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9 Nº19 | DEZEMBRO 2008 Crise financeira Questionamentos editorial entrevista entrevista 9 Prof. Dr. JOSÉ CASTRO CALDAS Economista, Investigador do CES - Coimbra "CRISE FINANCEIRA - O Olhar de um especialista" 14 horas livres PASSEIO A AVEIRO - A ria, os moliceiros, as salinas... CONSELHO NACIONAL APROVA PLANO DE ACTIVIDADES E ORÇAMENTO DO STEC PARA 2009 ENCONTRO ENTRE A ASSOCIAÇÃO DE BANCÁRIOS DO URUGUAI E O STEC 8 sindical 2 9
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Crise financeira - STEC...Crise financeira Questionamentos editorial entrevista entrevista 9 Prof. Dr. JOSÉ CASTRO CALDAS Economista, Investigador do CES - Coimbra "CRISE FINANCEIRA

Feb 25, 2021

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1Nº19 | DEZEMBRO 2008 CAIXA ABERTA BolETIm InfoRmATIvo do SIndICATo doS TRABAlhAdoRES dAS EmpRESAS do GRupo CGd

entrevista9

Nº19 | DEZEMBRO 2008

Crise financeiraQuestionamentos editorial entrevista

entrevista9

Prof. Dr. JOSÉ CASTRO CALDAS Economista, Investigadordo CES - Coimbra

"CRISE FINANCEIRA- O Olhar de um especialista"

14horas livres

PASSEIO A AvEIRO- A ria, os moliceiros, as salinas...

CONSELHO NACIONAL APROvA PLANO DE ACTIvIDADES E ORÇAMENTO DO STEC PARA 2009

ENCONTRO ENTRE A ASSOCIAÇÃO DE BANCÁRIOS DO URUGUAI E O STEC

8 sindical

29

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2 CAIXA ABERTA BolETIm InfoRmATIvo do SIndICATo doS TRABAlhAdoRES dAS EmpRESAS do GRupo CGd CAIXA ABERTA BolETIm InfoRmATIvo do SIndICATo doS TRABAlhAdoRES dAS EmpRESAS do GRupo CGd

O país acaba de ser surpreendido com a denúncia pública da situação de falência técnica por parte de um Banco!

Falências de empresas dos mais diversos sectores de activi-dade acontecem com tanta regularidade em Portugal, que já nem sequer são notícia... mas um Banco!

Ao contrário da atitude de indiferença a que os vários governos nos habituaram, quando se trata da falência de uma qualquer empresa, mesmo que arraste para o desemprego centenas de trabalhadores e atire para a miséria outras tantas famílias, desta vez o governo desdobrou-se em explicações para justifi-car a decisão de intervir e de nacionalizar o Banco Português de Negócios!

Os responsáveis pelas múltiplas e graves ilegalidades que conduziram à situação de falência técnica do BPN, entre os quais algumas figuras bem conhecidas da política nacional, parece terem entrado de repente num estado de amnésia ga-lopante, não se lembrando de nada do que aconteceu, mas não se esquecendo de distribuir elogios pela gestão do Banco, considerando-a brilhante e digna da maior confiança e reco-nhecimento!

Se não fosse grave e não estivessem em causa muitos milhões de Euros do erário público - o buraco parece que é já superior a mil milhões de Euros e quem o vai pagar são obviamente os portugueses - quase poderíamos dizer que tudo isto não passava de uma anedota de mau gosto, mas, infelizmente, não é assim e estamos, de facto, perante uma pura e dramática realidade.

A avaliação das responsabilidades e a decisão sobre as puni-ções a aplicar aos culpados está agora na alçada da justiça e, quanto a isso, vamos lá a ver se a culpa não morre solteira!

A solução, no que respeita à falência do BPN, encontrada pelo governo, foi extremamente rápida e muito fácil! Entregou a resolução do problema à CGD!

Os trabalhadores da CGD em particular, bem como todos os que trabalham nas Empresas do Grupo, olham para tudo isto com a maior estupefacção e vêem a situação como um pesa-delo, do qual podem adivinhar as consequências e retirar uma ilação – a CGD e todos os que aqui trabalham, voltaram a ser, mais uma vez, usados para resolver os problemas do país ou do governo, mas continuam a não se aperceber de qualquer gesto, de uma única atitude ou sequer de uma palavra de reconhecimento, por parte de quem a eles recorre!

índice

CAIXA ABERTA Nº19DEZEMBRO 2008

editorial

GOvERNO, QUE COERÊNCIA?INCENDIÁRIOS, QUE PUNIÇÃO?BOMBEIROS, QUE RECONHECIMENTO?

caixa sindical8 • CONSELHO NACIONAL APROVA PLANO DE ACTIVIDADES E ORÇAMENTO DO STEC PARA 2009• CRéDITO à HAbITAÇãO PARA OS TRAbALHADORES

DAS EMPRESAS DO GRuPO CGD• ENCONTRO ENTRE A ASSOCIAÇãO DE bANCÁRIOS

DO uRuGuAI E O STEC

caixa entrevista9 • Prof. Dr. JOSé CASTRO CALDAS - ECONOMISTA E INVESTIGADOR DO CES - CENTRO DE ESTuDOS SOCIAIS DA uNIVERSIDADE DE COIMbRA

caixa com história12 • (DES)CONSTRuÇãO DA IMAGEM FOTOGRÁFICA - bREVE PERCuRSO DA FOTOGRAFIA (PARTE 2)

caixa horas livres14 • PASSEIO A AVEIRO - A RIA, OS MOLICEIROS, AS SALINAS...

caixa protocolos15 • PROTOCOLOS

• INSÓLITO• CONT(R)A-CORRENTE16

caixa opinião6 • RESPEITO – PARA quE TE quERO? PARA quE SERVES?

caixa com direitos3 • A FORMAÇãO PROFISSIONAL NO GRuPO CGD• DECLARAÇãO uNIVERSAL DOS DIREITOS HuMANOS 60 ANOS - 1948 / 2008

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A formação profissional nas empresas do Grupo CGD não decorre de um modo uniforme. Deste modo, as questões recebidas dos trabalhadores que pretendem uma explicação sobre as acções de formação em curso, levam-nos à necessidade de relembrar alguns princípios fundamentais sobre esta matéria.

Artº 169º - Cessação da relação de trabalho- Cessando o contrato de trabalho, o trabalhador tem direito

a receber a retribuição correspondente ao crédito de horas para formação que não lhe tenha sido proporcionado pela Empresa.

Quanto à realidade na Caixa Geral de Depósitos, podemos verificar o normativo contratual.

AcOrdO de empresA sTec / cGd

Cl. 98ª - Formação Profissional - A formação profissional é um dever da Empresa e um

direito e um dever dos trabalhadores, estabelecendo-se, sem prejuízo do regime legal, que a realização das acções de formação deve preencher, em média, 35 horas anuais por trabalhador, e ocorrer prioritariamente durante o horário laboral.

As acções de formação, sempre que realizadas em locais que obriguem à deslocação dos trabalhadores, implicam o cum-primento da cláusula 98ª, pontos 4 e 5 e a cláusula 66ª (despesas com deslocações).

Art. 167º - Informação e Consulta - A Empresa deve dar conhecimento do projecto do plano

de formação, aos trabalhadores, na parte que a cada um diga respeito, bem como à Comissão de Trabalhadores;

- Os trabalhadores, na parte que a cada um diga respeito, e a Comissão de Trabalhadores, dispõem de 15 dias, após a sua recepção, para emitirem parecer sobre este projecto;

- Decorrido este prazo, sem que os pareceres tenham sido entregues à Empresa, considera-se satisfeita a exigência de consulta.

Art. 165º - Plano de Formação- O plano de Formação deve especificar, nomeadamente,

os objectivos, as acções que dão lugar à emissão de certificados de formação profissional, as entidades formadoras, o local e horário da realização das acções.

Artº 168º - Crédito de horas para formação contínua- O trabalhador goza de um crédito anual de horas de

trabalho correspondente ao número mínimo de horas de formação contínua, por referência ao período normal de trabalho, com direito a retribuição, que conta como tempo de serviço efectivo.

