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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE FACULDADE DE CIENCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE PSICOLOGIA Análise do comportamento de críticas a reportagens sobre o tema célula-tronco: respostas dos leitores e inter-leitores Luciana Chequer Saraiva Orientador: João Carlos Muniz Martinelli Governador Valadares 2008
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Análise do comportamento de críticas a reportagens sobre ...srvwebbib.univale.br/pergamum/tcc/Analisedocomportamentodecriticas... · sobre o tema célula-tronco: respostas dos leitores

Nov 08, 2018

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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE

FACULDADE DE CIENCIAS HUMANAS E SOCIAIS

CURSO DE PSICOLOGIA

Análise do comportamento de críticas a reportagens

sobre o tema célula-tronco: respostas dos leitores e

inter-leitores

Luciana Chequer Saraiva

Orientador:

João Carlos Muniz Martinelli

Governador Valadares

2008

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LUCIANA CHEQUER SARAIVA

Análise do comportamento de críticas a reportagens

sobre o tema célula-tronco: respostas dos leitores e

inter-leitores

Monografia para obtenção do grau de bacharel em Psicologia, apresentada à Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Vale do Rio Doce. Orientador: João Carlos Muniz Martinelli

Governador Valadares

2008

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LUCIANA CHEQUER SARAIVA

Análise do comportamento de críticas a reportagens

sobre o tema célula-tronco: respostas dos leitores e

inter-leitores

Monografia apresentada como requisito para obtenção do grau de bacharel em Psicologia pela Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Vale do Rio Doce

Governador Valadares, ___ de ____________ de _____.

Banca Examinadora:

__________________________________________ Prof: Msc. João Carlos Muniz Martinelli- Orientador

Universidade Vale do Rio Doce

__________________________________________ Prof. Msc. Marco Antônio Amaral Chequer

Universidade Vale do Rio Doce

___________________________________________

Profa. Tatiana Amaral Nunes

Universidade Vale do Rio Doce

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Dedico este trabalho ao meu querido orientador

João Carlos que me proporcionou contingências

maravilhosas para o meu aprendizado como

profissional da Psicologia. Obrigada coração!

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Agradecimentos

Sempre e incansavelmente irei agradecer primeiro a Cristo por tudo o que

acontece em minha vida. Toda a minha vida e todas as minhas conquistas, cada

passo que dou é consagrado a Ele. Porque por Ele e para Ele eu vivo.

Em seguida a toda a minha família, em especial aos meus pais que sempre

me apoiaram e me deram oportunidades incríveis para o meu crescimento pessoal e

profissional.

A Jefinho meu querido, companheiro, meu amor e melhor amigo.

Ao Tio Marquinho pelo carinho e disponibilidade sempre que precisei, meu

exemplo de competência profissional.

A João Carlos pelo carinho, paciência e pelo conhecimento compartilhado

sempre com muita empolgação e ética.

A Prof. Tatiana Nunes por ter aceitado meu convite tão docemente.

A todos os meus professores que contribuíram para meu crescimento

intelectual.

E, aos meus colegas de classe pelas alegrias compartilhadas durante todos

estes anos.

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SARAIVA, LUCIANA CHEQUER Análise do comportamento de críticas a reportagens sobre o tema célula-tronco: respostas dos leitores e inter-leitores. Trabalho de Conclusão de Curso do curso de psicologia da Universidade Vale do Rio Doce. 2008, xxpp. Orientador: Prof. João Carlos Muniz Martinelli.

Resumo

O presente trabalho tem como objetivo Analisar o comportamento de críticas a reportagens sobre células-tronco embrionárias sob a ótica da análise do comportamento. Foram levantados os comentários disponíveis no site Folha On-line sobre células-tronco, a freqüência total de comentários por mês, julgou-se o conteúdo dos comentários quanto à opinião favorável ou contra a aprovação da lei de Biossegurança de maio de 2008, classificou-se o conteúdo dos comentários quanto ao método, tratamento, ética e técnica do uso das células-tronco em pesquisas e terapias, analisou-se o comportamento de conhecer nos comentários, observando a demonstração do “saber sobre” o tema células – tronco embrionárias e por fim analisou-se o comportamento do leitor e inter-leitores sob a perspectiva de aprovação(reforçamento), reprovação(punição), reforçamento negativo(o que deveria fazer para evitar a punição). O site Folha on-line foi escolhido como fonte para esta pesquisa. Este site pode ser acessado pelo portal (www.folhaonline.com.br). É um site jornalístico que disponibiliza o acesso a publicações anteriores em parte. Do total de 690 comentários de todo o site, observou-se uma freqüência maior de respostas nos meses de março, abril e maio. A partir do mês de junho a freqüência de respostas diminui consideravelmente. Os meses que foram analisados a freqüência total de comentários foram os meses de março a setembro de 2008 e os meses que foram retirados os setenta comentários para análise foram de março a junho de 2008. Os resultados mostraram que o mês em que houve maior emissão de respostas foi o mês de março (n= 358), época em que começou a ser divulgada a possibilidade de aprovação da Lei de Biossegurança. Em seguida, dos setenta comentários analisados, as opiniões a favor (n=47) prevaleceram. De acordo com as categorias método, técnica, tratamento e ética analisadas, a ética prevaleceu nas opiniões (n= 50). Concluiu-se que os internautas respondem muito mais de acordo a sua história de valores no momento de emitir suas opiniões, bem como a internet se mostrou um ambiente propício para a interação das pessoas mesmo distantes geograficamente, e o quanto a mídia demonstrou ser uma agência de controle ativa sobre os leitores.

Palavras-chave: Comportamento verbal, mídia, análise do comportamento, células-tronco embrionárias.

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ABSTRACT

This paper aims to analyze the behavior of the critical reports on embryonic stem cells from the viewpoint of behavior analysis. We raised the comments available on the site Folha Online on stem cells, the total frequency of comments a month, dismissed the entire contents of the comments about the favorable opinion or against approval of the Biosafety Law of May 2008, classified - whether the content of the comments about the method, treatment, ethics and technical use of stem cells in research and therapy, analyzed the behavior is to know in the comments, noting the demonstration of the "know about" the theme cells - embryonic stem and It was finally examined the behavior of the reader and inter-readers from the perspective of approval (reinforcement), disapproval (punishment), reinforcing negative (what you should do to avoid punishment). The site Folha Online was chosen as a source for this research. This site can be accessed by the portal (www.folhaonline.com.br). It is a journalistic site that provides access to previous publications in part. Of the total 690 comments from around the site, there was a higher frequency of responses in the months of March, April and May. From the month of June the frequency of responses decreased considerably. The months that have been analyzed the frequency of total comments were the months of March and September 2008 and the months that the seventy comments were taken for analysis were from March to June 2008. The results showed that the month in which there was greater issue of responses was the month of March (n = 358), season where it was disclosed the possibility of approving the Law on Biosafety. Then, the seventy comments analyzed, the views in favor (n = 47) prevailed. According to the categories method, technique, treatment and analyzed ethics, ethics prevailed in the reviews (n = 50). It was concluded that Internet users respond much more in accordance to its history of values at the time of issuing their opinions as well as the Internet was an environment conducive to the interaction of people even geographically distant, and how the media proved to be an agent of active control over the players. Key words: verbal behavior, media, behavior analysis, embryonic stem cells.

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ______________________________________________________________ 5

RESUMO ________________________________________________________________________ 6

1.APRESENTAÇÃO _______________________________________________________________ 9

2.OBJETIVO ____________________________________________________________________11

2.1.GERAL ______________________________________________________________________11 2.2.ESPECÍFICOS__________________________________________________________________11

3. REVISÃO DA LITERATURA ______________________________________________________12

3.1. A INTERNET_________________________________________________________________12

3.2. COMPORTAMENTO VERBAL E PRÁTICAS CULTURAIS ___________________________19

3.2. COMPORTAMENTO SOCIAL _________________________________________________29

3.3. COMPORTAMENTO VERBAL E MÍDIA__________________________________________38

3.4. O QUE SÃO CÉLULAS-TRONCO? _____________________________________________48

4.MÉTODO _____________________________________________________________________56

4.1. FONTE _____________________________________________________________________56 4.2. SOBRE A ANÁLISE DOS DADOS _______________________________________________56

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO____________________________________________________60

7. CONCLUSÃO ________________________________________________________________81

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ________________________________________________85

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1. Apresentação

O presente trabalho baseia-se numa coleta de dados realizada através do site

Folha On-line, uma versão na internet da Folha de São Paulo. Este trabalho foi

realizado diretamente no portal que pode ser acessado pelo site

www.folhaonline.com.br. As informações coletadas foram os comentários dos

leitores das reportagens no referido site. Em todo o portal é possível opinar sobre as

matérias ali publicadas. Neste caso, foi escolhido o tema células-tronco

embrionárias, sua utilização em pesquisas e terapias e aprovação de leis para a

regulamentação do seu uso. A partir deste tema foram selecionados todos os

comentários feitos entre os meses de março a junho de 2008.

A análise do comportamento e suas teorias tem sido de grande importância

para o estudo dos comportamentos em geral. Em se tratando do comportamento

verbal, a vertente de análise proporciona conhecimentos muito novos e de grande

valor para o estudo da linguagem e de todas as questões que envolvem este

complexo comportamento do ser humano que é se comunicar através da fala, da

escrita ou até mesmo através de sinais.

É verdade que ainda há muito que se estudar em relação ao comportamento

verbal humano, porém Skinner deixou uma ampla discussão e construções

científicas interessantes para esta investigação.

A visão da interação via internet é bastante contemporânea e nos proporciona

uma área ampla a ser estudada a finco pelos cientistas atuais. Contudo, há vários

trabalhos com o foco na mídia e em outros meios de comunicação de massa que

unem as sociedades e suas práticas culturais.

Para a investigação procedeu-se a revisão da literatura abordando os

seguintes temas: comportamento verbal, práticas culturais, comportamento social e

mídia.

Com este estudo objetiva-se analisar o comportamento de conhecer dos

leitores e interleitores ao fazerem seus comentários sobre determinado assunto;

como estas pessoas informam seus conhecimentos e de que maneira exploram a

assunto abordado.

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A metodologia utilizada foi a pesquisa documental, quali-quantitativa, que

parte da coleta de dados em um site da internet procurando observar a emissão de

respostas dos internautas como objeto de pesquisa.

Pretende-se responder então o seguinte problema de pesquisa: é possível

analisar respostas de internautas emitidas via internet numa visão behaviorista do

comportamento?

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2.Objetivo

2.1.Geral

Analisar o comportamento de críticas a reportagens sobre células-tronco

embrionárias sob a ótica da análise do comportamento.

2.2.Específicos

1. Levantar comentários disponíveis no site Folha On-line sobre células-tronco.

2. Levantar a freqüência de comentários/mês.

3. Julgar o conteúdo dos comentários quanto à opinião favorável ou contra a

aprovação da lei de Biossegurança de maio de 2008.

4. Classificar o conteúdo dos comentários quanto ao método, tratamento, ética e

técnica do uso das células-tronco em pesquisas e terapias.

5. Analisar o comportamento de conhecer nos comentários, observando a

demonstração do “saber sobre” o tema células – tronco embrionárias.

6. Analisar o comportamento do leitor e inter-leitores sob a perspectiva de

aprovação(reforçamento)-reprovação(punição)-reforçamento negativo(o que

deveria fazer para evitar a punição).

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3. Revisão da literatura

3.1. A internet

A Internet tem revolucionado o mundo dos computadores e das

comunicações como nenhuma invenção foi capaz de fazer antes. A invenção do

telégrafo, telefone, rádio e computador prepararam o terreno para esta nunca antes

havida integração de capacidades. A Internet é, de uma vez e ao mesmo tempo, um

mecanismo de disseminação da informação e divulgação mundial e um meio para

colaboração e interação entre indivíduos e seus computadores, independentemente

de suas localizações geográficas (Internet Society, disponível em:

http://www.isoc.org/internet/history/brief.shtml, acessado em: 20/11/08).

O Conselho Federal Networking (FNC) (Disponível em:

www.nitrd.gov/archive/fnc-material.html, acessado em 20/11/08) foi fretado pelo

Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia da Comissão da Computação,

Informação e Comunicações (CCMI) para atuar como um fórum de colaboração

entre as redes para satisfazer as suas agências federais de investigação, educação

e missões operacionais e metas a completar o fosso entre as redes avançadas de

tecnologias a serem desenvolvidas por agências de investigação FNC e a última

versão da aquisição de maturidade dessas tecnologias no setor comercial. No dia

24 de outubro de 1995, o Conselho Federal Networking norte-americano aprovou

por unanimidade uma resolução definindo o termo Internet. Esta definição foi

desenvolvida em consulta com membros da Internet e comunidades de direitos da

propriedade intelectual e diz o seguinte: Internet se refere ao sistema de informação

global que (1) é logicamente ligado por um endereço único global baseado no

Internet Protocol (IP) ou suas subseqüentes extensões; (2) é capaz de suportar

comunicações usando o Transmission Control Protocol/Internet Protocol (TCP/IP)

ou suas subseqüentes extensões e/ou outros protocolos compatíveis ao IP; e (3)

provê, usa ou torna acessível, tanto publicamente como privadamente, serviços de

mais alto nível produzidos na infra-estrutura descrita.

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O uso da internet nos dias de hoje se torna cada dia mais comum. Este

sistema de comunicação, entretenimento e interação é utilizado em todo o mundo e

acessível à maioria das pessoas. As estatísticas sobre bens e serviços que

contribuem para o acesso à informação e comunicação são instrumentos valiosos

para subsidiar o planejamento nacional e as políticas públicas voltadas para o

desenvolvimento tecnológico do País. Os avanços das tecnologias da informação e

das comunicações – TIC - vêm-se refletindo em todo o mundo, embora com

intensidade diferenciada em função do nível de desenvolvimento das sociedades ou

de outros fatores (políticos, culturais, etc.). Tendo em vista o impacto dessas

tecnologias como fatores propulsores do desenvolvimento econômico e social dos

países, cada vez mais se torna necessário acompanhar a sua evolução (PNAD,

2005).

De acordo com publicação da UNESCO em 2005 sobre o programa

“Educação para todos: Garantir o acesso universal a educação e a tecnologias de

informação e comunicação” desde 1980 o Programa Internacional para o

Desenvolvimento da Comunicação (IPDC) assiste aos países em desenvolvimento

a reforçarem as suas capacidades de comunicação e melhorar a formação nesta

área. O novo programa intergovernamental "Informação para Todos" (IFAP), criado

em janeiro de 2001 como uma plataforma de reflexão e de ação para ajudar a

reduzir o fosso digital, será um instrumento complementar para esta finalidade:

prevê-se a fornecer um quadro de referência e ajudar a definir as principais linhas de

ação neste campo. Cooperação entre IPDC e IFAP vai ser reforçado para

assegurar uma utilização ótima dos recursos disponíveis.

A globalização e as TIC afetam a livre circulação de idéias e de acesso

universal à informação em duas maneiras. Primeira, há novas ameaças e perigos

decorrentes da utilização dos novos meios de comunicação, tais como incitamento à

violência, a intolerância e o ódio ou um aumento do cyber-crime. Além do mais, o

aumento da concentração e crescente número de mega-fusões entre grandes

companhias de mídia pode muito bem levar a restrições à liberdade de expressão e

de pensamento nos limites e para a livre circulação de idéias e de acesso à

informação. Segundo, pela multiplicação das oportunidades de ligação entre

indivíduos e comunidades e por facilitar o acesso às informações, idéias e

conhecimentos as TIC podem permitir a estes grupos Superar a exclusão e escapar

de seu isolamento. Da mesma maneira, aumentar e alargar as TIC há

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possibilidades para a participação dos cidadãos nos governos e os processos de

decisão. O papel da UNESCO será intelectual para promover a cooperação

internacional e para mobilizar a opinião do mundo público e de todos os seus

parceiros para a promoção e defesa da liberdade de expressão e o direito à

informação - que está intimamente ligado ao direito à educação. Para este fim, a

UNESCO irá promover o formulação de princípios universalmente reconhecidos e

comum de normas éticas relacionadas ao uso das TIC. Neste contexto, a

Organização incidirá sobre os seguintes sub-objetivos: Promover a liberdade de

expressão, liberdade de imprensa e o pluralismo e a independência dos meios de

comunicação.

O sistema de pesquisas domiciliares, implantado progressivamente no Brasil

a partir de 1967, com a criação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios -

PNAD, tem como finalidade a produção de informações básicas para o estudo do

desenvolvimento socioeconômico do País. Trata-se de um sistema de pesquisas por

amostra de domicílios que, por ter propósitos múltiplos, investiga diversas

características socioeconômicas, umas de caráter permanente nas pesquisas como

as características gerais da população, de educação, trabalho, rendimento e

habitação, e outras com periodicidade variável, como as características sobre

migração, fecundidade, nupcialidade, saúde, nutrição e outros temas que são

incluídos no sistema de acordo com as necessidades de informação para o País. Em

2005, o levantamento suplementar foi sobre acesso à Internet e posse de telefone

móvel celular para uso pessoal.

De acordo com pesquisa do IBGE foi investigado o local em que as pessoas

acessam à Internet e os resultados mostraram que 52,4% dos internautas utilizaram

mais de um deles no período de referência dos últimos três meses de 2005. No total

de pessoas que utilizaram a Internet metade (16,1 milhões) acessou no domicílio em

que morava e 39,7% em seu local de trabalho. O uso da Internet em centro público

de acesso gratuito foi o que apresentou o menor percentual (10,0%), representando

menos da metade do referente à utilização em centro público de acesso pago

(21,9%). O acesso em estabelecimento de ensino atingiu 25,7%.

De acordo com esta mesma pesquisa, os usuários da Internet se distinguiram

sensivelmente, em termos de várias características (tais como, idade, nível de

instrução, rendimento etc), ao se considerar as finalidades do acesso a esta rede. A

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mais alta idade média foi a das pessoas que usaram a Internet para efetuar

transações bancárias e financeiras (35,8 anos), vindo em seguida a das que a

acessaram para interagir com autoridades públicas ou órgãos do governo (35,1

anos) e comprar ou encomendar bens ou serviços (34,2 anos). Essas três idades

médias ficaram sensivelmente distanciadas daquelas das pessoas que acessaram

para as demais finalidades. A menor idade média foi a das pessoas que utilizaram a

Internet para atividades de lazer (24,8 anos). Em todas as finalidades, as idades

médias das mulheres ficaram um pouco abaixo das referentes aos homens.

O IBGE (2005) ainda mostrou que não ter acesso a microcomputador era o

principal motivo para não utilizar a rede. A impossibilidade de acesso ao

microcomputador foi o principal motivo alegado pelas pessoas que não utilizaram a

Internet (37,2%). Entre os estudantes, não acessaram a rede por esta razão

aproximadamente metade deles (50,6%). A parcela das pessoas que não usaram a

Internet por não acharem necessário ou por não quererem ficou em 20,9% e a das

que não sabiam utilizar a rede, em 20,5%. Entre as três principais razões para a

não-utilização citadas acima, os maiores percentuais foram registrados no Distrito

Federal (51,6% alegaram não ter acesso a microcomputador); Santa Catarina

(28,7% não acharam necessário ou não queriam), e no Amazonas (41,3% não

sabiam utilizar). A parcela de pessoas que não utilizaram a Internet devido ao alto

custo dos microcomputadores alcançou 9,1%.

