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154 Rev. Científica Eletrônica UNISEB, Ribeirão Preto, v.7, n.7, p.154-172, jan/jun. 2016. O USO DO EMOJI NA SIGNIFICAÇÃO E EMOÇÃO DA CONVERSA DIGITAL Vinícius Rocha da Silva- Graduando do Curso de Comunicação Social pela Estácio Vitória. Bruno Ferreira Cesario de Castro- Graduado em Comunicação Social pela UNIVILA e Especialista em Gestão e Estratégias de Comunicação pela Metodista/ES. Resumo A linguagem digitada com elementos que lembram a linguagem falada criam uma comunicação híbrida, com características únicas. Um desses elementos é o emoji, que faz o ambiente virtual ficar ainda mais interessante. Esse artigo estuda o uso dos emojis e sua capacidade de expressão nas trocas de mensagens digitais. Foram analisadas trabalhos acadêmicos e obras sobre a CMC (Comunicação Mediada por Computador), além de evidências empíricas e recorte de reportagens, atestando a presença dos emojis no meio social. Palavras-chave: emoji, conversa digital, expressão, emoções. Abstract The digital language with elements that recall a spoken language creates a hybrid communication, with unique characteristics. One of these elements is the emoji, that makes the virtual environment more interesting. This article studies the usage of emojis and their capacity for expression in digital messaging exchanges. They have been analyzed academically in works about CMC (Computer Media Communications), along with empirical evidence and reports, attesting to the presence of emojis in social media. Keywords: emoji, digital conversation, expression, emotions. Introdução A apropriação do computador como ferramenta social vem se tornando uma prática cada vez mais comum em toda parte do mundo e estudar esse fenômeno ajuda a compreender os vários aspectos envolvidos na socialização entre as pessoas, vide Recuero (2012). A autora observa ainda que além dos aspectos de estrutura e organização textual na composição do sentido da mensagem, estão envolvidos fatores socioculturais, podendo-se fazer um intercâmbio entre a linguagem oral e escrita.
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Nov 08, 2018

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Rev. Científica Eletrônica UNISEB, Ribeirão Preto, v.7, n.7, p.154-172, jan/jun. 2016.

O USO DO EMOJI NA SIGNIFICAÇÃO E EMOÇÃO

DA CONVERSA DIGITAL

Vinícius Rocha da Silva- Graduando do Curso de Comunicação Social pela Estácio Vitória.

Bruno Ferreira Cesario de Castro- Graduado em Comunicação Social pela UNIVILA e

Especialista em Gestão e Estratégias de Comunicação pela Metodista/ES.

Resumo

A linguagem digitada com elementos que lembram a linguagem falada criam uma comunicação

híbrida, com características únicas. Um desses elementos é o emoji, que faz o ambiente virtual

ficar ainda mais interessante. Esse artigo estuda o uso dos emojis e sua capacidade de expressão

nas trocas de mensagens digitais. Foram analisadas trabalhos acadêmicos e obras sobre a CMC

(Comunicação Mediada por Computador), além de evidências empíricas e recorte de

reportagens, atestando a presença dos emojis no meio social.

Palavras-chave: emoji, conversa digital, expressão, emoções.

Abstract

The digital language with elements that recall a spoken language creates a hybrid

communication, with unique characteristics. One of these elements is the emoji, that makes the

virtual environment more interesting. This article studies the usage of emojis and their capacity

for expression in digital messaging exchanges. They have been analyzed academically in works

about CMC (Computer Media Communications), along with empirical evidence and reports,

attesting to the presence of emojis in social media.

Keywords: emoji, digital conversation, expression, emotions.

Introdução

A apropriação do computador como ferramenta social vem se tornando uma prática cada

vez mais comum em toda parte do mundo e estudar esse fenômeno ajuda a compreender os

vários aspectos envolvidos na socialização entre as pessoas, vide Recuero (2012). A autora

observa ainda que além dos aspectos de estrutura e organização textual na composição do

sentido da mensagem, estão envolvidos fatores socioculturais, podendo-se fazer um

intercâmbio entre a linguagem oral e escrita.

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A literatura trata amplamente desse assunto como um dos itens da Conversação Mediada

por Computador (CMC), definida por Herring (1996) apud Recuero (2012) como a

"comunicação que acontece entre seres humanos através da instrumentalidade dos

computadores". Ela observa também a frequencia com que trocamos os verbos "falei", "disse"

e "ouvi" por "digitei", "escrevi" e "li”, por exemplo. Dessas evidências podemos reiterar as

apropriações naturais que as pessoas fazem dos meios digitais, inclusive dos aspectos mais

subjetivos como humor ou gesticulações, a partir do uso iconográfico e elementos léxicos da

linguagem. “O uso linguístico atesta ao fato que a experiência dos usuários na CMC é

fundamentalmente similar àquela da conversação falada, apesar da CMC ser produzida e

recebida por meios escritos” (HERRING, 1996 apud RECUERO, 2012).

