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INTRODUÇÃO AO ESTUDO BÍBLICO VISÃO GLOBAL DA HISTÓRIA DO POVO DE DEUS PRIMEIRO TESTAMENTO Escola Catequética Nova OlímpiaPR Diocese de UmuaramaPR 2015
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INTRODUÇÃO AO ESTUDO BÍBLICO · 2016. 8. 31. · INTRODUÇÃO AO ESTUDO BÍBLICO VISÃO GLOBAL DA HISTÓRIA DO POVO DE DEUS PRIMEIRO TESTAMENTO Escola Catequética Nova OlímpiaPR

Aug 24, 2020

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INTRODUÇÃO AO ESTUDO BÍBLICO

VISÃO GLOBAL DA HISTÓRIA DO POVO DE DEUS

PRIMEIRO TESTAMENTO

Escola Catequética ­ Nova Olímpia­PR Diocese de Umuarama­PR

2015

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INTRODUÇÃO 1. OS TEXTOS BÍBLICOS REFLETEM O CONTEXTO DA ÉPOCA Todas as pessoas são condicionadas pelo meio em que vivem. Daí certa dificuldade de

entender as atitudes, os hábitos, o comportamento de quem vive em outro ambiente. Por exemplo, a vida no campo é bem diferente da vida na cidade. Ou ainda, os costumes dos povos indígenas ou africanos são muito diferentes dos hábitos europeus.

Assim também acontece com as Escrituras. Para entender o conteúdo da Bíblia, é preciso fazer um esforço de análise da realidade, isto é, a situação econômica, política, social e cultural­religiosa do período em que o texto foi escrito. Ou ainda do período a que o texto se refere, uma vez que quase todos os textos bíblicos foram escritos depois de os fatos terem sido transmitidos pela tradição oral durante muito tempo. É bom sempre ter presente, por exemplo, que os acontecimentos descritos no Pentateuco vêm separados por um longo período de tempo da sua fixação por escrito, tal como a temos na Bíblia.

2. DISTINTAS ÉPOCAS ESTÃO POR TRÁS DA BÍBLIA Assim como geograficamente o povo da Bíblia ocupa uma parcela muito pequena do nosso

planeta, também, historicamente, ocupa um período muito curto de tempo. A história do povo da Bíblia começa com Moisés e os acontecimentos do Êxodo. As narrações

sobre Abraão e os patriarcas pertencem a uma época quando o povo como tal ainda não estava formado. Fala­se só das famílias dos patriarcas que andavam vagando por aquelas terras.

Ora, a época de Moisés foi durante a 19ª dinastia do Egito, que foi do ano 1304 ao ano 1184 a.C. Isso quer dizer que, quando começou a história do povo bíblico, a história da humanidade já tinha avançado muito. Já existia a agricultura e a pecuária. A metalurgia já tinha começado. A escrita já tinha sido inventada. Havia grandes cidades e o Egito era um império poderoso.

A história do povo da Bíblia passou por diversas épocas: • A época dos pais e das mães (anterior a 1250 a.C.). • Êxodo e organização das tribos (1250 a 1040 a.C.). • Reino unido (1040 a 931 a.C.). • Reino dividido: Israel (931 a 722 a.C.) Judá (931 a 587 a.C.). • O Exílio na Babilônia (587 a 539 a.C.). • A reconstrução sob os persas (539 a 333 a.C.). • A dominação grega (333 a 142 a.C.).

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ÊXODO: LIBERTAÇÃO DA ESCRAVIDÃO

Antes de iniciar o estudo do Êxodo, convém fazer a leitura de Gn 47, 18­26, para uma primeira compreensão acerca da situação que os hebreus viviam no Egito, que foi a motivação para empreenderem a saída daquele lugar, realizando, desta forma, o grande acontecimento do Êxodo.

Textos bíblicos: Ex 1: Israel no Egito; Ex 3: Vocação de Moisés; Ex 12: Celebração da Páscoa; Ex 14, 15­ss: Travessia do mar; Ex 16: Maná no deserto ­ não acumular e não desperdiçar (partilha do alimento) Ex 18: Escolha de chefes para o povo (partilha do poder, antes centralizado em Moisés). Ex 19, 1 ­ 20, 21: Aliança e os Dez Mandamentos. Dt 34: Morte de Moisés (Josué assume seu lugar) 3. ÊXODO E ORGANIZAÇÃO DAS TRIBOS Inicia por volta de, 1250 a.C. e vai até mais ou menos 1040 a.C. A fixação de grupos semitas

no vale do rio Nilo no Egito, sua influência na administração egípcia (história de José, Gn 37­50), sua escravização e fugas esporádicas são atestadas pela história da época.

Toda aquela caminhada foi sentida e contada como uma única e fantástica libertação conduzida por Deus. Suas leis, suas festas e suas experiências religiosas receberam um novo significado. Por exemplo, a Páscoa, que era uma antiga festa dos pastores, e naquela ocasião pode ter coincidido com a época do êxodo, passa a comemorar a saída do Egito (Ex 12).

Quanto à ocupação da terra, há uma opinião bastante fundamentada de que já havia toda uma efervescência de revolta popular contra a tirania e opressão das cidades­estado dos reis cananeus.

O grupo de Moisés fugiu do Egito e, agora sob a liderança de Josué, conseguiu unir todos os grupos descontentes, sob a bandeira da fé no Deus libertador, derrotando aqueles que oprimiam camponeses e pastores.

