ho-mem alcançar um novo sentido daVida, com a decisiva revelação deque é, essencialmente, um Espíritoem evolução, rumo a padrões sem-pre superiores da consciência, emharmonia com o Pensamento Di-vino que rege a Criação.

*Zalmino Zimmermann é presidente da

Associação Brasileira dos Magistrados Es-

píritas (Abrame).

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Novo e igualmente fecundo en-contro de espíritas do Estado doRio de Janeiro, sob o patrocínioda Federação Espírita Brasileira(FEB), em fraterna parceria com oConselho Espírita do Estado doRio de Janeiro (CEERJ), ocorreuno dia 24, último sábado de feve-reiro, quando, sob a forma de se-minário, foram tratados temas li-gados ao Serviço de Assistência ePromoção Social Espírita – SAPSE,

sob a coordenação do vice-presi-dente da FEB, José Carlos da SilvaSilveira.

Das 9 às 16 horas, centenas depessoas participaram ativamentedos trabalhos, submetendo ques-tões bastante pertinentes e atuaisà mesa-diretora que, sob a con-dução de Aloísio Ghiggino, dire-tor da Área de Unificação doCEERJ, foi composta, além do vi-ce-presidente da FEB, José Carlos

da Silva Silveira, por Nina Peixo-to, evangelizadora, Tânia de Sou-za Lopes, responsável pelo Depar-tamento de Assistência Social daSede Seccional da FEB-Rio, Mariade Lourdes Pereira de Oliveira, di-retora do Departamento de Assis-tência Social da FEB, Márcia Pini,assessora jurídica do Lar Fabianode Cristo, e Ricardo Silva, assessorjurídico da FEB.

Mais uma vez esse gênero detrabalho, que se estenderá até ofim do corrente ano na Sede Sec-cional da FEB, no Rio de Janeiro,mostrou-se eficaz no sentido deproporcionar aos adeptos, comresponsabilidades na conduçãodo Movimento Espírita, a orien-tação direta e bem fundamentada,sempre com suporte nas diretrizesdoutrinárias, para a solução deproblemas que afetam diretamen-te as atividades das Casas Espíritasnos campos jurídico e adminis-trativo.

Seminário sobre oSAPSE na FEB-RIO

Aspecto parcial do público no auditórioda Sede Seccional na FEB-Rio

José Carlos da Silva Silveira fala ao público

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Esf lorando o EvangelhoPelo Espírito Emmanuel

“E estes sinais seguirão aos que crerem; em meu nome

expulsarão os demônios; falarão novas línguas.”

(MARCOS, 16:17.)

Espiritismo na fé

ermanecem as manifestações da vida espiritual em todos os fundamentos da

Revelação Divina, nos mais variados círculos da fé.

Espiritismo em si, portanto, deixa de ser novidade, dos tempos que cor-

rem, para figurar na raiz de todas as escolas religiosas.

Moisés estabelece contato com o plano espiritual no Sinai.

Jesus é visto pelos discípulos, no Tabor, ladeado por mortos ilustres.

O colégio apostólico relaciona-se com o Espírito do Mestre, após a morte dEle, e

consolida no mundo o Cristianismo redentor.

Os mártires dos circos abandonam a carne flagelada, contemplando visões

sublimes.

Maomé inicia a tarefa religiosa, ouvindo um mensageiro invisível.

Francisco de Assis percebe emissários do Céu que o exortam à renovação da

Igreja.

Lutero registra a presença de seres de outro mundo.

Teresa d’Ávila recebe a visita de amigos desencarnados e chega a inspecionar

regiões purgatoriais, através do fenômeno mediúnico do desdobramento.

Sinais do reino dos Espíritos seguirão os que crerem, afirma o Cristo. Em todas

as instituições da fé, há os que gozam, que aproveitam, que calculam, que criticam,

que fiscalizam... Esses são, ainda, candidatos à iluminação definitiva e renovadora.

Os que crêem, contudo, e aceitam as determinações de serviço que fluem do Alto,

serão seguidos pelas notas reveladoras da imortalidade, onde estiverem. Em nome

do Senhor, emitindo vibrações santificantes, expulsarão a treva e a maldade, e serão

facilmente conhecidos, entre os homens espantados, porque falarão sempre na lin-

guagem nova do sacrifício e da paz, da renúncia e do amor.

P

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Pão nosso. 28. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 174, p. 363-364.

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22 Reformador • Abr i l 2007 114400

conhecimento de si mesmo

ocê acaba de adquirir umacasa antiga. Seu desejo éreformá-la. Para tanto,

contrata um arquiteto que plane-jará a obra e um engenheiro que aexecutará, auxiliado por outrosprofissionais.

Em dado momento, o enge-nheiro chama um pedreiro paraorientá-lo sobre a reforma deuma de suas paredes, estabelecen-do com ele o seguinte diálogo:

– Esta parede é constituída, nasua intimidade, de uma madeirade excelente qualidade que preci-sa ficar à vista. Você deve traba-lhar nela.

– O que devo fazer? – perguntao pedreiro.

– Deve retirar, com cuidado,todas as camadas que a cobrem.

– Como devo fazer?– Você deve raspar as diversas

camadas que cobrem a madeira,utilizando-se da talhadeira, da li-xa de madeira e das demais ferra-mentas apropriadas para a raspa-gem dos revestimentos de tintaque a cobrem.

Alguns minutos após ter inicia-do a tarefa que lhe foi ordenada, opedreiro volta a falar com o enge-nheiro, perguntando-lhe:

– É possível fazer? Estoudiante de uma grande

dificuldade. Descubroagora que esta pare-

de está coberta nãoapenas com de-mãos de tinta, mastambém com uma

grossa capa de con-creto armado. Infeliz-

mente não poderei exe-cutar a tarefa com as ferra-

mentas que me foram dadas,pois não são adequadas. Pre-

cisarei de outras mais apropriadaspara o trabalho.

– É verdade! – responde o en-genheiro. Para que você possaexecutar a tarefa, novas ferramen-tas deverão ser utilizadas. Pegue láno depósito a picareta, o marrão,a britadeira e tudo o mais que sejanecessário para quebrar a camadade concreto. Se novas dificuldadessurgirem, encontre maneiras deresolvê-las. Não desanimemos! Otrabalho precisa ser feito.

Mesmo munido de novas ferra-mentas, disposição e ânimo firme,o pedreiro resolve, antes de voltarao trabalho, consultar o arquiteto.Passados alguns instantes, chamanovamente o engenheiro e inda-ga-lhe:

– Por que devo fazer? Para quetodo este trabalho? A camada deconcreto é espessa. O esforço des-pendido será muito grande e to-mará muito tempo.

– Você deve executar a tarefa. Éuma ordem. Além do mais, o quequeremos é a estrutura interna demadeira, não esta coberta de con-creto. Vamos! Mãos à obra. Otempo é curto.

– Você tem mesmo certeza deque devo fazer esta tarefa? Eu aca-bei de conversar com o arquitetoe ele me disse que esta parede vai

Sobre a lógica do

VCO S M E D. B. MA S S I

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ser derrubada. Ela não mais exis-tirá nesta casa. Não será em vãomeu esforço? De que adianta re-formar algo que não vai conti-nuar existindo. Não parece istoilógico?

– Ah! Você tem razão – con-cluiu o engenheiro. Eu me equi-voquei. Não prestei atenção nes-se detalhe fundamental. Obriga-do! Trabalhemos na reforma dasoutras partes da casa que ficarãode pé.

Esse pequeno diálogo, emborasingelo, nos oferece uma metáfo-ra que pode ser útil nas maisdiversas situações em que algummétodo prático é fornecido. As-sim, se alguém nos propõe ummeio, um procedimento qualquerpara se realizar uma tarefa, pro-curemos, antes de aplicá-lo, res-ponder às quatro questões desta-cadas em negrito no diálogoacima:

O que fazer? – Isto é, qual émesmo o método sugerido? Épreciso entender bem o que deveser feito, da forma mais clara eprecisa quanto possível. Mas, nãobasta saber o que fazer, é funda-mental saber como fazer. Para isto,precisamos responder também àpergunta:

Como devo fazer? – Comoexecutar o procedimento pro-posto? Todas as condições erecursos disponíveis, no contextoda tarefa, devem ser cuidadosa-mente analisados. As reais condi-ções de aplicação do método pre-cisam ser conhecidas e pondera-

das. Trata-se de colocar a teoriaem prática. Todo cuidado é pou-co. Muitas vezes é na hora da uti-lização prática do meio propostoque ganhamos mais clareza sobreele e compreendemos suas reaislimitações. Dificuldades na exe-cução poderão surgir, neste casoa pergunta seguinte precisará serrespondida:

É possível fazer? – A respostanos permitirá enfrentar os obstá-culos de forma mais segura, poisnos dará a conhecer os limites epossibilidades do procedimentoproposto. Saber dos limites e dasreais condições de aplicação dométodo pode levar ao conheci-mento da diferença entre ummétodo utópico, cujos resulta-dos jamais serão alcançados, eoutro verdadeiramente efetivo,que nos conduzirá com sucessoaos objetivos desejados.

Ninguém, em sã consciência,vai aplicar, com segurança e bomânimo, um método qualquer senão tiver boas razões para fazê-lo.Precisamos de boas razões para osmeios a serem empregados, tantoquanto para os fins almejados.Por isso, mesmo tendo respostassatisfatórias para as três questõesanteriores, a última pergunta quesegue precisará ser respondida.

Por que devo fazer? – Não fazerpor fazer. De que adianta, comono diálogo acima, reformar umaparede que será derrubada. Em-bora nem sempre os fins justifi-quem os meios, sempre devería-mos ter boas razões para ambos.

Não se deveria gastar tempo e esforço em vão.

O leitor deve estar se pergun-tando: “O que tudo isso tem a vercom o tema em epígrafe?”

A resposta é simples. O esque-ma acima, representado pelas qua-tro questões em negrito, forneceuma proposta sobre a estruturalógica da resposta dada por SantoAgostinho à pergunta 919-a, de O Livro dos Espíritos.*

Como o leitor já sabe, as per-guntas 919 e 919-a tratam do co-nhecimento de si mesmo:

919. Qual o meio prático mais

eficaz que tem o homem de se

melhorar nesta vida e de resistir

ao arrastamento do mal?

“Um sábio da Antigüidade vos

disse: Conhece-te a ti mesmo.”

919-a. Compreendemos toda a

sabedoria desta máxima, mas

a dificuldade está precisamente

em cada um conhecer-se a si mes-

mo. Qual o meio de consegui-lo?

Na sua resposta a essa pergunta919-a, Santo Agostinho propõeseu método prático para se alcan-çar o autoconhecimento. Inicial-mente, no primeiro parágrafo, eleaborda as duas primeiras questõesdestacadas acima: O que fazer? eComo devo fazer?

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*Em todas as citações utilizamos a tra-dução de Evandro Noleto Bezerra. EdiçãoComemorativa dos 150 anos de O Livrodos Espíritos, publicada pela FEB.

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O que fazer? O que devo fazerpara alcançar o autoconhecimen-to? Faça perguntas a si mesmo.

Fazei o que eu fazia quando vivi

na Terra: ao fim do dia, interro-

gava a minha consciência, pas-

sava em revista o que havia fei-

to e perguntava a mim mesmo

se não faltara a algum dever, se

ninguém tivera motivo para

se queixar de mim. [...]

Porém, conforme já assinala-mos acima, para se colocar emprática a resposta à primeira ques-tão, deve-se responder também àsegunda questão Como devo fa-zer? Isto é, como fazer perguntas amim mesmo? Que tipo de per-guntas devo fazer? Muitas pergun-tas são possíveis. Como selecio-nar as mais adequadas? Lembre-mos que o subtítulo sobre o auto-conhecimento foi colocado nocapítulo sobre a “Perfeição Mo-ral”. O autoconhecimento não éum fim em si mesmo, ele tem porobjetivo o aperfeiçoamento mo-ral do ser. Na própria pergunta919, o objetivo do autoconheci-mento é explicitado: melhorar nes-ta vida e de resistir ao arrastamen-to do mal. As perguntas devemconduzir a essas finalidades.

[...] Aquele que, todas as noites,

recordasse todas as ações que

praticara durante o dia e per-

guntasse a si mesmo o bem ou

o mal que houvera feito, rogan-

do a Deus e ao seu anjo da

guarda que o esclarecessem,

adquiriria grande força para se

aperfeiçoar, porque, crede-me,

Deus o assistirá. Portanto, ques-

tionai-vos, interrogai-vos sobre

o que tendes feito e com que

objetivo agistes em dada cir-

cunstância; se fizestes alguma

coisa que censuraríeis, se feita

por outrem; se praticastes al-

guma ação que não ousaríeis

confessar. Perguntai ainda isto:

Se aprouvesse a Deus chamar-

-me neste momento, teria que

temer o olhar de alguém, ao en-

trar de novo no mundo dos Es-

píritos, onde nada é oculto?