Conforme atesta o IBGE, e de acordo com dados do PNAD 20051,

“... Vinte e um por cento (32,1 milhões) da população de 10 anos

ou mais de idade acessaram pelo menos uma vez a Internet em

algum local - domicílio, local de trabalho, estabelecimento de

ensino, centro público de acesso gratuito ou pago, domicílio de

outras pessoas ou qualquer outro local - por meio de

microcomputador...”

E ainda,

“... Dentre os 32,1 milhões de pessoas que acessaram a

Internet, em 2005, a maior parte era de homens(16,2 milhões),

tinha entre 30 a 39 anos (5,8 milhões), 13,9 milhões eram

1 Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios/2005.

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estudantes, 20 milhões integravam a população ocupada e 4,2

milhões era de trabalhadores de serviços administrativos...” 2

Número de usuários de internet no Brasil

Ano Número de usuários

1991 5000

1992 20000

1993 40000

1994 60000

1995 170000

1996 740000

1997 1310000

1998 2500000

1999 3500000

2000 5000000

2001 8000000

2002 14300000

2003 18000000

2004 22000000

2005 32129971

Fonte: United Nations – Undata3.

No ano de 2005, estimava-se que o número de usuários de internet no mundo

chegava a 407 milhões ao final do ano 2000, excedendo em 2005 a 1 bilhão de

usuários (UNESCO, 2005).

2 IBGE contou 32,1 milhões de usuários da internet no país. Disponível em

http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=846; acesso em novembro de 2008. 3 In: http://data.un.org/Data.aspx?q=internet&d=CDB&f=srID%3a29972

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A PNAD Internet mostrou, também, que a maior parte dos internautas

acessou a rede pelo menos uma vez por semana, mas não todo dia (47,3%); mais

de um terço (36,3%) pelo menos uma vez por dia; 11,7% pelo menos uma vez por

mês, mas não toda semana. Os percentuais de usuários da Internet que a utilizaram

pelo menos uma vez ao dia foram maiores no Centro-Oeste (39,6%), Sudeste

(38,6%) e Sul (37,7%); e menores nas regiões Norte (26,2%) e Nordeste (27,6%). As

Unidades da federação que apresentaram os menores percentuais de pessoas que

a acessaram a rede com mais intensidade (pelo menos uma vez por dia) foram o

Piauí (16,7%), Amapá (17,4%) e Roraima (18,8%). No outro extremo e destacado

dos resultados das demais unidades da federação, situou-se esse indicador do

Distrito Federal (47,8%).

De acordo com Félis (2008), com o advento da internet e as profundas

mudanças sócio-culturais que ela vem causando alguns conceitos aos quais se

estava acostumado vêm se modificando. As concepções de constituição dos

saberes também sofrem com tais mudanças, pois, como afirma Marcuschi (2004

apud FÉLIS, 2008) “a internet é uma espécie de protótipo de novas formas de

comportamento comunicativo”.

Pela importância que se atribui à consideração da estrutura discursiva da

interação face-a-face, também é importante que se busque compreender de que

forma a interação on-line acontece e em que consiste a sua influência nos discursos

diários, a tal ponto que se acaba por desafiar as noções tradicionais de discurso e

interação (FÉLIS, 2008).

O mundo dos computadores e da internet vem revolucionando a forma de

interação entre os homens de uma maneira como a televisão e o rádio fizeram em

suas épocas, porém, parecendo que com uma maior abrangência. A produção e

distribuição de conhecimento tornaram-se rápidas e eficazes, levando a milhares de

pessoas informações que só chegariam a alguns lugares com algum atraso (FÉLIS,

2008).

De acordo com Félis (2008), os inúmeros recursos que proporcionam ao

usuário, as diversas formas de interação e fascínio do acesso ilimitado aos

acontecimentos mundiais possibilitados por um “click”, criam e aumentam a

necessidade do homem em dominar essa ferramenta de mediação que tem

proporcionado novas formas de comunicação e interação.

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Diferente da interação face-a-face, a interação virtual ocorre entre

interlocutores geograficamente dispersos que, apesar de utilizarem a forma escrita

como meio de comunicação, realizam suas “trocas conversacionais” (MARCUSCHI,

2000 apus FÉLIS, 2008), com uma velocidade que chega a se assemelhar aos

rituais conversacionais. A diferença nas trocas de “turnos virtuais” com as trocas

face-a-face estaria no fato de que aqueles são do tipo escreva-uma-vez-e-seja-lido-

para-sempre pois, enquanto as palavras usadas na conversação desaparecem

depois que são ditas ou se esvaem da memória, nas trocas on-line, ao contrário, o

formato das interações virtuais podem ser gravadas a qualquer momento (FÉLIS,

2008). Este seria um dos motivos para que a escrita on-line proporcione ao cientista

uma oportunidade de medir e de se pesquisar variáveis verbais nesse tipo de

interação.

A Internet hoje é uma larga infra-estrutura de informação, o protótipo inicial do que é

freqüentemente chamado a Infra-Estrutura Global ou Galáxica da Informação. A

história da Internet é complexa e envolve muitos aspectos - tecnológicos,

organizacionais e comunitários. E sua influência atinge não somente os campos

técnicos das comunicações via computadores mas toda a sociedade, na medida em

que usamos cada vez mais ferramentas on-line para fazer comércio eletrônico,

adquirir informação e operar em comunidade (Internet Society, disponível em:

http://www.isoc.org/internet/history/brief.shtml, acessado em: 20/11/08).

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3.2. Comportamento verbal e práticas culturais

Segundo Snow (1977 apud BAUM, 1999) o comportamento verbal começa a

ser reforçado desde muito cedo quando ainda se é bebê. A autora notou que o

comportamento da mãe conversando com o bebê é estímulo discriminativo para o

bebê. Durante os primeiros meses de vida, a criança era estimulada pela mãe. Esta

conversava com o bebê numa determinada freqüência estimulando seus sentidos.

Por volta dos sete meses de idade a interação desses bebês havia aumentado

consideravelmente. Este estudo mostrou o quanto a interação verbal entre mãe e

filho pode aguçar os sentidos do bebê se estimulado desde cedo, produzindo, assim,

uma interação maior do bebê com o mundo que o cerca.

O Comportamento verbal é um tipo de comportamento operante. Podemos

dizer que são atos de comunicação. A comunicação é um processo de produção e

compartilhamento de significados por meio da materialização de signos. Todo

processo de comunicação possui um emissor, um receptor e uma mensagem, e tal

processo é bem sucedido quando o receptor compreende adequadamente a

mensagem transmitida pelo emissor, ou em outras palavras, quando um mesmo

significado é compartilhado pelo emissor e pelo receptor. Comunicar, portanto, é

fazer o receptor compreender adequadamente o significado de uma mensagem

(FILHO, 2008).

Porém, comunicação seria a categoria mais ampla porque todo

comportamento verbal poderia ser chamado de comunicação, mas nem toda

comunicação é um comportamento verbal. O comportamento verbal em si depende

exclusivamente de suas conseqüências, por ser um tipo de comportamento

operante, e, como tal, tende a ocorrer apenas no contexto em que há probabilidade

de ser reforçado (BAUM, 1999).

Outro aspecto importante do comportamento verbal é a exigência de duas

pessoas categorizadas como falante e ouvinte. O importante da interação entre

ambos é o reforço dispensado pelo ouvinte, o que irá qualificar se o comportamento

verbal do falante foi realmente satisfatório, ou não (BAUM, 1999).

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De acordo com Skinner (1978), no seu clássico livro O comportamento

Verbal,

“o falante é o organismo que se engaja num comportamento verbal ou que o executa. É também um lugar no qual certo número de variáveis se reúne numa única confluência para produzir também um comportamento único” (SKINNER, 1978, p. 373)

Para Skinner (1978) comportamento verbal é um operante modelado e

mantido por conseqüências mediadas por outros. Poderia ser explicado pela

descrição de relações funcionais entre organismo e ambiente.

De acordo com Glenn (1986), o comportamento verbal é uma ligação

fundamental entre contingências e metacontingências, ao menos de dois modos.

Primeiro, o comportamento verbal em forma de regras preenche o vácuo existente

entre o comportamento e a conseqüência em longo prazo. Isto é, o comportamento

verbal possibilita que um ato único, a declaração de uma regra, ocorra em resposta

a eventos amplamente dispersos no tempo. Como um estímulo discriminativo a

regra deve então fazer parte da contingência de reforçamento que gera e mantém

comportamento, que não ocorreria na sua ausência. O segundo modo como o

comportamento verbal participa das metacontingências, é quando o reforçamento

social fornece as conseqüências que mantém o comportamento sob controle das

regras, até o momento em que as conseqüências em longo prazo possam ser

distinguidas.

Stemmer procura ampliar o alcance da explicação skinneriana descrevendo

processos de aprendizagem relacional e sintático-gramatical em termos do

estabelecimento de discriminações e generalizações, enfatizando o papel de ouvinte

como condição necessária à aprendizagem do falante (STEMMER, 1992 apud

BRINO & SOUZA, 2005).

Comportamento verbal compreende eventos concretos; quando se fala em

linguagem há uma série de conceitos que não se adaptariam ao conceito de

comportamento verbal. A linguagem tem um caráter de coisa, algo que a pessoa

adquire e possui. Os psicólogos falam de “aquisição da linguagem” por parte da

criança. As palavras e sentenças que compõem uma língua são chamadas

instrumentos usados para expressar significados, pensamentos, idéias, proposições,

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emoções, necessidades, desejos e muitas outras coisas que estão na mente do

falante (Skinner, 1993).

Linguagem seria então uma abstração. O uso de uma linguagem seria

exatamente o próprio comportamento verbal. Há um ponto em comum entre o

comportamento verbal, o uso da linguagem e o comportamento vocal, mas não

significa que não existam exceções (BAUM, 1999).

Algumas noções de comportamento verbal se diferenciam das concepções

usuais de linguagem e fala; o comportamento verbal consiste em atos que

pertencem a classes operantes definidas funcionalmente e sujeitas a controle de

estímulo (BAUM, 1999).

Skinner categorizou o comportamento verbal em operantes verbais

elementares, o responder relacional e os operantes verbais de segunda ordem. Os

operantes verbais elementares são representados pelo comportamento ecóico

(comportamento verbal controlado por estímulo auditivo antecedente produto da

resposta verbal de outrem, também audível); comportamento de copiar (o

antecedente seria um texto escrito ou impresso e o produto da resposta seria o

mesmo); comportamento de ditado (o antecedente seria um estímulo auditivo

produto da resposta vocal de alguém e que controlaria uma resposta escrita); e o

comportamento intraverbal (estímulo verbal antecedente controla uma resposta

verbal). A conseqüência social responsável pela manutenção e estabelecimento

desses tipos de operantes verbais seria o reforço generalizado (BRINO e SOUZA,

2005).

Outras duas classes de operantes verbais foram também definidas: o mando

e o tacto. O tacto apresentaria como estímulo controlador antecedente um estímulo

não-verbal em que a resposta refere-se a ou descreve diretamente o seu evento

controlador. O mando teria sua análise funcional vinculada a estímulos aversivos ou

condições de privação; neste caso, dada uma estimulação aversiva presente, a

resposta verbal apontaria um reforçador específico (BRINO e SOUZA, 2005).

Com relação ao responder relacional, trata-se aqui da aprendizagem de

estruturas gramaticais, a produção de novas estruturas que demonstram a

recombinação de componentes, o tatear ações etc. Esse tipo de operante verbal

pode ser controlado por eventos ambientais cujas propriedades de controle não

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podem ser determinadas em termos das características formais desses eventos

(BRINO e SOUZA, 2005).

Para os operantes verbais de segunda ordem, Skinner faz uso do termo

autoclítico, em referência ao que descreve, qualifica ou comenta respostas verbais

primárias e, com isso, altera o efeito da primeira resposta sobre o ouvinte, para

tornar o discurso organizado e efetivo de acordo com as contingências. O autor

apresentou quatro tipos de operantes desta ordem: Autoclíticos descritivos (o falante

pode descrever seu próprio comportamento verbal, além de poder descrever a força

de suas respostas, as variáveis controladoras, bem como emoções ou motivações);

autoclíticos qualificadores (qualificam um tacto de tal forma que a intensidade ou a

direção da conduta do ouvinte em relação ao tacto elementar é modificada. Entre

eles estão a afirmação, a negação, advérbios e sufixos. Variações deste tipo

funcionam como mandos para o ouvinte); autoclíticos quantificadores (indicam ou

uma propriedade da conduta do falante ou as circunstâncias responsáveis por tal

propriedade. Estão inclusos os artigos de número e gênero e os adjetivos e

advérbios de quantidade ou tempo); e autoclíticos relacionais (é controlado por

relações entre operantes verbais básicos. Permite a organização do comportamento

verbal em unidades maiores do que aquelas possibilitadas pelos operantes verbais

elementares estabelecendo relações internas entre operantes verbais distintos)

(BRINO e SOUZA, 2005).

Falar em significado gera certo desconforto para os analistas do

comportamento por este termo padecer de todas as limitações que uma teoria

mentalista possa ter. Toda palavra ou sentença tem um significado, e o significado

contido nessa verbalização é passado do falante para o ouvinte (BAUM, 1999).

O significado de uma resposta não está em sua topografia ou forma; deve ser

buscado em sua história antecedente. O behaviorista é acusado de descrever o

meio ambiente em termos físicos, negligenciando o que ele significa para a pessoa

que responde; também neste caso, contudo, o significado não está no ambiente

atual, mas numa história de exposição a contingências nas quais ambientes

semelhantes representam um papel (Skinner, 1993). Skinner (1993, p.81) ainda

acrescenta:

“(...) o significado não é corretamente visto como uma propriedade ou da resposta, ou da situação, mas sim como

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propriedade das contingências responsáveis pela topografia do comportamento e do controle exercido pelos estímulos”.

A representação de símbolos se dá depois de uma história de reforço

adequada para o reconhecimento daquele símbolo e de sua representação. Isso é

investigado pelos analistas de comportamento através do conceito de equivalência

de estímulos. Então, deve ser explicada a importância do contexto para a explicação

desses fatos. Uma mesma palavra ou sentença pode ser dita em vários contextos

diferentes e ter representações completamente distintas. Isso tudo dependerá do

aprendizado tanto do ouvinte quanto do falante em termos de equivalência de

estímulos. O uso do termo significado para os analistas de comportamento é

simplesmente inadequado. Os behavioristas falam sobre o uso ou função de um ato

ou uma verbalização. Segundo Baum (1999), o “significado” do comportamento

verbal está em seu uso, suas conseqüências dentro do contexto. Perguntar qual o

significado de um termo é perguntar qual o contexto e quais as conseqüências de

sua ocorrência.

Na Análise Experimental do Comportamento, "Controle de Estímulos"

configurou-se como uma área de pesquisa de extrema relevância científica e social,

por suas implicações à compreensão crescente de processos comportamentais

complexos, tais como o aprendizado da linguagem, da noção de "significado" e dos

comportamentos simbólicos, em geral. Inserida na Análise Experimental do

Comportamento, a área de "Controle de Estímulos" está no contexto do

Behaviorismo Radical de Skinner. Em outras palavras, constitui-se parte do corpo de

investigação da ciência do comportamento proposta por aquele autor, tendo como

objetivos a previsão e o controle dos fenômenos e, como objeto de estudo, o

comportamento. Sendo assim, pesquisa-se comportamento, entendendo-o como

uma parte das atividades do organismo, em interação com o ambiente. (Skinner,

1938, apud Hübner, 2006). Busca, nesta direção, o estudo sistemático das relações

funcionais do comportamento, concebendo-as como descrições das ações do

organismo e das condições diante das quais estas ações ocorrem. Coerentemente

com a proposta de ciência em que seu corpo investigativo está e com a filosofia

behaviorista radical, tem como instrumental de análise as contingências de

reforçamento, que especificam três condições: 1) uma situação antecedente, que

pode ser descrita em termos de estímulos discriminativos – pela função controladora

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que podem exercer sobre o comportamento; 2) uma resposta ou classe de respostas

do organismo que, se emitida na presença de tais estímulos discriminativos, tem

como conseqüência... 3) alguma alteração no ambiente, que não ocorreria se tal

resposta fosse emitida na ausência do referido estímulo discriminativo mencionado

no primeiro item ou se a resposta não ocorresse (Todorov, 1982 apud Hübner,

2006).

Para que o controle de estímulos se estabeleça, é necessária uma história de

reforçamento diferencial: na presença de determinados estímulos, respostas ou

classe de respostas, serão seguidas de reforçamento e, na ausência destes

estímulos ou em presença de outras, estas mesmas respostas não serão seguidas

de reforçamento (Hübner, 2006).

Comportando-se verbalmente se é reforçado durante longos períodos, por

muitas pessoas, em diferentes situações, e com efeitos diferentes (conseqüências)

assim como os resultados do mesmo comportamento dependendo das

circunstâncias (produtos). Comportamento verbal, entretanto, aparece mais

comumente não tendo conseqüências mantenedoras, mas somente porque estas

conseqüências são generalizadas e não-óbvias (Guerin & Junichiro, 1997).

Uma questão que é de extrema importância a ser comentada neste tema é o

conceito de seleção pelas conseqüências. Seleção pelas conseqüências segundo

Skinner (2007), é um modo causal encontrado unicamente em coisas vivas ou em

máquinas feitas por elas. Explica também, a modelagem e a manutenção do

comportamento do indivíduo e a evolução das culturas, uma teoria ampla subdividida

em três tipos de seleção: seleção natural, seleção comportamental e seleção

cultural. Para todos os tipos de comportamento esta teoria tem permitido entender a

construção de cada comportamento.

A seleção natural indica as contingências de sobrevivência. Desde a origem

das espécies é atribuído o sistema se seleção natural, descrito por Charles Darwin.

Esta seleção demonstra a variação quanto à genética, estrutura e função dos

membros individuais de cada espécie.

A seleção comportamental indica as contingências de reforçamento. Está

diretamente ligada à forma do comportamento, a distribuição de atividades durante o

tempo ou a relação de atividades para um evento empírico (dentro ou fora da pele

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do organismo que se comporta). Este tipo de contingência dá suporte à evolução

ontogenética. O desenvolvimento das relações entre os organismos e o ambiente é

mediado pelas características do organismo que foram selecionadas através das

contingências de sobrevivência.

A seleção cultural indica as metacontingências. A unidade de análise do nível

cultural envolve uma relação funcional entre práticas culturais e seus efeitos. Estas

metacontingências devem ser distinguidas das contingências de reforçamento, pois

a unidade de análise é diferente. As práticas culturais não podem ser vistas como

operantes, e sim como um conjunto de relações de operantes funcionais de

diferentes indivíduos. A forma de uma prática cultural é definida pela combinação de

operantes interligados construindo a prática.