3.1. QUATRO EXPERIÊNCIA DIFERENTES Fazer a leitura de Êxodo 12 até 13,14 e procurar as diferentes denominações para a experiência

do Êxodo. Neste exercício podemos perceber quatro grupos:

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1) Fugiram (Ex 14,5) 2) Saíram (Ex 14,8) de braços erguidos / bem armados (Ex 13,18). 3) Foram expulsos (Ex 12,33.39) 4) YHWH os tirou com braço forte, ou, YHWH os fez sair (é uma leitura teológica) 3.2. O ÊXODO COMO MODELO A história do Êxodo se tornará modelo para contar todas as outras histórias de libertação do

povo. Assim, a cada experiência de opressão e libertação ocorria umareleitura do Êxodo e possíveis alterações no texto – até o ano 400 a.C.

Provavelmente o núcleo histórico – a história mais antiga – seja a dos que fugiram. Isto teria se dado com um grupo pequeno. Certamente não ocorreu da maneira grandiosa e de uma só vez como conta a visão literal.

3.3. O ÊXODO COMO AÇÃO MÁGICA DE DEUS Para nós, a perspectiva que mais nos foi passada é a que demonstra o poder de Deus. O que

mais impressiona são as manifestações como: pragas do Egito, abertura do Mar Vermelho… O caráter mágico da ação de Deus esconde a resistência e a luta dos grupos oprimidos. Além

disso, a visão do Deus Poderoso reforça o poder da mediação entre Deus e os homens, pois são os mediadores que têm a autoridade e exercem este poder em nome de Deus.

3.4. OS HAPIRUS Hoje a exegese tem identificado a palavra “hebreus” ao termo “hapirus”, designação

encontrada em documentos oficiais do faraó egipcio para se referir a contingentes da população considerada “fora da lei” e que não se submetiam às leis dos reus de Canaã. Essa descoberta não permite mais que identifiquemos o grupo de Moisés como uma única matriz étnica, como se fosse uma grande família com os mesmos laços de parentesco e traços culturais semelhantes. Os hebreus compreendidos na extensão do termo “hapirus” deixam de ser uma raça e passam a ser um setor ou classe social marginalizada no contexto de opressão daquela época.

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3.5. AS TRIBOS DE ISRAEL Durante uns 200 anos, já constituído como povo e organizado por famílias, clãs e tribos,

implantaram uma sociedade solidária, o oposto do regime do faraó e dos reis de Canaã. Nessa nova sociedade não havia rei. Só Deus era o rei do povo (Jz 8,23. "O rei de vocês será Javé" ­ Reino de Deus). A experiência com o Deus libertador no êxodo e na época das tribos tornou­se o eixo principal de toda a Bíblia.

Na época da Libertação e formação das tribos existia a TRADIÇÃO ORAL, não tendo escritos produzidos neste período. Os escritos sobre este período surgirão com Salomão em 930 a.C. Quem coloca as histórias por escrito não são as pessoas que passaram pela experiência.

O período das Doze Tribos está descrito principalmente no livro de Josué. 3.6. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO PROJETO TRIBAL Solidariedade econômica Ex 16,1­30. Havia autonomia na produção. Não havia tributação, nem acúmulo de bens. A partilha era a

palavra de ordem e acontecia nas grandes festas. Poder partilhado Ex 18,13ss. Não havia rei, nem palácio, nem burocracia hierarquizada. Nm 1,1­46; 11,10­30. Comparar Dt 1, 9­18. 17,14­20 com 1Sm 8,10­17 (o direito do Rei). Leis a serviço da vida Época dos Juízes (Jz 10,1­5; 12,8­15) As tribos são governadas por chefes com cargo vitalício ­ juízes menores. Nos momentos de

grande dificuldade surgem chefes carismáticos — juizes maiores. Decálogo: Êxodo 20 e Deuteronômio 5. Fé no Deus Libertador A passagem para a fé em um único Deus foi de fundamental importância. Em vez de dividir

ele une. Em vez de espalhar, ajunta. Optar por um único Deus significa optar por um projeto único, fraterno.

Jz 10, 6­16. Javé é o Deus que liberta. Não havia templo com culto ou sacerdotes. A arca da aliança ia à frente do povo e era sinal da

presença de Deus.

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Exército popular de defesa Não havia exército permanente, o qual gera muitas despesas. As guerras eram muito mais de

defesa que de conquista. Os líderes surgiam espontaneamente com o intuito de proteger o povo e não de conquistar cargos e privilégios.

No livro de Juízes: Otoniel 3, 7­11; Aod, 3, 12­30; Débora (mulheres), 4­5; Gedeão, 6­8; Jefté 11­12; Sansão 13­16.

3.7. O PROJETO DAS TRIBOS ENTRA EM CRISE O novo incomoda! O projeto alternativo invertia prioridades, privilegiava segmentos mais

excluídos, valorizava a participação e a formação da consciência do povo. O povo devia ser protagonista da história. Por isso, teve como conseqüência a perseguição, a difamação e a calúnia por parte de quem perdeu seus privilégios.