Quanto às normas legais, pode-se verificar o que a Regulamentação do Código do Trabalho dispõe:

direitos

A FORMAÇÃO PROFISSIONAL NO GRUPO CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS

- As acções de formação devem realizar-se durante o período normal de trabalho e só a título excepcional fora desse período.

- O tempo utilizado em acções de formação conta sempre como tempo de trabalho, sendo-lhe aplicável o regime de retribuição e de descanso compensatório correspondente aos dias em que essas acções tenham lugar.

- O facto da CGD fazer coincidir acções de formação profissional com dias de

descanso semanal dos trabalhadores, não sendo ilegal, colide manifestamente com o espírito das normas vigentes sobre esta matéria, e, nomeadamente, com as «boas-práticas» que a empresa está constantemente a anunciar, quanto à conciliação entre vida profissional e vida familiar/privada.

- As horas de formação utilizadas em período de descanso semanal têm de ser remuneradas como trabalho prestado nesses dias, quer quanto ao acréscimo de retribuição estabelecido, quer quanto ao descanso compensatório de 100%.

Questões centrais referentes a esta matéria

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direitos

DECLARAÇÃO UNIvERSALDOS DIREITOS HUMANOS60 ANOS - 1948 / 2008

considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o funda-mento da liberdade, da justiça e da paz no mundo;

considerando que o desconhecimento e o desprezo dos direitos humanos condu-ziram a actos de barbárie que revoltam a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os seres humanos sejam livres de falar e de crer, libertos do terror e da miséria, foi pro-clamado como a mais alta inspiração humanos;

considerando que é essencial a protec-ção dos direitos humanos através de um regime de direito, para que o homem não seja compelido, em supremo recurso, à revolta contra a tirania e a opressão;

considerando que é essencial encora-jar o desenvolvimento de relações amis-tosas entre as nações;

considerando que, na Carta, os povos das Nações Unidas proclamam, de novo, a sua fé nos direitos fundamentais huma-nos, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de direitos dos ho-mens e das mulheres e se declararam resolvidos a favorecer o progresso social e a instaurar melhores condições de vida dentro de uma liberdade mais ampla;

considerando que os Estados membros se comprometeram a promover, em coo-peração com a Organização das Nações Unidas, o respeito universal e efectivo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais;

considerando que uma concepção co-mum destes direitos e liberdades é da mais alta importância para dar plena sa-tisfação a tal compromisso:

A Assembleia Geral proclama a presen-te Declaração Universal dos Direitos hu-manos como ideal comum a atingir por todos os povos e todas as nações, a fim de que todos os indivíduos e todos os órgãos da sociedade, tendo-a constan-temente no espírito, se esforcem, pelo ensino e pela educação, por desenvolver o respeito desses direitos e liberdades e por promover, por medidas progressi-vas de ordem nacional e internacional, o seu reconhecimento e a sua aplicação universais e efectivos tanto entre as po-pulações dos próprios Estados membros como entre as dos territórios colocados sob a sua jurisdição.

Artigo 1° Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.

Artigo 2° Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação.Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania.

Artigo 3° Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo 4° Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos.

Artigo 5° Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.

Artigo 6° Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da sua personalidade jurídica.

Artigo 7° Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção da lei. Todos têm direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

Artigo 8°Toda a pessoa tem direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais competentes contra os actos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei.

Artigo 9° Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo 10° Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja deduzida.

Artigo 11°1. Toda a pessoa acusada de um acto

delituoso presume-se inocente até que a sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas.

2. Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento da sua prática, não constituíam acto delituoso à face do direito interno ou internacional. Do mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que a que era aplicável no momento em que o acto delituoso foi cometido.

Artigo 12° Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei.

Artigo 13° 1. Toda a pessoa tem o direito de

livremente circular e escolher a sua residência no interior de um Estado.

2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país.

Artigo 14° 1. Toda a pessoa sujeita a perseguição

tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo em outros países.

2. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente por crime de direito comum ou por actividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas.

Artigo 15° 1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma

nacionalidade. 2. Ninguém pode ser arbitrariamente

privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de nacionalidade.

Preâmbulo

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1948 - Presidente da Comissão de Direitos Humanos,

Eleanor Roosevelt, olhando o texto da Declaração Universal de Direitos Humanos

Artigo 16° A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião.Durante o casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais. 1. O casamento não pode ser celebrado

sem o livre e pleno consentimento dos futuros esposos.

2. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à protecção desta e do Estado.

Artigo 17° Toda a pessoa, individual ou colectiva-mente, tem direito à propriedade. 1. Ninguém pode ser arbitrariamente

privado da sua propriedade.

Artigo 18° Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.

Artigo 19° Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e idéias por qualquer meio de expressão.

Artigo 20° Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas. 1. Ninguém pode ser obrigado a fazer

parte de uma associação.

Artigo 21° Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos negócios, públicos do seu país, quer directamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos. 1. Toda a pessoa tem direito de acesso,

em condições de igualdade, às funções públicas do seu país.

2. A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos: e deve exprimir-se através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com voto secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto.

Artigo 22° Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país.

Artigo 23° Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego. 1. Todos têm direito, sem discriminação

alguma, a salário igual por trabalho igual.

2. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de protecção social.

3. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em sindicatos para defesa dos seus interesses.

Artigo 24°Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres, especialmente, a uma limitação razoável da duração do trabalho e as férias periódicas pagas.

Artigo 25° Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade. 1. A maternidade e a infância têm direito

a ajuda e a assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam da mesma protecção social.

Artigo 26° Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional dever ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a

todos em plena igualdade, em função do seu mérito. 1. A educação deve visar à plena

expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos humanos e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das actividades das Nações Unidas para a manutenção da paz.

2. Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o género de educação a dar aos filhos.

Artigo 27° Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam. 1. Todos têm direito à protecção dos

interesses morais e materiais ligados a qualquer produção científica, literária ou artística da sua autoria.

Artigo 28° Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciadas na presente Declaração.

Artigo 29° O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade. 1. No exercício destes direitos e no gozo

destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade democrática.

2. Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente aos fins e aos princípios das Nações Unidas.

Artigo 30° Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a alguma actividade ou de praticar algum acto destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados.

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opinião

RESPEITO – PARA QUE TE QUERO ? PARA QUE SERvES ?

As transformações oriundas do desenvolvimento das novas tecnologias de comunicação e informação, a constante precarização, fragmentação e flexibilização do mundo do trabalho, têm como base o actual processo de globalização neoliberal, que vem a par de uma mudança significativa no campo infraestrutural, provocando também uma mudança das atitudes dos indivíduos em relação aos “outros”.

Esta concepção hegemónica de ver o mundo, transporta um forte rancor ideológico de desrespeito à dignidade humana, secundarizando a vida colectiva em prol de uns poucos “ilu-minados” e privilegiados nos “corredores do sistema” e nas bolsas de valores dos mercados financeiros.

Na prática, isto significa que as novas relações sociais que vêm sendo estabelecidas entre os indivíduos nas socieda-des ocidentais têm um viés fortemente atípico e individualista sendo marcadas pelo medo e pela “escassez de respeito” no mundo contemporâneo.

O tema respeito (da dignidade humana e do carácter) foi bri-lhantemente abordado na obra de richard sennett com o título* “respeito: a Formação do carácter em um mundo desigual". O autor faz uma autobiografia sobre a sua infância e adolescência num condomínio americano chamado “Cabrini Green”, conjunto habitacional construído para combater a falta de habitação. O Estado tentava assim reabilitar um sector da classe média americana branca em estado de empobrecimen-to e, ao mesmo tempo, promover o direito à habitação para um pequeno sector negro da sociedade americana. Ou seja, o governo pretendia utilizar a habitação como forma de com-bater a segregação racial reagindo à pressão exercida pelos movimentos negros. No seu relato, Sennett mostra como a re-lação dos moradores do condomínio (brancos/negros) era con-flituosa e fortemente marcada pela inferiorização dos negros. Isto porque a necessidade de habitação obrigou os brancos a relações sociais que os brancos privilegiados evitavam.

Após cinquenta anos, Sennett retorna ao Cabrini Green, que tinha abandonado depois do seu ingresso na Universidade de Harvard. Sennett verifica então um novo fenómeno social da sociedade americana, que é a chamada “dependência adul-ta”. Os americanos adultos temem e consideram degradante depender da previdência social, sinónimo de humilhação. Nos anos quentes das lutas pelos direitos civis, políticos e sociais, nos EUA, as minorias denunciavam a pobreza, a não ascen-são social, exigiam o direito a assistência médica, o direito de acesso à universidade, sendo o movimento negro o seu principal propagador.