Skinner (1999) também esclarece esta questão de que o comportamento do

organismo como um todo é produto destes três tipos de variação e seleção e

acrescenta que todos os tipos de variação e seleção têm certas falhas, e uma delas

é especialmente crítica para a seleção natural: ela prepara a espécie somente para

um futuro que se assemelhe com o passado que a selecionou. O comportamento da

espécie só é eficaz num mundo que se assemelhe bastante ao mundo em que a

espécie evoluiu. Uma segunda falha na variação e seleção é fundamental para o

condicionamento operante: a seleção deve acompanhar a variação. O processo,

conseqüentemente, é em geral lento. Isto não foi um problema para a seleção

natural porque a evolução poderia levar milhões de anos, mas um repertório de

comportamento operante tem que ser construído durante o espaço de uma vida.

Metacontingência é a unidade de análise que engloba as práticas culturais,

em todas as suas variáveis, e a junção dos resultados finais de todas as variáveis. O

produto final das práticas culturais devem ser especificadas empiricamente. Por

exemplo, o número de crianças que podem ler num certo nível de eficiência é o

resultado final de práticas educacionais (Glenn, 1988).

Glenn (1986) analisa que um operante é um grupo de respostas de

topografias variadas que foram aglutinadas em uma classe funcional por terem

produzido uma conseqüência comum. A contingência de reforçamento é a unidade

de análise que descreve as relações funcionais entre o comportamento operante e o

ambiente com o qual o organismo que se comporta interage. A contingência de

reforçamento envolve um processo de seleção no nível comportamental que mantém

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um paralelo com o processo filogenético chamado seleção natural, devendo sua

existência a ele. Embora muitas das relações que surgem entre o comportamento

operante e o ambiente se configuram como o resultado de uma história individual – a

maioria das relações estabelecidas entre seres humanos e o ambiente assim se

caracteriza – o processo é diretamente mediado pela biologia do organismo.

A autora descreve, então, a partir dessa análise, que o conceito de

metacontingência é a unidade de análise que descreve a relação funcional entre

uma classe de operantes, cada operante possuindo sua própria conseqüência

imediata e única, e uma conseqüência em longo prazo comum a todos os operantes

que pertencem à metacontingência. Metacontingências devem ser mediadas por

contingências de reforçamento socialmente organizadas. Como exemplo, as

conseqüências em longo prazo para a prática de redução da poluição do ar.

A cultura é uma unidade que não pode ser reduzida a um comportamento; e

um operante é uma unidade que não pode ser reduzida a uma atividade neural ou

muscular (Glenn, 1989 apud White, 1049). Tudo está interligado e precisa ser

entendido em todas as suas partes; não há como reduzir nenhum tipo de

comportamento, por menor que ele seja, pois existem funções as quais o

comportamento está ligado, explicando, assim, sua origem e seu controle. Para

Glenn (1989), dois pontos importantes devem ser considerados a respeito da

perspectiva da evolução cultural:

“Primeiro, a origem das comunidades verbais (oradores e

ouvintes) está nas contingências da seleção natural e nas

contingências do reforço responsável pelo comportamento não verbal.

Em segundo lugar, as comunidades verbais sobrevivem até o

momento em que suportam o comportamento não verbal que é

propício para a sobrevivência dos indivíduos e suficiente para manter

as contingências de reforço que compõem as práticas culturais” (p.

13).4

4 “First, the origin of verbal communities (speakers and listeners) lies in the contingencies of natural

selection and the contingencies of reinforcement responsible for nonverbal behavior. Second, verbal communities support survival only so long as they support nonverbal behavior that is conducive to survival of enough individuals to maintain the contingencies of reinforcement that comprise cultural practices” (p. 13).4

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Em seu texto Metacontingencies in Walden Two, Glenn (1986), analisa os

processos culturais de contingências e metacontingências envolvidos numa

sociedade utópica e quase que perfeitamente organizada descrita em Waldem Two

por Skinner, em 1948. A autora fala de dois processos culturais citados no livro

chamados de tecnológico e cerimonial; como sendo duas forças opostas que agem

sobre a cultura e a sociedade. As contingências tecnológicas envolvem

comportamentos que são mantidos por mudanças não arbitrárias no ambiente. Os

reforços que participam das contingências tecnológicas derivam seu poder de sua

utilidade, de seu valor, ou de sua importância às pessoas que estão envolvidas

nesses tipos de contingências, assim como de outras. Por outro lado, contingências

cerimoniais envolvem comportamentos mantidos por reforços sociais os quais

derivam seu poder do status, da posição ou da autoridade do agente reforçador

independentemente de qualquer relação com as mudanças ambientais que, direta

ou indiretamente, beneficiam as pessoas que se comportam.

Glenn (1988) menciona várias vezes que práticas culturais têm resultados

finais e eles são empíricos e passíveis de mensuração. Os elementos básicos das

contingências de reforçamento são as atividades dos organismos em determinados

tipos de ambientes e suas conseqüências (mudanças no mundo) contingentes a

estas atividades. O tamanho de uma unidade comportamental pode variar durante o

tempo, e unidades semelhantes podem ser observadas nos repertórios de outros

indivíduos, mas uma unidade comportamental é específica de um organismo

individual. Características comuns em unidades comportamentais de diferentes

organismos podem ser vistos como similares à concepção biológica de

convergência. Por exemplo, o comportamento de vários pais em resposta ao seu

filho chorando pode ter características comuns (estruturais e funcionais), mas o

comportamento de cada pai terá sua característica própria em sua história de

contingências.

Contingências comportamentais envolvem relações contingentes entre a

atividade específica e individual de um organismo e os eventos ambientais

específicos, e cada comportamento de cada organismo tem suas peculiaridades e

tem suas histórias que são únicas. Quando as relações comportamentais de

determinado ambiente são feitas das ações de outras pessoas (e seus produtos), e

os comportamentos dessas pessoas são condicionados por tipos de contingências

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similares, uma prática cultural se propaga. O comportamento de qualquer

participante (novo bebê, novo pai, novo empregado, etc) é modelado e instruído por

aqueles que já estão envolvidos na prática. O comportamento do novo participante

é, em parte, uma função daquelas contingências providas pelas outras pessoas. No

entanto, os eventos ambientais acoplados com os comportamentos das outras

pessoas, acabam por incluir o comportamento do novo participante. A interlocução

dos comportamentos individuais constituem as práticas culturais que produzem

diferentes resultados finais. (Glenn, 1988).

Segundo Glenn (1988) a instabilidade dos sistemas culturais pode ocorrer

quando a complexidade destas atinge um ponto em que os resultados finais dessas

práticas consistentemente falham ao voltar para a questão de interlocução das

contingências de reforçamento, comprimindo tais práticas. A complexidade dessas

práticas obscurece a relação entre o comportamento individual e os resultados finais

das práticas culturais. De acordo com autora, Skinner (1948) e Harris (1981) haviam

sugerido pequenas comunidades com seus membros interagindo face-a-face como

uma solução para os problemas endêmicos de grande escala, em culturas

complexas como as de hoje em dia. Estas comunidades estariam mais preparadas

para manter contingências comportamentais próximas aos resultados de uma

prática.

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3.2. Comportamento social

Glenn & Field (1994) descreveram a importância do ambiente na evolução do

comportamento humano partindo, primeiramente, do comportamento de cada

indivíduo. Segundo estes autores, diferentemente da evolução orgânica baseada na

seleção natural, a evolução do comportamento humano ocorre durante toda a vida

de cada organismo em particular e a evolução do comportamento humano

dependeria de um segundo tipo de seleção, que é o que Skinner chamou de seleção

pelas conseqüências.

Através da perspectiva da seleção pelas conseqüências, a evolução orgânica

descreve a existência de um processo comportamental que é parte das qualidades

da espécie humana – a filogênese. Os processos de evolução do comportamento (p.

ex. modelação, aprendizagem, imitação), por sua vez, possibilitam a explicação de

muitos dos “ingredientes” do repertório humano de cada indivíduo – a ontogênese

(Glenn & Field, 1994).

A função do ambiente com respeito à origem e a existência contínua da

unidade dos operantes é algo seletivo. Como apontou Skinner (1981, apud Glenn &

Field, 1994), a seleção é uma causa diferente das outras causas das ciências

físicas, sendo separada no tempo pela evidência de seus efeitos. Uma das

dificuldades para se entender a seleção como causa pode ser a de se deparar com

características como o que é causado pelas conseqüências – ou quais as

conseqüências da seleção. Uma conseqüência da seleção natural é uma população

de organismos distribuída por espaços e tempos que existem como uma unidade

evoluída – a espécie. Uma conseqüência do comportamento selecionado é uma

população de respostas naturais distribuídas por tempo e espaço que existem como

uma unidade evoluída – o operante.

De acordo com Glenn & Field (1994), nós temos formatado os processos de

seleção que descrevem funções evoluídas do ambiente com respeito aos operantes.

Contingências de reforçamento descrevem a origem e continuidade da existência de

repertórios operantes. Se as contingências falham em um determinado operante,

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esta unidade se torna extinta. Contingências de punição descrevem as alterações

das freqüências das unidades de operantes nas sub-populações.

Ao estudar o comportamento individual e como ele é formado e adquirido é

possível entender o funcionamento social do comportamento.

O comportamento social pode ser definido como o comportamento de duas ou

mais pessoas em relação a uma outra ou em conjunto em relação ao ambiente

comum. O comportamento social surge porque um organismo é importante para

outro como parte de seu ambiente (SKINNER, 2007).

Segundo Pierce (1991 apud ANDERY, MICHELETTO & SÉRIO, 2005, p.130),

comentando a definição de Skinner sobre comportamento social, apresenta dois

exemplos que ilustram a abrangência dos comportamentos que seriam chamados de

comportamento social: “o comportamento sexual é social porque os parceiros

respondem ´um em relação ao outro´ e cooperação é social porque duas ou mais

pessoas precisam coordenar suas respostas em relação a um ´ambiente comum´.

Como destaca Guerin (1994 apud ANDERY, MICHELETTO & SÉRIO, 2005),

podemos falar em comportamento social quando uma outra pessoa estiver envolvida

em qualquer um dos três elementos de uma contingência de reforçamento

(estímulos antecedentes, respostas ou estímulos conseqüentes) ou, como ele

prefere, quando estivermos diante de contingências com “propriedades sociais”, ou

seja, diante de “quaisquer contingências em que uma outra pessoa estiver

envolvida, seja como estímulo contextual, como um determinante de conseqüências,

ou como parte do próprio comportamento (do grupo)”.

De acordo com Keller & Schoenfeld (1968), os estímulos sociais não são

diferentes dos outros estímulos em suas dimensões. Eles diferem apenas em suas

origens; provém de outro organismo, do seu comportamento ou de produtos dele.

Estes estímulos também não diferem quanto a função daqueles de origem

inanimada; eles atuam eliciando, surgem porque os estímulos sociais passam a

exercer essa função.

Segundo Skinner (2007) o indivíduo sempre se comporta com o mesmo corpo

e o faz de acordo com os mesmos processos usados em uma situação não-social. O

comportamento do indivíduo acaba por explicar o fenômeno do grupo.

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O meio cultural começa com o recém nascido, que, a partir daí, desenvolve-

se por meio de processos de aprendizagem, treinamento, em um meio que age

reforçando comportamentos enquanto exclui outros; diferenciando respostas e assim

por diante. O comportamento vai sendo modelado e condicionado de acordo com

normas e padrões estabelecidos. Em todo o processo estão presentes as leis

fundamentais do comportamento (KELLER & SCHOENFELD,1968).

Para Skinner (2007) analisar o ambiente social consiste em analisar o reforço

social: não se pode descrever o reforço sem referência ao outro organismo. Mas o

reforço social geralmente é uma questão de mediação pessoal. O comportamento

verbal sempre acarreta reforço social e deriva suas propriedades características

desse fato. O reforço social varia de momento para momento dependendo da

condição operante do agente reforçador. As contingências estabelecidas por um

sistema reforçador social podem mudar lentamente. Mudanças como a crescente

tolerância à estimulação aversiva na pessoa reforçadora pode ocorrer, em função

das contingências em vigor. Outra peculiaridade do reforço social é que raramente o

sistema reforçador é independente do comportamento reforçado. O estímulo social:

um estímulo social, como qualquer outro estímulo, torna-se importante no controle

do comportamento por causa das contingências em que se encaixa e são

determinadas pela cultura e por história particular. Os estímulos sociais são

importantes porque os reforçadores sociais com os quais se relacionam são

importantes e essa importância variará com a ocasião. O estímulo social que tem

menor probabilidade de mudar de cultura para cultura é o que controla, por exemplo,

o comportamento imitativo.

Podemos analisar um episódio social considerando um organismo a um dado

tempo. Entre as variáveis a serem consideradas estão aquelas geradas por um

segundo organismo. Consideramos então o comportamento do segundo organismo,

supondo o primeiro como uma fonte de variáveis. Colocando as análises lado a lado

reconstruímos o episódio. A descrição será completa se englobar todas as variáveis

necessárias para explicar o comportamento dos indivíduos (SKINNER, 2007).

A maioria das culturas produz pessoas cujo comportamento é controlado

principalmente pelas experiências de uma situação, ou seja, pelas contingências. As

mesmas culturas também produzem pessoas cujo comportamento é controlado

principalmente pelas regras (SKINNER, 2007).

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O relacionamento entre duas ou mais pessoas, chamada por Skinner (2007)

de intercâmbio, pode explicar o comportamento em termos de reforço. Ele deve ser

explicado em sua totalidade, porém algumas variáveis ainda permanecem obscuras.

Este intercâmbio acontece em um sistema social em que cada um emite um reforço

para o outro, e, estabelecida esta contingência, o intercâmbio se mantém. Com isso,

há estímulos sociais que tendem a reforçar para que indivíduos se comportem de

uma determinada maneira. Segundo o autor “(...)o grupo pode manipular variáveis

especiais para gerar tendências para se comportar de modo que resulte no reforço

de outros(...)” (p.339). Dois indivíduos podem se relacionar através de variáveis

externas comuns e não somente pelo intercâmbio direto entre eles, e ainda por

ambas.

O comportamento de imitação é um bom modelo a ser estudado para

progredir na explicação da participação individual em um grupo. É sempre o

indivíduo que se comporta, porém o grupo tem o efeito mais poderoso. Por isso,

quando o indivíduo junta-se ao grupo ele tem maior probabilidade de ser reforçado

por emitir comportamentos que correspondam àqueles que são importantes para o

grupo, por exemplo: o grupo (seus membros) seleciona aqueles comportamentos

que dão unidade ao grupo, por meio de seguimento de regras formais e informais, e

originadas na própria interação, além das características individuais (bio-operante).

O grupo (seus membros) ainda seleciona comportamentos de manutenção do grupo,

garantindo a perpetuação dos usos e costumes, como a sua mudança, sua própria

evolução pela interação entre práticas e comportamentos e respectivas

conseqüências para o grupo e para seus indivíduos. Há variáveis externas que ainda

produzem outros tipos de interações que produzem variação e seleção no grupo (em

seus membros).

As pessoas, na maioria das vezes, controlam variáveis relevantes que podem

ser usadas em benefício próprio. Isto pode ser chamado de controle pessoal.

Segundo Skinner (2007), o tipo e a extensão dessas variáveis dependem das

habilidades e dons pessoais do próprio controlador. Apesar disso, o controle pessoal

se mostra fraco frente a algumas artimanhas das agências de controle que possuem

um poder de persuasão maior, e isto pode se da em função do grupo, e não

somente devido a um indivíduo específico. Tende a prevalecer as contingências que

fortalecem a manutenção do grupo.

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Existem várias técnicas de controle; a considerada por Skinner como principal

é o reforçamento. Skinner (2007) já dizia que todo o campo do comportamento

verbal exemplifica o uso de estímulos no controle pessoal.

Algumas pessoas ainda têm receio quando o assunto é controle, seja ele de

qualquer maneira. Isso pode ser porque o controle, de certa forma, tornou-se um

estímulo aversivo ao controlado, e há contingências que determinam isso. O estudo

do controle na análise do comportamento se faz muito importante para entender uma

grande parte das práticas culturais nas sociedades em geral.

Todorov & Moreira (2005) ao estudarem o comportamento e a sociedade,

relataram que várias das nossas práticas culturais trazem prejuízos às nossas vidas.

Alguns exemplos são: a emissão de gás carbônico, o não cumprimento das leis

dentre outros. Contudo, conseqüências culturais não selecionam comportamentos

individuais e sim relações entre contingências comportamentais compreendendo

essas práticas; o comportamento individual tem pouco efeito nas conseqüências

culturais.

Esta questão pode ser mais bem exemplificada quando se discute a respeito

de agências de controle do tipo governamental. De acordo com Skinner (2007),

talvez o tipo mais óbvio de agência empenhada no controle do comportamento

humano seja o governo. Os estudos tradicionais de ciência política lidam com a

história e as propriedades dos governos, com vários tipos de estrutura

governamental, e com as teorias e princípios que têm sido oferecidos para justificar

as práticas governamentais. A principal preocupação recai, então, sobre os

processos comportamentais através dos quais o governo exerce controle. Assim,

tem-se que examinar o comportamento resultante no governado e o efeito desse

comportamento que explica porque a agência continua a controlar.

Segundo Glenn (1986), o comportamento operante dos membros de qualquer

cultura deve ser classificado em termos dos tipos de conseqüências que o

comportamento tem para os indivíduos que se comportam e para a cultura.

Historicamente, temos distinguido, com algum grau de intuição, entre: trabalhar,

atividades de diversão e comportamento interpessoal. Trabalhar pode ser

especificado como um comportamento que é essencial para a sobrevivência da

cultura, e por essa razão, participa de metacontingências tecnológicas.

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Segundo Keller & Schoenfeld (1968) os estímulos sociais não diferem nas

suas dimensões dos outros estímulos. Ao contrário, a diferença é só de origem,

provém de outro organismo, do seu comportamento, ou de produtos de seu

comportamento. E ainda mais, os estímulos sociais não diferem quanto à função

daqueles de origem inanimada; atuam eliciando, surge porque os estímulos sociais

passam a exercer essas funções.

Embora existam comunidades e culturas totalmente diferentes, os seres

humanos respondem aos mesmos princípios de aprendizagem, a característica dos

estímulos discriminativos e reforçadores, mas as respostas dos indivíduos é que irão

diferenciar. A partir deste raciocínio, entendem-se as diferentes formas de

responder do ser humano, apesar de pertencer a uma mesma espécie (possuir

características biológicas comuns).

Analisar o comportamento das pessoas em grupo é o mesmo que analisar o

conhecimento socialmente produzido, já que a teoria Skinneriana não descreve a

divisão da natureza humana em várias, o comportamento individual também

influencia e é influenciado na produção de práticas culturais, e ele é, por natureza,

único. O comportamento verbal está diretamente ligado a estes eventos que

submetem o organismo e a pessoa a uma história individual e cultural. Ele é o

comportamento (verbal) que nas relações sócio-históricas faz com que as práticas

sejam passadas adiante ou até mesmo conhecidas em vários lugares do mundo de

forma difusa e impessoal, por exemplo, através da mídia (BORLOTI & TRINDADE,

2000).