CAUSAS EXTERNAS • Na terra ainda existiam reis que faziam pressão contra as tribos (Jz 3,8ss; 4,1­2; 6,1­6). • 1 Sm dá ênfase às pressões externas, de modo particular àameaça dos filisteus.AFilistéia

era um território pequeno, mas poderoso, política e militarmente (1Sm 4, 1.) • Era necessário um exército e uma política bem organizada para combater o inimigo. CAUSAS INTERNAS • Corrupção de sacerdotes (Sm 1, 1 1 17). • Corrupção de juízes (1Sm 8, 1­6). • Boi e arado de ferro aumentaram a produção. O aumento da produção era apenas para algumas famílias que contavam com os bois no

campo. Isto gerava desigualdades sociais. Em partes a monarquia surgiu para proteger os rebanhos dos grandes produtores, visto que o primeiro rei, Saul, era de uma família rica, que tinha servos e bois.

MONARQUIA: A VOLTA DA OPRESSÃO 4. INÍCIO DA MONARQUIA SOB SAUL Há três relatos sobre sua unção real: • 1Sm 10,1: Saul foi ungido por Samuel • 1Sm 10,20­25 Saul foi escolhido por sorteio

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• 1Sm 11,12­15 Saul foi proclamado rei pelas tribos de Israel no santuário de Guilgal. Saul foi ungido como chefe militar, representando os interesses dos donos de bois. Sua forte

liderança levou os proprietários de bois a transformá­lo em primeiro chefe de um exército permanente. Mais do que um rei, Saul se pareceu com um líder militar, semelhante aos juizes como Gedeão e Jefté, que comandavam o exército na época das tribos. Mas, já havia uma grande diferença entre eles. Os juízes após a campanha militar, voltavam a seu trabalho no campo. Saul não voltou mais. Tomou­se líder militar permanente. Desempenhou, portanto, o papel de juiz e chefe militar permanente, tal como os anciãos haviam pedido a Samuel (1Sm 8,20).

Importante destacar que Saul... Assume o sacerdócio.Ele toma a iniciativa de oferecer sacrifícios, ultrapassando suas funções

e usurpando a função sacerdotal (1 Sm 13, 1­15). Cria um exército permanente, donde se deduz uma tributação para seu sustento. 5. O IMPÉRIO DE DAVI Saul representou uma fase intermediária entre a sociedade tribal e a monarquia. O rei Davi,

porém, deu um passo a mais. Levou a cabo o empreendimento iniciado por Saul, consolidando o estado monárquico.

PARA ORIENTAR A LEITURA • 1Sm 16, 1­19, 7: Davi a serviço de Saul • 1Sm 19, 8­21, 16: Davi foge de Saul • 1 Sm 22­26: Davi chefe da guerrilha • 1Sm 27,1 — 2Sm 1,27: Davi entre os filisteus • 2Sm 2­6 Davi rei de Judá e de Israel. É possível distinguir claramente dois momentos na vida de Davi. Na primeira fase, Davi foi

um líder popular solidário com os mais excluídos do seu tempo, depois de ter sido músico, escudeiro e chefe militar de Saul. No segundo período, Davi lutou pelo poder, consolidando o seu reinado. E não foi por acaso que houve resistência do povo enquanto ele foi rei sobre Judá e Israel.

MEDIDAS DE DAVI CONSOLIDAM O PODER • Levou para Jerusalém a Arca de YHWH, centralizando­a na, capital. • Fundou uma dinastia, tentando garantir o poder a seus descendentes.

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• Adotou a ideologia da filiação divina dos reis. • Aumentou o contingente de soldados profissionais • Organizou melhor a burocracia estatal, não só aumentando os chefes militares, mas

também os sacerdotes. • Conquistou todos os povos da redondeza, exceto os fenícios. Quebrando, assim, o principio

do exército de defesa para exército de ataque e conquista. • Quis construir um templo para YHWH, a exemplo dos deuses cananeus e assim como já

edificara um para si. Porém o profeta Natã se opôs (2Sm 7,1­7). ALGUNS DESMANDOS DE DAVI. • Fez guerras, promoveu massacres, saques, tributação e trabalhos forçados. • Não marchava à frente do povo: comparar 1 Sm 8,20 com 2 Sm 11,1. • Além de não ir às guerras, abusava das mulheres dos soldados (2Sm 11, 2­27). 5. O IMPÉRIO DE SALOMÃO O reinado de Salomão está descrito em 1Rs 3­11. Quando Davi estava se aproximando do fim do seu mandato, isto é, quando estava próximo de

sua morte, aumentaram as intrigas palacianas. Muita coisa estava em jogo. Quem iria substituir o rei de um grande império?

Davi fundou uma dinastia, portanto seu sucessor seria seu filho mais velho. No entanto este havia sido morto. Adonias era o legítimo herdeiro do trono de Davi. Salomão, porém, tinha a pretensão de ser o rei no lugar de seu pai. Destes dois candidatos ganharia quem tivesse mais força política. E nisso Salomão foi vitorioso.

PRIMEIRAS MEDIDAS DE SALOMÃO • Matou Adonias, de quem usurpara o legítimo direito ao trono. • Mandou matar Joab, para substituir por outro chefe do exército. • Mandou matar Semei, que era do Clã de Saul, e havia estado contra Davi. "Assim se consolidou a realeza nas mãos de Salomão" (1Rs 2,46) • Salomão aperfeiçoa o sistema tributário.

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• Empreende grandes construções (o Templo, seu palácio, palácio para a filha do faraó, fortalezas militares, cidades armazéns, cidade portuária, frota de navios mercantes, templos para deuses estrangeiros).

Riqueza e luxo na corte do rei Salomão (1Rs 10,1­13.14­25).