Quem está na base da ordem social pode conseguir respeito próprio, mas a sua posse é frágil. A falta de respeito, embora seja menos agressiva que o insulto directo, pode ser igual-mente ofensiva. Acontece se alguém não é reconhecido, não é visto como um ser humano pleno. Se uma sociedade trata as-sim muitas pessoas é criada uma escassez de respeito, o que

parece absurdo, pois, como outras formas de escassez, esta é produzida pelo homem. Se ao contrário da comida, o respeito nada custa, porque haveria então, uma crise de oferta?

No seu relato Sennett começa a despontar para o olhar socio-lógico ainda na infância, quando começa a perceber que as re-lações sociais estabelecidas no condomínio geravam ódio en-tre os moradores. Na universidade, em diversos trabalhos que dirigiu, através de entrevistas, verificou que as mesmas revela-vam algo de importante sobre a palavra “mútuo”, configurada na expressão “respeito mútuo”. Também é neste momento que Sennett começa a perceber o quão difícil é a polarização entre o “eu” e o “outro”. E relembra a definição de Adam Smith sobre solidariedade, como sendo a de imaginar falsamente a dor do outro como sendo a sua própria. Afinal, qual o significado do respeito? Segundo Sennett a Sociologia possui muitos sinó-nimos para os diferentes aspectos do “respeito”, que incluem “status”, “prestígio”, “reconhecimento”, “honra” e “dignidade”. Então, o que é que em nós reage de determinada maneira em relação aos outros? Segundo os sociólogos C.W.Mills e Hans Gerth, é a questão do “carácter” e não da “personalidade” que dita a nossa reacção em relação ao “outro”. Para eles o carácter significa a comunicação de uma pessoa com os outros por meio de instrumentos sociais compartilhados – os rituais, os códigos de crenças religiosas, as doutrinas políticas. É tratar com respeito a necessidade percebida no outro. Isto é o carácter positivo. Assim, o carácter de alguém leva-o a uma vida significativa nas relações humanas.

Porém, segundo Sennett, a ampla visão do carácter proporcio-na um parâmetro crítico contra o qual se podem avaliar outras palavras no vocabulário do “respeito”. Primeiro, o “status”. Em geral, status refere-se à posição de uma pessoa numa hierar-quia social, que lhe facilita o reconhecimento pela sociedade. Segundo, o “prestígio”, que se refere às emoções que o status suscita nos outros, mas a relação entre status e prestígio é complexa. Um status alto não dita invariavelmente um prestígio alto. Por exemplo, um aristocrata corrupto pode manter o seu status, mas o seu prestígio é escasso. Um marceneiro pode ter maior prestígio do que um executivo de topo, que possui grande status. Terceiro, o que transmite mutualidade? Onde se enquadra a palavra “reconhecimento”?

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7Nº19 | DEZEMBRO 2008 CAIXA ABERTA BolETIm InfoRmATIvo do SIndICATo doS TRABAlhAdoRES dAS EmpRESAS do GRupo CGd

A sociedade moderna desenvolveu fórmulas burocráticas para a recompensa dos dotes da capacidade, para o talento, que, a certa altura, se revelou ser o oposto da habilidade espe-cializada. Diz respeito à capacidade potencial em oposição à realização real. O trabalho de perito é lento, requer prática. Já a demonstração de mestria pode levar apenas minutos.

O autor lembra que Rousseau já se tinha debruçado sobre a sedução da desigualdade, na medida em que a inveja é uma forma de expressar o desejo de se tornar outra pessoa, afirmando que a sociedade moderna nos convida à inveja. Se aceitamos este convite perdemos o respeito próprio. De qualquer forma, a desigualdade consome o respeito.

Fazendo uma resenha das teorias e autores sobre o welfare state (Estado Social), nos seus vários tipos, Sennett critica as ousadas propostas (Ackerman e Offe) de criação de um ren-dimento mínimo para todos os cidadãos, para toda a vida (se fosse financeiramente exequível) sem sujeição a controle de recursos. É que assim suprimia-se completamente a assistên-cia emocional. Entre as feridas que a caridade provoca e os pe-rigos da fadiga da compaixão pergunta: quanta consideração se deve aos outros? É claro que muitas vezes já há sofrimento bastante em apenas procurar a própria sobrevivência…

Tratar os outros com respeito não acontece simplesmente, mesmo com a maior boa vontade do mundo. Transmitir res-peito significa encontrar palavras e gestos que fazem com que ele seja sentido e pareça convincente. Para Sennett o respeito mútuo não é apenas um instrumento para lubrificar as engrenagens da sociedade. Tem consequências para quem o pratica. A troca leva as pessoas a voltarem-se para fora - uma atitude necessária ao desenvolvimento do carácter.

Para concluir, o autor afirma que o respeito próprio baseado na perícia não pode (sozinho) gerar respeito mútuo. A essência do problema reside na teimosa divisão da sociedade e na forma como os mais fortes podem “praticar” respeito em relação aos destinados a permanecerem fracos.

Resenha efectuada por Elizardo Scarpati,

mestrando em Sociologia

* Versão brasileira - Editora Record - 2004

Rousseau ampliou a discussão sobre reconhecimento mútuo, considerando-o uma questão de comportamento social, tanto quanto/como de direito legal. Para o sociólogo alemão Haber-mas “reconhecimento” significa respeitar as opiniões daqueles cujos interesses levam à discórdia. Resta aqui dizer que o reconhecimento destas formas positivas não é suficientemente amplo para se ter mutualidade/reciprocidade. De outro lado, temos a honra social, bem presente nas sociedades contem-porâneas, apesar da conotação obsoleta. Mas é uma categoria fundamental da vida social. Assim, a honra também é simboli-zada nos códigos de conduta de indivíduos numa determinada sociedade. Para o sociólogo francês Pierre Bourdieu, honra supõe “um indivíduo que sempre se vê através dos outros, que tem necessidade dos outros para sua existência”.

E onde se encontra a dignidade neste cenário de conceitos so-ciais? A sociedade moderna secular tem distinguido a dignida-de do trabalho. A ética do trabalho de Max Webber trata do homem e da mulher “sustentando-se através do trabalho”. Mas a ética do trabalho é competitiva, requer julgamentos de valor – os que vencem podem fazer vista grossa aos que perdem nesta disputa…

Já a dignidade do corpo difere da dignidade do trabalho. Sendo ambas valores universais, a primeira é um valor partilhado, res-peitador da dor. Mas a dignidade do trabalho não é alcançada por todos, apesar do fim da escravidão. Geram-se profundas desigualdades.

Os igualitaristas radicais afirmaram que se as condições mate-riais pudessem ser equiparadas o comportamento mutuamente respeitador se revelaria espontaneamente. É uma expectativa ingénua do ponto de vista psicológico. Mesmo se todas as desigualdades injustas pudessem ser eliminadas da socie-dade as pessoas ainda enfrentariam o enigma de como dar forma aos seus piores e melhores impulsos. Na vida social a mutualidade/reciprocidade requer trabalho constante. Segun-do Sennett, a sociedade forma o carácter de três maneiras para que as pessoas ou conquistem respeito ou não consigam suscitá-lo. A primeira é pelo auto desenvolvimento de capaci-dades e habilidades, que pode ser usado ou desperdiçado. A segunda é o cuidar de si mesmo, não se tornando um fardo para os outros. A terceira maneira, a mais universal, intemporal e perfeita de suscitar respeito é retribuir aos outros. A troca é o princípio social que anima o carácter de quem retribui à comunidade.

Quanto e de que forma as desigualdades afectam o carácter, foi a investigação que Sennett se propôs efectuar. Se se pro-moverem grupos de pessoas a um ambiente mais estimulante elas podem florescer colectivamente. Esta crença anima as acções positivas (discriminação positiva, quotas, etc).

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Foi ainda dado conhecimento aos conselheiros das propostas de revisão da Tabela Salarial e Cláusulas de Expressão Pecuniária para 2009, entregues pelo STEC em 17/11/2008.