Recuero (2012, p.44) cita ainda que "num diálogo tudo é informação: elementos

prosódicos (como o tom da voz, a entonação e as pausas da fala), elementos gestuais e,

evidentemente, as palavras." Esses atributos orais seriam também transpostos na mensagem

digitada por meio de artifícios, como os emojis, no intuito de transmitir expressões e

sentimentos ao diálogo digital.

E uma das primeiras apropriações dos Interagentes foi o uso dos caracteres simbólicos

de que dispunham para, justamente, criar formas de simular esses elementos não

verbais. Uma dessas primeiras convenções foi o uso de emoticons (RECUERO, 2012,

p. 45).

Analisando essa aproximação entre a escrita e a fala, podemos questionar a interpretação

dos envolvidos em uma conversa, observando se eles efetivamente se entendem na perspectiva

semântica e expressiva, ou seja, compreendem, além dos enunciados propriamente ditos, o

estado de espírito do locutor, assim como verificamos na conversa oralizada. Mas para tal

precisamos considerar as delimitações do meio, conforme Xavier salienta:

Ser letrado digital pressupõe assumir mudanças nos modos de ler e escrever os

códigos e sinais verbais e não-verbais, como imagens e desenhos, se compararmos às

formas de leitura e escrita feitas no livro, até porque o suporte sobre o qual estão os

textos digitais é a tela, também digital (XAVIER, 2005, p.135).

Crystal (2006) apud Recuero (2012) discute como as limitações características dos

meios de conversação online influenciam na capacidade linguística produtiva, mas não as

invalida, afinal a introdução de artifícios gráficos e linguísticos em uma conversa pretendem

simular emoções e facilitar a comunicação dos interagentes.

Percebe-se portanto que a conversação mediada pode não estar tão distante da

comunicação oral no sentido do entendimento e expressividade, mesmo quando em um diálogo

mais informal, onde as peripécias da fala ocorrem. Nessa perspectiva fundamenta-se a

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problemática central deste artigo, seriam os emojis uma representação eficiente das emoções e

significação da mensagem verificadas na oralidade da linguagem?

Assim posto, o artigo objetiva analisar a expressividade do uso dos emojis nas conversas

por intermédio digital, estendendo-se especificadamente a comparar a capacidade expressiva

entre linguagem oral e digitada, estudar a apropriação dos elementos socioculturais nas

conversas digitais, avaliar o entendimento e interpretação entre os interagentes de um diálogo

online e indicar as características das construções semânticas utilizando emoji.

Metodologicamente serão analisados dados, discursos acadêmicos e teóricos,

principalmente nos campos da CMC e linguagem web, mas também foram valorosas

contribuições o levantamento de evidências empíricas e recortes de reportagens, atestando

idiossincrasias a respeito do uso dos emojis. Um dos desafios na formulação do trabalho refere-

se a escassez de embasamento literário, dada especificidade do tema em questão. Além disso,

trata-se de um fenômeno relativamente novo, portanto pouco estudado a fundo por

pesquisadores, conforme Pompeu e Sato (2015, p.4) “trata-se de manifestações culturais,

sociais, relacionais, tecnológicas e comunicacionais das mais recentes, sobre as quais o olhar

da tradicional investigação acadêmica ainda não encontrou chance de repousar”.

O estudo destina-se a profissionais e acadêmicos do campo da comunicação e

linguagens, oferecendo um ponto de partida a reflexões futuras sobre as aplicabilidades dos

emojis. Apesar da simplicidade desses diagramas, perceberemos elementos repletos de

significados e influentes na maneira com que as pessoas se relacionam virtualmente.

1. Registros Rupestres

As representações pictográficas acompanham a história da humanidade a pelo menos

32 mil anos, data de alguns dos registros rupestres mais antigos, encontrados na Caverna de

Chauvet ao sul Frances. Este é um dos milhares sítios arqueológicos com pinturas primitivas

descobertas ao redor do mundo datados de diferentes épocas e sociedades distintas. Apesar da

incerteza sobre o intuito de muitos grafismos, vide Aguiar (2012) “Uma tradução dos grafismos

rupestres é impossível, pois para tanto seria necessário conhecer com precisão os códigos que

regem a composição destes símbolos”, podemos atestar sua presença e dotá-los como um

elemento de significações, mesmo desconhecidas.

