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livro de instrumentalização científica

Jul 12, 2015

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jadson clarinet
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i nstrumentalizao c ientfica

Este smbolo () usado nesta obra para representar o conceito de educao integral, que abrange a formao humanista e contempornea das questes tica, moral e social dos indivduos.

i nstrumentalizao c ientfica

Conselho editorial Editora Ibpex Ivo Jos Both, Dr. (presidente) Elena Godoy, Dr.a Jos Raimundo Facion, Dr. Srgio Roberto Lopes, Dr. Ulf Gregor Baranow, Dr.

Ficha tcnica Editora Ibpex Diretor-presidente Wilson Picler Editor-chefe Lindsay Azambuja Editores-assistentes Adriane Ianzen Jerusa Piccolo Anlise de informao Anderson Adami Reviso de texto Alexandre Olsemann Capa Bruno Palma e Silva Projeto grfico Raphael Bernadelli Diagramao Rafaelle Moraes Regiane Oliveira Rosa Iconografia Danielle Scholtz

Obra coletiva organizada pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). Informamos que de inteira respon sabilidade do autor a emisso de conceitos. Nenhuma parte desta publicao poder ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prvia autorizao da Ulbra. A violao dos direitos autorais crime estabelecido na Lei n 9.610/98 e punido pelo art. 184 do Cdigo Penal.

i59 Instrumentalizao cientfica / Organizado pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). Curitiba: Ibpex, 2007. 254 p. : il. isbn 978-85-99583-59-3 1. Cincia Metodologia. 2. Pesquisa Metodologia. 3. Redao tcnica. I. Universidade Luterana do Brasil. II. Ttulo. cdd 001.42 20. ed.

apresentao

Este livro tem como objetivo instrumentalizar voc, leitor, no que diz respeito elaborao de um projeto de pesquisa de cunho cientfico ou profissional. Essa instrumentalizao se refere tanto aos processos de aquisio de conhecimento, estudo, elaborao da estrutura e formatao de um projeto de pesquisa ou de um artigo cientfico como s fontes de pesquisa virtuais, evidenciando-se quais so elas, como acess-las e como identificar sua credibilidade. fundamental saber se uma fonte de pesquisa encontrada pode ou no ser referenciada em um trabalho cientfico, assim como

importante entender como us-la, respeitando os direitos dos autores, utilizando-a de forma tica. O primeiro captulo versa sobre o ato de estudar, convidando o leitor a refletir sobre os procedimentos dessa tarefa. O captulo seguinte tem como objetivo ampliar a compreenso do que conhecimento e de como ele pode ser produzido. No terceiro, so apresentados conceitos e formas de buscar informaes em ambientes virtuais, e, no quarto captulo, examinada uma classe de fonte de pesquisa virtual as bibliotecas virtuais e demonstrado como pode ser feito o seu acesso. O quinto captulo aborda os peridicos on-line, uma outra fonte de pesquisa virtual, enquanto o sexto versa sobre os elementos que compem um projeto de pesquisa; j no prximo captulo, ser definido o que pesquisa cientfica e como se posicionar criticamente frente a ela. O oitavovi Instrumentalizao cientfica

captulo objetiva levar o leitor a compreender que existem diferentes tipos de pesquisa e a conhecer as principais caractersticas, vantagens e limitaes de cada um deles. J o nono enfoca o Qualis, uma das principais formas da medir a qualidade de um veculo de publicao cientfica. O captulo dcimo traz a Plataforma Lattes, um padro utilizado pela comunidade acadmica e cientfica para a elaborao de currculos. O 11 captulo tem o objetivo de auxiliar os leitores na produo de trabalhos acadmicos e relatrios de pesquisa. A estrutura de um artigo, de um documento cientfico e a linguagem cientfica so apresentadas em seguida, no 12 captulo. J o penltimo captulo visa auxiliar o leitor na formatao de seu documento em um editor de textos, segundo as normas da Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT). O ltimo captulo trata dos aspectos ticos envolvidos na utilizao da informao encontrada em outros autores, alm de abordar partes da Lei de Direitos Autorais.

s umrio

( 1 ) O ato de estudar, 111.1 1.2 O que estudar?, 14 A leitura, 18

( 2 ) Conhecimento e mtodo, 292.1 2.2 2.3 2.4 O que conhecimento?, 32 O processo de produo do conhecimento, 36 Fundamentos do conhecimento, 38 A questo do mtodo, 41

( 3 ) Mecanismos de busca, diretrios e bancos de dados, 513.1 3.2 3.3 3.4 Mecanismos de busca, 54 Ferramentas de idiomas, 59 Diretrios, 60 Bancos de dados, 60

( 4 ) Bibliotecas virtuais, enciclopdias e portais, 654.1 4.2 4.3 4.4 4.5 Website de biblioteca, 68 Catlogo de biblioteca, 69 Bibliotecas virtuais, 72 Portal Bibliotecas Virtuais Temticas, 72 Enciclopdias virtuais, 73

( 5 ) Peridicos e portais, 795.1 5.2 Revistas virtuais ou peridicos, 82 Portal de peridicos, 84

( 6 ) Projeto de pesquisa, 93viii Instrumentalizao cientfica 6.1 O projeto de pesquisa, 96

( 7 ) A pesquisa cientfica, 1057.1 7.2 7.3 7.4 O que pesquisa, 108 Experincia, raciocnio e pesquisa, 111 A pesquisa como princpio cientfico e educativo, 114 Leitura e pesquisa, 116

( 8 ) Tipos de pesquisa, 1218.1 8.2 Classificao das pesquisas com base nos objetivos, 124 Classificao das pesquisas com base nos procedimentos tcnicos, 126

( 9 ) O Qualis, 1359.1 9.2 9.3 Credibilidade na internet , 138 O programa Qualis , 139 Identificao ISSN, 145

( 10 ) A Plataforma Lattes, 15110.1 O que o CNPq?, 154 10.2 Como acessar o Lattes, 154 10.3 Dicas sobre a credibilidade das fontes de pesquisa virtual utilizadas, 160

( 11 ) Relatrio de pesquisa, 16311.1 Elaborao de trabalhos cientficos conforme normas tcnicas, 166 11.2 O que monografia, 167 11.3 Estrutura do trabalho cientfico, 169

( 12 ) Artigo e linguagem cientfica, 17912.1 Artigo cientfico, 182 12.2 Estrutura de um trabalho cientfico, 187 12.3 Citaes, 187 12.4 Notas, 190 12.5 A linguagem cientfica, 191 ix Sumrio

( 13 ) Aplicao das normas da ABNT em um editor de textos, 19713.1 Formatao das normas da ABNT atravs do editor de textos Microsoft Word, 198

( 14 ) tica e aspectos legais na utilizao da informao, 22114.1 A informao necessita ser protegida?, 224 14.2 Os direitos autorais, 224 14.3 O Portal Domnio Pblico, 234 14.4 tica na utilizao da informao, 236

Referncias por captulo, 239 Referncias, 241 Anexo, 243 Gabarito, 251

(1)

o ato de estudar

Cosme Luiz Chinazzo graduado em Filosofia pela Faculdade de Filosofia Nossa Senhora da Imaculada Conceio Fafimc, ps-graduado em Administrao Educacional pela Faculdade Porto-Alegrense de Educao, Cincias e Letras Fapa e mestre em Educao pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS. Tem atuado como professor de Histria no ensino fundamental e mdio. Ministrou por vrios anos as disciplinas Metodologia da Pesquisa e Antropologia em cursos de graduao e psgraduao do Instituto Metodista de Educao e Cultura Imec, de Porto Alegre. Lecionou a disciplina de Cincias Polticas na Faculdade Cenecista de Bento Gonalves. Desde 1990, professor na Universidade Luterana do Brasil Ulbra, tendo ministrado, entre outras, as disciplinas de Introduo Filosofia, Metodologia da Pesquisa, Antropologia, Filosofia da Educao e Poltica Exterior do Brasil. Atualmente, leciona as disciplinas de Instrumentalizao Cientfica, Fundamentos da Ao Pedaggica I e Filosofia da Educao. Desde 2004, atua no ensino a distncia EaD, modalidade em que j trabalhou com Introduo Filosofia e Metodologia Cientfica e, atualmente, ministra Instrumentalizao Cientfica e Filosofia da Educao.

Cosme Luiz Chinazzo

()n este captulo,

a

temos o objetivo de levar o estu-

dante a refletir sobre os seus procedimentos diante da tarefa de estudar, no sentido de se autoquestionar a partir das seguintes idias: que estudante tenho sido? Que estudante sou? Que estudante quero ser? No final deste estudo, ele dever ser capaz de organizar sua prpria ao estudantil de maneira a ser mais eficiente e eficaz.

a. As reflexes e as propostas contidas neste captulo foram fundamentadas em Chinazzo, 2002.

O leitor ser desafiado a refletir sobre perguntas como: o que estudar? Qual a importncia da leitura no ato de estudar? Voc estuda s para fazer provas e exames ou estuda com uma perspectiva maior de construo de um futuro melhor? E quanto s leituras? Como que voc costuma ler? Apresentaremos, ento, neste captulo 1, sugestes prticas e subsdios para o aproveitamento da leitura e para a concretizao da sua qualidade, tais como: anotaes e observaes, fichas de leitura, fluxogramas de textos, resumo e resenha de textos.

(1.1) o que estudar?A expresso ato de estudar significa aquilo que se faz para estudar. O ato realizado, concludo no ato de estudar, no existe por si s, pois, a cada momento, novas circunstncias se oferecem para sua concretizao. Portanto, ele s existe medida que o exerccio do ato renovado e multiplicado. Entendemos que estudar no significa o que muitos pensam e concebem como um simples sentar em bancos14 Instrumentalizao cientfica

escolares e ouvir o que os professores transmitem para repetir, tal e qual, posteriormente, em provas ou exames. Essa uma viso muito simplria, tradicional e passiva. Estudar, pelo contrrio, um ato que envolve dinamismo e requer muito esforo. So comuns observaes de que um grande nmero de estudantes que chega s universidades no sabe avaliar a dimenso e a importncia do que o ato de estudar, sendo

que muitas vezes se diz que alguns nem sabem estudar. Uma triste conseqncia disso a perda de um tempo precioso com um pseudo-estudar. Perda porque, se esse mesmo tempo fosse aproveitado criteriosamente e conscientemente por parte do estudante, os resultados poderiam ser bem mais eficientes. Voc j parou para pensar nisso? Em funo de tal engano, muitos estudantes tm se fixado em hbitos tradicionais, desenvolvendo um estudo meramente mecnico, memorizador e reprodutivo; mas o ideal o contrrio: o estudante precisa ter conscincia de que estudar um ato que deve ser assumido e direcionado por ele prprio. Isso porque estudar no engolir os livros que os professores recomendam nem os saberes que transmitem, mas , antes de tudo, a partir dos livros e dos docentes, saber assimilar e revisar os contedos de uma maneira crtica e reflexiva, evitando-se simplesmente passar por alto sobre tais livros e saberes, estabelecendo uma morada participativa neles e com eles, dando uma direo de reconstruo do j construdo, de refazer o j feito. Quer dizer, transformar o material de estudo e, conseqentemente, transformar a si mesmo. O ato de estudar compreendido nessa viso ao, ao transformadora e construtora de uma nova realidade. Ento, estudar ao pela qual cada estudante enfrenta a realidade do mundo, buscando compreend-lo e explic-lo. , assim, conseqncia da relao homem e mundo, uma vez que, a partir de uma anlise fenomenolgica, constatamos que o homem est em constantes relaes com o mundo, com os outros e consigo mesmo. Isso o leva a empreender um contnuo esforo no sentido de elucidar o processo constitutivo do ser do mundo, do seu prprio ser e de sua histria. Subjacente a esse empreendimento, o homem encontra-se como ente concreto, ser consciente e inteligente, inserido em um mundo tambm concreto.15 O ato de estudar