No ponto único da ordem de trabalhos foi aprovado por unanimi-dade o Plano de Actividades e Orçamento do STEC para 2009.

Neste Conselho Nacional participaram 59 Conselheiros e, como convidados, representantes da Comissão de Trabalhadores e dos Serviços Sociais da CGD.

sindical

CONSELHO NACIONAL APROvA PLANO DE ACTIvIDADES E ORÇAMENTO DO STEC PARA 2009

O Conselho Nacional do STEC reuniu em 21 de Novembro para discutir e votar o Plano de Actividades e Orçamento do Sindicato para 2009.

No ponto antes da ordem de trabalhos os participantes debruçaram-se sobre dois temas:

- A precariedade do trabalho no Grupo CGD que se verifica não só nos contratos a termo, bem como na contratação de trabalhadores através de empresas de trabalho temporário;

- A intervenção da CGD na gestão do BPN e as suas consequências para os trabalhadores do Grupo CGD foi outra das matérias abordadas pela Direcção.

Uma Delegação da Associação de Bancários do Uruguai – AEBU, esteve em Portugal a convite da CGTP, tendo na oportunidade realizado uma reunião com o STEC.

A reunião que se realizou nas instalações do nosso Sindicato, permitiu uma troca de informações sobre a realidade laboral dos dois países e em particular da área bancária, para além de um melhor conhecimento sobre o modelo organizativo e a actividade de cada um dos Sindicatos.

Comparativamente com a nossa ainda curta existência, o AEBU é uma organização sindical que tem quase 70 anos de vida, desempenhou um papel preponderante no derrube da ditadura que vigorava no Uruguai e que exerce hoje uma acção bastante influente junto do governo deste país na melhoria das condições de vida dos mais desfavorecidos.

ENCONTRO ENTRE A ASSOCIAÇÃODE BANCÁRIOS DO URUGUAI E O STEC

CRÉDITO à HABITAÇÃO PARA OS TRABALHADORES DAS EMPRESAS DO GRUPO CGD

A reunião com a Administração da CGD prevista para Outubro, anunciada no nosso comunicado nº 10 e adiada para 4 de Novembro, por impedimento da Administração, foi novamente adiada, sem data ainda prevista, com a justificação do envolvimento da CGD na nacionalização do BPN.

O STEC insistiu já, através de carta, na marcação dessa reunião, onde se espera seja dada por parte da Administração da CGD uma resposta que vá ao encontro da reivindicação do STEC quanto a esta matéria.

Logo que esta reunião seja marcada daremos informaçãoaos trabalhadores.

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entrevista

As instituições (consultoras, agências de rating) que tinham responsabilidade nas avaliações fecharam os olhos às irregularidades. pouco tempo antes de falências até aí insuspeitas classificaram de ´bom´, e ´muitos aaa´ certas empresas. Atendendo a que estas consultoras são pagas pelos próprios interessados, que sistema novo se deveria implementar para que esta peça da regulação funcione? como redesenhar as instituições reguladoras?JCC: Aparentemente tudo passa por

questionar a ideia de regulação indepen-dente e questionar a própria independên-cia de entidades como aquelas que re-feriu. Na realidade o que a experiência mostra é que essas instituições são inde-pendentes em relação ao poder político, ao poder democrático, mas são forte-mente dependentes doutros interesses, nomeadamente os interesses económi-cos e financeiros instituídos e portanto se é preciso de alguma forma redesenhar essa independência é preciso deslocar o pêndulo no sentido de regulação mais próxima dos centros de decisão politica, dos centros de decisão que são contro-lados pelo poder democrático e portanto estão sujeitos à vigilância e ao escrutínio dos cidadãos e abandonar conceitos de independência que se revelaram abso-lutamente…

… ainda hoje a noticia é que apenas 60 dos 1700 funcionários do Bp estavam afectos ao controle dos bancos todos …JCC: Faz sentido num conceito de

regulação ligeira, que era a filosofia que prevalecia: ia ao ponto de teorizar um conceito de auto-regulação fundado em supostos critérios éticos dos próprios bancos. Essa era uma teoria que andava por aí, acreditar na capacidade de auto-regulação de agentes que estão condicio-nados por coisas como as performances bolsistas, como a rentabilidade a curto prazo, etc. E portanto são de facto uma série de castelos de cartas que se estão a desfazer, que nos obrigam a pensar.

processo de socialização das perdas e privatização dos ganhos, como se tem dito – e bem – ou se, pelo contrario, é o início da substituição da arquitectura do sistema financeiro que foi sendo constru-ída a partir da década de 80, por uma arquitectura nova que de alguma forma evite ciclos recorrentes de pequenas ou grandes crises que vão sendo sucessi-vamente resolvidas ou mitigadas com injecção de recursos públicos. Portanto este momento é uma oportunidade para repensar a arquitectura financeira no seu conjunto e o que se trava é uma batalha política em torno disso. Agora, o que é que podemos esperar dessa batalha politica? O resultado de todas as batalhas políti-cas é incerto, mas os acontecimentos que se vão sucedendo não são animadores. Nós não estamos propriamente a assistir a uma substituição dos actores políticos, estamos a assistir a uma gestão da crise pelos actores que estiveram na génese da causa da crise, e portanto isso não é em si mesmo animador. Essas viragens dependem das posições públicas que as pessoas, os indivíduos mais ou menos or-ganizados, inclusivamente no movimen-to sindical, vão tomando e portanto nada disso está garantido à partida.

Prof. Dr. JOSÉ CASTRO CALDASEcomomista e Investigador do CES

continua

Crise Financeira- O Olhar de um especialista

Entrevista ao Prof. Dr. José Castro Caldas – Economista e investigador do CES (Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra) onde integra o Observatório do Risco e do Núcleo de Governação e Instituições de Economia.

A crise económica global em que estamos submersos e se está a revelar devastadora para todos os continentes, teve origem no sistema financeiro. Atendendo a que ela foi mais ou menos anunciada o que pensa da falta de accionamento dos alertas, por todas as instituições reguladoras, quanto aos "incêndios" a que agora o estado, qual bombeiro, é chamado a apagar?JCC: O problema que parece existir

é que as instituições reguladoras em praticamente todo o mundo, a começar pelos EUA, que é onde se situa o epi-centro deste terramoto, tinham adoptado como filosofia uma supervisão muito dis-tante – aquilo que às vezes é chamada uma regulação leve, que procurava imis-cuir-se o mínimo possível nas escolhas dos agentes dos mercados financeiros. Quando a filosofia é essa, é natural que sinais que vão aparecendo sejam subes-timados, na base de uma crença de que o mercado contém em si mesmo capaci-dade para corrigir as suas disfunções e portanto para desvalorizar alguns alertas que foram sendo dados por economistas que não subscrevem essa visão optimista da dinâmica espontânea dos mercados financeiros

considera (como alguns fazedores de opinião) que o que está a acontecer é um tratamento intensivo, de injecções de milhares de milhões, e que depois todo o edifício nefasto do sistema capitalista, tal como se veio desenvolvendo nas últimas décadas (especialmente desde o consenso de Washington – reagan/Tatcher) voltará ao seu percurso anterior em termos ideológicos, na prevalência do mercado como o dado intocável, quase perfeito, absoluto?JCC: Isso é o que está exactamente

em jogo. Saber se isto se trata de um

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texto em que não existe grande alterna-tiva a um aumento conjuntural do défice correspondente a um aumento da divida pública. Não há milagres que se possam fazer e se a escolha é entre desemprego acima dos 2 dígitos ou o défice público ou algum aumento da divida pública, nós ficamos a conhecer a natureza de quem escolhe, quando quem escolhe, escolhe mais desemprego e não algum preço a pagar em défice e em divida pública.