Examinai o que podeis ter feito

contra Deus, depois contra o

vosso próximo e, finalmente,

contra vós mesmos. As respos-

tas acalmarão a vossa consciên-

cia ou indicarão um mal que

precise ser curado.

Ao começar a aplicar o métodosugerido por Santo Agostinho nosdeparamos com um grande obs-táculo. Como na metáfora do iní-cio deste texto, uma espessa capade concreto bloqueia nosso mun-do íntimo: o auto-engano. Nãoserá fácil atravessá-la.

[...] Mas, direis, como pode

alguém julgar-se a si mesmo?

Não está aí a ilusão do amor-

-próprio, que atenua as faltas e

as torna desculpáveis? O ava-

rento se considera simplesmen-

te econômico e previdente; o

orgulhoso acredita ter apenas

dignidade. [...]

O problema do auto-engano,muito bem identificado pelo Es-

pírito, é a maior barreira ao co-nhecimento de si mesmo. Nossoolhar sobre nós mesmos, pelo me-nos no que diz respeito à busca deautoconhecimento em sentidoamplo, sofre das mesmas limita-ções que surgem quando o dirigi-mos ao mundo fora de nós. Nun-ca temos acesso imediato a toda ariqueza de nosso mundo interior.O autoconhecimento (e tambémo conhecimento das coisas forade nós) é sempre mediado pornossa subjetividade. Não temoscomo sair de nós mesmos e a par-tir de um ponto externo buscarum saber isento e seguro de nossavida interior. A objetividade ab-soluta é impossível. Não se podeimpedir que o objeto de minhaintrospecção, isto é, eu mesmo,sofra a interferência da minhasubjetividade. Não é sem razãoque o ditado popular afirma:“Ninguém é bom juiz em causaprópria”. Trata-se do insolúvelproblema da interferência do su-jeito no objeto, que vale para todaforma de conhecimento, inclusivea introspecção.

Embora não se possa ter umconhecimento isento e seguro,pode-se amenizar a interferênciade nossa subjetividade. No conhe-cimento do mundo fora de mim,busco contrabalançar a interfe-rência da minha própria subjeti-vidade criando um espaço de in-teração intersubjetiva, isto é, sub-metendo o conhecimento à análi-se crítica e pública da razão.

Algo análogo pode ser pratica-do no autoconhecimento. Pode-mos analisar racionalmente nossa

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conduta, utilizando-nos das con-tribuições alheias a nosso respei-to. Para aprendermos com maissegurança sobre nós mesmos,devemos prestar atenção nas opi-niões dos outros. Muitas vezes, es-sas opiniões podem ser percebi-das sem que nada tenha sido dito:basta observar com atenção as rea-ções e emoções que neles desper-tamos. Quanto mais isento e sin-cero for o juízo de alguém sobrenós, melhor poderemos aprovei-tá-lo. Por isso é muito importanteconhecer a opinião de nossos ini-migos. Precisamos dos outros,mesmo no autoconhecimento.Mais uma lição da sabedoria divi-na, conseqüência da lei de socie-dade. Nem mesmo o progressomoral individual dispensa a aju-da, quiçá involuntária, dos nossossemelhantes.

Claro que a decisão final sobreo valor da nossa própria condutaserá sempre nossa. As contribui-ções dos outros deverão ser ho-nestamente ponderadas à luz danossa razão. A interferência da mi-nha subjetividade é inevitável. Daía importância do desejo sério demelhorar-se, de se ouvir a voz daconsciência, guardiã da probidadeinterior.

[...] Quando estiverdes indeci-

sos sobre o valor de uma de

vossas ações, perguntai como a

qualificaríeis, se praticada por

outra pessoa. Se a censurais nos

outros, ela não poderia ser

mais legítima, caso fôsseis o

seu autor, porque Deus não usa

de duas medidas na aplicação

de sua justiça. Procurai tam-

bém saber o que pensam os

outros e não desprezeis a opi-

nião dos vossos inimigos, já

que estes não têm nenhum

interesse em disfarçar a verda-

de e Deus muitas vezes os colo-

ca ao vosso lado como um es-

pelho, a fim de que sejais ad-

vertidos com mais franqueza do

que o faria um amigo. Aquele,

pois, que tem o sério desejo de

melhorar-se perscrute a sua

consciência, a fim de extirpar

de si as más tendências, como

arranca as ervas daninhas do

seu jardim; faça o balanço de

sua jornada moral, avaliando, a

exemplo do comerciante, seus

lucros e perdas, e eu vos ga-

ranto que o lucro sobrepujará

os prejuízos. Se puder dizer que

foi bom o seu dia, poderá dor-

mir em paz e aguardar sem te-

mor o despertar na outra vida.

Como se vê, a tarefa do auto-conhecimento exige esforço eboa vontade. Ela precisa ser cons-tante e permanente. Mas, dirãoalguns: “Vale a pena esse esfor-ço?”. Se a parede vai deixar deexistir, por que reformá-la? Deque adianta todo o empenho pa-ra romper a barreira árdua e difí-cil do auto-engano se a vida duratão pouco?

Não basta, portanto, ter respos-tas adequadas para as três primei-ras questões destacadas na metá-fora inicial. É fundamental tertambém uma boa resposta para a quarta e última “Por que devofazer?”.

Por que devo realizar essa tare-fa espinhosa do autoconhecimen-to? Deixemos a resposta com San-to Agostinho:

[...] pode-se muito bem con-

sagrar alguns minutos para

conquistar a felicidade eterna.

Não trabalhais todos os dias

com vistas a juntar haveres

que vos garantam repouso na

velhice? Esse repouso não é o

objeto de todos os vossos dese-

jos, o fim que vos faz suportar

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fadigas e privações passagei-

ras? Pois bem! que é esse des-

canso de alguns dias, perturba-

do pelas enfermidades do cor-

po, em comparação com o que

espera o homem de bem? Não

valerá a pena fazer alguns esfor-

ços? Sei que muitos dizem que

o presente é positivo e o futuro

é incerto. Ora, é exatamente

esta a idéia que estamos encar-

regados de destruir em vossas

mentes, pois desejamos fazer

que compreendais esse futuro,

de modo a não restar nenhuma

dúvida em vossa alma. [...]

Em artigo publicado no Refor-mador, julho de 1997, abordamos aestrutura didática e lógica de OLivro dos Espíritos. Nosso propósi-to, naquele artigo, foi o de fornecersubsídios para uma análise cuida-dosa da “Tábua das Matérias”, istoé, do índice de O Livro dos Espíritos,com o objetivo de explicitar umalógica subjacente à ordem e à distri-buição metódica das matérias.

Algo análogo fazemos agoraquando procuramos mostrar quehá uma lógica subjacente à respos-ta dada por Santo Agostinho àquestão 919-a. Esta afirmativa va-le para todo o livro. Sua lógica eprofundidade jamais serão esgo-tadas por nós. Teremos sempre oque aprender com ele. E a razão ésimples, ele foi escrito pelos Es-píritos mais evoluídos que já vive-ram entre nós. Neste ano em quecomemoramos o Sesquicentená-rio deste livro notável, saibamosvalorizá-lo estudando-o com de-dicação e apreço.

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Irmãos! Todo o planeta, alegre, comemorada doutrina da Luz o sesquicentenário!É do Cristo a vitória e esplende num cenáriode Esperança e de Paz, em refulgente aurora!

Já há algum tempo o clarim da regeneraçãoecoa lá do Espaço, acalentando o mundo:– “A Terra deixará de ser abismo fundode dor para ser Luz do Evangelho, em ação!

Espíritas, vibrai! Sede a voz da Esperançano Cristo que nos quer Obreiros do Senhor!Trabalhemos com afinco e expressivo fervorpara que a sua obra acabe sem tardança!

Integrados no Bem, trabalhemos, ditosos,por um mundo feliz sem ódios, sem maldade,alertando com Amor a toda a Humanidadeque os que no Cristo estão são sempre venturosos!

São chegados, enfim, os tempos anunciados.Nossas vozes, portanto, às vozes do Universounamos com alegria; e expondo em cada versocerteza que por Deus estamos esperados!

Almas ternas e irmãs! Diz-nos Jesus, cantando,que abrigar-nos, no Céu, deseja com alegria!E apresentar-nos quer ao Pai, no eterno dia,nos amando, a sorrir, e nos abençoando!

Neste século e meio expresso todo em Luz,sintamo-nos, irmãos, para sempre felizes.Com as mentes a limpar de amargas cicatrizes,Sintamos-nos em Paz ao lado de Jesus!

Brasília, 21 de novembro de 2006

Inaldo Lacerda Lima

Ante o Sesquicentenário

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uase sempre, faz-se refe-rência ao aspecto pro-gressista da Doutrina Es-

pírita, referenciando o Codifica-dor e a Codificação, a partir daexpressão foi dada a primeira pa-lavra... Porém, com algumas alte-rações na frase, embora preser-vando esta idéia, a qual sinalizaque o Espiritismo terá seu lugarno futuro, uma vez que seus ensi-namentos decorrem da Lei Natu-ral, pelas revelações dos Espíri-tos, pela busca científica dos ho-mens, na elaboração da DoutrinaEspírita e na organização do Movi-mento Espírita.

Há diversas passagens na Codi-ficação onde essa idéia pode serencontrada, das quais separamosalgumas para ilustrar a temáticadeste artigo.

Em O Livro dos Médiuns, Kar-dec observa: “[...] Importa se nãoesqueça que nos achamos nos pri-mórdios da ciência e que ela estálonge de haver dito a última pala-vra sobre esse ponto, como sobremuitos outros. [...]”. (Cap. VII,item 124.)

Mas, é em A Gênese, capítulo I,item 55, que Allan Kardec concluicom verdadeira ênfase a condição

progressista da Doutrina Espírita:“Um último caráter da revelaçãoespírita, a ressaltar das condiçõesmesmas em que ela se produz, éque, apoiando-se em fatos, tem queser, e não pode deixar de ser, essen-cialmente progressiva, como todasas ciências de observação. [...]

[...] Deixando de ser o que é,mentiria à sua origem e ao seu fimprovidencial. Caminhando de parcom o progresso, o Espiritismo ja-mais será ultrapassado, porque, senovas descobertas lhe demonstras-sem estar em erro acerca de um pon-to qualquer, ele se modificaria nesseponto. Se uma verdade nova se reve-lar, ele a aceitará.1

1Diante de declarações tão níti-

das e tão categóricas, quais as

que se contêm neste capítulo,

caem por terra todas as alegações

de tendências ao absolutismo e à

autocracia dos princípios, bem

como todas as falsas assimilações

que algumas pessoas prevenidas

ou mal informadas emprestam à

doutrina. Não são novas, aliás,

estas declarações; temo-las repe-

tido muitíssimas vezes nos nos-

sos escritos, para que nenhuma

dúvida persista a tal respeito.

Elas, ao demais, assinalam o ver-

dadeiro papel que nos cabe,

único que ambicionamos: o de

mero trabalhador”.

Sendo o Espiritismo de origemdivina, isto é, tendo sido os Espíri-tos os que o revelaram à Humani-dade terrena, por diversos médiunse em diversos locais do globo, per-gunta-se: onde a iniciativa dos ho-mens? Onde o livre-arbítrio? Aindaem A Gênese, cap. I, item 13, Kar-dec nos informa: “[...] enfim, por-que a doutrina não foi ditada com-pleta, nem imposta à crença cega;porque é deduzida, pelo trabalhodo homem, da observação dos fa-tos que os Espíritos lhe põem sobos olhos e das instruções que lhedão, instruções que ele estuda, co-menta, compara, a fim de tirar elepróprio as ilações e aplicações. Nu-ma palavra, o que caracteriza a reve-lação espírita é o ser divina a suaorigem e da iniciativa dos Espíritos,sendo a sua elaboração fruto do tra-balho do homem”.

Ora, como submeter à razão eao livre-arbítrio todos os conheci-mentos gerados pelos Espíritos epelos homens, tanto na análise des-

Considerações sobre oProgresso do Espiritismo

Q

Foi dada a primeira palavra...MA RC E LO FI R M I N O DI A S*

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ses últimos sobre as comunicaçõesdos Espíritos, quanto das descober-tas científicas, e poder reconhecer oque de fato é progresso do Espiri-tismo e o que é mero equívocoe/ou pura enganação humana oudos Espíritos?

Em relação à análise dos conhe-cimentos revelados pelos Espíritos,não há melhor recomendação doque a do Controle Universal do En-sino dos Espíritos, onde os homensde bom senso e estudiosos poderãoencontrar referência segura paraseus estudos.

Em relação à análise da literatu-ra humana, bem como das conclu-sões científicas, recomendamosque se aplique um critério seme-lhante ao do Controle Universal doEnsino dos Espíritos a toda produ-ção científica e literária humana,evitando assim cair nas armadilhasdas impressões parciais de pessoasou grupos, mesmo científicos, ebuscando o que se reconhece comoverdades práticas e universalmenteaceitas. Não é raro ocorrer revisões

em publicações científicas, dandoconta de erros ou fraudes em pes-quisas científicas.