O homem, como tantos outros seres, est-a-no-mundo; todavia ele deve passar desse simples estar-a para se tornar um ser-a. Usando-se a terminologia fenomenolgica, o homem deve deixar de ser objeto para ser sujeito. As coisas existentes no mundo se relacionam numa dimenso de causalidade, ou seja, de pura exterioridade, so relaes sem significaes. O homem tambm se relaciona com essas coisas, mas de maneira fundamentalmente diferente, pois h nele o que chamamos de interioridade. Trata-se de uma relao em que o homem confere um significado s coisas. Dessa forma, rompe com a exterioridade reinante nas coisas do mundo. As coisas passam a existir a partir do momento em que o homem lhe confere significaes de maneira expressa. No entanto, se ele no consegue expressar o mundo com significaes, pode tornar-se coisa (objeto), deixando de viver sua interioridade prpria de sujeito, para viver uma exterioridade prpria das coisas, objeto. Ento, mesmo no sendo uma coisa, o homem pode viver como se fosse uma coisa. Tal vida caracterizaria uma renncia sua condio originria de ser sujeito-consciente, negando assim a sua homogeneidade, ou seja, negaria sua condio original de ser homem. Portanto, na sua relao com o mundo, o indivduo precisa analisar, observar atentamente, examinar, isto , olhar o mundo reflexivamente, distanciando-se deste. A isso cha16 Instrumentalizao cientfica

mamos de objetivar o mundo, que quer dizer distanciar-se dele, libertar-se do meio envolvente, enfrent-lo, desapegar-se dele para question-lo, como objeto de reflexo. Esta uma capacidade que s o ser humano possui, e que os outros animais no tm. A partir dessa capacidade marcante do esprito humano de objetivar sem se tornar objeto, o homem consegue desapegar-se das coisas e at dar nova existncia a elas, ou seja,

dar-lhes uma existncia intencional. No se apegando ao mundo dado, ele supera sua imanncia, isto , transcende para alm das coisas do mundo, sendo que nessa atitude pode atribuir significados ao mundo. Dando significados, aprende a expressar o mundo, isto , produz o mundo. O mundo expresso pelo homem passa a ser o mundo humano, o mundo do homem. Ao anunciar o mundo, o homem transforma-o, conhece-o, transcende a sua imediatez e, simultaneamente, transforma-se, conhece-se e liberta-se. Devido a esses dinamismos constantes de transcender e transcender-se, o ser humano nunca se estaciona na busca da sua realizao, mas, ironicamente, tambm nunca chega a uma realizao plena e definitiva. Trata-se de um movimento dialtico, que est em permanente continuidade, ultrapassando-se todos os limites, porque, ao ultrapassar um, logo se impe outro e assim sucessivamente. Desse modo, podemos transferir essa reflexo e aplic-la ao ato de estudar. Assim, teremos que o estudante que valoriza o ato de estudar no se deixar aprisionar pelos mecanismos de uma educao tradicional, passiva e conservadora. Buscar novas formas de produzir o conhecimento, para poder contar sua histria. Ele no copia idias e pensamentos, mas analisa-os, para poder expressar seus prprios pensamentos. Tomando essa atitude, ao estudar, ele vai aos poucos se sentindo como autor de sua prpria histria e, com isso, sente-se cada vez mais responsvel pelos rumos da sua existncia e do mundo. Vai adquirindo liberdade e autonomia medida que o ato de estudar lhe possibilita assumir conscientemente sua essencial condio humana de ser sujeito. Nessa perspectiva, entendemos que estudar no repetir o passado, mas sim aprender a dizer o mundo de forma crtica e renovada, de forma prpria, criadora e transforma17 O ato de estudar

dora. Transformadora, porque o ato de estudar no deve fixar-se apenas no aprender a repetir e reproduzir o que os outros j disseram sobre o mundo, mas ir alm, pois estudar ao, criao e recriao. O ato de estudar no existe separado do mundo, produzindo pensamentos abstratos e arbitrrios. Pelo contrrio, do mundo gerado e para o mundo deve voltar-se para transform-lo. Em outras palavras, cada ser humano responsvel pela produo de sua histria e deve conscientizar-se de que seu desenvolvimento intelectual e sua insero no mundo dependem basicamente de suas aes e decises. Isso significa que no ato de estudar cada estudante deve fazer-se sujeito desse ato, no se tornando meramente objeto nele. Fazer-se sujeito no ato de estudar a cada ato libertar-se, realizar-se, autodesenvolver-se como agente histrico. interferir no mundo e inserir-se participativamente nele. auto-realizar-se. Estudar um ato desafiador, com o qual o estudante sente-se provocado pelo mundo e pelas coisas, no sentido de compreend-las e apropriar-se de suas significaes. Estudar uma constante reflexo e abertura como possibilidade de ultrapassar as imanncias do mundo. Conseqentemente, o esforo para procurar ir sempre mais alm dos seus prprios limites.18 Instrumentalizao cientfica

(1.2) a leituraJ realizamos uma reflexo em torno do ato de estudar. Agora, nosso desafio pensar um pouco sobre a importncia da leitura nesse processo.

O esprito cientfico principia quando o aluno decide ser o sujeito da aprendizagem. De acordo com Freire, estudar um trabalho difcil. Exige de quem o faz uma postura crtica, sistemtica. Exige uma disciplina intelectual que no se ganha a no ser praticando-a1. Isso implica uma reflexo sobre o prprio ato de estudar que se vai solidificando medida que se vai estudando e no simplesmente lendo. So itens indispensveis ao ato de ler, conforme esclarece Freire2: a) o estudante deve assumir o papel de sujeito do ato de estudar; b) tomar uma atitude frente o mundo; c) busca de uma bibliografia adequada; d) atitude de humildade; e) compreenso crtica do ato de estudar; f) assumir uma relao dialgica com o autor; g) uma reflexo constante sobre o seu prprio ato de estudar. No ato de estudar, est implcita a importncia da leitura. Para Lakatos e Marconi3, ler significa conhecer, interpretar, decifrar, distinguir os elementos mais importantes dos secundrios e, optando pelos mais representativos e sugestivos, utiliz-los como fonte de novas idias e do saber, atravs dos processos de busca, assimilao, reteno, crtica, verificao e integrao do conhecimento. importante que o estudante aprenda a fazer uma leitura exploratria, uma leitura analtica, uma leitura interpretativa e uma leitura de problematizao. Aprender a ler saber extrair do texto e do contexto, numa posio crtica, um criar ou recriar o mundo da palavra texto e a leitura do mundo contexto , caracterizados pela vivncia e pelas experincias do mundo vivido. Ento, sobre a leitura algumas questes se impem. Qual a relao entre ler e estudar? Que tipo de leitura os estu19 O ato de estudar

dantes realizam sobre os textos propostos pelos seus professores? Para que serve o texto? Para que serve a leitura? Entendemos que a leitura constitui a mola mestra do ato de estudar. Referimo-nos principalmente leitura de textos tcnicos das cincias e da filosofia. So textos que revelam uma compreenso mais elaborada sobre o mundo. Uma coisa certa: a leitura de estudo no pode prender-se unicamente ao texto escrito. Antes de tudo, o leitorestudante deve ter a conscincia de que todo texto reflete determinado contexto, que via de regra bem mais complexo do que o texto impresso. Nesse sentido, a leitura no um ato isolado e momentneo. Pelo contrrio, deve ser encarada como o caminho a ser percorrido pelo leitor na busca de descobrir e articular sua realidade existencial com os significados impressos pela palavra, uma vez que todo texto escrito originou-se do mundo vivenciado pelo seu autor. O autor estruturou o texto a partir do modo como ele percebeu o seu mundo (contexto) e a partir das influncias que dele sofreu e das experincias que nele realizou e viveu. Por outro lado, o leitor faz a leitura da palavra contando com a sua prpria viso de mundo e com suas experincias nele vivenciadas. E nesse ato de leitura, o leitor-estudante precisa confrontar seu contexto com o texto impresso pelo autor, com a inteno de construir um novo significado.20 Instrumentalizao cientfica

Quer dizer, uma boa leitura deve ser capaz de gerar a reorganizao das experincias do leitor. Quanto a isso, Freire4 insiste que: Estudar seriamente um texto estudar o estudo de quem, estudando, o escreveu. perceber o condicionamento histrico-sociolgico do conhecimento. buscar as relaes entre o contedo em estudo e outras dimenses afins do conhecimento. Estudar uma forma de reinventar, de recriar, de reescrever tarefa de

sujeito e no de objeto. Desta maneira, no possvel a quem estuda, numa tal perspectiva, alienar-se ao texto, renunciando assim sua atitude crtica em face dele. Portanto, a leitura realizada pelo estudante-leitor deve acontecer na forma de um dilogo, que o estudante-leitor realiza com o autor. Nessa perspectiva, o texto escrito apenas um instrumento mediador entre dois mundos, o mundo do leitor e o mundo do autor. precisamente no ato da leitura que se estabelece o dilogo, e este ser direcionado pelos interesses e pelas intenes do leitor, o qual estabelecer questionamentos, buscar respostas, dever problematizar o texto e formular juzos prprios. Em outras palavras, o leitor-estudante precisa produzir seu texto. Para aquele que assume essa postura, o texto estudado no algo definitivamente acabado. uma obra humana, qual ele, de certo modo, deve dar nova vida. O texto torna-se uma proposta, um desafio. Desafio porque o leitor-estudante dever superar uma srie de dificuldades que se impe intrinsecamente no decorrer da leitura. muito comum o leitor no perceber que o texto lido vem carregado de condicionamentos histrico-sociolgicos e ideolgicos do autor e que nem sempre coincidem com o seu. O leitor precisa saber identificar a posio ideolgica e filosfica do autor para poder confrontar com a sua realidade. Nesse confrontamento, o leitor-estudante dever ter a sensibilidade de perceber as suas semelhanas e diferenas em relao ao autor, para a partir da ter condies de reelaborar o texto, isto , produzir seu prprio textob.21 O ato de estudar

b. Nesse tocante, devemos ter o mximo cuidado, para no cairmos num relativismo que fuja da questo da verdade cientfica. O rigor da investigao cientfica deve ser mantido, bem como a fidelidade verdade cientfica. H sempre uma verdade cientfica que no pode ser relativizada.