Ouvimos há dias numa conferência mencionar um pormenor que nos pareceu de extrema importância e que, curiosamente (ou não...) não vimos mencionado em mais nenhum sítio... falamos das lições que as próprias escolas de economia deviam estar a retirar dos acontecimentos, ou seja das opções curriculares, nas últimas décadas, pelas teorias erradas.Que outras teorias existem (autores), até laureados com Nobel? porque foram menosprezadas? JCC: Fui professor de economia duran-

te cerca de 20 anos e o que assisti foi a um processo de depuração do ensino da economia, isto é, uma perda progressiva de pluralismo no ensino da economia. A economia sempre foi uma ciência social que se caracterizou, como de resto as outras ciências sociais, pela sua natu-reza plural, pela coexistência de dife-rentes teorias, diferentes perspectivas, diferentes doutrinas. Provavelmente isto é uma característica do saber acerca da sociedade, existem perspectivas que são conflituantes e isso longe de ser even-tualmente um problema e um sintoma

em termos económicos há algum conjunto de medidas que possam estancar os malefícios desta crise e a médio/longo prazo revitalizar as economias mundiais?JCC: O grande problema é como evi-

tar que a crise se estenda da esfera fi-nanceira para a esfera económica. Neste momento já percebemos que vai haver efeitos de contaminação. Fala-se inclusi-vamente que grandes empresas como a General Motors que estão neste momen-to à beira de grandes dificuldades.Nós temos experiência da história que nos ensina que em circunstâncias destas em última análise o problema é de falta de procura agregada, quer dizer, nestas situações em que o sistema financeiro deixa de funcionar como é suposto, ali-mentando o crédito, proporcionando ca-pacidade de investimento às empresas e poder de compra aos particulares, o que está comprometido é a despesa, a ca-pacidade do lado da procura haver uma contrapartida para aquilo que é oferecido pelos mercados. Nestes contextos o que a experiência ensina é que é muito difícil encontrar um substituto para a despesa pública. Só que a despesa pública ne-cessariamente há-de ser financiada por divida pública, com consequências para o futuro. Pode ser dirigida de vários mo-dos possíveis, podemos estar a falar do investimento púbico clássico em obras e também do investimento público de natureza mais imaterial que passe por exemplo pela facilitação do crédito que permita a indivíduos ameaçados pelo desemprego encontrarem o seu pró-prio lugar no mercado, constituírem as suas actividades em circunstâncias de desemprego e portanto essa devia ser a grande preocupação: a crise econó-mica torna-se verdadeiramente séria a partir do momento em que se transforma em crise do desemprego, desemprego massivo. É desse desemprego massivo que é difícil sair depois de se ter entrado nele…

… apesar de já estarmos com problemas, parece que se está à espera de que se fique pior e só depois reagiremos em vez de antecipar as soluções…JCC: Eu não sou nenhum especialis-

ta nestas áreas, reconhecendo que pode haver neste orçamento que está a ser discutido na A.R. algumas medidas inte-ressantes no ponto de vista de comba-te à crise, mas no conjunto parece um orçamento desenhado como se nada se estivesse a passar. É bastante incompre-ensível para mim como é que a preocu-pação de contenção do défice continua a ser posta nos mesmos termos num con-

de subdesenvolvimento das ciências so-ciais, até é um factor de progresso do conhecimento e do enriquecimento da re-flexão da sociedade acerca de si mesma. Portanto a economia nos últimos 20 anos foi-se depurando dos seus dissidentes relativamente a uma corrente principal e ficou um mainstreaming cujo problema principal é estar sozinho. O problema não é tanto existir uma corrente designada economia neoclássica, que de resto tem uma grande tradição, o problema é ha-ver um ensino em que essa corrente não está em concorrência com outras pers-pectivas que existem…

… e aliás, para quem está de fora parece até, que quase queriam fazer parecer que a economia era uma ciência exacta e não estava no campo das outras ciências sociais …JCC: Exactamente. Essa é que é a

grande fraude: a economia apresentar-se com credenciais de ciência que lhe da-ria superioridade relativamente às outras ciências sociais. Isso é absolutamente uma fraude intelectual, que passa por uma encenação que envolve o uso de métodos matemáticos sofisticados que não são em si mesmo um problema, mas que por si só não conferem nenhuma su-perioridade científica a nenhum domínio do conhecimento e esse é o problema. Existem de facto diferentes tradições do pensamento económico. Além de uma corrente doutrinariamente liberal que tem expressão agora sobretudo na economia neoclássica e numa versão ligeiramente dissonante que é a chamada economia austríaca de um Prémio Nobel chamado Hayek, existem outras tradições. Exis-te a economia política, digamos, mar-xista, mais correctamente poderíamos falar de uma economia política crítica que, doutrinariamente, se demarque da tradição liberal e põe a questão da ex-ploração como uma questão central da nossa sociedade. Existe uma economia institucionalista ou diversas economias institucionalistas, existem diferentes tra-dições keynesianas, pós-keynesianas, neo-keynesianas, etc; existem tradições chamadas evolucionistas, que estudam a relação do crescimento económico com a inovação… Portanto, diversidade não fal-ta no pensamento económico, a questão é como essa diversidade deve ser gerida no plano do ensino. Não é fácil, mas é um problema que as outras ciências sociais sabem resolver bastante bem: a sociolo-gia, a psicologia e outras ciências sociais vivem com o seu pluralismo interno e não é por isso que confundem os alunos e não os orientam, pelo contrário, preparam--nos para pensar pela sua própria cabe-

entrevista

continuação

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ça em frente de um mapa de alternativas que lhes é dado como disponível. O que eu desejaria é que este contexto de crise pudesse ajudar a repensar a forma como a economia é ensinada. Não há qualquer dúvida de que o modo como as pessoas são educadas e aprendem, condiciona as suas práticas de uma forma muito visí-vel. Inclusivamente há trabalhos empíri-cos muito interessantes que visam testar as atitudes das pessoas face aos ganhos pessoais, que mostram que as pessoas que passaram por um processo que en-volveu o ensino da economia, estão muito mais próximas do modelo teórico chama-do Homo economicus do que o comum das pessoas. As imagens do mundo in-corporadas no chamado conhecimento científico transformam o modo como as pessoas olham para o mundo e as atitu-des que tem, portanto não há duvida que era preciso repensar.

recentemente são as vozes mais conservadoras e neoliberais que acusam o sistema capitalista de se ter tornado selvagem, ganancioso, desregulado; na pátria do neo--liberalismo (eUA) aplicaram-se receitas "socialistas"; "A festa acabou. A era dos pára-quedas dourados para altos gestores chegou ao fim" são expressões do discurso de Nancy pelosi, presidente da câmara dos representantes dos eUA.Acha que ainda é possível que o séc. XXI reencontre o caminho da eliminação das desigualdades sociais, com o estado a redescobrir o papel que quase tinha abandonado?JCC: Nós ouvimos as coisas mais ex-

traordinárias vindas das pessoas mais extraordinárias. Isso faz-me reflectir um pouco na seguinte questão: é que se nós olharmos numa perspectiva históri-ca o liberalismo económico teve inimigos muito diversificados ao longo do tempo. Existem adversários do liberalismo que o são de uma perspectiva conservadora e outros numa perspectiva emancipadora e às vezes de uns e de outros ouvimos defender um papel mais activo do Es-tado. O facto de nós vermos o Estado intervir num cenário de crise e de ca-tástrofe não é sintoma necessariamente de uma viragem emancipadora na nossa sociedade, pode ser sintoma de outras coisas bem mais preocupantes e quan-do nós olhamos para este regresso do Estado - como agora se diz - temos de nos lembrar que esse regresso é deter-minado políticamente e não sabemos de que regresso do Estado é que cada um fala quando fala do seu regresso. Não

me anima muito ver certos personagens como George Bush a embarcar em pa-cotes de 700 mil milhões para injectar na banca, porque esse tipo de intervenção do Estado provavelmente não é aquela, do ponto de vista social, compatível com a emancipação e a democracia.

Que comentário lhe sugere a afirmação recente do dr. João salgueiro de que "nunca houve lucros fabulosos na Banca portuguesa?" como é que depois de tudo o que se passou os "offshores", que detêm ¼ da riqueza privada mundial, podem continuar a ser legais?JCC: É absolutamente extraordinário!

Inclusivamente há dificuldade em dizer até que ponto é que essa afirmação é deslocada porque os lucros são tão fa-bulosos que parte deles nem sequer são mensuráveis: tudo o que passa para os off-shore nem sequer nos cabe a nós ter conhecimento. Agora, a avaliar só pela remuneração dos negócios bancários dos últimos anos, é muito difícil sustentar uma opinião desse tipo, porque se fizermos comparações simples, quer com outros sectores económicos, quer com os resul-tados passados da banca num período em que estava sujeita a uma regulação mais apertada, notamos a diferença. Nos últimos anos a esfera financeira inchou extraordinariamente e inchou à conta de taxas de remuneração absolutamente fantásticas, remuneração dos accionistas e remuneração dos gestores.