Isto não invalida a elaboraçãode hipóteses, antes as coloca no es-tado geral de observação, até que secomprove sua legitimidade.

O Controle Universal do Ensinodos Espíritos é abordado no item IIde O Evangelho segundo o Espiritis-mo, onde o insigne CodificadorAllan Kardec, na “Introdução” da-quela primorosa obra, faz impor-tante explanação sobre o mesmo.

Lendo o texto de Kardec, verifi-ca-se que ele o tomava inicialmen-te (o Controle Universal do Ensinodos Espíritos) como um mecanis-mo universal de coesão dos princí-pios espíritas e de propagação doensino dos Espíritos, como se podever: “Nessa universalidade do ensi-no dos Espíritos reside a força doEspiritismo e, também, a causa desua tão rápida propagação. En-quanto a palavra de um só homem,mesmo com o concurso da im-prensa, levaria séculos para chegarao conhecimento de todos, milha-res de vozes se fazem ouvir simul-taneamente em todos os recantosdo planeta, proclamando os mes-mos princípios e transmitindo-osaos mais ignorantes, como aosmais doutos, a fim de que não hajadeserdados. É uma vantagem deque não gozara ainda nenhuma dasdoutrinas surgidas até hoje. [...]”.

E, em seguida, acrescenta a se-gunda finalidade, referindo-se aoengano cometido por qualquer Es-pírito: “[...] Ela lhe faculta inatacá-vel garantia contra todos os cismas

que pudessem provir, seja da ambi-ção de alguns, seja das contradiçõesde certos Espíritos [...]”.

E completa Kardec, concluindosobre como discernir em relação aoque ensinam os Espíritos: “A con-cordância no que ensinem os Espí-ritos é, pois, a melhor comprova-ção. [...]

Uma só garantia séria existe parao ensino dos Espíritos: a concordân-cia que haja entre as revelações queeles façam espontaneamente, servin-do-se de grande número de médiunsestranhos uns aos outros e em várioslugares.

Vê-se bem que não se trata aquidas comunicações referentes a inte-resses secundários, mas do que res-peita aos princípios mesmos dadoutrina. Prova a experiência que,quando um princípio novo tem deser enunciado, isso se dá esponta-neamente em diversos pontos aomesmo tempo e de modo idêntico,senão quanto à forma, quanto aofundo”. (Op. cit., item II.)

Outro ponto importante, naanálise do Controle Universal doEnsino dos Espíritos, diz respeito àpossibilidade que se tenha de obterinformações de diferentes locais,médiuns e Espíritos, como de-monstrado acima e referenciadopor Kardec em outro parágrafo:“Na posição em que nos encontra-mos, a receber comunicações deperto de mil centros espíritas sé-rios, disseminados pelos mais di-versos pontos da Terra, achamo--nos em condições de observar so-bre que princípio se estabelece a

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concordância. Essa observação éque nos tem guiado até hoje e éa que nos guiará em novos cam-pos que o Espiritismo terá de ex-plorar. [...]”. (Op. cit., item II.)

Para muitas pessoas isto podeparecer uma posição inalcançável,pois, perguntar-se-ia: quem e,principalmente, quantos médiunsenviariam suas comunicações amim? Que referencial estabeleci noMovimento Espírita para que istoocorresse? Grande engano, pois omercado editorial espírita propor-cionou essa privilegiada posição deanálise para todos os que desejemfazê-la, bastando para isso quese leiam as obras disponíveis, que setenha o conhecimento e o discerni-mento necessários para tal, ou fazê--lo em conjunto com outros, o queseria mais recomendado.

Tamanha a importância doControle Universal do Ensino dosEspíritos, que Kardec arrematou:“Essa verificação universal consti-tui uma garantia para a unidadefutura do Espiritismo e anularátodas as teorias contraditórias. Aíé que, no porvir, se encontrará ocritério da verdade. O que deu lu-gar ao êxito da doutrina expostaem O Livro dos Espíritos e em OLivro dos Médiuns foi que em todaa parte todos receberam direta-mente dos Espíritos a confirma-ção do que esses livros contêm. Sede todos os lados tivessem vindoos Espíritos contradizê-la, já de hámuito haveriam aquelas obras ex-perimentado a sorte de todas asconcepções fantásticas. Nem mes-

mo o apoio da imprensa as salva-ria do naufrágio, ao passo que,privadas como se viram desseapoio, não deixaram elas de abrircaminho e de avançar celeremen-te. É que tiveram o dos Espíritos,cuja boa vontade não só compen-sou, como também sobrepujou omalquerer dos homens. [...]”. (Op.cit., item II.)

E complementa, com imparcia-lidade, o Codificador: “Os princí-pios acima não resultam de umateoria pessoal: são conseqüênciaforçada das condições em que osEspíritos se manifestam. É evidenteque, se um Espírito diz uma coisade um lado, enquanto milhões deoutros dizem o contrário algures, apresunção de verdade não pode es-tar com aquele que é o único ouquase o único de tal parecer. [...]...........................................................

A opinião universal, eis o juizsupremo, o que se pronuncia emúltima instância. Formam-na todasas opiniões individuais. Se umadestas é verdadeira, apenas tem nabalança o seu peso relativo. Se éfalsa, não pode prevalecer sobre to-das as demais. Nesse imenso con-curso, as individualidades se apa-gam, o que constitui novo insuces-so para o orgulho humano. [...]”.(Op. cit., item II.)

Essas reflexões nos parecem ro-teiro seguro ao equilíbrio entre ocrescimento do Movimento Espíri-ta e as iniciativas que os dois planoselaboram, na progressão da Dou-trina Espírita, junto aos coraçõeshumanos.

*Marcelo Firmino Dias é presidente da

Associação Brasileira de Divulgadores do

Espiritismo (Abrade).

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No dia 21 de abril, das 8 às 18 horas, grande evento em come-moração dos 150 anos do Espiritismo tem como co-patrocinadoresa União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo (USE), aFederação Espírita do Estado de São Paulo (FEESP), a AliançaEspírita Evangélica, a Fundação Espírita André Luiz, as AssociaçõesMédico-Espíritas de São Paulo e do Brasil (AME), a Associação deEditoras, Distribuidoras e Divulgadores do Livro Espírita (Adeler), aUnião Fraternal – Setor III e o Centro Espírita Bezerra de Menezes(Santo André). O evento ocorre no Centro de Exposições Imigrantes,km 1,5 na Rodovia dos Imigrantes, em São Paulo, e conta com pales-tras de Divaldo Pereira Franco, José Raul Teixeira, além de mais deuma dezena de expositores, números musicais, exposições, livraria esessões de autógrafos, e com apresentação de filmes ligados à temáti-ca espírita.

Movimento Espírita de São Paulo comemora os 150 anos do Espiritismo

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á há algum tempo que a neu-rofisiologia tem-nos mostradocomo a percepção do que cha-

mamos “realidade” não passa deuma interpretação feita pelo nos-so cérebro a partir dos estímulosrecebidos do meio que nos cerca.

Todas as nossas percepções vêmda despolarização da membranade neurônios modificados quechamamos de receptores neurais.São exatamente estas estruturasque nos fazem perceber a luz, osom, os sabores, os odores, além

de tudo o que faz contato diretocom o nosso corpo, as chamadassensações somestésicas.

Ocorre que, seja lá qual for o re-ceptor estimulado, e existem mui-tos tipos, o produto final é sempreo mesmo: ondas eletroquímicasque se propagam de neurônio aneurônio até chegarem ao cérebropara, então, serem “interpretadas”,isto é, o nosso cérebro vai construira informação, ou melhor – diría-mos –, uma “realidade”, a partirdestes impulsos eletroquímicoschamados de “potenciais de ação”.

Somente esta verdade fisiológi-ca já é suficiente para gerarmosum caos completo em nossoconceito de realidade, concei-to esse que norteia todas asnossas referências, já que, apartir dela, notamos que tu-do o que vemos, ouvimos,degustamos, cheiramos ousentimos em nosso corpo co-

mo tato, temperatura ou pro-priocepção, existe, de fato, ape-nas nos nossos cérebros, e não

como “realidade” da maneira co-mo acreditávamos anteriormente.

Novas tecnologias em examesde imagem, como a tomografiapor emissão de fótons (SPECT),têm-nos permitido confirmarque, para o nosso cérebro, nãoexiste nenhuma diferença entre oque experimentamos através dosnossos receptores, e o que experi-mentamos através das nossaslembranças, já que comer umamaçã ou apenas lembrar-se de co-mê-la ativa os mesmos neurônios,o que vem corroborar, ainda mais,com a nossa primeira conclusão,qual seja, o ambiente físico, quesempre tomamos como sendo amais sólida realidade, aquela quenorteia a razão humana, nãopassa de uma grande ilusão criadapelas células do nosso tecido ner-voso a partir de interferências domeio ambiente.

Um importante trabalho foipublicado em 2001* pelos douto-

está dentro de nós

JDÉ C I O IA N D O L I JR.

O Reino de Deus

*NEWBERG, A.; ALAVI, A.; BAIME, M.;POURDEHNAD, M.; SANTANNA, J.;D’AQUILI, E. – The measurement of regio-nal cerebral blood flow during the complexcognitive task of meditation: a preliminarySPECT study. Psychiatry Res.; v. 106(2):p. 113-22, apr. 2001.

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res Andrew Newberg e Eugened’Aquili, em que a tecnologia deneuroimagem funcional, referidaacima, foi utilizada para estudaros cérebros de monges tibetanosem estado de meditação profun-da, assim como de freiras francis-canas em prece contemplativa. Aanálise das imagens mostrou quea experiência “mística” é tão oumais real, para o cérebro, do queas percepções sensoriais, pois aativação cortical é plena e direta,sem que ocorram as “interpreta-ções” das áreas mais primitivas donosso encéfalo. Poderíamos dizer,a partir desta pesquisa, que o con-tato com Deus, através das nossaspráticas religiosas mais legítimascomo a prece sincera ou a buscade uma transcendência espiritual,é uma experiência real que nãodepende de um arranjo específicodos circuitos formados por nossosneurônios.

Outras recentes conclusões daFísica têm ajudado, também, a vi-rar de cabeça para baixo nossasprofundas convicções acerca docotidiano mais banal de nossas vi-das como, por exemplo, o fato dea matéria ter muito mais espaçosvazios do que partículas, ou, quepossa existir mais de uma realida-de ocorrendo ao mesmo tempo,que o tempo é relativo, ou ainda,que um elétron seja capaz de mu-dar seu comportamento, apenasporque está sendo observado.

A essa altura poderíamos afir-mar que não temos mais pontosde partida para determinar algoque nos pareça seguramente real?

Muito mais antiga do que qual-

quer uma destas referênciascientíficas é o próprio Evan-gelho, onde Jesus já nos adver-tia que: “O reino de Deus estádentro de nós”, ou ainda, nosensinamentos dados pelaDoutrina Espírita, asseve-rando que o mundo materialnão passa de uma grande ilusão, eque o mundo real é o mundo es-piritual, ou seja, o reino de Deusjá anunciado pelo Mestre Jesus.

Onde devemos procurar a rea-lidade senão dentro de nós?

Como alcançar algum grau desanidade se não evitarmos a con-taminação dos estímulos que bom-bardeiam nosso cérebro com po-tenciais de ação que nos iludem eque acabam por nos afastar darealidade do Espírito?

Cremos haver chegado ao pon-to que nos permite afirmar, cien-tificamente, que o mundo mate-rial é o mundo das ilusões transi-tórias enquanto o mundo real éaquele que existe em nossa alma,e que está dentro de nós.

Deus é real do ponto de vistaneurofisiológico, enquanto quetudo aquilo que nos parecia tãosólido e palpável é, na verdade, oque poderíamos chamar de ima-ginativo e efêmero, numa inver-são total dos conceitos até entãoaceitos. Assim, podemos dizer quea grande revelação trazida peloCristo, cuja instalação em nossacivilização ainda está em curso, éque: “O reino de Deus está dentrode nós”, conceito revolucionárioposto que tem um enorme poten-cial de transformação de cada um,e em todos nós ao mesmo tempo.

O Espiritis-mo derruba asbarreiras entre Ciênciae Religião e abre caminhopara a interpretação das pes-quisas científicas, porque mostrao sentido que as leis naturais dãoà vida; e o faz, porque conhece erevela estas leis, que nada mais sãodo que as leis divinas que regem oUniverso. Interagindo conheci-mentos científicos, moral cristã efilosofia de vida, ele se colocacomo autêntico marco da passa-gem de eras. Sendo assim, sómesmo a Doutrina codificada porKardec pode nos conduzir nessadifícil hora, dando-nos subsídiospara transformar o planeta, a fimde que ele possa galgar um novopatamar de evolução.

