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1 OBESIDADE INFANTIL E EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: análise da relevância da educação física na escola para a prevenção da obesidade infantil Rayla Fernandes Freires Discente Concluinte do CEDF/UEPA [email protected] Profa. Dra. Maria Francisca de S. Bordalo Orientadora Docente do CEDF/UEPA [email protected] RESUMO: A obesidade infantil já é considerada um alerta mundial, pois os índices revelam números altos referentes a este problema. Através deste artigo, são expostas as causas principais da obesidade, dando ênfase para a má alimentação e o sedentarismo, ou seja, evidenciando os fatores comportamentais que geram os maiores índices da obesidade e que atingem grande parte da população, inclusive as crianças. A educação física (EF) escolar é uma ferramenta de grande importância para abordar esta questão, pois está disciplina é a única dentro da escola a qual consegue promover este debate em sua teoria e prática. O artigo tem como objetivo geral analisar de que modo o professor de educação física de uma escola em Castanhal-PA intervém em relação à obesidade infantil durante as suas aulas, através da abordagem quanti-qualitativa de caráter descritivo. O procedimento desde trabalho foi por meio da pesquisa de campo, mediante aplicação de um questionário para 19 crianças da instituição e de uma entrevista semiestruturada com o professor da disciplina. Os resultados da pesquisa revelaram que as principais intervenções da professora em relação a este tema são em promover a conscientização da alimentação dos alunos e em relação ao cuidado durante as atividades com os alunos que dispõe do excesso de peso. Concluindo-se que a disciplina EF consegue identificar os alunos o qual o excesso de peso já tornou um problema, além de poder promover ações que possam intervir nesta questão e também conscientizar os demais alunos sobre este mal. Palavras-Chave: Obesidade. Prevenção. Educação física escolar. INTRODUÇÃO A Educação Física (EF) escolar tradicional, aquela que a maioria das escolas utiliza em seu componente curricular, é voltada para o momento de recreação, como jogos e práticas esportivas e não se preocupam em identificar problemas que estão relacionados com a saúde e qualidade de vida das crianças e explorar este assunto para associar com a disciplina. Um dos temas relevantes para esta abordagem seria a obesidade infantil, que segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que a obesidade infantil poderá chegar aos 75 milhões de portadores, em 2025 (BRASIL, s.d).
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OBESIDADE INFANTIL E EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: análise …...a obesidade infantil, que segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que a obesidade infantil poderá chegar

Sep 29, 2020

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OBESIDADE INFANTIL E EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: análise da relevância

da educação física na escola para a prevenção da obesidade infantil

Rayla Fernandes Freires Discente Concluinte do CEDF/UEPA

[email protected]

Profa. Dra. Maria Francisca de S. Bordalo Orientadora Docente do CEDF/UEPA

[email protected]

RESUMO: A obesidade infantil já é considerada um alerta mundial, pois os índices revelam números altos referentes a este problema. Através deste artigo, são expostas as causas principais da obesidade, dando ênfase para a má alimentação e o sedentarismo, ou seja, evidenciando os fatores comportamentais que geram os maiores índices da obesidade e que atingem grande parte da população, inclusive as crianças. A educação física (EF) escolar é uma ferramenta de grande importância para abordar esta questão, pois está disciplina é a única dentro da escola a qual consegue promover este debate em sua teoria e prática. O artigo tem como objetivo geral analisar de que modo o professor de educação física de uma escola em Castanhal-PA intervém em relação à obesidade infantil durante as suas aulas, através da abordagem quanti-qualitativa de caráter descritivo. O procedimento desde trabalho foi por meio da pesquisa de campo, mediante aplicação de um questionário para 19 crianças da instituição e de uma entrevista semiestruturada com o professor da disciplina. Os resultados da pesquisa revelaram que as principais intervenções da professora em relação a este tema são em promover a conscientização da alimentação dos alunos e em relação ao cuidado durante as atividades com os alunos que dispõe do excesso de peso. Concluindo-se que a disciplina EF consegue identificar os alunos o qual o excesso de peso já tornou um problema, além de poder promover ações que possam intervir nesta questão e também conscientizar os demais alunos sobre este mal. Palavras-Chave: Obesidade. Prevenção. Educação física escolar.

INTRODUÇÃO

A Educação Física (EF) escolar tradicional, aquela que a maioria das escolas

utiliza em seu componente curricular, é voltada para o momento de recreação, como

jogos e práticas esportivas e não se preocupam em identificar problemas que estão

relacionados com a saúde e qualidade de vida das crianças e explorar este assunto

para associar com a disciplina. Um dos temas relevantes para esta abordagem seria

a obesidade infantil, que segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram

que a obesidade infantil poderá chegar aos 75 milhões de portadores, em 2025

(BRASIL, s.d).

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Este tema é de relevância pois, existe grande tendência de crianças ficarem

acima do peso considerável saudável, pelo motivo de não se exercitarem tanto como

antigamente, tornando-se sedentárias logo na infância, pois os momentos de

diversão nos tempos modernos são os jogos de celulares, tablets, e vídeo games,

fazendo com que o público infantil passe grande parte do tempo, sentados à frente

desses aparelhos tecnológicos (NETO; GITTIEREZ; FERNANDES, 2011 apud.

RIBEIRO, 2001; BLAAK et al., 1992, p. 1).