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O ícone é a representação imediata do objeto representado no tempo. Não existe ícone

do passado ou do futuro que possa levar esse nome, porque o ícone está sempre

vinculado ao momento da representação. O ícone congela o tempo do significado.

Quando se olha fotografias antigas, o tempo do ícone se mistura com o tempo

presente, geralmente provocando alguma reação em quem está olhando (MARTINO,

2010. p.114).

Assumimos, portanto, a necessidade primitiva do homem em transmitir pensamentos

por meio de elementos gráficos, não obstante da forma contemporânea de expressão através de

emojis, ao passo que hoje as representações desse tipo de comunicação são, mais do que ações,

emoções.

2. Definições e Derivações

É comum confundir os emojis com emoticons, tê-los como sinônimos ou desconhecer o

primeiro. Alguns autores estudados citam o termo emoticon mas podemos considerar os

pensamentos igualmente válidos aos emojis, dado que este engloba todos os emoticons na forma

de ideograma.

Segundo Freire (2015) a palavra "Emoji" deriva das expressões japonesas "E" (imagem)

e "Moji" (personagem), traduzidas ao português como "pictograma". O termo foi oficialmente

incluído no dicionário em inglês Oxford, junto com outros relacionados à linguagem de internet

e tecnologia. Está definido como “ícone de expressão para mensagens”. São dispostos

basicamente como uma das ferramentas multimodais dos aplicativos, sites e programas de

conversação digital, mas também se verifica sua aplicação offline, como na publicidade,

questionários de satisfação, estampas de camisas, almofadas, embalagens de biscoitos e

preservativos, placas de sinalização do tipo “sorria, você está sendo filmado”; e até mesmo, em

um contexto lúdico, substituintes da letra de música e livros.

Inicialmente, foram concebidos na década de 90, por Shigetaka Kurita, na época

funcionário de uma empresa de tecnologia que produzia pagers, um dispositivo eletrônico

usado para contatar pessoas comum nesse período. O objetivo da introdução dos emojis no

sistema dos aparelhos era atrair um público mais jovem, o que não gerou os resultados

esperados por conta do caráter corporativo do objeto. Mas o insucesso dos emojis se resumiu

apenas entre os bips, logo várias outras empresas de tecnologia copiaram a ideia e foi possível

perceber a ampla popularização dos ícones por todo o Japão e em seguida no mundo.

Os emojis são descendentes dos emoticons e contemplam todas as representações faciais

deste, além de uma extensa família de ícones com variações gestuais, corporais, simbólicas,

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comemorativas, animais, objetos, entre muitas outras. O termo "emoticon" deriva do inglês

"emotion" (emoção) e "icon" (ícone). O primeiro emoticon foi um "simile" ("sorriso" em

português), representado pela junção dos caracteres "dois pontos" seguidos de um "hífen" e

"fecha parênteses". O resultado gráfico desta combinação remete a um rosto feliz. Foi criado

em 1982 por Scott Fahalman, na época professor assistente de pesquisa de ciências da

computação da Universidade Carnegie Mellon, nos Estados Unidos.

O smile foi desenvolvido pelo professor para resolver um mal entendido. Ele e outros

colegas da universidade participavam de uma plataforma rudimentar de conversa online e era

hábito proporem enigmas para resolverem entre si, entretanto às vezes as charadas eram levadas

a sério por alguns usuários desinformados. Para sanar a confusão o professor recorreu à junção

dos três caracteres na mensagem indicando que se tratava de uma metáfora e não deviam ser

levados literalmente.

Além dos emoticons existem os denominados "Kaomoji", que significa "Kao" (face) e

"Moji" (personagem). São derivações japonesas do emoticon tradicional (aquele utilizando

letras), entretanto com combinações mais complexas, usando até caracteres de bytes duplo e

próprios do alfabeto nipônico. Essa sofisticação japonesa do estilo americano pode ser

associado a uma apropriação cultural oriunda dos clássicos mangás. Nas histórias em

quadrinhos japonesas a expressividade facial das personagens está principalmente nos olhos, e

essa releitura dos kaomoji propõe expressões mais elaboradas e verticalizadas, ao contrário do

que se verifica nos emoticons, singelas e lidas horizontalmente (KAWANAMI, 2015).

Figura 1 - esquematização das variações etimológicas.

Os símbolos podem ser representados por ícones gráficos ou pela combinação de glifos,

sendo emoticons expressões faciais (tanto ícone quanto glifo), o Smile representações de rosto

sorridente (hoje são várias), kaomoji combinação de caracteres mais complexos e verticais, e

emoji qualquer tipo desses ícones contemplando inclusive expressões faciais (emoticons).

