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Hortaliça orgânica

Jun 22, 2015

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  • 1. 1 O produtor pergunta, a Embrapa responde

2. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria Embrapa Hortalias Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento O produtor pergunta, a Embrapa responde Embrapa Informao Tecnolgica Braslia, DF 2007 Gilmar Paulo Henz Flvia Aparecida de Alcntara Francisco Vilela Resende Editores Tcnicos 3. Exemplares desta publicao podem ser adquiridos na: Embrapa Informao Tecnolgica Parque Estao Biolgica (PqEB), Av. W3 Norte (final) 70770-901 Braslia, DF Fone: (61) 3340-9999 Fax: (61) 3340-2753 [email protected] www.sct.embrapa.br Embrapa Hortalias BR 060 Rodovia BrasliaAnpolis, Km 9 Caixa Postal 218 70359-970 Braslia, DF Fone: (61) 3385-9009 Fax (61) 3556-5744 [email protected] www.cnph.embrapa.br Produo editorial: Embrapa Informao Tecnolgica Coordenao editorial: Fernando do Amaral Pereira Mayara Rosa Carneiro Lucilene Maria de Andrade Reviso de texto: Raquel Siqueira de Lemos Normalizao bibliogrfica: Rosane Mendes Parmagnani Celina Tomaz de Carvalho Projeto grfico da coleo: Mayara Rosa Carneiro Editorao eletrnica e arte-final da capa: Mrio Csar Moura de Aguiar Ilustraes do texto: Rogrio Mendona de Almeida Foto da capa: Arnaldo de Carvalho Jnior 1 edio 1 impresso (2007): 1.000 exemplares Todos os direitos reservados A reproduo no autorizada desta publicao, no todo ou em parte, constitui violao dos direitos autorais (Lei no 9.610). CDD 635 Embrapa 2007 Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) Embrapa Informao Tecnolgica Produo orgnica de hortalias: o produtor pergunta, a Embrapa responde / editores tcnicos, Gilmar Paulo Henz, Flvia Aparecida de Alcntara, Francisco Vilela Resende. Braslia, DF : Embrapa Informao Tecnolgica, 2007. 308 p. : il. (Coleo 500 perguntas, 500 respostas) ISBN 978-85-7383-385-0 1. Cultivo. 2. Hortalia. 3. Horticultura. 4. Mercado. 5. Produo orgnica. 6. Qualidade I. Henz, Gilmar Paulo. II. Alcntara, Flvia Aparecida. III. Resende, Francisco Vilela. IV. Embrapa Hortalias. V. Coleo. 4. Autores Aelson Silva de Almeida Engenheiro agrnomo, mestre em Sociologia Rural, pr-reitor de Extenso da Universidade Federal do Recncavo da Bahia (UFRB), Cruz das Almas, BA Assis Marinho Carvalho Engenheiro agrnomo, mestre em Fitotecnia, analista da Embrapa Hortalias, Braslia, DF Celso L. Moretti Engenheiro agrnomo, doutor em Produo Vegetal, pesquisador da Embrapa Hortalias, Braslia, DF Dejair Lopes de Almeida Engenheiro agrnomo, doutor em Agronomia, pesquisador da Embrapa Agrobiologia, Seropdica, RJ Dione Melo Silva Engenheira agrnoma, mestre em Extenso Rural, pesquisadora da Embrapa Hortalias, Braslia, DF Edson Guiducci Filho Engenheiro agrnomo, mestre em Extenso Rural, pesquisador da Embrapa Hortalias, Braslia, DF Fabiana Ges de Almeida Nobre Zootecnista, fiscal federal agropecurio do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (Mapa), Braslia, DF Flvia Aparecida de Alcntara Engenheira agrnoma, doutora em Cincia do Solo, pesquisadora da Embrapa Hortalias, Braslia, DF Francisco Vilela Resende Engenheiro agrnomo,doutor em Produo Vegetal, pesquisador da Embrapa Hortalias, Braslia, DF 5. Francisco R. Caporal Engenheiro agrnomo, doutor em Agroecologia, coordenador-geral do Departamento de Assistncia Tcnica e Extenso Rural do Ministrio do Desenvolvimento Agrrio (MDA), Braslia, DF Geni Litvin Villas Bas Engenheira agrnoma, doutora em Entomologia, pesquisadora da Embrapa Hortalias, Braslia, DF Gilmar Paulo Henz Engenheiro agrnomo, doutor em Fitopatologia, pesquisador da Embrapa Hortalias, Braslia, DF Henoque R. da Silva Engenheiro agrnomo, doutor em Engenharia Agrcola e Irrigao, pesquisador da Embrapa Hortalias, Braslia, DF Jacimar Luis de Souza Engenheiro agrnomo, doutor em Fitotecnia, pesquisador do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistncia Tcnica e Extenso Rural (Incaper), Venda Nova do Imigrante, ES Joe Carlo Viana Valle Engenheiro florestal, presidente do Sindicato dos Produtores Orgnicos do Distrito Federal (SindiOrgnicos), Braslia, DF Jorge Ricardo de Almeida Goncalves Engenheiro agrnomo, mestre em Administrao Rural, fiscal federal agropecurio do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (Mapa), Braslia, DF Jos Antonio Azevedo Espndola Engenheiro agrnomo, doutor em Cincia do Solo, pesquisador da Embrapa Agrobiologia, Seropdica, RJ Jos Guilherme Marinho Guerra Engenheiro agrnomo, doutor em Cincia do Solo, pesquisador da Embrapa Agrobiologia, Seropdica, RJ Marcelo A. B. Morandi Engenheiro agrnomo, doutor em Fitopatologia, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, Jaguarina, SP 6. Maria Alice de Medeiros Biloga, doutora em Ecologia, pesquisadora da Embrapa Hortalias, Braslia, DF Mariane Carvalho Vidal Biloga, mestre em Agronomia, pesquisadora da Embrapa Hortalias, Braslia, DF Marina Castelo Branco Engenheira agrnoma, doutora em Entomologia, pesquisadora da Embrapa Hortalias, Braslia, DF Mrian Josefina Baptista Biloga, doutora em Fitopatologia, pesquisadora da Embrapa Hortalias, Braslia, DF Moacir R. Darolt Engenheiro agrnomo, doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento, pesquisador do Instituto Agronmico do Paran (Iapar), Curitiba, PR Neide Botrel Gonalves Engenheira agrnoma, doutora em Cincias dos Alimentos, pesquisadora da Embrapa Hortalias, Braslia, DF Nirlene Junqueira Vilela Economista, mestre em Economia Rural, pesquisadora da Embrapa Hortalias, Braslia, DF Nuno R. Madeira Engenheiro agrnomo, doutor em Produo Vegetal, pesquisador da Embrapa Hortalias, Braslia, DF Paulo Eduardo de Melo Engenheiro agrnomo, doutor em Gentica e Melhoramento de Plantas, pesquisador da Embrapa Hortalias, Braslia, DF Raquel Alves de Freitas Engenheira agrnoma, doutora em Fitotecnia, analista da Embrapa Hortalias, Braslia, DF 7. Ricardo H. Silva Santos Engenheiro agrnomo, doutor em Fitotecnia, professor associado da Universidade Federal de Viosa (UFV), Viosa, MG Roberto Guimares Carneiro Engenheiro agrnomo, mestre em Extenso Rural, coordenador de Agroecologia da Empresa de Assistncia Tcnica e Extenso Rural do Distrito Federal (Emater/DF), Braslia, DF Roberto Guimares Habib Mattar Engenheiro agrnomo, fiscal federal agropecurio do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (Mapa), Braslia, DF Rogrio Pereira Dias Engenheiro agrnomo, fiscal federal agropecurio do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (Mapa), Braslia, DF Ronessa Bartolomeu de Souza Engenheira agrnoma, doutora em Solos e Nutrio de Plantas, pesquisadora da Embrapa Hortalias, Braslia, DF Rosane Mendes Parmagnani Bibliotecria, mestre em Cincia da Informao, analista da Embrapa Hortalias, Braslia, DF Rosileyde G. Siqueira Engenheira agrnoma, doutoranda em Fitotecnia pela Universidade Federal de Viosa (UFV), Viosa, MG Tatiana Pires Barella Engenheira agrnoma, mestre em Fitotecnia, professora do Centro Federal de Educao Tecnolgica de Rio Pomba (Cefet), Rio Pomba, MG Tereza Cristina de Oliveira Saminz Engenheira agrnoma, Mestre em Cincias Agrrias, coordenadora de Agroecologia do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (Mapa), Braslia, DF 8. Wagner Bettiol Engenheiro agrnomo, doutor em Fitopatologia, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, Jaguarina, SP Waldir A. Marouelli Engenheiro agrnomo, doutor em Engenharia Agrcola e Biossistemas, pesquisador da Embrapa Hortalias, Braslia, DF Warley Marcos Nascimento Engenheiro agrnomo, doutor em Horticultura, pesquisador da Embrapa Hortalias, Braslia, DF Welington Pereira Engenheiro agrnomo, doutor em Plantas Daninhas, secretrio executivo do CTP da Embrapa Caf, Braslia, DF 9. Apresentao com satisfao que a Embrapa Hortalias disponibiliza para a sociedade brasileira o livro Produo Orgnica de Hortalias. Este o primeiro volume produzido por nossa Unidade para a Co- leo 500 Perguntas 500 Respostas, um grande sucesso editorial da Embrapa Informao Tecnolgica. A produo orgnica de hor- talias um tema da mais alta relevncia para o Brasil, principal- mente considerando-se a enorme carncia de informaes sobre esse tema e tambm de tecnologias apropriadas para esse sistema de produo. Por essa razo, foram convidados pesquisadores, pro- fessores e extensionistas, com experincia nos diferentes assuntos, para responder aos questionamentos que os produtores orgnicos de hortalias enfrentam em seu cotidiano. Um importante diferencial deste livro a colaborao em parceria com tcnicos e pesquisadores de outros centros da Empre- sa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (Embrapa) (Embrapa Agrobiologia, Embrapa Meio Ambiente e Embrapa Caf) e outras instituies, como o Instituto Agronmico do Paran (Iapar), o Ins- tituto de Pesquisa do Esprito Santo (Incaper), a Universidade Fede- ral de Viosa (UFV), a Empresa de Assistncia Tcnica e Extenso Rural do Distrito Federal (Emater/DF), o Sindicato dos Produtores Orgnicos do Distrito Federal (SindiOrgnicos), o Ministrio do Desenvolvimento Agrrio (MDA) e o Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (Mapa). Dessa maneira, cumprimento os editores, pela iniciativa, e os autores por terem aceito tamanho desafio. A dedicao de to- dos culmina com a publicao do presente livro, seguramente uma grande contribuio para o crescimento e desenvolvimento da pro- duo orgnica de hortalias no Brasil. Jos Amauri Buso Chefe-Geral da Embrapa Hortalias 10. Sumrio Introduo ..................................................................... 15 1 Princpios Norteadores ..................................................17 2 Legislao e Certificao ............................................... 29 3 Organizao da Propriedade .........................................43 4 Propagao de Plantas...................................................61 5 Manejo do Solo ............................................................. 79 6 Adubao Verde ............................................................ 99 7 Adubao Orgnica .................................................... 113 8 Manejo da gua .......................................................... 129 9 Manejo de Insetos-Praga e Artrpodes .........................145 10 Manejo de Doenas ....................................................159 11 Plantas Espontneas e Solarizao ............................... 179 12 Ps-Colheita ................................................................199 13 Qualidade ................................................................... 213 14 Mercado e Comercializao ........................................ 227 15 Custos de Produo.....................................................237 16 Melhoramento Gentico.............................................. 247 17 Produo de Sementes ................................................ 263 18 Assistncia Tcnica .....................................................275 19 Extenso Rural............................................................. 285 20 Fontes de Informao .................................................. 295 11. 14 12. 