Outro motivo foi evidenciado por Quaioti e Almeida, (2006, p. 198) sendo este

a indústria de alimentação, que contribui fortemente para o aumento desse risco às

crianças, produzindo cada vez mais guloseimas sem nenhum valor nutricional

significativo. Estes que são produtos com teores altos de sódio, açúcar e gordura, e

que são elementos que causam o sobrepeso nas crianças e até mesmo a

obesidade.

O ambiente familiar é outro fator contribuinte para esta estimativa estar se

elevando, visto que, os próprios pais muitas das vezes não estimulam seus filhos à

se exercitaram com alguma atividade física nos horários “vagos” e preencher este

tempo ocioso com exercícios. Assim como, é de responsabilidade dos pais o tipo de

alimento que está na mesa para ser servida, da alimentação que as crianças estão

acostumadas a ter em casa, entre outros fatores, como por exemplo os próprios pais

serem acima do peso ou sedentários. Pois as práticas que a criança está habituada

em casa, é fator considerável para ela desenvolver seus hábitos na fase adulta

(QUAIOTI; ALMEIDA, 2006, p. 198).

Apesar de a obesidade ser classificada como uma doença multifatorial, ou

seja, que existem diversos fatores que podem desenvolvê-la, no estudo de Dâmaso

(2001, p. 227) a autora evidencia que a maioria dos casos que podem resultar nesta

enfermidade são os fatores comportamentais. Quaioti e Almeida (2006, p. 201)

aborda também que apesar da diversidade em relação ás causas da obesidade e

algumas destas não podendo ter alterações; as causas ambientas por outro lado

podem ser alteradas e devido isto, é necessário uma orientação adequadas para

evitar os desequilíbrios, principalmente em relação as crianças. Diante disto, os

trabalhos têm ênfase nestas causas.

O interesse por esta pesquisa surgiu através das vivências nas disciplinas

Estágio I e II, onde foi perceptível a Educação Física escolar voltada apenas para

conteúdos de jogos e esportes, respectivamente, onde não tinham nenhum tipo de

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associação entre os conteúdos da EF com aspectos relacionados a saúde. O qual

estes causaram inquietação em compreender como a Educação Física escolar pode

atuar no sentido de tratar assuntos relevantes à saúde, sendo este a prevenção da

obesidade infantil nas próprias aulas, visto que a EF segue incluída nos cursos

referentes à área da saúde.

A educação física escolar é uma ferramenta de grande importância para

abordar esta questão, pois foi encontrado nos estudos de Teixeira e Destro (2010, p.

2) e Guedes e Guedes (1998, p. 264) que está disciplina consegue aproximar os

alunos da prática de exercício físico e também a abordagem de assuntos como a

alimentação saudável. Esta disciplina é a única dentro da escola que desempenha o

trabalho no indivíduo em sua totalidade, sendo estas o corpo e mente e a qual

consegue promover este debate em sua teoria e prática.

Diante da problemática acima, é de importância poder ter conhecimento de

como a educação física escolar atua diante desta questão, juntamente com a escola,

para a promoção da saúde com destaque na prevenção da obesidade infantil. Por

tanto, surgiu o propósito de investigar: De que modo o professor de educação física

de uma escola em Castanhal-PA intervém em relação à obesidade infantil durante

as suas aulas?

Esta pesquisa tem como objetivo principal analisar de que modo o professor

de educação física de uma escola em Castanhal-PA intervém em relação à

obesidade infantil durante as suas aulas. E tem como objetivos específicos

identificar os fatores relacionados à alimentação e prática de exercício físico que as

crianças desta instituição têm como hábito e conhecer como a disciplina educação

física pode abordar sobre a promoção de saúde voltada para a prevenção da

obesidade durante as aulas.

1 METODOLOGIA

A metodologia aplicada deu-se através da abordagem quantitativa que

“caracteriza-se pelo emprego da quantificação tanto nas modalidades de coleta de

informações quanto no tratamento delas, por meio de técnicas estatísticas”

(DUARTE et al., 2009, p. 177) e qualitativa, a qual “justifica-se, principalmente, por

ser uma forma adequada para entender a natureza de um fenômeno social”

(DUARTE et al., 2009, p. 177). A pesquisa tem caráter descritivo, pois desta maneira

foi identificado os fatores que contribuem para o aumento de peso das crianças e

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analisado como ocorre a abordagem da obesidade infantil dentro das aulas de

educação física numa escola da cidade de Castanhal-PA. Deste modo foram

compreendidos os métodos que o professor de educação física utiliza para tratar

está problemática.

As pesquisas deste tipo têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações variáveis. São inúmeros os estudos que podem ser classificados sob este título e umas de suas características mais significativas está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados (GIL, 1989, p. 45).

O procedimento deste estudo foi feito por meio da pesquisa de campo que

segundo Marconi e Lakatos (2003, p. 186) são utilizadas com o objetivo de

conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um problema, para o qual se

procura uma resposta. O local de pesquisa foi em uma escola particular, localizada

na cidade de Castanhal – PA e para a coleta dos dados foram utilizadas as

seguintes técnicas: Questionário e entrevista.

Aplicou-se um questionário para 19 alunos, este adaptado da dissertação da

autora Faria (2008), com 10 perguntas fechadas a fim de identificar os fatores

relacionados à alimentação e prática de exercício físico. O questionário é uma das

mais consideráveis técnicas de obtenção de informações numa pesquisa (GIL, 1989,

p. 124). O estudo constituiu também de uma entrevista semiestruturada com a

professora da disciplina Educação Física, esta que é caracterizada por perguntas

previamente elaboradas, porém podendo ter alterações conforme as respostas do

entrevistado com o propósito de alcançar os objetivos da pesquisa. A entrevista

segundo Gil (1989, p. 114) “oferece flexibilidade muito maior, posto que o

entrevistador pode esclarecer o significado das perguntas e adaptar-se mais

facilmente às pessoas e às circunstâncias em que se desenvolve a entrevista”.