Os diferentes níveis de análise do comportamento social incluem a análise

experimental do comportamento social, o estudo dos processos e sistemas sociais e

a análise comportamental da cultura e da evolução das práticas culturais (história da

cultura) (PIERCE, 1991 apud BORLOTI & TRINDADE, 2000).

Estudar o papel das conseqüências sociais generalizadas não óbvias, que

mantém a maior parte do comportamento verbal, e o papel do ambiente social em

servir duplamente de contexto discriminativo e conseqüente, seria mais valioso na

explicação do conhecimento socialmente construído. Isso evitaria o raciocínio

circular comum na análise das relações entre o cotidiano da comunidade verbal e o

conhecimento social, como se estes se explicassem mutuamente (GUERIN, 1992

apud BORLOTI & TRINDADE, 2000).

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Segundo Malott (1988), alguns antropólogos (e autores como HARRIS, 1974

é considerado uma exceção) se preocupam mais em decifrar os mitos e os símbolos

das culturas do que o comportamento dos indivíduos que criaram e que utilizam

estes símbolos. A importância de observar o comportamento individual dentro das

práticas grupais surge exatamente da necessidade de entender mecanismos que

controlam e que mantêm estas práticas. O autor exemplifica com a prática cultural

Hindu, em que a população considera as vacas animais sagrados. Para entender

esta prática é necessário analisar não somente o significado cultural, mas os

comportamentos individuais que são altamente reforçados por estas ações, como

ocorrem esses processos e produzem um resultado comum para o grupo.

Práticas culturais são resultados de causas materiais. As práticas irão

permanecer se derem suporte à sobrevivência do grupo; e estas práticas ajudarão

na sobrevivência do grupo se elas forem efetivas na produção de bens materiais ou

se derem suporte a práticas que são efetivas na produção destes materiais

essenciais à sobrevivência. Para serem efetivas, estas práticas devem ser benéficas

e de baixo custo para os indivíduos; assim elas serão reforçadoras e mantidas ao

longo das gerações (MALOTT, 1988).

O resultado natural das práticas culturais é que seus membros reforçam ou

punem o que as pessoas fazem, e evoluem com isso as práticas e a sua

manutenção. Esta análise tradicional argumenta que as contingências descritas

pelas práticas materiais são contingências diretas e firmes de condicionamentos

operantes (MALOTT, 1988). O autor também discute sobre como o comportamento

controlado por regra também ajudaria na manutenção de certas práticas.

Mallot (1988) sugere que o estímulo produzido imediatamente pela resposta

não será aprendido como um estímulo aversivo quando houver um grande atraso

entre o estímulo produzido pela resposta e o resultado aversivo. Então, ainda

precisaríamos de regras, se os resultados em longo prazo servirem de controle para

nosso comportamento. Mesmo sabendo que conseqüências em longo prazo podem,

algumas vezes, mudar a freqüência da resposta causal sem intervenção de regras

que as governem.

O autor descreve também os tipos de contingências e sua importância para o

controle por regras. Ele cita dois tipos: as ações-diretas e as ações-indiretas. A

primeira envolve conseqüências que são imediatas, prováveis e capazes de reforçar

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ou punir a resposta casual. A segunda envolve conseqüências que são tanto muito

postergadas, improváveis ou pequenas, quanto podem ser de uma significância

cumulativa.

As contingências materiais para as práticas culturais são, geralmente, ações-

indiretas. Ao invés de práticas governadas por regras, muitas vezes essas regras se

referem a contingências sobrenaturais mais do que materiais. Esta é mais uma

razão pela qual muitas vezes o reforço pelas contingências materiais falha na

aquisição de novas práticas culturais. Em muitos momentos, o nível operante das

práticas culturais é muito baixo; em outras palavras, a probabilidade é tão baixa que

uma prática cultural pode crescer pela chance ou por um motivo irrelevante. E sem

um formato divino, esta prática pode não ocorrer tão completamente para que as

contingências naturais a reforcem com uma freqüência suficiente para ser bem

sucedida (MALLOT, 1988).

O que reforça falarmos em uma língua e a respondermos a ela não é que

somos reforçados imediatamente de alguma forma, mas a participação dos

membros da comunidade verbal está em seu benefício a maior parte do tempo, mais

importante ainda quando o ouvinte fala, quando há interação verbal. Um responder

em particular pode não ser reforçado, mas continua-se o uso da linguagem porque

isso torna o comportamento acessível a outras oportunidades de modelagem, e isto

se dá pelo controle de estímulo que passa a exercer o ambiente e o que se diz sobre

o ambiente, e, por conseguinte, consequenciando comportamentos em certas

direções “reforçadas” pelo grupo ou pela ação de alguém diretamente modelada no

ambiente. Se pararmos de nos comunicar, ou se nos comunicarmos apenas em uma

língua estrangeira, então perderíamos muitos dos efeitos que de outra maneira

seriam possíveis (GUERIN & JUNICHIRO, 1997) pela interação social e uso da

língua matter, por exemplo. A língua não é apenas o que se diz nela, mas aquilo que

produz o que se diz e como isso afeta o responder individual ou coletivo, fazendo

evoluir o organismo, o operante e a cultura.

A organização de sistemas dos seres vivos é modelada e mantida pelas

conseqüências dessa organização em determinado momento. O princípio

fundamental da teoria de reforçamento é que certos eventos que seguem um

comportamento serão, posteriormente, comportamentos que irão ocorrer

subseqüentemente em situações semelhantes. Um evento conseqüente é

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considerado um reforçador se ele tiver este efeito. Os reforçadores podem ser

efetivos por causa da sua contribuição direta ao funcionamento biológico do

organismo. Os reforçadores podem ser chamados de primários (se relacionados

com as necessidades básicas e biológicas do indivíduo, p. ex. alimento, água etc) ou

de secundários (se relacionados com o que precede os reforçadores primários, p.

ex. dinheiro, fama etc) (Biglan, 2003).

A seleção pelas conseqüências também é um princípio importante para se

entender a evolução das práticas culturais e práticas de grupos e organizações

formais e informais. A prática cultural de determinadas populações pode ser

caracterizada em termos de (a) incidência ou prevalência de comportamentos

individuais na população e (b) a interlocução repetida de comportamentos de

pessoas que constituem grupos e organizações (Biglan, 2005).

Segundo Biglan (2005) através da história da ciência preventiva manteve-se o

interesse primeiramente em afetar a incidência e prevalência das doenças ou

comportamentos individuais. No entanto, é muito importante rever que antes de

analisar estes resultados é necessário mudar as práticas das organizações formais e

informais que influenciam estas questões.

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3.3. Comportamento verbal e mídia

O estudo do comportamento verbal não é tarefa fácil. Skinner em sua obra O

Comportamento Verbal (1978) se estende ao dizer que ao estudar tal

comportamento os psicólogos não encontraram esta área vazia, ou seja,

inexplorada. Vários outros cientistas de outras áreas se deram ao trabalho de

investigar partes como linguagem, compreensão, sintaxe, metáfora dentre outros.

Porém, Skinner pretende ir além ao considerar que o comportamento verbal

precisava de uma explicação causal e funcional para que fosse entendido como um

comportamento em si, e não como parte de outra ação.

A análise experimental tanto das relações operantes quanto respondentes é

parte do processo que aumenta o conhecimento dos tipos complexos das relações

comportamentais e ambientais. A análise comportamental de repertórios verbais

deverá também evoluir continuamente para desenvolver no sentido de lidar mais

efetivamente com unidades de operantes inter-relacionados em vários níveis de

complexidade (Glenn & Field, 1994).

Há muito tem se falado de mídia como agência de controle, e, sem dúvida

alguma, ela exerce esta função. Porém, ao analisar a mídia em todos os seus

aspectos, vê-se que a mesma pode ser considerada ambiente, se aplicarmos a

teoria comportamental para este fim. Skinner (2007) se refere a ambiente como

qualquer evento no universo que seja capaz de afetar o organismo, incluindo ações

dele próprio. Com isso, são considerados não só apenas eventos físicos como

também os sociais e culturais.

A imprensa também tem o poder de controlar comportamento divulgando

informações sobre a “realidade”, e produzindo o que Guerin (1992, citado por

Martone, 2003) descreveu como conhecimento socialmente produzido. Os

controlados, nesse caso os consumidores de informação, ficam sob controle de uma

realidade construída, sem contato direto com o ambiente, possibilitando assim a

manipulação do que é relatado sobre esse ambiente por alguns membros da

comunidade.

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Pode-se dizer que hoje se vive numa aldeia global, repleta de instrumentos

cada vez mais sofisticados e eficientes. Esses permitem a transmissão da

informação em tempo real de uma parte à outra do planeta, exercendo um controle

de estímulo que vai além do ambiente físico imediato. O avanço das tecnologias de

informação, assim como a grande oferta de aparelhos que recebem e transmitem

informação vêm permitindo a um número cada vez maior de pessoas o acesso a

uma rede de comunicação sem precedentes na história da humanidade. A Internet

pode ser considerada um exemplo claro da agilidade e da rapidez ao acesso a uma

infinidade de informações. Ela vem desempenhando um papel crucial no que alguns

autores denominam da Revolução da Informação (Martone, 2003).

O papel da mídia no mundo contemporâneo, assim como o poder de

influenciar e produzir fatos têm sido muito discutido em diferentes áreas do

conhecimento. A análise do comportamento também vem contribuindo de forma

ainda modesta nessa discussão. Essa ciência dispõe de instrumental teórico capaz

de abordar questões relevantes à cultura, entretanto, parte dos trabalhos de

analistas do comportamento interessados pela cultura ainda se caracteriza mais pela

descrição e análise de algum fenômeno social do que pelo desenvolvimento de

tecnologias de intervenção (Lamal, 1991 apud Martone, 2003).

O estudo da mídia e de sua influência sobre práticas culturais insere-se na

lista de temas abordados por analistas do comportamento interessados em questões

culturais. Rakos (1992) salientou a natureza informacional da sociedade

contemporânea, ressaltando que analistas do comportamento interessados em

analisar a cultura devem necessariamente abordar questões referentes à influência

da mídia no controle do comportamento. O autor afirmou ainda que a construção de

um ambiente altamente tecnológico acabou por definir a informação e não mais o

capital como mercadoria mais valiosa. Os sistemas sócio-políticos baseados na

propriedade do capital são menos importantes que aqueles baseados na

propriedade da informação, pois a informação agora produz riqueza.

Uma questão crucial sobre este assunto é o fato de que cada vez menos as

pessoas têm contato com o ambiente mecânico. Isso quer dizer que elas têm acesso

à realidade, cada vez mais, por intermédio do relato de certos segmentos da

comunidade verbal. A produção de cadeias intraverbais por intermédio da mídia

propicia a criação de um conhecimento virtual, que pode representar os interesses

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de uma pequena parcela da comunidade verbal (Guerin, 1992 apud Martone 2003).

Esta análise serve também como um alerta para os controles exercidos por

pequenas parcelas da comunidade verbal. Segundo o autor, se o controle social do

tatear estiver nas mãos de um grupo que não reforça necessariamente a

correspondência entre as reais propriedades do ambiente e do relato, mas sim uma

dada definição de relato “correto” estabelecida a priori por este grupo, se estará

diante de ficções criadas para atender interesses, e estes nem sempre discriminados

por aqueles que sofrem o controle.

Segundo Skinner (2007) o comportamento deve ser apropriado à ocasião.

Mesmo quando alguém se empenha em rejeitar o mundo, através da redução

sistemática de certas formas de controle do mundo sobre ele, fisicamente a

interação continua. Isso mostra quão dependentes somos do ambiente que nos

cerca e da importância dele em nossas vidas. Muitas teorias do comportamento

humano, não obstante, menoscabam ou ignoram a ação do ambiente. O contato

entre o organismo e seu mundo fica totalmente desprezado ou, quando muito,

descrito casualmente. Isto é quase sempre verdade na psicologia clínica, por

exemplo.

Usando a freqüência de resposta, como variável dependente, tornou-se

possível observar mais adequadamente as interações entre um organismo e o seu

ambiente. Os tipos de conseqüência, que aumentam a freqüência ou o nível

(“reforçadores”), podem ser positivos ou negativos, dependendo de serem

reforçadores quando aparecem, ou quando desaparecem. A classe de resposta, em

relação às quais o reforço é contingente (cuja freqüência de emissão depende de

reforços), chama-se operante, para sugerir a ação sobre o ambiente, seguida de

reforço. Construímos um operante ao tornarmos um reforço contingente a uma

resposta, mas o fato importante, quanto à unidade resultante, não é sua topografia,

mas sua probabilidade de ocorrência, observada como nível de emissões. Os

estímulos anteriores não são irrelevantes. Qualquer estímulo presente, quando um

operante for reforçado, adquire o controle, no sentido de o nível de respostas ser

superior na presença dele. Tal estímulo não age como aguilhão; não elicia resposta,

no sentido de forçá-la a ocorrer. É simplesmente um aspecto essencial da ocasião

em que uma resposta, se emitida, será reforçada. Para marcar a diferença, vamos

chamá-lo estímulo discriminativo (ou SD) (Skinner, 1969).

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É apenas quando analisamos o comportamento sob contingências

conhecidas de reforço que podemos começar a ver o que ocorre na vida cotidiana.

Fatos que inicialmente desprezamos, começam a comandar a nossa atenção, e

coisas que inicialmente nos chamavam a atenção, aprendemos a descontá-las ou

ignora-las. A topografia do comportamento, não importa o quão fascinante, fica em

segundo lugar frente às evidencias de probabilidade. Um estímulo não é mais um

mero início ou término conspícuo de uma troca de energia, como na fisiologia do

reflexo; é parte da ocasião na qual uma resposta é emitida e reforçada. Reforço é

muito mais que “ser recompensado”; a predominância da probabilidade de reforço,

particularmente sob vários esquemas intermitentes, é que é a variável importante.

Em outros termos, não mais encaramos o comportamento e o ambiente como coisas

ou eventos separados, mas nos preocupamos com a sua inter-relação. Procuramos

as contingências de reforço. Podemos então interpretar o comportamento com mais

sucesso (Skinner, 1969).

De acordo com Baum (2206) a linguagem cotidiana sobre o conhecimento é

mentalista. Diz-se que uma pessoa possui conhecimento de francês e que o exibe

ao falar e entender francês. Diz-se que um rato pressiona a barra porque sabe que

pressiona-la produz comida. Como no caso de intenção e propósito, o conhecimento

e o conhecer de nenhum modo explicam o comportamento que supostamente

resulta deles. O que é o conhecimento de francês, que é “exibido” quando eu falo

francês? Onde ele está e de que é feito, o que poderia causar o falar francês? Da

mesma maneira que em todos os exemplos de mentalismo, ele parece ser uma

quimera escondida dentro do sujeito, inventada como tentativa de explicação, mas

que não informa nada além do que já é conhecido: a pessoa fala e entende francês.

Como o rato sabe pressionar a barra e entende a relação barra-comida? Dizer que

ele sabe informa alguma coisa, além de que no passado as pressões à barra

produziram comida nessa situação?

Em vez de considerar o conhecimento e o conhecer como explicações do

comportamento, os behavioristas analisam esses termos focalizando as condições

sob as quais ocorrem. Em que situações as pessoas tendem a dizer que alguém”tem

conhecimento” ou “conhece algo”? (Baum, 2006).

Filósofos e psicólogos geralmente dividem o conhecimento em operacional e

declarativo, “saber como” e “saber sobre”. Muito já foi escrito sobre essa distinção,

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especulando-se sobre esquemas e significados internos imaginados, que poderiam

constituir sua base. Para o behaviorista, se a distinção tiver alguma utilidade, deverá

se basear no comportamento e no ambiente, eventos externos acessíveis a qualquer

observador (BAUM, 2006).

A tradição também distingue o conhecimento que outras pessoas possuem do

conhecimento “que eu próprio possuo”, particularmente o autoconhecimento – o

conhecimento da própria pessoa sobre si mesma. Tradicionalmente, pareceu a

muitos pensadores que, como “tenho” uma intimidade especial com todos os “meus”

atos, públicos e privados, de um modo que “não posso” ter com os atos de mais

ninguém, deve haver algo especial e diferente no autoconhecimento. De fato,

freqüentemente se afirma que apenas o autoconhecimento pode ser seguro, pois

qualquer conhecimento de outros será apenas baseado em inferências.

Presumivelmente, pode-se ter certeza que se sabe francês, enquanto o

conhecimento de francês de César é, para alguém, apenas uma inferência baseada

em sua observação de seu comportamento de falar e entender francês (BAUM,

2006).

O conhecimento operacional diz respeito ao saber “como”. Neste caso sabe-

se que uma pessoa sabe “como” nadar quando a vê nadando. Dizer então que uma

pessoa sabe “como” nadar significando simplesmente que ela efetivamente nada

(BAUM, 2006).

O conhecimento declarativo diz respeito ao saber “sobre”. Saber “sobre”

difere do saber “como” apenas por envolver controle de estímulo. Em que situações

dizemos “o rato sabe ´sobre´ a luz” ou “César sabe ´sobre´ aves” ? diz-se que o rato

sabe sobre a luz se ele responde mais quando a luz está acesa. Diz-se que César

sabe sobre aves se ele nomeia corretamente vários exemplares, explica seus

hábitos de construção de ninhos, imita seus cantos, e assim por diante. As

condições para essa verbalizações são um pouco diferentes das condições para

verbalizações de saber “como”, porque o comportamento envolvido em saber “sobre”

deve ser apropriado a um estímulo discriminativo ou a uma categoria de estímulos

discriminativos. A coisa sobre a qual se sabe é o estímulo discriminativo ou a

categoria (BAUM, 2006).

Neste caso, o saber “sobre” é uma resposta apropriada a um estímulo

discriminativo. O falar sobre algo é comportamento operante sobre controle de

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estímulos. Uma vez compreendido que discriminação e reforço são as observações

que estabelecem a ocasião para falar de saber “sobre”, tem-se duas alternativas.

Pode-se continuar falando sobre o “saber sobre”, admitindo que ele na verdade

significa somente “discriminação e reforço”, ou pode-se parar de falar desse modo e

passar a falar sobre discriminação e reforço (BAUM, 2006).

O comportamento verbal é um campo no qual o conceito de contingências de

reforço tem provado ser particularmente útil. Os fatos conspícuos neste campo são

os comportamentos de pessoas falando, ou melhor, o seu produto audível. A maioria

dos lingüistas aceita que isso seja objeto de seu estudo: uma língua é a totalidade

das sentenças ditas nela. De uma maneira não comprometedora, diz-se que a fala é

questão de “vocalizações” (Skinner, 1969).

Amostras para estudo podem ser obtidas de qualquer pessoa que fale a

língua, possivelmente o próprio lingüista. A topografia do comportamento pode ser

analisada acusticamente, foneticamente e fonemicamente e em estruturas

gramaticais e sintáticas maiores, chamadas sentenças. O ambiente não é ignorado,

é claro. Com efeito, fonemas e sentenças aceitáveis não podem ser definidas

simplesmente como aspectos da topografia porque implicam efeitos sobre o ouvinte.