15 Introduo A produo orgnica de hortalias um dos temas mais demandados atualmente pela sociedade brasileira. Esse interesse crescente uma conseqncia direta da exigncia por parte dos consumidores por alimentos mais saudveis, produzidos em um sistema que respeite o meio ambiente e que seja socialmente justo. At bem pouco tempo atrs, hortalias produzidas no sistema orgnico eram uma raridade no mercado, oferecidas em pequenas feiras ou comercializadas nas sedes de associaes de agricultura orgnica, por preos bem mais elevados em relao s hortalias produzidas no sistema convencional. Hoje em dia, as hortalias produzidas no sistema orgnico so facilmente encontradas nas gndolas dos supermercados e em outros pontos de venda do varejo das mdias e grandes cidades brasileiras e correspondem a 60 % do volume de produtos orgnicos, um mercado que movimenta anualmente US$ 300 milhes em nosso pas. O livro Produo Orgnica de Hortalias uma resposta da Embrapa grande demanda por informaes, palestras e cursos nessa rea pelos diferentes segmentos dessa cadeia produtiva. Este livro a obra mais atualizada sobre o tema publicado no Brasil, e incorpora a experincia da equipe de pesquisadores de vrias Unidades da Embrapa e de outras importantes instituies brasileiras. A obra pretende ser uma fonte constante de consulta para todos os interessados no tema, principalmente os produtores de hortalias brasileiros. Os distintos temas relativos ao sistema orgnico de produo de hortalias foram divididos em 20 captulos, seguindo- se o modelo de perguntas e respostas, que tornam o tema mais fcil de ser compreendido pelos leitores. As dvidas mais freqentes dos produtores sobre aspectos bsicos de produo, como propagao de plantas, manejo do solo, adubao verde e orgnica, manejo da gua, doenas, insetos-praga e artrpodes, so abordadas 13. 16 de forma objetiva, com as informaes disponveis atualmente. Como a agricultura orgnica de hortalias um assunto diferenciado nesta srie de livros, tambm foram abordados outros temas, como princpios norteadores, legislao e certificao, assistncia tcnica, extenso rural e fontes de informao, entre outros, que so de fundamental importncia para aqueles que pretendem conhecer com mais profundidade esse importante ramo. 14. 17 Tereza Cristina de Oliveira Saminz Rogrio Pereira Dias Fabiana Ges de Almeida Nobre Jorge Ricardo de Almeida Gonalves Roberto Guimares Habib Mattar 1Princpios Norteadores 15. 18 O que agroecologia? Agroecologia a cincia que apresenta uma srie de princpios e metodologias para estudar, analisar, dirigir, desenhar e avaliar sistemas de produo de base ecolgica (agroecossistemas), mas no uma prtica agrcola ou um sistema de produo. uma nova abordagem que integra os conhecimentos cientficos (agronmicos, veterinrios, zootcnicos, ecolgicos, sociais, econmicos e antropolgicos) aos conhecimentos populares para a compreenso, avaliao e implementao de sistemas agrcolas com vista sustentabilidade. Qual a relao entre agroecologia e agricultura orgnica? Em termos simples, agroecologia a cincia que norteia os sistemas orgnicos de produo, ao passo que a agricultura orgnica a aplicao prtica dos conhecimentos gerados pela agroecologia e abrange todas as linhas de base ecolgica, como biodinmica, natural, conservacionistas. Como se pode definir a agricultura orgnica? A agricultura orgnica surgiu de 1925 a 1930 com os trabalhos do ingls Albert Howard, que ressaltam a importncia da matria orgnica nos processos produtivos e mostram que o solo no deve ser entendido apenas como um conjunto de substncias, tendncia proveniente da qumica analtica, pois nele ocorre uma srie de processos vivos e dinmicos essenciais sade das plantas (solo vivo). Em 1940, Jerome Irving Rodale difundiu a agricultura orgnica nos EUA. A base da agricultura orgnica o manejo do solo com o uso da compostagem em pilhas, de plantas de razes profundas, capazes de explorar as reservas minerais do subsolo, e da atuao de micorrizas na produtividade e sade das culturas. 1 2 3 16. 19 Como surgiu o termo agricultura orgnica usado hoje ? Na dcada de 1920 surgiram, quase que simultaneamente, alguns movimentos contrrios adubao qumica, que valorizavam o uso da matria orgnica e de outras prticas culturais favorveis aos processos biolgicos. Esses movimentos podem ser agrupados em quatro grandes vertentes: a agricultura biodinmica, a orgnica, a biolgica e a natural. Com o passar do tempo surgiram outras designaes de uso restrito para as quatro vertentes citadas, como mtodo Lemaire-Boucher, permacultura, ecolgica, ecologicamente apropriada, regenerativa, agricultura poupadora de insumos, renovvel. Na dcada de 1970, o conjunto dessas vertentes passaria a ser chamado de agricultura alternativa e, logo depois, o termo agricultura orgnica passou a ser comumente usado com o sentido de agricultura alternativa. Como a legislao brasileira define a agricultura orgnica? O texto da Lei no 10.831, de 23/12/03, considera como sistema orgnico de produo agropecuria todo aquele em que se adotam tcnicas especficas, mediante a otimizao do uso dos recursos naturais e socioeconmicos disponveis e o respeito integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a susten- tabilidade econmica e ecolgica, a maximizao dos benefcios sociais, a minimizao da dependncia de energia no-renovvel, empregando, sempre que possvel, mtodos culturais, biolgicos e mecnicos, em contraposio ao uso de materiais sintticos, a eliminao do uso de organismos geneticamente modificados e radiaes ionizantes, em qualquer fase do processo de produo, processamento, armazenamento, distribuio e comercializao, e a proteo do meio ambiente. O conceito de sistema orgnico de produo agropecuria e industrial abrange, portanto, os denominados: ecolgico, biodinmico, natural, regenerativo, biolgico, agroecolgico, permacultura e outros que atendam os princpios estabelecidos na Lei no 10.831. 4 5 17. 20 O que agricultura biodinmica? A agricultura biodinmica fruto da antroposofia (conhecimento do ser humano), uma filosofia baseada nas idias da cincia espiritual, fundada em 1924 pelo filsofo austraco Rudolf Steiner. Embora fundamentada nos mesmos princpios e tcnicas da agricultura orgnica, a biodinmica apresenta peculiaridades, como: As questes espirituais ligadas antroposofia. O uso de preparados biodinmicos. Os calendrios astrolgicos. Os testes de cristalizao sensitiva e cromatrografia de solos e de plantas. As marcas registradas universais Demeter e Biodyn. O equilbrio e harmonia entre cinco elementos bsicos: terra, plantas, animais, influncias csmicas e o homem. O que agricultura biolgica? A agricultura biolgica surgiu em 1941 com os trabalhos do suo Hans Peter Muller. Em 1960, o mdico alemo Hans Peter Rush sistematizou e difundiu as propostas de Muller. Acompostagem na superfcie do solo e o teste microbiolgico de Rush para a avaliao da fertilidade do solo so particularidades desse mtodo, cujo princpio fundamental o ciclo das bactrias formadoras de cido ltico e de nucleoprotenas. A partir de 1960, as atividades da agricultura biolgica foram introduzidas na Frana pelo m- todo Lemaire-Boucher, tambm chamado de agrobiolgico. A pe- cualiridade desse mtodo o uso do p de uma alga marinha, Lithothamne calcareum, rica em micronutrientes, necessrios s culturas. O que agricultura natural? Em 1935, o japons Mokiti Okada criou uma religio que 6 7 8 18. 21 tinha como um dos seus alicerces a agricultura natural, cujo princpio o respeito das leis da natureza pelas atividades agrcolas. Praticamente na mesma poca, em 1938, Masanobu Fukuoka chegava a concluses muito semelhantes s de Okada. As prticas agrcolas mais recomendadas so a rotao de culturas e o uso de adubos verdes, compostos e cobertura morta sobre o solo. A agricultura natural bastante reticente em relao ao uso de matria orgnica de origem animal. O que agricultura regenerativa? o nome pelo qual a agricultura orgnica ficou conhecida nos EUA, na dcada de 1930. Esse modelo refora a busca da independncia do agricultor pela maximizao do uso dos recursos encontrados e criados na prpria unidade de produo agrcola em oposio busca de recursos externos. O que permacultura? Permacultura um mtodo surgido na Austrlia, no final da dcada de 1970, desenvolvido por Bill Mollison, que visa criar agroecossistemas sustentveis mediante a simulao dos ecossistemas naturais e coloca as culturas perenes como elemento central de sua proposta. um sistema evolutivo integrado de espcies animais e vegetais perenes, em que se destacam as rvores teis ao homem. A principal tcnica aplicada o cultivo alternado de gramneas e leguminosas, e a manuteno de palha como cobertura do solo. Quais os princpios dos sistemas orgnicos de produo? Os princpios dos sistemas orgnicos de produo so: Contribuio da rede de produo orgnica ao 9 10 11 19. 22 desenvolvimento local, social e econmico sustentvel. Manuteno de esforos contnuos da rede de produo orgnica no cumprimento da legislao ambiental e trabalhista pertinentes na unidade de produo, considerada em sua totalidade. Relaes de trabalho baseadas no tratamento com justia, dignidade e eqidade, independentemente das formas de contrato de trabalho. Incentivo integrao da rede de produo orgnica e regionalizao da produo e comrcio dos produtos, estimulando a relao direta entre o produtor e o con- sumidor final. Produo e consumo responsveis, comrcio justo e solidrio baseados em procedimentos ticos. Desenvolvimento de sistemas agropecurios baseados em recursos renovveis e organizados localmente. Incluso de prticas sustentveis em todo o seu processo, desde a escolha do produto a ser cultivado at sua colocao no mercado, incluindo o manejo dos sistemas de produo e dos resduos gerados. Oferta de produtos saudveis, isentos de contaminantes oriundos do emprego intencional de produtos e processos que possam ger-los e que ponham em risco a sade do produtor, do trabalhador ou do consumidor, e o meio ambiente. Preservao da diversidade biolgica dos ecossistemas naturais, a recomposio ou incremento da diversidade biolgica dos ecossistemas modificados em que se insere o sistema de produo, com especial ateno s espcies ameaadas de extino, diversificao da paisagem e produo vegetal. Uso de boas prticas de manuseio e de processamento com o propsito de manter a integridade orgnica e as qualidades vitais do produto em todas as etapas. Adoo de prticas na unidade de produo que con- 20. 23 templem o uso saudvel do solo, da gua e do ar de modo a reduzir ao mnimo todas as formas de contaminao e desperdcio desses elementos. Utilizao de prticas de manejo produtivo que preservem as condies de bem-estar dos animais. O manejo produtivo deve assegurar condies que permitam aos animais viver livres de dor, sofrimento, angstia, em um ambiente em que possam comportar-se como se estivessem em seu hbitat original, compreendendo movimentao, territorialidade, descanso e ritual reprodutivo. A nutrio dos animais deve assegurar alimentao balanceada, correspondente fisi- ologia e comportamento de cada raa. Incremento dos meios necessrios ao desenvolvimento e equilbrio da atividade biolgica do solo. Emprego de produtos e processos que mantenham ou incrementem a fertilidade do solo em longo prazo. Reciclagem de resduos de origem orgnica, reduzindo ao mnimo o emprego de recursos no-renovveis. Manuteno do equilbrio no balano energtico do processo produtivo. Converso progressiva de toda a unidade de produo para o sistema orgnico. O que a teoria da trofobiose? De acordo com a teoria da trofobiose, as plantas desequilibradas ficam mais suscetveis ao ataque de pragas (fungos, bactrias, in- setos, nematides e outros). Esse desequilbrio pode ser provocado por alteraes fisiolgicas, principalmente na composio da seiva vegetal, em decorrncia de excesso ou falta de fatores nutricionais, de intoxicaes qumicas, do uso exagerado de produtos qumicos 12 21. 