Os critérios de inclusão para esta pesquisa foram: alunos do 4º e 5º ano da

instituição, de ambos os sexos. O critério de inclusão para o professor foi este ser

graduado em Educação Física e fazer parte da instituição pesquisada. Os critérios

de exclusão do trabalho foram: alunos com presença de deficiência física e mental,

adquiridas ou congênitas. A coleta de dados teve duração de um mês e foi feita com

cinco visitas na instituição.

A análise de dados foi realizada pelo método de análise do conteúdo que

segundo Guerra (2014, p. 38), caracteriza-se por ser “uma técnica de tratamento de

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dados coletados, que visa à interpretação de material de caráter qualitativo,

assegurando uma descrição objetiva, sistemática”. E por meio da análise estatística-

descritiva que é utilizada “para organizar, resumir e descrever os aspectos

importantes de um conjunto de características observadas” (REIS; REIS, 2002, p. 5).

2 OBESIDADE

2.1 ETIOLOGIA DA OBESIDADE E SUAS COMPLICAÇÕES

Considerada um dos males do século, a obesidade cresce drasticamente na

sociedade. De acordo com os dados de uma pesquisa realizada pelo Ministério da

Saúde em 2012, mais da metade da população brasileira adulta está com excesso

de peso e destes, 17% fazem parte da população de obesos. Em relação ao gênero,

os índices são de: 54% do excesso de peso em homens e entre as mulheres, 48%

(BRASIL, 2013).

De acordo com a autora Dâmaso (2001, p. 223), a obesidade é uma das

enfermidades mais antigas que atinge o homem, e é caracterizada pelo excesso de

gordura corporal em vários segmentos do corpo, o qual influência negativamente em

fatores relacionados à saúde desse indivíduo. O IMC acima de 35 refere-se a

pessoas com obesidade.

O tipo de mensuração mais tradicional usado para determinar o grau de obesidade e riscos de saúde, principalmente em estudos populacionais, é o Índice de Massa Corporal (IMC) [...]. Este mede indiretamente a massa corporal, expressa por meio dos valores de peso (kg) dividido pela estatura ao quadrado (m²) (DÂMASO, 2001, p. 223-224).

Os debates sobre este assunto revelam que existem diversas causas que

levam as pessoas a este quadro clínico, sendo estes os principais: biológico ou

fatores ambientais.

Segundo Jebb (1997), provavelmente a etiologia da obesidade é uma das mais complexas. De fato, o seu desenvolvimento possui múltiplas causas e é o resultado de complexas interações entre fatores genéticos, psicológicos, socioeconômicos, culturais e ambientais (FRANCISCHI et al 2000. Apud. BLUMENKRANTZ, 1997, p. 19-20).

Existem indivíduos com uma pré-disposição para este ganho de peso

excessivo, porém não é o fator de maior relevância, sendo este, a má alimentação e

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o sedentarismo, pois a pessoa ingerindo grande quantidade de comida com alto

valor energético e não fazendo uso dessa energia, acumulará em forma de gordura

a energia não utilizada.

Pode-se afirmar que as tendências de transição nutricional ocorrida neste século em diferentes países do mundo convergem para uma dieta mais rica em gorduras (particularmente as de origem animal), açúcares e alimentos refinados, e reduzida em carboidratos complexos e fibras, [...]. Aliando esse fator com o declínio progressivo da atividade física dos indivíduos, percebe-se alterações concomitantes na composição corporal, principalmente o aumento da gordura (FRANSCISCHI et al. 2000, p. 18).

O desenvolvimento desta doença pode estar relacionado com dois tipos de

fatores, sendo esses endógenos ou exógenos. (DÂMASO, 2001, p. 227; FISBERG,

2006, p. 163) A prevalência maior dos casos de obesidade, estão relacionados com

os fatores exógenos, ou seja, fatores comportamentais do indivíduo, como sua alta

ingestão calórica relacionada ao baixo gasto calórico. A minoria dos casos de

obesidade é decorrente de fatores endógenos, aqueles que são definidos por

causas hormonais, genética, ou medicamentosa, por exemplo.

A obesidade pode resultar de fatores endógenos ou exógenos. A obesidade de origem endógena representar cerca de 5% ou menos dos casos da atualidade, podendo ser de origem hereditária/congênita, psicogênica, medicamentosa e endócrina. Por outro lado, a obesidade exógena pode representar 95% ou mais dos casos e sua origem está relacionada a fatores ambientais, como problemas sociais e emocionais, mas principalmente, devido a hipoatividade (sedentarismo, TV e games) e aos maus hábitos alimentares [...] (DÂMASO, 2001, p. 227).

Em relação à classificação da obesidade no que diz respeito à distribuição da

gordura corporal, existem quatro, sendo duas de maior ocorrência. A classificação

de Andróide que refere a obesidade com maior incidência na parte abdominal,

lembrando o formato de uma maçã, como também é conhecida, sendo mais comum

nos homens; e a Ginóide ou forma de pêra, que é a gordura localizada nos quadris e

pernas e é mais comum nas mulheres (DÂMASO, 2001, p. 227-228).