Que vejam os que têm olhos dever.

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uma terça-feira de maiode 1855, às 20 horas, oprofessor Hippolyte Léon

Denizard Rivail compareceu à re-sidência da senhora Plainemai-son, à rua Grange-Batelière, 18,em Paris, para participar, pela pri-meira vez, de uma reunião com asmesas girantes, que faziam suces-so na Cidade Luz.

No dia 18 de abril de 1857,com o pseudônimo de AllanKardec, o professor publicava O Livro dos Espíritos, a obra fun-damental da Doutrina Espírita,que está completando cento ecinqüenta anos.

Você já parou para pensar noassunto, leitor amigo?

Em menos de dois anos, o Co-dificador:

� Iniciou-se no intercâmbiocom o Além.

� Constatou a realidade da vidaalém-túmulo e da manifesta-ção dos Espíritos.

� Propôs milhares de indaga-ções aos Mentores espirituaisque o assistiam.

� Selecionou respostas, colo-cou-as em ordem e deu cor-

po de doutrina a idéias que,isoladamente, arranhavam arealidade, mas, em conjun-to, consubstanciam autênticarevelação.

� Evidenciou a anterioridade econtinuidade da vida física,dando sentido e objetivo àexistência humana.

Extremamente cuidadoso, uti-lizou vários médiuns, submeten-do-os a indagações idênticas so-bre questões espirituais e cotejan-do as respostas, no que denomi-nava Controle Universal das Ma-nifestações, a ver se exprimiam arealidade ou apenas a opinião deum Espírito ou médium.

Isso tudo sem um computador,sem Internet, sem Google... Nãodispunha nem mesmo de máqui-na de escrever.

Foi tudo compilado, desenvol-vido, organizado, de forma ma-nuscrita, em longas horas de estu-do e reflexão, que se estendiammadrugada adentro.

Depois a composição tipográfi-ca, as revisões cuidadosas, os acer-tos, tudo na unha.

Tão grandiosa quanto a pró-pria Codificação foi a ação doCodificador.

Muito justas, portanto, as ho-menagens que lhe rendemos nascomemorações do Sesquicentená-rio de nossa obra maior.

Parece-me, todavia, amigo lei-tor, que deveríamos ir um poucoalém: não apenas admiradores,mas amigos de Kardec.

Que tipo de homenagem maiso agradaria?

Lembro algumas observaçõesde Jesus aos discípulos, na últimaceia (João, 15:12 e 14):

Vós sois meus amigos, se fizerdeso que vos mando.

E o que esperava Jesus dos dis-cípulos?

O meu mandamento é este:amai-vos uns aos outros como euvos amei.

Que se amassem, portanto, fa-zendo uns pelos outros todo obem que desejariam receber.

Missionário do Cristo que veioalargar os horizontes humanos,em relação aos objetivos da exis-tência, Kardec aponta nessa mes-ma direção.

Não obstante, é interessante

Homenagens

NRI C H A R D SI M O N E T T I

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que, a par desse empenho, ofere-çamos ao Codificador outra ho-menagem – a divulgação de suamensagem.

Especificamente, em face dascomemorações deste ano, devemerecer nossa atenção O Livro dosEspíritos.

Muito pode ser feito nesse par-ticular. Algumas sugestões:

� Elegê-lo como objeto de pre-sente para amigos, familiares,colegas de serviço. Nas festasde fim de ano, o indefectívelamigo secreto é oportunida-de preciosa.

� Doação a pessoas sem recur-sos.

� Brinde aos associados do clu-be do livro espírita.

� Palestras comemorativas, en-focando os temas abordadospor Kardec, estimulando osouvintes sedentos de saber aprocurar a fonte.

� Campanhas do tipoUm exemplar de “OLivro dos Espíritos”em cada mão, comvendas a preço decusto.

� Distribuição de fo-lhetos com trechossucintos do livro,como incentivo àleitura.

� Utilização dos meiosde comunicação, jor-nais, rádio, televisão, enfati-zando que em O Livro dos Es-píritos estão as respostas àsnossas indagações e angústiasexistenciais.

É aquele dar-se as mãos paradistribuir O Livro dos Espíritosa mão cheia, como diria CastroAlves.

Uma palavrinha final, leitoramigo:

Em O Livro dos Espíritos está osubstrato da sabedoria humana,que nos permite ensaiar um com-portamento melhor, uma visãomais ampla de nossas necessida-des, uma participação mais ativapela construção de um mundomelhor.

Vivenciá-lo plenamente é desa-fio para séculos de esforço e de-dicação.

Divulgá-lo não exige tanto as-sim. Apenas um pouco de boavontade.

Os Correios lançam um SeloPersonalizado, em homenagemaos 150 anos da publicação de OLivro dos Espíritos. O evento delançamento do Selo e do Carim-bo Obliterativo ocorre durante aabertura do 2o Congresso Espíri-ta Brasileiro, no dia 13 de abril,nas dependências do Centro deConvenções Ulysses Guimarães,em Brasília.

Trata-se do quinto selo oficialem homenagem a Kardec lança-do pelos Correios por solicitaçãoda FEB. Os demais foram emiti-dos por ocasião dos Centenáriosde O Livro dos Espíritos (1957),de O Evangelho segundo o Espiri-tismo (1964), da desencarnaçãodo Codificador (1969), e do Bi-centenário de seu nascimento(2004).

Correios lançam novo selo sobre Espiritismo

Novo selo lançado pelos Correiosem homenagem aos 150 anos da

publicação de O Livro dos Espíritos

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A FEB e o Esperanto

uando o primeiro livro da Codificação Es-pírita foi dado a público pela ação missioná-ria de Allan Kardec, um outro mensageiro do

Cristo ainda se preparava para descer à Terra emmissão absolutamente harmônica com a grande re-novação de que O Livro dos Espíritos seria portador.Com efeito, em 1857, quandoas luzes do Consolador Pro-metido, pelo surgimento doprimeiro veículo de suas reve-lações, inauguram uma novaera de progresso na Terra, asPotências Diretoras dos desti-nos da Humanidade decidiam--se por enviar ao mundo umdos mais categorizados gêniosconsagrados à Fraternidade,confiando-lhe a bela missão deaproximar os povos sobre asbases de um fundamento lin-güístico neutro.

Reencarnava na pequena ci-dade polonesa de Bialystok, em1859, aquele que viria a ser oiniciador da Língua Internacio-nal Neutra Esperanto, a mais al-ta expressão da evolução lingüística no mundo, po-deroso instrumento de intercomunicação diante doqual renitentes barreiras de preconceitos entre os po-vos deveriam abalar-se e gradualmente ruir, porconstituir-se tal instrumento, juntamente com sua

ideologia de justiça e fraternidade, em sólida ponteentre culturas, raças, religiões, sobre a qual se estabe-leceriam salutares intercâmbios sob a inspiração depositiva neutralidade geradora do respeito recíprocoentre diferenças de qualquer natureza.

Por dar cabal cumprimento a programa de tãovasto alcance, tem-se posicionado, portanto, a

Língua Internacional Neutra comopoderoso auxiliar das Inteligênciasque, sob a orientação do DivinoMestre, lançam os alicerces dasconstruções do futuro, imprimin-do-lhes a chancela da unificação.

Está efetivamente o esperantoem perfeita sintonia com o progra-ma de renovação geral lançadopelos Espíritos Superiores em O Li-vro dos Espíritos, especialmente noque diz respeito às leis morais eespecificamente com aquela queaponta o progresso como diretrizinexorável na marcha de indivíduose povos, fadados a realizar a unifica-ção em todos os campos em que semanifestam sua inteligência e seu

sentimento. Além disso, serve, tem servido emuito servirá o esperanto à divulgação mais amplados princípios espíritas no seio de uma coletividadegenuinamente internacional e essencialmente idea-lista, de cujos esforços vão surgindo versões excelen-tes de obras doutrinárias em línguas nacionais

O Livro dos EspíritosO Esperanto e

QAF F O N S O SOA R E S

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baseadas em suas traduções para a Língua Interna-cional Neutra.

Finalizaremos nossa matéria com a transcriçãoparcial de significativo trecho da mensagem que oEspírito Abel Gomes ditou, em 1948, a Chico Xavier,trecho que bem evidencia a estreita ligação entre ostrês grandes Ideais – Evangelho, Espiritismo, Espe-ranto – na visão dos trabalhadores do mundo espi-ritual:

A nossa senha aos companheiros ainda não sofreualteração. Evangelho, Esperanto e Espiritismo consti-tuem para nós outros, agora, uma trilogia bendita detrabalho para diversas encarnações. [...].......................................................................................

Com o Evangelho acenderemos nova luz na cons-ciência coletiva, cooperando na missão redentora deque o Brasil se acha investido na revivescência do Cris-tianismo restaurado; com o Esperanto, abrimos novocaminho de fraternidade real entre almas e povos, paraque o pensamento cristão consolide as suas diretrizessalvadoras nos mais variados setores do mundo, prepa-rando o futuro milênio em bases mais justas de com-preensão e solidariedade efetivas; e com o Espiritismo

descerraremos novos horizontes à visão geral para queentendimento sadio prevaleça na mentalidade terres-tre, em todas as fases evolutivas, inclinando as criatu-ras à dignidade humana e ao conhecimento substan-cial da justiça que determina seja concedido a cada umde acordo com as suas obras.

Segundo observamos, o programa é vastíssimo e re-quisita não somente entusiasmos do neófito, mas a co-ragem e a abnegação do apóstolo.* (Destaques nos-sos.)

A comemoração do Sesquicentenário da publica-ção de O Livro dos Espíritos ensejou a que a Casa deIsmael desse a público uma edição especial de suaversão na Língua Internacional Neutra. Está, portan-to, mais uma vez disponível, agora em 3a edição, o LaLibro de la Spiritoj, útil não somente do ponto de vis-ta doutrinário, mas também lingüístico, uma vez queresponde por sua tradução o erudito esperantista-es-pírita Prof. Dr. Luís da Costa Porto Carreiro Neto.

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*Reformador, novembro de 1948, “A preparação do porvir”.p. 20(264)-21(265).

Sombra e luz Ombro kaj lumoVem a noite, volta o dia,Cresce o broto, nasce a flor,Vai a dor, surge a alegriaDourando a manhã do Amor.

Assim, depois da amarguraQue a vida terrena traz,A alma encontra na AlturaA luz, a ventura e a paz.

Post la nokto tago venas,post bur1on’ naski1as flor’;1oj’ kaj amo se nin benas,la doloro fu1as for.

Tiel post la amara5ojde la vivo sur la ter’,al l’anim’ en la alta5ojvenas lumo, pac’, prosper’.

Casimiro Cunha

Fonte: XAVIER, Francisco C. Parnaso de além-túmulo. 18. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. p. 204. EdiçãoComemorativa – 70 anos.Tradução para o esperanto de Francisco Valdomiro Lorenz em Vo/oj de poetoj el la spirita mondo. 2. ed. Riode Janeiro: FEB, 1987. p. 135.

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orrem os dias tumultuososda atualidade. Fatos de to-da ordem abalam as estru-

turas da sociedade.De um lado, as transformações

físicas do planeta forçam as popu-lações a se reajustar em grupo, emfunção de tsunamis e agitos vul-cânicos, tempestades intensas esecas prolongadas.

Por outro, acessos de violênciaindividual e coletiva chocam peloabsurdo dos abusos, em que tirara vida de pessoas virou gesto derápida e fácil execução, além decrimes silenciosos, praticados àscustas do silêncio das vítimas e dodescaso de autoridades formais.

Em meio ao caos e à desordem,nós, seres do presente, com aconsciência focada no futuro denosso tempo, voltamos os olhospara os 150 anos que nos separamdo primeiro dia da CodificaçãoEspírita, a fim de relembrar a fi-gura do Codificador.

O espírita é assim. Pés firmesno chão da realidade e emoçõesfocadas na transformação de seutempo, sob o ponto de vista darealidade espiritual. Assim, ele vaiao passado quando é necessário,

sempre com o desejo de aprenderum tanto mais.

Nosso viajante do tempo está,desta forma, lá no começo de tu-do, em abril de 1857, sentindo osdesafios que o mestre de Lyon en-frentaria pelos próximos dozeanos. Vê os primeiros embatescom os céticos da racionalidade,as primeiras adesões ao Movi-mento, a intensa atividade juntoaos grupos mediúnicos, a fim dereceber e analisar as comunica-ções que chegam do mais além.

Ele entra na singela residênciada família Rivail e vai até o peque-no escritório onde fica a escrivani-nha, sobre a qual o professor deixaos registros das pesquisas acerca darevelação trazida pelos Espíritos.

Pelas ruas de Paris, ouve os ecosda grande novidade. Jornais e pu-blicações religiosas sentem o im-pacto do advento do mundo espi-ritual e reagem com fervor, acu-sando, denegrindo, desprezandoou simplesmente anunciando quealgo diferente começa a se agitarnos salões da aristocracia francesa.