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Algumas plataformas traduzem automaticamente o conjunto de caracteres ou palavras em

emojis. Ao digitar, por exemplo, “feliz”, o sistema sugere um ícone com rosto sorridente.

Além das derivações etimológicas, existem as variações gráficas dos símbolos. O

consórcio responsável pela catalogação e padronização desse tipo de símbolo é o UNICODE

(unicode.org), mas cada desenvolvedor decide pelo estilo que ilustrará seus emojis, o que pode

confundir determinadas interpretações, afinal cada dispositivo gera e lê os ícones de maneira

diferente.

Figura 2 – comparativo das variações gráficas entre algumas plataformas e dispositivos.

Na figura 2, por exemplo, o emoji do iOS 9.1 (Apple) e Windows 10 (Microsoft) que

representa cansaço pode ser usado como tristeza ou pirraça, enquanto o do LG G4 se aproxima

curiosamente da expressão de orgasmo. Ainda da LG, o que simboliza braveza parece fazer

careta, enquanto o da Microsoft aparenta esforço. O olhos de coração do Sansung Galaxy S5

pode lembrar insanidade (fora de si) e, de uma forma geral, são mais caricatos dentre os demais.

Os ícones do Firefox OS 2.5 (Mozilla) parecem peixinhos baiacu, enquanto os do Android 5

(Google) lembram pudins simpáticos.

Quando a aplicação dos emojis acontece na mesma plataforma a interpretação do

símbolo entre os interagentes se assemelha, agora quando a troca de mensagens ocorre entre

dispositivos de fabricantes diferentes existem situações que podem ocasionar interpretações

errôneas. A análise dessas variações gráficas compõe mais um dos elementos influentes na

tradução dos usuários de determinadas emoções. Logo, a cultura regional, maturidade do

relacionamento, noções da linguagem tecnológica e a própria construção gráfica compõem um

contexto dinâmico onde a leitura da mensagem acontece.

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3. Mecânica das Construções

Pela primeira vez um emoji foi eleito como a palavra do ano pelo dicionário americano

Oxford, "Embora tenha sido encontrado em inglês desde 1997, o uso mais que triplicou em

2015 sobre o ano passado", segundo blog da editora (blog.oxforddictionaries.com). A metáfora

de um emoji ser ligado a uma palavra remete bem ao propósito do mesmo, sendo um elemento

visual que se comporta textualmente. No ano anterior o título ficou com o termo “Vape”, que

significa o ato de fumar um cigarro eletrônico, 2013 “Selfie” e 2012 “to GIF”.

Figura 3 – um emoji é eleito a palavra do ano. Fonte: blog.oxforddictionaries.com

Normalmente são palavras ligadas a tecnologia e foram eleitas por sua repentina e ampla

utilização. Se auto fotografar, por exemplo, sempre aconteceu, mas de repente se nomeou e

falou muito nisso. A indústria inclusive passou a comercializar um apetrecho específico, a vara

de selfie. O mesmo vale ao emoji. Até como palavra existe a algum tempo, mas em 2015 foi

especialmente apreciado. O progressivo e incessante desenvolvimento tecnológico tem mudado

expressamente a vida social em vários aspectos.

Novas maneiras de pensar e de conviver estão sendo elaboradas no mundo das

comunicações e da Informática. As relações entre os homens, o trabalho, a própria

inteligência dependem, na verdade, da metamorfose incessante de dispositivos

informacionais de todos os tipos. Escrita, leitura, visão, audição, criação e

aprendizagem são capturados por uma Informática cada vez mais avançada (LÉVY,

1994 apud VIANA, 2012).

Uma dessas novas formas de pensar e conviver relaciona-se a comunicação entre as

pessoas, sendo a linguagem apropriada e adaptada aos recursos tecnológicos no espaço virtual.

Linguistas e estudiosos, especialmente do campo pedagógico, problematizam as construções

gramaticais do meio digital, o denominado internetês, um neologismo designado a linguagem

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na internet. “É preciso sermos poliglotas dentro da nossa própria língua” (BACHARA, apud

NOGUEIRA, 2015).

Esse descompasso entre a linguagem formal e coloquial postas no ciberespaço não

representam um problema no que tange a utilização do emoji, pelo contrário, a interpretação

dos ícones se mostra bem sugestiva, salvo a má aplicação de determinado símbolo que ocasione

interpretações errôneas. Schnoebelen (apud CARPANEZ, 2015) aponta as quatro construções

mais comuns que as pessoas fazem deles.