Esta patologia facilita o desenvolvimento de doenças crônico-degenerativas,

como a diabetes mellitus tipo II, hipertensão, doenças cardíacas e respiratórias,

principalmente os que dispõem da gordura localizada na parte central do corpo, ou

seja, no abdômen (DÂMASO, 2001, p. 223-224). Além disso, a obesidade pode

aumentar os riscos do desenvolvimento de câncer no indivíduo, “tais como,

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gastrintestinal, de cólon, endometrial em mulheres e de próstata em homens”

(DÂMASO, 2001, p. 231).

2.2 OBESIDADE INFANTIL

A obesidade infantil cresce cada vez mais e é motivo de alerta, visto que essa

patologia não atinge mais em grande quantidade somente os adultos. Dados de uma

pesquisa feita pelo IBGE no período de 2008/2009 revelaram dados alarmantes em

relação ao aumento do peso infantil no Brasil: O excesso de peso em crianças de 5

a 9 anos foi de 34,8% em meninos e 32% em meninas desta faixa etária, sendo um

total de 33,5% do excesso de peso nas crianças.

Os indicadores selecionados apontam para os aspectos relacionados à má alimentação, refletida no quadro de transição nutricional observado no Brasil, em que é possível notar o declínio das prevalências de desnutrição infantil e o aumento das prevalências de excesso de peso (sobrepeso e obesidade) a níveis alarmantes dentre praticamente todas as faixas etárias da população, favorecendo o surgimento de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) (BRASIL, 2015).

A má alimentação e a diminuição dos exercícios físicos são fatores de maior

relevância para ocasionar esse aumento de peso infantil, sendo estes os fatores

exógenos, relacionados aos hábitos, pois a criança é exposta a esse ambiente de

práticas “não” saudáveis.

O estudo de Oliveira et al., [...], verificou que a obesidade infantil foi inversamente relacionada com a prática da atividade física sistemática, com a presença de TV, computador e videogame nas residências, além do baixo consumo de verduras, confirmando a influência do meio ambiente sobre o desenvolvimento do excesso de peso em nosso meio (OLIVEIRA; FISBERG. 2003, p. 107).

Diante deste exposto, é possível relacionar com um dos resultados da

pesquisa, onde mostra um número considerável de crianças que não praticam a

educação física na escola (Gráfico 1) e também não fazem nenhum outro tipo de

atividade física em outro ambiente. Ou seja, são crianças que acabam por se tornar

sedentárias, visto que além da não participar das aulas de educação física, os

momentos de lazer também são realizados por atividades de baixo ou nenhum gasto

calórico considerável. (Gráfico 2)

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Gráfico 1: Participação nas aulas de EF

Fonte: Pesquisa de Campo (2018)

Gráfico 2: Demonstrativo das atividades em lazer

Fonte: Pesquisa de Campo (2018)

O gráfico 1- demonstra que 37% das crianças entrevistadas nunca participam

das aulas de Educação Física e que 5% das crianças participam às vezes. Enquanto

isto, temos o gráfico 2- que mostra qual o tipo de atividade realizada pelas crianças

nos momentos de lazer, onde 58% tem o momento de lazer realizado em frente dos

aparelhos tecnológicos, isto é, atividades de pouco movimentos que vão interferir no

baixo gasto calórico. Ou seja, pode-se concluir que as mesmas se encontram na

zona de alerta em relação ao sedentarismo.

Outra condição importante para o desenvolvimento do aumento de peso

infantil é em relação às condições econômicas, alguns estudos mostram índices

diferentes do aumento do peso infantil no que diz respeito a escolares de escola

58%

42%

Pc, celular, tv Brinca ativamente

58%

5%

37%

Sempre participa Participa as vezes Nunca participa

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pública vs. particular (OLIVEIRA; FISBERG, 2003 p.107; MIRANDA et al., 2015, p.

106). Diante disto, pode-se constatar que o padrão de vida que uma criança leva,

também é fator contribuinte da obesidade infantil, visto que, o alto padrão de vida é

diretamente proporcional ao consumismo, onde este terá acesso mais fácil às

tecnologias e diversidade de alimentos industrializados.

Outro achado importante foi o fato da criança estudar em escola privada e ser unigênita, como os principais fatores preditivos na determinação do ganho excessivo de peso, demonstrando a influência do fator sócio-econômico e do micro-ambiente familiar. O acesso mais fácil aos alimentos ricos em gorduras e açúcares simples, assim como, aos avanços tecnológicos, como computadores e videogames, poderia explicar de certa forma a maior prevalência da obesidade encontrada nas escolas particulares (OLIVEIRA; FISBERG, 2003 p.108).

Consequentemente, esse aumento de peso vai favorecer o desenvolvimento

de outras disfunções na infância, como “[...] as articulares, metabólicas, cirúrgicas,

psicossociais e respiratórias” (RECH et al., 2008, p. 114). Em relação às disfunções

psicossociais, as crianças obesas ou com excesso de peso, poderão desenvolver

uma insatisfação corporal em relação às demais crianças que tiverem o peso

adequado.

Crianças obesas freqüentemente referem ao peso um fator agravante na interação social, sofrendo discriminações que interferem em seus relacionamentos sociais e afetivos. Dessa maneira, crianças e adolescentes que se deparam com a obesidade têm muitos problemas em relação à aceitação de sua auto-estima e à valorização de seu próprio corpo (RECH et al., 2008, p. 115).