Acompanha a multiplicaçãodas cartas que lotam a caixa postaldo pesquisador. Correspondênciasdo mundo todo chegam a Kardecpara colaborar com a Nova Reve-

lação, indicando que o tempo ésempre presente no mundo dosfenômenos espíritas. Em todo lu-gar, de dia ou de noite, os relatosse confirmam, evidenciando queos Espíritos definitivamente ha-viam chegado para estabelecer osfundamentos superiores da rela-ção entre os dois mundos.

Mais adiante, sente o nascimen-to da tarefa missionária dos cola-boradores de Kardec. León Denisapaixona-se, ainda menino, pelosideais espíritas. Camille Flamma-rion, já amadurecido nas pesqui-sas sobre Astronomia, oferece suacontribuição valiosa para o arca-bouço filosófico e científico docorpo doutrinário. Gabriel Delan-ne, nascido apenas 25 dias antesdo lançamento da primeira ediçãode O Livro dos Espíritos, herda aprofunda amizade de seu pai comKardec para encantar-se com asquestões pertinentes à evoluçãoanímica e outros assuntos.

O tempo volta seus impulsos pa-ra o presente. Foi bom ter visitadoa intimidade do Codificador. Agoraé possível saber o que ele passou,

Procura-se Allan Kardec

CCA R LO S AB R A N C H E S

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para que tudo seguisse conforme oplanejado pelo coordenador da ta-refa, o Espírito Verdade.

Uma outra pergunta faz-se im-portante. Ela é feita por quemquer encontrar Kardec nos tem-pos de agora.

Por onde anda o mestre fran-cês, base segura da Doutrina quetrouxe Jesus de volta ao coraçãoda Humanidade em sua pureza esimplicidade originais?

Em busca da resposta, o viajan-te caminha um pouco e vê umgrupo de jovens da mocidade deuma Casa Espírita entrando emum lar de idosos. Era dia de visitafraterna, marcada e planejadacom antecedência durante as reu-niões da equipe.

No estudo preparatório, eles selembraram que um dia o Codifi-cador destacou a primazia do tra-balho como caminho seguro e efi-caz para se chegar à paz de cons-ciência e à evolução espiritual.

Durante a visita fraterna, lá esta-va o digno professor lionês, vibran-te em cada abraço, emcada alegria sincera-

mente sentida, em cada olhar afe-tuosamente dirigido aos idosospelos trabalhadores do bem.

Interessado em identificar on-de mais poderia estar o Codifica-dor, o viajante encontra agora umjovem estudioso lanchando emum shopping da cidade grande.Aproxima-se dele uma mulhertranstornada. Senta-se, sem serconvidada. Atento a quem chega,ele a observa, tomado de surpresa.

Ela revela os olhos aflitos. Ex-tremamente ansiosa, lhe diz:

– Preciso dizer a alguém quevou fazer um aborto.

Sinceramente tocado pelo queacaba de ouvir, mas seguro do queestudou nas páginas da Codifica-ção, o rapaz lhe diz:

– Antes de mais nada, obrigadopor ter chegado à minha mesa.Quanto ao que me disse, posso, aomenos, tentar convencê-la a re-pensar essa decisão que acaba deme anunciar?

Quase chorando, a jovem nãodiz nada, mas aguarda ansiosa-

mente as palavras daquele a quemnunca vira antes.

– Se der uma chance à vida queestua dentro de você, muito embreve essa mesma vida pode devol-ver-lhe maravilhosos momentosde reconforto em forma de apoio,carinho e amor incomensuráveis.

– Não sei se sou alguém forte pa-ra merecer isso. O pai dessa criançanão quer saber de assumi-la.

– Eu posso garantir que se vocêtiver esse bebê, eu e meu grupo deamigos vamos fazer de tudo paralhe propiciar atenção e uma vidadigna de mãe responsável. Quan-to ao pai ausente, deixe que a pró-pria vida se incumba de cobrardele as devidas responsabilidades.

A jovem, sem saber porque exa-tamente sentara àquela mesa, juntode um desconhecido, acrescenta oque realmente a levara até ali.

– Se eu tiver esse bebê, ao me-nos vou ser amada?

O rapaz percebeu, finalmente,que o que ela queria era um mi-nuto de reconhecimento. Que al-guém a valorizasse. Que alguém aaceitasse e acreditasse nela. E sen-

� �

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tiu também que a moça fora pra-ticamente induzida por Benfeito-res espirituais a sentar-se ali, por-que ele estava em sintonia com odesejo de colaborar com o bem etinha conhecimento suficientepara oferecer a quem precisasse.

– Sim. Você é filha de Deus, ecomo tal, é merecedora de todonosso afeto.

O viajante sentiu que a atitudedaquele moço o ajudava a encon-trar Kardec vivo nas entrelinhasdas palavras, nas filigranas sutis dosentimento de solidariedade, nosalicerces da empatia vivenciada pe-lo jovem, atento aos ensinamentosvindos da base doutrinária.

Apenas para confirmar que erapossível encontrar Kardec, pelasruas e lares do presente, o curiosoviajante entrou em uma reparti-ção e ali notou um grupo de cole-gas de trabalho.

Era hora da reunião informal.O assunto que rapidamente to-mou forma foram as diferenças deconcepção religiosa de alguns in-tegrantes da equipe.

Enquanto alguns defendiam deforma incisiva seus pontos de vis-ta, outros aproveitavam para ati-çar algumas diferenças de humorque tinham com uma jovem fun-cionária, de opção declarada peloEspiritismo.

Ouvindo tudo atentamente,ela, profunda estudiosa das obrasbásicas da Doutrina, lembrou queKardec usava a virtude da tolerân-cia como um dos valores mais ele-vados na convivência com quem

pensava de forma diferente em al-gum aspecto conceitual.

Amiga da prece, ela envolveu-seem suaves vibrações, propiciadaspela mudança de sintonia mental esaiu da faixa do conflito, expressan-do, quando lhe foi solicitada, suaopinião sem acirrar os atritos espe-rados pelos outros contendores.

O observador atento percebeuque Kardec estava ali, sendo in-tensamente praticado por quemdecidiu ter a Doutrina como ro-teiro de atitude diante da vidaimediata, sem que fosse precisoabrir mão das convicções a respei-to da Espiritualidade.

Mais do que satisfeito com asobservações realizadas, recolheu--se para descansar, não sem antesorar e pedir a Jesus que um diapudesse encontrar Kardec tam-bém na harmonia segura e inque-brantável do Movimento condu-zido por todos os espíritas.

Aí, sim, se sentiria plenamenterealizado, porque veria Kardecnos sentimentos, nos pensamen-tos e nos gestos daqueles que de-clarando-se espíritas, efetivamen-te vivem, sentem e se conduzemintimamente como tais.

Eu leio a ti como o rabino antigo Lia Moisés, tendo a face velada.Ah! que esplendor de luzes nessa estrada!Quanto conforto para um peito amigo!

Na Obra-Máter partes o jazigo,Mostrando além a alma iluminada.Depois navego na via estreladaDesse Evangelho que nasceu contigo.

Médiuns é livro de instrução segura;Gênese enfoca o vagir do Universo;O Céu e o Inferno liberta a criatura.

Há em toda a Obra um palpitar divinoQue só percebe quem está nela imersoE a lê com unção, como aquele rabino.

Epígrafe: KARDEC, Allan. O céu e o inferno. 55. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. p. 231.

[...] Oh! meus amigos, que belo espetáculo sobre a Terra o de vertremular os estandartes do Espiritismo!

Espírito de Costeau

Mário Frigéri

Lendo Kardec

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o primeiro encontro do jo-vem Francisco CândidoXavier com o Espírito Em-

manuel, nos arredores da cidadede Pedro Leopoldo (MG), no finaldo ano de 1931, este Orientadorespiritual testou a disposição domédium para o trabalho na “me-diunidade com o Evangelho deJesus”, deixando-lhe claro que pa-ra cumprir o compromisso deve-ria atender a três pontos básicos,enumerando-os um por um a ca-da pergunta do interlocutor: “Dis-ciplina, disciplina, disciplina”,recomendando ainda que fosse“sempre fiel a Jesus e a Kardec”.1

Anteriormente ao trabalho como médium brasileiro é oportunolembrarmos que Emmanuel assi-nou uma dissertação em O Evan-gelho segundo o Espiritismo, inti-tulada “O egoísmo”.2

As múltiplas produções psico-gráficas de Francisco CândidoXavier durante sete profícuas dé-cadas foram elaboradas sob a fir-me orientação desse Espírito que,como autor, assinou romances his-tóricos marcantes e inspiradas dis-sertações, notabilizando-se comoexegeta do Novo Testamento à luzda Doutrina Espírita.

Em seus livros, há sempre refe-

rência à Codificação Kardequia-na. Mas houve um fato marcante,por ocasião do momento históri-co assinalado pelo Centenário depublicação das Obras Básicas.

Ao apresentar a obra Religiãodos Espíritos Emmanuel anota:“Simples comentário em torno dasubstância religiosa de O Livro dosEspíritos, em cujo texto fixouAllan Kardec a definição da NovaLuz” e se refere ao livro inicial daCodificação “[...] como primeiromarco da Religião dos Espí-ritos, em bases de sabedoria eamor, a refletir o Evangelho,sob a inspiração de Nosso Se-nhor Jesus Cristo”.3

Com esse livro de estudossobre questões da obra inau-gural da Doutrina Espírita,Emmanuel inicia homenagemao Centenário de publicaçãodas Obras Kardequianas.

Logo depois vem a lumeSeara dos Médiuns:

“Dessa feita, O Livro dos Mé-diuns, que justamente agora,em 1961, está celebrando o pri-meiro centenário, foi objeto de

nossa especial atenção” e conside-ra que “[...] os campos da Ciênciae da Filosofia, nos domínios dou-trinários do Espiritismo, são con-tinentes de trabalho a se perde-rem de vista [...]”.4

Em 1964, Emmanuel apresenta“diante do Centenário do O Evan-gelho segundo o Espiritismo [...] es-te livro despretensioso de servidorreconhecido, como sendo Livro da

Homenagem deEmmanuel à Codificação

NAN TO N I O CE S A R PE R R I D E CA RVA L H O

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Emmanuel foi Orientadorespiritual do médium

Chico Xavier

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Esperança”. O autor espiritual ex-travasa sua emoção: “Oh! Jesus!No luminoso centenário de OEvangelho Segundo o Espiritismo,em vão tentamos articular, diantede ti, a nossa gratidão jubilosa! [...]– Obrigado, Senhor! [...]”.5

Os estudos inspirados de Em-manuel sobre as obras da Codifi-cação prosseguem em outro livroJustiça Divina: “[...] traçamos osdespretensiosos comentários con-tidos neste volume, em torno dasinstruções relacionadas no livro OCéu e o Inferno [...] dando conti-nuidade à tarefa de consultar aessência religiosa da CodificaçãoKardequiana [...]”.6

Essas quatro obras citadas fo-ram produzidas especificamentecom os objetivos de homenagearo Centenário de Obras Básicas ede assinalar a “essência religiosada Codificação Kardequiana”.6

Há diversas obras psicográficasde Francisco Cândido Xavier co-

mentando a Codificação, entreelas, reunindo Emmanuel e AndréLuiz em Estude e Viva e autoresespirituais diversos em O Espíritoda Verdade.

A fidelidade de Emmanuel aoCodificador está explicitada notexto “O Mestre e o Apóstolo”, on-de destaca: “Luminosa a coerênciaentre o Cristo e o Apóstolo quelhe restaurou a palavra”, e conclui:“Jesus, a porta. Kardec, a chave”.7

Ao ensejo do Sesquicentenárioda Doutrina Espírita é possível sesentir os efeitos da obra psicográ-fica de Francisco Cândido Xavierno desenvolvimento do Espiritis-mo no Brasil e no Mundo. Os pa-râmetros definidos pelo Orienta-dor espiritual Emmanuel e expli-citados na sua significativa home-nagem à Codificação Kardequia-na têm sido concretizados.

O profundo entendimento doNovo Testamento à luz da Dou-trina Espírita balizou a produçãoda obra de Emmanuel, tendo como

bússola a compreensão da “essên-cia religiosa da Codificação Karde-quiana”.6 Daí, este autor espiritualconsiderar O Livro dos Espíritos o“primeiro marco da Religião dosEspíritos, em bases de sabedoria eamor, a refletir o Evangelho [...]”.3

Referências:1GAMA, Ramiro. Lindos casos de Chico

Xavier. 5. ed. São Paulo: LAKE, 1962.

p. 67.2KARDEC, Allan. O evangelho segundo o

espiritismo. 126. ed. Rio de Janeiro: FEB,

2006. Cap. XI, item 11.3XAVIER, Francisco Cândido. Religião dos

espíritos. Pelo Espírito Emmanuel. 19. ed.