O ambiente é aquilo a respeito de que as sentenças falam, mas a relação a que se

alude não é analisada além do nível de significado ou referência. O significado de

uma expressão é tanto qualquer característica da ocasião na qual foi expressa,

como qualquer efeito que possa ter tido sobre o ouvinte. Uma das versões mais

simplificadas da fórmula de entrada e saída descreve a relação de orador para

ouvinte como aquela na qual o orador transmite informação ao ouvinte, ou

comunica-se com ele, no sentido de tornar algo comum a ambos (Skinner, 1969).

Já que operantes verbais são operantes sociais (Borloti, 2004) então, analisar

a mídia como ambiente já não se torna tarefa tão árdua. Entendendo que difere do

comportamento social em geral por necessitar do condicionamento preciso e a

qualificação do ouvinte, pela cultura verbal, com o objetivo de consequenciar o

comportamento do falante.

Para Borloti (2004):

“Os operantes verbais ocorrem num contexto formado por elementos do ambiente: objetos, eventos ou acontecimentos (ou propriedades de), que incluem “coisas”, palavras faladas ou lidas (ou vistas), comportamentos de ouvinte (ou leitor) e conseqüências reforçadoras

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específicas ou generalizadas providas pela mediação do ouvinte” (p. 223).

O autor ainda acrescenta que para classificar efetivamente um operante

verbal se deve observar as circunstâncias sob as quais ele é emitido. As

circunstâncias atuais que controlam a resposta e a história do falante de exposição a

contingências semelhantes é que irão demonstrar o significado e/ou função da

palavra.

Sobre a sociedade moderna e sua construção de conhecimento, Kurz (2002)

analisa fatos históricos quanto a produção de conhecimento social e informação. O

autor mostra como a sociedade moderna despeja informações acumuladas e não

produz mais o conhecimento real, que não é passível de troca, como uma

mercadoria é. A produção de conhecimento trivial nos dias de hoje enche os jovens

de informação que muitas vezes não lhes são úteis. Com isso, o acúmulo de

informações dispensáveis cresce a cada dia e as pessoas, na maioria das vezes,

nem sabem o que fazer com elas. A filosofia da mídia é um exemplo gigantesco.

Priorizar a informação em quantidade a qualquer custo sem se preocupar com a

qualidade do mesmo. Isso faz com que o acúmulo de informação exista e faça parte

do dia-a-dia cada vez mais. A criação de novas tecnologias, o comportamento

programável do século XXI, tudo isso é “jogado” em nossas vidas sem nenhum

sentido comum. Fica mais difícil entender a sociedade e, assim, preocupa-se apenas

em usar o que é oferecido e não em entender e conhecer aquilo que está sendo

exposto.

Guerin (1992) também analisou a noção de construção social do

conhecimento e defendeu que o conhecimento seria o uso da linguagem, ou seja,

uma atividade social. O homem estabeleceria relações com um mundo que nem

sempre corresponderia ao mundo real e os termos utilizados para explicar este

mundo seriam produtos dos relacionamentos sociais interligados a todo o resto da

vida social. Já Moscovici teria afirmado que representações sociais seriam estruturas

de conhecimento, construídas e partilhadas por grupos pela via de trocas sociais,

cuja função seria dar sentido ao desconhecido, tornando os enigmas da vida mais

familiares. O autor ainda argumenta em seu trabalho que sua perspectiva para tratar

do conhecimento socialmente produzido seria a afirmação de que um indivíduo

adquire conhecimento via mediação de outros indivíduos e via relatos verbais.

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Porém, analisar a construção social do conhecimento sob o olhar da Análise do

Comportamento poderia ampliar as possibilidades de intervenção sobre os

processos envolvidos nessa construção, na medida em que se assuma que tais

processos são fenômenos no âmbito do comportamento.

Guerin (1992) aponta também que as conseqüências fornecidas por outros

provavelmente não são óbvias, além de serem intermitentes e mediadas por várias

pessoas. Para fortalecer e exemplificar sua posição o autor cita estudo de Di

Giacomo que teria utilizado um procedimento de associação livre para estudar as

representações sociais de um movimento de protesto. Para Guerin (1992), tais

associações provavelmente seriam comportamentos intraverbais, puramente

controlados por outros comportamentos verbais, ou seja, alguns estudantes no

protesto só conheciam os eventos sobre os quais protestavam ‘de ouvir falar’; logo o

comportamento verbal deles apenas seria controlado por palavras e pelas

conseqüências sociais por reproduzir aquelas palavras num contexto apropriado.

Hoje, nas sociedades de massa, faz-se contato com os acontecimentos de

muitos lugares do país e do mundo por meio do que é dito sobre eles nos veículos

de mídia. Em outras palavras, conhece-se mais sobre o mundo, no sentido de que

emite comportamento verbal apropriado quando o contexto assim exigir, porém este

conhecimento é intraverbal, ou seja, controlado por estímulos antecedentes verbais

produzidos, neste caso, pela mídia. Há, portanto, uma questão de base a ser

discutida: é difícil saber se os relatos feitos pela mídia (ou melhor, por seus agentes)

são, de fato, tatos dos eventos por ela contados, como parecem ser. Os relatos têm

características formais de tatos, mas é difícil identificar sua fonte antecedente de

controle. E tais relatos têm sido por sua vez, a fonte de controle antecedente do

conhecimento social de muitos indivíduos acerca de eventos ocorridos em diversas

partes do mundo. Logo, não é apenas a mediação que é importante quando se

analisa como o indivíduo conhece o mundo, mas o aumento do número de

mediações que ele passou a ter para conhecer o mundo com o advento da mídia,

mais particularmente da mídia de massa. A mediação via relato verbal,

anteriormente promovida de maneira direta entre os indivíduos que se comportam,

passou a ser uma espécie de cadeia de mediações onde alguns indivíduos têm

acesso ao ‘relato do relato’ de um dado evento. Embora, do ponto de vista do falante

(que “adquire conhecimento” pela mídia) ainda caiba ao grupo mais próximo o

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controle sobre seu comportamento, pelas conseqüências diferenciais que seguem

certas afirmações emitidas pelo indivíduo, agora cabe também aos chamados meios

de comunicação um papel nessa produção de conhecimento social. Esse papel

desempenhado pelos meios de comunicação suscita, então, a preocupação de

compreender como esse conhecimento é construído quando envolve meios de

mídia. Esta preocupação que já era grande desde há muito, cresce com o processo

de globalização econômica e cultural – quando passa fazer sentido a expressão

‘cultura da mídia’ (Alves, 2006).

De acordo com Augusti (2006) um pressuposto básico que sustenta sua

postura em seu trabalho é a admissão de que o campo do jornalismo é atravessado

por relações de poder. É preciso considerar que o campo possui relativa autonomia

e, portanto, poder, inclusive no âmbito dos profissionais. Os jornalistas exercem

influência ativa na construção das notícias nas mais diversas etapas de sua

produção, atuando também ativamente na construção da realidade. Ferreira (2002,

p. 244) é citado por Augusti (2006):

“A legitimação pelo mercado desloca o campo jornalístico do sucesso democrático (informar o cidadão...) ao sucesso comercial (o jornal mais vendido, de maior tiragem, aquele que proporciona o maior número de negócios...). sua lógica é marcada por uma série de contradições que são conhecidas como efeitos de campo. De início, o fazer saber, princípio fundador do campo de produção jornalístico deve ser minimizado ou, às vezes, ignorado pelo fazer sentir ou fazer seduzir”.

As notícias, sob a visão da teoria interacionista, sustentada sob enfoque

construcionista, são o resultado de um processo de produção definido como a

percepção, seleção e transformação de uma matéria-prima, reconhecida como

acontecimento, em um produto (as notícias) (Augusti, 2006).

Os sistemas de mídia modernos e as tecnologias de informação são agora

capazes de transmitir informação rapidamente e sem olhar para artificiais fronteiras

políticas ou restrições ideológicas. O colapso do socialismo na Europa Oriental, em

1989, exemplifica como a alta tecnologia de informação pode quebrar o isolamento

psicológico de uma cidadania e levar a grandes convulsões sociais (Rakos, 1991

apud Laitinen & Rakos, 1997). Nas democracias contemporâneas, a ausência de

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governo opressivo que controla a informação é normalmente considerada uma

característica fundamental de uma sociedade livre. No entanto, a falta de controle

aversivo não significa que a informação é livre de controles funcionais. Pelo

contrário, o atual mecanismo de influência direta através de contingências

econômicas e políticas representa uma ameaça ainda maior do que a diversidade

comportamental faz historicamente em formas tirânicas. O controle da informação

hoje é mais sistemático, contínuo e consistente, sem dar na vista, e muito poderoso

(Rakos 1992, apud Laitinen & Rakos, 1997).

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3.4. O que são células-tronco?

As células-tronco são células primitivas, produzidas durante o

desenvolvimento do organismo e que dão origem a outros tipos de células. Existem

vários tipos de células-tronco (disponível em:

http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI472268-EI1434,00.html ; acesso em

10/2008): Totipotentes - podem produzir todas as células embrionárias e extra

embrionárias; Pluripotentes - podem produzir todos os tipos celulares do embrião;

Multipotentes - podem produzir células de várias linhagens; Oligopotentes - podem

produzir células dentro de uma única linhagem e Unipotentes - produzem somente

um único tipo celular maduro. As células embrionárias são consideradas

pluripotentes porque uma célula pode contribuir para formação de todas as células e

tecidos no organismo. Estas células-tronco servem para produzir células e tecidos

para terapias medicinais e podem ser encontradas em embriões recém-fecundados

(blastocistos), criados por fertilização in vitro - aqueles que não serão utilizados no

tratamento da infertilidade (chamados embriões disponíveis) ou criados

especificamente para pesquisa; embriões recém-fecundados criados por inserção do

núcleo celular de uma célula adulta em um óvulo que teve seu núcleo removido -

reposição de núcleo celular (denominado clonagem); células germinativas ou órgãos

de fetos abortados; células sanguíneas de cordão umbilical no momento do

nascimento; alguns tecidos adultos (tais como a medula óssea) e células maduras

de tecido adulto reprogramadas para ter comportamento de células-tronco.

O desenvolvimento de células-tronco embrionárias humanas teve início com

as pesquisas de Thomson et al. (apud, Donadio et al, 2005), em 1998, e vem sendo

palco de infindáveis discussões religiosas, éticas e legais.

As células totipotentes são capazes de se desenvolver em qualquer tecido

dos três folhetos germinativos, além dos tecidos extra-embrionários. Visando a

terapia celular, essas células seriam aquelas adequadas em procedimentos mais

eficazes de utilização de embriões (em tese). A utilização das células-tronco adultas

talvez promova os mesmos resultados, apesar destas terem um potencial de

diferenciação menor que aquelas (DONADIO et al, 2005).

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Atualmente no Brasil, os tratamentos com células-tronco têm sido feitos

apenas como ensaios clínicos e em grandes centros de pesquisa, como os grandes

hospitais e somente para pacientes que assinam um termo de consentimento e

concordam em participar desses estudos. Recentemente, o Ministério da Saúde

aprovou um orçamento de R$ 13 milhões em três anos para a pesquisa das células-

tronco, da qual participarão alguns grandes hospitais brasileiros como o Instituto do

Coração - SP, Instituto Nacional de Cardiologia de Laranjeiras - RJ, entre outros.

Serão estudadas as cardiopatias chagásicas (decorrente da doença da Chagas), o

infarto agudo do miocárdio, a cardiomiopatia dilatada e a doença isquêmica crônica

do coração. Como a terapia utiliza células-tronco autólogas, o estudo não sofre

influência da Lei de Biossegurança, recém-aprovada no Senado. Além desse

incentivo à pesquisa, o Brasil está investindo em terapia com células-tronco voltada

a outras doenças, como é o caso da distrofia muscular, esclerose múltipla, câncer,

traumatismo de medula espinhal, diabetes etc.

De acordo com Souza (), além da enorme versatilidade das células-tronco,

quando estas são obtidas por meio da clonagem terapêutica, têm a vantagem de

evitar a rejeição, diferentemente das células-tronco embrionárias obtidas a partir de

embriões congelados em clínicas de fertilização, quando há necessidade de

compatibilidade entre o doador e o receptor.

O que diz a Lei

Em março de 2005, as pesquisas com células-tronco embrionárias humanas

foram aprovadas no Brasil no âmbito da Lei de Biossegurança. Em maio do mesmo

ano, no entanto, o então procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, entrou no

Supremo Tribunal Federal com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin)

contra o artigo a respeito das pesquisas, sob a alegação de que estudos do gênero

feriam “o direito de embriões”. O pedido foi acatado no fim de 2006.

A lei de Biossegurança reza o seguinte:

Dispõe o artigo 5° da Lei de Biossegurança nº 11.105/05:

”Art. 5o É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições”:

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I – sejam embriões inviáveis; ou

II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento.

§ 1o Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores.

§ 2o Instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa ou terapia com células-tronco embrionárias humanas deverão submeter seus projetos à apreciação e aprovação dos respectivos comitês de ética em pesquisa.

§ 3o É vedada a comercialização do material biológico a que se refere este artigo e sua prática implica o crime tipificado no art. 15 da Lei no 9.434, de 4 de fevereiro de 1997.”

A lei de Biossegurança assegura o uso das células-tronco embrionárias

retiradas de embriões humanos apenas em pesquisas e terapias; e a utilização

destas células só é permitida se a célula for produzida pela fertilização in vitro e não

for utilizada neste procedimento, que sejam embriões inadequados para o uso da

fertilização e que estejam congelados a mais de três anos. Além do mais é ainda

necessária a autorização dos genitores e sua utilização em pesquisas de ser

submetida aos respectivos comitês de ética. Fica ainda proibida a comercialização

deste material qualificando sua prática como crime nos artigos propostos para esta

lei.

No dia 29/05/2008 esta lei foi aprovada pelo Supremo Tribunal Federal com 6

votos a 5, depois de uma sessão histórica, a lei foi considerada constitucional e a

ação impretada em 2005, rejeitada. Com isso, autoriza-se, sem restrições, a

utilização de células-tronco em pesquisas.

O que estava sendo julgado era uma Ação Direta de Inconstitucionalidade

(Adin) contrária às pesquisas, sob a alegação de que elas violavam o direito à vida.

Na ação, de acordo com Souza (2007), o Ministério da Saúde, em contrapartida,

alega que a lei não é passível de ser inconstitucional, pois a Constituição Federal em

momento algum faz menção sobre embriões que ainda não se fixaram no útero.

Assim, a Lei de Biossegurança é a única regulamentação sobre esse assunto.

Declara ainda que os Códigos Civil e Penal tratam somente de gestação, ou seja,

embrião dentro do útero.

Segundo Donadio et al (2005) as posições quanto à origem dos embriões

utilizados para obtenção das células-tronco são irreconciliáveis, mas é quase

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unânime a posição de que não se deve criar embriões especificamente para esta

finalidade e sim utilizar aqueles extranumerários existentes nas clínicas de

reprodução assistida. Ainda este autor argumenta o surgimento de dois raciocínios

diferentes quanto à inviabilidade dos embriões prescrita na Lei de Biossegurança: a

inviabilidade genética, caracterizada por alterações do embrião comprovadas pelo

diagnóstico pré-implantacional, incompatíveis com a vida, ou que não foram

comprovadas por falhas da técnica, mas com elevado risco; e a inviabilidade

evolutiva, ou seja, quando a transferência uterina do embrião não resultaria em

gravidez.

Em 1990, o Parlamento britânico aprovou legislação inédita regulando os

procedimentos de reprodução assistida e a pesquisa embriológica, legislação esta

ainda hoje considerada uma das mais permissivas em vigor no mundo: a Human

Fertilisation and Embriology Act. A lei britânica foi aprovada após uma década de

debates envolvendo legislativo, Governo, sociedade civil e comunidade científica, e

após ter-se atacado a pergunta sobre o estatuto do embrião em seu estágio inicial.

Seu texto final liberava a manipulação experimental de embriões in vitro até o limiar

de 14 dias após a fertilização: marco daquilo que passou a configurar uma nova

categoria classificatória, o “pré-embrião”. Uma Autoridade nacional, controlada pelo

Legislativo, foi instituída para proceder à supervisão e ao monitoramento das

pesquisas em caráter permanente. Os britânicos não só dedicaram um texto

específico à pesquisa embriológica, como conduziram um debate longo e

aprofundado que extrapolou os muros do Parlamento até que se chegasse a uma

resposta (ainda que não unânime) à questão sobre seu estatuto. A regra brasileira

para a pesquisa com os embriões congelados, por sua vez, mal pode ser chamada

de “lei”; trata-se de um artigo “encaixado” em texto destinado a resolver a urgente

polêmica dos transgênicos que foi açodadamente votado em poucos meses, com

bem menos debate do que o tema mereceria. (Cesarino 2007). Toda esta

mobilização em defesa da vida ocorre devido ao fato de, no dia 5 de março de 2008,

o STF ter realizado uma Sessão de Julgamento da Ação Direta de

Inconstitucionalidade (Adin), proposta pelo procurador-geral da República, Cláudio

Fonteles, referente ao artigo 5º da Lei Federal nº 11.105 (Lei de Biossegurança), que

autoriza, entre outros, o uso de células-tronco embrionárias para pesquisas e

terapias. Conforme o professor Nery, depois de vários posicionamentos pró e contra

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a constitucionalidade do artigo, o ministro Brito julgou improcedente o pedido

formulado na Adin. Entretanto, o ministro Carlos Alberto Menezes Direito solicitou

vistas do processo, viabilizando o adiamento da decisão do STF, para um estudo

mais aprofundado da questão. Segundo Nery, é preciso refutar os argumentos

apresentados pelo ministro Brito, dado que “a decisão do STF poderá ter sérias

implicações e graves conseqüências, se realmente não forem capazes de explicitar

de modo convincente de que a vida humana deve ser protegida pela lei, respeitada e

amada desde seu início, com a fecundação, até o seu término natural, pois, uma

decisão contrária pode comprometer seriamente a dignidade do ser humano e

permitir procedimentos éticos que podem colocar em risco o valor e o sentido

humano da vida, em todas suas dimensões (Boletim Semanal da CNBB, 2008).

OS CONTRAS E PRÓS

Contras

Em 2005, Gallian afirma que, unanimemente os cientistas que pesquisam ou

reivindicam a liberdade de pesquisar com células-tronco embrionárias, reconhecem

as “grandes dificuldades técnicas” que têm se apresentado no processo de

investigação. Ao contrário do que vem ocorrendo com as células-tronco adultas, as

experiências com células-tronco embrionárias não produziram ainda nenhum êxito

terapêutico reconhecido, sequer em animais. Pelo contrário, estudos importantes

vêm demonstrando que a utilização de células-tronco embrionárias em experimentos

terapêuticos têm se associado à ocorrência de tumores em animais, levando a crer

que o mesmo deva ocorrer se administrado em seres humanos. Recentemente,

cientistas coreanos, os primeiros a tentarem realizar publicamente pesquisas com

células-tronco de embriões humanos, divulgaram nota esclarecendo que “das três

associações celulares humanas obtidas através de clonagem – de um total de

centenas de tentativas em centenas de óvulos – apenas uma derivou em linhagem

celular do tipo embrionário” (p. 255). Entretanto, esclarecem, “tal linhagem

apresentou-se imprestável para a pesquisa ou para uso terapêutico” (p. 255).