Assumindo tal atitude, o estudante-leitor se faz sujeito diante do texto lido. Com isso, no s ter condies de compreender as idias do autor, como tambm poder expressar o que ele tem a dizer. O leitor-estudante que faz da leitura um momento de dilogo crtico e produtivo no fica hipnotizado pela palavra escrita; pelo contrrio, busca novas palavras, no para colecion-las na memria, mas para anunciar a sua realidade, construindo um novo mundo, possibilitando a continuidade da obra humana na histria. Ento, diante de um texto, o leitor poder ser sujeito ou objeto da leitura, e isso depender da postura crtica ou acrtica que assumir frente ao texto sobre o qual processa o ato de estudar. Ser objeto quando se colocar frente ao texto como algum que esteja magnetizado pelo que est vivenciando, seja pelo jbilo, seja pelo temor que desperte frente ao texto. Logo, o estudante que permanecer nessa postura, provavelmente, sofrer graves conseqncias, como, por exemplo, a formao de uma conscincia ingnua em relao s aes polticas e sociais. Com facilidade, tornar-se- um indivduo que se submete passivamente a um mundo dogmtico, no qual a ordem e os valores se impem de forma natural e categrica, em que tudo est feito e resolvido. o tipo de homem que no questiona, no problematiza seu mundo,22 Instrumentalizao cientfica

considerando-o esttico e determinado. uma mentalidade consumidora de idias e saberes e no sua produtora. Advm da uma mentalidade que possui um conhecimento fragmentado e desarticulado, faltando uma viso de conjunto e totalidade. o indivduo que levado pelos acontecimentos do cotidiano e oprimido pela rotina do dia-a-dia, correndo o risco de alienar-se, perdendo sua autonomia e no assumindo sua condio fundamental de ser humano.

Por outro lado, ser sujeito da leitura o leitor que, ao invs de s reter a informao, fizer o esforo de compreenso da mensagem, verificando se expressa e elucida a realidade em suas caractersticas especficas. Por vezes, os textos criam uma elucidao falsa da realidade. preciso estar alerta para esta possibilidade.5 Portanto, o leitor-sujeito aquele que busca compreender o mundo concreto em suas bases reais. Examinando e questionando o texto que est lendo, estar capacitado para criar e transmitir novas mensagens, que se apresentaro como novas compreenses da realidade6. O leitor-sujeito pensa criticamente e passa a destruir falsas idias; cria novas interpretaes acerca da realidade, dando-lhe novos significados, pois compreende que a realidade do mundo no esttica, que esta no se d a conhecer de uma s vez. Ela se transforma, se modifica, multifacetria e, por isso, constantemente, est desafiando o homem no seu ato de estudar, que deve ser criativo e no repetitivo7. Torna-se evidente a necessidade de nossos estudantes assumirem uma postura crtica diante dos textos de estudo. S assim podero dar continuidade ao curso da histria e da realizao humana, pois estaro enfrentando o mundo na busca de uma compreenso rigorosa e ordenada de seus componentes, de modo a superar vises ingnuas, falsas idias e aparncias. Isso buscar a inteligibilidade do mundo.23 O ato de estudar

Aproveitamento da leituraTendo em vista as argumentaes expostas nos dois tpicos anteriores, faz-se mister que o leitor-estudante, no ato da leitura de textos tericos, aja ciente de sua condio de sujeito e que para tanto domine certas tcnicas de leitura

que so na verdade tcnicas de pesquisa. O leitor-estudante deve ter em mente que a qualidade de sua leitura depende muito dos mtodos adotados na efetivao desse ato. Veja! Estamos falando de tcnicas de pesquisa no ato de ler um texto terico, porque a proposta estimular o estudante-leitor a fazer no momento da leitura uma ao de estudo-pesquisa. No h espao aqui para uma leitura mecnica e memorizadora. Trata-se de um mtodo em que estudar tambm uma forma de pesquisar. Uma leitura organizada metodologicamente j por si s uma pesquisa. Refere-se a um mtodo que requer conhecimento e domnio de tcnicas que orientem a leitura com rigor e critrios bem definidos. O leitor-estudante no pode ser apenas um receptor de saberes. Deve, no ato da leitura, procurar compreender a mensagem do autor, questionar as exposies e as argumentaes do texto para poder transformar o que deve ser transformado. Sem dvida, para os estudantes universitrios, os textos tericos so instrumentos de fundamental importncia e fonte de pesquisa, Pois atravs deles que os estudantes se relacionam com a produo cientfica e filosfica, atravs deles que se torna possvel participar do universo de conquistas nas diversas reas do saber. por isso que aprender a compreend-los se coloca como tarefa fundamental de todos aqueles que se dis24 Instrumentalizao cientfica

pem a decifrar o seu mundo.8 O estudante universitrio precisa tomar conscincia de que aprender a compreender um texto aprender a efetuar uma leitura com qualidade, pois o que mais interessa a produo efetiva e no a quantidade. No interessa quantas pginas foram lidas, interessa como foram lidas e a sua compreenso. Por isso, devemos reler o texto quantas vezes forem necessrias, at obtermos certeza da compreenso

do tema em pauta. Sabemos que o processo de construo da nossa intelectualidade muito lento, so os obstculos pessoais, sociais e culturais a serem vencidos em busca de uma compreenso significativa do conhecimento humano. Nem sempre o entendimento acontece de imediato, e por isso se fazem necessrios, por parte do leitor, dedicao, tempo e aplicao de tcnicas para poder decodificar e assimilar o que est sendo revelado no texto. O certo que a leitura-estudo, concebida como trabalho de pesquisa, deve ser organizada metodologicamente. Inerente a essa postura, subentende-se uma srie de atividades no sentido de fazer observaes, organizar e classificar dados dos textos e realizar apontamentos, fichas, esquemas etc. Se as sugestes que apresentaremos a seguir no forem condizentes com a sua realidade, acreditamos que voc encontrar o seu prprio mtodo de conduzir suas leituras de estudo. O importante ter um mtodo organizado e eficiente para aproveitar melhor o seu tempo disponvel e conseqentemente compreender melhor os temas de leitura. O estudo e a anlise de textos que possuam uma estrutura lgica e rigorosa, especialmente os textos filosficos e cientficos, exigem que sejam feitas algumas avaliaes, tais como:a. 25 O ato de estudar

Referncia bibliogrfica do texto Isso implica saber o autor, o ttulo, o ano da publicao e a extenso do texto. Identificar o tipo de texto Identificar se o texto cientfico, filosfico, literrio, teolgico etc. Isso facilita o entendimento das idias que o autor quer transmitir, pois cada tipo de texto possui uma estrutura lingstica e argumentativa prpria.

b.

c.

Conhecer os dados bibliogrficos do autor Procurar contextualizar o autor no tempo e no espao. importante perguntar: quando o autor nasceu? Onde? Qual foi sua formao intelectual? Em que organizaes militou? A que correntes de pensamento se filia? Que livros escreveu? Quais as principais caractersticas de seu pensamento? Quais eram as condies da poca em que produziu o texto? Que influncias recebeu? Etc.

d.

Estudo dos componentes desconhecidos do texto freqente encontrarmos expresses tcnicas, palavras, autores citados, fatos histricos mencionados que no conhecemos. Por isso, necessitamos munir-nos de outros livros, dicionrios, enciclopdias e algumas vezes consultar especialista da rea.

Quadro 1.1 Sugestes para atingir a eficincia nos estudos

Tema

Ao Assumir a responsabilidade pelo estudo. No esperar s pelos professores. Pontualidade nas aulas. Saber orientar seus prprios estudos. Adotar mtodo de estudo, principalmente, tcnicas. Definir sua prpria tcnica. A luta contra os ponteiros do relgio. Tornar o tempo mais produtivo. Determinar o que vai estudar em cada momento. Alguns minutos por dia podem somar horas na semana. Elaborar uma planilha demonstrando como usar o tempo dirio. Reelaborar esta planilha para ver como pode aproveitar melhor. Espaos curtos pequenas leituras. Espaos longos analisar, criticar, elaborar fichas e resumos.(continua)

1. Aprender a aprender

2. Tempo para estudar 26 Instrumentalizao cientfica

3. Distribuio do tempo

(Quadro 1.1 - concluso)

4. Horrio para preparar as aulas

Possuir o programa, livros, textos, dicionrios e outras fontes. Ler previamente o contedo que ser desenvolvido. Isso melhora a participao em aula debates. Certificar-se de que realmente aprendeu aquilo que acha que aprendeu. Reforar na memria. No deixar tudo para a ltima hora. Estudo como processo de desenvolvimento lento e constante. As aulas so o grande tempo do estudante. incoerente o aluno investir no ensino pago e no obter retorno em forma de aprendizagem e aproveitamento. O estudante turista ou autodidata tem formao deficitria. No sair da aula com dvidas. Procurar manter um clima cordial entre professor e aluno.

5. Horrio de reviso das aulas 6. Horrio de estudo para as provas

7. Aproveitar o tempo em sala de aula

Fonte: RUIZ, 2002.

Para finalizar, fica o desafio para que cada estudante reflita sobre esses contedos, tentando relacion-los com outros conhecimentos que j domina, a fim de analisar como est sendo conduzida sua vida de estudante, tendo como referncias as seguintes perguntas: Que estudante tenho sido? Que estudante sou? Que estudante quero ser? Pense nisso.27 O ato de estudar

atividades1.

De acordo com o texto, como explicada a atitude humana de objetivar o mundo?

2.

Segundo o texto, o ser humano nunca estaciona na busca de sua realizao, mas, ironicamente, tambm nunca chega a uma realizao plena e definitiva. Como pode ser explicado esse fenmeno?

3.

Elaborar uma tabela estabelecendo, em uma coluna, caractersticas de um leitor sujeito e, em outra coluna, caractersticas do leitor objeto.

4.

Analise e amplie a seguinte afirmao de Paulo Freire: Estudar seriamente um texto estudar o estudo de quem, estudando, o escreveu.

5.

Elabore uma tabela descrevendo e cronometrando suas atividades dirias, destacando horrios reservados para estudo.

28 Instrumentalizao cientfica

(2)

c onhecimento e mtodo

Cosme Luiz Chinazzo

(

)

e m sala de aula,

quando perguntamos aos alu-

nos: o que o conhecimento?, normalmente, instaura-se o silncio. Depois, s vemos caretas e olhares inquietos. Certamente, na mente da maioria deles surge uma dvida, ao mesmo tempo em que exclamam: que pergunta estranha!. Assim, conforme instigamos para que manifestem suas idias, eles vo se expressando, dizendo que conhecimento: saber; aprender; estudar; so informaes recebidas; aquilo que aprendemos.

Neste captulo, desejamos ampliar a compreenso sobre o significado do conhecimento e como ele produzido e, a partir dessa abordagem, introduzir o mtodo cientfico.

(2.1) o que conhecimento?Na verdade, num primeiro momento, a pergunta o que conhecimento? parece muito estranha, isso porque na nossa vida o conhecimento est presente de modo muito natural. Desde muito cedo, somos insistentemente alertados por nossos pais, parentes, professores etc. sobre a importncia e a necessidade de conhecermos isto ou aquilo. Convivemos com recomendaes do tipo: voc precisa conhecer isso!, necessrio ter conscincia de.... Desse modo, ao longo de nossa vida, vamos recebendo informaes e adquirindo compreenses sobre as coisas do mundo, sobre as relaes humanas, sobre as questes sociais e culturais. Quer dizer, estamos permanentemente conhecendo, mas dificilmente questionamos sobre isso. O que significa conhecer? Qual a origem dos conhecimentos? Como eles foram32 Instrumentalizao cientfica

produzidos? Quem, por que e quando foram produzidos? O que conhecemos verdadeiro ou falso? Podemos dizer que a grande maioria dessas compreenses so informaes, no conhecimento propriamente dito. Conhecimento e informao so coisas bem distintas. Acontece que dificilmente problematizamos sobre o conhecimento. Mas, na verdade, desde a Antigidade muitos pensadores se preocuparam com a temtica do conhecimento humano, impondo

questionamentos em torno das seguintes perguntasa:a. b.