Figura 4 - representação das construções mais comuns utilizando emojis.

Como no primeiro quadro, os símbolos costumam vir ao final da frase. Já quando ele

está no meio do enunciado aparece entre orações completas. O autor observa também o uso dos

símbolos mais afirmando a sentença que substituindo termos, como no terceiro exemplo, onde

se manteve a palavra “comeu” mesmo com o ícone representando um prato de comida vindo

em seguida. Seria dispendioso deduzir a pergunta contanto apenas com o emoji acompanhado

da interrogação, apesar desse tipo de construção também ser usada. Por fim, a sequencia de

emojis segue a ordem dos fatos. Esse tipo de combinação de ícones para formar sentenças

caracteriza uma das construções semânticas mais irreverentes dos emojis. São formulações

enigmáticas e propõem aos leitores uma tradução da continuidade de pictogramas em uma frase

coerente.

Conforme observado, a mecânica das conversas com a utilização dos emojis são

simplórias e não representam um desacordo com a grafia tradicional, nem uma nova gramática

ou alfabeto. São marcações não verbais que reforçam o caráter híbrido da linguagem no

ambiente virtual. A dinâmica primordial do emoji está mais associada a significação emocional

do locutor que as organizações textuais propriamente ditas.

Eles conseguem expressar os sentimentos de interlocutores que estão distantes

fisicamente um do outro. Sendo assim, as emoções experimentadas por usuários de

computador não deixam de existir simplesmente porque estão sendo mediadas por

máquinas, apenas assumem outro formato e circulam de outra forma, pois com a

virtualização, houve a necessidade de se criar novas maneiras de expressar o afeto e a

linguagem (BRITO, 2008, p.5).

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Outra característica importante na mecânica das conversas com emoji relaciona-se a

agilidade na construção das frases. A digitação evidentemente não acompanha a velocidade do

raciocínio falado, algumas vezes até hesitamos enviar a mensagem pensando se o enunciado

está claro o suficiente. Essa lentidão na troca de mensagens síncronas, isto é, aquelas

acontecidas em tempo real, faz do diálogo algo contra produtivo e desinteressante, logo

diminuir o tempo de espera entre os turnos da conversação se mostra necessário, sendo o emoji

um aliado útil nesse sentido. Mais do que contar exclusivamente com a destreza dos dedos

redigindo a mensagem, o emoji tem a capacidade de sintetizar todo um pensamento em um

único ícone, bem como exprimir o estado de espírito do locutor, muitas vezes difícil escrever

em palavras.

O usuário também gasta algum tempo localizando determinado emoji, mas a maioria

dos dispositivos e softwares de conversação disponibilizam uma ferramenta que indica os

últimos símbolos usados e isso minimiza os feitos da lentidão. Além disso, cada pessoa possui

suas preferências iconográficas, servindo de acervo a listagem dos emojis mais usados

recentemente. Dependendo da plataforma, eles também costumam ser classificados por

categorias, como animais e natureza, bebidas e comidas, atividades, objetos, por exemplo.

4. Apropriação Cultural

Apesar dos emojis representarem uma linguagem universal através de diagramas

populares e de fácil reconhecimento, vide Brito (2008) “Eles são importantes não somente como

facilitadores da navegação, mas, sobretudo como os símbolos universalizados, já que propiciam

o acesso e a compreensão de muitos usuários”, é curioso perceber como a cultura local implica

nos usos e desusos mais comuns nas diferentes regiões do globo. A empresa SwiftKey,

desenvolvedora do famoso aplicativo de teclado inteligente com mesmo nome, publicou em seu

blog uma pesquisa com a análise de mais de 1 bilhão de emojis trocados nas conversas dos

idiomas mais populares (REVISTA GALILEU, 2015).

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Figura 5 – o gráfico define as categorias de emojis mais usados, enquanto a representação global ilustra

peculiaridades de usos em alguns países. Fonte: <revistagalileu.globo.com>.

Os dados apontam que as categorias de ícones mais usados no mundo são rostos felizes

(44,8%), seguidos de rostos tristes (14,3%), corações (12,5%), gestos manuais (5,3%),

românticos que não sejam corações (2,4%) e macacos (1,7%). Os que representam outras

categorias completam o percentual.

Figura 6 – o primeiro gráfico compara usos e desusos de alguns emojis entre alguns países, enquanto o

segundo ilustra os mais usados. Fonte: <revistagalileu.globo.com>.