Uma fala da professora entrevistada para este trabalho revelou esta questão,

onde a mesma citou exemplos de alunos com sobrepeso ou obesidade que sofrem

alguma discriminação por parte dos colegas de turma durante as aulas de educação

física, visto que a razão do peso elevado é fator influente no desempenho deste

aluno, o que acaba por refletir em “deboches” dos demais.

[...] na minha aula aconteceu muito disso, principalmente do bullying... dos outros colegas ficarem mexendo sobre o peso. Mas eu procuro sempre ponderar a atividade onde todos consigam executar daquela forma, onde o peso não venha interferir na execução daquela atividade. [...] eu evito principalmente que eles se limitem a atividade e que os demais cheguem a usar de palavras ofensivas com eles, então quando um aluno não consegue, por exemplo, correr muito rápido e o outro diz assim: “ah, por que tu é gordo!” eu

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imediatamente pego esse aluno que ofendeu e tiro por um tempo da aula e explico como ele precisa fazer e digo que se da próxima vez fizer novamente ele vai ficar suspenso da próxima aula, para ele aprender a respeitar o colega. (Professora)

Relacionado às disfunções respiratórias e cardíacas, a Professora mencionou

que muitos alunos acima do peso sentem certa dificuldade em algumas atividades,

por exemplo, os exercícios de correr, o qual muitos ficam ofegante e cansados com

mais frequência do que os demais alunos.

A dificuldade deles é mais o cansaço, eles são alunos que cansam mais rápido que os demais, querem beber mais água que os demais e eles acabam se assustando muito, quando o aluno não tem muita prática, [...] quando eles vê que o batimento cardíaco tá muito acelerado, ai eles ficam mais ofegantes, mas assim, durante as aulas eu tento trabalhar isso com eles, da respiração, dizer pra eles ficarem mais calmos, que isso vai passar. [...] quando eu percebo eu vou lá e trabalho mais específico com aquele aluno. (Professora)

Diante dos expostos, a obesidade infantil tornou-se um problema de saúde

pública, pois uma criança que tem sobrepeso ou é obesa, além de todos os

malefícios em relação à saúde, ainda terá chances consideráveis de desenvolver o

mesmo problema na fase adulta, sendo o risco de 20% a 50% se a obesidade for

desde antes a puberdade e de 50% a 70% se for após a puberdade (PROJETO,

2005, p.6). Os riscos aumentam também no que diz respeito a probabilidade desta

criança adquirir outros distúrbios.

3 ALIMENTAÇÃO INFANTIL E SUAS IMPLICAÇÕES NO EXCESSO DE PESO

INFANTIL

No início da infância que os hábitos de alimentação e exercícios são

propostos e afixados na criança. Provavelmente se os hábitos do ambiente que essa

criança vive forem hábitos saudáveis ela possivelmente desenvolverá esse mesmo

comportamento por todo seu crescimento e muito possivelmente estará fora do risco

de adquirir problemas como o ganho de peso e obesidade.

Os pais exercem influência importante sobre a ingestão de alimentos pela criança. Durante a primeira infância, é primordial que eles ofereçam aos seus filhos refeições e lanches saudáveis, balanceados, adequados em nutrientes e que possibilitem à criança escolher quais destes alimentos ela quer comer, bem como a quantidade que ela deseja, formando assim hábitos alimentares

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saudáveis e evitando o desenvolvimento da obesidade (GUIMARÃES, 2012, p.2).

O comportamento alimentar infantil e que muito provavelmente se refletirá na

fase adulta, tem como principal influente, como dito anteriormente, o ambiente

familiar. Existem estudos provando que essa influência ocorre desde o momento da

amamentação, da relação que o bebê tem com sua mãe ao se alimentar do leite

materno, o qual esse vai ter certa tendência para consumir os alimentos que sua

mãe ingeriu durante este momento (QUAIOTI; ALMEIDA, 2006, p. 195 apud.

GALEF, 1982; GALEF; HANDERSON, 1972; SULLIVAN; BIRCH, 1994). As mídias

e publicidade, também têm grande peso em relação as preferências alimentares de

uma criança, dependendo do ambiente familiar, caso os pais não possuam hábitos

alimentares saudáveis e não proporcionam isto aos seus filhos, as propagandas

poderão influenciar a criança em relação aos alimentos (QUAIOTI; ALMEIDA, 2006,

p. 196 apud. BIRCH, 1999).

Na realidade é de conhecimento que a maioria das crianças tem preferência

por guloseimas, sejam elas doces ou salgadas, e que muitas em determinada faixa

etária, têm receio de experimentar novos tipos de alimentos, principalmente as

verduras, legumes e frutas e acabam desenvolvendo a neofobia alimentar, o que

poderá prejudicar o desenvolvimento deste indivíduo, visto que ele terá deficiência

de nutrientes importante para o desenvolvimento físico e cognitivo e possuirá

tendências para o aumento de peso (QUAIOTI; ALMEIDA, 2006, p. 197).