Rio de Janeiro: FEB, 2006. p. 12-13.4 ______. Seara dos médiuns. Pelo Espíri-

to Emmanuel. 18. ed. Rio de Janeiro: FEB,

2006. p. 12-13.5______. Livro da esperança. Pelo Espíri-

to Emmanuel. 4. ed. Uberaba: Edição

CEC, 1973. p. 11-12.6______. Justiça divina. Pelo Espírito Em-

manuel. 10. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002.

p. 12.7______. Opinião espírita. Pelos Espíri-

tos Emmanuel e André Luiz. Uberaba:

CEC, 1963. p. 30-34.

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Livros de Emmanuel e outrosEspíritos que comentam obrasda Codificação

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bras-primas!Existem desde os tem-

pos antigos: na pintura; naescultura; na música; na literatura.

Mona Lisa – quadro de Leonardoda Vinci.

Moisés – escultura de Michelan-gelo.

Parsifal – ópera de RichardWagner.

Os Lusíadas – livro de Luís deCamões.

Não apagaram os séculos as obrasque projetaram seus autores.

Elas encantam o mundo pela be-leza das pinceladas, pelo vigor daslinhas, pela sonoridade das notas,pelas expressões em prosa ou verso.

Tentemos uma incursão, emborarápida, no campo da literatura dealguns países para nos deter, emseguida, em uma obra-prima daliteratura espírita.

Escopo do presente trabalho.

Na Itália as experiências do poetaDante Alighieri alimentam a inspi-ração da obra Divina Comédia es-crita a partir de 1306, transfiguran-do no plano poético não apenas suaprópria vida, mas também a de todaa literatura ocidental. O livro quemarcou época combina o realismocru com o mais místico lirismo.

Forma ele a síntese espiritual e poé-tica da Idade Média, tendo penetra-do firmemente tanto no século XIVcomo ainda hoje, situando-se emtodas as bibliotecas de projeção.

Os Lusíadas – poema épico deum Espírito amargurado – Luísde Camões – é considerado umadas mais importantes obras da lite-ratura de Portugal. Escrita em 1550,relata as viagens de Vasco da Gama,a partir de um sonho premonitóriodo rei Dom Manuel. Constitui aindanos dias atuais trabalho de estudoem um sem-número de universida-des. Ressalte-se que no final do livroo autor comenta com um tom profé-tico que vinha cantando um povoembriagado com glórias efêmeras.

Harriet Beecher-Stowe, escritoraamericana, é autora do romance ACabana do Pai Tomás, datado de1852 e um dos mais envolventesinstrumentos da propaganda aboli-cionista nos Estados Unidos, o qualdurante muitos anos recebeu osaplausos de seus leitores, sobretudodos antiescravagistas não só do paísamericano como de todas as partesdo mundo. O próprio Kardec, àépoca em sua Revista Espírita, de-dicou ao romance algumas páginasdas quais destacamos este trecho:

“[...] É notável que esta obra te-nha sido publicada nos Estados Uni-

dos, onde o princípio da pluralida-de das existências terrestres há mui-to tempo foi repelido. [...] A Sra.Beecher-Stowe então a havia colhi-do em sua própria intuição [...]”.1

A Inglaterra é solo de grandesescritores os quais lançaram aomundo incontáveis obras-primas.Obviamente há que lembremos afigura de William Shakespeare, au-tor cujos trabalhos refletem ascondições culturais, sociais e polí-ticas da era elisabetana. Entretan-to, não será justo esquecermos a fi-gura de Daniel Defoe, com suaobra The life and strange surprisingadventures of Robinson Crusoe ofYork e que chegaria até nós com otítulo simples de As aventuras deRobinson Crusoé, livro que foi tra-duzido praticamente para todos osidiomas. Ainda mais: seria objetode estudo por parte de um assi-nante da Revista Espírita, dirigidapelo Codificador. (Semelhante es-tudo teve lugar nas edições demarço e setembro de 1867).

Falar sobre obras-primas e rela-cioná-las com a Alemanha é recor-dar, entre tantas outras, a figuramajestática de Johann Wolfgangvon Goethe, cujo Faust, com tessi-tura também mediúnica, exerceupoderosa influência sobre a Arte eos artistas, sendo por isso justa-

Na literatura, asobras-primas!

OKL E B E R HA L F E L D

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mente considerado um dos maisportentosos monumentos da lite-ratura universal. Aliás, toda a suaobra exala a crença do poeta naimortalidade, como o atestam osseguintes versos do poema “Her-mann e Dorotéia”:

...O quadro impressionante da[morte

Não significa horror para o[sábio nem o fim para o crente;

Àquele impele a que volte, de[novo, à vida,

A este outro, na angústia, revi-gora a chama da esperança do

[bem numa vida futura.Para ambos transforma-se a

[morte em motivo de vida...2

No ano em que a comunidadeespírita comemora o 150o aniver-sário de lançamento de O Livro dosEspíritos, curvamo-nos reverentesdiante da insigne figura de Hippo-lyte Léon Denizard Rivail – o nos-so querido Allan Kardec – e frenteà plêiade de Espíritos que o asses-soraram, porque desta conjugaçãode esforços surgiu na França parao mundo, em 18 de abril de 1857,esta abençoada e porque não dizersui generis obra-prima da literatu-ra espírita.

Em seu bojo não apenas 1.019perguntas e correspondentes res-postas a esclarecer mentes e confor-tar corações...

A respeito desta obra assim se ex-pressa Pedro Franco Barbosa emseu trabalho Espiritismo Básico,3

com seu vocabulário tipicamenteobjetivo:

“‘O Livro dos Espíritos’ contém

os princípios da Doutrina Espíritaexpostos de forma lógica, pormeio de diálogos com os Espíritos,às vezes comentados por Kardec, e,embora constitua, pelas importan-tes matérias que versa, o maiscompleto tratado de Filosofia quese conhece, sua linguagem é sim-ples e direta, não se prendendo apreciosismos de sistemas dificil-mente elaborados, tão ao gostodos teólogos e exegetas escriturís-ticos, na sua improfícua e estérilbusca das causas primeiras às fi-nais”.

18 de abril de 2007.150 anos de lançamento de O Li-

vro dos Espíritos.Emociona-se o coração do Codi-

ficador, no plano em que se encontra.Todavia, acreditamos que ne-

nhum episódio o teria emocionado

tanto como o que o envolveu na-quela triste manhã de abril de 1860em Paris.

A narrativa está no capítulo 52,“Há um século”, da obra O Espíritoda Verdade,4 livro que teve seus ca-pítulos ímpares recebidos pelo mé-dium Francisco Cândido Xavier eos pares pelo médium Waldo Vieira.No caso a seguir relatado temos amensagem assinada pelo EspíritoHilário Silva:

I“Allan Kardec, o Codificador da

Doutrina Espírita, naquela tristemanhã de abril de 1860, estavaexausto, acabrunhado.

Fazia frio.Muito embora a consolidação da

Sociedade Espírita de Paris e a pro-missora venda de livros, escasseavao dinheiro para a obra gigantescaque os Espíritos Superiores lhe ha-viam colocado nas mãos.

A pressão aumentava...Missivas sarcásticas avoluma-

vam-se à mesa.Quando mais desalentado se

mostrava, chega a paciente esposa,Madame Rivail – a doce Gaby –, aentregar-lhe certa encomenda, cui-dadosamente apresentada.

IIO professor abriu o embrulho,

encontrando uma carta singela. Eleu:

‘Sr. Allan Kardec:Respeitoso abraço.Com a minha gratidão, remeto-

-lhe o livro anexo, bem como a suahistória, rogando-lhe, antes de tudo,prosseguir em suas tarefas de escla-

Frontispício da 1ª edição francesa deO Livro dos Espíritos, de Allan

Kardec, obra-prima do Espiritismo

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recimento da Humanidade, pois te-nho fortes razões para isso.

Sou encadernador desde a meni-nice, trabalhando em grande casadesta capital.

Há cerca de dois anos casei-mecom aquela que se revelou minhacompanheira ideal. Nossa vida cor-ria normalmente e tudo era alegriae esperança, quando, no início desteano, de modo inesperado, minhaAntoinette partiu desta vida, levadapor sorrateira moléstia.

Meu desespero foi indescritível ejulguei-me condenado ao desampa-ro extremo.

Sem confiança em Deus, sentin-do as necessidades do homem domundo e vivendo com as dúvidasaflitivas de nosso século, resolveraseguir o caminho de tantos outros,ante a fatalidade...

A prova da separação vencera--me, e eu não passava, agora, de tra-po humano.

Faltava ao trabalho e meu chefe,reto e ríspido, ameaçava-me com adispensa.

Minhas forças fugiam.Namorara diversas vezes o Sena e

acabei planeando o suicídio. ‘Seriafácil, não sei nadar’ – pensava.

Sucediam-se noites de insônia edias de angústia. Em madrugadafria, quando as preocupações e odesânimo me dominaram mais for-temente, busquei a Ponte Marie.

Olhei em torno, contemplando acorrente... E, ao fixar a mão direitapara atirar-me, toquei um objeto al-go molhado que se deslocou daamurada, caindo-me aos pés.

Surpreendido, distingui um livroque o orvalho umedecera.

Tomei o volume nas mãos e, pro-curando a luz mortiça de poste vizi-nho, pude ler, logo no frontispício,entre irritado e curioso:

‘Esta obra salvou-me a vida. Leia--a com atenção e tenha bom provei-to. – A. Laurent.’

Estupefato, li a obra – ‘O Livrodos Espíritos’ – ao qual acrescenteibreve mensagem, volume esse quepasso às suas mãos abnegadas, auto-rizando o distinto amigo a fazer de-le o que lhe aprouver’.

Ainda constavam da mensagemagradecimentos finais, a assinatura,a data e o endereço do remetente.

O Codificador desempacotou,então, um exemplar de ‘O Livrodos Espíritos’ ricamente encader-nado, em cuja capa viu as iniciaisdo seu pseudônimo e na página dofrontispício, levemente manchada,leu com emoção não somente aobservação a que o missivista sereferira, mas também outra, em le-tra firme:

‘Salvou-me também. Deus aben-çoe as almas que cooperaram emsua publicação. – Joseph Perrier’.

IIIApós a leitura da carta providen-

cial, o Professor Rivail experimentounova luz a banhá-lo por dentro...

Conchegando o livro ao peito,raciocinava, não mais em termos dedesânimo ou sofrimento, mas simna pauta de radiosa esperança.

Era preciso continuar, desculparas injúrias, abraçar o sacrifício edesconhecer as pedradas...

Diante de seu espírito turbilho-nava o mundo necessitado de reno-vação e consolo.

Allan Kardec levantou-se da ve-lha poltrona, abriu a janela à suafrente, contemplando a via pública,onde passavam operários e mulhe-res do povo, crianças e velhinhos...

O notável obreiro da Grande Re-velação respirou a longos haustos, e,antes de retomar a caneta para oserviço costumeiro, levou o lençoaos olhos e limpou uma lágrima...”

Ao término do presente trabalhomeditamos:

Quantos nestes 150 anos não te-rão repetido as palavras de A. Lau-rent ou de Joseph Perrier!

Expressões de profunda emotivi-dade; afirmativas a constituíremverdadeiras confissões de almasagradecidas, as quais encontraramna leitura de O Livro dos Espíritos,que agora completa um século emeio de lançamento, o conforto, olenitivo para seus corações!

Abençoada seja, pois, esta ma-ravilhosa obra-prima da literaturaespírita.

Referências:1KARDEC, Allan. Revista espírita. 2. ed. Rio

de Janeiro: FEB, 2006. Novembro de 1868,

p. 456.2SOARES, Sylvio Brito. Grandes vultos da

humanidade e o espiritismo. 4. ed. Rio de

Janeiro: FEB, 2005. p. 176.3BARBOSA, Pedro F. Espiritismo básico.

5. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. Segunda

Parte, “Postulados e Ensinamentos” – Aná-

lise sintética das obras da codificação de

Allan Kardec – I, p. 115.4XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo. O espí-

rito da verdade. Autores diversos. 16. ed. Rio

de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 52, p. 125-128.

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m momento culmi-nante de sua vidamissionária, Jesus

promete aos apóstolos e,em extensão, a toda a Hu-manidade, o advento deoutro Consolador: “o Es-pírito de Verdade [...] quemeu Pai enviará em meunome, vos ensinará todasas coisas e vos fará recor-dar tudo o que vos tenhodito”.1

Diversos movimentosou episódios, surgidos noséculo XIX, podem ser considera-dos como o ponto de partida documprimento da promessa doCristo, que se consolidaria com adenominação de Espiritismo ouDoutrina Espírita.

Allan Kardec, por exemplo, con-sidera que os fenômenos das me-sas girantes, ocorridos sobretudona Europa a partir de 1850, “[...]representarão sempre o ponto departida da Doutrina Espírita [...]”.2

Os fenômenos paranormaisocorridos em 31 de março de 1848,no lugarejo de Hydesville, conda-do de Wayne, Estado de New York,nos Estados Unidos da América doNorte, e que envolveram a família

metodista de John D. Fox, sua es-posa e as filhas Margareth, Kathe-rine e Leah, podem ser lembradoscomo uma das fagulhas iniciais dosurgimento da Nova Era.