O que o conhecimento? possvel o conhecimento? Pode o sujeito conhecer o objeto? O que a verdade? Qual o critrio para dizer que o conhecimento verdadeiro ou no? Qual o fundamento do conhecimento? Ou seja, de onde se originam os contedos do sujeito conhecedor? Da conscincia ou da experincia? Para muitas pessoas de nosso tempo, essas e outras

c.

d.

perguntas semelhantes parecem estranhas, mas so elaboradas e reelaboradas h mais de vinte sculos. O termo conhecer, etimologicamente, advm da lngua francesa connaissance conhecimento e que quer dizer com con e nascer naissance). Assim, no ato de conhecer, o sujeito conhecedor nasce como ser pensante e, concomitantemente com ele, nasce o objeto que ele pensa e conhece. O processo de produo do conhecimento mostra aos homens que eles jamais so alguma coisa pronta e que esto sempre nascendo de novo, quando tm coragem de se mostrarem abertos diante da realidade. Para que exista o ato de conhecer, indispensvel o relacionamento de dois elementos bsicos, conforme demonstrado na Figura 2.1 a seguir.Figura 2.1 Relao sujeito-objeto no ato cogniscitivo 33 Conhecimento e mtodo

Um sujeito conhecedor x Um objeto conhecidoCONHECIMENTO

a. Elaborado tendo como base bibliogrfica Cotrim (1993) e Hhne (1992).

Dependendo da corrente filosfica, ser dada maior nfase ao sujeito ou ao objeto. Assim, sabemos que os racionalistas do maior importncia ao sujeito, enquanto os empiristas do maior importncia ao objeto. O ato de conhecer envolve o dualismo sujeito e objeto, processo no qual se encontram frente a frente. Nesse dualismo, h a essncia do conhecimento. Este o resultado da relao entre os dois elementos. relao e ao mesmo tempo correlao, porque o sujeito s sujeito para um objeto, e o objeto s objeto para um sujeito. Mas tal correlao no reversvel, pois ser sujeito algo completamente distinto de ser objeto. E a funo do sujeito a de apreender o objeto, e a funo do objeto a de ser apreendido pelo sujeito. O sujeito, no caso que nos interessa aqui, o ser humano que construiu a faculdade da inteligibilidade, construiu um interior capaz de apropriar-se simblica e representativamente do exterior, conseguindo, inclusive, operar de forma abstrata com seus smbolos e representaes. O objeto o mundo exterior ao sujeito, que representado em seu pensamento a partir da manipulao que executa com eles.1 A pergunta que se impe : seria possvel ao sujeito34 Instrumentalizao cientfica

apreender o objeto?. Respondendo a essa questo, Cotrim2 distingue duas correntes filosficas bsicas e antagnicas:a.

Ceticismo: esta corrente filosfica defende a idia de que o ser humano no tem possibilidades de conhecer a verdade.

b.

Dogmatismo gnosiolgico: esta corrente filosfica defende a idia de que o ser humano tem possibilidades de conhecer a verdade.

Ainda segundo Cotrim, o ceticismo se divide em duas modalidades: absoluto e relativo.a.

Ceticismo absoluto: a palavra absoluto, por si s, j diz tudo, ou seja, nega qualquer forma total de conhecer a verdade. O argumento , nas palavras do filsofo pr-socrtico Protgoras, que o homem nada pode afirmar, pois nada pode conhecer3. Os cticos absolutos se fixam em duas caractersticas do ser humano que podem conduzir ao erro, quais sejam: os sentidos e a razo. Os sentidos porque nos enganam com muita freqncia e no so confiveis; a razo, por sua vez, tambm no confivel, pois ela que proporciona diferentes concepes tericas sobre um mesmo tema, que so superadas de tempos em tempos.

b.

Ceticismo relativo: nega parcialmente nossa possibilidade de conhecer; esse tipo mais moderado e se divide em duas modalidades: fenomenalismo, em que, pelos pressupostos da fenomenologia, s conhecemos a aparncia dos seres; no conhecemos a essncia das coisas; no conhecemos a coisa em si; conhecemos a exteriorizao das coisas. probabilismo, em que podemos alcanar uma verdade provvel, nunca provada ou comprovada. Nunca chegaremos ao nvel da plena certeza, da verdade absoluta. Por outro lado, existem os pensadores que acreditam35 Conhecimento e mtodo

que o ser humano (sujeito) pode conhecer o objeto e chegar verdade. A estes elementos Cotrim denomina de dogmatismo e o divide em duas vises:a.

Ingnua: acredita plenamente na possibilidade de o ser humano conhecer a verdade; no h dificuldades no ato de conhecer a verdade.

b.

Crtica: acredita na capacidade de o ser humano conhecer a verdade, mas mediante o esforo conjunto dos sentidos e da inteligncia. Confia que atravs de um trabalho metdico, racional e cientfico, o homem torna-se capaz de decifrar a realidade do mundo.4

(2.2) o processo de produo do conhecimentoNa metafsica, Aristteles j afirmava que todos os homens tm, por natureza, o desejo de conhecer5. Tal desejo se manifesta desde os primeiros anos de vida. Observamos nas crianas uma nsia em buscar compreender o mundo ao seu redor, e esse desejo vai se adequando s diferentes fases do ciclo vital. medida que o homem vai aprofundando seus conhecimentos, necessariamente aprimorar os mtodos e as tcnicas de investigao, para facilitar a compreenso do mundo.36 Instrumentalizao cientfica

O conceito explicativo da realidade nunca est pronto; ele uma construo que o sujeito faz a partir da lgica que encontra nos fragmentos da realidade. Para tanto, utiliza-se de recursos metodolgicos, de meios e processos de investigao. Ele se constri por meio de longa busca, por meio de esforo de desvendamento. A elucidao do mundo exterior exige imaginao investida, busca disciplinada e metodolgica, tendo em vista captar os meandros do real.6 Muitos autores referem-se ao conhecimento dizendo que ele a elucidao da realidade. A expresso elucidar na

lngua latina derivada do verbo lucere, que significa trazer a luz, iluminar; assim, elucidar iluminar, tornar claro. Outros autores se referem ao conhecimento como o ato de desvelamento, ou seja, conhecer desvelar a realidade. Desvelar quer dizer tirar o vu. Tambm muito usado o termo desvendar, que significa tirar a venda. Quem est com olhos vendados no pode ver. Ento, conhecimento o ato de tirar a venda, tirar o vu, iluminar, clarear, para poder dizer o que a realidade , como , por que , que elementos a constituem... Os conceitos no nascem de dentro do sujeito, mas sim da apropriao adequada que ele faz do exterior. Deste modo, a iluminao da realidade no um ato exclusivo do sujeito, mas um ato que se processa dialeticamente com e a partir da realidade exterior. O sujeito ilumina a realidade com sua inteligncia, mas a partir dos fragmentos de luz, dos sinais que a prpria realidade lhe oferece. O sujeito, no nvel da teoria, explica um objeto, no porque ele voluntariamente queira que a explicao seja esta e no outra, mas sim porque os fragmentos da realidade com os quais ele trabalha lhe oferecem uma lgica de compreenso, lhe permitem descobrir uma inteligibilidade entre eles, formando, assim, um conceito que nada mais que a expresso pensada de um objeto.7 Conhecer sempre um ato desafiador em busca de sentidos e significados das coisas, esclarecer o que estava duvidoso, clarear o que estava obscuro, iluminar o que estava na escurido... A funo primordial do conhecimento deve ser a de possibilitar a compreenso da realidade, para permitir a ao e a adequao do ser humano sobre essa mesma realidade. Para o homem penetrar nas diversas reas da realidade, ele precisa aprender. Adquirir conhecimentos, aprender37 Conhecimento e mtodo

a refletir e a pensar: eis o incio para a compreenso do conhecimento. O conhecimento tem uma dimenso social e uma dimenso histrica. Sob o enfoque social, o conhecimento ilumina outras conscincias. Pela dimenso histrica, ele produzido e germinado num determinado tempo. Por isso, o conhecimento sempre novo. Necessariamente, temos que admitir que o ser humano um sujeito produtor de conhecimentos. E, basicamente, temos duas atitudes diante do conhecimento, quais sejam: usar o conhecimento j existente e/ou produzir novos conhecimentos. Finalmente, em se tratando de produzir conhecimento, necessitamos ter um posicionamento crtico diante dele. O posicionar-se criticamente implica colocar a relao do fazer e do usar de maneira dialtica, porque o conhecimento feito pelos homens e utilizado pelos homens e, fatalmente, de qualquer maneira, utilizado em funo dos homens.

(2.3)38 Instrumentalizao cientfica

f undamentos do conhecimentoHistoricamente, encontramos vrias correntes filosficas e pensadores que se empenharam em explicar os fundamentos do conhecimento. Passamos a expor alguns pressupostos de trs delas, as quais consideramos as mais importantes, e isso quer dizer que no so as nicas existentes.

RacionalismoUsamos o termo racionalismo para designar a corrente filosfica que deposita total e exclusiva confiana na razo humana como instrumento capaz de conhecer a verdade8. Ao trabalhar com os princpios lgicos, a razo humana pode atingir o conhecimento verdadeiro. O racionalismo moderno teve incio com Ren Descartes, que, na verdade, considerado o fundador da filosofia moderna. O racionalismo de Descartes tambm conhecido como pensamento cartesiano. O ponto de partida de Descartes a teoria de que tudo pode ser analisado e explicado pela razo. Esta o instrumento por excelncia na construo do conhecimento em busca da verdade. Esse filsofo atribui razo humana a capacidade exclusiva de conhecer e estabelecer a verdade. Proclama que a razo independente da experincia sensorial e que inata, imutvel e igual em todos os homens.

EmpirismoA palavra empirismo significa experincia. O empirismo surge como uma reao natural ao racionalismo. Enquanto o racionalismo defende o primado da razo no empreendimento de conhecermos a verdade, os empiristas aparecem defendendo o primado da experincia sensorial, ou seja, o conhecimento e as idias s se formam em nossa mente a partir dos nossos sentidos, das nossas experincias sensoriais, das percepes que nossos sentidos apreendem do mundo exterior. No existe nada em nossa mente que no tenha antes passado pelos sentidos. Para apresentar o empirismo, vamos nos concentrar no pensamento de John Locke9, que combate a concepo da39 Conhecimento e mtodo

existncia de idias inatas. O ponto de partida de Locke que o ser humano, ao nascer, tem a mente como uma folha de papel em branco (tbula rasa), quer dizer, no nascemos com idias prontas em nossa cabea. As idias vo sendo escritas com as experincias que fazemos ao longo de nossa vida. A teoria de Locke fundamentada na argumentao de que nada existe na mente do ser humano que no tenha sua origem nos sentidos, na percepo sensorial. As idias que adquirimos e armazenamos durante nossa vida so o resultado do exerccio da experincia sensorial.