Diante do exposto acima, é interessante contrastar com a pesquisa de campo,

onde o resultado para o consumo de verduras, legumes e frutas foi considerável

entre às criança, mostrando que 14 crianças (74%) consomem verduras e legumes

em sua alimentação diária, enquanto 5 crianças (26%) não consomem esse tipo de

alimentos em sua rotina. Outro dado importante foi de que 18 crianças (95%)

consomem frutas diariamente. (Gráfico 3)

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Gráfico 3: Consumo de alimentos naturais

Fonte: Pesquisa de Campo (2018)

Grande parte das crianças que participaram do estudo consumem em sua

rotina os alimentos naturais, sendo estes as verduras, legumes e frutas. “O consumo

regular de uma variedade de frutas, legumes e verduras [...] oferece garantia contra

a deficiência da maior parte de vitaminas e minerais, aumentando a resistência às

infecções, além de evitar a obesidade” (BRASIL, 2014). Portanto foi interessante

verificar que a maior parte dessas crianças possui em seu hábito alimentar o

costume de ingerir esses alimentos, dado que é de grande importância, pois esses

alimentos fazendo parte do cotidiano desde a infância será muito mais provável que

continuem na rotina delas durante toda a vida, contribuindo assim para o seu

desenvolvimento e para o combate ao ganho de peso excessivo.

Na ocasião que as crianças passam a frequentar a escola, pode-se tornar

algo benéfico em relação a alimentação ou não, visto que, depende se esse

ambiente tem políticas relacionadas a educação nutricional e do que é servido na

cantina ou na lanchonete da escola. No início da idade escolar, a maioria das

crianças traz o lanche de casa para ser consumidos na escola, porém muitos desses

lanches são compostos de bebidas açucaradas, biscoitos ou salgadinhos, afim de

satisfazer a preferência alimentar delas, e são deixadas de lado as frutas e lanches

naturais, por exemplo (QUAIOTI; ALMEIDA, 2006, p. 198 apud MARTINS; FILHO,

2001; KREBS; SMITH et al., 1996).

Relacionado a isto, na pesquisa foi constatado que 84% dos alunos compram

o lanche na própria lanchonete da escola, como mostra o gráfico 4.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

Comem verduras/legumes

Gostam de comerverduras/legumes

Comem frutas

Sim Não

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Gráfico 4: Demonstrativo de onde advém o lanche na escola

Fonte: Pesquisa de campo (2018)

A Professora da instituição afirmou que durante o intervalo observa os

lanches das crianças e verifica que os mesmos não são nada saudáveis, tanto os

comprado na escola quanto os que vêm de casa. Diante disto, ela relatou que foi a

preocupação inicial que a motivou a promover a semana da saúde na escola, este

que tem como objetivo a conscientização em relação a alimentação, afim de

contribuir principalmente com o tema da obesidade infantil, como forma de

prevenção às crianças.

4 EXERCÍCIO FÍSICO: COMO PROMOVER A MANUTENÇÃO PARA O PESO

SAUDÁVEL NA CRIANÇA NO AMBIENTE ESCOLAR

O exercício físico é toda e qualquer atividade física que esteja sendo

executada para um fim, seja ele para promover a saúde ou para aptidão física, por

exemplo. A vantagem de se praticar o exercício físico, é que ele pode ser adaptado

a qualquer indivíduo que irá realiza-lo, logo existem diversas formas de adaptá-los

para uma criança com sobrepeso ou obesa, como em questão.

A importância dos exercícios é principalmente para manter a saúde, pois

como Santarém (2012, p.11) menciona que, a prática de atividade física exerce

primeiramente efeitos no sistema cardiovascular e no metabolismo, o que já é de

considerável relevância para a manutenção do peso saudável, que vão atuar

simultaneamente como fator de prevenção às doenças crônicas. O autor reforça

que:

84%

16%

Compram na escola

Trazem de casa

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A atividade física habitual consegue diminuir a ocorrência dessas situações patológicas graves, evitando ou controlando doenças crônicas [...]. Essas doenças são a hipertensão arterial, o diabetes do tipo 2, a obesidade [...]. Muitas vezes, não é possível evitar essas doenças em virtude de predisposição genética, mas mesmo nesses casos, a atividade física consegue retardar ou impedir a evolução [...] (SANTARÉM, 2012, p. 11).

Como vimos, é possível controlar ou até mesmo afastar as chances de ter

problemas no metabolismo com a prática de atividades físicas, e um desses

problemas, é a própria obesidade. Para isso, faz-se possível, com a prática de

atividades e uma alimentação com valores nutricionais de importância, diminuir o

percentual de gordura, o que acarreta em perda de peso desse indivíduo obeso e

assim, ajudando o mesmo a manter o peso saudável.

Segundo Guedes e Guedes (1998, p. 261) a inclusão do exercício físico na

rotina do indivíduo, este sendo orientada de maneira correta, tem se revelado

benéfico na manutenção da saúde dos mais jovens, pois além de aumentar a

demanda energética para o controle de peso, por exemplo, este também favorece a

proteção da saúde em relação ao presente e ao futuro destes indivíduos. A

Educação Física escolar surge como um espaço onde as crianças podem participar

de diversos tipos de atividades, contribuindo para o equilíbrio energético das

mesmas (GUEDES; GUEDES, 1998, p. 264).

Algumas práticas dentro desta disciplina são fundamentais para o cuidado da

obesidade infantil, pois é comum encontrar crianças que não se interessam por

atividades repetitivas e monótonas, então uma possibilidade é fazer uso dos

diversos conteúdos da EF escolar, que são “temas da cultura corporal, ou seja, os

jogos, a ginástica, as lutas, [...] (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 10) e não focar

apenar em atividades tecnicistas, pois se torna às vezes cansativo para a criança

com excesso de peso, visto que se tratando principalmente destas é importante que

a prática seja prazerosa e que a mesma consiga executá-las.