Conclusão: a possibilidade de que se venha a conseguir linhagens úteis para

pesquisa nos próximos anos é ínfima.

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Em artigo sobre família e bioética, o arcebispo emérito da Arquidiocese do Rio

de Janeiro, Dom Eugênio Sales (2002), um dos mais tradicionais expoentes da ala

conservadora da Igreja Católica brasileira, citando diversos documentos do

magistério católico, afirma: “no momento em que o óvulo é fecundado, inaugura-se

uma nova vida que não é aquela do pai ou da mãe, mas de um novo ser humano

que se desenvolve por conta própria”. E “a manipulação e a destruição de embriões

humanos não são moralmente aceitáveis, nem mesmo se destinados a um objetivo

em si bom”.

Em 24 de março passado o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da

Silva, sancionou, com poucos vetos, o Projeto de Lei da Biossegurança (PL

2401/03),aprovado pela Câmara de Deputados por 352 votos favoráveis, 60

contrários e uma abstenção. Temos, assim, a Lei nº 11.105, de 24.03.2005. Não

há motivo, porém, para festejos. Na “sociedade do risco” a insegurança permeia

todos os setores. Há a insegurança das ruas; dos produtos que consumimos; da

manipulação publicitária, que nos engana cotidianamente; e também há a

insegurança legislativa que deixa o cidadão atônito pela falta de critérios em que

possa apoiar, confiadamente, a sua conduta. Esta faceta da insegurança permeia a

Lei que deveria assegurar o seu contrário, derivando de um conjunto de fatores

que, infelizmente, se têm feito presentes também em outras recentes leis

(MARTINS-COSTA et al, 2005).

Prós

Em seu estudo intitulado Células-tronco: pesquisa básica em saúde, da ética

à panacéia Luna (2007), pode constatar que entre os pesquisadores não se

encontrou correspondência linear entre a opção religiosa e a posição frente às

pesquisas com células embrionárias. A despeito disso, no tocante aos sistemas de

valores, o valor da vida, oriundo do campo religioso e dotado de acento metafísico, é

o cerne dos argumentos de favoráveis e contrários à pesquisa com embriões. Todos

defendem a vida, mas há várias formas de defini-la, que vão desde a essência

humana contida no DNA já na fecundação, até a formação dos primórdios do

sistema nervoso como fundamento da condição humana, ou a morfologia e

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organização do ser vivo. Para uns, o início da vida e sua viabilidade não se definem

isoladamente, mas na inserção no útero materno. Várias referências de caráter físico

e biológico assumem acento físico-moral quando se faz a correspondência com

atributos de individualidade e racionalidade. Por outro lado, não há consistência total

entre as opiniões sobre o estatuto do embrião, a posição frente à pesquisa, e as

opções das linhas de investigação efetivamente adotadas. Percebe-se que essas

últimas decisões remetem à história e à estrutura do campo, não se prendendo a

sistemas de valores em abstrato.

De acordo com Reinach (1994/95) os problemas éticos gerados pelo

desenvolvimento da genética advêm em parte de uma propriedade intrínseca aos

seres vivos: a continuidade que caracteriza os processos biológicos. Exemplos

incluem o processo de desenvolvimento embriológico e a variação genética de uma

população. O desenvolvimento de um ser vivo se caracteriza por uma sucessão

contínua de eventos que se espalham temporalmente desde a fecundação até a

morte. Da mesma maneira, a variação genética ou morfológica de uma população se

caracteriza por um contínuo de formas resultante da interação entre um número

grande de genes. O autor acrescenta ainda que:

“(...) muitos dilemas éticos relacionados à genética são

caracterizados pelo confronto entre a necessidade social de

traçar uma linha separando o aceitável do inaceitável e o

espectro contínuo de possibilidades que caracteriza o

fenômeno biológico” (p. 06).

Em um estudo publicado no ano de 2005, Mota, Soares & Santos

concordaram que O desenvolvimento de técnicas de transplante de órgãos sólidos e

de medula óssea foi um dos mais fascinantes avanços da medicina no século XX. A

virada do século XXI testemunha um desdobramento também fascinante e promissor

desta modalidade terapêutica: o uso de células-tronco para regenerar tecidos

lesados outrora considerados irreparáveis. Resultados encorajadores de inúmeros

estudos com animais de experimentação impulsionaram grupos de diversos centros

no mundo a iniciar estudos clínicos com transplante de células-tronco em várias

doenças, particularmente as doenças cardiovasculares e neurológicas. Embora

ainda estejamos algo distante de entender o mecanismo preciso pelo qual as

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células-tronco regeneram órgãos lesados, os estudos publicados até o presente

momento, incluindo vários estudos envolvendo seres humanos, sugerem haver um

benefício real com esta terapia. Ainda no mesmo estudo os autores enfatizam que

Embora os resultados alcançados em várias áreas sejam animadores, pouco se

sabe sobre os mecanismos de atuação destas células, quais populações celulares

são importantes e quais os fatores necessários para o recrutamento e função destas

células. A melhor compreensão destes fenômenos deverá contribuir para o

desenvolvimento de estratégias terapêuticas mais eficazes e menos invasivas para

doenças crônico-degenerativas.

De acordo com Santos, Soares & Carvalho (2004), a pluripotencialidade das

células-tronco adultas recoloca a questão da utilização terapêutica das células-

tronco em bases totalmente novas. Não apenas nos vemos livres das questões

ético-religiosas que cercam a utilização das células-tronco embrionárias na

medicina, mas também nos livramos dos problemas de rejeição imunológica ao

podermos utilizar células tronco do próprio paciente adulto na regeneração de

tecidos ou órgãos lesados.

Assim, com todas estas informações científicas, pode-se conferir que existem

ainda muitas divergências quanto à utilização das células-tronco embrionárias em

pesquisas e terapias, mesmo depois da aprovação da referida lei de biossegurança.

Contudo, até mesmo nos noticiários e matérias publicadas pela fonte deste trabalho,

bem como pelas opiniões e comentários dos leitores é possível distinguir os

simpatizantes ou não por este tema que causou e ainda causará muita polêmica

tanto pela comunidade científica quanto por aqueles que acompanham estes

estudos, ou até mesmo se vêem esperançosos com processos bem-sucedidos na

área.

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4.Método

4.1. FONTE

O site Folha on-line foi escolhido como fonte para esta pesquisa. Este site

pode ser acessado pelo portal (www.folhaonline.com.br). É um site jornalístico

atualizado durante todo o dia, de hora em hora, disponibilizando o acesso a

publicações anteriores em parte.

Esta escolha ocorreu pelo fato deste site permitir a opinião e o comentário dos

leitores sobre as matérias publicadas na rede. Há campo para comentar as matérias

veiculadas, entretanto, o site dispõe de um tratamento específico aos comentários,

qual seja, ele traz o agrupamento das notícias relativas ao tipo de assunto tratado.

Os comentários utilizados no presente trabalho foram especificamente os

direcionados às matérias sobre as células-tronco embrionárias, sua utilização em

pesquisas e terapias, aprovação de leis para sua utilização, dentre outros aspectos.

4.2. SOBRE A ANÁLISE DOS DADOS

Os dados foram analisados da seguinte maneira: separaram-se todos os

comentários feitos no site Folha On-line, sendo um total de 690 comentários entre os

meses de Março a setembro de 2008, relacionados com as reportagens publicadas a

respeito do tema células-tronco embrionárias, aprovação de leis e seu uso para

pesquisas e terapias. Foram separados, entre os meses de março a junho de 2008,

setenta (70) comentários do total de seiscentos e noventa (690). A escolha de tais

meses se deu pelo fato de serem os meses em que houve maior resposta dos

leitores. Os comentários foram escolhidos aleatoriamente a partir de cada mês,

totalizando 11% de todos os comentários existentes. O procedimento para a escolha

aleatória dos comentários não teve um método específico, apenas foram apanhados

os primeiros comentários listados nas primeiras páginas de cada mês até completar

o total de 70 dos comentários em geral. Cada página existe em média de oito a dez

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comentários. A coleta dos comentários foi realizada no dia 20 de setembro de 2008,

até esta data estavam disponíveis 690 comentários no site Folha On-line. A cada dia

os leitores podem comentar as reportagens que são publicadas.

Analisou-se ainda na literatura informações quanto ao uso destas células.

Quanto aos comentários analisados, observou-se a freqüência de opiniões contra e

a favor do uso das células-tronco embrionárias em pesquisas e terapias. Analisaram-

se também referências quanto método, técnica, tratamento e ética do uso dessas

células; antes e depois da aprovação da Lei de Biossegurança (no seu artigo 5º) na

data de 29/05/2008, como categorias de análise. A classificação destas categorias

partiu da leitura de textos científicos contra e a favor à utilização das células-tronco

embrionárias em pesquisas e terapias. Cada opinião emite uma definição de tais

categorias: as literaturas tanto a favor como contra descrevem o método in vitro

como o melhor método para estudos destas células. Quanto a técnica a literatura a

favor cita que existem técnicas onde é possível reparar órgãos (ou células)

danificados, aplicando-se uma quantidade de células tronco no paciente. Já a

literatura contra diz que ainda não foram produzidos nenhum êxito terapêutico

reconhecido e que essa técnica ainda pode gerar outros tipos de doenças além de

rejeições. Com relação aos tratamentos, os cientistas a favor dizem que pode haver

melhoras ou curas de lesões traumáticas, doenças crônicas e doenças

degenerativas. Já os cientistas contra dizem que não existe comprovação de

sucesso em tratamentos com humanos com as células embrionárias. No que diz

respeito a ética da sua utilização, os cientistas têm suas opiniões bastante

semelhantes às opiniões populares, as opiniões a favor dizem que a célula ainda

não tem características ou sinais vitais que comprometam sua utilização. As opiniões

contra dizem que a vida já começa na fecundação, então há um ser vivo em

questão. Segue abaixo a tabela destas categorias de acordo com a literatura.

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Quadro de categorias de acordo com a literatura científica.

CATEGORIAS

Literatura a Favor (Luna, 2007.

Mota & Soares, 2005. Santos,

Soares & Carvalho 2004).

Literatura Contra (Cesarino,

2007. Gallian, 2005).

MÉTODO In vitro In vitro

TÉCNICA

Pode reparar órgãos (ou células)

danificados, aplicando-se uma

quantidade de células tronco no

paciente.

Ainda não produziram nenhum

êxito terapêutico reconhecido,

pode gerar outros tipos de

doenças.

TRATAMENTO

Melhora ou cura de lesões

traumáticas, doenças crônicas,

doenças degenerativas.

Não há comprovação de

sucesso em tratamentos com

humanos com células

embrionárias.

ÉTICA

A célula ainda não tem

características ou sinais vitais que

comprometam sua utilização

A vida já começa na

fecundação, há um ser vivo em

questão.

O que se pode observar é que de acordo com Luna (2007) a fertilização in

vitro (FIV) é a técnica que produz embriões em laboratório. A fim de aumentar a

eficácia da técnica proporcionando maiores chances de gravidez, estimula-se a

maturação de vários folículos no ovário, formando óvulos que serão coletados e

unidos a sêmen tratado. Esta seria a técnica mais adequada para as pesquisas e

terapias das células-tronco embrionárias, que ao invés de serem fecundadas no

útero, seriam implantadas para a regeneração de algum tecido.

Por outro lado, Cesarino (2007) cita que de acordo com Natalia López

Mortalla, catedrática de bioquímica da Universidade de Navarra, Espanha, “a

tecnologia da clonagem é extremamente ineficaz e, no caso dos primatas, de mil

tentativas realizadas (mil óvulos), não se conseguiu nenhum verdadeiro embrião”.

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Isso mostra o quanto as opiniões sobre os estudos com células-tronco embrionárias

ainda se divergem e provoca debates mesmo no meio científico.

Em geral foi também analisado o comportamento de conhecer (saber sobre)

referente ao assunto e sua relação com uma resposta “A FAVOR” OU “CONTRA” o

conteúdo da reportagem, no caso, sobre o uso das células-tronco embrionárias.

A página do site Folha On Line é uma versão resumida on-line do jornal Folha

de São Paulo. Neste site, os assinantes podem ter acesso aos arquivos das

matérias do jornal, porém, as reportagens do Folha On-line só estão disponibilizadas

em alguns meses do ano. Por isso a dificuldade de avaliar as reportagens que foram

comentadas na íntegra.

No presente trabalho foram usados os termos leitores, inter-leitores e leitor-

inter-leitor para referir-se aos emissores das respostas referentes à reportagem

publicada; aos emissores das respostas referentes aos comentários dos outros

leitores, respectivamente. Analisou-se, ainda, o leitor-inter-leitor, que se refere ao

internauta que emite os dois tipos respostas, tanto referente às reportagens quanto

aos comentários dos outros leitores.

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5. Resultados e Discussão

O conhecimento socialmente construído tem sido um tema explorado por

estudiosos das Ciências Sociais e da Psicologia, e neste, pela Análise do

Comportamento. Conhecimento socialmente construído é conhecimento que um

indivíduo adquire em sua relação com o ambiente social por meio de descrições

fornecidas pela comunidade verbal. Tal conhecimento é comportamento verbal que

envolveria tatos, autoclíticos e intraverbais - que são especificamente respostas

verbais sob controle antecedente de estímulos também verbais. Nas sociedades

ocidentais contemporâneas, a mídia de massa tem desempenhado um papel

importante na construção e manutenção de conhecimento socialmente construído,

fornecendo às pessoas, através de seus veículos - jornais, TV, internet, rádio,

cinema, entre outros - relatos verbais acerca de eventos que ocorrem no mundo

(Alves, 2006).

Hoje, nas sociedades de massa, fazemos contato com os acontecimentos de

muitos lugares do país e do mundo por meio do que é dito sobre eles nos veículos

de mídia. Em outras palavras, conhecemos mais sobre o mundo, no sentido de que

sabemos emitir comportamento verbal relativo a muitos eventos e objetos por

experiência direta e indireta quando o contexto assim exigir, porém, quando o

conhecimento é adquirido de forma indireta (por meio de relatos verbais de outros)

este conhecimento é intraverbal, ou seja, controlado por estímulos antecedentes

verbais produzidos, neste caso, pela mídia e seus interlocutores. Logo, não é

apenas a mediação (conhecer pelo conhecimento do outrto) que é importante

quando se analisa como o indivíduo conhece o mundo, mas o aumento do número

de mediações que determinado conhecimento passou a configurar para tornar as

pessoas conhecedoras do mundo, e com o advento da mídia, mais particularmente

da mídia de massa, conhecer não necessariamente implicaria no contato direto (via

contingências) para que se possa emitir comportamento sobre. A mediação via

relato verbal, anteriormente promovida de maneira direta entre os indivíduos que se

comportavam, passou a ser uma espécie de cadeia de mediações onde alguns

indivíduos têm acesso ao ‘relato do relato’ de um dado evento (Alves, 2006), por

meio do conhecimento disponibilidade por outros.

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De acordo com Passos (2003) a função do comportamento verbal relaciona-

se à vida do homem em sociedade. Mais do que vantajoso para o indivíduo, ele o é

para a comunidade como um todo e, por isto, esta dispõe de práticas específicas

para sua modelagem. Assim como ocorre com as outras práticas culturais, é no

efeito sobre a vida do grupo, mais do que sobre a do indivíduo, que devemos buscar

as razões pelas quais o comportamento verbal é modelado e mantido. Não são

necessários novos mecanismos, além daqueles já estudados na modelagem e

manutenção do repertório de operantes dos organismos em geral, para a explicação

da aquisição da linguagem. A comunidade verbal instala os repertórios verbais a

partir dos processos de reforçamento, resultando em discriminação, generalização,

diferenciação, etc. A investigação da aquisição da linguagem não é orientada pelo

exame do que ocorre na interioridade do sujeito, mas, ao contrário, deve ser fiel à

busca de determinantes do comportamento na exterioridade, pela ação no e do

ambiente sobre o organismo, pelo exame das contingências de reforçamento

"planejadas" pela comunidade verbal.

ANÁLISE QUANTITATIVA

No presente trabalho, pretendeu-se medir primeiramente a quantidade de

comentários totais do site Folha On-line, bem como, a quantidade total de cada mês

disponível, tendo como foco as reportagens sobre células-tronco. Considerou-se o

período de março a setembro de 2008 na localização dos comentários e registro de

sua freqüência.

A partir da análise dos dados observou-se que do total geral de comentários

(n=690), os meses de março e maio apresentaram maior freqüência com 358 e 168

comentários, respectivamente. Em segundo lugar, o mês de abril com 113

comentários e, em último, o mês de junho com 47 comentários. Os meses de julho

(n=1), agosto (n=2) e setembro (n=1) apresentaram decréscimo importante de

respostas emitidas pelos leitores, por este motivo não foram avaliados quali-

quantitativamente os comentários desses meses, mesmo que relacionados ao tema

em questão. Segue abaixo a distribuição de todos os comentários feitos no site

Folha On-line (n=690). (ver Gráfico 1).

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62

358

113168

471 2 10

50100150200250300350400

Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro

Distribuição dos comentários de acordo com o mês (ano 2008)

Gráfico 1: Distribuição total de comentários disponíveis no site Folha On-line

por mês.

Uma mudança importante que foi observada nos comentários ao longo dos

meses foi quanto à freqüência de comentários conforme o mês. Os meses de março

(n=358), abril (n=113) e maio (n=168) foram os meses que antecederam os debates

sobre as células-tronco embrionárias no Supremo Tribunal Federal. Esses cogitavam

a votação da lei de Biossegurança. O mês em que ocorreu a votação (maio/2008), a

freqüência dos comentários é relativamente maior do que nos meses posteriores;

junho (n=47), julho (n=1), agosto (n=2) e setembro (n=1). Percebe-se que a emissão

de respostas vai diminuindo com o passar dos meses, possivelmente sob controle

do debate apresentado pela mídia, e em especial, pelas reportagens na Folha On

line.

Para o presente trabalho, foram selecionados e analisados 70 comentários

assim distribuídos: 20 comentários no mês de março, 17 no mês de abril, 18 no mês

de maio e 15 no mês de junho. A escolha da quantidade de comentários foi baseada

numa porcentagem de 11% do total de comentários, e esta escolha foi feita por

sorteio aleatorio como já descrito no método (ver Gráfico 2).

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63

2017 18

15

0

5

10

15

20

25

MARÇO ABRIL MAIO JUNHO

Descrição da quantidade de comentários de acordo com o mês .

Gráfico 2: Distribuição da quantidade de comentários analisados por mês.

Aqui analisou-se a quantidade de comentários contra e a favor da utilização

das células tronco em pesquisas e terapias no Brasil. Quanto à freqüência de

comentários contra e a favor à utilização das células tronco em pesquisas e terapias

notou-se um número maior de opiniões a favor (n= 47), e comentários contra foi de

18 do total pesquisado. No mês de maio as opiniões a favor também prevaleceram,

com 11 comentários do total (n= 70). Os comentários neutros representaram aqueles

usuários que não emitiram opinião nem contra e nem a favor do tema em debate,

com uma freqüência de 6 comentários em todos os meses pesquisados (ver gráfico

3).