6. PRINCIPAIS MUDANÇAS NA VIDA DO POVO COM A IMPOSIÇÃO DA

MONARQUIA • Centralização do poder nas mãos do rei; • Organização de toda uma burocracia estatal; • O exército, que era de defesa, passou a ser de conquista; • Cobrança de pesados impostos dos camponeses, que passaram a trabalhar dobrado; • O rei exige trabalho forçado para as obras públicas; • Construção do templo*; • Centralização do culto e do sacerdócio em Jerusalém; • Desarticulação da vida das famílias, dos clãs e das tribos. *Sob o ponto de vista religioso, a construção do templo por Salomão em Jerusalém, ao redor

de 950a.C., mudou muito a fé no Deus libertador. É que, a partir da centralização do culto e do "aprisionamento" de Deus no templo, a fé em Deus passa a ser controlada pelo rei e seus sacerdotes. O Deus do povo passou a ser manipulado pela corte, a serviço da opressão.

6.1. DUAS VISÕES SOBRE A MONARQUIA LEITURA OFICIAL 1Rs 4,20….shalom 1Rs 5,5……segurança 1Rs 9,22….não reduziu ninguém à servidão LEITURA POPULAR 1Rs 12,1­4: Como é que dez tribos poderiam querer a mudança do rei e reclamariam da dura

servidão se todos vivessem em paz e segurança?

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7. DA LIBERTAÇÃO À VOLTA DA OPRESSÃO OPRESSÃO NO EGITO Trabalhos forçados impostos pelo faraó para conter o crescimento dos hebreus.

ORGANIZAÇÃO POPULAR E ÊXODO

Moisés lidera o povo no Egito, outros grupos organizados participam da partilha da terra. FORMAÇÃO DAS TRIBOS

Partilha dos bens e poder descentralizado caracterizam a época. Vivem de acordo com a vontade de Deus, ou seja, no Reino de Deus. CRISE NO SISTEMA TRIBAL

Reis de cidades­estado vizinhas investem contra as tribos. Acumulo de poder e corrupção por parte de integrantes das tribos causam conflitos internos MONARQUIA: OPRESSÃO NA TERRA PROMETIDA

Com os reis, o povo volta a sofrer da mesma forma que sofria nas mãosdo faraó.

PROFETISMO: RESITÊNCIA POPULAR

8. OS PROFETAS Pela sua coragem de questionar a situação presente e vislumbrar um futuro diferente para o seu

povo, os profetas sempre exerceram atração fascinante. Muitos chegam até a confundir profeta com adivinhador do futuro. Outros chegam a pensar que eles ensinavam coisas absolutamente novas. O verdadeiro profeta, no entanto, é aquele que preserva a tradição autêntica do seu povo, perdida ou deformada em meio a tantas "tradições" criadas para defender interesses, legitimar poderes e sustentar sistemas. O núcleo central da tradição autêntica é a fé exodal, ou seja, o reencontro com o verdadeiro Deus revelado a Moisés. Portanto, profeta é aquele que se inspira na ação libertadora do Deus do êxodo e, a partir daí, analisa a situação presente e mostra o projeto de Deus para o futuro do seu povo.

As atividades do profeta variam de acordo com seus ouvintes e com o momento histórico em que ele vive. Cada profeta tem o seu estilo próprio, e pronuncia anúncios e denúncias diante de situações bem determinadas.

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Os livros proféticos testemunham a vida e atividade de homens que possuem fé profunda e vigorosa; homens que procuram levar o povo a um relacionamento sempre renovado e responsável com o Deus que julga e salva. (Introdução aos livros proféticos da Bíblia edição Pastoral).

9. O MOVIMENTO PROFÉTICO O profetismo em si é um fenômeno amplo e conhecido por muitas culturas. No Egito, desde o

ano 2000 a.C. são conhecidos profetas e mágicos, fazendo análises da história e propondo justiça social. Em Israel é Samuel quem dá início ao grande movimento profético. A partir dele, os profetas

passam a ser chamados nabi e não mais videntes (1Sm 1­15). Homem de grande visão política, alerta o povo para os perigos da monarquia, mas unge Saul primeiro rei de Israel. Com ele, começa a atuação de profetas junto aos reis.

Mas o momento mais importante da profecia bíblica dá­se com o movimento inaugurado com Elias e continuado com seu discípulo Eliseu. Com Elias, atinge­se a mais notória singularidade da profecia bíblica: solidariedade com os pobres e luta contra a injustiça que o rei impõe a seu povo.

Profetas são interpretes da história. São leitores da vida do povo. Através de seus gestos e de suas palavras, a história se torna transparente.

O testemunho bíblico não deixa dúvidas. O povo de Deus não conheceu profetas em sua origem. Sara e Abraão, Moisés e Débora não eram profetas. Alguns textos lhes atribuem categorias proféticas, mas tais textos foram pensados e escritos em retrospectiva.

De fato, lá no início de sua trajetória, Israel, não conheceu profetas. Estes vieram a fazer parte de suas experiências só mais adiante. Começam a aparecer quando se foi constituindo a monarquia. A profecia é simultânea à monarquia! Profetas e reis são contemporâneos!

A história da profecia abarca alguns séculos. Inicia no 11° século e se estende até tempos pós­exílicos. Podem ser divididos em PRÉ­LITERÁRIOS e LITERÁRIOS.