Trata-se, portanto, de localizar em cada uma dessas modalidades (jogo, esporte, dança, ginástica e luta) seus benefícios humanos e suas possibilidades de utilização como instrumentos de comunicação, expressão de sentimentos e emoções, de lazer e de manutenção e melhoria da saúde (BRASIL, 1998, p. 29).

Sendo relevante utilizar como ferramenta os conteúdos dos Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCN’s), esses que são referências que auxiliam o professor

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de qualquer disciplina a desenvolver suas aulas, não sendo de obrigatoriedade. “Sua

meta é garantir aos educandos o direito de usufruir dos conhecimentos necessários

para o exercício da cidadania” (OLIVEIRA, 2017).

Diante disto, encontramos nos PCN’s os Temas Transversais que são

“apontados como temas de urgência para o país como um todo, além de poder tratar

outros relacionados às necessidades específicas de cada região” (BRASIL, 1998,

p.34). Dentro dos temas transversais referidos pelos PCN’s está o tema Saúde, este

que se refere a:

[...] preocupação e a responsabilidade na valorização de conhecimentos relativos à construção da auto-estima e da identidade pessoal, ao cuidado do corpo, à nutrição, à valorização dos vínculos afetivos e a negociação de atitudes e todas as implicações relativas à saúde da coletividade, são compartilhadas e constituem um campo

de interação na atuação escolar (BRASIL, 1998, p.36).

Faz-se necessário abordar este assunto dentro das aulas de EF, visto que é

favorável a construção de hábitos saudáveis desde a infância, o qual terá grandes

chances de refletir positivamente nas fases seguintes de vida deste indivíduo, pois

“a criança e o adolescente passam uma parte do dia na escola e, nesse sentido, a

Educação Física Escolar torna-se um elo direto entre os alunos e a prática de

exercícios físicos“ (TEIXEIRA; DESTRO, 2010, p. 2).

5 INTERVENÇÕES INCLUÍDAS NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

RELACIONADAS A OBESIDADE INFANTIL

Diante dos dados coletados em entrevista com a Professora da referida

instituição, pode-se notar que a mesma se preocupa com a questão da saúde dos

seus alunos, incluindo o tema da obesidade infantil, e promove ações associadas a

isto. Os exemplos dessas intervenções são: a forma de conscientização dos alunos

em relação a uma alimentação mais saudável e balanceada; os cuidados que a

professora tem durante a aula com os alunos que possuem o excesso de peso e a

atenção em considerar de importância o debate deste assunto na escola e da

inclusão do mesmo na grade curricular da disciplina, para viabilizar a prevenção de

futuros adultos obesos e com outros tipos de patologia.

A intervenção associada à alimentação destes alunos surgiu através da

percepção da professora aos lanches de baixa qualidade que são consumidos no

ambiente escolar. Devido isto despertou a preocupação em promover um projeto

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que proporcionasse o debate sobre a alimentação saudável na própria escola, sendo

este a Semana da saúde, o qual tem por objetivo conscientizar os alunos e os pais

do mesmo em relação à alimentação saudável; quais são esses alimentos e por que

são considerados saudáveis, pretendendo auxiliar na melhor escolha dos alimentos

dos alunos. O projeto tem como metodologia a identificação feita pelas próprias

crianças de alimentos encontrados em casa que considerarem saudável, onde

devem levá-los para a escola, assim a professora desenvolverá uma aula em cima

dos alimentos trazidos pelos alunos.

Diante do exposto, podemos relacionar com o que a literatura nos apresenta,

onde segundo Guedes e Guedes (1998, p. 264) as ações desenvolvidas no

ambiente escolar, referentes ao controle de peso são relevantes visto que sendo

neste local, ela consegue atingir um número maior de indivíduos e que os mesmos

“[...] realizam pelo menos uma de suas refeições (merenda escolar) e/ou consomem

produtos de lanchonete na escola, havendo ai possibilidade de discutir conceitos

associados à alimentação saudável.” Portanto é uma estratégia que parece ser

eficaz para este controle do peso infantil, visto que o ambiente escolar facilita este

debate.

Tratando-se dos alunos que já se encontram com excesso de peso, o relato

foi de que sua primeira atitude é comunicar aos pais caso ela tenha observado

dificuldade desse aluno na execução das aulas e tentar conhecer mais desse aluno,

se ele traz consigo algum tipo de problema de saúde advindo do peso elevado, pois

já foi discutido aqui que a obesidade é uma doença oportunista, ou seja, ela facilita

outros tipos de disfunções.

[...] eu já identifiquei vários alunos que estão acima do peso e a primeira atitude que eu tomo é conversar com os pais, para saber se eles tem conhecimento se o aluno tem problema cardíaco, se ele já tem algum problema devido ao sobrepeso, nas articulações ou musculares, diabetes... e a partir do diagnóstico inicial dos pais, eu começo com aquele aluno, durante a atividade que todos vão fazer, é... ter uma atenção mais especial. [...] em exercícios mais intensos, eu costumo controlar os batimentos cardíacos. (Professora)

Durante a entrevista, foi comentada uma situação em que uma criança com

obesidade passou mal com as atividades da aula e após esse evento, se recusou a

continuar nas aulas, os autores Guedes e Guedes (1998, p. 262) explicam este fato,

que é devido à resistência que os indivíduos com excesso de peso têm em relação a

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praticar exercícios físicos, em consequência da reduzida capacidade de realizar o

esforço muscular, pois esses acabam por evitar esse tipo de atividades mais

vigorosas. Ou seja, dependendo do grau de excesso de peso, atividades que

aparentam ser simples, podem exigir muito de indivíduos com obesidade. Em vista

disso, torna-se relevante o incentivo do professor de educação física a esses alunos,

para gradativamente ir inserindo-os nas atividades físicas e tornar este aluno ativo.