O documento também demonstra curiosidades, como o apresso dos brasileiros pelos

ícones representantes da família dos felinos. Talvez pela expressão nacional “gato” ou “gata”

referenciar a uma pessoa bonita. Além disso, não é de se estranhar que em um pais tropical

como o Brasil, usa-se o dobro da média mundial para o símbolo do sol, e metade da média

global para o emoji floco de neve, o oposto do uso que os russos fazem deles, pouco para o sol

e bastante para a neve.

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A Austrália usa pouco os macacos que são bem simpáticos ao resto do mundo, entretanto

utilizam muito a figura do coala, animal endêmico no país. Já os Estados Unidos utilizam

muitos pictogramas tecnológicos e análogos ao homossexualismo, sendo um dos países mais

informatizados e liberais do mundo, ao contrário, aliás, da Rússia, que investiga a inclusão de

emojis gays em algumas plataformas, como no Facebook e IOS (sistema operacional da Apple).

O país possui leis restritivas a propaganda de conteúdo homossexual para menores (LOLATTO,

2015).

Estranhamente a pesquisa da SwiftKey credita aos Países Árabes o amplo uso do ícone

representante de roupas íntimas femininas. O dado intriga porque nesses países as mulheres

vestem burcas e apetrechos que escondem a pele por questões religiosas. Entretanto,

possivelmente nessa mesma perspectiva, usam pouco o emoji de bebida alcoólica.

A França, considerada o país do amor, aplica muitos corações nas mensagens, mais até

que rostos felizes, e desperta um apreço especial pelo ícone da banana, evidentemente em seu

duplo sentido. Sentido este, recorrente na conversação digital, diz Katy McCarthy, da Flirtmoji,

"Observamos um grande número de pessoas no mundo usando os seus smartphones para

comunicação sexual" (MOREIRA, 2015). Tanto que a empresa desenvolve exclusivamente

emojis com esse tipo de temática, inclusive dispondo ícones dos órgãos sexuais masculino e

feminino propriamente ditos.

Das análises indicadas a partir do relatório podemos deduzir aos emojis ora

representantes de uma linguagem global entendível em um macro contexto, ora assumem

diferentes funções e significados dependendo da apropriação que os grupos locais fazem deles.

Os signos não existem fora das relações sociais, não estão nem fora do tempo nem

fora da história. O pensamento e a linguagem estão vinculados ao espaço em que

foram produzidos, não são sistemas autônomos de significação como se tivessem

vindo do nada. A maternidade do signo está nos seus vínculos com a sociedade onde

ele se origina. Os signos acompanham as dinâmicas da sociedade, mas não há nada

automático no processo (MARTINO, 2010, p.123).

Observa-se também, sendo a abrangência dessas incorporações iconográficas por todo

o território de um país ou entre agrupamentos menores como comunidades e mesmo um grupo

amigos, que sintetizam em um emoji uma significação própria compreensível por inteiro apenas

entre seus participantes.

Nessa mesma perspectiva de pertencimento, a princípio a utilização dos emojis era

basicamente restrita à adolescentes, sua própria introdução nos bibs tinha como público alvo os

jovens. Mesmo percurso do internetês, antes de uso recluso aos grupos classificados como nerds

ou geeks, que demonstram maior interesse por tecnologia. Hoje verificamos o uso desses ícones

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por diversas faixas etárias e grupos sociais. Seja pelos avanços geracionais, seja pela

acessibilidade de smartphones, novamente os emojis caracterizam uma linguagem global com

situações locais marcadas pelo micro-contexto em que acontecem.

5. Netiqueta

Um dos aspectos tratados na literatura sobre CMC refere-se aos rituais da conversação,

abrangendo, além da própria aplicação dos emojis como um dos recursos paralinguísticos, uma

série de elementos característicos do diálogo mediado. Um desses ritos em especial se mostra

relevante na mecânica e fluidez da conversação. A noção de polidez é definida por Kerbrat-

Orecchioni (2006, p.77) como “aspectos do discurso que são regidos por regras cuja função é

preservar o caráter harmonioso da relação interpessoal”. Recuero complementa ainda:

A polidez, assim, consiste em um conjunto de estratégias utilizando no contexto da

conversação como forma de cooperação, de modo a permitir que a conversação atinja

os objetivos dos autores envolvidos e mantenha a coerência (RECUERO, 2012, p.90).

Assim posto, a polidez assume uma posição de etiqueta premeditada inconscientemente

pelos atores envolvidos na manutenção da fluidez do discurso e se mostra também importante

por atenuar entendimentos errôneos da mensagem. A ausência física, a sensação de impunidade

e o anonimato do ciberespaço levam a aceleração da hostilidade em um conflito e podem ser

verificados corriqueiramente em debates virtuais acalorados e violentos, seria, portanto, a

negociação da polidez um fator importante na interpretação do que se é dito (RECUERO, 2012).