10. DIVISÃO DOS PROFETAS 1) Pré­literários Não tem escritos próprios! LIVROS: 1° e 2° Samuel; 1° e 2° Reis. São eles: • Samuel (1Sm 1­15) • Gade e Natã — contestou Davi. (1Sm 22,5; 2Sm 7; 12; 1Rs 1) • Aias — contestou Salomão. (1Rs 11, 29­40) • 1Rs 13, 12­14 menciona "um homem de Deus".

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• Jeú — contestou Baasa em Israel/Norte • Elias e Eliseu (1Rs 17 até 2Rs 13) ambos se opõem com vigor à casa de Acabe, dinastia então no poder no norte. • Micaias (1Rs 22)

Estes profetas têm seu ponto alto em Elias e Eliseu. A eles estão dedicados a maioria dos

textos. A maioria deles são do Norte, de Israel. Poucos são de Judá (Natã e "um homem de Deus"). Sabe­se, a partir do livro de Juízes, que no Norte o movimento dos juízes também foi o mais intenso.

O que move a atuação dos profetas pré­literários é adefesa da justiça e dos pobres. Junto a isto também se opõem à idolatria patrocinada pelo estado. Seu zelo é em prol de Javé. Esta luta contra a falsa adoração do Deus Libertador chega a um ponto alto na disputa entre Elias e os profetas de Baal, no monte Carmelo (1Rs 18,20­40).

2) Literários Diferença marcada pelo aparecimento de livros que reúnem as palavras destes profetas, e

também de uma proposta alternativa à monarquia. É como se cada um deles tivesse dado início a uma escola profética, cujos seguidores se dedicaram a colocar por escrito seus ensinamentos.

Veja a seguir a atuação de alguns profetas. ANTES DO EXÍLIO: Amós: sua profecia surge num tempo de muita prosperidade econômica conquistada pela

realizada de Israel, mas que contrasta com a miséria e a opressão das populações que trabalham a terra no campo. Ele denuncia as injustiças (Am 5, 10­13) e a imensa contradição existente entre a vida abastada dos ricos e a miséria dos pobres (Am 2, 6­8) e anuncia a esperança (Am 9, 11­15)

Oséias dava ênfase à questão religiosa.Denunciaa idolatria e a decadência social de Israel

(Os 2, 4­15; 4,15; 6, 7­10; 7, 1­7; 10, 1­10) eanuncia a misericórdia divina (Os 2, 16­25). Seu livro traça um paralelo entre o amor que ele sente por sua mulher e o amor de Javé por seu povo. Oséias traído por sua mulher é desafiado a testemunhar a mesma misericórdia do amor de Javé para seu povo.

Isaías vem de Jerusalém, a capital do Sul. Tinha acesso ao santuário. Sua origem é no

ambiente do palácio. Termina sua vida entre órfãos e viúvas (Is 6,9­10), os pobres da

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cidade. Assim como Amós, ele denuncia as injustiças contra os pobres (Is 10, 1­4; 5, 8­13.16) e anuncia a esperança depositada em Ezequias (Is 9,1­6; 11), sucessor de Acaz, que ira assumir o espírito das reformas exigidas pelos profetas à realeza desde os tempos de Elias. O livro é dividido em três partes, das quais ele seria autor da primeira (Is 1­39). Sua crítica é feita a partir de Jerusalém.

Miquéias é contemporâneo de Isaías e denuncia a pesada tributação imposta aos

camponeses e pronuncia oráculos de ameaça, assumindo ser porta­voz deles (Mq 3, 5­12), mas também anuncia a esperança (Mq 5,1­4).

Sofonias representa um setor da sociedade bastante marginalizado (Sf 2,3); é profeta

negro, proveniente da África e denuncia o caos instaurados pelas autoridades (Sf 3, 1­4) e anuncia as promessas de Javé (Sf 3, 9­ss).

Naum tem sua profecia direcionada basicamente contra Nínive, capital do império Assírio.

Seu livro é um poema que celebra a derrota do opressor em 612 a.C., atribuindo tal feito à vingança de Javé (Na 1,2.6).

DURANTE E APÓS O EXÍLIO:

Jeremias, de alma terna, feita para amar, foi enviado para “arrancar e destruir, para

exterminar e demolir” (Jr 1,10), para predizer sobretudo a desgraça (Jr 20,8). Ansioso de paz, teve de estar sempre em luta, fazendo denúncias contra os reis, os sacerdotes, os falsos profetas, contra todo o povo. Viu­se torturado por sua missão, da qual não podia fugir (Jr 20,9). Seus diálogos com Deus estão cheios de gritos de dor (Jr 15,18. 20,14­ss). Anunciou uma aliança nova, fundada sobre a religião do coração: Deus sonda os rins e o coração (11,20), retribui cada um segundo seus atos (31, 29­30); a amizade com Deus (Jr 2,2) se rompe pelo pecado que provém do coração mau (Jr 4,4; 17,9; 18,12).

Baruc é secretario de Jeremias e, na Babilônia, escreve uma coleção de textos para motivar

e fortalecer as comunidades da dispersão a se manterem unidas a Jerusalém, sobretudo através da vida religiosa.

Ezequiel é um profeta do cativeiro da Babilônia. Atuou principalmente junto aos exilados,

em busca de resistência e esperança. Denuncia o pecado do povo que levou­o à terrível situação do exílio (Ez 7­9) e anunciou a esperança da libertação que só Javé pode

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proporcionar, à medida que o povo se reorganizar e ressurgir através de um verdadeiro processo de conversão (Ez 18; 33; 37)

Estes são alguns do profestas chamados literários. Sua atuação vai no mesmo sentido dos

pré­literários. Ou seja, a defesa da justiça, dos pobres e da fé em um único Deus. Mas com os profetas literários começa um novo momento. Vejamos então a principal diferença entre eles.