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64

15

1211

9

34

56

21

3

00

2

4

6

8

10

12

14

16

MARÇO ABRIL MAIO JUNHO

Descrição de comentários contra, a favor e neutros por mês.

A FAVORCONTRA

NEUTRO

Gráfico 3: Distribuição de comentários contra, a favor e neutros por mês.

ANÁLISE QUALITATIVA

Variabilidade nas Respostas

Segundo Skinner (2007) o que denominamos comportamento evoluiu como

um conjunto de funções aprofundando o intercâmbio entre organismo e ambiente.

Em um mundo relativamente estável, o comportamento poderia ser parte do

patrimônio genético de uma espécie assim como a digestão, a respiração ou

qualquer outra função biológica. O envolvimento com o ambiente, contudo, impôs

limitações. O comportamento funcionava apropriadamente apenas sob condições

relativamente similares àquelas sob as quais fora selecionado. A reprodução sob

uma ampla gama de condições tornou-se possível com a evolução de dois

processos por meio dos quais organismos individuais adquiriam comportamentos

apropriados a novos ambientes, comportamentos esses adquiridos no contato direto

com o ambiente, gerando assim algum nível de adaptação às exigências do meio.

Por meio do condicionamento respondente (pavloviano), respostas emitidas e

originadas por processos de seleção natural poderiam ficar sob o controle de novos

estímulos. Por meio do condicionamento operante, novas respostas poderiam ser

fortalecidas (“reforçadas”) por eventos que imediatamente as seguissem.

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Skinner (2007) afirma que o condicionamento operante é um segundo tipo de

seleção por conseqüências. Deve ter evoluído em paralelo a dois outros produtos

das mesmas contingências de seleção natural – a susceptibilidade ao reforçamento

por certos tipos de conseqüências e um conjunto de comportamentos menos

especificamente relacionados a estímulos eliciadores ou liberadores (A maior parte

dos operantes é selecionada a partir de comportamentos que têm pouca ou

nenhuma relação com esses estímulos).

A seleção pelas conseqüências está diretamente ligada a processos de

variação de respostas. O comportamento para se tornar adaptativo, em sua maioria,

varia de acordo com o ambiente reforçador antes de ser selecionado. No presente

trabalho é possível analisar tanto quantitativamente como qualitativamente a

variabilidade das respostas dos leitores quanto ao assunto em debate.

Buscou-se analisar os comentários quanto ao conteúdo escrito. Para tal

mediu-se a emissão do comportamento textual conforme sua interpretação e

resposta aos critérios (definição) de acordo com categorias de análise. As

categorias, considerando sua relevância na discussão sobre o tema, foram: método,

técnica, tratamento e ética.

Os dados analisados permitiram considerar que do total de comentários

analisados a maior freqüência entre os meses foi para a categoria ética, com 50

comentários. Em segundo lugar, a categoria método com uma freqüência de 9

comentários; o tratamento e a técnica, com 8 e 3 comentários, respectivamente (ver

gráfico 4).

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0 0 0

20

42 2

9

20

3

13

31

3

8

0

5

10

15

20

25

MÉTODO TÉCNICA TRATAMENTO ÉTICA

Quantidade de comentários relacionados com método, técnica, tratamento e ética

por mês.

MARÇO

ABRIL

MAIO

JUNHO

Gráfico 4: Distribuição dos comentários de acordo com a classificação do método,

técnica, tratamento e ética por mês.

No presente trabalho, observou-se que nos comentários não é possível

identificar que tipo de leitor responde e interage nos fóruns de debates, ou seja, não

se pode identificar a idade, profissão, grau de intrução dos internautas que

comentam. Neste caso, só é possível identifica-los se os próprios leitores o fizerem.

A emissão de comentários e sua classificação em categorias foi respaldada na

literatura científica sobre o tema células-tronco embrionárias. Então, os comentários

classificados com maior freqüência foram aqueles que apresentavam relatos que

foram discriminados como com relação à ética.

A palavra ética é originada do grego ethos, (modo de ser, caráter) através do

latim mos (ou no plural mores) (costumes, de onde se derivou a palavra moral.).

Ética então, está ligada diretamente a moral, ao indivíduo com a sociedade, aos

seus deveres e tudo o que o ser humano aprendeu desde o seu nascimento em

relação ao ‘certo e errado’, em relação ao seu modo de se comportar, que leis seguir

e suas opiniões sobre a construção social e do mundo que o rodeia. No presente

trabalho este é o aspecto que pode-se observar ser mais atrativo para a discussão

das células-tronco embrionárias.

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Tendo a freqüência da categoria ética maior do que as outras categorias,

observa-se que os internautas respondem mais a sua história de valores sobre o

tema do que, necessariamente, sobre o valor da ciência sobre o tema.

Todos os detalhes da filosofia moral skinneriana que estudamos até o

momento integram o que podemos chamar de seu aspecto descritivo. Trata-se de

descrição no aspecto científico da palavra: para Skinner (1971), a ciência do

comportamento é também ciência dos valores. Se valores estão nas contingências,

valores são objeto de estudo da ciência. À parte tudo o que possamos pensar sobre

questões éticas, a evolução das espécies, dos indivíduos e das culturas é um fato

empírico. Assim, o aspecto descritivo do sistema ético skinneriano aplica-se ao

estudo científico dos três níveis seletivos que controlam o comportamento ético. Ele

possibilita elaborar uma ciência dos valores que explique: 1) porque seres humanos

comportam-se eticamente; 2) porque seres humanos utilizam vocábulos de ordem

ética; 3) porque seres humanos defendem/promovem certos valores éticos. Skinner

está, portanto, meramente descrevendo, de maneira econômica, fenômenos naturais

e culturais. Entretanto, para além desse aspecto descritivo, a filosofia moral

skinneriana apresenta também um aspecto prescritivo. Esclareça-se, porém, que

essa classificação . isto é, aspecto descritivo versus aspecto prescritivo . não ocorre

no texto skinneriano (Dittich & Abib, 2004).

De acordo com Abib (2001) é possível agir para o próprio bem ou para o bem

de outros. Porém o que significa agir para o bem da cultura? O autor cita que

Skinner (1971) afirma que é agir para a sobrevivência das culturas, e isso significa,

no mínimo, proteger a cultura de práticas para ela letais, como por exemplo, a

superpopulação, devastação do meio ambiente, poluição dentre outros.

De acordo com as observações do presente trabalho, pode-se constatar que

as respostas dos leitores emitem justamente o conceito de ética dentro da

preservação de uma prática, neste caso, as pesquisas com células-tronco

embrionárias. Ao mesmo tempo que se nota pessoas convencidas de que não é

ético usa-las existem opiniões totalmente contrárias dizendo que não existe o porque

não tentar as pesquisas com estas células. A questão maior em discussão é se

existe realmente algum vestígio de vida que possa ou não ser destruída com o uso

destas células em terapias e pesquisas.

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Conhecer e saber

De acordo Skinner (1993), diz–se amiúde que o reforço transmite informação,

mas isto é simplesmente dizer que ele torna uma resposta não só mais provável

como mais provável numa ocasião específica. Ele não apenas faz com que a

resposta seja posta sob controle das privações correlatas ou da estimulação

adversativa, como também dos estímulos presentes no momento em que ela ocorre.

A informação, nesse sentido, refere-se ao controle exercido pelas condições do

ambiente.

Segundo Skinner (1993) também usamos os termos “conhecer” ou “saber”

para dar a entender “estar sobre controle de”, uma condição que não é única

determinante de nosso comportamento. Disse-se que “todo conhecimento consiste

em hipóteses (...) encaradas como provadas ou sustentadas de forma muito

tentativa”, não é mais provável que digamos “eu penso” em relação a uma hipótese

tentativa, reservando “eu sei” para um caso provado. A diferença, todavia, não é

crítica.

Grande parte daquilo que é chamado conhecimento contemplativo está

associado com o comportamento verbal e com o fato de ser antes o ouvinte e não o

falante, que assume a ação. Pode-se falar do poder das palavras a afetar o ouvinte,

mas o comportamento de um falante ao identificar ou descrever algo sugere um tipo

de conhecimento divorciado da ação prática. O comportamento verbal desempenha

papel de destaque no conhecimento contemplativo, contudo, porque está bem

adaptado ao reforço automático, o falante pode ser seu próprio ouvinte. Há

comportamentos não verbais que produzem o mesmo efeito. Respostas perceptivas

que esclarecem estímulos e resolvem perplexidades podem ser automaticamente

reforçadoras (Skinner, 1993).

Todos os comentários têm características peculiares, porém, com um detalhe

semelhante a todos: a manifestação do comportamento de conhecer dos internautas

(podendo ser caracterizados muitas vezes como tactos e mandos disfarçados).

Observou-se que cada respondente parece tentar mostrar o que seria a sua

“verdade” e com isso se comportam verbalmente, e de maneiras variadas para

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defender seus ideais (emissão de opiniões). Ou seja, emite estímulos discriminativos

verbais com características muito próximas dos autoclíticos, tactos e mandos.

Nas pesquisas mais atuais em Psicologia Social tendo como base a análise

do comportamento e o comportamento socialmente construído é enfatizado que os

conhecimentos socialmente construídos se integram mutuamente, englobando o

comportamento dos indivíduos e os fatos sociais em sua história (Sá, 1995 apud

Borloti & Trindade, 2000).

Tourinho (1997) escreve que a dimensão social do comportamento-

conhecimento, na visão skinneriana, pode ser atestada, principalmente, nas

proposições acerca das relações entre o comportamento encoberto e as práticas

sócio-culturais. Há neste ponto, evidentemente, uma posição contrária às

“psicologias do indivíduo” que remetem à dicotomia sujeito-social.

Nas análises feitas nas frases emitidas pelos internautas pode-se notar como

a questão dos encobertos envolve todo o texto ou a maior parte do texto escrito por

eles. Um exemplo disso é quando os internautas a favor das pesquisas citam os

religiosos que são contra a utilização do uso das células-tronco em pesquisas e

terapias. Neste contexto pode-se caracterizar a emissão de tactos nas respostas dos

leitores. O tacto permite que a comunidade verbal, tome contato, indiretamente,

através do comportamento verbal do falante com vários aspectos do ambiente físico

e cultural, inclusive com os presentes em contextos geográficos e históricos

diferentes daqueles em que ela vive. É por meio do tacto que nomeamos os

estímulos ou algumas de suas propriedades, descrevendo vários dos aspectos do

ambiente externo e interno à nossa pele. O tacto é controlado por estímulo

discriminativo não-verbal, sendo reforçado por reforço generalizado (Passos, 2003).

Abaixo segue alguns trechos de comentários de internautas mostrando seus

“sentimentos” referentes ao tema e a interpretação dos comentários como

descrevendo tactos.

Respostas a favor:

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“Esse bando de sacripantas hipócritas, se realmente estivessem preocupados

com vidas humanas venderiam todo o ouro e jóias que existem em suas

igrejas e destinariam a combater a dor e a miséria entre as crianças

desvalidas do mundo” (tacto).

“A população está revoltada com os religiosos. Se não podem nos ajudar, que

não nos atrapalhem” (tacto).

“Se a sociedade estivesse se sujeitando ao catolicismo, por exemplo, ainda

estaríamos andando de carroça e beijando mão de padre nas ruas” (tacto).

Respostas contra:

“Estes ateus, de linha marxista, que defendem o uso de seres humanos em

forma embrionária para pesquisa, não querem se concentrar no fato de que é

possível usar células tronco sem precisar produzir e manusear fetos

humanos. UM ABSURDO!” (tacto).

“Em primeiro lugar quero dizer que sou totalmente contra a utilização de

células tronco, pois desde a concepção já temos uma vida e uma alma”

(tacto).

Segundo Skinner (1993) um sentido de “conhecer” é simplesmente o de estar

em contato com, de ser íntimo de. É nesse sentido que se diz que uma pessoa

conhece (no caso do presente estudo) as células-tronco e todas as questões

discutidas que envolvem sua utilização nas pesquisas e terapias. Há uma

explicação, evidentemente, de o comportamento ser alterado pelo contato.

De acordo com Borloti e Trindade (2000), incursões no sentido de analisar o

conhecimento social numa perspectiva comportamental já foram tomadas em

tempos anteriores. Sá (1983) citado por Borloti e Trindade (2000), explica que já foi

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concluído, por exemplo, que existem (resguardando as potencialidades diversas)

algumas afinidades evidentes entre as proposições de Foucault e Skinner acerca do

saber enquanto comportamento-conhecimento socialmente construído. A fictícia

idéia da autonomia humana, por exemplo, é construída em função de uma história

de reforçamento individual, por sua vez, inserida inerentemente nas práticas de uma

comunidade verbal que compõem o locus do reforçamento social dos repertórios

descritivos.

Nos comentários observaram-se exemplos do uso do reforço social.

“Prezado E. C. tenho o maior respeito pelo senhor e notei ao longo deste

fórum que o senhor é uma ótima pessoa e tem um grande coração é um ser

humano admirável e merece todo respeito”.

“A polêmica sobre as células-tronco embrionárias é apaixonante”.

“Parabéns ao Brasil e aos ministros do Supremo e ao povo brasileiro. Essa é

uma vitória contra o fanatismo o obscurantismo e a falta de amor ao próximo”.

“Parabéns a todos que fizeram deste fórum uma aula de democracia. Foi

muito prazeroso participar dessa discussão tão importante para a nossa

história. Parabéns a todos e um grande abraço”.

“O problema é que vocês se levam a sério demais, eu fico imaginando vocês

na roda de amigos, ninguém deve agüentar... Pois bem, Sra.Z. não sei a sua

religião (não que isso seja importante!) mas de todos aqui, quem parece mais

entender do assunto é a Sra., leio suas opiniões com muito gosto e

sinceramente espero que o bom senso prevaleça e que continue só os testes

com células-tronco adultas; "Porque nada podemos contra verdade, senão em

favor da própria verdade" (IICo13:8). Tudo que é contra DEUS ou SUA

vontade não vinga”.

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Uma questão importante é que o comportamento verbal é efetivo pela ação

de outras pessoas e usualmente, mas não necessariamente, ocorre na presença de

outras pessoas (Skinner, 1978 apud Borloti e Trindade, 2000). Isso descreveria a

dimensão social da sua construção. Assim, repertórios verbais particulares mantêm-

se em grupos cujos membros agem em contextos discriminativos para a produção

desses comportamentos, compartilhando-os no conjunto maior da comunidade

verbal que mantém o conjunto da linguagem.

O trecho acima exemplifica muito bem o presente trabalho quanto às

postagens feitas pelos leitores. Eles dialogam entre si, porém sem a presença uns

dos outros, apenas pelo estímulo discriminativo que são as postagens feitas no site

caracterizando comportamento textual; não há um reforço imediato, aparentemente.

Mas haveria uma “expectativa” de comentários pelos outros leitores? Parece que

sim, pelo menos para parte dos leitores, que se mantém na abordagem ao próprio

texto em outras ocasiões e a textos de outros. Há outras variações: observa-se

ainda que há aqueles comentários que nem são respondidos imediatamente e sim

apenas quando o leitor acessa a página de comentários e os visualiza. Há aqueles

que nem chegam a ser respondidas. O comportamento textual é controlado por

estímulos discriminativos verbais apresentados por outros falantes e por reforço

generalizado. A comunidade depende do comportamento textual para

estabelecimento de muitos dos seus controles (Passos, 2003). Neste caso, pode-se

pensar em diferentes contingências de reforçamento atuando, possivelmente

modelando e mantendo comportamentos que para alguns gera aumento de

freqüência (mais de uma participação na oferta de opiniões). Abaixo segue mais

alguns exemplos de comentários de leitores sobre postagens de outros leitores,

abordando assim a interação entre eles. Observe que inclusive os leitores sinalizam

a direção em que deveriam se comportar os demais comentaristas, de forma a obter

a conseqüência que possivelmente seria dada por um ou mais leitores em particular;

vê-se principalmente a apresentação de estímulos verbais ‘aversivos’, sugerindo que

a emissão de comportamentos em outra direção poderia ter maior de ser reforçado,

entretanto, é preciso considerar que opiniões “contra” (ainda que não descritas

abaixo) também são reforçadas por leitores que parecem responder a práticas

culturais semelhantes (p.e., oriundas de pensamento religioso comum):

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“Folhear a diversidade dos comentários agrada, ainda que se passeie da

ignorância ao saber por todos os campos do ’desconhecimento’ humano,

contudo, agressividade, violência gratuita, em especial contra a Igreja Católica

e sua difícil existência, magoa-me entristece, entendo que ofende todos os

cristãos”.

“O A. M. deve estar com a barriga doendo de tanto rir do senhor, ele

conseguiu o objetivo dele, jogar uns contra os outros, me mostre o que eu

disse dos senhores? Fora essas verdades da ultima postagem. O A. M. é um

artista cômico; é por isto que a igreja dele vive cheia porque lá só tem

palhaçada, será que os senhores não notaram não?”.

“Prezado P. F. ignorância histórica, e TEOLÓGICA é o Sr. não admitir os

muitos erros cometidos pela religião que o Sr. tenta defender cegamente, o

que deu para notar é que pelo senhor o Sr. faria uma fogueira santa para

queimar os cientistas como se fossem BRUXOS, o senhor está parecendo o

guardião das fogueiras da inquisição”.

Segundo Guerin (1992), esse seria o fundamento behaviorista radical

descritivo do conhecimento socialmente construído, e uma vez seguido o seu

argumento, seria possível concluir que na descrição que os psicólogos sociais fazem

da construção sócio-histórica de um “modo de conhecer” específico, estaria faltando

a análise funcional do controle interpessoal e intergrupal (e por extensão, do controle

intrapessoal) que, mediado pela história impregnada na cultura do grupo, explicaria

o repertório verbal que caracteriza as temáticas principais nos discursos dos seus

membros, bem como das conseqüências geradas no contato com outros indivíduos,

reforçando-os ou punindo-os por emitir comportamentos em acordo ou desacordo

com a direção em que seus comportamentos são ou foram majoritariamente

reforçados.

Um detalhe interessante que foi observado neste estudo foi que existe um

determinado momento em que os leitores já não ficam mais sobre o controle da

reportagem em si para escrever seus próprios comentários, e sim das opiniões

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postadas dos outros leitores. Os discursos começam a tomar portes pessoais ou até

mesmo aversivos para aqueles que participam dos fóruns. Chega um determinado

momento que se pode observar que leitores e inter-leitores passam a ser a mesma

pessoa; ou seja, a mesma pessoa passa a ter os dois papéis ao responder. Um

exemplo disso são os trechos descritos abaixo das relações inter-leitores. Como se

pode observar, há contingências supostamente sinalizando reforço positivo e

negativo, punição negativa e positiva.