24 sintticos e de estresse hdrico, provocado por excesso ou falta de gua. As pragas no possuem a capacidade de decompor e aproveitar substncias complexas e insolveis, mas so capazes de form-las a partir de substncias simples e solveis. Assim, o estado bioqumico das plantas e a presena ou ausncia de substncias simples e solveis essenciais sobrevivncia das pragas que determinam seu estabelecimento ou no e o aparecimento dos sintomas de ataque. Como as molculas simples e solveis esto presentes nas plantas desequilibradas, as desordens fisiolgicas tornam-nas mais suscetveis ao ataque das pragas. Como exemplos podem-se citar o uso de agrotxicos, que leva inibio da for- mao de substncias complexas e carncia de micronutrientes nas plantas, que inibe a formao de substncias complexas, e o uso exagerado de adubos nitrogenados solveis, que leva pro- duo de substncias mais simples, como os aminocidos. O que equilbrio ecolgico? Equilbrio ecolgico o estado ou condio de um ambiente natural, ou manejado pelo homem, em que ocorrem relaes harmoniosas entre os organismos vivos e entre estes e o meio ambiente, ao longo do tempo. uma condio fundamental para a sustentabilidade dos sistemas orgnicos de produo, no tempo e no espao. O que diversidade biolgica ou biodiversidade? A diversidade biolgica, ou biodiversidade, compreende todas as formas de vida do planeta (animais, plantas e microorganismos), suas diferentes relaes e funes e os diversos ambientes formados por eles. responsvel pela manuteno e recuperao do equilbrio e da estabilidade dos ambientes naturais e manejados pelo homem. Proporciona o aumento da freqncia de reproduo, da taxa de crescimento, do tamanho e da diversidade de organismos vivos num dado espao e o conseqente surgimento e manuteno de 13 14 22. 25 espcies que sustentam outras formas de vida e modificam o ambiente, tornando-o apropriado e seguro para a vida. Qual a relao e a importncia da biodiversidade para a agricultura orgnica? Um dos princpios da produo orgnica a preservao e ampliao da biodiversidade. A restituio da biodiversidade vegetal permite o restabelecimento de inmeras interaes entre solo, plantas e animais, resultando em efeitos benficos para o agroe- cossistema. Entre esses efeitos podem-se citar: A variedade na dieta alimentar e de produtos para o mercado. O uso eficaz e a conservao do solo e da gua, com a proteo da cobertura vegetal contnua, do manejo da matria orgnica e implantao de quebra-ventos. A otimizao na utilizao de recursos locais. O controle biolgico natural. Como so tratados os aspectos sociais e econmicos da produo na agricultura orgnica? A agricultura orgnica visa ao desenvolvimento de sistemas agropecurios sustentveis organizados localmente, levando em considerao os contextos culturais, sociais e econmicos. um modelo de produo ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente vivel em pequena, mdia e grande escala, que visa otimizar o processo produtivo em vez de maximizar a pro- dutividade. A agricultura orgnica incentiva a integrao da cadeia produtiva, a regionalizao da produo e do comrcio de produtos, a relao direta entre produtor e consumidor final, o consumo responsvel, o comrcio justo e solidrio, e relaes de trabalho baseadas no tratamento com justia, dignidade e eqidade, independentemente das formas de contrato de trabalho. 15 16 23. 26 O que so as boas prticas da produo orgnica vegetal? As boas prticas da produo orgnica vegetal so procedimentos orientadores, no obrigatrios, a serem adotados no manejo dos agroecossistemas, e elaborados com a finalidade de serem incorporados, em mdio e longo prazos, nos regulamentos tcnicos da produo orgnica. Quais as boas prticas na diversificao da paisagem e na produo vegetal? Os sistemas orgnicos de produo agropecuria devem assegurar a preservao da di- versidade biolgica dos ecossis- temas naturais e modificados em que se insere o sistema de produ- o. As prticas recomendadas so: Adoo de rotao de culturas diversas e versteis que incluam adubos verdes, leguminosas e plantas de razes profundas, ou outras prticas promotoras de diversidade. Diversificao entre e dentro das espcies cultivadas. Utilizao de cordes de contorno. Promoo da biodiversidade vegetal e animal em reas em que esteja cultivada uma s espcie vegetal, com o plantio de vrias espcies de plantas, preferencialmente rvores nativas, ou da implantao de faixas de vegetao intercaladas cultura principal, criando corredores ecolgicos. Cobertura apropriada do solo com espcies diversas pelo maior perodo possvel. 17 18 24. 27 Quais as boas prticas no manejo orgnico e na conservao do solo e gua? A unidade produtora deve destinar reas apropriadas cujo manejo respeite o hbitat de espcies silvestres, preserve a qualidade das guas e a sade do solo. As prticas recomendadas so: Adoo de medidas para prevenir a eroso, a compactao, a salinizao e outras formas de degradao do solo. Minimizao das perdas de solo. Utilizao de matria orgnica. Planejamento de sistemas que utilizem os recursos hdricos de forma responsvel e apropriada ao clima e geografia local. Planejamento e manejo de sistemas de irrigao con- siderando as especificidades de cada cultura. Manuteno e preservao de nascentes e mananciais hdricos. Utilizao de quebra-ventos. Integrao da produo animal e vegetal. Implantao de sistemas agroflorestais. Quais as boas prticas para a fertilidade do solo e a fertilizao? A nutrio de plantas deve fundamentar-se nos recursos do solo, e a base para o programa de adubao deve ser o material biodegradvel produzido nas unidades de produo orgnicas. O manejo da adubao deve minimizar as perdas de nutrientes, assim como o acmulo de metais pesados e outros poluentes. Os insumos, em seu processo de obteno, utilizao e arma- zenamento, no devem comprometer a estabilidade do hbitat natural, a manuteno de quaisquer espcies presentes na rea de cultivo ou no representar ameaa ao meio ambiente ou sade humana. 19 20 25. 28 Quais as boas prticas no manejo de insetos-praga? Os sistemas orgnicos de produo devem promover a estruturao das culturas em ecossistemas equilibrados visando maior resistncia a pragas e promoo da sade do organismo agrcola. O uso de produtos e processos para controle de organismos potencialmente danosos s culturas deve preservar o desen- volvimento natural das plantas, a sustentabilidade ambiental, a sade do agricultor e do consumidor final, inclusive em sua fase de armazenamento. 21 26. 29 Tereza Cristina de Oliveira Saminz Rogrio Pereira Dias Roberto Guimares Habib Mattar Fabiana Ges de Almeida Nobre Jorge Ricardo de Almeida Gonalves 2 Legislao e Certificao 27. 30 Por que importante uma legislao sobre a agricultura orgnica? Porque a legislao estabelece um conjunto de normas e procedimentos a serem cumpridos e observados por todos que integram a rede de produo orgnica. Alm disso, estabelece legalmente conceitos, definies e princpios relacionados agricultura orgnica. Qual a legislao brasileira vigente sobre agricultura orgnica? A Lei no 10.831 de 23/12/03, as Instrues Normativas no 007 e no 016, do Ministrio da Agricultura, publicadas em 17/5/99 e 16/6/04, respectivamente, e a Portaria no 158, do Ministrio da Agricultura, publicada em 8/7/04. A Lei no 10.831 encontra-se em fase de regulamentao. A regulamentao ocorrer na forma de Decreto e de atos normativos complementares, e, no ato da publicao da regulamentao e dos atos complementares, as Instrues Normativas no 007 e no 016 e a Portaria no 158 perdero a validade. O acesso a essa legislao est disponvel no stio no link do Sistema de Legislao Agrcola Federal (Sislegis) ou no link Agricultura Orgnica, na parte de legislao. A Instruo Normativa no 007, do Ministrio da Agricultura, publicada em 17/5/99, dispe sobre qu? A Instruo Normativa no 007 (IN007) foi o primeiro regu- lamento tcnico brasileiro e estabelece as normas de produo, tipificao, processamento, embalagem, distribuio, identificao e de certificao da qualidade para os produtos orgnicos de origem vegetal e animal. Abrange tanto os produtos denominados orgnicos como os ecolgicos, biodinmicos, naturais, sustentveis, rege- nerativos, biolgicos, agroecolgicos e da permacultura. Estar em vigor at que a regulamentao da Lei no 10.831 seja publicada. 22 23 24 28. 31 A Lei no 10.831, do Ministrio da Agricultura, publicada em 23/12/03, dispe sobre qu? A Lei no 10.831 o principal marco legal da agricultura or- gnica brasileira, que estabelece critrios para a comercializao de produtos, define responsabilidades pela qualidade orgnica, pelos procedimentos relativos fiscalizao, aplicao de san- es, ao registro de insumos e adoo de medidas sanitrias e fitossanitrias que no comprometam a qualidade orgnica dos produtos. A Instruo Normativa no 016, do Ministrio da Agricultura, publicada em 11/6/04, dispe sobre qu? Estabelece os procedimentos a serem adotados at que se concluam os trabalhos de regulamentao da Lei no 10.831, para registro e renovao de registro de matrias-primas e de produtos orgnicos de origem animal e vegetal, no Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (Mapa), com base na declarao do fornecedor quanto ao cumprimento dos requisitos legais esta- belecidos para produo orgnica. Os registros efetuados pela IN016 tero validade at o prazo que vier a ser estabelecido pela regula- mentao da Lei no 10.831. A Portaria no 158, do Ministrio da Agricultura, publicada em 8/7/04, dispe sobre qu? Determina que o Programa de Desenvolvimento da Agricultura Orgnica (Pro-Orgnico), nos assuntos relativos sua execuo, seja assessorado pela Comisso Nacional da Produo Orgnica (CNPOrg) e pelas Comisses da Produo Orgnica nas Unidades da Federao (CPOrg-UF). Essa portaria define a composio e as competncias dessas comisses e vigorar at a publicao da regulamentao da Lei no 10.831, que contar com uma Instruo 25 26 27 29. 32 Normativa exclusiva para regulamentar sua estrutura, composio e suas atribuies. A lei brasileira sobre a produo orgnica e sua regulamentao so parecidas com as de outros pases? Como vrios pases do mundo comearam a criar legislaes especficas para os produtos orgnicos e como isso poderia resultar em barreiras para o comrcio internacional, foi aprovada uma Diretriz Internacional voltada a orientar os pases em seus processos de regulamentao. Por essa razo, a legislao brasileira se parece com a de vrios pases, uma vez que foi feita com base nesses regulamentos, porm sem deixar de levar em conta as parti- cularidades brasileiras. Qual a diferena entre normas e regulamentos da produo orgnica? As normas so procedimentos exigidos pelas entidades privadas, de livre e voluntria adeso por parte do produtor, ao passo que os regulamentos so prprios dos rgos pblicos e devem ser cumpridos obrigatoriamente. Ambos definem regras para uso de produtos e processos em atividades tcnicas, socioeconmicas e ambientais ligadas aos sistemas orgnicos de produo, previstos pela Lei no 10.831. Os procedimentos descritos nas normas devem obrigatoriamente atender s exigncias contidas nos regulamentos, podendo ser mais restritivos em determinados aspectos considerados relevantes, ou para atenderem a mercados especficos. O que a avaliao da conformidade orgnica? A avaliao da conformidade orgnica o procedimento que inspeciona, avalia, garante e informa se um produto ou processo est adequado s exigncias especficas da produo orgnica. 