Os PRÉ­LITERÁRIOS criticam situações injustas sem fazer um questionamento mais amplo. Alertam para erros havidos, apontam falhas, mas não lançam uma análise do todo. Por exemplo, Natã se opôs aos desmandos de Davi, masnão se opôs ao reinado(2Sm 7). Elias também, ameaça toda a casa de Acabe, mas não deixa de apoiar o reinado (2Rs 1; 9­10).

Os pré­literários são críticos, mas não ameaçam o reinado como tal. Já os LITERÁRIOSapresentam uma proposta diferente. Fazem referência à antiga experiência

das tribos. Assim colocam­se contra toda a monarquia. Para eles o projeto de Javé não era compatível com a existência dos reis.

DIVISÃO DO REINO 11. RESISTÊNCIA DAS TRIBOS DO NORTE SOB SALOMÃO A insurreição de Jeroboão nos é relatada em 1Rs 11, 26­28. ele foi filho de Sarva e Nabat, da

tribo de Efrain, portanto, do Norte. Era trabalhador forçado nas obras de aterro para reparar as brechas nas muralhas de Jerusalém, a cidade de Davi. Por causa de sua capacidade, foi escolhido para ser o supervisor dos trabalhos forçados da casa de José, isto é, das tribos de Israel. Portanto a razão pela qual Jeroboão liderou a rebelião foi o trabalho forçado imposto às tribos do Norte.

Divisão do Reino (1Rs 12, 1­24) 12. REINO DIVIDIDO E DOMINAÇÃO DA ASSIRIA E BABILÔNIA

SAUL ­ DAVI ­ SALOMÃO ­ Divisão do Reino Reino do NORTE: ISRAEL ­ 931 — 722 a.C • 210 anos • 19 reis • 2 pequenas dinastias • Foi dominado pela Assíria

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­ Maior atuação dos profetas pré­literários ­ 10 tribos ­ Profetas: ELIAS, ELISEU, AMOS, OSÉIAS Reino do SUL: JUDÁ ­ 931 ­ 586 a.C. • 345 anos • 20 reis • Dinastia de Davi • Apenas 2 tribos • Profetas: MIQUÉIAS, ISAÍAS JEREMIAS • Após a queda do Norte: NAUM, SOFONIAS, JEREMIAS, EZEQUIEL, HABACUC,

ABDIAS. 12.1. NORTE x SUL

No Norte é muito mais forte a presença das tradições tribais. Não há, por parte dos profetas do

norte, acusações contra trabalhos forçados. Além disso, a troca de poder era muito mais freqüente do que no Sul. Também haviam muitas trocas de capitais.

No Sul a mesma família (dinastia de Davi) manteve­se no poder por muito tempo – fruto de uma forte dominação. E as acusações dos profetas eram muito mais duras contra os reis de Judá.

No reino do Norte o rei não mora em Betel – diferente do Sul onde o rei morava em Jerusalém. Somente com a Samaria (886 a.C.) é que Israel terá uma capital parecida com a capital de Judá. Mas, mesmo tendo esta capital, a influência das tribos continua forte porque não é a mesma família que permanece no poder. Isto aconteceu até porque o número de pessoas – que era muito maior (dez tribos no Norte e duas no Sul), dificultava a forte centralização do poder. Isto não quer dizer que não houve centralização em Israel. Ela ocorreu, porém no Sul foi muito mais forte.

Vale lembrar que a história do Norte chega até nós contada pelos grupos do Sul, por isso em todos os textos os reis do norte são colocados como fazendo o que era “mau aos olhos de YHWH.”

13. A DOMINAÇÃO BABILÔNICA SOBRE JUDÁ Os Assírios foram derrotados. Sendo assim, tanto os egípcios quanto os babilônios se

candidataram para sucedê­los no cenário internacional. Judá ficou sobre o controle dos egípcios de 609 a 605 a.C. quando o rei babilônio

Nabucodonosor venceu o faraó junto ao rio Eufrates, e estendeu seu domínio inclusive sobre Judá. Nunca, porém, chegaram a conquistar o Egito.

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Em 600 a.C., o rei de Judá, Joaquim, tentou se livrar do jugo da Babilônia, suspendendo o pagamento de tributos (2Rs 24,1). Mas isso custou caro a Judá, levando à primeira deportação.

O interesse em controlar a terra de Judá se deve ao fato de seu território ocuparuma posição

estratégica entre grandes impérios. Certamente essa posição estratégica foi a causa principal da destruição e deportação. Judá foi como que eliminada pelo tiroteio dentre duas potências, o Egito e a Babilônia.

13.1 A PRIMEIRA DEPORTAÇÃO 2Rs 24, 10­16. Foi a primeira deportação realizada pelos babilônios. Umas 10 mil pessoas

foram deportadas. O rei e sua gente permaneceu junto à corte babilônica. A maioria, porém, foi reassentada na Babilônia em áreas despovoadas. O profeta Ezequiel, que estava junto com os deportados, menciona dois lugares: junto ao rio Cobar e Tel Abib (Ez 1,1­3; 3,15 — também Sl 137/136).