“Márcia, acho que ninguém aqui está procurando discussões ou

desavenças, são só cidadãos expondo e defendendo seus pontos de

vista”. (REFORÇO POSITIVO)

“Fábio entrei nesse tópico não a fim de brigas e discussões, cada um

tem sua opinião e o que esta em nossas cabeças NADA MUDARÁ”.

(REFORÇO NEGATIVO)

“Um advogado incapaz de discernir os fatos de conceitos obsoletos

deveria ter sua inscrição na OAB caçada”. (PUNIÇÃO NEGATIVA)

“Dra. Z. P. a senhora está muito mal informada e nem parece ser uma

doutora”. (PUNIÇÃO POSITIVA).

Outro aspecto importante observado foi que depois que a lei é votada e

aprovada os comentários começam a diminuir de freqüência e alguns leitores até a

opinar sobre outros assuntos a serem discutidos que não mais as células-tronco

embrionárias. Ou seja, enquanto o possível estímulo discriminativo, a aprovação ou

não da lei de biossegurança – estava em discussão e diariamente na mídia, inclusive

eletrônica, todos os leitores pareciam “estar motivados” a escrever sobre o assunto,

ou seja, via-se mais claramente estímulos discriminativos para a emissão de

comportamento de dar opinião. Abstrai-se daí que parece haver contingências

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culturais que ficam sobre controle de variáveis comuns, gerando níveis de

variabilidade comportamental e seleção de respostas, sob controle de estímulos

verbais comuns, ainda que difiram no alcance do tipo de comunicação observada,

em princípio, que se mantenha diversa no conteúdo abordado. Então, sob esta

perspectiva, quando a lei foi aprovada não havia necessariamente mais sobre o que

opinar, mas alguns leitores ainda manifestaram suas últimas congratulações ou

indignações (mantinham-se sob controle de outros reforçadores? Ou continuavam a

emitir comportamento em função de reforçamentos prévios?), e posteriormente vê-

se uma extinção quase total dos comentários (o que parece demonstrar que há uma

condição controladora “maior”, que é a votação da Lei); assim, nessa condição,

parece que comportamentos passam a não mais ocorrer em vista que houve

mudança na oferta do controle discriminativo (o assunto não está mais em pauta

como antes), uma vez que a decisão final já tenha sido tomada pelo STF. Os leitores

vão passando a ficar sob controle de outras variáveis (não é mais o tema em

discussão, se deve ou não liberar as pesquisas sobre células-tronco, mas a decisão

tomada). Vê, abaixo, inclusive, que há leitores que “sinalizam” o fim do debate e a

suspensão do fórum e a abertura de novos fóruns.

Um exemplo disso são trechos das opiniões abaixo no dia em que a lei foi

aprovada:

“Parabéns ao Brasil e aos ministros do Supremo e ao povo brasileiro. Essa é

uma vitória contra o fanatismo o obscurantismo e a falta de amor ao próximo”.

“Essa com certeza é uma vitória muito importante para o desenvolvimento

científico do nosso país”.

“Volto a escrever nesta data para cumprimentar o Supremo Tribunal Federal

pela sensatez de seus Ministros, resistindo à pressão de grupos que

defendem visões muito particulares sobre a complexa realidade em que

vivemos, e que parecem ser incapazes de compreender que suas crenças -

numa sociedade democrática, plural e moderna - não devem ultrapassar o

âmbito das convicções pessoais”.

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O mês seguinte à aprovação da lei:

“Os caras continuam batendo na mesma tecla? Esse debate já era. Num país

cheio de problemas a serem superados como o nosso, devemos "virar o

disco" e discutir outros assuntos. Sugiro, por exemplo, a legalização do aborto

ou da união civil entre homossexuais”.

“Já vitorioso no STF, ainda a CTE provoca debates”.

Uma hipótese a ser avaliada a partir dessas observações é se os mesmos

leitores continuam a emitir comportamentos sobre outros temas, ou seja, se “tendem

a se comportar com freqüência nesse ambiente virtual”, o que não foi objeto da

presente pesquisa. Assim, levanta-se a idéia se não é possível fazer pesquisas

sobre esta questão.

Ao analisar os comentários, pode-se observar como a questão do controle

pela audiência fica explícita em alguns casos. De acordo com Hübner (2005), a

audiência funciona como um estímulo discriminativo, ou seja, como parte de uma

ocasião para que o comportamento verbal seja reforçado, portanto, controlando a

força ou probabilidade de emissão da resposta. Uma das funções da audiência é a

seleção do comportamento e forma do comportamento verbal, ou seja, o tópico a ser

apresentado e maneira de se fazê-lo. Certas comunidades podem modelar e tornar

alta a probabilidade de metáforas, trocadilhos e piadas.

“O André Messias é um artista cômico é por isto que a igreja dele vive

cheia porque lá só tem palhaçada, será que os senhores não notaram

não? Ele não está neste fórum para defender idéias, ele esta neste

fórum para se divertir. E está se divertindo muito, graças à inocência

dos senhores que ainda são santos encarnados”.

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“ C.A. R.F (Os doentes estão fazendo chantagem emocional), você fica

cuspindo pra cima que logo, logo vai cair na sua cara,quero ver você

dizer isto quando você estiver com uma doença que vai te consumindo

aos poucos, porque que você não adota os embriões? Leve todos eles

para sua casa e implante-os em você ou em quem compartilha com

essa sua enorme ignorância, pimenta nos olhos dos outros é refresco,

mas aguarde que a sua hora chegará, você pensa que isto só acontece

com o vizinho espere e verás. Os doentes estão fazendo chantagem

emocional!!! quanta ignorância da sua parte você não sabe o que diz.

Eu não vou te dizer mais nada porque um ignorante como você merece

apenas o desprezo e ainda é muito que estou te dando....credo como

existe gente deste jeito ÉCA QUE NOJO DE VOCÊ”.

“Prezado André messias falando muito serio agora a Dra. Zulma

Peixinho esta tentando confundir as pessoas com esses argumentos

de barreira imunológica intransponível. As células-tronco embrionárias

são neste momento apenas para fins de pesquisas, e não para

aplicações em terapias como ela esta dizendo”.

É nítido observar o quanto que a questão do conhecimento está ligada ao

poder, ao controle e a valorização do sujeito como entendedor (ou não) do saber.

Em alguns comentários pode-se observar uma suposta competição entre quem sabe

mais sobre o tema. Os comentários acabam tornando-se discussões pessoais,

ofensivas e desrespeitosas, onde cada um “mostrando quem é o dono da verdade”.

“Folhear a diversidade dos comentários agrada, ainda que se passeie da

ignorância ao saber por todos os campos do “desconhecimento" humano,

contudo, agressividade, violência gratuita, em especial contra a Igreja Católica

e sua difícil existência, magoa-me entristece, entendo que ofende todos os

cristãos”.

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“Para retirar tais células os embriões são mortos, dilacerados, destruídos. É

mentira que o uso de células embrionárias consegue cura ou tratamento para

alguma doença que exista na face da terra. Até hoje só se consegue

resultados para tratar doenças usando células de adultos”.

“Márcia, acho que ninguém aqui está procurando discussões ou desavenças,

são apenas cidadãos expondo e defendendo seus pontos de vista. Voltando

ao debate, o que está sendo julgado hoje no STJ é a liberação das pesquisas

com as CTE, estas que em um futuro próximo poderão ajudar cidadãos. Os

embriões em questão são os que serão descartados, ou seja, os que não

terão serventia para o tratamento da mulher, ou por que não alcançaram o

nível ideal para o implante no útero ou sobraram no tratamento”.

“Alguns participantes deste fórum fixaram seus argumentos em células

adultas. Mas deixe-me lembra-los que se eles chegaram a esta conclusão é

porque pesquisaram e estudaram nas células embrionárias. Ademais todos os

estudos ainda não são conclusivos, para alguns casos as células adultas

ajudam na regeneração e tratamento em outros não. O mesmo ocorre com as

embrionárias”.

É interessante observar como os comentários dos leitores em determinado

momento ficam sobre o controle das respostas emitidas dos outros leitores (inter-

leitores) e não mais da reportagem publicada. Eles passam, então, a se comunicar

por meio dos comentários, como se pode ver nos exemplos abaixo:

“Cara amiga Márcia, essa me doeu no fundo do âmago. Quer dizer

então que devemos nos conformar com as doenças, deficiências e etc, pois

elas são uma vontade de Deus? Estou pasmo!”.

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“Prezado Cristiano Garcia concordo com tudo que disseste, e muitos

no mundo tentaram fazer uma maquina voar e não conseguiram, e um

brasileiro virou o pai da aviação”.

De acordo com as definições de leitor, inter-leitor e leitor-inter-leitor utilizadas

no presente trabalho, criou-se um quadro de respostas para observar como estão

distribuídos os comentários de acordo com estas categorias de análise. Veja o

quadro abaixo:

Quadro das categorias de leitor, inter-leitor e leitor-inter-leitor.

LEITORA RELAÇÃO FUNCIONAL INTER-LEITORB RELAÇÃO FUNCIONAL LEITOR/

INTER-LEITORC RELAÇÃO FUNCIONAL

C1 R+, Sd (tato)

C2 Punição

C3 Sd, R+

C4 Punição

C5 Sd (tato), R-

C6 Sd (mando)

C7 Sd (tato), R- C45 Sd (tato), R-

C8, C14 Sd (tato, mando)

C9, C16 Sd (tato), R-

C10 Punição, Sd (tato)

C11, C29 Sd (tato), punição C48 C50

Sd (tato), R-, R+

C12 Punição, Sd (tato)

C13 Sd (tato), R-

C15 C46

Sd (tato)

C17 Sd (tato e mando)

C18 Sd (tato), punição

C19 Sd (tato)

C20 C54 C67

R+, punição, Sd (tato)

C21, C24 C26, C27 C29 C31 C33 C39 C41 C55 C64 C65 C69

R-, punição, Sd (tato), R+

C70 Sd (tato), R- C22 C63

Sd (tato), R+ C25, C60

C66 R+, Sd (tato), R-

C23, C42

Sd (tato), R-

C28 C47

Sd(tato), R+ C61 R-, Sd (tato)

C30 Sd (tato), R-

C32 Sd (tato), R-, punição

C51 R+ C34 C37

Sd (tato), R-, punição

C37 Sd (tato) C35 Sd (tato), R-

C36 Sd (tato), punição

C40 Sd (tato), punição

C43 Sd (tato), punição

C44 Sd (tato) C53 Sd (tato), punição

C49 Sd (tato) C62 Sd (tato), R-

C52 Sd (tato), R+ C54 R-, punição

C56

Sd (tato) C68 R+, Sd (tato)

C57 Sd (tato), R-, punição

C59 Sd (tato)

a. LEITOR: Internauta que opina sobre a reportagem

b. INTER-LEITOR: Internauta que responde a outro comentário dentro do tema em debate

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c. LEITOR/ INTER-LEITOR: Internauta que opina tanto a respeito da reportagem bem como responde a outro comentário

Pode-se observar de acordo com a tabela acima como os internautas utilizam

de várias relações funcionais para responder aos comentários, bem como a

categoria que predomina nos comentários que é a de inter-leitor, ou seja, aqueles

internautas que além de emitirem opiniões quanto ao tema abordado responde a

outro comentário feito por outro internauta, caracterizando a interação entre eles. De

acordo com esta análise, pode-se observar que em sua maioria, os internautas

interagem entre si de acordo com o tema em debate e variam as respostas de

acordo com as relações funcionais presentes.

De acordo com o quadro acima pode-se observar que existem comentários

que apenas emitem um tipo de relação funcional, como no caso do C59 que emitiu

apenas um estímulo discriminativo (tato), isso quer dizer que emitiu sua opinião

sobre o assunto em debate apenas, já que este comentário está caracterizado como

leitor. No caso dos comentários 20, 54 e 67 eles emitem na condição de inter-leitor,

todos os tipos de relações funcionais categorizadas neste trabalho. Já o leitor/ inter-

leitor apresenta menor número de comentários, porém, com grande variedade de

relações funcionais.

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7. Conclusão

A Internet e, sobretudo, o chamado “mundo virtual”, enquanto elementos –

talvez imprescindíveis – da cultura contemporânea, se despontam como uma

recente realidade global, apresentando-se como um novo campo onde os

comportamentos humanos estão presentes (Vieira, 2008).

Há que se lembrar que a internet é ambiente para emissão e

consequenciação de respostas, participando desse ambiente um número crescente

de brasileiros. Conforme atesta o IBGE, com dados do PNAD 20055, 32,1 milhões da

população de 10 anos ou mais de idade acessaram pelo menos uma vez a internet

em algum local.

A partir do presente trabalho pode-se concluir que a mídia é um instrumento

que vem sendo utilizado para pesquisas em várias áreas do conhecimento e a

psicologia está entre estas áreas. A internet como um meio contemporâneo de

comunicação de massa é um instrumento muito interessante e vem sendo utilizada

como ambiente e objeto de pesquisa em diferentes áreas do conhecimento.

De acordo com Vandenberghe (2005) o behaviorismo radical é a filosofia de

uma ciência. Além de propor uma teoria do saber científico, também apresenta uma

visão do homem e do universo de que este é parte. Insistindo que os objetos da

ciência são sempre interações, e não entidades, esta filosofia encarna uma rejeição

do essencialismo e abraça o contextualismo. Eventos em si mesmos não significam

nada, não têm essência própria, mas derivam seu sentido de interações.

Uma das características que distinguem a teoria em psicologia chamada

análise do comportamento é exatamente a proposição do comportamento como

objeto de estudo da psicologia. Um primeiro aspecto a ser destacado é que o

interesse central da análise do comportamento é a compreensão do comportamento

humano; é esse interesse que conduz ao estudo do comportamento em si,

5 Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios/2005.

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independentemente da espécie a que pertence o indivíduo que se comporta

(Andery, Sério & Micheletto, 2007).

O presente trabalho observou a importância da análise do comportamento

quanto aos estudos do comportamento verbal. Esse comportamento que nos remete

a várias descobertas para um entendimento maior da análise funcional do

comportamento humano individual e social bem como suas práticas culturais.

Concluiu-se que é possível analisar respostas de internautas emitidas via internet

numa visão behaviorista do comportamento através dos estudos das práticas

culturais e do comportamento verbal. Pode-se identificar as categorias funcionais de

análise como o tato, estímulos discriminativos, respostas textuais dentre outros.

Skinner define que comportamento verbal é comportamento operante e, por

isso, passível de análises e estudos científicos. Este autor observou que os homens

interagem com o ambiente, influenciam e são influenciados e têm seus

comportamentos selecionados através das conseqüências. Assim, as relações

sociais e a manutenção das práticas culturais dependem desta interação e serão

determinadas pelas suas conseqüências dos comportamentos dos indivíduos, que

por sua vez, passa a exercer controle sobre seus membros.

Concluiu-se que de acordo com os meses analisados através do site Folha

On-line (março a junho de 2008) que foi possível observar um decréscimo de

respostas entre esses meses, assim que a lei de Biossegurança é aprovada. No mês

de maio esta lei foi aprovada e observou-se que entre os meses de março (n= 358) a

junho (n= 47) a emissão de respostas é consideravelmente maior do que os meses

de julho (n= 1), agosto (n=2) e setembro (n=3). Essa análise mostra como a mídia

também influencia muito na emissão de respostas dos leitores. Observou-se que a

emissão de respostas sobre dado tema é emitida até que a própria mídia transforme

outro tema em questão prioritária para discussão, tendo os próprios leitores como

“guardiões” das mudanças temáticas, com alguns incentivando respostas sobre

outros assuntos.

Pode-se observar que a freqüência de respostas dos leitores diminui a partir

do momento em que a decisão do STF foi a de aprovar a lei de Biossegurança.

Então, como o assunto começava a ter uma conclusão, as pessoas começaram a

diminuir os comentários sobre o assunto das células-tronco embrionárias ou até

mesmo sugerir outro tema para debate, neste sentido, pode-se concluir sobre a

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mudança do controle, o que antes era discriminativo para respostas verbais textuais

sobre células-tronco, com a votação da Lei passa a não ser discriminativo para

respostas nessa direção, selecionando, portanto, as respostas dos leitores.

Os meses em que foram retirados os comentários para análise foram os

meses de março a junho de 2008. Foram analisados 70 comentários escolhidos

aleatoriamente entre esses quatro meses. Destes comentários 47 eram a favor da

aprovação da lei que permite o uso das células-tronco embrionárias para pesquisas

e terapias e 18 foram contra. Observou-se também uma freqüência de 6 comentários

denominados neutros nos quais não foi emitida nenhuma opinião nem contra e nem

a favor sobre o tema em questão.

Quanto às categorias relacionadas ao método, técnica, tratamento e ética

concluiu-se que a categoria mais utilizada pelos internautas foi ética (n= 50). As

categorias método (n= 9), técnica (n= 8) e tratamento (n= 3) apresentaram

freqüência relativamente menor.

Segundo Dittrich e Abib (2004) a lógica do sistema ético skinneriano está

intimamente ligada à do modelo de seleção do comportamento por conseqüências

(apud Skinner, 1981/1984). De acordo com esse modelo, o comportamento humano

só pode ser integralmente compreendido a partir da conjugação de variáveis

atuantes em três diferentes níveis seletivos: filogenético (evolução das espécies),

ontogenético (evolução de indivíduos particulares de uma espécie durante seu

tempo de vida) e cultural (evolução das culturas). Isso inclui o comportamento ético,

verbal e não-verbal.

Foi observada também a emissão do comportamento de conhecer em todos

os comentários. As opiniões dos leitores, nos parece, eram recheadas de tatos sobre

o assunto em questão. Os internautas interagem uns com os outros emitindo

comportamentos variados. Pode-se observar e conjecturar sobre emissões de

respostas-conseqüências punitivas, reforçadoras negativas e positivas quanto aos

comentários publicados no site, o que parece confirmar o aspecto funcional das

relações no ambiente virtual.

Enquanto saber e consciência são definidos como comportamentos, o mesmo

vale para a própria epistemologia. De acordo com o behaviorismo radical, uma visão

científica é tanto uma perspectiva de investigação quanto matéria legítima da mesma

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investigação. Já que o behaviorismo radical define saber, investigar, analisar, refletir

como comportamentos, é inevitável considerar a própria filosofia behaviorista radical

como nada mais do que comportamento. As reflexões epistemológicas do

behaviorismo radical são resultado das contingências que levaram à sua elaboração

e, por isto, nunca constituem uma verdade absoluta (Vandenberghe, 2005).

A interação entre os internautas é bastante interessante e proporciona ao

pesquisador uma rica oportunidade de investigação da interação verbal daqueles

que utilizam este meio de comunicação para expressar suas opiniões.

Assim, o presente trabalho conclui que foram feitas observações relevantes

quanto ao ambiente de interação que foi a mídia através da internet, a maneira pela

qual as pessoas se comunicavam que foi o comportamento verbal de escrita e leitura

e os estímulos discriminativos e conseqüências que as ações neste contexto

puderam ter. Concluiu-se, ainda, que a interação e o reforço social pode acontecer

através da internet sem haver, necessariamente, proximidade geográfica entre os

leitores, mas dentro de uma geografia virtualmente construída, onde as distâncias

são superadas por alguns cliques do mouse.

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