28 29 30 30. 33 A avaliao da conformidade orgnica feita pela certificao por auditoria e pelos mecanismos de organizao com controle social. Quais os mecanismos de organizao com controle social utilizados na avaliao, garantia e informao da qualidade orgnica? Os mecanismos de organizao com controle social so os prprios produtores organizados localmente, garantindo e in- formando diretamente aos consumidores a qualidade orgnica de seus produtos, e os sistemas participativos de avaliao da conformidade orgnica. Como ocorre a verificao, garantia e informao da qualidade orgnica no processo de relao direta entre produtores e consumidores? A garantia est na relao direta entre produtores e consumidores, que permite a estes ltimos conhecerem e confiarem nos produtores e nos processos produtivos, tendo os produtores o mecanismo de organizao com controle social, formalizado ou no. Na organizao social h co-responsabilidade entre os produtores envolvidos no processo, podendo a veracidade da qualidade da produo de um produtor ser verificada e garantida por outro produtor, e ocorrer, tambm, a reafirmao da idoneidade quando do envolvimento de empresas de assistncia tcnica de carter pblico ou privado. Como ocorre a verificao, garantia e informao da qualidade orgnica nos sistemas participativos de avaliao da conformidade orgnica? So sistemas socioparticipativos de organizao com controle social, normalmente em forma de rede, de abrangncia regional, 31 32 33 31. 34 com o envolvimento de produtores, tcnicos e consumidores. A rede organizada em ncleos que renem grupos de produtores, consumidores e entidades de uma regio com caractersticas semelhantes, projetos e propostas afins, o que facilita a troca de informaes e a participao. Assim, h a participao efetiva de todos os envolvidos no processo e, na maioria das vezes, os consumidores tambm fazem visitas de inspeo s propriedades, onde todos assumem a co-responsabilidade pela qualidade dos produtos da rede, ou seja, responsabilidade social. Portanto, um sistema solidrio de gerao de credibilidade. Como exemplos, podem-se citar a pioneira Rede Ecovida de Agroecologia, com abrangncia de atuao na Regio Sul do Pas, a Associao de Certificao Scio-Participativa (ACS), na Regio Norte, a Certificao Participativa da Rede Cerrado, na Regio Centro-Oeste, e a Rede Xique-Xique de Certificao Participativa, na Regio Nordeste. A Lei n.o 10.831 reconhece os mecanismos de organizao com controle social utilizados na avaliao da conformidade orgnica? Os mecanismos de organizao com controles sociais utilizados na avaliao da conformidade orgnica foram reco- nhecidos e garantidos no texto da Lei no 10.831, que garante a iseno de certificao para a comercializao direta de produtos orgnicos por produtores familiares, inseridos em processo de organizao com controle social e cadastrados em rgo fiscalizador conveniado. Para produtos comercializados de forma indireta ou por produtores no familiares, os produtores tero que certificar seu processo produtivo, pelo sistema participativo de avaliao da conformidade ou pela certificao por auditoria. A regulamentao da Lei no 10.831 prev tambm a fiscalizao pelos rgos competentes dos mecanismos de organizao com controle social utilizados para a avaliao da conformidade orgnica. 34 32. 35 O que certificao por auditoria? a avaliao da conformidade orgnica pela qual a garantia da qualidade orgnica do produto, obtida em determinada unidade de produo, dada por uma terceira parte, a certificadora, no envolvida no processo produtivo, que uma instituio que inspeciona as condies tcnicas, sociais e ambientais e verifica se esto de acordo com as exigncias dos regulamentos especficos da produo orgnica. A certificao concretizada com a assinatura de contrato entre certificadora e representante legal da unidade de produo, com conseqente autorizao para utilizao da marca da certificadora. A unidade certificada passa a receber inspees no mnimo duas vezes ao ano, para verificao da conformidade, e o inspetor produz um relatrio onde os critrios de conformidade so listados e avaliados. As certificadoras possuem normas prprias, mas todas seguem o regulamento oficial. A Lei no 10.831 prev que as certificadoras devem se credenciar no Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (Mapa). O que um produto orgnico certificado? o produto que possui as caractersticas de conformidade orgnica, podendo usar um selo de qualidade, autorizado pela certificadora ou pelo sistema socioparticipativo de avaliao da conformidade orgnica. O que o selo de qualidade orgnica de um produto certificado? um selo que identifica os produtos e insumos orgnicos com essa qualidade especfica. Aps passar por todas as etapas de avaliao da conformidade orgnica, uma unidade de produo est apta a usar esse selo em seus produtos. Cada organismo de avaliao da qualidade orgnica e/ou certificadora possui selo prprio. A Lei no 10.831 prev a criao de um selo para o sistema 35 36 37 33. 36 brasileiro de avaliao da conformidade orgnica, que ser o selo oficial do governo brasileiro para os produtos avaliados por entidades (certificadoras e outros organismos de avaliao da conformidade orgnica) credenciadas nos rgo competentes. O produtor pode usar os dois tipos de selo, tanto o da entidade quanto o oficial, sendo este ltimo de uso obrigatrio. Como solicitar a certificao de produtos orgnicos? Depois de adotar as prticas de manejo exigidas pelos regulamentos da produo orgnica, a unidade de produo est apta a solicitar a certificao, feita por uma entidade que avalia a conformidade orgnica, isto , que analise todo o processo produtivo e socioambiental da rea. aconselhado solicitar que a certificadora escolhida faa uma visita de pr-certificao, quando ser definido o perodo de converso da unidade produtiva, com base num plano de manejo com a forma de implantao das exigncias especficas da produo orgnica. O que as certificadoras exigem? As certificadoras e os demais organismos de avaliao da conformidade orgnica exigem que os processos e produtos uti- lizados no sistema de produo orgnico estejam de acordo com as normas especficas da produo orgnica. O sistema de controle da produo orgnica exige ainda que haja rastreabilidade, isto , o produto, ao ser comprado no mercado, tem que ser identificado de maneira que se possa chegar sua origem. Todas as certificadoras usam os mesmos critrios para certificar a produo orgnica? No. As certificadoras e os organismos de avaliao da conformidade orgnica podem exigir particularidades no sistema de produo da unidade, de acordo com suas normas especficas. 38 39 40 34. 37 Ao assinar um contrato ou termo de compromisso com determinada entidade, o produtor deve cumprir as exigncias previstas, mas as normas devem obrigatoriamente atender s exigncias contidas nos regulamentos oficiais. Por exemplo: algumas entidades no per- mitem uso de estercos animais na adubao, ao passo que outras exigem o uso de insumos especficos para que o produto receba uma classificao diferenciada. As normas podem ser solicitadas diretamente s certificadoras, ou acessadas pela Internet, em seus respectivos stios. Pode-se mudar de certificadora a qualquer tempo? A adeso aos mtodos orgnicos de produo voluntria, mas para que o produto tenha os atributos de qualidade orgnica, o cumprimento das normas especficas de produo obrigatrio. Isso significa que obrigatria a adeso a um mecanismo de avaliao da conformidade orgnica. O produtor livre para escolher o mecanismo de avaliao mais adequado s suas con- dies, portanto a mudana de certificadora livre, devendo o produtor ficar alerta para os prazos de vigncia dos contratos e/ou termos de compromisso com as entidades. Outro aspecto a considerar so as exigncias especficas de cada entidade, cabendo ao produtor decidir pela que melhor se aplica ao seu sistema produtivo e ao mercado. O produtor deve observar se as entidades certificadoras e/ou outros organismos de avaliao da conformidade orgnica so credenciados pelo Mapa, o que se dar somente aps a regulamentao da Lei no 10.831, prevista para o ano de 2007. Quanto custa o servio de certificao? A certificao pode ter custo diferente entre as entidades que 41 42 35. 38 prestam esse servio. Na certificao por auditoria, o valor composto pela taxa de adeso, pelo custo do servio de inspeo (semestral ou anual), resultante de dirias e passagens do inspetor e do respectivo relatrio de visita. Pode haver variao de custo entre a certificao solicitada, individual ou coletivamente. No caso da avaliao da conformidade orgnica realizada pelo sistema socioparticipativo, previsto na Lei no 10.831, os custos so assumidos pela comunidade de produtores interessada (associao, cooperativa, etc.). Quais as vantagens de se ter um produto orgnico certificado? Ao colocar no mercado um produto com selo orgnico, o produtor pode obter vantagens em relao ao produto convencional, pois cada vez mais o consumidor tende a dar preferncia a um produto cuja qualidade envolva atributos relacionados sade, justia social, conservao e preservao ambientais, como o caso do produto orgnico, especialmente quando h preos competitivos. Outra vantagem para o produtor o aumento da preferncia pela aquisio do produto orgnico pelos mercados institucionais, como as escolas, os hospitais e o programa de Aquisies do Governo Federal (AGF), em que o produto orgnico alcana valorizao de cerca de 30 % em relao ao convencional. O que converso? Converso o perodo de tempo mnimo necessrio para uma unidade de produo ser considerada apta a receber a classificao de orgnica, aps ter cumprido todas as exigncias especficas para a produo orgnica. Como fazer a converso da rea? Para fazer a converso, a unidade de produo deve adotar 43 44 45 36. 39 as tcnicas agropecurias preconizadas nos regulamentos oficiais para a produo orgnica e procurar se adequar s especificidades das normas de produo da certificadora que pretende contratar. Na converso, no so considerados apenas os aspectos normativos, mas tambm os biolgicos e educativos. Quais os aspectos educativos da converso? Os aspectos educativos da converso correspondem ao aprendizado, por parte dos agricultores e trabalhadores, dos conceitos e tcnicas de manejo que viabilizam a agricultura or- gnica. Esse aprendizado compreende etapas que precisam ser trilhadas sucessivamente, para evitar prejuzos no resultado final. Quais os aspectos biolgicos da converso? a parte mais tcnica da converso, porque envolve aspectos agronmicos, veterinrios, zootcnicos e biolgicos, incluindo o reequilbrio das populaes de insetos e das condies do solo, a diferenciao da paisagem e a necessidade de reorganizao do conhecimento tcnico pelo enfoque da ecologia. Qual o tempo necessrio para fazer a converso da rea pelas leis atuais? O perodo de converso, previsto na regulamentao da Lei no 10.831, ser varivel de acordo com o tipo de explorao e a utilizao anterior da unidade de produo. Para a produo vegetal, esses perodos sero definidos de acordo com as seguintes condies: Mnimo de 12 meses de manejo orgnico na produo vegetal de culturas anuais, para que a produo do ciclo subseqente seja considerada orgnica. Mnimo de 18 meses de manejo orgnico na produo vegetal de culturas perenes, para que a colheita subseqente 46 47 48 37. 