DialticaRepresenta um meio-termo entre empiristas e racionalistas. Aqui, tanto os sentidos como a razo humana tm participao determinante na origem de nossos conhecimentos10. Na concepo dialtica, o conhecimento humano se processa a partir da experincia sensvel e se complementa na lgica racional, isto , o homem s produz conhecimentos a partir de sucessivas repeties de experincias que conduzem da realidade concreta conscincia e, reciprocamente, da conscincia realidade concreta. Em outras palavras, o40 Instrumentalizao cientfica

conhecimento se processa da prtica para a teoria e, reciprocamente, da teoria prtica. Nessa concepo, o conhecimento produo humana, ele resultante da necessidade de interao do homem com o mundo e com os outros homens, em que, no processo de produo de sua vida individual e social, os homens produzem suas idias, representaes, teorias, religies e cincias.

(2.4) a questo do mtodoO ser humano, desde os primrdios, preocupou-se em entender e explicar as foras da natureza que agem sobre ele. Para desvendar essas foras, foram surgindo diferentes tentativas, ou seja, diversos mtodos e tcnicas de investigao e, conseqentemente, foram sendo elaboradas diferentes explicaes, umas de ordem mitolgica, outras de ordem religiosa, outras filosficas e cientficas. Etimologicamente, a expresso mtodo significa caminho, isto , algo que viabiliza a busca de um fim, meio para se atingir um objetivo. De modo geral, podemos dizer que o mtodo a ordem que se deve impor aos diferentes processos necessrios para se atingir um resultado desejado. Normalmente na rea das cincias, mtodo o conjunto de processos que o esprito humano deve empregar na investigao e na demonstrao da verdade. Existe a necessidade de distinguirmos o mtodo em relao tcnica. Mtodo a estratgia da ao, indica o que fazer e, assim, o orientador geral da atividade, ou seja, o dispositivo ordenador, o procedimento sistemtico, um plano geral. J tcnica o modo, o processo de fazer de forma mais hbil, mais segura, mais perfeita algum tipo de atividade. Esclarecemos que, via de regra, a tcnica necessita do mtodo para ser executada, pois a tcnica a aplicao especfica do plano metodolgico e a forma especial de o executar. No dizer de Cervo e Bervian11: Existe, pois, um mtodo fundamental idntico para todas as cincias, que compreende um certo nmero de procedimentos41 Conhecimento e mtodo

ou operaes cientficas levadas a efeito em qualquer tipo de pesquisa. Estes procedimentos [...] podem ser resumidos da seguinte maneira: a) formular questes ou propor problemas e levantar hipteses; b) efetuar observaes e medidas; c) registrar to cuidadosamente quanto possvel os dados observados com o intuito de responder s perguntas formuladas ou comprovar a hiptese levantada; d) elaborar explicaes ou rever concluses, idias ou opinies que estejam em desacordo com as observaes ou com as respostas resultantes; e) generalizar, isto , estabelecer concluses obtidas a todos os casos que envolvem condies similares; a generalizao tarefa do processo chamado induo; f) prever ou predizer, isto , antecipar que, dadas certas condies, de se esperar que surjam certas relaes. Entretanto, o mtodo pode e deve ser adaptado s diversas cincias, medida que a investigao de seu objeto impe, ao pesquisador, lanar mo de tcnicas especializadas. evidente a importncia do mtodo na construo das cincias, pois ele tem a funo de disciplinar o processo investigatrio, auxiliar na excluso do acaso e, ainda, encaminhar o esforo no sentido de adequao ao objeto de estudo, determinando formas de investigao segura na pesquisa. Mas o mtodo no se basta por si s; na verdade,42 Instrumentalizao cientfica

para ser produtivo, exige empenho, inteligncia e talento. Nos itens a seguir, abordaremos a deduo e a induo, que representam, antes de qualquer coisa, formas de raciocnio ou de argumentao e, como tais, so formas de reflexo, e no de simples pensamento. Freqentemente, prefere-se pensar os problemas a raciocinar sobre eles e, quando isso acontece, via de regra, provocam-se confuses com a reflexo sistemtica. O raciocnio algo ordenado, coerente e lgico.

DeduoO processo argumentativo lgico dedutivo se desenvolve a partir de premissas geraisb e busca uma concluso particularc. A expresso principal do processo argumentativo lgico dedutivo o silogismo. Este um raciocnio ou uma operao do pensamento realizado por meio de juzosd ou enunciados lingsticos lgicos encadeados, pelo qual de um antecedente que une dois termos a um terceiro tira-se um conseqente, que une esses dois termos entre si. Exemplo: Todo homem mortal. Ora, Pedro homem. Logo, Pedro mortal. Premissa maior Premissa menor (mediador) Concluso

Ateno: necessariamente no silogismo, ou processo dedutivo, aparece o termo mediador, que tem a funo de ligar a premissa maior (extenso maior) com a premissa menor (extenso menor), e de forma alguma com a concluso, conforme pudemos ver no exemplo citado. Se dizemos que todo homem mortal e afirmamos que Pedro homem, temos, portanto, que o termo mediador a palavra homem (est presente nas duas premissas), porm ela no estar presente na concluso.43 Conhecimento e mtodo

b. Premissas gerais: o conceito ou termo geral, universal ou total, ou seja, quando o termo faz referncia totalidade dos elementos de uma espcie, gnero, fenmeno. c. Concluso particular: o conceito ou termo faz referncia a um indivduo determinado ou a alguns indivduos. d. Juzo o ato pelo qual a inteligncia diz algo do outro, afirmando ou negando.

Normalmente, afirma-se que a deduo o processo lgico por excelncia, pois atende s exigncias dos rigores condicionantes da lgica. O processo argumentativo dedutivo pressupe a necessidade da concluso. Se as premissas forem verdadeiras, a concluso sempre ser verdadeira, pois premissas verdadeiras conduzem a uma concluso verdadeira. No caso de premissas falsas, podemos conduzir tanto para o falso como para o verdadeiro. Como j nos referimos, a deduo lgica a ligao de dois termos mediados por um terceiro. Vejamos: Se A = B, e B = C, ento A = C. Existe o termo mediador (B), que determina a ligao entre os termos extremos (A) e (C). Assim, a concluso se evidencia como necessria; em outras palavras, a concluso s pode ser esta e no outra. Chamamos a ateno para o fato de que o contedo da concluso no vai alm do contedo das premissas, ou seja, na concluso no se afirma mais do que j foi afirmado. Mais um exemplo para clarear as idias: Toda cincia tem um mtodo. Ora, biologia uma cincia. Logo, biologia tem um mtodo.44 Instrumentalizao cientfica

O termo mediador desse exemplo cincia, que aparece nas duas premissas, porm no est presente na concluso. Nesse argumento dedutivo, para que a concluso biologia tem um mtodo fosse falsa, uma das premissas deveria ser falsa, isso se nem toda cincia tivesse mtodo ou se a biologia no fosse cincia. Observe que a deduo um modelo de rigor, porm h os que a consideram estril, isso porque em um certo sentido no nos ensina nada de novo, apenas organiza o

conhecimento j adquirido. Mas isso no significa que a deduo no tenha valor algum. Vejamos o exemplo anterior. A concluso biologia uma cincia est afirmando algo que, na verdade, j foi dito nas premissas. A concluso est contida de forma virtual ou de forma implcita na premissa maior. Veja que, na verdade, a concluso acrescenta algo novo, ou seja, realiza um progresso no conhecimento, qual seja, o progresso que consiste em descobrir em uma idia o que nela est contido, mas que no se evidencia de modo espontneo. Ento, podemos dizer que o termo mediador tem um poder de fecundidade no processo de conhecer, porque todo argumento dedutivo se obriga a recorrer a uma idia mediadora para concluir-se. Salientamos que o objetivo do processo dedutivo o de explicar o contedo das premissas. Desse modo, podemos dizer que o argumento dedutivo, ou correto, ou incorreto, pois, ou as premissas sustentam de modo completo a concluso, ou no a sustentam de forma alguma. O mesmo acontece, por extenso, com a produo do conhecimento cientfico atravs da pesquisa cientfica. Passamos a apresentar algumas das mais elementares formas de argumentos dedutivos. Na verdade, a lgica dedutiva muito desenvolvida, mas fica aqui o desafio de que o estudante, a partir dessas explanaes elementares, avance por iniciativa prpria para processos mais completos e complexos. Estaramos cometendo um erro grave se deixssemos a impresso de que a deduo se limita a colecionar argumentos para verificar se so vlidos ou no. Assim sabemos que o aqui estudado no o suficiente para dar uma idia do alcance abrangente da lgica dedutiva. Argumentos mais complicados envolvem diversas fases e no se encaminham diretamente das premissas para a concluso. O que queremos em termos de processos dedutivos45 Conhecimento e mtodo

a compreenso de que a concluso de um argumento pode operar como premissa de outro. A ttulo de curiosidade, procure verificar os procedimentos da matemtica, e voc vai constatar que a maior parte dos argumentos matemticos dedutiva. So muito comuns as observaes de que o mtodo dedutivo prprio das cincias exatas. No entanto, ele no um mtodo aplicado exclusivamente por essas cincias, pois outras cincias tambm se utilizam dos processos dedutivos.

InduoDepois de termos estudado a deduo, passamos a dar ateno para a induo, ou seja, ao processo da mente que parte do singular para atingir o universal. Induo um processo mental por intermdio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, no contida nas partes examinadas. Portanto, o objetivo dos argumentos indutivos levar a concluses cujo contedo muito mais amplo do que o das premissas indutivas nas quais se basearam.12 Por exemplo, observamos que:46 Instrumentalizao cientfica

A amilase uma enzima salivar, que protena. A pepsina uma enzima gstrica, que protena. A lpase uma enzima pancretica, que protena. Logo, todas as enzimas so protenas. Os argumentos indutivos, ao contrrio do que acontece com os dedutivos, levam a concluses cujo contedo excede o das premissas. esse trao caracterstico da induo que torna os argumentos indutivos indispensveis

para a fundamentao de muitos dos nossos conhecimentos filosficos, cientficos e tcnicos. Mas, esse mesmo fato que levanta questes extremamente complicadas, dificultando a anlise do conceito de apoio indutivo. O objetivo bsico dos argumentos, sejam eles dedutivos ou indutivos, produzir concluses verdadeiras a partir de premissas verdadeiras. Em outras palavras, desejamos que os nossos argumentos tenham concluses verdadeiras quando as suas premissas so verdadeiras. Conforme j estudamos, os argumentos dedutivos satisfazem esse requisito. No entanto, com os argumentos indutivos no acontece o mesmo, pois estes so elaborados com o fim de estabelecer concluses cujo contedo muito mais amplo que o das premissas. Costuma-se dizer que, para se conseguir esse objetivo, os argumentos indutivos sacrificam o carter de necessidade que tm os argumentos dedutivos. Ao contrrio do que acontece com um argumento dedutivo, um argumento indutivo pode, perfeitamente, aceitar uma concluso falsa, ainda que as suas premissas sejam verdadeiras. Porm, mesmo no podendo garantir que a concluso de um argumento indutivo ser verdadeira quando as premissas so verdadeiras, podemos afirmar que as premissas de um argumento indutivo sustentam ou atribuem certa verossimilhana sua concluso. Quando as premissas de um argumento dedutivo so verdadeiras, a sua concluso deve ser verdadeira; quando as premissas de um argumento indutivo so verdadeiras, o mximo que podemos dizer que a sua concluso provavelmente verdadeira. importante ficar claro que, diferentemente da deduo, na induo, em alguns casos, a concluso poder ser falsa, mesmo que as premissas sejam verdadeiras, porm na maioria dos casos a concluso ser verdadeira.47 Conhecimento e mtodo