A invasão de Nabucodonosor levou à desmilitarização de Judá. Sem poder militar para reagir, Judá ficou enfraquecido. O rei Joaquim foi substituído por seu tio, que foi chamado Sedecias (597­586 a.C.). Mas houve um grupo influente em Judá que continuou considerando Joaquim o verdadeiro rei, fazendo pressão antibabilônica sobre Sedecias.

"Deixou no país somente o povo mais pobre" 2Rs 24,14. 13.2. A SEGUNDA DEPORTAÇÃO 2Rs 25, 8ss. Também Sedecias suspendeu o pagamento de tributos em 588 a.C. O profeta

Jeremias lhe pediu para que depusesse as armas e voltasse a se submeter ao babilônios. É que naquela situação havia dois cenários possíveis. Ou Sedecias voltaria a pagar os tributos ou a Babilônia invadiria Judá. Entre os dois males, Jeremias propôs o menor (Jr 21; 38).

Sedecias não deu ouvidos ao profeta. Preferiu manter a suspensão do pagamento de impostos. E a resposta foi imediata. Atacaram Judá e Jerusalém. Como Jeremias havia previsto, as conseqüências para Judá foram catastróficas. Foi o maior desastre vivido pelos judaítas.

14. A DESINTEGRAÇÃO DA SOCIEDADE NA ÉPOCA DO CATIVEIRO Mês de agosto de 587 antes de Cristo. Fazia poucas semanas que Jerusalém havia sido tomada

pelo exército da Babilônia. O Rei Sedecias, fugitivo, tinha sido capturado perto do Jordão e conduzido à presença do rei da Babilônia em Ribla. Este, depois de o ter obrigado a assistir ao brutal assassinato da

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esposa e dos filhos, furou­lhe os olhos, algemou­o e conduziu­o para o cativeiro, onde morreu (2Rs 25, 3­7; Jr 39, 4­7; 52, 5­11). Em seguida, Nabucodonosor deu ordem ao seu general Nabuzardã para destruir a Cidade Santa (2Rs 25, 8­12; Jr 52, 12­16). Assim, tudo que, até aquele dia, tinha sido sinal visível da presença de Deus para o povo foi destruído.

“O Templo, do qual Deus tinha dito que haveria de morar nele para sempre (1Rs 9, 3), foi incendiado (2Rs 25, 9). O Culto, que tinha sido instituído como sinal perpétuo, estava interrompido (Lm 2, 6­7). Os Sacerdotes que deviam garantir o culto foram massacrados (Jr 52, 24­27) ou levados para o cativeiro (Sl 79,1­3;Lm 4,16). A Monarquia, da qual Deus tinha dito que sempre haveria um descendente de Davi no trono (2Sm 7, 16), Já não existia mais (2Rs 25, 7). Sião, a cidade de Davi, que Deus desejou para ser sua residência para sempre (Sl 132, 13­14), estava destruída (Lm 1, 6; 2, 1­10). A Terra, cuja posse tinha sido garantida para sempre (Gn 13, 15), passou a ser propriedade dos inimigos, que a distribuíram entre os pobres (2Rs 25, 12; Jr 39, 10; 52, 16). O povo de Deus perdeu a posse e foi para o exílio na Babilônia, antiga Ur dos Caldeus (Jr 52, 28­30). Estava de volta no mesmo país de onde, 1800 anos antes de Cristo, Abraão tinha saído para seguir o chamado de Deus (Gn 11, 31). A história foi terminar, tragicamente, no mesmo lugar onde, mil e trezentos anos antes, havia começado! A reação angustiante de muitos era esta: “Deus nos abandonou” (Is 40, 27; Jr 33, 23; Is 49, 14). “Já não há mais profetas. Já não vemos nossos sinais” (Sl 74, 9). Antigamente, no tempo de Moisés e de Samuel, Deus falava (Sl 99, 6­8). Será que ele parou de falar? Será que Deus mudou? (Sl 77, 9).

PÓS­EXÍLIO Temos, dessa época, os textos de 1 ­ 2 Crônicas, Esdras, Neemias, os profetas Ageu, Abdias e

Zacarias além dos Salmos, Provérbios, Jó, Rute, Jonas, Tobias... 15. RECONSTRUÇÃO DE JERUSALÉM Em 530 a.C. a Babilônia foi derrotada por Ciro, rei da Pérsia. O profeta Isaías (Is 40­55), ao

saber que um exército estava a caminho da Babilônia, começa a preparar o povo. Quando um exército se movimentava em direção a algum lugar, a notícia deste deslocamento

era levada por mercadores que viajavam de uma região para outra. É assim que o 2º Isaías ficou sabendo do exército de Ciro. Com Jeremias também foi assim.

O Templo foi reconstruído, porém estava no meio do nada. Somente em 450 a.C., com NEEMIAS é que as muralhas foram reerguidas e em 400 a.C. houve a reconstrução e repovoamento de Jerusalém.

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A demora de 130 anos na reconstrução de Jerusalém se deve ao grupo que ficou em Jerusalém durante os 50 anos de exílio. Eles já estavam instalados, por isso não tinham interesse nessa reconstrução. Além disso, esses grupos tinham uma visão negativa com relação ao templo, então fizeram resistência e atrasaram sua reconstrução.

Durante todo este tempo o povo estava pagando tributo a Ciro. 16. TEOLOGIA DO PÓS­EXÍLIO Nessa fase se inicia o que se convencionou chamar de judaísmo, a religião do livro sagrado.