Acerca da concepção da Professora sobre incluir este debate da obesidade

infantil utilizando as aulas de educação física, ela afirmou ser um tema de urgência,

principalmente nos dias atuais, pois a grande quantidade de alimentos processados

que estão na alimentação das crianças é muito significativo. Outro fator mencionado

foi que inserindo este assunto na grade curricular da disciplina, será uma estratégia

fundamental para prolongar a vida dos indivíduos e beneficiá-los de uma melhor

qualidade de vida.

Os autores Guedes e Guedes (1998, p. 264) retratam este fato, observando

que a escola deve abranger esse tipo de ação educativa, pois durante a vida de um

indivíduo é reservado um longo período dentro da escola, por tanto, este ambiente

se torna mais efetivo para esta discussão, podendo atingir não somente aqueles que

já têm excesso de peso ou a obesidade, mas também aqueles que possam vir a

desenvolver este problema.

6 CONCLUSÃO

A pesquisa realizada salientou que a educação física escolar é uma

ferramenta de extrema importância para atuar na questão da obesidade infantil,

como forma de alerta, de prevenção e também nos cuidados com este problema de

saúde. Visto que está disciplina é a que mais tem contribuições referentes a este

tema, pois assim como seus conteúdos são voltados pra prática de exercício físico,

a mesma também pode promover debates durante as aulas sobre as principais

razões que levam o indivíduo a adquirir peso excessivo, como a alimentação

inadequada e o sedentarismo.

Diante dos resultados encontrados, percebeu-se que as crianças pesquisadas

estão incluída no grupo que engloba as maiores causas do excesso de peso, sendo

os fatores exógenos e diante disto foi possível comprovar através da entrevista com

a professora da disciplina e das revisões bibliográficas que esses fatores podem ser

tratados dentro das aulas de EF, através de atividades bem elaboradas, que

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consigam agregar a todos, pois é de importância que as crianças com sobrepeso ou

obesas se sintam acolhidas dentro das aulas de educação física e pelos colegas,

para sentir-se mais estimulada a praticar os exercícios e torna-se ativa. Durante as

aulas também, é possível que ocorra discussões relacionadas à alimentação, pois o

professor de educação física pode incluir a educação nutricional como conteúdo em

suas aulas.

Além disso, ficou claro que quanto mais cedo à criança conhecer e ter bons

hábitos inseridos na sua rotina, a probabilidade dela continuar com estes costumes

por toda a vida é mais alta, porém além da escola e da disciplina EF contribuir com a

instrução para a adoção deste estilo de vida, é indispensável à contribuição da

família da criança em relação a esses hábitos, visto que o ambiente familiar tem

enorme colaboração para que eles possam ser realmente fixados na criança, logo

este dever é da participação conjunta entre escola, professor e família.

A EF também tem sua relevância referente ao cuidado com os alunos que

tenham sobrepeso ou obesidade, pois como vimos neste trabalho, o professor de EF

é capaz de identificar o quanto o excesso de peso pode prejudicar o aluno, e assim

alertar aos responsáveis do mesmo sobre os problemas que o excesso de peso

pode proporcionar ao indivíduo, como o rápido cansaço durante atividades simples;

em relação às doenças que são favorecidas por este problema, sendo o diabetes;

hipertensão; o colesterol alto, entre outras.

Portanto, é notória a relevância da educação física escolar para a prevenção

da obesidade infantil e também das contribuições que o professor de EF pode

oferecer para o cuidado com essas crianças. É incontestável que o tratamento da

obesidade deve ser feita de maneira multidisciplinar, porém tratando-se de crianças,

a EF consegue identificar os alunos o qual o excesso de peso já tornou um

problema, além de poder promover ações que possam intervir nesta questão e

também conscientizar os demais alunos sobre este mal. Desta maneira, é

fundamental que a escola juntamente com esta disciplina, oportunizem que este

assunto seja tratado no ambiente escolar.

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CHILD OBESITY AND PHYSICAL EDUCATION IN SCHOOLS: analysis of the

importance of physical education inside the school to prevent child obesity

ABSTRACT: Child obesity is considered a worldwide alert since its indicators portray increasing numbers related to this problem. Through this article, the main causes of obesity are revealed, emphasizing unhealthy diets and sedentariness, in other words, showing the behavioral factors that create the biggest indicators of obesity that reaches a huge part of the population. Scholar Physical Education (PE) it’s a very important tool to treat this question, since this subject is the only one capable to discuss obesity in both, theory and practice. The objective of this article is to analyze in which way the professor of physical education in a school at Castanhal, Pará is able to refer to child obesity during the classes through a qualitative approach. The proceeding of this work was done by an in locus research, using a survey that was applied to 19 children of the institution and also by an interview semi structured with the professor of the subject. The result of the research revealed that the main contributions given by the professor are related to the awareness of heathy diets and also taking care of the students that already are above their weight during the exercises. Concluding, PE allows professors to identify students in which obesity is already a problem. Besides, the professor can also develop actions that help these students and also leaves the other students aware of obesity. Key words: Obesity; Child Obesity; Scholar Physical Education.

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