Por exemplo, observamos que: O cobre condutor de eletricidade. O ouro condutor de eletricidade. O ferro condutor de eletricidade. Ora, o cobre, o ouro e o ferro so metais. Logo, todo metal condutor de eletricidade. Evidencia-se, neste exemplo, que o contedo da concluso excede o contedo das premissas. Portanto, s temos uma probabilidade de a induo estar correta. Desse modo, cabe a quem trabalha com a induo dispensar o mximo de ateno em analisar os enunciados das premissas, avaliando se estas oferecem condies favorveis para considerar a induo correta ou com apenas probabilidades de conduzir concluso verdadeira13. Segundo Cervo e Bervian, A induo cientfica o raciocnio pelo qual se chega concluso de alguns casos observados a partir da espcie que os compreende e a lei geral que os rege. Ou, ainda, o processo que generaliza a relao de causalidade descoberta entre dois fatos ou fenmenos e da relao causal que conclui a lei.48 Instrumentalizao cientfica

Verifica-se, por exemplo, certo nmero de vezes, que o xido de carbono paralisa os glbulos sangneos; dessa observao infere-se que, sempre dadas as mesmas condies, o xido de carbono paralisar os glbulos sangneos.14 Esse tipo de induo o fio condutor das cincias experimentais. Sem ela a cincia no seria outra seno um repositrio de observaes sem alcance. A induo cientfica pode ser formal ou virtual, dependendo de como forem enumerados os fatos, fenmenos (singulares),

ou, apenas alguns enquanto estejam representando todos. O que realmente interessa atingir a universalizao, atravs da experincia. Isto nem sempre e fcil e requer muito esprito de observao e perspiccia. Se conseguirmos enumerar, um por um, todos os sujeitos (singulares), que apresentam certa caracterstica, podemos formar, a partir desta experincia de um por um, um juzo universal.15 Por exemplo, observamos que: A gua do poo ferve a cem graus. A gua da lagoa ferve a cem graus. A gua do rio ferve a cem graus. Concluso: Toda gua ferve a cem graus. Caro estudante, perceba que na induo cientfica o termo mediador a experincia. A base est no princpio analtico que possibilita a passagem de juzos particulares (singulares) para atingir um juzo universal. Em outras palavras, da experincia de casos particulares partimos em busca de uma lei geral. Assim, o que dito de um enquanto tal poder ser dito de todos, isto , podemos elaborar juzos particulares e atravs destes, um a um, chegar legitimamente a uma lei universal. No ltimo exemplo, verificamos que existe uma relao entre gua e cem graus e disso podemos generalizar que toda gua ferve a cem graus.49 Conhecimento e mtodo

atividades1.

Elabore uma explicao estruturada com argumentos sobre o seguinte questionamento: A posio do ceticismo incentivadora construo do conhecimento cientfico?.

2.

Explique por que o conhecimento tem uma dimenso social e uma dimenso histrica. Leia o trecho a seguir. Em textos didticos muito comum encontrarmos a distino, afirmando que o racionalismo cartesiano valoriza o sujeito enquanto que o empirismo valoriza o objeto. Explique essa afirmao.

3.

4.

Discorra sobre a diferena entre mtodo e tcnica.

50 Instrumentalizao cientfica

(3)

m ecanismos de busca, diretrios e bancos de dados

Patrcia Noll de Mattos natural de So Paulo e vive em Porto Alegre desde os quatro anos de idade. bacharel em Informtica pela Universidade Catlica do Rio Grande do Sul PUCRS (1991), mestre em Cincias da Computao pela UFRGS (1996) e, atualmente, cursa doutorado em Informtica na Universidade de Ilhas Baleares, na Espanha, alm de cursar especializao em Ensino a Distncia EaD no Senac-RS. professora da Universidade Luterana do Brasil Ulbra desde 1994, atuando no curso de Computao com as disciplinas Estruturas de Dados I e Paradigmas de Linguagens de Programao. professora do ensino a distncia da Ulbra desde 2004, modalidade em que j trabalhou como conteudista de diversas disciplinas. J ministrou aula no curso de Processamento de Dados da Unisinos e na ps-graduao em Medicina da UFRGS.

Patrcia Noll de Mattos

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e ste captulo objetiva conhecer e entender osrecursos e as ferramentas dos ambientes virtuais de pesquisa na internet, alm de oferecer ao aluno alternativas de fontes de pesquisa virtual e formas de acess-las.

(3.1) mecanismos de buscaPor que buscar informaes na internet? Hoje, 93% da nova informao nasce na forma digital. Estamos na Era da Informao: Passado: tnhamos pouca informao (transmisso oral da informao). Escrita (representao da informao). Hoje: temos excesso de informao (processamento da informao). dado informao conhecimento competncia criatividade

Um valor numrico, por exemplo, pode ser considerado um dado, mas, no momento em que se associa um significado a esse valor, como uma idade ou nmero de alunos de uma turma, tem-se uma informao, pois isso leva a ter conhecimento sobre um determinado assunto. O conhecimento nos torna competentes, e a competncia54 Instrumentalizao cientfica

em determinada rea de conhecimento propicia-nos maior criatividade.

Ferramentas de busca e bancos de dadosUma ferramenta de busca um site que nos permite pesquisar sobre determinado tema e nos leva a diversos outros sites que tratam sobre o tema pesquisado, sendo que estes, indexados pela ferramenta de busca, podem ser de diversas categorias, tais como: pessoais, institucionais, bibliotecas virtuais, revistas virtuais, dentre outras. Todos eles apresentam algo sobre a informao pesquisada na forma digital.

Quando utilizar uma ferramenta de busca? recomendvel o uso da ferramenta de busca quando voc no sabe o endereo do site que contm a informao buscada. Caso voc saiba o endereo do site que apresenta a informao de que voc necessita, basta digit-lo na barra de endereos do seu navegador. Como esta ferramenta de busca encontra os sites que contm o contedo procurado? Nesse processo, submetida uma pergunta ao site de busca, e ele recupera sites baseados na quantidade de vezes que a palavra ou expresso aparece dentro do texto. Para efetuar a busca, voc deve, na tela do navegador, digitar o endereo do site correspondente ferramenta de busca que pretende utilizar na barra de endereos. A seguir, digite na caixa de pesquisa apresentada na tela principal da ferramenta o assunto a pesquisar e, por fim, clique no boto correspondente ao de pesquisar. Ser apresentado o resultado da busca em uma nova tela, na qual constaro links para os diversos sites encontrados que contenham as palavras utilizadas na busca. Porm, se voc prestar ateno ao nmero de resultados da ferramenta, ver que, em muitos casos, bastante elevado, prejudicando a localizao da informao que se pretende encontrar. Para solucionar esse problema, voc pode digitar a expresso de busca entre aspas na caixa de pesquisa. Nesse caso, a ferramenta retornar apenas os sites que tiverem em seu contedo ou ttulo a expresso literal utilizada por voc no momento da pesquisa. Essa prtica facilitar a localizao da informao desejada, uma vez que sero trazidas menos pginas como resultado, apenas as relevantes.55 Mecanismos de busca, diretrios e bancos de dados

As diversas ferramentas de busca Existem diversas ferramentas de busca que podem ser utilizadas para auxiliar na localizao de contedos na internet. Podemos citar o Altavista (http://www.altavista.com), o Yahoo (http://www.yahoo.com.br) e o Google (http://www. google.com.br), sendo que todos seguem o mesmo princpio apresentado at o momento. Porm, entre eles, existe um que se destaca em funo do mecanismo interno que utiliza para efetuar suas buscas: o Google. Ele foi criado por Larry Page e Sergey Brin e considerado um dos melhores sites de busca da atualidade. Seu mecanismo denominado PangeRank (TM), um sistema para dar notas para pginas na web. Ele funciona da seguinte forma: toda pgina que possui um link a outra pgina responsvel por dar uma pontuao a esta ltima. Quanto mais referncias uma pgina fizer a outra, mais esta aumenta sua pontuao. Alm disso, se a pgina que lhe fizer referncia tiver uma pontuao alta, a pontuao que esta lhe atribui maior. Com esse mecanismo, entende-se que, se uma pgina referencia outra, porque a con56 Instrumentalizao cientfica

sidera relevante; se vrias a referenciam, a certeza de sua relevncia aumenta. Esse mecanismo garante que os sites mais relevantes sero trazidos primeiro no resultado de uma busca, pois os de maior pontuao so apresentados nas primeiras posies. Pesquisa avanada Alm de pesquisar por expresso, possvel efetuar diversos tipos de filtros ao utilizar ferramentas de busca. A maioria delas oferece essa possibilidade clicando-se no link Pesquisa avanada.

Nesse tipo de pesquisa, normalmente possvel:a.

Efetuar pesquisa com todas as palavras: Neste caso, as palavras que voc escrever podero aparecer em qualquer ordem no site.

b.

Efetuar pesquisa com a expresso: Neste caso, funciona como um texto entre aspas, isto , toda expresso que voc digitar nesta opo dever ser encontrada em sites retornados.

c.

Efetuar a pesquisa com qualquer uma das palavras: Neste caso, a ferramenta buscar sites que contenham pelo menos uma das palavras que voc escrever nesta opo.

d.

Efetuar a pesquisa sem as palavras: Neste caso, a ferramenta retornar sites que no contenham nenhuma das palavras que voc escrever nesta opo. Na opo Idioma, voc pode solicitar que a ferramenta

lhe retorne apenas as pginas escritas em determinado idioma. Voc pode selecionar tambm um formato especfico de arquivo que deseje como resultado da busca, como, por exemplo, PDF. Outra opo a escolha da Data em que a pgina foi visitada. Por exemplo, voc pode solicitar que sejam apresentadas as pginas de internet cuja primeira visita tenha ocorrido nos ltimos trs meses. A opo Ocorrncias solicita que a ferramenta retorne as pginas que tenham ocorrncia das palavras que voc digitou em uma das opes de escolha: no ttulo, no corpo, no endereo ou em links para a pgina. Voc pode selecionar tambm que apenas sejam exibidas (ou no) pginas de um determinado domnio de sua escolha. Uma opo bastante interessante da pesquisa avanada a possibilidade de voc pesquisar por pginas que57 Mecanismos de busca, diretrios e bancos de dados

contenham links para a pgina que voc digitar. Essa uma boa alternativa para voc testar se uma determinada pgina considerada relevante ou no. O boto Estou com sorte A ferramenta Google possui uma alternativa que facilita chegar rapidamente a uma pgina de internet sem que se tenha a necessidade de digitar todo o seu endereo ou mesmo de lembr-lo. Esse recurso o boto Estou com sorte. Ele fica ao lado do boto de pesquisa. Para utiliz-lo, basta digitar a expresso na caixa de pesquisa e clicar no boto. Se existir um site sobre a expresso digitada, o Google o levar diretamente para ele ou para o que possua maior pontuao. Por exemplo, ao digitar como expresso de busca detran rs e clicar no boto Estou com sorte, o Google o levar ao site do Detran do Rio Grande do Sul. Porm, caso voc digite apenas a palavra detran, ele o levar para o site do Detran de So Paulo, pois este possui uma maior pontuao. Opo Imagens58 Instrumentalizao cientfica

Um recurso bastante til e interessante oferecido por algumas ferramentas de busca como, por exemplo, o Google, a opo Imagens, a qual lhe permite fazer uma busca na internet por imagens referentes palavra ou expresso que voc digitar. Nesse caso, a ferramenta lhe retornar apenas os links que contm imagens relacionadas expresso de busca. O recurso Pesquisa de imagens disponibiliza mais de 390 milhes de imagens indexadas.1 Para acessar esse recurso, clique em Imagens e depois digite o tema da imagem. Aps serem retornadas as imagens referentes a sua busca, voc pode clicar sobre qualquer uma delas para visualiz-la em tamanho maior ou para ter acesso pgina que a contm.