O que acha do papel, cada vez mais na ribalta económica, que a cGd, como grupo e banco público, pode (e deve) desempenhar?JCC: Só posso comentar com o co-

nhecimento que tenho e que é limitado. É evidente neste momento que quem defendeu no passado a privatização da CGD pode “meter a viola no saco” e provavelmente nos próximos anos não iremos ser confrontados com propostas desse tipo - o que é positivo - mas con-tinuamos a ser confrontados, e mais uma vez repito - a base de informação que te-nho é limitada - com algumas coisas que são um pouco estranhas. Por exemplo, o activismo da CGD no microcrédito é o que me parece que se enquadra com a fun-ção natural de um banco público: fazer o que os outros bancos eventualmente não estarão em condições de fazer. Agora o activismo da CGD na área da saúde é para mim muito mais difícil de entender. Primeiro porque é uma área cobiçada por outros bancos e que parece ser ocupada pela CGD com uma lógica semelhante, senão igual, à dos bancos que a cobi-

Prof. Dr. José Castro Caldas

çam. Sobretudo não entendo como é que uma CGD que depende de um Governo que se diz apostado em defender o SNS, aparece envolvida numa actividade que nós consideramos natural nos grupos privados, mas expressa-se como extra-ordinária quando é com um banco públi-co. Também na CGD provavelmente há uma ambivalência a resolver que passa por uma clarificação das opções políticas que nos orientam como comunidade na-cional…

… e em relação à situação do BpN, esperamos não vir a ter problemas com isso, isto é, se não aparecerão outras situações ou se só confina a esta ...JCC: Aparentemente a situação do

BPN era daquelas em que o leque de alternativas não seria tão amplo quanto isso. Evidentemente que do ponto de vis-ta da CGD é um fardo substancial, mas, eventualmente, será uma das vantagens de ter um banco publico. É poder, em si-tuações de emergência, intervir indepen-dentemente das perdas.

Gostaria de acrescentar alguma observação?JCC: Relativamente à CGD, sou tam-

bém cliente e o que me surpreende, às vezes, são algumas práticas comerciais agressivas que são praticamente compa-ráveis a outras práticas agressivas de ou-tros bancos e que são práticas que estão agora a ser contestadas. Essas práticas são efectuadas pelos chamados gesto-res de conta que se apresentam como promotores de produtos financeiros. In-clusivamente, alguns destes produtos, sabe-se agora serem de proveniência duvidosa e portanto não me parecia mal a "velha" CGD, nalguns dos seus aspectos, muitas vezes apresentados como pater-nalismo, mas que hoje em dia, à luz dos acontecimentos, surgem com uma activi-dade até pedagógica no relacionamento que as pessoas devem ter relativamente à poupança e ao consumo.

Talvez tenham sido as razões que me levaram a ser cliente da CGD: escolher um banco que tenha comigo uma relação “calma”.

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história

(DES)CONSTRUÇÃO DAIMAGEM FOTOGRÁFICA- BREvE PERCURSO DA FOTOGRAFIA

Gaspar-Felix Tournachon, de pseudónimo Nadar (1820-1910), foi eventualmente o primeiro fotógrafo com o cuidado de escrever as suas ideias, o que sentia pela fotografia, fornecendo-nos diversos apontamentos e testemunhos da sua visão - acessíveis no livro “O Primitivo da Fotografia” - onde, como exposição histórica, faz sobressair a enorme projecção, ou melhor, a sua profunda con-vicção de que a fotografia se poderia tornar num instrumento de informação e de arte, cumprindo uma função informativa, cultural e histórica, que requer exercícios de análise, uma vez que ao ne-cessitar de ser decomposta - ao nível dos seus elementos visuais - conduz-nos a múltiplos caminhos e à formulação de diversas interpretações.

Foi com Nadar, artista vocacionado para o retrato, que no início da década de 1860, começou a fotografar, seguindo uma estética romântica, músicos e escritores mais proeminentes de Paris - que decidimos recuar no tempo e ir na demanda de muitos dos Sonhos de alguns visionários. Foram eles, esses sonhadores que, com a auxílio da ciência ou/e da sorte, mas preferencialmente da determi-nação e arrojo, começaram, a partir de 1830, a alcançar e a perce-ber, com sucesso, os processos de registar momentos únicos, que hoje, tal como no passado, nos mostram como é possível reproduzir ou re-criar o que pode ser observado pelos nossos olhos ou pela nossa sensibilidade. Esses Homens, a que nos iremos referir, não se contentaram em inventar, mas antes valeram-se da sua natu-ral propensão e talento convertendo-se naturalmente em artistas, conseguindo aglutinar em torno da fotografia diversos movimentos artísticos e conferir-lhe uma multifacetada área de intervenção: do-cumental, arquitectónica, artística, foto jornalística e publicitária. Seria um erro encetar esta breve história da fotografia no século XIX, sem dar outras referências. Citemos, como exemplos, o chinês Mo-Tzum (500 a.c.), Aristóteles, que tirou proveito de uma câmara escura para examinar os eclipses solares (300 a.c.), o árabe Ibn al Haitam (1.000 d.c.), Brunelleschi (1377-1446) e Leornado da Vinci (1452-1519) que ao estudarem a imagem introduziram conceitos de composição e de perspectiva muito importantes para a fotografia, de forma a podermos ver o que nos rodeia de uma maneira narra-tiva - no sentido de exposição de factos - e figurativa - no sentido de tornar algo simbólico, representativo - sempre como imitação ou re-criação da Natureza, face à apreensão, percepção e inteligência do nosso olhar sobre o Mundo.

Depois de todo este percurso, Joseph Nicéphore Niepce funcionário público de profissão, conseguiu alcançar o que tanto desejava, o primeiro registo fotográfico desenhado pela luz, se o entendermos como imagem insusceptível de ser alterada.No entanto, este sucesso notável vem no seguimento de dez anos de extenuantes ensaios com uma câmara escura e no decurso de um método fotoquímico, no qual se colocava ácido nítrico sobre papel embebido com cloreto de prata, para fixar a imagem. Mais tarde Niepce consegue, em 1822, uma fotogravura - heliogravura - de alguns prédios que tinha a oportunidade de observar pela sua janela. Recorria ao auxílio de um verniz de asfalto - também conhe-

“Quand j'étais photograph”, ou seja, “quando eu era fotógrafo” uma frase de Nadar, nos derradeiros dias da sua vida, transporta-nos ao passado da fotografia e simultaneamente à sua evolução, ao longo do tempo.

cido por Betume da Judeia - que colocou sobre chapas de metal e pouco mais tarde sobre vidro, tendo como agente fixador uma mistura de substâncias diferentes, onde era incluído óleo extraído da essência de lavanda. De salientar ainda, que o primeiro negativo obtido por Henry Fox Talbot (1800-1877) surge no ano de 1835.

Em 1829 Niepce e Daguerre estabeleceram uma comunicação, combinaram saberes e permutaram conhecimentos, por forma a partilharem as suas descobertas, já que ambos, e ao mesmo tem-po, indagavam formas de melhorar o invento. Foi, no entanto, Da-guerre quem continuou o que haviam iniciado - a procura de mais conhecimentos que levasse ao aperfeiçoamento da então designa-da técnica heliográfica - após o falecimento, em 1833, de Niepce.

Muitas das invenções, não apenas na fotografia, tiveram o elemento sorte ou de acaso, como seus aliados. Foi um feliz acontecimento fortuito que levou à descoberta final de Daguerre quando, em 1835, ao deixar uma chapa, embebida com prata e sensibilizada com io-deto de prata dentro de um móvel – onde se veio a constatar a exis-tência de um termómetro partido – verificou, umas horas depois, que esta exibia com clareza o aparecimento de uma imagem.

Foi então imputado ao vapor de mercúrio, procedente do termó-metro partido, a razão de tal imagem se ter revelado e surgido de repente tendo sido atribuído a esse vapor de mercúrio a função de agente revelador. Em 1838, Daguerre apelidou o seu novo pro-cesso com o nome de daguerreótipo, participado e divulgado à sociedade por François Arago, no dia 7 de Janeiro de 1839, na Academia de Ciências em Paris.