40 seja considerada orgnica. Mnimo de 12 meses de manejo orgnico ou pousio na produo vegetal de pastagens perenes. Qual o tempo necessrio para fazer a converso da rea pelas certificadoras? As normas de produo da certificadora ou de outros organismos de avaliao da conformidade orgnica prevem perodos diferentes para o tempo de converso, dependendo de alguns fatores, como uso anterior da rea, produtos qumicos sintticos utilizados no sistema convencional antes da converso, a situao ecolgica e social atual (adequao s exigncias ambientais e cumprimento da legislao trabalhista) e o tempo necessrio para o treinamento dos colaboradores nas prticas ecolgicas. Como saber se a rea j pode ser considerada orgnica? Aps implementar o plano de manejo da unidade de produo, cumprir os prazos exigidos para o perodo de converso, receber a visita do organismo de avaliao da conformidade orgnica, a certificadora ou outro organismo de avaliao da conformidade orgnica avaliar o pedido de certificao com base no relatrio de inspeo (visita unidade produtiva). A avaliao da solicitao de certificao realizada por um conselho de certificao, que aprova as condies tcnicas, ambientais e sociais da unidade de produo. Quais as principais dificuldades no perodo de converso? Com base nas dimenses da sustentabilidade (econmica, social, tcnica, poltica e ecolgica), pode-se considerar que as 49 50 51 38. 41 unidades de produo no perodo de converso apresentam desequilbrios, principalmente nas dimenses econmica e tcnica. Em relao dimenso tcnica, a menor produtividade acontece no perodo de converso para algumas situaes e culturas, em que o manejo de pragas, doenas e invasoras mais difcil, havendo uma tendncia de equilbrio ecolgico e crescimento da produtividade orgnica com o passar dos anos. De modo inverso, em projetos de agricultores pobres e em regies marginais, onde se pratica agricultura tradicional, observa- se que a converso pode ser conduzida com ganhos no rendimento das culturas. Trata-se, nesse caso, da intensificao do uso de prticas orgnicas. Contudo, em sistemas intensivos no uso de insumos qumicos e com rendimentos fsicos muito elevados, pode-se esperar uma baixa na produo. De modo geral, a agricultura orgnica menos eficiente em termos de produtividade, mas cabe salientar que os agricultores orgnicos no esto preocupados com a produtividade em si, mas com o rendimento do sistema em seu conjunto. Por isso, uma produo por rea menor do que a do sistema convencional no significa um menor desempenho global da unidade de produo. Quais os impactos do perodo de converso nos aspectos econmicos e ecolgicos da propriedade? Na dimenso econmica, os maiores riscos de abandonar a atividade, em curto prazo, ocorrem na fase de converso, da a necessidade de financiamento e incentivos especficos a esse perodo, para que os produtores permaneam na atividade, at que a fase de converso termine e haja condies de o agricultor comercializar sua produo como orgnica. No perodo de converso tambm ocorrem deficincias na integrao de atividades como lavoura, pecuria e floresta, acarretando maior dependncia de insumos externos, o que dificulta o equilbrio dos fatores econmicos por causa do aumento de custos com insumos. 52 39. 42 Na dimenso ecolgica, analisando os aspectos internos do sistema, percebe-se que as unidades com maior dificuldade no processo de converso so as que apresentam os recursos naturais mais degradados, pouca diversificao e falta de integrao das atividades. Diversos estudos tm demonstrado que a agricultura orgnica uma alternativa sustentvel, demonstrando que, medida que ocorre a consolidao do sistema orgnico de produo, existe a tendncia de equilbrio entre as diferentes dimenses da susten- tabilidade. Alm disso, a converso da agricultura convencional para a agricultura orgnica, apesar de ser uma etapa delicada nos primeiros 2 anos, proporciona com o passar do tempo um impacto favorvel ao agricultor, ao consumidor e ao meio ambiente. 40. 43 3 Organizao da Propriedade Francisco Vilela Resende Mariane Carvalho Vidal 41. 44 Por que na agricultura orgnica a propriedade considerada como um todo, ao contrrio do sistema convencional? Na agricultura orgnica, a propriedade rural considerada um agroecossistema, que se traduz num sistema agrcola baseado na biodiversidade do local. Depende das interaes e dos ciclos biolgicos das espcies vegetais e animais e da atividade biolgica do solo, do uso mnimo de produtos externos propriedade e do manejo de prticas que restauram, mantm e promovem a harmonia ecolgica do sistema. Portanto, o sucesso e a sustentabilidade dos sistemas orgnicos dependem da integrao de todos os recursos internos da propriedade, buscando-se o equilbrio entre os recursos naturais, as plantas cultivadas, a criao de animais e o prprio homem. Ao passo que no sistema convencional uma lavoura tratada de forma individualizada e com a maioria dos insumos de alto custo energtico vindos de fora da propriedade, no sistema orgnico procura-se explorar ao mximo os fatores inerentes ao ambiente e os recursos internos propriedade. Por que a propriedade orgnica considerada um organismo agrcola? O termo agricultura orgnica est associado mais ao conceito de organismo agrcola do que ao uso de adubao orgnica, como acreditam muitas pessoas pouco familiarizadas com o tema. Nesse organismo modificado pela ao do homem, ocorrem complexas interaes entre os seres vivos e os elementos naturais (solo, nutrientes, ar, temperatura, gua, etc.), e a obteno do produto (colheita) depende da manuteno do equilbrio desse sistema que, por sua vez, depende do papel individual de cada um desses elementos e de suas relaes. Esse organismo tambm deve ser saudvel, alm do ponto de vista agronmico, nos aspectos econmico, social e ecolgico. Muitas correntes da agricultura orgnica advogam que devem ser estabelecidas ligaes entre todas as formas de matria e de energia presentes na propriedade para se 53 54 42. 45 aproximar do equilbrio do ambiente natural. Prioriza-se a utilizao dos elementos orgnicos produzidos na propriedade agrcola, pois nela todas as atividades devem estar de alguma forma integradas. Esse modelo de conservao apoiou-se nos movimentos de preservao da natureza associados ao modelo de explorao agrcola inglesa e no conceito de exausto do solo preconizado pelos cientistas. Por que o sistema orgnico de produo se contrape monocultura? O uso crescente dos adubos qumicos e agrotxicos pos- sibilitou a simplificao dos sistemas agrcolas, de forma que apenas uma cultura pudesse ser cultivada em determinada regio para atender as necessidades locais ou as exigncias de mercado. Esse modelo permitiu o aparecimento de pragas, doenas, plantas in- vasoras especializadas e uma srie de outros problemas peculiares para essas culturas. A manuteno da fertilidade do solo e a sanidade dos cultivos depende de rotaes de culturas, da reciclagem de biomassa e, principalmente, da diversidade biolgica. Essa diversidade o principal pilar da agricultura orgnica a contribuir para a manuteno do equilbrio do sistema e, conseqentemente, do solo e da cultura. Portanto, o equilbrio biolgico e ambiental, bem como a fertilidade do solo, no podem ser mantidos com monoculturas. Nos cultivos especializados, onde prevalece apenas uma cultura de interesse econmico, deve-se estabelecer algum grau de diversificao, que conseguido com a insero de reas de refgio e/ou cordes de contorno com espcies variadas, consrcios com adubos verdes e/ou plantas repelentes/atrativas e com o manejo das plantas espontneas. Como feita a diversificao do sistema? O produtor orgnico deve se preocupar prioritariamente com 55 56 43. 46 a diversificao da paisagem geral de sua propriedade de forma a restabelecer o equilbrio entre todos os seres vivos da cadeia alimentar, desde microrganismos at pequenos animais, pssaros e outros predadores. A introduo de espcies vegetais com mltiplas funes no sistema produtivo a base do (re)estabelecimento do equilbrio da propriedade. Nesse contexto, incluem-se espcies de interesse econmico, arbreas, atrativas e ornamentais. Deve-se atentar tambm para o papel fundamental das espcies espontneas no processo de diversificao. Dessa forma, procura-se atingir a sustentabilidade da unidade produtiva no tempo e no espao pela incorporao de caractersticas de ecossistemas naturais, como: Reciclagem de nutrientes. Uso de fontes renovveis de energia. Manuteno das relaes biolgicas que ocorrem naturalmente. Uso de materiais de origem natural, evitando os oriundos de fora do sistema. Estabelecimento de padres de cultivos apropriados com espcies de plantas agrcolas e animais adaptados s condies ecolgicas da propriedade. nfase na conservao do solo, gua, energia e recursos biolgicos. Como se deve planejar um sistema orgnico de produo de hortalias? O planejamento do sistema orgnico exige que a propriedade seja considerada no todo, com uma viso integrada do manejo e estruturas do ecossistema rompendo as barreiras disciplinares, uma vez que a propriedade entendida como um organismo vivo, dinmico e sistmico. O ideal que o nmero mximo de aspectos do funcionamento seja previsto nesse planejamento. importante considerar dois aspectos fundamentais: a fonte de biomassa para alimentao do sistema e a fonte de gua de qualidade para irrigao. 57 44. 47 A fonte de biomassa determinar o tipo de infra-estrutura de armazenagem e o mtodo de processamento e de aplicao do material fertilizante. A localizao dessa infra-estrutura, bem como das reas de compostagem, deve facilitar a distribuio dos fer- tilizantes nas reas de cultivo. Deve-se considerar que, no sistema orgnico, a exigncia de mo-de-obra para preparo e distribuio de adubo alta, assim como a quantidade de fertilizante necessria por rea tambm muito maior que no sistema convencional. Com relao gua de irrigao, os contaminantes qumicos ou biolgicos no podem estar acima dos limites de segurana. Caso a gua disponvel no se enquadre nas normas de qualidade, o que freqente, ser necessrio trat-la ou encontrar uma fonte alternativa. O calendrio de plantio tambm deve ser feito durante o planejamento? Sim. A horta um espao de produo intensiva de trabalho. Por isso, indis- pensvel planejar as atividades de acordo com a mo-de-obra disponvel. muito freqente que, por falhas de planeja- mento, falte mo-de-obra para se atingir as metas previstas. A incluso dos trabalhadores no planejamento do calendrio contribui para seu sucesso, pois proporciona uma viso global da horta. O calendrio de semeadura e a seqncia de culturas em cada talho da horta e/ou canteiro precisa ser bem compreendido. A identificao dos talhes e faixas de cultivo fundamental para o gerenciamento dos cultivos, facilitando a implantao de esquemas de rotao de culturas, cultivos seqenciais, consrcios 58 45. 