A opo Acadmico A opo Acadmico, oferecida por algumas ferramentas de busca, permite a pesquisa de artigos revisados por especialistas: teses, livros, resumos e artigos de editoras acadmicas. Ao efetuar uma pesquisa nesta opo, todos os links retornados pela ferramenta correspondem a algum tipo de trabalho cientfico. Caso voc deseje saber se um determinado autor possui publicaes acadmicas, voc pode utilizar esta opo. Para utiliz-la, basta clicar na opo Acadmico da ferramenta, qual, muitas vezes, tem-se acesso clicando na opo Mais (mais recursos da ferramenta).

(3.2) f erramentas de idiomasO recurso Ferramentas de idiomas auxilia na traduo de textos e pginas da internet. Porm, deve ser utilizado como uma primeira alternativa, pois a traduo realizada de forma literal, sem considerar as expresses idiomticas. Existe a possibilidade de selecionar o idioma do texto e para qual idioma se pretende realizar a traduo. Por exemplo, do portugus para o ingls. Para acessar essa ferramenta, basta clicar no link Ferramentas de idiomas na tela do site de busca. A partir desse momento, alguns passos devem ser seguidos. So eles:a. b. c. 59 Mecanismos de busca, diretrios e bancos de dados

Digitar o texto na rea Traduzir o texto. Selecionar as lnguas de origem e destino da traduo. Clicar em Traduzir. O texto ser apresentado traduzido para o idioma

selecionado.

(3.3) d iretriosNos diretrios, as informaes j esto organizadas e seus endereos se encontram em uma base de dados. Ficam organizadas por categorias, de acordo com o tema em questo. A maioria das ferramentas de busca apresenta essa opo de busca por categoria. Basta voc clicar na categoria e ir refinando sua buscas clicando nas subcategorias. Por exemplo, supondo que voc clique na categoria Artes e entretenimento. Algumas opes lhe sero apresentadas. Supondo que voc clique em Cinema, a ferramenta lhe retornar links para pginas que tratam desse assunto.

(3.4) b ancos de dadosOs bancos de dados armazenam e organizam uma cole60 Instrumentalizao cientfica

o de dados dispostos em registros similares. Permitem a fcil recuperao da informao: bibliogrfica, catalogrfica ou referencial. Podem ser materiais na ntegra, referncias bibliogrficas ou catlogos sobre um determinado tema ou rea. Um exemplo de base de dados : Base de dados nacional de artigos de peridicos, eventos e relatrios da rea de Educao (http://www.bibli.fae.unicamp.br/fae/ default.htm)

A figura a seguir mostra a tela inicial dessa base de dados:Figura 3.1 Base de dados nacional de artigos de peridicos, eventos e relatrios da rea de Educao

Atravs dessa base de dados, possvel acessar artigos de peridicos nacionais em educao. Essa base passou a ser desenvolvida na Biblioteca da Faculdade de Educao da Unicamp, a partir de setembro de 1994. possvel encontrar nela artigos de peridicos, relatrios cientficos e tcnicos, anais de eventos, alm de textos e captulos de livros relacionados educao. Existem trs possibilidades de pesquisa nessa base: a pesquisa simplificada, a detalhada e a avanada. A pesquisa simplificada permite a realizao de uma nica busca e realizada em todos os campos. Com essa busca, possvel especificar o tipo de documento a pesquisar (artigo, captulo, evento etc.) e o nmero de registros a recuperar. A pesquisa detalhada permite que se realize a busca por todos os campos (autor, palavra-chave, ttulo e idioma) e possibilita a seleo do tipo de documento e o nmero de registros a recuperar. A pesquisa avanada permite a busca selecionando-se todos os campos ou um campo especfico, como61 Mecanismos de busca, diretrios e bancos de dados

autor, ttulo, palavra-chave, ou utilizando-se expresses de busca, alm do que permitido na pesquisa detalhada. Tanto na pesquisa detalhada como na avanada, possvel a utilizao de operadores lgicos de forma a relacionar os campos de pesquisa. Operadores lgicos e expresses de busca E, AND, *: pesquisar a ocorrncia de mais de uma palavra ao mesmo tempo. OU, OR, +: pesquisar a ocorrncia de ao menos uma das palavras. NO, NOT, /: pesquisar a ocorrncia de registros que no contenham a palavra utilizada. Para realizar qualquer um desses tipos de pesquisa, clique na opo Como pesquisar. possvel a solicitao de cpias de documentos encontrados na base; para isso, clique na opo Solicitao de cpia.

Indicaes culturais62 Instrumentalizao cientfica

AltaVista: http://www.altavista.com Yahoo! Cad?: http://www.cade.com.br Google: http://www.google.com.br Yahoo!: http://www.yahoo.com.br Base de dados nacional de artigos de peridicos, eventos e relatrios da rea de Educao: http://www.bibli. fae.unicamp.br/fae/default.htm

atividades1.

Leia a sentena a seguir e depois assinale a alternativa correta. Caso voc precise encontrar informaes sobre determinado tema sem saber o endereo de um site que o aborde e caso voc precise encontrar a expresso exata da busca, voc pode:a. b.

digitar o assunto na barra de endereos e clicar em Ir. acessar um site de busca e digitar o assunto a ser pesquisado em sua caixa de pesquisa. acessar um site de busca e digitar o assunto a ser pesquisado em sua caixa de pesquisa entre aspas. a nica alternativa perguntar sobre endereos de sites que contenham o assunto aos colegas mais experientes.

c.

d.

2.

O mecanismo de busca do Google denominado de Pange Rank, um sistema que atribui notas para pginas na web. Qual a vantagem desse mecanismo? A respeito disso, marque a alternativa correta:a.

Esse mecanismo traz primeiramente sites de bibliotecas virtuais.63 Mecanismos de busca, diretrios e bancos de dados

b.

Esse mecanismo garante que sites mais relevantes sero trazidos primeiro no resultado da busca. Esse mecanismo somente traz os resultados mais relevantes no resultado da busca, desprezando os demais. No existe nenhuma vantagem.

c.

d.

3.

Atravs de um site de busca como o Google, por exemplo, possvel:I.

efetuar uma busca apenas por publicaes cientficas atravs da opo Acadmico.

II.

Efetuar tradues on-line para diversos idiomas de determinado pargrafo. A traduo efetuada por esse tradutor uma prvia, no deve ser tomada como o final do processo de traduo.

III. Efetuar

busca por livros, tendo acesso a resumos e at

partes do livro de forma on-line.a. b. c. d.

Apenas a afirmao I est correta. As afirmaes I e II esto corretas. Apenas a afirmao II est correta. As afirmaes I, II e III esto corretas.

64 Instrumentalizao cientfica

(4)

b ibliotecas virtuais, enciclopdias e portais

Patrcia Noll de Mattos

(

)

e ste captulo tem

por objetivo apresentar um

grupo de fontes de pesquisa virtuais que podem ser utilizadas na obteno de informao. Esse grupo formado pelas bibliotecas virtuais e pelos portais de bibliotecas virtuais. Muitas vezes, uma biblioteca virtual possui seu acesso atravs de sites de bibliotecas fsicas, com os quais se pode ter acesso ao acervo da biblioteca fsica a que o site faz referncia.

(4.1) w ebsite de bibliotecaO website de uma biblioteca corresponde ao seu carto de visitas, trazendo informaes sobre sua estrutura fsica, sobre seu acervo e tambm informaes relacionadas pesquisa. Ele pode conter links para catlogos de bibliotecas ou mesmo para bibliotecas virtuais. Exemplo: Biblioteca Central da UFRGS (http://www.biblioteca.ufrgs.br)

Figura 4.1 Biblioteca Central da UFRGS

Biblioteca de teses e dissertaes. Portal de peridicos e revistas.

Peridicos eletrnicos obtidos por assinatura institucional.

Link para livros e jornais eletrnicos.

Como exemplo foi utilizado o website da biblioteca da UFRGS, no qual possvel ter acesso a uma biblioteca virtual de teses e dissertaes, a um portal de peridicos que permite o acesso a diversos peridicos e revistas, a peridicos eletrnicos cujo acesso possibilitado por meio de assinatura institucional e tambm a links para livros e jornais eletrnicos.

(4.2) c atlogo de bibliotecaO catlogo de uma biblioteca , muitas vezes, acessado atravs do website da biblioteca ou de um site institucional. Ele possibilita a pesquisa ao acervo da biblioteca, fsico ou digital, e a visualizao dos dados da obra selecionada. A busca pode ser realizada atravs do nome do autor, do ttulo da obra, do assunto, entre outros elementos. Em muitos casos, oferece, alm da pesquisa, opo de reserva de obras e renovao de emprstimos. Exemplo: Catlogo on-line das Bibliotecas da Ulbra (gerenciado pelo software Aleph 500, 2004 Ex Libris), acessvel no site da Ulbra (http://www.ulbra.br), no site das Bibliotecas da Ulbra (http://www.ulbra.br/bibliotecas) ou diretamente no endereo: http://liber.ulbra.br69 Bibliotecas virtuais, enciclopdias e portais

Figura 4.2 Website da Ulbra

Ao entrar no site da Ulbra e clicar no link Bibliotecas Catlogo On-line, a seguinte tela ser apresentada:Figura 4.3 Catlogo da Biblioteca da Ulbra: a busca

Digite aqui a informao que ser utilizada para busca.

Selecione o critrio da busca. Para buscar, clique em ok.

Dicas de como efetuar a pesquisa.

Nessa tela, possvel selecionar se a busca ser por autor, ttulo ou assunto atravs do campo de busca. Na opo Informar palavras, digite a expresso de busca. Caso voc deseje buscar pela Frase exata, marque Sim na opo indicada. Aps preencher os campos para a pesquisa, a seguinte tela ser apresentada:Figura 4.4 Catlogo da Biblioteca da Ulbra: resultados da busca

Ao clicar no nmero presente no lado esquerdo da coluna Autor, apresentado o registro completo da obra. No final da tela, so mostradas as instrues de como utilizar o catlogo.

(4.3) b ibliotecas virtuaisUma biblioteca virtual um site que rene contedos na ntegra de acesso on-line sobre um determinado tema. So colees organizadas de documentos eletrnicos, normalmente de reas afins. Cada ndice de descrio do acervo da biblioteca virtual possui atributos relacionados ao seu contedo e que o descrevem, alm dos contedos na ntegra no formato digital.

(4.4) p ortal b ibliotecas v irtuais t emticas72 Instrumentalizao cientfica

Um portal um site que rene diversos outros sites que possuam algo em comum. Nesse caso, o Portal Bibliotecas Virtuais Temticas rene referncias a diversas bibliotecas virtuais. Exemplo: Portal Bibliotecas Virtuais Temticas, desenvolvido por meio da parceria do Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia (Ibict) (http://www.prossiga.br/bvtematicas/) Esse portal indexa diversas bibliotecas virtuais, cada uma com contedo referente a uma determinada rea de conhecimento.