Contudo, seria Josef Petzval (1807–1891), matemático húngaro na universidade de Viena, a popularizar o daguerreótipo, ao fa-bricar uma lente dupla, de abertura f:3.6, formada por elementos separados, a qual foi responsável por tornar menor o tempo de exposição, até aí exageradamente demorado. Com a diminuição, em mais de um minuto, nos tempos de exposição, virava-se uma nova página na fotografia.

Vivia-se uma época especialmente proveitosa na divulgação e aperfeiçoamento dos processos para a captura de imagens. Em Inglaterra, William Talbot, fisíco e matemático, nascido em Melbury, também reclamava a autoria da descoberta da fotografia, por inter-médio do método que ficaria célebre como calótipo.

Parte 2por Victor Garcia

Prédios em Construção (1822)Le Gras, França

- fotografia de Niepce

Joseph-Nicéphore Niepce(1765-1833)

- retratado por L.Berger

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13Nº19 | DEZEMBRO 2008 CAIXA ABERTA BolETIm InfoRmATIvo do SIndICATo doS TRABAlhAdoRES dAS EmpRESAS do GRupo CGd

Em 1900, Frank A. Brownell constrói a que viria a ser considerada a máquina mais popular da história, a Brownie (6x6). Com ela a fotografia ficou ao alcance de todos, iniciava-se um processo - que se prolonga até aos nossos dias - de massificação da fotografia. Em 1880, fabricada pela empresa R.&J. Beck emerge uma câmara de duas objectivas, com lentes ligadas entre si por forma a que o foco fosse simultâneo. Outro marco importante, nas sucessivas evolu-ções da máquina fotográfica, surge quando em 1888, A. Mckellen torna pública a primeira máquina reflex com espelho. A Leica é introduzida no mercado em 1925, com um aparelho de 35mm; em 1928, a novidade foi a Rolleiflex TLR de Franke e Heidecke; ou, após a guerra, a sueca Hasselblad, com chapas de 6x6 cm. A pri-meira Polaroid, de Edward Land, surge nos EUA em 1948.

Nos nossos dias - tempo de recurso a métodos e tecnologia digital - a referência vai para a Fairchild Electronics que constrói o primeiro CCD de 100x100 pixels, em 1974. Seria, já no entanto, durante a segunda guerra mundial que os Americanos iniciariam alguns testes para a digitalização de comunicações em mensagens crip-tografadas, o que de certa forma veio acelarar o desenvolvimento de outros processos, ferramentas e tecnologias digitais. Não será errado afirmar-se que foi no decurso da Guerra Fria que as primei-ras imagens digitais nos apareceram, mais particularmente, no pro-grama espacial norte-americano, quando a superfície de Marte, em 1965, foi filmada por uma câmara de televisão instalada a bordo da sonda Mariner 4. Em 1975, dez anos mais tarde, a Kodak exibia o primeiro modelo de uma câmara sem filme apoiada no sensor CCD da Fairchild. Aliás, seria a Fairchild - empresa norte americana de semicondutores - um ano mais tarde, a dispor da primeira câmara de CCD, designada por MV-101. No ano de 1981, a Sony tornaria pública a Mavica, de 0,3 megapixels, que guardava 50 fotografias a cores, nas novíssimas Mavipaks - disquetes de 2 polegadas, precursoras das já desactualizadas disquetes de 3½. De 1981 até aos nossos dias, o mercado tem vindo a surpreender-se com a chegada e comercialização de diversos modelos de câmaras digi-tais, de inúmeros fabricantes como a Kodak, Nikon, Canon, Epson, Sony, Olympus, entre outros.

A paixão foi tanta, desde 1826, que a fotografia assumiu um papel fulcral na história das sociedades e dos seus movimentos artísticos e culturais, não só como forma e meio de informar, di-vulgar, ou mostrar o que podia mais uma vez ser observado e sentido perante a Natureza - este último estado resultando de um conjunto de circunstâncias sensoriais que nos levam a abordar a fotografia numa perspectiva predominantemente emotiva ou artís-tica, de acordo com a interpretação pessoal e íntima que a cada um pertence - mas, simultaneamente, com o objectivo de criar um vasto público que a tornasse de todos, e não apenas do seu au-tor ou de um pequeno e elitista grupo crítico, supostamente mais informado.

No entanto, Talbot somente permaneceria na história da fotografia como o autor do sistema negativo-positivo, que possibilitava uma produção ilimitada de cópias com base no mesmo negativo (1841), dando-se início à fotografia analógica do nosso tempo, da qual já falamos. Contudo, este processo – o calótipo – viria a ser, uma vez mais, substituído quando, Gustave Le Gray, em 1850, inventa os negativos em papel encerado (1) de que resultam imagens mais nítidas, ou em 1851, quando Scott Archer inventa o método de colódio húmido, muito utilizado nos primeiros trabalhos jornalísticos do repórter de guerra Roger Fenton, inglês (1819-1869), quando este fez a cobertura documental (1855) da guerra da Crimeia. Mas tal como o sistema de Talbot, seria de prever que o de Archer ti-vesse igualmente pouco tempo de vida, perante o desenvolvimento e mudança da fotografia, o que acontecia a grande velocidade. Emerge nesse tempo, em 1871, a primeira chapa preparada ma-nualmente. O inventor, Richard Leach Maddox (1816-1902) médico inglês, ao usar uma preparação - emulsão - de gelatina e brometo de prata (1871) substitui as placas húmidas por um sistema seco, facilitando e auxiliando, profundamente, a actividade do fotógrafo, visto que este desistia de as manipular passando a comprá-las. Foi com rapidez que um grande número de empresas se incumbiu de as fornecer. Associado ao crescimento deste processo, poderemos destacar Richard Kennett, John Burgess, Hermann Wilhelm Voguel - professor em Berlim de fotoquímica - e Charles Bennett, até que surgiu, em 1882, o alemão Otto Perutz, e a Agfa AG, em 1883, e se começou a produzir definitivamente as primeiras chapas secas já com alguma qualidade.

Com o avanço deste sistema – chapa seca de gelatina – seria de esperar que também o desenvolvimento tecnológico dos apare-lhos fotográficos não parasse de prosperar, assim acontecendo: Sir David Brewster (1771-1868) em 1850, inventa um estereoscópio composto por duas lentes que possibilitava a observação de duas imagens iguais, induzindo uma sensação de tridimensionalidade aos objectos. A Eastman, em 1881, inaugurou a Eastman Dry Plate Company, para mais tarde, em 1886, o Mundo se deslumbrar com a Kodak (9,2 x 7,9 x 16,5 cm) que incluía um filme de 6,35 cm de largura. Não muito tempo depois - três anos, mais tarde - começa a ouvir-se o slogan “carregue no botão, que nós fazemos o resto”. Uma vez mais Eastman e a Kodak revolucionariam o universo foto-gráfico quando, em 1895, surge a Kodak de bolso, com o pequeno tamanho de 5,7 x 5,7 x 7,8 cm, que seria comercializada por cinco dólares, podendo-se registar doze fotografias de 3,80 x 6,35 cm.

Frederick Scott Archer(1813-1857)

William Henry Fox Talbot (1800-1877) - retratado por

John Moffat, em 1860

Evolução da máquina fotográficaRichard Leach Maddox(1816-1902)

história

(1) papel encerado: negativo preparado com com alguns dias de antece-dência à sua utilização em papel incerado, com água de arroz, iodito de potássio, mel, clara de ovo, açucar do leite e cianide de potássio, sensibi-lizado com nitrato de prata, sendo revelado com ácido gálico.

No próximo número do Caixa Aberta:"A fotografia e as correntes artísticas"

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horas livres

pASSEIo A AvEIRo - A RIA, oS molICEIRoS, AS SAlInAS ...

Os passeios de fim-de-semana organizados pelo STEC têm contribuído para um convívio muito saudável entre sócios e seus familiares.

A ria recebeu-nos num dos seus muitos braços e lá partimos, uns de Moliceiro, outros de Mercantel, à descoberta de novas paisagens e emoções.