48 e estabelecimento de reas de pousio ou para adubao verde. Cartazes e lousa para anotaes das tarefas a serem executadas podem ajudar. A finalidade desses procedimentos criar uma rotina que facilite o andamento da produo. O xito na produo orgnica de hortalias depende de um controle de todos os componentes do sistema de produo ainda mais eficiente que na produo convencional. Por esses motivos, observa-se que os sistemas orgnicos esto avanando bastante no componente administrativo das propriedades. Como deve ser dividida a rea de cultivo em um sistema orgnico de produo de hortalias? A produo orgnica de hortalias exige a reformulao da organizao da propriedade, que diverge bastante da disposio adotada no sistema convencional. O aspecto mais importante a subdiviso da propriedade em talhes que, preferencialmente, no ultrapassem 1.000 m2 , com elementos que promovam o condicionamento climtico das culturas e a preservao da biodiversidade. O uso intensivo das reas associado a ciclos sucessivos de cultivo exige maior ateno dos produtores de hortalias na construo e proteo dos talhes. O talho possui papel fun- damental na administrao da propriedade e gerenciamento das atividades de produo. A disposio dos talhes e da infra-estrutura na propriedade deve reduzir as necessidades de transporte e de mo-de-obra para execuo dos trabalhos, pois na produo de hortalias h grande movimentao de mo de obra e insumos, o que exige eficincia no funcionamento do sistema, visando facilitar a administrao e reduzir os custos da atividade. A delimitao dos espaos fsicos da horta feita por carreadores principais e secundrios. O dimensionamento dos carreadores deve ser realizado de forma a perder o mnimo possvel de rea produtiva. Os caminhos secundrios devem apresentar dimenses de 30 cm de largura, no mximo, para permitir apenas 59 46. 49 o trnsito de pessoas e carrinhos de mo. Os carreadores principais devem ser dimensionados com 1,5 m a 2 m, permitindo a entrada de mquinas e equipamentos para transporte de insumos e escoamento da produo. O que condicionamento microclimtico? As condies climticas interferem de maneira decisiva na produo de hortalias. Extremos de temperatura, umidade e excesso de ventos podem comprometer a produo da maioria das hortalias. O condicionamento climtico conseguido com a delimitao dos talhes de cultivo por cordes de contorno ou cercas vivas, uso de cobertura morta de solo com restos de gramneas e/ou leguminosas, plantio direto sobre palhadas e plantios consorciados. O uso de coberturas vivas com algumas espcies de grama e leguminosas rasteiras, como amendoim forrageiro, tem sido testado para o cultivo de hortalias, contribuindo para melhorar o ambiente de cultivo e outros benefcios. O principal mecanismo utilizado pelo produtor orgnico como fator de controle climtico a cerca viva, que funciona como um quebra-vento, reduzindo o impacto dos ventos frios ou quentes e a movimentao de algumas pragas e doenas, criando uma seqncia de microclimas, com maior ou menor sombreamento, umidade e temperatura, garantindo eficincia na fotossntese. A cerca viva funciona tambm como um tampo fitossanitrio, dificultando a livre circulao de pragas e inculos de doenas dentro da propriedade. O que so cordes de contorno? So faixas de vegetao que circundam a propriedade, permitindo isolamento das reas de cultivo convencional circunvizinhas, e utilizados tambm para diviso dos talhes de cultivo. um componente fundamental na organizao de uma propriedade orgnica voltada para a produo de hortalias. 60 61 47. 50 Apresentam mltiplas finalidades como o funcionamento como barreiras fitossanitrias, dificultando a livre circulao de pragas e doenas entre propriedades vizinhas e entre os talhes de cultivo; a criao de microclimas mais propcios ao cultivo de hortalias; a formao de reas de refgio e abrigo para inimigos naturais de pragas e outros pequenos animais teis. Resumindo, a instalao dessas faixas de vegetao permite a criao de condies climticas favorveis reduo do estresse sofrido pelas plantas e fun- damental para o manejo fitossanitrio da propriedade orgnica. Como so formados e que espcies podem ser usadas nos cordes de contorno? Essas faixas podem ser formadas por uma ou vrias espcies, incluindo a prpria vegetao natural. Espcies que podem servir como fontes de biomassa e nutrientes, como capins, leucena, hibiscos, flor do mel (girassol mexicano), espcies fixadoras de nitrognio, como os adubos verdes, espcies atrativas para insetos e pequenos animais, e plantas de interesse econmico, visando complementao de renda da atividade principal tambm podem ser utilizadas. importante preocupar-se com a diversidade dos cordes de contorno para garantir que se tornem abrigos de biodiversidade, procurando combinar espcies que atendam aos requisitos descritos. Podem-se usar espcies de interesse econmico nos cordes de contorno? Alguns produtores orgnicos no aceitam ou no podem dispor dentro da propriedade de reas de cultivo com espcies que no tenham interesse econmico. Dessa forma, aproveitam as reas dos cordes para a introduo de espcies que, alm de formarem cordes, possam prover-lhes algum retorno econmico e no causem prejuzos cultura ou s culturas principais. Podem-se destacar, como exemplo, a banana, o caf, o mamo, outras espcies 62 63 48. 51 frutferas, plantas melferas, condimentares, medicinais e ornamentais ou uma combinao dessas espcies. Existem outras atividades de interesse para o produtor que podem ser associadas aos cordes de contorno? Como a composio do cordo de contorno pode ser variada, o produtor pode utilizar espcies para produzir biomassa visando obteno de compostos orgnicos, espcies com boa capacidade de extrao de nutrientes e/ou fixao de nitrognio que podem ser incorporadas como adubo verde nas reas de cultivo. Em propriedades integradas com produo animal, essas reas podem contribuir para a produo de alimentos para os animais. Formar os cordes de contorno com espcies com boa capacidade de florescimento, alm de funcionar como excelentes reas de refgio para predadores e inimigos naturais, atraem abelhas para produo de mel. A flor do mel ou girassol mexicano uma espcie de florescimento constante e abundante praticamente o ano todo e que tem sido bastante associada ao cultivo orgnico de hortalias como cordo de contorno, principalmente nas regies Centro-Oeste e Nordeste do Pas. Pode-se obter uma associao bastante interessante entre essa espcie com apicultura e horticultura. Alm da renda extra proporcionada pela produo de mel, as abelhas so importantes agentes polinizadores de algumas hortalias. Como devem ser os cordes de contorno em regies de muito vento? Dependendo do objetivo do produtor, a composio dos cordes de contorno pode variar de acordo com os extratos de vegetao possveis: arbreo, arbustivo e herbceo. Em regies de vento forte, o produtor deve optar por extratos mais altos, introduzindo uma faixa de quebra-ventos nos cordes de contorno da propriedade, com vegetao arbrea mais robusta de espcies como leucena, grevilia, gliricidia e sanso do campo, por exemplo. 64 65 49. 52 Uma vez estabelecido o quebra-vento, associam-se a ele extratos mais baixos com plantas arbustivas e herbceas, completando-se o cordo de contorno. O que so reas de refgio? So reas de vegetao para preservao e atrao de inimigos naturais de pragas e pequenos predadores que au- xiliam no controle de pragas. Essas reas servem de refgio para diversos insetos benficos que se alimentam de fungos ou para organismos que, sem seus inimigos naturais, poderiam aniquilar a plantao. Esses nichos so formados pelas reservas de vegetao nativa, pelas faixas de cercas vivas ou cordes de contorno que circundam as reas de cultivos e as comunidades de plantas invasoras ou espontneas. As reas de refgio garantem a preservao da fauna silvestre e a diversidade essencial para o equilbrio de vrias espcies, contribuindo muito para o equilbrio do sistema como um todo. O que so reas de pousio? Como o prprio nome sugere, so reas que garantem o descanso do solo, aps cultivo intensivo, para reconstituir e conservar suas propriedades qumicas, fsicas e biolgicas. As reas em pousio devem permanecer cobertas com alguma vegetao, que pode ser adubos verdes ou a vegetao natural da rea. Essas reas so muito importantes para garantir a manuteno da vida no solo. O agricultor deve prever esse perodo no planejamento da horta, pois para produo de hortalias, que utiliza intensamente os recursos do solo, essa prtica fundamental. 66 67 50. 53 Qual a importncia da rotao de culturas para sistemas orgnicos de produo de hortalias? Um dos aspectos mais importantes do manejo em sistemas orgnicos de produo a explorao equilibrada do solo, por meio do emprego de prticas como a alternncia de culturas e a sucesso vegetal, levando prtica da rotao de culturas nas diversas unidades de solo de uma propriedade agrcola. Deve-se estabelecer uma escala de exigncia em adubao e manter o terreno permanentemente coberto. Essas prticas con- jugadas permitem explorar os nutrientes do solo de maneira mais racional, evitando seu esgotamento. Deve-se alternar culturas mais exigentes com culturas menos exigentes em nutrientes (rsticas), que exploram profundidades diferentes do solo pela diferena na estrutura radicular. Outro aspecto igualmente importante da rotao, e tambm do consrcio de hortalias, evitar a proliferao e acmulo de doenas e pragas, que em um sistema intensivo de cultivo pode ocorrer de forma bastante acelerada. Portanto, a rotao de culturas uma necessidade para a economia de nutrientes da horta e o controle de pragas e doenas. Como deve ser o manejo das rotaes dentro dos talhes ou das reas de produo de hortalias? A diviso dos talhes em faixas de cultivo auxilia na im- plantao de esquemas de rotao. Nessas faixas, alterna-se o cultivo de adubos verdes com diferentes famlias de hortalias. Nesse esquema, importante evitar o plantio de espcies da mesma famlia em sucesso ou nas faixas adjacentes. No caso das hortalias que se adaptam melhor aos cultivos de inverno, poca em que o olericultor obtm maiores rendimentos, deve-se evitar a prtica de rotao com adubos verdes, permitindo que a rea fique in- tegralmente ocupada pelas culturas de interesse econmico. No vero, reserva-se uma rea maior para o plantio de espcies de 68 69 51. 54 adubo verde que se adaptam bem ao cultivo nessa estao. Dessa forma, pratica-se a recuperao anual das reas de produo. Outra estratgia importante de manejo evitar o acmulo de inculos de organismos patognicos, uma vez que as sucesses provocam uma quebra do ciclo biolgico desses organismos pela alternncia de espcies. Exemplificando, o plantio sucessivo de espcies de solanceas (tomate, batata, pimento, etc.) na mesma rea pode elevar a incidncia de patgenos foliares e de solo nessas culturas. Qual a regra geral para a boa rotao de culturas? Na rotao, o produtor pode utilizar um esquema seguindo as diferentes caractersticas de cada grupo de hortalias: folhosas, razes/tubrculos e flores/frutos. Como cada espcie se desenvolve de uma forma e tem um sistema radicular prprio e diferenciado, tambm explora o solo e retira os nutrientes de forma diferenciada. Logo aps o preparo e a adubao inicial do solo, deve-se cultivar hortalias mais exigentes, seguindo-se com espcies cada vez menos exigentes. Assim, o produtor pode planejar o plantio utilizando o esquema de alternar entre esses grupos e deixando sempre um intervalo entre um ciclo para descanso e recuperao do solo (pousio). Durante o pousio, o produtor pode explorar a utilizao dos adubos verdes para recomposio e manuteno do solo. O que consorciao/associao de culturas? O sistema de consrcio caracteriza-se pelo plantio si- multneo de duas ou mais cul- turas na mesma rea. uma das prticas mais importantes para o cultivo de hortalias no sistema orgnico, pois abrange aspectos tanto ambientais quanto eco- nmicos. 