A autora exemplifica ainda blasfêmias, linguagem erótica e escatológica em chats, ou

seja, que normalmente não seriam usadas no cotidiano, como formas de fuga da polidez

tradicional e que, ainda assim, complementam esse ambiente conversacional. Além disso, a

partir de um meio que se mostra frio (a tela) por suas próprias delimitações a introdução dos

emojis no diálogo se mostra conivente com as aplicações de polidez, exprimindo

imageticamente o sentimento na locução.

Cada forma de comunicação tem sua validade e complexidade, dependendo dos

grupos sociais, do contexto e das necessidades"[...] Ele aponta dois usos muito

diferentes para os Emojis: agilizar uma conversa entre amigos ou servir de ferramenta

para amenizar uma discussão (TRIVINO 2015 apud CARPANEZ 2015).

A partir dos conceitos de polidez podemos assumir aos recursos iconográficos e

construções semânticas próprias da web a função de equilíbrio e harmonia da conversação

digital, posto que seu desuso possa transparecer intransigência, representando até antipatia,

rispidez ou mesmo arrogância em um diálogo de caráter mais informal, principalmente no

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contexto dos interagentes se conhecendo (online ou offline) e fazendo uso corriqueiro desses

artifícios representativos.

6. Publicidade

Em março de 2015 o banco Itaú lançou uma campanha publicitária utilizando como

elemento principal emojis, sob sua trilha sonora tradicional e variados enredos musicais

ilustrando os benefícios de ser digital. O objetivo dos ícones era aproximar a marca da

linguagem eletrônica e os emojis seriam a ponte do uso comum que as pessoas fazem online

com as vantagens do banco no meio. Eduardo Tracanella, superintendente de Marketing do Itaú

Unibanco cita “Optamos por uma linha criativa que é atual por que nasce das pessoas, da cultura

popular. E que por isso atende ao desafio de construirmos uma conversa que saia do lugar

comum e que na origem já seja naturalmente multiplataforma” (PORTAL DA

PROPAGANDA, 2015).

Figura 7 - frames do vídeo “Mudanças” do Itaú feito utilizando emojis. Origem: http://goo.gl/dmHwJY

Nizan Guanaes, da agência responsável pela criação cita: “Agora a ideia é dar mais um

passo para se aproximar e humanizar ainda mais o banco, e os emoticons são perfeitos para

inserir o Itaú nessa nova conversa que hoje é a cara do meio digital”.

Ainda em 2015, a campanha Love Your Curls (ame seus cachos) da Dove inclui uma

ação que disponibiliza um pacote de emojis com cabelos encaracolados. “Quando 73% das

pessoas nos Estados Unidos utilizam emojis todos os dias, é porque eles se tornaram o novo

elemento da comunicação”, diz Rob Candelino, da Unilever (MEIO & MENSAGEM, 2015).

O conceito da ação se parece com o intuito do aplicativo WhatsApp incluír um degrade de tons

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de pele nos emojis, corresponder, de maneira mais justa, o que se verifica na sociedade, além

de manter o caráter universalista dos diagramas.

A necessidade de personalizar os ícones deu margem a recursos para o usuário sentir-

se melhor representados como tom de pele e bitmojis que permitem a possibilidade

de criar um avatar, ou seja, boneco virtual com suas características, com expressões

previamente programadas (SOUZA, 2015, p.10).

Figura 8 – os emojis da esquerda fazem parte da ação da Dove, enquanto os da direita são dispostos pelo

WhatsApp. Ambos remontam as variações fisionômicas verificadas na sociedade.

Em junho de 2015 a fabricante de veículos Chevrolet divulgou um release escrito em

emoji sobre o seu novo carro Cruze. Segundo a empresa, “apenas palavras não poderiam

descrever o Cruze 2016” (CHEVROLET PRESSROOM, 2015).

Figura 9 - trecho do release escrito em emoji divulgado pela Chevrolet. Origem: <http://goo.gl/YHTDjS>

Outro exemplo da utilização dos emojis como elemento participante das ações de

comunicação pode ser verificado com a rede de pizzarias americana Domino’s. Definindo

previamente suas preferências de pizza no site da empresa e com um cadastro no Twitter, basta

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o usuário postar o emoji que representa uma pizza para a efetivação do pedido. A ação da

agência Crispin Porter + Bogusky (CP+B) foi vencedora de Titanium do Cannes Lions 2015, a

premiação da categoria que aporta grandes e inusitadas ideias do maior festival publicitário

(MERIGO, 2015).