E assim, nesta viagem, vimos a paisagem moldar-se, durante os muitos quilómetros percorridos.

As cambiantes de luz e cor conferem uma ilusão de magia. E da paisagem urbana, passámos a uma paisagem mais agreste, às vezes até de abandono. Um abandono forçado pelo avolumar das águas e, quem sabe, pelos custos da “modernidade”.

Ao longe avistámos a base aérea de S. Jacinto e o Farol da Barra. Passámos pela Gafanha e Costa Nova, terra de pesca-dores, com as suas casas muito características, de tabuinhas vermelhas, azuis e amarelas, um fascínio para os olhos.

E pudemos apreciar a beleza e elegância de algumas aves, que elegem estas paragens para nidificar ou como refúgio ameno.

De volta à cidade, e porque a azáfama da manhã não o per-mitiu, apercebemo-nos agora da beleza arquitectónica desta Região, em que predominam muitos edifícios de Arte Nova.

O almoço estava delicioso e quase não chegávamos a tempo da visita guiada para ver as salinas, agora uma pequeníssima amostra daquilo que em tempos foi uma das fontes de rendi-mento da região.

E para completar esta jornada, rumámos à Gafanha da Nazaré para visitar o Navio-Museu Santo André, antigo bacalhoeiro impregnado de sal e memórias, onde ficámos a saber mais um pouco sobre a faina da pesca do bacalhau, neste navio que, durante anos, navegou com os seus tripulantes pelas águas frias e traiçoeiras da Gronelândia, na busca do “fiel amigo”.

Um dia de sol, boa disposição e boa companhia, que esperamos poder repetir em breve...

Os participantes no passeio tiveram ainda oportunidade de recolher imensas fotos e apresentá-las ao júri do mini-concurso de fotografia. Os vencedores foram António Miguel Sousa Franco, de Atouguia da Baleia, com a foto “A luz do Sto. André” e Marta Filipa Ribeiro Martins, de Arganil, com a foto “Moliceiro”, a quem damos os parabéns. Ambos serão contemplados com a oferta do valor da inscrição no próximo passeio do STEC.

foToGRAfIAS pREmIAdAS

"A luz do Sto. André" António Miguel Sousa Franco,

Atouguia da Baleia

"Moliceiro" Marta Filipa Ribeiro Martins,

Arganil

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CAIXA ABERTA BolETIm InfoRmATIvo do SIndICATo doS TRABAlhAdoRES dAS EmpRESAS do GRupo CGd

15Nº19 | DEZEMBRO 2008 CAIXA ABERTA BolETIm InfoRmATIvo do SIndICATo doS TRABAlhAdoRES dAS EmpRESAS do GRupo CGd

protocolos

DESCONTOS E CONDIÇÕES ESPECIAISPARA ASSOCIADOS DO STEC

Apresentamos os novos protocolos estabelecidos entre o STEC e outras entidades.

Para qualquer esclarecimento complementar é favor contactar a Sede, em Lisboa, ou as

Delegações de Coimbra e Porto.

ensino privado de informática

desporto e saúde

turismo

dIrmÁTIcA - centro de Formação profissional, Lda Rua 1º de Maio, nº 48-B Edifício Império 1885-068 MOSCAVIDEE-mail. [email protected] www.dirmatica.com

A Dirmática Lda, concede aos sócios e funcionários do STEC, bem como aos seus cônjuges, ascendentes e descendentes, nos cursos de Línguas e Informática, os seguintes descontos:

- 10% nos cursos intensivos - 10% nos cursos anuais. - 50% nas taxas de inscrição.

AcTIVeLIFe Wellness clubs Rua Joaquim Rocha Cabral, 26 Quinta dos Barros 1600-075 LISBOA www.activelife.pt

A Active Life concede aos nossos sócios, colabo-radores e familiares directos, um desconto de 10% sobre o valor da quota individual total praticada ao público em geral.

Esta quota anual poderá ser paga no início da actividade ou desdobrada em 12 pagamentos mensais por débito directo.

O certificado de adesão, a adquirir aquando da inscrição, estará sujeito a um desconto mínimo de 50% relativamente ao valor da tabela em vigor.

HOTeL dO TerÇOR. de São Bento, 7 4750-267 BARCELOS Tel. 253 808 380Fax. 253 808 383Reservas. [email protected]

O Hotel do Terço proporciona aos sócios do STEC e seus familiares, os seguintes descontos sobre o preço de tabela:

- 15% Desconto no Regime de Alojamento e Pequeno Almoço.

Sede STEC - LISBOA Largo Machado de Assis, Lote-A, 1700-116 LISBOAtel 21 845 4970/1 - móv 96 231 1720, 91 849 6124fax 21 845 4972

Delegação STEC - PORTOR. do Bolhão, nº 53 - 4º Dto, 4000-112 PORTOtel 22 338 9076, 22 338 9128 - fax 22 338 9348

Delegação STEC - COIMBRAR. do Carmo, nº 54 - 3º Letra Q, 3000-098 COIMBRAtel 23 982 7686, 23 982 8554 - fax 23 982 6802

www.stec.pt e-mail : [email protected]

Para mais informações sobre os protocolos existentes, consulte

o livro de protocolos, ou visite a página de

internet do STEC.

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16 CAIXA ABERTA BolETIm InfoRmATIvo do SIndICATo doS TRABAlhAdoRES dAS EmpRESAS do GRupo CGd

Gestor/a de cliente é uma função/categoria recente na actividade bancária. Foi sendo aperfeiçoada, tendo cada um/a mais ou menos 300 clientes, identificados como preferenciais (azuis) pela carteira de activos e/ou passivos acima de um certo montante.

O cliente é atendido em áreas especiais, escondidas ou afas-tadas dos outros clientes, tem ligação directa com o gestor pela CaixaOnline ou pelo telemóvel. Quem tem gestor/a tem quase tudo, parece ser o que nos diz o recente spot televisivo da CGD, Gestor/a 24 horas.

No anúncio, o cliente sai da Agência, não sabemos as ho-ras (mas sabemos que muitas vezes os gestores atendem/permanecem/trabalham muito para além do horário legal, recebendo apenas o equivalente a 1 hora de isenção de ho-rário). Como ficou uma operação pendente de execução ou aprovação o cliente vai à sua vida, pois, porque a vida está lá fora à espera. Vai buscar a filha à escola, brinca com o filho em casa, vai a um evento cultural, etc. Vai viver. Entretanto,

alguém está a trabalhar para ele - 24 horas - diz o anúncio. No sossego da sua residência o cliente recebe o e-mail ou o SMS a confirmar que o seu financiamento foi aprovado!

Maravilha! Tínhamos já e temos um serviço Internet banking 24 horas, que é assegurado por turnos de trabalhadores. Mas não sabíamos (e os gestores também não sabem) que há gestores/clones/cyborgs? que depois do horário de trabalho ficam a des-pachar serviço. Ou será que é no meio da papa da criança, da muda da fralda e outras actividades privadas que o/a gestor/a vai comunicar com o cliente?

Melhor seria que aplicassem estas verbas a remunerar melhor estes trabalhadores. E que os clientes não tivessem de espe-rar dias a fio por despachos da cadeia hierárquica (gerentes/directores)…

Haja paciência para estes publicitários… que sempre foram exagerados, mas não vá neste caso a ficção anunciar a realidade...!

insólito

e-mail : [email protected]

Sede STEC - LISBOA Largo Machado de Assis, Lote-A, 1700-116 LISBOAtel 21 845 4970/1 - móv 96 231 1720, 91 849 6124 fax 21 845 4972

Delegação STEC - PORTOR. do Bolhão, nº 53 - 4º Dto, 4000-112 PORTOtel 22 338 9076, 22 338 9128fax 22 338 9348

Delegação STEC - COIMBRAR. do Carmo, nº 54 - 3º Letra Q, 3000-098 COIMBRAtel 23 982 7686, 23 982 8554fax 23 982 6802

Boletim Informativo Caixa Aberta Nº 19 , Dezembro de 2008 - Periodicidade: Trimestral - Tiragem: 6500 ExemplaresDirecção e Redacção: Departamento de Comunicação do STEC - Concepção Gráfica: Hardfolio - Impressão: M2-Artes Gráficas, Lda.

estes publicitários são uns exagerados!...