70 71 52. 55 A consorciao permite otimizar a produo pelo melhor aproveitamento da rea explorando a combinao de espcies eficientes na utilizao dos recursos de produo como espao, nutrientes, gua e luz. O consrcio entre espcies de hortalias est sendo adotado amplamente em reas de cultivo orgnico em todo o Pas, principalmente por pequenos agricultores orgnicos que buscam nessa tcnica uma forma de otimizar o aproveitamento de seus escassos recursos de produo. Assim, procuram maximizar seus lucros, aproveitando melhor a rea, os insumos e a mo-de-obra. Quais as vantagens da consorciao de culturas? A eficincia e as vantagens de um sistema consorciado esto na complementariedade entre as culturas envolvidas. Essa com- plementariedade maior medida que se consegue minimizar os efeitos negativos de uma cultura sobre a outra. O consrcio, alm de permitir o uso mais intensivo da rea de plantio, confere maior diversidade biolgica e produo por unidade de rea, garante renda extra ao agricultor e proporciona menor impacto ambiental em relao monocultura. Para evitar a manuteno de reas com plantio de espcies que no tragam retorno econmico, os produ- tores podem utilizar o consrcio entre a cultura de interesse comer- cial e outra espcie que apresente funes importantes, como atrao de inimigos naturais, repelente de insetos, adubos verdes, etc. Um exemplo clssico dessa associao ocorre entre milho e mucuna. O plantio sincronizado dessas espcies permite que a florao da leguminosa coincida com a seca da planta de milho, originando uma palhada bastante rica em nutrientes que pode ser utilizada no cultivo de vrias hortalias. O olericultor obtm ainda retorno econmico com a comercializao das espigas de milho ainda verdes. Que tipos de consrcio podem ser utilizados para hortalias? Embora existam muitas possibilidades de combinao de 72 73 53. 56 hortalias em consrcio, so mais comuns os consrcios em faixas e em linhas. No consrcio em linha, so intercaladas linhas de cultivo de uma ou mais espcies com a cultura principal. Pode-se consorciar alface e cebolinha, couve e cebola, tomate e coentro, pimento e feijo guandu ano, tomate e crotalria, entre outras. No consrcio em faixas, so intercaladas faixas de cultivo de uma ou mais espcies com a cultura principal. Em alguns casos, essas faixas podem se confundir com os prprios canteiros. Pode- se agrupar as hortalias companheiras, como cenoura e tomate, batata e repolho, tomate e cebola, cebola e pepino, alface e rcula, abbora e chicria, repolho e arruda, entre outras. Todas as hortalias podem ser consorciadas entre si? No. preciso considerar aspectos como tolerncia a sombreamento, profundidade do sistema radicular, hbito de crescimento e potencial como hospedeira de pragas e doenas. Deve-se observar tambm a afinidade entre as culturas, ou seja, observar que espcies se desenvolvem melhor quando associadas. Assim, as plantas so divididas em companheiras e antagonistas. Alguns exemplos de plantas antagonistas: abbora e batata, alface e salsa, cebola e ervilha, tomate e batata, batata e pepino, entre outras. Deve-se evitar a utilizao dessas culturas ao mesmo tempo no campo, pois uma pode servir de fonte de inculo (pragas e doenas) para a outra cultura e assim desencadear um grande prejuzo para o produtor. O cultivo associado entre hortalias e adubos verdes tem sido muito difundido entre os produtores orgnicos. Os plantios devem ser sincronizados de forma que o adubo verde seja incorporado no momento em que a hortalia comea a produzir. Tem-se observado experincias de sucesso com tomate x guandu, crotalria x berinjela e crotalria x taro (inhame). 74 54. 57 Qual o objetivo de se associar plantas repelentes e/ou atrativas cultura principal no sistema orgnico? As plantas com sabor e cheiro forte so chamadas atrativas ou repelentes, pois possuem substncias que afastam ou inibem a ao de insetos. O cultivo dessas plantas junto com as culturas pode proteger contra o ataque de insetos. Como qualquer estratgia de manejo agroecolgico, o uso de tais plantas no deve ser feito isoladamente, e sim, em conjunto com outras tcnicas de controle, sempre buscando a promoo do equilibro ecolgico em toda a propriedade agrcola. Quais as plantas atrativas e repelentes mais comuns e para que servem? As plantas atrativas e repelentes mais comuns so: Cravo-de-defunto (Tagetes minuta) e/ou cravorana silvestre (Tagetes sp.) Repelente de insetos e nematides, prin- cipalmente no florescimento. Atua tanto por ao direta contra as pragas quanto por disfarce das culturas por seu forte odor. Cinamomo (Melia azedorach L.) Ao inseticida. Os frutos devem ser modos e seu p pode ser usado na conservao de gros armazenados. Saboneteira (Sapindus saponaria L.) Ao inseticida. Para se ter uma idia de seu poder de ao, apenas seis frutos bastam para preservar 60 kg de gros armazenados. Qussia ou pau-amargo (Quassia amara) Ao inseticida, especialmente contra moscas e mosquitos, pelo alto teor de substncias amargas na casca e na madeira. Mucuna (Mucuna spp.) e crotalria (Crotalaria spp.) Ao nematicida. Coentro (Coriandrum sativum) Ao repelente. Tem-se observado reduo significativa de frutos de tomateiro perfurados por insetos quando seu plantio associado ao de coentro. 75 76 55. 58 Arruda (Ruta graveolens) Ao repelente. Evita a lagarta em folhosas, como o repolho. Manjerico (Oncimum basilicum) Por causa do forte odor e compostos que exala, um repelente de insetos. Gergelim (Sesamum indicum) Cordes de contorno com gergelim oferecem excelente proteo contra savas e outras formigas cortadeiras. Purungo ou cabaa (Lagenaria vulgaris) Atrativo para o besourinho ou vaquinha-verde-amarela (Diabrotica speciosa). Pode ser plantado como cerca viva ou pode-se utilizar seus frutos cortados e espalhados na lavoura. Tajuj (Cayaponia tayuya) Atrativa para as vaquinhas. Geralmente, plantas aromticas, medicinais e condimentares so menos atacadas por pragas, constituindo, dessa forma, uma boa opo para compor canteiros na horta, prximo s culturas. Outros exemplos dessas plantas so artemsia, alecrim, menta, tomilho, losna, funcho, hortel, etc. As plantas espontneas podem contribuir para o manejo do sistema orgnico ou devem ser sempre eliminadas? As plantas que crescem junto com as espcies cultivadas so consideradas invasoras ou espontneas e no plantas daninhas. Assim, como outros vegetais, as plantas invasoras contribuem para: Cobertura e proteo do solo. Reciclagem mais eficiente de nutrientes. Melhoria das condies fsicas do solo pelo aumento dos teores de matria orgnica. Rompimento de camadas compactadas. Diversificao do ambiente. Essas espcies devem ser manejadas adequadamente para que permitam o convvio sem prejuzos para a cultura de interesse econmico. Recomenda-se a capina em faixas, de forma a evitar a presena das ervas prximo cultura de interesse comercial, deixando-se uma estreita faixa de vegetao nas entrelinhas de 77 56. 59 plantio. Em culturas como berinjela, jil, abbora, quiabo e outras, deve-se fazer apenas o coroamento das plantas e roadas leves no restante da rea. No caso de hortalias de canteiro, recomendam-se capinas nos momentos crticos apenas nos leitos de semeadura, preservando- se a vegetao dos carreadores ou apenas roando-a quando estiver dificultando os tratos culturais. O controle de invasoras tem sido feito com o emprego de prticas mecnicas, como arao, gradagem, cultivos, roadas, amontoas e capinas manuais, conforme a necessidade de reduo das invasoras e, ainda, com o uso de plantas com efeitos alelopticos, adubao verde, cobertura morta, cobertura viva, rotao e a consorciao de culturas. Existe alguma forma de se plantar hortalias sem canteiros, evitando o revolvimento excessivo do solo? Para algumas hortalias possvel evitar o uso de canteiros fazendo o plantio em covas ou sulcos e at mesmo o plantio direto sobre palhadas. Sabe-se que nos solos tropicais e subtropicais a decomposio da matria orgnica pode ser acelerada com o excesso de revolvimento, reduzindo seu teor. Assim, o preparo do solo deve ser evitado ou minimizado sempre que possvel. Recomenda-se o uso de canteiros semidefinitivos, restringindo ao mximo a entrada de mquinas nas reas de cultivo. Dessa forma, seguindo os princpios j mencionados da rotao de culturas, aps o preparo, e da adubao inicial do solo, cultiva-se uma sucesso de hortalias progressivamente menos exigentes em nutrientes, sem que haja necessidade de refazer os canteiros. Quando necessrio, pode-se complementar a adubao inicial com aplicaes em cobertura, fazendo-se apenas uma leve incorporao superficial. 78 57. 4 Propagao de Plantas Jacimar Luis de Souza Tatiana Pires Barrella Rosileyde G. Siqueira Ricardo H. Silva Santos Mariane Carvalho Vidal 58. 62 Quais os cuidados necessrios na instalao de um sistema de produo de mudas? O planejamento dos plantios deve permitir o melhor apro- veitamento dos recursos naturais, procurando evitar excessos ou frustraes de produo ou pocas de preos muito baixos. Deve- se ainda procurar ajustar as reas ao maquinrio utilizado e ao sistema de irrigao disponvel. Os locais de produo, o ambiente de formao das mudas (estufa ou cu aberto) e os tratos culturais devem ser criteriosamente definidos e minuciosamente executados. O substrato para produo de mudas deve estar livre de sementes de ervas invasoras e de microrganismos causadores de doenas, ter boa reteno de gua e bom arejamento, permitindo assim um perfeito crescimento das razes. Deve tambm suprir as necessidades nutricionais das plantas no incio de seu desenvolvimento. Na agricultura orgnica, deve-se atentar para o cultivo de espcies e cultivares bem adaptadas s condies ecolgicas locais, o que resulta em maior sanidade para as culturas e, conseqentemente, em menor necessidade de interveno humana. melhor comprar o substrato pronto ou prepar-lo na propriedade? Atualmente, j existem no mercado brasileiro diversos tipos de substrato orgnico, apropriados para a formao de mudas em sistemas orgnicos de produo de hortalias. O agricultor deve avaliar para que espcies de hortalia o substrato mais adequado, principalmente em relao aos custos. Muitas vezes, porm, possvel produzir seu prprio substrato a custos muito baixos, a partir de processos fermentativos em alta temperatura, como na compostagem, sendo a desinfeco dispensada. A avaliao de diferentes propores de composto orgnico e terra, como substrato para formao de mudas de tomate, indica que as melhores mudas so obtidas usando-se composto puro peneirado ou em mistura com terra na proporo de 1:1. 