A presença do professor francêsHippolyte Léon Denizard Rivail,pedagogo emérito, na casa da mé-dium Sra. Plainemaison, à ruaGrange-Batelière, 18, em Paris, nanoite de uma terça-feira do mêsde maio de 1855, às 20 horas, paraassistir às experiências do “fenô-meno das mesas que giravam, sal-tavam e corriam em condiçõestais que não deixavam lugar paraqualquer dúvida [...]”,3 pode serconsiderada, também, além da

iniciação do futuro Allan Kardecno Espiritismo, o ponto de partidada Codificação Espírita.

Há que se destacar, igualmente,a data magna de 18 de abril de1857, lançamento de O Livro dosEspíritos, em Paris, e, conseqüen-temente, marco do surgimentooficial do Espiritismo no mundo,como uma alavanca – fazendo-seuma analogia com o pensamentode Arquimedes (287-212 a.C.), sá-bio de Siracusa – que, posicionadano ponto de apoio caracterizado napromessa de Jesus, daria o impulsopara a consolidação da Nova Dou-trina, a qual, estruturada nas cincoobras básicas, contendo as suas

Primórdios doEspiritismo

EAD I LTO N PU G L I E S E

Da Ilha da Reunião a Paris: trajetória e contribuição da família Baudin

Primeira comunicação obtida em Hydesville, quando Kate Fox receberesposta a seus sinais. Uma das fagulhas iniciais da Nova Era

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fundamentações filosóficas, cien-tíficas e morais, moveria o mundo.

Podemos conceber, assim, aexistência de uma atmosfera deuniversalidade também no que serefere ao “ponto de partida daDoutrina Espírita”, em consonân-cia com a “universalidade do ensi-no dos Espíritos”, onde “reside aforça do Espiritismo [...]”, citadapor Allan Kardec em O Evangelhosegundo o Espiritismo.4

Há um episódio nos registroshistórico-lendários do Espiritis-mo que também poderemos citarcomo um dos primeiros sinais,um dos indícios primordiais dachegada do Consolador.

No ano de 1853, em Paris, o pro-fessor Rivail e sua esposa, a profes-sora de Belas-Artes Amélie-Ga-brielle Boudet (1795-1883), sofremo efeito do golpe de Estado de LuísNapoleão Bonaparte, ocorrido em2 de dezembro de 1851, em queeste avocou a si o título de impe-rador Napoleão III, instaurando,na França, “uma política ditatoriale clerical, ficando abolidas a liber-dade de imprensa e outras liberda-des públicas”. Por esse golpe, ma-nifestado, sobretudo, na “hostili-dade ao desenvolvimento da ins-trução popular”, movida pelo novoMinistro da Instrução Pública edos Cultos, Hippolyte Fortoul,fez-se “[...] reinar na Universidadeo despotismo e o terror. [...]”.5

Essas condições do regime po-lítico em sua pátria inibiriam asatividades do professor DenizardRivail no ensino, durante essa pri-meira fase do Segundo Império,que foi até 1860.

Naquele ano de 1853, outro fa-to o atingiria: “[...] sua percepçãovisual diminuíra sensivelmente, aponto de não poder ler nem es-crever [...]”.5 O diagnóstico clínicofoi amaurose.6 Assistido, contudo,por uma sonâmbula, ela identifi-cou apoplexia nos olhos, prevendoa cura em três meses, o que seconcretizou.7

As questões políticas... a doen-ça nos olhos... parecia que infor-túnios inesperados, como sempreo são, atingiam o insigne mestredas letras francesas e sua consorte.Mas podemos intuir, igualmente,que o mundo espiritual aprovei-tava-se daqueles acontecimentospara estimular um recesso, umstaccato nas atividades pedagógi-cas do mestre lionês, um aparenterepouso preparatório para a novafase de sua vida. O ano do cin-qüentenário de sua reencarnação,1854, seria iniciado com o “cha-mado” para “trilhar novos rumosem sua existência”,cumprir a missãoque lhe fora delega-da pelo Cristo, bemcomo encontrar-secom a sua equipe detrabalho.

Enquanto aconte-ciam esses fatos emParis, naquele ano de1853, distante dali,numa ilha localizadano Oceano Índico, aleste da África, per-to de Madagascar edas Ilhas Maurício,o mundo espiritualacionava os compo-

nentes de uma família, a fim deque se aglutinassem brevementeao futuro Codificador, dando iní-cio à composição do corpo demédiuns para a recepção dos dita-dos que seriam transmitidos paraformação de O Livro dos Espíritos.

Eles residiam na Ilha da Reu-nião (Réunion), que constitui umdepartamento francês de Ultra-mar, com 2.552 km2 [nos diasatuais com cerca de 732.000 habi-tantes]. Eram o Sr. Baudin, suaesposa Clementine e suas jovensfilhas: Caroline, de 14 anos e Ju-lie, de 12 anos. O Sr. Baudin erafazendeiro e industrial, natural eresidente na Ilha. Proprietário decanaviais e cafezais.

Do Anuário Histórico Espírita2003,8 organizado pelo pesquisa-dor Eduardo Carvalho Monteiro(1950-2005) [que cita, em outrolivro de sua autoria,9 como fonteinformativa, a obra O Livro dos Es-píritos e sua Tradição Histórica e

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Ilha da Reunião, onde morava a família Baudin,localizada a leste da África, próxima de

Madagascar e das Ilhas Maurício

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Lendária do Dr. Canuto Abreu]extraímos que num determinadodia de 1853 a família Baudin assis-tiria, pela primeira vez, em casa deamigos, ao inusitado fenômeno daguéridon,10 tão em voga na época eque já chegara à remota Ilha. Nes-sa reunião, a mediunidade da es-posa e das meninas manifestar-se--ia de forma patente. Depois, comregularidade, passariam a reunir--se em sua casa na fazenda, na Ilhada Reunião, onde se comunicariaum Espírito que se dizia protetorda família e que ficou sendo iden-tificado como Zéfiro.

Posteriormente, Zéfiro revela-ria que estava perto o momentode reencontrarem o seu antigochefe e amigo, em Paris, de nomeAllan Kardec. O assunto confun-diu a família, que não pensava emdeixar a Ilha.

Contudo, em 1855, a famíliaBaudin rumaria mesmo a Paris,onde ficaria por cerca de trêsanos, a convite do Governo fran-cês, que estava interessado em ou-vir a opinião de alguns produto-res coloniais a respeito da concor-rência do café e açúcar brasileirosque aumentava dia a dia, e tam-bém por motivo de outros negó-cios. (Grifamos)

Consoante relatam os anais doEspiritismo nascente, consigna-dos, sobretudo, nas anotações for-muladas pelo Codificador em suaagenda íntima, constante do livroObras Póstumas, foi numa dasreuniões na casa da Sra. Plaine-maison que Allan Kardec travouconhecimento com a família Bau-din, que residia à rua Roche-

chouart, em Paris. Declara o Co-dificador: “[...] O Sr. Baudin meconvidou para assistir às sessõeshebdomadárias que se realizavamem sua casa e às quais me torneidesde logo muito assíduo.[...]

[...] Os médiuns eram as duassenhoritas Baudin, que escreviamnuma ardósia com o auxílio deuma cesta, chamada carrapeta eque se encontra descrita em O Li-vro dos Médiuns”. Nessas reuniõesse comunicava o Espírito Zéfiro,que confirmava a sua condição deprotetor da família Baudin.11

“[...] Assinala Kardec que fo-ram as senhoritas Baudin os mé-diuns que mais concorreram paraesse trabalho, [O Livro dos Espíri-tos] sendo quase todo o livro es-crito por intermédio delas e napresença de seleta e numerosaassistência”,12 e que, pelos fins de1857, elas se casaram, as reuniõescessaram e a família Baudin se dis-persou. Contudo, as relações doCodificador começavam a dilatar--se e os Espíritos multiplicaramos meios de instrução, tendo emvista os ulteriores trabalhos que oaguardavam.

Naquela longínqua Ilha daReunião, no Oceano Índico Oci-dental, Jesus convocaria Espíritosencarnados e desencarnados, com-prometidos com a missão de re-cepcionar e concretizar, na Fran-ça, ao lado de Allan Kardec, o ad-vento do Espiritismo, conduzin-do-os então a Paris, motivados porum episódio que envolvia a futurapátria – o Brasil – que abrigariapara sempre o Consolador por Eleprometido.

Referências:1João, 14:15 a 17 e 26. In KARDEC, Allan.O evangelho segundo o espiritismo.4. ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2006.Cap. VI, item 3, p. 156.2KARDEC, Allan. O livro dos médiuns.

79. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. II,

item 60, p. 85.3______. Obras póstumas. 39. ed. Rio de

Janeiro: FEB, 2006. Segunda Parte, “A mi-

nha primeira iniciação no Espiritismo”,

p. 297.4______. O evangelho segundo o espiri-

tismo. 4. ed. especial. Rio de Janeiro:

FEB, 2006. “Introdução” II, p. 29.5WANTUIL, Zêus; THIESEN, Francisco.

Allan Kardec, o educador e o codificador.

Vol. I, 2. ed. especial. Rio de Janeiro: FEB,

2004. Parte Primeira, cap. 27, p. 172.6Doença do nervo ótico, da retina. Dicio-

nário Aurélio.7WANTUIL, Zêus; THIESEN, Francisco.

Allan Kardec, o educador e o codificador.

Vol. I, 2. ed. especial. Rio de Janeiro: FEB,

2004. Parte Primeira, cap. 27, p. 173-174.8Madras Editora Ltda. p. 223.9MONTEIRO, Eduardo Carvalho. Allan

Kardec (O druida reencarnado). 2. ed.

EME. p. 14.10Mesa de pé-de-galo com que, no mea-

do do século XIX, se faziam experiências

espíritas na França. In PAULA, João Teixei-

ra de. Dicionário de espiritismo, metapsí-

quica e parapsicologia. 3. ed. Editora

Bels, 1976.11KARDEC, Allan. Obras póstumas. 39. ed.

Rio de Janeiro: FEB, 2006. Segunda Par-

te, “A minha primeira iniciação no Espiri-

tismo”, p. 298.12WANTUIL, Zêus; THIESEN, Francisco.

Allan Kardec, o educador e o codificador.

Vol. I, 2. ed. especial. Rio de Janeiro: FEB,

2004. Parte Segunda, cap. 5, p. 272.

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O fato histórico

No dia 18 de abril de 1857, oprofessor Hippolyte Léon Deni-zard Rivail – conhecido pelo pseu-dônimo de Allan Kardec – lançouO Livro dos Espíritos editado por E.Dentu, Libraire, na própria Livra-ria Dentu na Galerie d’Orléans, 13,no Palais-Royal, em Paris.

O Espiritismo-histórico

No século XIX, o fenômeno dasmesas girantes agitou a Europa,principalmente os salões elegan-tes de Paris. Após os saraus, asmesas eram alvo de curiosidade,

motivando reportagensna imprensa. Elas se

moviam e respondiam a questõesmediante batidas no chão (tip-tologia). O fenômeno chamou aatenção de um pesquisador sério,o professor Hippolyte Léon Deni-zard Rivail.

O Prof. Rivail, educador, autorde livros didáticos e adepto de ri-goroso método de investigaçãocientífica, não aceitou de imedia-to os fenômenos das mesas giran-tes, mas os estudou atentamente,observou que uma força inteligen-te as movia e investigou a nature-za dessa força, que se identificoucomo os “Espíritos dos homens”que haviam morrido. Rivail ana-lisou as respostas, comparou-as esistematizou-as, tudo submetendoao crivo da razão, não aceitando enão divulgando nada que não pas-

sasse por esse crivo. Assim nasceuO Livro dos Espíritos. O professorRivail imortalizou-se, adotando opseudônimo Allan Kardec.

Allan Kardec, o Codifica-dor do Espiritismo

Hippolyte Léon Denizard Rivailnasceu em Lyon, França, em 3 deoutubro de 1804. Estudou em Yver-dun (Suíça) com o célebre JohannHeinrich Pestalozzi, de quem se tor-nou um eminente discípulo e cola-borador. Aplicou-se à propagandado sistema de educação que exerceutão grande influência sobre a refor-ma dos estudos na França e na Ale-

150 anos de lançamento de

O Livro dos EspíritosA obra inaugural do Espiritismo foi lançada em Paris pelo Prof. Rivail,

no dia 18 de abril de 1857

Imagem do Palais-Royal,onde funcionava aLivraria Dentu

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manha. Poliglota, falava alemão,inglês, italiano, espanhol e holandês.Traduziu para o alemão excertosde autores clássicos franceses, es-pecialmente os escritos de Fénelon(François de Salignac de la Mothe-).