Figura 4.5 Prossiga: Portal Bibliotecas Virtuais Temticas

reas temticas a escolher.

Por exemplo, ao clicar na opo Educao a Distncia, teremos acesso Biblioteca Virtual Temtica referente a essa rea, encontramos diversos contedos voltados EaD. Para acess-los em lngua portuguesa, basta selecionar a categoria de contedo desejada e clicar no cone da bandeira do Brasil correspondente. Por exemplo: Artigos e outros textos.73 Bibliotecas virtuais, enciclopdias e portais

(4.5) e nciclopdias virtuaisA Wikipdia uma enciclopdia virtual livre, escrita em colaborao com os seus leitores. Cada leitor pode inserir uma parte do texto que est sendo construdo de forma coletiva. Essa caracterstica tornou este site um grande sucesso. Porm, uma vez que os leitores possuem liberdade de edio, sua credibilidade acabou por ser questionada1.

Para ter acesso ao site, voc pode utilizar o seguinte endereo: Wikipdia (http://www.wikipedia.org) A enciclopdia livre tima para fazer pesquisas, mas alguns usurios colocam erros propositalmente. A Wikipdia em lngua portuguesa teve seu incio em 2002 a partir da traduo do contedo da verso original, em ingls, e cresceu desde logo com a produo de novos verbetes. Essa comunidade vem se expandindo a cada dia. A seguinte tela apresenta a home page da Wikipdia. Para acessar o site em lngua portuguesa, clique no link correspondente:Figura 4.6 Wikipdia: tela principal

74 Instrumentalizao cientfica

A Wikipdia utiliza a ferramenta Wiki, que permite a qualquer pessoa melhorar de imediato qualquer artigo, clicando em Editar no menu superior de cada pgina.

Na tela a seguir, est destacada a rea de busca da enciclopdia digital:Figura 4.7 Wikipdia: pesquisa

Ao digitar uma expresso de busca e clicar no boto Pesquisa, a seguinte tela ser apresentada:Figura 4.8 Wikipdia: resultado

Nessa tela, basta clicar na guia Editar para ter acesso ao modo de edio do contedo. Dicas de utilizao:a.

A Wikipdia deve ser usada como primeiro passo da pesquisa, no como fonte de pesquisa. No confie apenas na Wikipdia; confronte o que foi consultado com outras fontes. Se, no verbete da Wikipdia, no houver links para informaes primrias (fontes que foram base para o texto), desconfie; se tiver, visite esses links.

b.

c.

Indicaes culturais Biblioteca Central da Universidade Federal do Rio Grande do Sul: http://www.biblioteca.ufrgs.br/ Catlogo On-Line das bibliotecas da Ulbra: https:// memphis.ulbranet.com.br/ALEPH/ PROSSIGA. Bibliotecas Virtuais Temticas: http://www. prossiga.br/bvtematicas/76 Instrumentalizao cientfica

Wikipdia: http://www.wikipedia.org

atividades1.

Sobre uma biblioteca virtual, possvel afirmar:I. II.

Elas possuem seu contedo na ntegra, de forma on-line. Elas possuem periodicidade em suas edies. podem fazer parte de um portal de bibliotecas virtuais.

III. Elas

a. b.

Apenas a afirmao I est correta. As afirmaes I e II esto corretas.

c. d.

As afirmaes II e III esto corretas. As afirmaes I e III esto corretas.

2.

Sobre os portais de bibliotecas virtuais, podemos afirmar:I.

Eles renem diversas bibliotecas virtuais das mais diversas reas. Eles renem apenas bibliotecas virtuais de uma rea especfica. Eles renem apenas bibliotecas virtuais vinculadas a instituies de ensino superior.

II.

III.

a. b. c. d.

Apenas a afirmao I est correta. Apenas a afirmao II est correta. As afirmaes II e III esto corretas. As afirmaes I e III esto corretas.

3.

Sobre um website de uma biblioteca, podemos afirmar:I.

Ele funciona como um carto de visitas de uma biblioteca. Fornece informaes sobre a biblioteca em questo, a possibilidade de consulta a seu acervo e pode conter informaes sobre pesquisa, bem como links para bibliotecas virtuais, dentre outras opes.77 Bibliotecas virtuais, enciclopdias e portais

II.

Ele apenas fornece informaes sobre uma biblioteca fsica e possibilita o acesso a seu acervo e informaes sobre ele.

III. Um website de biblioteca no pode possuir um link a uma

biblioteca virtual ou a um peridico on-line, pois essa a funo de um portal.a. b. c. d.

Apenas a afirmao I est correta. Apenas a afirmao II est correta. As afirmaes II e III esto corretas. As afirmaes I e III esto corretas.

(5)

p eridicos e portais

Patrcia Noll de Mattos

(

)

u ma outra categoriadicos on-line.

de fontes de pesquisas

virtuais so as revistas virtuais ou peridicos on-line, os quais tambm podem ser reunidos em um portal de peri-

(5.1) r evistas virtuais ou peridicosAs revistas ou peridicos podem estar na forma on-line ou em CD-ROM. Possuem seu contedo virtual na ntegra, assim como as bibliotecas virtuais. Ento, qual a diferena entre uma biblioteca virtual e uma revista virtual? A diferena que os peridicos on-line possuem periodicidade nas suas edies, que podem ser semanais, mensais, anuais ou mesmo dirias e podem fazer parte de uma biblioteca virtual. Um exemplo de revista virtual: Revista eletrnica da Secretaria de Educao a Distncia/MEC (http://www.seednet.mec.gov.br/)Figura 5.1 Revista eletrnica da Secretaria de Educao a Distncia

Em algumas revistas virtuais, pode ser necessrio pagar uma taxa para se ter acesso ao contedo na ntegra; para isso, necessrio associar-se, pagando uma anuidade, que garante acesso a todas as publicaes durante o perodo contemplado. No caso de venda de artigo publicado, o usurio tem acesso ao seu resumo e a dados sobre seus autores, mas, para obter o texto na ntegra, deve compr-lo. A revista tambm possui acesso gratuito, mas deve-se respeitar a autoria do material publicado. Mostramos agora um exemplo de uma revista virtual com contedo pago, que o portal de peridicos da Association for Computing Machinery (ACM). Esse portal possui, na forma on-line, diversas revistas da rea da cincia da computao e reas relacionadas. O acesso aos contedos d-se na forma de pagamento de anuidade. Conhea o portal no endereo a seguir: Portal de peridicos da ACM (http://portal.acm.org/portal.cfm) A seguir, apresentada a tela principal do portal:Figura 5.2 Portal de peridicos da ACM

Caso voc se associe atravs de pagamento de anuidade, dever digitar o login e a senha para ter acesso ao material na ntegra. Para isso, clique no link Login e a seguinte tela ser apresentada:Figura 5.3 Tela de login do portal de peridicos da ACM

Cabe lembrar que, por se tratar de uma pgina da internet, a aparncia das telas e o modo de acessar seus contedos podem ser alterados.84 Instrumentalizao cientfica

(5.2) p ortal de peridicosO portal de peridicos uma boa alternativa quando se pretende realizar uma pesquisa cientfica e no se sabe onde pesquisar, pois ele rene diversas revistas virtuais, de diversas reas do conhecimento. Um exemplo de portal de peridicos de acesso livre o da Capes, que consiste em uma coleo de peridicos e outras publicaes selecionadas pelo nvel acadmico de professores e alunos dos programas de mestrado e doutorado avaliados pela Capes. O acesso livre a parte do portal de livre acesso a todos os

usurios, e seu contedo pode ser acessado na ntegra. Para ter acesso ao site, utilize o endereo a seguir: Portal de peridicos livre da Capes (http://acessolivre.capes.gov.br/)

Figura 5.4 Portal de peridicos de acesso livre da Capes

Nesse portal, voc tem acesso a resumos, textos completos dos trabalhos, alm de banco de teses no formato digital. Outro exemplo de portal de peridicos o portal Scielo, o qual indexa diversas revistas virtuais cientficas e sua busca pode ser realizada de forma semelhante a uma ferramenta de busca. A partir de 2002, o Projeto conta com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq)a.

a. Para encontrar maiores informaes, acesse: http://www.cnpq.br.

Para ter acesso ao portal, voc pode utilizar o endereo a seguir: Portal de peridicos SciELO (http://www.scielo.org) Ao acess-lo, a seguinte tela ser apresentada:Figura 5.5 Portal de peridicos SciELO

86 Instrumentalizao cientfica

Voc pode selecionar o idioma no canto esquerdo da tela. Alm disso, voc pode pesquisar no portal da mesma forma como voc o faz em um site de busca, digitando a palavra ou expresso na caixa de busca e a seguir clicando no boto Pesquisar. Ao realizar uma busca por medicina, por exemplo, possvel encontrar:

Figura 5.6 Resultado de busca por Medicina

A Figura 5.6 apresenta como resultado de busca em revistas brasileiras sobre o tema pesquisado 13.112 ocorrncias. Mostra ainda 2.335 para revistas chilenas e 1.928 para espanholas. Com relao s reas temticas relacionadas ao tema de busca, foram encontradas 2.786 ocorrncias na rea de sade pblica. Ao selecionar SciELO Brasil (Figura 5.6), a seguinte tela ser apresentada:87 Peridicos e portais

Figura 5.7 Resultado da busca por Medicina no SciELO Brasil

88 Instrumentalizao cientfica

Voc pode selecionar qualquer uma das referncias apresentadas para visualizar o resumo ou mesmo imprimir o texto. Pode, tambm, a partir da tela principal do portal, selecionar uma revista de uma rea especfica. Supondo que voc selecione uma das reas apresentadas no portal, o resultado ser o seguinte:

Figura 5.8 Portal SciELO: seleo por rea temtica

Como exemplo, ao selecionar a opo Sade pblica, a seguinte tela ser apresentada com vrias opes de revistas on-line nessa rea:

Figura 5.9 rea temtica selecionada: Sade pblica

Ao clicar sobre o item Revista de Sade Pblica, a seguinte tela ser aberta:Figura 5.10 Revista de Sade PblicaBusca realizada por artigos, atravs do nome do autor ou por assunto.

Busca realizada por nmero de exemplar: em todos, no atual, anterior ou posterior.

Na rea destacada na Figura 5.10, voc pode perceber que existe um cdigo chamado ISSNb. Este, de cunho internacional, serve para individualizar uma publicao

b. ISSN International Standard Serial Number.

seriada (peridica), que a torna nica e definitiva. A partir desse cdigo, uma publicao pode ser localizada em qualquer parte do mundo. Para fazer uma pesquisa na revista, voc pode optar por realizar a busca por nmeros dos peridicos da revista ou por artigos, conforme indicado na mesma figura.

Indicaes culturais Revista Eletrnica da Secretaria de Educao a Distncia/MEC: http://www.seednet.mec.gov.br/ Portal de peridicos da ACM: http://portal.acm.org/portal. cfm Portal de peridicos de acesso livre da Capes: http:// acessolivre.capes.gov.br/ Portal de peridicos SciELO: http://www.scielo.org

atividades1.

91 Peridicos e portais

Sobre um peridico on-line, podemos afirmar:I.

Sua principal caracte