79 80 59. 63 Menores quantidades de composto comprometem significa- tivamente a qualidade e o padro das mudas. Qualquer material pode ser utilizado na produo de substrato para mudas orgnicas? Muitas vezes pode-se produzir o substrato na prpria propriedade a custos muito mais baixos, porm preciso ter um certo cuidado ao se combinar materiais. Materiais disponveis na propriedade, como cascas de rvores, restos de culturas como caf e palha de arroz, etc., podem ser misturados a outros materiais, como hmus e fibra de coco verde, constituindo excelentes al- ternativas de substratos. O importante que o substrato tenha os componentes fsicos e qumicos em equilbrio para garantir as caractersticas de porosidade, reteno de gua, pH, entre outras, ideais para as plantas, e que seja livre de contaminantes e patgenos. Que outros mtodos de desinfeco do substrato podem ser usados alm da compostagem? O substrato orgnico prprio, que no se origina de processos de fermentao a altas temperaturas como ocorre na compostagem, pode exigir algum mtodo de desinfeco de patgenos e sementes de ervas invasoras. A inundao e a solarizao esto sendo es- tudadas e empregadas em escala cada vez maior por pesquisadores e produtores de mudas como alternativa compostagem. Como funciona a inundao do solo como mtodo de desinfeco? A inundao do solo por determinado perodo, por ciclos sucessivos, uma das medidas mais eficientes para erradicar patgenos do solo. Essa prtica tem sido empregada em pequenas reas, viveiros e casas de vegetao. Durante o encharcamento do 81 82 83 60. 64 solo, desenvolvem-se microrganismos anaerbicos e a produo de cidos e gases txicos, que vo atuar sobre os microrganismos fitopatognicos. A falta de oxignio e nutrientes e a dessecao do solo tambm contribuem para eliminao de patgenos, como nematides e fungos. E a solarizao? A solarizao pode ser feita em piso de cimento limpo, espalhando-se uma camada de substrato umedecido (mnimo de 50 % de umidade para gerar mais calor), com 10 cm de altura, no mximo. Em seguida, cobre-se todo o substrato com lona de plstico preta ou trans- parente, fechando-se bem as bordas do plstico com areia ou terra, mantendo-se assim por um perodo mnimo de 3 dias ensolarados. Durante o vero, a temperatura de uma camada de at 5 cm de solo mido, coberto com polietileno branco transparente, pode ultrapassar 52 o C, ao passo que o solo sem cobertura plstica no ultrapassa 37 o C. O aumento da temperatura do solo, provocado pela insolao de vrios dias ensolarados, pode inativar inmeras espcies de patgenos do solo. A solarizao tambm pode ser feita por outro mtodo? Sim, a solarizao tambm pode ser feita por coletor solar, como o desenvolvido pela Embrapa Meio Ambiente (www.cnpma.embrapa.br). um equipamento de funcionamento simples e construo barata, cuja finalidade controlar fungos, bactrias e algumas sementes de plantas. Normalmente, em um 84 85 61. 65 dia de sol, a temperatura dentro do aparelho chega a 90 o C, o que suficiente para inativar os fungos de solo mais comuns, como Sclerotinia sp., Sclerotium sp., Verticillium sp. e Rhizoctonia sp., entre outros, pois so todos sensveis ao calor. Esse coletor solar consiste em uma caixa de madeira com tubos de metal (ferro galvanizado, alumnio, cobre, tubo de irrigao usado, etc.) e uma cobertura de plstico transparente que permite a entrada de raios solares. O substrato colocado nos tubos de metal pela abertura superior e, aps o tratamento, retirado pela abertura inferior, por gravidade. Esse modelo permite tratar 120 L de substrato por vez. Os coletores devem ser instalados com exposio para a face norte, com ngulo de inclinao de 10o mais a latitude local. Substratos comerciais de origem organo-mineral podem ser usados na agricultura orgnica? A recomendao tcnica que se utilizem substratos puramente orgnicos (sem aditivos minerais) produzidos pre- ferencialmente na propriedade. As entidades certificadoras, baseadas nas normas tcnicas de produo orgnica disponveis, toleram a utilizao de substratos organominerais, adquiridos no mercado, somente se constatada a necessidade de utilizao atravs de anlise, e se os mesmos estiverem livres de substncias txicas (IN 007) para os agricultores em fase inicial de implantao do sistema (perodo de transio ou de converso) e nos casos de dificuldade de se empregar a produo local. Por causa das variaes de interpretaes e princpios, a certificadora responsvel (se existir) deve ser consultada antecipadamente. Vermiculita e gesso podem ser usados no preparo de substratos para a agricultura orgnica? Sim. Ambos os insumos so compatveis com as normas tcnicas de produo e podem ser utilizados. Entretanto, 86 87 62. 66 fundamental uma anlise tcnica que comprove essa necessidade, pois o uso de vermiculita em substratos 100 % orgnicos, como compostos, mostrou-se dispensvel na prtica. Seu uso apenas aumentaria os custos, sem nenhum benefcio adicional. O biofertilizante utilizado na cultura pode ser tambm utilizado na produo de mudas? O biofertilizante funciona como fonte alternativa de su- plementao de nutrientes, aplicados no solo via sistemas de irrigao ou sobre as plantas em pulverizao. No caso das mudas, recomenda-se pulverizao foliar, com diluio em gua, de- pendendo da composio do biofertilizante, em propores que variam de 2 % a 20 %. Isso recomendvel especialmente para hortalias com maior tempo de viveiro, como tomate, pimento, etc. Maiores detalhes sobre biofertilizantes podem ser vistos no Captulo 7. Existem viveiros especializados na produo de mudas de hortalias para o sistema orgnico no Brasil? A existncia de viveiros especficos para a produo de mudas orgnicas de hortalias ainda no economicamente vivel diante do pequeno nmero de agricultores. Existem apenas produtores de mudas orgnicas ligados a projetos especficos, responsveis pela produo e distribuio para um grupo ou associao especfica, com demanda e cronograma de produo predefinidos. Em futuro prximo, o crescimento das reas de agricultura orgnica, dependendo da regio, poder justificar a existncia de produtores especializados na produo de mudas, como ocorre no sistema convencional. Nesse caso, esses produtores devem se submeter ao processo de certificao orgnica, como os produtores de alimentos, de modo a oferecer um insumo com garantias de cumprimento da legislao em vigor. 88 89 63. 67 Na propagao de hortalias, quais os cuidados necessrios para evitar a transmisso de pragas e doenas para novas reas? Na propagao de hortalias em sistema orgnico, espe- cialmente para a propagao vegetativa, evitar problemas futuros uma necessidade, devendo-se estar atento a critrios fitossanitrios e de seleo gentica, como: Evitar a utilizao de partes das plantas que apresentaram sintomas de doenas ou que, mesmo visualmente sadias, sejam oriundas de campos que apresentaram problemas com fungos de solo (como Fusarium e Sclerotinia), com bacteriose ou murchadeira (como Ralstonia), com viroses (como o vrus-do-enrolamento-da-batata, vira-cabea do tomateiro), com nematides (como nematide-de-galhas em batata), dentre outros. Propagar indivduos com aspecto de elevado vigor, fentipo caracterstico da espcie ou variedade, identificados durante a fase vegetativa e na fase de colheita. Os indivduos devem apresentar elevado padro comercial do produto, o que representa uma seleo positiva, com ganhos de adaptabilidade ao sistema ao longo dos anos. Quando necessrio, proceder ao tratamento das mudas an- tes do plantio, pela imerso em biofertilizante lquido ou hipoclorito de sdio (gua sanitria) a 5 %, durante 10 minutos, especialmente para a preveno de problemas com brocas, nematides e doenas. Proceder quebra de dormncia de sementes e ao pr- enraizamento de mudas, para algumas espcies, conforme as recomendaes especficas para cada cultura. Respeitar os critrios de propagao e seleo de cada espcie, como tamanho de bulbos e bulbilhos de alho, mudas de batata-doce da parte mediana da rama, dentre outros. Usar medidas sanitrias, como a lavagem de implementos 90 64. 68 agrcolas, a fim de eliminar o solo e os restos de cultura aderidos. Pode-se usar material propagativo de hortalias do sistema convencional quando no houver mudas orgnicas disponveis na regio? Geralmente, dada a carncia de produtores de mudas orgnicas, as certificadoras ainda toleram a aquisio de propgulos vegetativos e de mudas de sistemas convencionais de produo, como de matrizes de morangueiro, por exemplo. Recomenda-se consultar previamente a certificadora a fim de saber para quais hortalias podem ser utilizadas mudas produzidas convencionalmente. A orientao geral : No havendo disponibilidade no mercado de mudas e sementes oriundas de sistemas orgnicos adequados a determinada situao ecolgica especfica, essas podem ser oriundas de sistemas convencionais, desde que avaliadas pela instituio certificadora, excluindo-se todos os organismos geneticamente modificados (OGM/ Transgnicos) e de cultura de tecido vegetal, quando as tcnicas empregadas conduzam a modificaes genticas ou induzam a variante somaclonais (IN 007). Onde encontrar sementes orgnicas de hortalias? No Brasil, a experincia pioneira de produo de se- mentes orgnicas foi realizada no Rio Grande do Sul, dando origem marca Bionatur . uma organizao de pequenos agricultores que est tornando realidade a produo de sementes orgnicas no Brasil. Dedica-se produo de sementes de hortalias, principalmente de cebola, cenoura, tomate, pimento, abboras e pepino, entre 91 92 65. 69 outras. Algumas empresas tradicionais na venda de sementes de hortalias j oferecem sementes orgnicas de algumas espcies, como alface lisa, alface-crespa, alface-americana, cenoura, coentro, couve-flor, pepino, pimento, rabanete, salsa, tomate e rcula, geralmente comercializadas em embalagens menores, como os envelopes com 5 g. Se no existir semente orgnica de algum tipo de hortalia, pode-se usar a semente convencional? Sim. Enquanto o mercado de sementes orgnicas no atingir um volume considervel, que permita a viabilidade econmica de produo em larga escala, ser necessrio tolerar a utilizao de sementes convencionais. Algumas empresas de sementes con- vencionais j iniciaram a produo e oferta de sementes sem tratamento qumico para atender aos agricultores orgnicos. Porm, no havendo essa possibilidade, a prtica usual na produo orgnica de hortalias o uso de sementes tratadas com fungicidas, desde que o nvel residual, aps o processo de produo das mudas e das fases de campo, seja insignificante. preciso esclarecer que essa tolerncia no tem carter permanente e que agricultores, tcnicos e instituies devem buscar atingir plenamente os preceitos agroecolgicos nos sistemas de produo. O agricultor deve esforar-se para abolir o uso de sementes tratadas, buscando, sempre que possvel, trabalhar apenas com sementes de origem orgnica. verdade que mudas com torro pegam mais fcil e podem produzir mais cedo? Sim. No s pegam mais fcil e produzem mais cedo, como tambm podem produzir mais. As mudas com torro, ou seja, aquelas formadas em bandejas, copos ou tubetes, so levadas a campo com maior volume radicular que aquelas arrancadas do leito do canteiro. Pelo fato de no sofrerem quebra de radicelas e 93 94 66. 70