Rivail, o educador

Fundou em Paris – com sua es-posa Amélie-Gabrielle Boudet –um estabelecimento semelhanteao de Yverdun. Escreveu gramáti-cas, aritméticas, estudos pedagó-gicos superiores, traduziu obrasinglesas e alemãs. Organizou, emsua casa, cursos gratuitos de Quí-mica, Física, Astronomia e Anato-mia comparada.

Membro de várias sociedadessábias, notadamente da AcademiaReal das Ciências de Arrás, foi pre-miado, por concurso, em 1831,com a memória “Qual o sistema deestudos mais em harmonia com asnecessidades da época?”. Dentreas suas obras, destacam-se: Planoapresentado para o melhoramentoda instrução pública (1828); Cursoprático e teórico de aritmética (1829,segundo o método de Pestalozzi); eGramática francesa clássica (1831).

Kardec, o Codificador

O Prof. Rivail ouviu falar das me-sas girantes no ano de 1854. Aplicouo método da experimentação: nun-ca formulou teorias preconcebidas,observava atentamente, comparava,deduzia as conseqüências; procura-va sempre a razão e a lógica dos fa-tos. Interrogou os Espíritos, anotoue ordenou os dados que obteve.

Por isso é chamado Codificador doEspiritismo. Os autores da Doutrinasão os Espíritos Superiores. Quandopercebeu que tudo aquilo formavaum conjunto e tomava as propor-ções de uma doutrina, decidiu pu-blicar um livro, para instrução detodos. Assim, lançou O Livro dosEspíritos em 18 de abril de 1857, emParis. Adotou o pseudônimo AllanKardec a fim de diferenciar a obraespírita da produção pedagógica,anteriormente publicada.

Em janeiro de 1858, Kardec lan-çou a Revue Spirite e, em 1o de abrildo mesmo ano, fundou a Socieda-de Parisiense de Estudos Espíritas.Esta Sociedade – o primeiro Cen-tro Espírita do mundo – funcionounas dependências do Palais-Royal,em sala alugada, entre 1/4/1858 a1/4/1859 na Galeria Valois e, de1/4/1859 a 1/4/1860 em dependên-cia do restaurante Douix, na Ga-leria Montpensier.

Em seguida, publicou O que é oEspiritismo (1859), O Livro dos Mé-diuns (1861), O Evangelho segundoo Espiritismo (1864), O Céu e o In-ferno (1865) e A Gênese (1868).Seus amigos reuniram textos inédi-tos e anotações de Kardec no livroObras Póstumas, lançado em 1890.

Kardec desencarnou em Paris,em 31 de março de 1869. Seu túmu-lo, no Cemitério do Père-Lachai-se, em Paris, é diariamente o maisvisitado e florido até nossos dias.

Bicentenário deNascimento de Kardec

Várias comemorações e home-nagens foram realizadas por oca-

sião do Bicentenário de Nascimen-to de Allan Kardec.

O Conselho Espírita Interna-cional (CEI), com o apoio daUnião Espírita Francesa e Franco-fônica (USFF) promoveu o 4o Con-gresso Espírita Mundial, na sededa Maison de la Mutualité, emParis, de 2 a 5 de outubro de 2004,com a presença de espíritas repre-sentando 30 países.

Os Correios do Brasil lançaramum Selo Postal e um CarimboObliterativo, alusivo ao Bicente-nário de Nascimento de Allan Kar-dec, em cerimônia simultânea nasede dos Correios, em Brasília, ena Maison de la Mutualité, em Pa-ris, estando presentes representan-tes de La Poste (Correios da Fran-ça) e da Embaixada do Brasil, du-rante o Congresso citado. O referi-do Selo dos Correios do Brasil foio mais procurado em 2004, comum total de 800.010 selos vendidos.

Foram lançados vários livrossobre Allan Kardec e edições espe-ciais de revistas, como a La RevueSpirite, editada pelo Conselho Es-pírita Internacional e pela UniãoEspírita Francesa e Francofônica,que, além da edição original emfrancês, também a publicaram eminglês, espanhol e esperanto.

Na terra natal de Kardec foi rea-lizada a exposição Lyon, coeur duSpiritisme, Allan Kardec et les spiriteslyonnais (Lyon, coração do Espiritis-mo, Allan Kardec e os espíritas lio-neses), na Biblioteca de Lyon, de 15de outubro de 2004 a 15 de janeirode 2005. Na mesma cidade, no dia18 de abril de 2005 foi inauguradoum monumento em homenagem

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a Kardec na rua Sala (2e arrondis-sement), que contou com a presençados representantes do prefeito deLyon, M. Michel Chomarat, e Mme.Dumont delegada do prefeito do 2e

arrondissement de Lyon, do Conse-lho Espírita Internacional, da UniãoEspírita Francesa e Francofônica eda Federação Espírita Brasileira.

Conselho EspíritaInternacional (CEI)

Constituído em 28 de novem-bro de 1992, o Conselho EspíritaInternacional é o organismo resul-tante da união, em âmbito mundial,das Associações Representativasdos Movimentos Espíritas nacio-nais. Atualmente há 32 países inte-grados ao CEI: Alemanha, Angola,Argentina, Austrália, Bélgica, Bolí-via, Brasil, Canadá, Chile, Colôm-bia, Cuba, El Salvador, Equador,Espanha, Estados Unidos, França,Guatemala, Holanda, Honduras,Itália, Japão, México, Noruega, No-va Zelândia, Paraguai, Peru, Por-tugal, Reino Unido, Suécia, Suíça,Uruguai, Venezuela.

O CEI edita obras de Kardec e deoutros autores nos idiomas francês,inglês e espanhol. Em parceria coma União Espírita Francesa Franco-fônica, edita a revista fundada porKardec – Revue Spirite –, com o tí-tulo La Revue Spirite nos idiomasfrancês, espanhol, inglês e esperan-to. Na sua página eletrônica dispo-nibiliza a edição da Revista em rus-so. O Conselho Espírita Internacio-nal mantém 24 horas por dia aWeb TVCEI (www.tvcei.com).

O CEI participou do Salão do Li-

vro de Paris com um estande, de 23a 27/3/2007, e promoveu uma ho-menagem pelo Sesquicentenário deO Livro dos Espíritos, no mesmo lo-cal, na manhã do dia 24 de março.

O Conselho Espírita Interna-cional promoverá o 5o CongressoEspírita Mundial, em Cartagenade Índias (Colômbia), de 10 a 13de outubro de 2007, tendo comotema central: “Doutrina Espírita:150 Anos de Luz e Paz”.

O Espiritismo na França

O Movimento Espírita na Françaé coordenado pela União EspíritaFrancesa e Francofônica (USFF),sucessora da antiga Sociedade Pa-risiense de Estudos Espíritas, fun-dada por Allan Kardec, e da UniãoEspírita Francesa.

Há cerca de 30 grupos espíritasfuncionando na França, principal-mente em Paris, Tours, Lyon, Vin-cennes, Villeneuve-le-Roi, Montge-ron, Villiers-le-Bel, Douai, Wattre-los, Limoges, Thann, Le Haillan,Bron, Marseille, Pont Sain-Martine Vienne.

Os livros espíritas, principalmen-te de Allan Kardec, são editadospor Les Éditions Philman. A revistafundada por Allan Kardec – RevueSpirite – é editada até nossos dias,pela USFF em parceria com o CEI.

A USFF promove anualmenteum Simpósio Espírita Francofônicocom a participação de espíritas fran-ceses, belgas, suíços e canadenses.

O Espiritismo no Brasil

O Brasil é o país que reúne o

maior número de espíritas em todoo Mundo, com quase 2,4 milhõesde adeptos de acordo com o Censo2000, realizado pelo Instituto Bra-sileiro de Geografia e Estatística(IBGE), e que formam o terceiromaior grupo religioso do País. Es-tima-se em 30 milhões o númerode simpatizantes do Espiritismo noBrasil. Vinculados à Federação Es-pírita Brasileira, através das 27 En-tidades Federativas Estaduais, hácerca de 12 mil instituições espíritas.

Allan Kardec é personalidadebastante conhecida e respeitadano Brasil. Seus livros já venderammais de 15 milhões de exemplaresem todo o País. O mercado edito-rial brasileiro espírita ultrapassa4.000 títulos editados e mais de 90milhões de exemplares vendidos.

Allan Kardec é o autor francêsmais vendido no Brasil.

A imagem dos espíritas está for-temente associada à prática da filan-tropia e ao respeito incondicionalaos praticantes de todas as religiões.Em todos os Estados brasileiros, asinstituições espíritas mantêm lares,creches, hospitais, escolas para pes-soas carentes e outras instituiçõesde assistência e promoção social.

A FEB promove, de 12 a 15 deabril corrente, o 2o Congresso Es-pírita Brasileiro, em Brasília (DF),com o objetivo de comemorar oSesquicentenário, cujo tema cen-tral é “O Livro dos Espíritos naEdificação de um Mundo Melhor”.Durante o evento será lançado pe-los Correios um Selo Personali-zado e Carimbo Obliterativo alu-sivos aos 150 anos da publicaçãode O Livro dos Espíritos.

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Acre: Encontro sobre O Livro dos EspíritosA Federação Espírita do Estado do Acre promove nodia 6 de abril o VI Encontro de Integração dos Espí-ritas do Acre, em Rio Branco, tendo como tema cen-tral “A Atualidade de O Livro dos Espíritos”. No perío-do de 18 a 25 de abril, ocorre a “Semana de O Livrodos Espíritos”.

Bahia: Palestra e Sessões LegislativasA Federação Espírita do Estado da Bahia comemoraos 150 anos de lançamento de O Livro dos Espíritoscom palestra de Divaldo Pereira Franco, no dia 18 deabril, às 18 horas. Na Câmara Municipal de Salvadora sessão ocorre no dia 20 de abril, e na AssembléiaLegislativa da Bahia está marcada para o dia 26.

Alemanha: Congresso sobre O Livro dos Espíritos

Nos dias 24 e 25 de fevereiro, a União Espírita Alemãpromoveu o 1o Congresso Espírita da Alemanha, nasdependências do Andreas Hermes Akademie, emBonn, tendo como tema central “Aliança entreCiência e Religião”, com base nas quatro partes de OLivro dos Espíritos. O evento foi aberto por HêniaSeifert, presidente da U. E. A., e por Antonio CesarPerri de Carvalho, representando o presidente da Fe-deração Espírita Brasileira e secretário-geral do Con-selho Espírita Internacional, Nestor João Masotti.

Maranhão: Confraternização sobre oSesquicentenário

No período de 17 a 20 de março, a Federação Espíritado Maranhão promoveu a 27a Confraternização Es-pírita do Maranhão, no teatro Zenira Fiquene, emSão Luís. O tema central foi “O Livro dos Espíritos:150 anos esclarecendo e consolando”.

M. G. do Sul: Selo do SesquicentenárioA Federação Espírita de Mato Grosso do Sul parti-cipa, no dia 18 de abril, de Sessão Solene na Câma-ra de Vereadores de Campo Grande, quando serão

lançados o Selo Personalizado e o Carimbo Obli-terativo.

Argentina: Estudo Sistematizado na CEAA convite da Confederação Espiritista Argentina,Cecília Rocha, vice-presidente da Federação Espí-rita Brasileira, realizou, em Buenos Aires, as seguin-tes atividades no mês de março último: dia 3 – par-ticipação da reunião do Conselho Federal da CEA;dia 5 – aula inaugural do ESDE, com apoio deMaria Túlia Bertoni, presidente da Federação Espí-rita de Mato Grosso do Sul; dia 6 – conferênciapública.

Paraná: Evento sobre O Livro dos EspíritosA Federação Espírita do Paraná promoveu, de 23 a25 de março, a IX Conferência Estadual Espírita, nasdependências do Expotrade, em Pinhais, na regiãometropolitana de Curitiba. O evento teve comotema central “O Livro dos Espíritos: 150 anos de con-vite ao amor e à instrução”, com os expositoresDivaldo Pereira Franco, José Raul Teixeira e CosmeMassi.

R. G. do Norte: Eventos sobre o Sesquicentenário

A Federação Espírita do Rio Grande do Norte rea-lizou, de 17 a 20 de fevereiro, a 30a Confraternizaçãodos Espíritas do Rio Grande do Norte, cujo temacentral é “Espiritismo: 150 anos esclarecendo e con-solando”. Em março ocorreram palestras sobre oSesquicentenário de O Livro dos Espíritos.

R. G. do Sul: Encontro Jurídico-EspíritaEm comemoração do Sesquicentenário de O Li-vro dos Espíritos, a Associação Jurídico-Espírita doRio Grande do Sul e a Federação Espírita do RioGrande do Sul, com o apoio do Ministério Públicodaquele Estado, realizaram o 3o Encontro Jurídico--Espírita do Rio Grande do Sul, em 31 de marçoúltimo.

Seara Espírita

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