Figura 10 – na Pizzaria Domino's os consumidores podem efetivar seus pedidos publicando o emoji de pizza

no Twitter. Fonte: <b9.com.br>

A publicidade sempre tirou proveito do gozo popular e tem um carinho especial pela

novidade, especialmente quando ela está em sincroniza com boa parte do público geral e

coerente com as construções culturais da vez. Dessa forma, a propaganda tem melhor garantia

de que a mensagem seja bem recebida, e o momento para se aliar criatividade e emoji se mostra

oportuno, afinal a assimilação de um anúncio seria tão íntima quanto dialogar com um amigo.

... a publicidade atua como potente método de transferência de significado, fundindo

um bem de consumo a uma representação do mundo culturalmente constituído dentro

dos moldes de um anúncio específico e (...), nesta medida, a propaganda funciona

como um léxico dos significados culturais correntes (MCCRACKEN, 2003 apud

POMPEU; SATO, 2015).

Considerações Finais

A partir dos pressupostos levantados, conclui-se o verdadeiro enraizamento dos emojis

na sociedade, levando em conta seu amplo e natural uso entre as pessoas. Sua relevância pode

ser atestada em várias oportunidades, como quando protagoniza diversas campanhas

publicitárias, dentre as quais, a vencedora do Titanium do Cannes Lions 2015, ou ainda quando

a palavra do ano é um emoji. Podemos confirmar também sua gradativa onipresença,

especialmente quando extrapola sua funcionalidade estrutural, isto é, mais do que agilizar uma

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conversa entre amigos ou ser uma forma simpática de se comunicar, harmonizam o diálogo e

compõe uma manifestação linguística, apropriando-se inclusive de características

socioculturais oriundas de determinadas regiões e grupos.

Essa recorrente vanglória ao emoji pode até ser passageira, como são muitas modas da

sociedade contemporânea, contudo isso não indica que entrarão em desuso e deixarão de existir

com o tempo, o oposto, sua utilização tende ser cada vez mais natural, dispensando tantos

holofotes. De repente fala-se muito nisso por conta da ascensão dos dispositivos móveis na vida

das pessoas. Os emojis existem pelo menos a partir da década de 90, alias, nossos próprios

ancestrais primitivos utilizavam grafismos como ideograma, não se tratando expressamente

uma novidade.

O que podemos prever de novo são modificações gráficas, como a inclusão de mais

emojis representantes de outras necessidades expressivas, como o “dedo do meio”. Quem sabe

a animação desses ícones, repaginando os dispostos no MSN Messenger (antigo mensageiro da

Microsoft substituído pelo Skype), que tinham até movimentos e sons. A próxima versão do

Facebook vigente para dispositivos móveis pretende introduzir ícones animados lado a lado ao

famoso Like (curtir), já não sendo este o suficiente para expressar determinados pensamentos.

Também podemos esperar por emojis personalizáveis, assim como no aplicativo Bitmoji, onde

as personagens são customizadas pelo usuário e usadas como ícone nas mensagens.

Em termos tecnológicos esperam-se muitas novidades, afinal os emoticons eram simples

conjuntos de caracteres e hoje já se fala em emojis animados e personalizáveis. Essas inovações

fazem parte do contexto global de incessante aperfeiçoamento tecnológico ao qual os emojis

também estão inseridos. Um dos compostos desse ritmo frenético da modernidade é a dinâmica

comunicacional, sendo esses ícones recursos ágeis na significação das mensagens trocadas.

Os emojis caracterizam sim uma forma de expressão emocional eficiente, mas seria

prematuro equivale-los à linguagem falada, afinal o próprio computador como meio possui suas

delimitações. Contudo, às vezes nos expressamos mais e melhor com um emoji que

pessoalmente. A coerção de se está frente a frente pode ser um impasse da exposição emocional.

Além disso, aparentemente digitando temos um momento a mais para refletir e isso nos permite

pensar no ícone que simulará melhor nosso semblante.

Seria negligente negar os problemas interpretativos verificados com o uso do emoji, mas

isso também acontecem na linguagem oral. Nem sempre assimilamos o que nos falam ou

expressam, por um ruído ou qualquer outro fator e o mesmo vale aos emojis. Essas questões,

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alias, só reforçam a aproximação do emoji como um recurso expressivo. Por fim, podemos

concluir que os emojis preenchem uma lacuna emocional necessária à compreensão de muitos

contextos, especialmente seu uso no que tange a emoção e significação da mensagem digital.

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