Sacerdotes, levitas e escribas darão acabamento final ao livro da lei (a Torah hebraica), basicamente nosso atual Pentateuco. Em torno dele se instituirá todo um aparato legislativo com base religiosa e se construirá um regramento da vida liturgica e dos costumes fundamentais do povo eleito.

No pós­exílio muda o conceito de pecado. Antes o pecado se relacionava com a quebra da aliança – para as tribos – ou a adoração a outros deuses – para Josias. Agora o pecado se relaciona com as questões de PUREZA E IMPUREZA.

É no pós­exílio que estão sendo colocadas as bases da sociedade do tempo de Jesus: circuncisão, raça pura, sinagogas, etc.

As genealogias bíblicas criam uma linhagem única para desenvolver a ideologia da raça pura. 17. VOLTA DA OPRESSÃO A raça pura, a circuncisão, as leis da impureza e o sábado, nasceram no exílio como forma de

resistência e união entre o grupo dos exilados: mantinha a identidade do povo, garantiam um dia comum de descanso – que favorecia a organização popular – e estava a favor daquelas pessoas de um modo geral. Só no pós­exílio é que estas leis serão usadas pela teologia oficial para a justificação de suas práticas.

A impureza era transmissível, mas a pureza não. Jesus irá quebrar essa lógica, e não ficará

impuro. Pelo contrário, ele transmitirá a pureza. 18. RESISTÊNCIA NO PÓS­EXÍLIO No pós­exílio a resistência passa pelos livros de Jó, Rute, Jonas, e a corrente apocalíptica. Esta

corrente produziu uns 50 livros, mas somente três estão na Bíblia: Joel, Daniel (A.T.) e Apocalipse (N.T.). Como a palavra de Deus – o oráculo de Javé – ficou “presa” nos livros que foram canonizados, a resistência irá dizer que Deus estava se comunicando por sonhos e visões.

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19. TEOLOGIA DA RETRIBUIÇÃO (+ – 400 a.C.) Ensina que Deus retribui com benção àqueles que lhe são fiéis. Esta bênção é a prosperidade.

Para esta visão teológica os ricos são os abençoados por Deus. Os pobres, pelo contrário, são considerados pecadores. Isto criava um círculo vicioso pois os trabalhadores não tinham tempo de cumprir todas as prescrições da Lei, inclusive a lei do sábado, ou seja, não conseguiam cumprir a lei por serem pobres e a explicação é que eram pobres por não cumprirem a lei e não serem abençoados.

Uma grande legitimação para esta teologia é a visão que os textos bíblicos trazem de Abraão. Ele, sendo apenas um pastor, é colocado como dono de várias posses e de muita riqueza, tudo por conta das bênçãos de Deus.

20. HELENISMO ­ PERÍODO INTERTESTAMENTÁRIO

Trata­se de uma etapa marcada pelo domínio do império de Alexandre Magno e de seus

sucessores. A língua e os costumes gregos penetraram em todo o território dominado pelo império e deram certa unicade cultural e ideológicoa ao mundo mediterrâneo. É também chamado período intertestamentário por conter os ingredientes dos acontecimentos históricos e situações sociais basilares da realidade da época do Novo Testamento. Neles se encontram as origens dos partidos religiosos de configuração ideológica e social mais importantes da época de Jesus: fariseus, saduceus, zelotas e essênios.

São desse período (333 a 63 a.C) os livros de 1 ­2 Mac, Ecl, Tb, Est, Eclo, Dn, Br e Sb. Em todos eles é dado destaque à preservação da identidade cultural judaica frente à imposição da cultura grega. Os textos bíblicos dessa época às vezes estabelcem o confronto direto com a cultura grega e o tom é de rejeição, resistência e rebeldia (1 ­ 2 Mcb e Dn).

A política estabelecida pelos sucessores de Alexandre Magno, de helenizar a qualquer custo os territórios sob seu comando, conduziu o povo judeu à rebelição. Assim, começou a vitoriosa revolta dos irmãos macabeus que levará Jerusalém a se libertar do domínio grego, tornando­se Estado independente.

Essa fase teve seu fim com a conquista de Jerusalém pelas tropas romanas de Pompeu, em 63 a.C. O domínio do Império Romano se estendeu ao longo de todo o período em que foi escrito o Novo Testamento, indo bem além disso.

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CONCLUSÃO O povo de Israel nasceu de uma experiência plural. Diversificada nas maneiras de se relacionar

com Deus e nos diferentes grupos que a constituíram. Não foi um só povo, uma só etnia – descendente de Abraão – mas muitas pessoas de diversas origens. Todos clamavam com o mesmo grito pedindo por liberdade. Pequenos grupos que fizeram parte de uma grande história. De sua experiência chega até nós o exemplo de fé e coragem. Não foram poucos os que tentaram calar a voz dos profetas, não foram poucos que tentaram aprisionar o Deus Libertador em palácios e ideologias. Mas esse povo não desistiu de lutar. Eles e elas acreditaram – para que nós hoje continuemos acreditando – que um outro mundo é sempre possível.

Teu Nome é santificado naqueles que morrem defendendo a Vida Teu Nome é glorificado quando a Justiça é nossa medida Teu Reino é de Liberdade, de Fraternidade, Paz e Comunhão Maldita toda violência, que devora a Vida pela repressão. (Pai Nosso dos Mártires – Cirineu Kuhn)

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